sexta-feira, 29 de março de 2019

A GAROTA INSUPORTÁVEL




                                                 A GAROTA INSUPORTÁVEL              






Carina estava   nos últimos preparativos para o seu casamento; iria casar com o amor de sua vida, seu amigo de infância, Benicio. Já havia convidado todos os padrinhos, mas ainda precisava organizar a ordem de entrada na igreja. Foi quando se deu conta que apenas seu irmão, Matias, e sua querida amiga Duda, não tinham par. Por isso teria que juntá-los. 

Embora ela soubesse que eles eram incompatíveis, que não podiam se enxergar sem que acontecesse uma discussão, uma  briga... Mas seria só para entrar no templo...

Mesmo assim, Carina decidiu telefonar para seu irmão, para explicar a situação:
-- Mano querido, eu preciso de um grande favor, que só tu pode fazer...
-- Tu  falando com esse jeito manso, é porque a bomba é grande. Fala...
-- Como meu padrinho tu terás que entrar na igreja de par com a Duda...
-- Com aquela insuportável? Nem pensar...
-- Me escuta. Ela não tem namorado e sempre foi a minha amiga mais querida. Não vou abrir mão dela com madrinha. Se não fizeres essa boa ação, ela vai ter que entrar sozinha. Assim com tu...
-- Mas aquela só pode estar sem namorado, quem vai aguentar aquela “fera”. Credo!
-- Ela é bem legal, tu   não sabe ver o lado divertido dela. Vocês só se implicam...
-- Está bem. O que eu não faço por ti minha irmãzinha querida. Vai ficar me devendo... E eu vou cobrar
-- Tudo bem. Sei que pagarei com juros. Obrigado. Tu moras em meu coração. Não fala mal da minha amiga.

Carina desligou o telefone, mais aliviada. Com Duda seria mais fácil. Ela não pode deixar de sorrir ao se lembrar das discussões homéricas entre Duda e  Matias.

Carina e Maria Eduarda tinham a mesma idade e cresceram juntas,  elas eram inseparáveis, eram vizinhas e estudavam na mesma escola e na sempre estavam na mesma sala de aula. Eram boas amigas, as melhores amigas,  até que o pai de Duda decidiu voltar para sua terra natal, Campinas, interior de São Paulo.

A separação foi  difícil para as duas amigas, que aos 14 anos  sofreram muito. Mas  mantiveram a amizade através de longos telefonemas e uma infinidade de cartas e tecnologias modernas.

Porém para Carina foi pior, pois foi nesse mesmo período que seu único irmão,  4 anos mais velho,  também saiu  para estudar fora. Ele foi cursar Engenharia Civil, em Pasadena, Califórnia, na Caltech.

Esses acontecimentos fizeram com que Benício se aproximasse mais de Carina, e quando ela fez 15 anos, eles começaram a namorar. Depois de 7 anos entre namoro e noivado estas estavam as portas do casamento.

Carina e Benício organizaram um jantar especial para os padrinhos uns dias antes do casamento, após o ensaio na igreja. Mas Matias não pode vir e tão pouco Maria Eduarda.
Seu irmão morava e trabalhava em Santa Maria, e só poderia vir na semana seguinte; e 

Duda estava se mudando para Porto Alegre e não pode chegar a tempo.
Mas no casamento eles estariam.

Matias chegou cedo a igreja. Alguns convidados já estavam na igreja, e ele caminhava na frente do templo, observando as pessoas que chegavam, e esperando a intragável da Duda.

Um taxi parou e dele desceu uma moça, usando um vestido lindo na tonalidade lavanda. Ela chamou sua atenção por sua beleza e elegância. Ela estava só. A moça olhou para ele, sorriu e se aproximou.

Matias gelou.  Aquela menina magricela e desengonçada não poderia ter se transformado em uma mulher tão fascinante. Foi o que pensou... Mas devolveu o sorriso e esperou que ela se identificasse.
-- Oi, como vai Matias Child.? Lembra de mim?
-- Maria Eduarda Zarm!  Eu estou bem... Mas é claro que eu lembro, embora estejas muito mudada...
-- Hum, não foi o que me pareceu...
-- Eu prometi a Carina que hoje teríamos uma trégua. Por isso não me provoca...
-- Ok. Acho que esse tempo ficou para trás. Hoje somos adultos e sabemos reconhecer quem tem sempre razão. Eu! – disse ela o desafiando. 

Matias ignorou o comentário  e só suspirou. Não iria aceitar provocação,  e falou:
-- Nós abrimos o cortejo da noiva. Acho que já estão todos. Eu estava te esperando. Vamos para a igreja.

Entraram para o átrio do templo, onde os demais padrinhos já estavam aguardando a noiva chegar. Ali permaneceram quietos. Ele apenas a olhava de rabo de olho.

Duda estava impressionada com ele. Não tinha mudado de fisionomia, mas ele tinha se transformado em um homem forte, com porte elegante e muito bonito. Quando que ela iria imaginar que um dia estaria apreciando a  bela aparência de Matias.

Nossa! Ela não lembrava que os olhos dele eram tão sedutores, eram castanhos escuros assim como os cabelos, mas tinham um brilho travesso. Ele era um pedaço de mau caminho.
Benício estava nervoso, como todo o noivo, Matias tentou brincar com ele, para aliviar a tensão, mas o homem nem escutou. Alguém anunciou que o carro com a noiva havia estacionado.

