A GAROTA INSUPORTÁVEL
Carina estava nos últimos preparativos para o seu
casamento; iria casar com o amor de sua vida, seu amigo de infância, Benicio.
Já havia convidado todos os padrinhos, mas ainda precisava organizar a ordem de
entrada na igreja. Foi quando se deu conta que apenas seu irmão, Matias, e sua
querida amiga Duda, não tinham par. Por isso teria que juntá-los.
Embora ela
soubesse que eles eram incompatíveis, que não podiam se enxergar sem que
acontecesse uma discussão, uma briga...
Mas seria só para entrar no templo...
Mesmo assim, Carina decidiu
telefonar para seu irmão, para explicar a situação:
-- Mano querido, eu preciso de um
grande favor, que só tu pode fazer...
-- Tu falando com esse jeito manso, é porque a bomba
é grande. Fala...
-- Como meu padrinho tu terás que
entrar na igreja de par com a Duda...
-- Com aquela insuportável? Nem
pensar...
-- Me escuta. Ela não tem
namorado e sempre foi a minha amiga mais querida. Não vou abrir mão dela com
madrinha. Se não fizeres essa boa ação, ela vai ter que entrar sozinha. Assim
com tu...
-- Mas aquela só pode estar sem
namorado, quem vai aguentar aquela “fera”. Credo!
-- Ela é bem legal, tu não
sabe ver o lado divertido dela. Vocês só se implicam...
-- Está bem. O que eu não faço
por ti minha irmãzinha querida. Vai ficar me devendo... E eu vou cobrar
-- Tudo bem. Sei que pagarei com
juros. Obrigado. Tu moras em meu coração. Não fala mal da minha amiga.
Carina desligou o telefone, mais
aliviada. Com Duda seria mais fácil. Ela não pode deixar de sorrir ao se lembrar
das discussões homéricas entre Duda e
Matias.
Carina e Maria Eduarda tinham a
mesma idade e cresceram juntas, elas
eram inseparáveis, eram vizinhas e estudavam na mesma escola e na sempre
estavam na mesma sala de aula. Eram boas amigas, as melhores amigas, até que o pai de Duda decidiu voltar para sua terra
natal, Campinas, interior de São Paulo.
A separação foi difícil para as duas amigas, que aos 14
anos sofreram muito. Mas mantiveram a amizade através de longos
telefonemas e uma infinidade de cartas e tecnologias modernas.
Porém para Carina foi pior, pois foi nesse
mesmo período que seu único irmão, 4
anos mais velho, também saiu para estudar fora. Ele foi cursar Engenharia
Civil, em Pasadena, Califórnia, na Caltech.
Esses acontecimentos fizeram com
que Benício se aproximasse mais de Carina, e quando ela fez 15 anos, eles
começaram a namorar. Depois de 7 anos entre namoro e noivado estas estavam as
portas do casamento.
Carina e Benício organizaram um
jantar especial para os padrinhos uns dias antes do casamento, após o ensaio na
igreja. Mas Matias não pode vir e tão pouco Maria Eduarda.
Seu irmão morava e trabalhava em
Santa Maria, e só poderia vir na semana seguinte; e
Duda estava se mudando para
Porto Alegre e não pode chegar a tempo.
Mas no casamento eles estariam.
Matias chegou cedo a igreja. Alguns
convidados já estavam na igreja, e ele caminhava na frente do templo,
observando as pessoas que chegavam, e esperando a intragável da Duda.
Um taxi parou e dele desceu uma
moça, usando um vestido lindo na tonalidade lavanda. Ela chamou sua
atenção por sua beleza e elegância. Ela estava só. A moça olhou para ele,
sorriu e se aproximou.
Matias gelou. Aquela menina magricela e desengonçada não
poderia ter se transformado em uma mulher tão fascinante. Foi o que pensou...
Mas devolveu o sorriso e esperou que ela se identificasse.
-- Oi, como vai Matias Child.? Lembra
de mim?
-- Maria Eduarda Zarm! Eu estou bem... Mas é claro que eu lembro,
embora estejas muito mudada...
-- Hum, não foi o que me
pareceu...
-- Eu prometi a Carina que hoje
teríamos uma trégua. Por isso não me provoca...
-- Ok. Acho que esse tempo ficou
para trás. Hoje somos adultos e sabemos reconhecer quem tem sempre razão. Eu! –
disse ela o desafiando.