Então todos se movimentaram para formarem a ordem de entrada prevista pela organizadora. Matias conduziu Duda até a porta. Pegou sua mão e a colocou em seu braço e olhou para ela, deu uma piscadela e então entraram a passo lento pela nave principal do templo.

Chegaram ao altar e se posicionaram, mas ele fez questão que ela permanecesse de braço com ele, assim como os outros casais. Carina apareceu à porta da igreja. Ela estava linda e radiante. Seu vestido era elegante e muito bonito.

Durante a cerimônia, por mais de uma vez, Matias acarinhou a mão de Duda que descansava ainda em seu braço. Eles se olharam inúmeras vezes. Ele estava orgulhoso de seu par. Ele a comparava com as demais e Duda era a sua grande vencedora.

Após a cerimônia todos saíram da igreja em cortejo atrás dos noivos. Primeiro os pais e então os padrinhos. Matias sabia que eles não precisavam continuar como par, após a cerimônia na igreja. Mas ele a convidou para permanecerem juntos, pois ambos estavam um tanto deslocados, fora da turma. Fazia muito tempo, que os dois estavam fora da cidade, e Carina e Benício tinham feito novas amizades.

Foi uma festa muito divertida. E Matias e Duda aproveitaram  cada minuto, e além de dançarem eles também flertaram, já por conta do vinho. Ao fim da noite quando Carina chamou as amigas, porque ela iria jogar o buque, Duda nem se mexeu. Mas Matias a obrigou a participar da brincadeira. E o buque caiu praticamente em cima dela.

Ela olhou para ele rindo, uma risada gostosa e seus olhos brilhavam quando disse:
-- Olha o que aconteceu. Se eu casar a culpa será tua. –apontando o dedo indicador para ele.
-- Assumo a culpa. Mas não tem nada mais interessante do que ver uma noiva jogando o buque, pois sempre tem um bando de desesperadas atrás.
-- Mas eu não sou desesperada, e, aliás, foste tu quem me obrigou a ir. Eu nem tenho intenção de casar.
-- Não? Por quê?
-- Porque não vejo o casamento como opção de felicidade. Muito pelo contrário. Acho que a liberdade é tudo na vida. Se eu posso trabalhar e me sustentar, ter amigos e poder viajar e fazer o que tenho vontade, por que atrelar tudo a uma única pessoa?
-- E o amor? Falas em liberdade apenas.
-- Não acredito no amor. Penso em atração, em química, mas não em amor.
-- Já tivestes experiências amorosas que te decepcionaram?
-- Não! De nenhum tipo.

Matias ficou perplexo com a resposta dela. E não entendeu bem o que ela quis dizes, mas parecia que ela ainda era virgem, mas isso ele não ia perguntar.
Estavam servindo o bolo e o assunto foi encerrado. Os noivos deixaram a festa e aos poucos os convidados foram se retirando. A festa estava terminando.

Mas Matias queria prolongar a noite, olhou o relógio, era 3h da manhã. Eles despediram-se e dona Lia falou:
-- Minha querida eu fiquei muito feliz em te ver. Sinto muitas saudades de ti... Das brigas entre vocês dois e da Carina sempre querendo acalmar os ânimos. Às vezes lembro, e acabo rindo sozinha. Era muito engraçado ver vocês e as confusões que aprontavam.
-- Sim, eu também senti muita falta. Não foi fácil para mim, ter de  deixar vocês. E o pior de tudo, foi que sempre detestei Campinas, e minhas irmãs não são nada simpáticas...
-- É teu pai era viúvo quando casou com a Renata. Mas as filhas já eram até casadas.
-- Sim, mas elas me abominam. Acho que serei banida da herança.
-- Vem almoçar conosco amanhã. Temos muito que conversar. O Matias te busca.
-- Ok. Vamos almoçar todos juntos, como antigamente. 

Matias esperou paciente enquanto as duas conversavam. Ele a observava e pensava que ele tinha gostado muito de estar com ela. Aquela antipatia do passado não existia mais. Ela era muito legal... Sua irmã tinha avisado.

Já no carro Matias falou:
-- Eu queria te convidar para nós darmos uma esticada na noite, ainda é relativamente cedo, mas confesso que estou fora do circuito há muito tempo, e não sei o que sugerir.
-- No apart onde estou morando, tem um piano bar. Poderíamos arriscar... Se já estiver fechado, subimos para o apartamento.
-- Ok. Boa sugestão.

Mas ao chegarem logo perceberam que já estava fechado. Então subiram. Duda abriu um suco para tomarem. Ela logo descalçou o sapato de salto alto e Matias  ficou cheio de desejos, pois ela estava muito sexy... Ele não demorou e foi embora.

Quando voltava para casa de sua mãe, ele pensava que aquela garota insuportável, o havia encantado. Que absurdo! No entanto ela permanecia em seus pensamentos.

Maria Eduarda estava cansada. Assim que Matias foi embora,  ela se despiu e foi tomar uma chuveirada. Atirou-se na cama e dormiu. Acordou cedo, e a primeira imagem que surgiu em sua mente foi a de Matias.