Matias ignorou o comentário e só suspirou. Não iria aceitar
provocação, e falou:
-- Nós abrimos o cortejo da
noiva. Acho que já estão todos. Eu estava te esperando. Vamos para a igreja.
Entraram para o átrio do templo,
onde os demais padrinhos já estavam aguardando a noiva chegar. Ali permaneceram
quietos. Ele apenas a olhava de rabo de olho.
Duda estava impressionada com
ele. Não tinha mudado de fisionomia, mas ele tinha se transformado em um homem
forte, com porte elegante e muito bonito. Quando que ela iria imaginar que um
dia estaria apreciando a bela aparência
de Matias.
Nossa! Ela não lembrava que os
olhos dele eram tão sedutores, eram castanhos escuros assim como os cabelos,
mas tinham um brilho travesso. Ele era um pedaço de mau caminho.
Benício estava nervoso, como todo
o noivo, Matias tentou brincar com ele, para aliviar a tensão, mas o homem nem
escutou. Alguém anunciou que o carro com a noiva havia estacionado.
Então todos se movimentaram para formarem
a ordem de entrada prevista pela organizadora. Matias conduziu Duda até a
porta. Pegou sua mão e a colocou em seu braço e olhou para ela, deu uma
piscadela e então entraram a passo lento pela nave principal do templo.
Chegaram ao altar e se
posicionaram, mas ele fez questão que ela permanecesse de braço com ele, assim
como os outros casais. Carina apareceu à porta da igreja. Ela estava linda e
radiante. Seu vestido era elegante e muito bonito.
Durante a cerimônia, por mais de
uma vez, Matias acarinhou a mão de Duda que descansava ainda em seu braço. Eles
se olharam inúmeras vezes. Ele estava orgulhoso de seu par. Ele a comparava com
as demais e Duda era a sua grande vencedora.
Após a cerimônia todos saíram da
igreja em cortejo atrás dos noivos. Primeiro os pais e então os padrinhos.
Matias sabia que eles não precisavam continuar como par, após a cerimônia na
igreja. Mas ele a convidou para permanecerem juntos, pois ambos estavam um
tanto deslocados, fora da turma. Fazia muito tempo, que os dois estavam fora da
cidade, e Carina e Benício tinham feito novas amizades.
Foi uma festa muito divertida. E
Matias e Duda aproveitaram cada minuto,
e além de dançarem eles também flertaram, já por conta do vinho. Ao fim da
noite quando Carina chamou as amigas, porque ela iria jogar o buque, Duda nem
se mexeu. Mas Matias a obrigou a participar da brincadeira. E o buque caiu
praticamente em cima dela.
Ela olhou para ele rindo, uma
risada gostosa e seus olhos brilhavam quando disse:
-- Olha o que aconteceu. Se eu
casar a culpa será tua. –apontando o dedo indicador para ele.
-- Assumo a culpa. Mas não tem
nada mais interessante do que ver uma noiva jogando o buque, pois sempre tem um
bando de desesperadas atrás.
-- Mas eu não sou desesperada, e,
aliás, foste tu quem me obrigou a ir. Eu nem tenho intenção de casar.
-- Não? Por quê?
-- Porque não vejo o casamento
como opção de felicidade. Muito pelo contrário. Acho que a liberdade é tudo na
vida. Se eu posso trabalhar e me sustentar, ter amigos e poder viajar e fazer o
que tenho vontade, por que atrelar tudo a uma única pessoa?
-- E o amor? Falas em liberdade
apenas.
-- Não acredito no amor. Penso em
atração, em química, mas não em amor.
-- Já tivestes experiências
amorosas que te decepcionaram?
-- Não! De nenhum tipo.
Matias ficou perplexo com a
resposta dela. E não entendeu bem o que ela quis dizes, mas parecia que ela
ainda era virgem, mas isso ele não ia perguntar.
Estavam servindo o bolo e o
assunto foi encerrado. Os noivos deixaram a festa e aos poucos os convidados
foram se retirando. A festa estava terminando.
Mas Matias queria prolongar a noite, olhou o
relógio, era 3h da manhã. Eles despediram-se e dona Lia falou:
-- Minha querida eu fiquei muito
feliz em te ver. Sinto muitas saudades de ti... Das brigas entre vocês dois e
da Carina sempre querendo acalmar os ânimos. Às vezes lembro, e acabo rindo
sozinha. Era muito engraçado ver vocês e as confusões que aprontavam.