Como haviam combinado Matias a pegou as 11h para almoçar com sua família. Quando Duda desceu do carro ficou parada olhando para a sua casa, e seu coração se apertou. Como ela tinha sido feliz ali naquela casa.
-- Boas lembranças, disse Matias.
-- Sim. As melhores de minha vida. Tive uma infância feliz aqui... Então meu pai quis voltar para perto das outras filhas e minha vida virou do avesso. Sabe que ele me deu essa casa. Já está inclusive no meu nome. Acho que será a minha única herança, pois aquelas brigam por um centavo. Credo!
-- Não foi bom ir para São Paulo?
-- Não é isso. Mas é a questão familiar.  Meu pai quando casou com minha mãe era um viúvo sozinho. As duas filhas muito bem casadas, não tinham tempo para dar atenção a ele, e ele era ainda um homem vigoroso e aos 58 anos, quando casou-se com minha mãe; eu nasci e vivia feliz, mas então as duas ciumentas, inventaram que ele só se importava comigo, que elas estavam renegadas e que nem aos netos ele dava atenção. Foi essa razão da mudança. 

Então, lá a situação se inverteu. Quem passou a ficar em segundo plano fui eu, pois, até a minha mãe estava deslumbrada pelo nível elevado de vida delas. Meu pai tem dinheiro em ações e prédios, mas os maridos delas, que são primos, têm muitas terras. São fazendas imensas no Mato Grosso. Ambas são muito ricas. E passaram a convidar meus pais para viajar com elas. Eu tinha que estudar, então não era nem convidada. E isso definitivamente me afastou deles todos, tudo isso me fez pensar, então  eu tomei a decisão da direção de minha vida, aos 16 anos, que quando eu me formasse voltaria para o sul.
-- Não imaginei que fosse assim... Venha. Estão nos esperando.

Matias a conduziu para casa de sua mãe. Ali também havia muito para recordar, pois aquela “peste” o perturbava em todo lugar. Velhos tempos... Bons tempos... Pensou Matias.

Foi um almoço com momentos inesquecíveis, ela rememorou tanta coisa,  alegrias que viveu ali naquela casa. Emocionou-se com o carinho e atenção de dona Lia e seu Geraldo. Até a Bibi ainda continuava cozinhando aquelas comidas deliciosas.

Era meio da tarde quando Matias levantou-se dizendo que ia pegar a estrada, ofereceu-se para deixá-la no apart. Ela aceitou. E ao sair, ela prometeu ao bondoso casal que voltaria mais vezes.

Ele  estacionou o carro diante do prédio e eles se despediram com um “até a vista”.  A vida seguia seu curso, o encontro deles foi apenas ocasional, foi o que ambos pensaram ao se despedirem.

Matias pegou a estrada e tinha a sensação de que Duda ainda estava ao seu lado, pois o aroma do perfume que ela usava ainda permanecia, e isso fez com ele pensasse nela, e não apenas como uma velha amiga, mas como mulher.

Maria Eduarda entrou no apartamento, se atirou no sofá. Estava cansada, os últimos dias tinham sido muito agitados. Cochilou... Sonhou... E acordou com um sorriso... Ah! Como tudo era perfeito no sonho. Até mesmo Matias estava enamorado dela... Ela sacudiu a cabeça para se livrar dos pensamentos. Foi tomar um banho.

Duda comprou um apartamento perto do Parcão. Da janela de  sua sala ela podia ver parte do parque, apreciava muito o arvoredo, o lago  era onde pretendia   fazer suas caminhadas.

Os dias passaram e agora, Duda já instalada em seu apartamento, estava pronta para o trabalho. Ela tinha montado um circulo de palestras especificas para agricultores, pois como era Engenheira Agrônoma e Meteorologista, estava associando esses conhecimentos, para esclarecer e orientar na produção agrícola. Já tinha vários compromissos agendados.

A vida seguia seu curso...
 Carina e Benício, quando voltaram da lua de mel,  e ofereceram um churrasco aos amigos.  Os recém casados queriam inaugurar a cobertura que eles haviam comprado e reformado, no bairro Higienópolis.

Teria sido, para Duda, um dia muito agradável, se Matias não estivesse acompanhado de sua namorada. Ela era única sem par.

Ela saiu cedo. Não suportou permanecer mais tempo no grupo. Desculpou-se com Carina, dizendo que estava com dor de cabeça. Matias que escutou a conversa entre elas, se ofereceu para levá-la em casa. Claro que Duda recusou.

Duda não conseguia saber o que se passava em seu intimo. Ela de repente ficou muito triste quando viu Matias com Vanessa, que até parecia ser uma pessoa muito legal. E foi a  Vanessa quem contou a ela que já fazia um tempo que eles estavam juntos, mas que justamente naqueles dias do casamento de Carina, eles haviam brigado, e estavam separados,  mas, logo depois, Matias  foi atrás dela para eles reatarem.
Essa história foi um choque para Duda...

Ainda estava no trânsito, quando seu telefone começou a receber mensagens, mas como estava dirigindo não olhou. Mas quando chegou ao seu apartamento, ela abriu o WhatsApp e viu que eram de Matias.

Ela sentou para ler o que ele tinha enviado, eram muitas mensagens, onde ele dizia que nada do que Vanessa havia contado era verdade. Ela estava bem doente, havia descoberto recentemente o câncer de mama e estava fragilizada; e foi por isso ele tinha se reaproximado, a pedido da família dela. Mas não havia compromisso entre eles. Acrescentou que ele só tinha aceitado a proposta da mãe de Vanessa, porque em breve estaria de volta a Porto Alegre. Seu trabalho em Santa Maria estava no fim.

Duda ficou pensando... E se perguntou por que ele havia dado essa explicação toda para ela? Será que ele estava afim dela? E ela o queria?
Seguidamente Duda era convidada para o almoço de domingo da família Child. Ela sempre aceitava o convite com alegria, gostava de estar no meio deles, se sentia parte da família. 

Eles eram alegres e seu Geraldo adorava dizer bobagens.
Naquele domingo, após o almoço, Carina, Duda e dona Lia, foram sentar  na saleta, para planejar o aniversário de 60 anos de seu Geraldo. Seria uma festa surpresa.
Dona Lia sugeriu fazer no clube, que tinha uma ótima estrutura e uma área aberta muito boa, com um jardim bonito. Fariam no domingo ao meio dia. Já era primavera e o local era muito agradável. Duda e Carina concordaram.

Então dona Lia mudou de assunto quando disse:
-- Matias deve estar por aqui na quarta feira. Graças a Deus! Eu estava apreensiva. Não gostei daquela namorada dele. Não gostei mesmo!
-- Mas por que mãe?
-- Não sei explicar. Aquela história que ele falou dela estar depressiva por causa do câncer e por isso ele continuava com ela, me pareceu ser uma armadilha.
-- Armadilha? Mãe! Hoje em dia as coisas são diferentes. Se ele anda com ela não tem obrigação de casar. Até se ela estiver grávida. Assume a paternidade da criança e não casa.
-- Não sei. Achei a moça muito fingida... Aquele dia ela falou bastante contigo, não foi Duda? O que te pareceu?
-- Sim, conversamos. Aliás, ela falou. Contou que eles estavam juntos um bom tempo, que na época do casamento de Carina, estavam brigados, mas que agora ele tinha ido atrás dela e estava tudo bem. Mas pelo que eu soube depois, não é bem assim.
-- Pois é. Ele conta de um jeito e ela de outro. E será que ela está de fato doente?
-- Credo! Quem iria inventar um câncer?
-- Uma pessoa  desequilibrada. Que não bate bem... Acho que ela é do tipo possessiva...
-- Se isso for verdade, em que enrascada se meteu meu irmão.
-- Sim... Por isso quero que ele venha logo. Tenho rezado muito. Eu que sempre achei que a minha nora seria a Duda. — disse Lia olhando com carinho para ela.
-- Eu? Por quê? Nós nunca nos entendemos...
-- Muitas  vezes as implicâncias infantis são sinais de amor.
Duda não disse nada, mas sentiu suas faces quentes. Talvez fosse até possível. Ela sabia que Matias tinha se tornado importante para ela...

Ultimamente Matias e ela estavam trocando mensagens diárias, aliás, muitas mensagens. Ele estava partilhando todos os acontecimentos de seu dia. E Duda sabia que ele não se encontrava com Vanessa regularmente, pois ele nunca mais tinha citado o nome da próxima. Que estranho! Alguma coisa realmente estava errada, mas ela não ia dizer o que pensava para dona Lia.

Duda ficou pensando que se Vanessa fosse maluca, Matias teria percebido. Só se havia mais enredo nesta história, e ela não conhecia toda a verdade. E concordou com dona Lia. E ela também ficou preocupada. Mesmo ele estando longe ainda poderia se sentir responsável.

Matias só pode, realmente, voltar para Porto Alegre, depois de quase um mês. Ele estava na casa dos pais, temporariamente, estava procurando apartamento. Já havia decido se estabelecer na capital, e criar uma empresa especializada em engenharia estrutural.

Matias estava com saudades de Duda. Ansiava por vê-la. Porém Duda estava em uma jornada de palestras no interior do Paraná e só voltaria na semana seguinte, para a festa de aniversario de Geraldo.

Mesmo viajando e trabalhando muito, Maria Eduarda pensava muito em Matias.  Sabia que um sentimento forte vibrava em seu peito, toda vez que Matias tomava conta de seu pensamento. Ela estava apaixonada por ele. Mas e ele? Duda não tinha como saber... Eles haviam se tornado bons amigos, e com certeza era essa consideração dele por ela.

Ela precisa testar os sentimentos dele, mas como? Não era dessas que andam com outro só para provocar ciúme. Ela era muito direta e sincera e não gostava de subterfúgios.

O domingo amanheceu com o céu limpo, sem nuvens, um lindo dia de primavera. A temperatura estava agradável, e Duda se vestiu para ir a festa. Caprichou! Queria estar bonita. E escolheu usar um vestido azul celeste com delicadas estampas florais. Prendeu o cabelo em uma trança lateral, se maquiou, colocou brincos com pedra azul e calçou sapatilha da cor do vestido. Olhou-se no espelho, e gostou de sua figura. Ela queria impressionar Matias, não apenas inquietar, e sim o atrair. Colocou perfume e saiu.