-- Sim, eu também senti muita
falta. Não foi fácil para mim, ter de deixar vocês. E o pior de tudo, foi que sempre
detestei Campinas, e minhas irmãs não são nada simpáticas...
-- É teu pai era viúvo quando
casou com a Renata. Mas as filhas já eram até casadas.
-- Sim, mas elas me abominam.
Acho que serei banida da herança.
-- Vem almoçar conosco amanhã.
Temos muito que conversar. O Matias te busca.
-- Ok. Vamos almoçar todos
juntos, como antigamente.
Matias esperou paciente enquanto
as duas conversavam. Ele a observava e pensava que ele tinha gostado muito de
estar com ela. Aquela antipatia do passado não existia mais. Ela era muito
legal... Sua irmã tinha avisado.
Já no carro Matias falou:
-- Eu queria te convidar para nós
darmos uma esticada na noite, ainda é relativamente cedo, mas confesso que
estou fora do circuito há muito tempo, e não sei o que sugerir.
-- No apart onde estou morando,
tem um piano bar. Poderíamos arriscar... Se já estiver fechado, subimos para o
apartamento.
-- Ok. Boa sugestão.
Mas ao chegarem logo perceberam
que já estava fechado. Então subiram. Duda abriu um suco para tomarem. Ela logo
descalçou o sapato de salto alto e Matias
ficou cheio de desejos, pois ela estava muito sexy... Ele não demorou e
foi embora.
Quando voltava para casa de sua
mãe, ele pensava que aquela garota insuportável, o havia encantado. Que
absurdo! No entanto ela permanecia em seus pensamentos.
Maria Eduarda estava cansada. Assim
que Matias foi embora, ela se despiu e
foi tomar uma chuveirada. Atirou-se na cama e dormiu. Acordou cedo, e a
primeira imagem que surgiu em sua mente foi a de Matias.
Como haviam combinado Matias a
pegou as 11h para almoçar com sua família. Quando Duda desceu do carro ficou
parada olhando para a sua casa, e seu coração se apertou. Como ela tinha sido
feliz ali naquela casa.
-- Boas lembranças, disse Matias.
-- Sim. As melhores de minha
vida. Tive uma infância feliz aqui... Então meu pai quis voltar para perto das
outras filhas e minha vida virou do avesso. Sabe que ele me deu essa casa. Já
está inclusive no meu nome. Acho que será a minha única herança, pois aquelas
brigam por um centavo. Credo!
-- Não foi bom ir para São Paulo?
-- Não é isso. Mas é a questão
familiar. Meu pai quando casou com minha
mãe era um viúvo sozinho. As duas filhas muito bem casadas, não tinham tempo
para dar atenção a ele, e ele era ainda um homem vigoroso e aos 58 anos, quando
casou-se com minha mãe; eu nasci e vivia feliz, mas então as duas ciumentas,
inventaram que ele só se importava comigo, que elas estavam renegadas e que nem
aos netos ele dava atenção. Foi essa razão da mudança.
Então, lá a situação se
inverteu. Quem passou a ficar em segundo plano fui eu, pois, até a minha mãe
estava deslumbrada pelo nível elevado de vida delas. Meu pai tem dinheiro em
ações e prédios, mas os maridos delas, que são primos, têm muitas terras. São
fazendas imensas no Mato Grosso. Ambas são muito ricas. E passaram a convidar
meus pais para viajar com elas. Eu tinha que estudar, então não era nem convidada.
E isso definitivamente me afastou deles todos, tudo isso me fez pensar, então eu tomei a decisão da direção de minha vida,
aos 16 anos, que quando eu me formasse voltaria para o sul.
-- Não imaginei que fosse
assim... Venha. Estão nos esperando.
Matias a conduziu para casa de
sua mãe. Ali também havia muito para recordar, pois aquela “peste” o perturbava
em todo lugar. Velhos tempos... Bons tempos... Pensou Matias.
Foi um almoço com momentos
inesquecíveis, ela rememorou tanta coisa,
alegrias que viveu ali naquela casa. Emocionou-se com o carinho e
atenção de dona Lia e seu Geraldo. Até a Bibi ainda continuava cozinhando
aquelas comidas deliciosas.
Era meio da tarde quando Matias levantou-se
dizendo que ia pegar a estrada, ofereceu-se para deixá-la no apart. Ela
aceitou. E ao sair, ela prometeu ao bondoso casal que voltaria mais vezes.