Quando ela chegou ao clube, foi alegremente recepcionada por seu Geraldo, que não deixou de notar a sua elegância, ao dizer:
-- Duda, tu estás de fato muito bonita. Quem tiver olhos que veja e a conquiste.
-- Assim o senhor me deixa sem jeito...
Geraldo sorriu e deu um beijo na face de Duda, que foi curtir o lindo jardim do clube. Andou e foi sentar a sombra num caramanchão, de onde podia ver os convidados chegando. Ainda era cedo...
Matias a viu e foi cumprimentá-la. Ele a abraçou e disse ao seu ouvido:
-- Estás muito linda. Assim eu não resisto... Eu volto depois. Preciso ir buscar minha avó.
Ela apenas sorriu,  assentiu e voltou a sentar. Mas ela não ficou muito tempo só, pois Lucas,  foi até ela dizendo:
-- Duda? És tu mesmo?
-- Sim. Sou eu. Como vai Lucas?
-- Eu estou simplesmente maravilhado com tua transformação. Estás linda!
-- Estás dizendo que eu era uma guria feia?
-- Não! Nunca foste feia, só era um tanto desajeitada e magra. Mas agora...
-- Por onde andavas? Não te vi no casamento de Carina.
-- Eu estava em um compromisso internacional, disse ele rindo. – Verdade. Eu estava participando de um simpósio sobre cirurgia em Oslo, e eu era um dos palestrantes.
-- Desculpado. Estas morando aqui mesmo?
-- Mais ou menos. Não sei tu sabes, mas eu sou cirurgião plástico, e tenho trabalhado também em Curitiba. Então  as semanas são alternadas. E tu o que tens feito?
-- Palestras.
-- Também? – disse ele rindo dela.
-- Sim. Faço palestras de orientação aos agricultores. Eu estou associando os meus cursos, de agronomia e meteorologista. Então falo sobre o clima e sobre a terra e modos de produzir. Bem interessante. Estou com a agenda lotada.
-- Legal...
-- O que é legal? – perguntou Matias, um tanto aborrecido com a conversa de seu primo com Duda. Lucas era um  galante conquistador e ela poderia sair machucada.
-- O trabalho da Duda. E vocês continuam adversários?
-- Como assim adversário! – perguntou Duda.
-- Ora, vocês nunca se deram,  estavam sempre brigando... Agora apaziguaram os ânimos?
-- Somos adultos. – responde Duda em tom de desagrado.
-- Está bem... Vamos falar de amenidades – disse Lucas.

Mas na verdade caiu um silencio. Matias estava com ciúmes de Lucas, que olhava para ela com olhos de gavião. Duda queria conversar com Matias, queria saber como tinha ficado o caso dele com a Vanessa, e Lucas estava com pensamentos libidinosos em relação a ela. O olhar dele deixava bem claro o que tinha em mente.

A conversa só foi renovada com a presença de Benício que veio avisar que os aperitivos já estavam sendo servidos. E retornou na companhia de Lucas, que achou melhor sair de perto da Duda, pois ela estava muito provocante, mesmo a sua roupa sendo bem comportada. Havia algo nela que mexia muito com ele.

Quando ficaram sozinhos, Duda e Matias puderam conversar. Ele contou que tinha conseguido se libertar de Vanessa. Duda respirou aliviada por muitos motivos. Mas principalmente porque ela o queria.

Agora ela estava certa de que sentia amor por ele. Suas pernas vacilaram quando ela o viu se aproximar, seu coração disparou e sua alma se encheu de alegria. Mas ele não demonstrava nada em relação a ela. Apenas a olhava com intensidade. No entanto ele não ficou nada satisfeito em ver que Lucas estava de galanteios para o lado dela. Talvez pudesse ter esperanças...

O almoço foi servido e Duda sem saber se por acaso, ou por alguma manobra se viu sentada ao lado de Lucas, que continuava jogando charme para ela. Maria Eduarda olhou em volta para ver onde estava Matias, e viu que ele estava em outra mesa. Ela não gostou quando viu que ele estava junto de Milena, uma prima distante, que era muito bonita...

Lucas soube que na semana seguinte Duda teria que ir a Curitiba a trabalho. Ele pediu o numero do telefone dela e deu o dele para eles combinarem de se encontrar. Ele a convidou para jantar.

Seu Geraldo ouviu a conversa e se sentiu enciumado, pois ele queria muito que ela fosse sua nora, mas seu filho era muito lerdo, ou o pior, não tinha percebido que ela era uma garota muito especial. Então foi até o filho e cochichou:
-- Tu viste como Lucas está monopolizando a Duda?
-- E ela deve estar gostando. – responde Matias ao pai, um tanto irritado.
-- Eia! O mundo é dos ligeiros... – disse seu Geraldo se afastando do filho.

Os doces já estavam sendo servidos, e seu Geraldo estava tirando fotos com os filhos e a esposa. Mas ele quis incluir         Duda, e a chamou:
-- Duda  minha querida, eu quero uma foto contigo.

Maria Eduarda foi até ele, e se posicionou para foto. Matias a olhava e Lucas  se levantou e se aproximou para observar o grupo fotografado. Ele elogiava a Duda diante de todos, afirmando ser ela uma garota que arrasava os corações,  tanto que estava se tornando inconveniente.

Carina percebendo o desconforto de sua amiga,  ela chamou todos para uma foto, e manobrou de tal maneira que fez com Duda e Matias ficassem lado a lado. Depois que o grupo de dispersou, Matias a tomou pela mão e a levou para o jardim.  Enquanto se afastavam Duda falou:
-- Obrigada!
-- Pelo que?
-- Por me livrar do Lucas. Ele bebeu um pouco além da conta e está muito chato.
-- Hum... Ele sempre bebe demais.
-- Ah é? É bom saber.
-- Nós precisamos sair para conversar. Quero trocar umas ideais contigo. Quais são os teus planos para os próximos dias.
-- Bah, amanhã  vou para Florianópolis e permaneço toda semana.
-- Eu posso ir te buscar?
-- Como buscar?
-- Eu tenho que fazer a avaliação da estrutura de uma ponte ali perto. Então pensei que poderíamos voltar juntos.
-- Seria ótimo.  
Duda e Matias sentaram em um banco no meio de gramado, a sombra de uma Paineira. Ela olhava atenta a grama tentando descobrir um trevo, então falou:
-- Matias tu recordas daquele trevo de quatro folhas que eu achei e te dei?
-- Sim. Eu ainda o tenho.
-- Sério! Tu guardaste mesmo?
-- Uso ele na minha carteira. Vou te mostrar...
-- Mas por que conservaste, se tu nem me suportava?
-- Pois é... E por que tu me deste se me odiavas?
-- Verdade, nós não podíamos nos enxergar... Duda olhou para ele e riu. – Sabe que eu não sei a razão, acho que na real era só implicância.
-- E agora?
-- O que tem agora?
-- Gostas de estar comigo?
-- Mas é claro. Agora somos bons amigos.
-- Amigos!  Tu me consideras apenas amigo?
-- Matias, não me faz pergunta difícil. E para ti o que sou?
-- Para mim tu és  linda, a garota mais bonita da festa.
-- Vamos parar por aqui. Vamos terminar brigando.