Ele estacionou o carro diante do prédio e eles se
despediram com um “até a vista”. A vida
seguia seu curso, o encontro deles foi apenas ocasional, foi o que ambos
pensaram ao se despedirem.
Matias pegou a estrada e tinha a
sensação de que Duda ainda estava ao seu lado, pois o aroma do perfume que ela
usava ainda permanecia, e isso fez com ele pensasse nela, e não apenas como uma
velha amiga, mas como mulher.
Maria Eduarda entrou no
apartamento, se atirou no sofá. Estava cansada, os últimos dias tinham sido
muito agitados. Cochilou... Sonhou... E acordou com um sorriso... Ah! Como tudo
era perfeito no sonho. Até mesmo Matias estava enamorado dela... Ela sacudiu a
cabeça para se livrar dos pensamentos. Foi tomar um banho.
Duda comprou um apartamento perto
do Parcão. Da janela de sua sala ela
podia ver parte do parque, apreciava muito o arvoredo, o lago era onde pretendia fazer
suas caminhadas.
Os dias passaram e agora, Duda já
instalada em seu apartamento, estava pronta para o trabalho. Ela tinha montado
um circulo de palestras especificas para agricultores, pois como era Engenheira
Agrônoma e Meteorologista, estava associando esses conhecimentos, para
esclarecer e orientar na produção agrícola. Já tinha vários compromissos
agendados.
A vida seguia seu curso...
Carina e Benício, quando voltaram da lua de
mel, e ofereceram um churrasco aos
amigos. Os recém casados queriam
inaugurar a cobertura que eles haviam comprado e reformado, no bairro Higienópolis.
Teria sido, para Duda, um dia
muito agradável, se Matias não estivesse acompanhado de sua namorada. Ela era
única sem par.
Ela saiu cedo. Não suportou
permanecer mais tempo no grupo. Desculpou-se com Carina, dizendo que estava com
dor de cabeça. Matias que escutou a conversa entre elas, se ofereceu para
levá-la em casa. Claro que Duda recusou.
Duda não conseguia saber o que se
passava em seu intimo. Ela de repente ficou muito triste quando viu Matias com
Vanessa, que até parecia ser uma pessoa muito legal. E foi a Vanessa quem contou a ela que já fazia um
tempo que eles estavam juntos, mas que justamente naqueles dias do casamento de
Carina, eles haviam brigado, e estavam separados, mas, logo depois, Matias foi atrás dela para eles reatarem.
Essa história foi um choque para
Duda...
Ainda estava no trânsito, quando
seu telefone começou a receber mensagens, mas como estava dirigindo não olhou.
Mas quando chegou ao seu apartamento, ela abriu o WhatsApp e viu que eram de
Matias.
Ela sentou para ler o que ele
tinha enviado, eram muitas mensagens, onde ele dizia que nada do que Vanessa
havia contado era verdade. Ela estava bem doente, havia descoberto recentemente
o câncer de mama e estava fragilizada; e foi por isso ele tinha se reaproximado,
a pedido da família dela. Mas não havia compromisso entre eles. Acrescentou que
ele só tinha aceitado a proposta da mãe de Vanessa, porque em breve estaria de
volta a Porto Alegre. Seu trabalho em Santa Maria estava no fim.
Duda ficou pensando... E se
perguntou por que ele havia dado essa explicação toda para ela? Será que ele
estava afim dela? E ela o queria?
Seguidamente Duda era convidada
para o almoço de domingo da família Child. Ela sempre aceitava o convite com
alegria, gostava de estar no meio deles, se sentia parte da família.
Eles eram
alegres e seu Geraldo adorava dizer bobagens.
Naquele domingo, após o almoço,
Carina, Duda e dona Lia, foram sentar na
saleta, para planejar o aniversário de 60 anos de seu Geraldo. Seria uma festa
surpresa.
Dona Lia sugeriu fazer no clube,
que tinha uma ótima estrutura e uma área aberta muito boa, com um jardim
bonito. Fariam no domingo ao meio dia. Já era primavera e o local era muito
agradável. Duda e Carina concordaram.
Então dona Lia mudou de assunto
quando disse:
-- Matias deve estar por aqui na
quarta feira. Graças a Deus! Eu estava apreensiva. Não gostei daquela namorada
dele. Não gostei mesmo!
-- Mas por que mãe?
-- Não sei explicar. Aquela história
que ele falou dela estar depressiva por causa do câncer e por isso ele
continuava com ela, me pareceu ser uma armadilha.
-- Armadilha? Mãe! Hoje em dia as
coisas são diferentes. Se ele anda com ela não tem obrigação de casar. Até se ela
estiver grávida. Assume a paternidade da criança e não casa.
-- Não sei. Achei a moça muito
fingida... Aquele dia ela falou bastante contigo, não foi Duda? O que te
pareceu?
-- Sim, conversamos. Aliás, ela
falou. Contou que eles estavam juntos um bom tempo, que na época do casamento de
Carina, estavam brigados, mas que agora ele tinha ido atrás dela e estava tudo
bem. Mas pelo que eu soube depois, não é bem assim.
-- Pois é. Ele conta de um jeito
e ela de outro. E será que ela está de fato doente?
-- Credo! Quem iria inventar um
câncer?
-- Uma pessoa desequilibrada. Que não bate bem... Acho que
ela é do tipo possessiva...
-- Se isso for verdade, em que
enrascada se meteu meu irmão.
-- Sim... Por isso quero que ele
venha logo. Tenho rezado muito. Eu que sempre achei que a minha nora seria a
Duda. — disse Lia olhando com carinho para ela.
-- Eu? Por quê? Nós nunca nos
entendemos...
-- Muitas vezes as implicâncias infantis são sinais de
amor.
Duda não disse nada, mas sentiu
suas faces quentes. Talvez fosse até possível. Ela sabia que Matias tinha se
tornado importante para ela...
Ultimamente Matias e ela estavam
trocando mensagens diárias, aliás, muitas mensagens. Ele estava partilhando
todos os acontecimentos de seu dia. E Duda sabia que ele não se encontrava com
Vanessa regularmente, pois ele nunca mais tinha citado o nome da próxima. Que
estranho! Alguma coisa realmente estava errada, mas ela não ia dizer o que
pensava para dona Lia.
Duda ficou pensando que se
Vanessa fosse maluca, Matias teria percebido. Só se havia mais enredo nesta
história, e ela não conhecia toda a verdade. E concordou com dona Lia. E ela
também ficou preocupada. Mesmo ele estando longe ainda poderia se sentir
responsável.
Matias só pode, realmente, voltar
para Porto Alegre, depois de quase um mês. Ele estava na casa dos pais,
temporariamente, estava procurando apartamento. Já havia decido se estabelecer
na capital, e criar uma empresa especializada em engenharia estrutural.
Matias estava com saudades de
Duda. Ansiava por vê-la. Porém Duda estava em uma jornada de palestras no
interior do Paraná e só voltaria na semana seguinte, para a festa de
aniversario de Geraldo.
Mesmo viajando e trabalhando
muito, Maria Eduarda pensava muito em Matias.
Sabia que um sentimento forte vibrava em seu peito, toda vez que Matias
tomava conta de seu pensamento. Ela estava apaixonada por ele. Mas e ele? Duda
não tinha como saber... Eles haviam se tornado bons amigos, e com certeza era
essa consideração dele por ela.
Ela precisa testar os sentimentos
dele, mas como? Não era dessas que andam com outro só para provocar ciúme. Ela
era muito direta e sincera e não gostava de subterfúgios.
O domingo amanheceu com o céu
limpo, sem nuvens, um lindo dia de primavera. A temperatura estava agradável, e
Duda se vestiu para ir a festa. Caprichou! Queria estar bonita. E escolheu usar
um vestido azul celeste com delicadas estampas florais. Prendeu o cabelo em uma
trança lateral, se maquiou, colocou brincos com pedra azul e calçou sapatilha
da cor do vestido. Olhou-se no espelho, e gostou de sua figura. Ela queria
impressionar Matias, não apenas inquietar, e sim o atrair. Colocou perfume e
saiu.
Quando ela chegou ao clube, foi
alegremente recepcionada por seu Geraldo, que não deixou de notar a sua
elegância, ao dizer:
-- Duda, tu estás de fato muito
bonita. Quem tiver olhos que veja e a conquiste.
-- Assim o senhor me deixa sem
jeito...
Geraldo sorriu e deu um beijo na
face de Duda, que foi curtir o lindo jardim do clube. Andou e foi sentar a
sombra num caramanchão, de onde podia ver os convidados chegando. Ainda era
cedo...