Então ela desdobrou o papel amarelado pelo tempo,  que Matias havia colocado em sua mão, e ali estava a folha seca do trevo de quatro folhas, que ela havia dado a ele, há muito tempo, cerca de dez anos atrás. E Duda leu o que ela tinha escrito  no papel: “Para ter sempre sorte. Duda”
-- Se eu não tivesse visto não iria acreditar que tu ainda tens... Obrigada! – Disse ela com lágrimas nos olhos. Eu também tenho guardada aquela pedra branca que tu achaste na beira da sanga, aquela vez que fomos para o sitio do teu avô.
-- Eu lembro sim...
Matias deu um beijo na face de Maria Eduarda e disse baixinho:
-- Para mim tu és tudo.
Lucas vinha chegando e Matias fechou a cara. Duda também não apreciou a situação. Outra vez aquele chato no pé dela.
-- Eu vim te dar tchau minha querida. Não esqueça que marcamos um compromisso, vamos jantar juntos em Curitiba na outra semana.
-- Eu ainda não tenho certeza, preciso da confirmação da cooperativa.
-- Nos falamos... Tchau primo.
Lucas se afastou e Duda suspirou aliviada. Matias pegou a mão dela e beijou, e perguntou:
-- Ele é o esperto da família, segundo meu pai.
-- Por quê?
-- Porque conseguiu sentar ao teu lado na hora do almoço.
-- Mas não foi quem eu gostaria que estivesse comigo.

Matias gostou da resposta dela, e sorriu para ela e a beijou de leve nos lábios.
Maria Eduarda se surpreendeu, mas não recuou, e esperou que ele a beijasse outra vez.  Matias apenas apertou a mão dela, pois eles não estavam mais sozinhos, suas tias se aproximavam.
A festa terminou. Era hora  de voltar para casa. Seu Geraldo abraçou a Duda e disse:
-- Minha querida tu és como uma filha para mim.
-- Eu também lhe quero bem. Mas eu preciso ir. Amanhã viajo e tenho algumas coisas que ajeitar.

Maria Eduardo chegou a Florianópolis e era esperada no aeroporto por Jerônimo, um fazendeiro, que a levaria para o interior, onde ela visitaria a sua fazenda e ficaria hospedada. Não era muito distante da capital e ficava ao pé da serra.

Embora fosse muito perto, a estrada que levava a fazenda era precária, e como havia previsão de chuvas intensas para a região ela ficou preocupada, e propôs voltarem naquele mesmo dia, porém não foi possível.

E naquela noite a chuva caiu com intensidade. Ela acordou no meio da noite e primeira coisa que veio a sua mente foi Matias. Ele não poderia fazer o trabalho previsto, e ela estaria retida ali e sem comunicação.

Duda só pode deixar a fazenda dois dias depois. Assim que percebeu o sinal telefônico, tentou falar com Matias e não conseguiu, o telefone dele estava fora de área. Ele se hospedou em Florianópolis  e esperou por Matias, que não apareceu, não atendeu as chamadas e tão pouco retornou. Estranho! O que teria acontecido?

Quando chegou em casa, Duda ligou para Carina. Se tivesse acontecido  algo mais sério ela contaria.  E aconteceu...

A medida que Carina falava, Maria Eduarda ficava horrorizada. Não era possível que algo assim pudesse ter acontecido. Matias ter sido agredido por Vanessa na praça de alimentação do shopping.  Enlouquecida a moça destruiu o telefone dele e com um canivete  na mão ela o agrediu e o feriu em varias partes do corpo. Foram os seguranças do shopping que  imobilizaram a moça, e acionaram a Brigada e Vanessa foi presa em fragrante. Matias foi levado para o Pronto Socorro. Ele estava bem, no entanto, virou noticia de telejornal.  E estava se sentindo um “idiota” em rede nacional.  Ele jamais imaginou uma situação dessas quando aceitou se encontrar com Vanessa. A família dela pagou fiança e a internou em uma clinica psiquiátrica.

Maria Eduarda desligou o telefone e foi ver Matias. Precisava fazer isso, seu coração estava aflito.  Mas para seu desespero Matias se recusou a falar com ela. Duda se sentiu chateada e foi dona Lia que explicou:
-- Minha querida não fica aborrecida, ele está envergonhado com tudo isso. Um homem ser agredido por uma mulher mexe nos brios deles. Releva... Todos nós estamos indignados com a atitude da mãe dela, que usou da compaixão de meu filho para satisfazer a loucura da filha. Bem que eu falei, que essa moça não me agradava. E além do mais eles namoraram algum tempo, e ele não percebeu que ela era dissimulada. Agora isso tudo conta e ele está inconformado consigo mesmo. Dá um tempo para ele.
-- A senhora tem razão, os homens reagem diferentes...

Maria Eduarda estava magoada, conversou mais um pouco com dona Lia e foi embora. Enquanto dirigia lágrimas afloraram em seus olhos. Por que ele foi se encontrar com Vanessa?  Com certeza Vanessa era importante para ele. E Duda percebeu que havia se enganado... Apenas imaginou que ele estivesse gostando dela... Mas aquele beijo? Para ele com certeza foi só um carinho... Nada mais!

Na semana seguinte ele não foi a Curitiba. Houve uma confusão de datas e as palestras foram remarcadas para o próximo mês. Ela não avisou Lucas, pois tinha certeza de que ele nem lembrava que a tinha convidado para jantar.

Os dias passaram e Duda não ligou mais para saber de Matias. Carina ligou a convidando para o almoço de domingo, mas ela recusou dando uma desculpa de estar com o trabalho atrasado...

Maria Eduarda decidiu tocar sua vida e deixar Matias para trás. Passou a frequentar a academia do prédio e a piscina aquecida. E fez novas amizades.
O prédio em que Duda morava era moderno, com apartamentos pequenos próprios para solteiros. E ela descobriu que seu vizinho de porta, Alex, que havia se mudado há pouco, era um cara sensacional. Era empresário e muito simpático.

Os dias estavam mais quentes e longos e Alex convidou Duda para ir ao bar do Pepe, um lugar agradável que servia um chopp bem gelado  e bolinhos de bacalhau. Ela aceitou e se encaixou no perfil da turma dele.

Agora os seus dias eram movimentados.

Maria Eduarda estava programando passar o Natal com os pais, mas antes de comunicar a eles a sua decisão, sua mãe avisou que estava indo para Nova York, e permaneceria até a virada do ano.

Seu Geraldo a convidou para o Natal. Mas ela foi firme e recusou. Não queria magoar ninguém, gostava muito deles, mas o modo como Matias havia agido com ela, se recusando a recebê-la, e ele nunca mais ter procurado por ela, sinalizava que ele não a queria por perto. Ela não iria!

Duda sabia que seus vizinhos iriam para o interior, ou praia, pelo menos a maioria, para visitar seus parentes. Ela ficaria só. Foi a sua opção... Se distanciar da família  tinha conseqüências, e essa era uma delas.

Alex que era sozinho a convidou para ir para serra com ele, em casa de amigos. Mas ela recusou. Aproveitaria os feriados para passear pela cidade de Porto Alegre, que era encantadora e fazia muito tempo que ela visitava seus locais preferidos.

Era véspera de Natal e Maria Eduarda estava chegando ao prédio, com as compras de super mercado, quando o porteiro a avisou que havia sido entregue  um presente para ela. Ela estranhou, mas pediu ao seu Jorge que alcançasse em sua porta, ela já estava  cheia de sacolas.

Quando ela viu o presente ficou boquiaberta. Era uma enorme cesta embrulhada em papel celofane com um enorme tope de fita vermelha. Ela não conseguia imaginar quem havia enviado.

Guardou rapidamente suas compras e voltou-se para cesta. Estava curiosa para saber quem havia se lembrado dela. Ela precisou remexer  os produtos para encontrar o cartão bem no fundo. Era um lindo cartão de Natal  e assinado apenas com a letra M.

Matias! Foi o nome que surgiu em sua mente. Quem mais ela conhecia que tinha como inicial a letra M? Marcos? Não... Marcelo? Não... O sobrenome de Alex era Muños... Talvez pudesse ser ele. Ela teria que esperar, para descobrir.

Duda foi para a cozinha, nessa noite especial ela faria um jantar.  Comprou várias coisas das quais gostava e iria preparar para si mesma. Depois de tudo pronto, arrumou a mesa e foi tomar banho. Vestiu sua roupa nova, e foi para sala, e colocou a TV no canal de música. Escolheu o gênero clássico. Serviu-se de vinho e  recostou-se no sofá e fechou os olhos e permitiu que seu pensamento voasse.

De repente o interfone tocou. Duda se assustou. Não esperava ninguém. Ela ficou indecisa, mas decidiu atender. Eram  Carina e Benício que passaram para dar um abraço nela, antes de ir para casa dos pais. Carina sabia que sua querida amiga estava reticente por causa de seu irmão. Ela não sabia o que tinha acontecido entre eles, mas Duda tinha se magoado muito.

Duda havia comprado um presente para sua amiga de sempre. Elas trocaram presentes, abraços e se desejaram felicidades e Carina já estava de saída, quando viu a cesta na cozinha. Ela olhou e disse baixinho para o marido:
-- Olha aonde veio parar a cesta...

O casal se despediu de saiu rapidamente. Porém Duda escutou  o que Carinha falou para Benício, e agora sabia que o presente era de Matias. Então o que significava esse presente? Ela não sabia...

Era tarde e Maria Eduarda sentou a mesa para seu solitário jantar de Natal, quando o telefone tocou, era um numero desconhecido. Mas ela atendeu. Seu coração começou a pulsar fortemente quando ela reconheceu a voz de Matias.

Ele estava na frente do prédio, veio para ficar a noite de Natal com ela, apenas com ela. Duda autorizou sua entrada no prédio, ela estava nervosa, suas mãos tremiam, foi até a cozinha e bebeu um pouco de água e foi abrir a porta.

Diante dela estava Matias que a abraçou fortemente enquanto falava:
-- Me perdoa... Eu fui egoísta e injusto contigo... Perdoa-me... Mas na verdade tu eras a única pessoa que eu não queria encontrar... Eu estava envergonhado.

Duda o trouxe para dentro e fechou a porta e então disse:
-- Eu fiquei muito magoada. Jamais esperei uma rejeição de tua parte, não agora.
-- Eu sei. Eu errei, e quero consertar. Tu me dás uma nova chance?
-- Nova chance?
-- Sim... De retomar de onde paramos, ou seja, de reiniciar o nosso romance...

Duda olhou para ele, seu coração disparou. Então ela não havia se enganado, ele estava mesmo afim dela. Ela não iria desperdiçar essa oportunidade de ter Matias a seu lado.
-- Sim... Vamos reiniciar o nosso relacionamento.
-- Um relacionamento sério. –disse Matias  antes de beijá-la.
Ele a beijou com profundidade a deixando estonteada. Ela queria retribuir o beijo, mas não sabia como fazer. Matias sorriu e disse:
-- Meu amor, não te preocupa deixa fluir, o toque é essencial,  é o que dá sabor ao beijo. Vamos tentar  novamente.

Foi uma noite especial. Foi o melhor Natal de vida de Maria Eduarda, que se entregou totalmente ao amor, e acordou nos braços de Matias. Para Duda tudo parecia um sonho, precisou tocar nele para saber que não era imaginação.

Ele acordou e puxou para ele,  beijou sua bochecha com carinho e declarou o seu amor. Ele sempre a quis perto dele. Acariciou seu rosto e beijou os olhos, as faces, a ponta do nariz e  pousou os lábios na boca de Duda e a beijou com ardor.
-- Eu te amo... Tu és tudo para mim... – sussurrava ele.

Duda se afastou, olhou para Matias, sorriu e o beijou com paixão. Fizeram amor mais uma vez, se entregaram sem reservas um ao outro. Quando terminaram estavam cansados e suados e Matias disse ao ouvido dela:
-- Vamos casar... Quero que seja logo... Porque não quero correr o risco de te perder.
Duda não respondeu. Foi para o banheiro tomar  banho e logo Matias estava com ela. Riram, brincaram embaixo do chuveiro como duas crianças.  Vestiram-se e  eles foram para cozinha fazer o café.
-- O que queres fazer? Ficar por aqui ou ir almoçar lá em casa?
-- Acho que devíamos ir almoçar. Sabe com tua mãe é. Ela gosta de ter todos reunidos em datas especiais.
-- Tens razão. Vamos e já anunciaremos que em breve vamos casar.
-- Tem certeza?
-- De que quero casar? Mas é claro que tenho. Tu tens duvidas?
-- Não. Cheguei a conclusão que nossa implicância era uma forma de nos manter ligados. Já era amor.
-- Minha mãe sempre falou isso. E ela tinha razão.
Quando eles chegaram para o almoço, seu Geraldo foi o primeiro a ver a mudança de “status” entre eles. Abraçou a Duda com carinho e disse:
-- Bem vinda a família.
-- Obrigada! Sempre me senti parte dessa família.
Carina piscou para ela e disse:
-- Demorou... Mas enfim juntos. Estou feliz. Quando serão os doces?
-- Breve! Muito em  breve.– disse Matias.

Estavam morando juntos e ambos refizeram suas agendas, para saírem em viagem no mesmo período, pois queriam não queria ficar afastados. Matias havia se mudado para o apartamento dela no dia Natal.

Era fim de maio quando Maria Eduarda entrou na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, para se tornar a senhora Matias Child. Ela estava linda. Vestida com simplicidade ela entrou pelo braço de seu pai, que embora já bem velho, estava orgulhoso de levar a filha ao altar para entregá-la para Matias. Ele gostava do rapaz. Sempre imaginou a possibilidade de ele vir a ser seu genro. E agora estava se tornando realidade.

Os noivos fizeram uma recepção apenas para os familiares e amigos mais chegados. O casal saiu em lua de mel para Europa. Depois de um mês eles voltaram e se estabeleceram no apartamento de Duda.

O tempo passava e eles estavam a cada dia, mais unidos e felizes. Então era primavera, dia do aniversário de seu sogro, quando ela anunciou que estava grávida e por coincidência Carina também.

Matias e Benício estavam orgulhosos, e seu Geraldo e dona Lia emocionados. As duas amigas queriam que as crianças nascessem no mesmo dia. Talvez fosse até possível...
Era madrugada de uma quinta feira chuvosa quando Duda começou a sentir fortes dores e Matias a levou para o hospital. Quando entrou avistou seu cunhado que recém tinha trazido Carina.

Ambos foram chamados para assistir o parto e ficar com suas esposas. As crianças iriam nascer quase a mesma hora. O primeiro a nascer foi o filho de Matias, um lindo menino, que iria se chamar Pedro. Em seguida nasceu a menina de Carina a quem deram o nome de Marina.

Geraldo e Lia, não cabiam em si de tanta felicidade. Os pais de Duda foram avisados e pegaram o primeiro avião. Ao chegar ao hospital foi uma verdadeira festa.
Quando se viu a sós, Matias beijou a esposa e o filho e disse:
-- Vocês dois são o meu tesouro, a razão do meu viver. Obrigada meu amor. Eu te amo muito... – Lágrimas de felicidade escorriam pelas faces de Matias.

Maria Eduarda adorava chegar no quarto e encontrar uma rosa vermelha sobre seu travesseiro, sempre no dia 24 de cada mês. Era a forma de Matias homenagear a esposa e  lembrar o dia que se amaram pela primeira vez.
                                                                      Maria Ronety Canibal
                                                                       Dezembro de 2018.
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