Matias a viu e foi
cumprimentá-la. Ele a abraçou e disse ao seu ouvido:
-- Estás muito linda. Assim eu
não resisto... Eu volto depois. Preciso ir buscar minha avó.
Ela apenas sorriu, assentiu e voltou a sentar. Mas ela não ficou
muito tempo só, pois Lucas, foi até ela
dizendo:
-- Duda? És tu mesmo?
-- Sim. Sou eu. Como vai Lucas?
-- Eu estou simplesmente
maravilhado com tua transformação. Estás linda!
-- Estás dizendo que eu era uma
guria feia?
-- Não! Nunca foste feia, só era
um tanto desajeitada e magra. Mas agora...
-- Por onde andavas? Não te vi no
casamento de Carina.
-- Eu estava em um compromisso
internacional, disse ele rindo. – Verdade. Eu estava participando de um
simpósio sobre cirurgia em Oslo, e eu era um dos palestrantes.
-- Desculpado. Estas morando aqui
mesmo?
-- Mais ou menos. Não sei tu
sabes, mas eu sou cirurgião plástico, e tenho trabalhado também em Curitiba.
Então as semanas são alternadas. E tu o
que tens feito?
-- Palestras.
-- Também? – disse ele rindo
dela.
-- Sim. Faço palestras de
orientação aos agricultores. Eu estou associando os meus cursos, de agronomia e
meteorologista. Então falo sobre o clima e sobre a terra e modos de produzir.
Bem interessante. Estou com a agenda lotada.
-- Legal...
-- O que é legal? – perguntou
Matias, um tanto aborrecido com a conversa de seu primo com Duda. Lucas era
um galante conquistador e ela poderia
sair machucada.
-- O trabalho da Duda. E vocês
continuam adversários?
-- Como assim adversário! –
perguntou Duda.
-- Ora, vocês nunca se deram, estavam sempre brigando... Agora apaziguaram
os ânimos?
-- Somos adultos. – responde Duda
em tom de desagrado.
-- Está bem... Vamos falar de
amenidades – disse Lucas.
Mas na verdade caiu um silencio.
Matias estava com ciúmes de Lucas, que olhava para ela com olhos de gavião.
Duda queria conversar com Matias, queria saber como tinha ficado o caso dele
com a Vanessa, e Lucas estava com pensamentos libidinosos em relação a ela. O
olhar dele deixava bem claro o que tinha em mente.
A conversa só foi renovada com a
presença de Benício que veio avisar que os aperitivos já estavam sendo
servidos. E retornou na companhia de Lucas, que achou melhor sair de perto da
Duda, pois ela estava muito provocante, mesmo a sua roupa sendo bem comportada.
Havia algo nela que mexia muito com ele.
Quando ficaram sozinhos, Duda e
Matias puderam conversar. Ele contou que tinha conseguido se libertar de
Vanessa. Duda respirou aliviada por muitos motivos. Mas principalmente porque
ela o queria.
Agora ela estava certa de que
sentia amor por ele. Suas pernas vacilaram quando ela o viu se aproximar, seu
coração disparou e sua alma se encheu de alegria. Mas ele não demonstrava nada em
relação a ela. Apenas a olhava com intensidade. No entanto ele não ficou nada
satisfeito em ver que Lucas estava de galanteios para o lado dela. Talvez
pudesse ter esperanças...
O almoço foi servido e Duda sem
saber se por acaso, ou por alguma manobra se viu sentada ao lado de Lucas, que
continuava jogando charme para ela. Maria Eduarda olhou em volta para ver onde
estava Matias, e viu que ele estava em outra mesa. Ela não gostou quando viu
que ele estava junto de Milena, uma prima distante, que era muito bonita...
Lucas soube que na semana
seguinte Duda teria que ir a Curitiba a trabalho. Ele pediu o numero do telefone
dela e deu o dele para eles combinarem de se encontrar. Ele a convidou para
jantar.
Seu Geraldo ouviu a conversa e se
sentiu enciumado, pois ele queria muito que ela fosse sua nora, mas seu filho
era muito lerdo, ou o pior, não tinha percebido que ela era uma garota muito
especial. Então foi até o filho e cochichou:
-- Tu viste como Lucas está
monopolizando a Duda?
-- E ela deve estar gostando. –
responde Matias ao pai, um tanto irritado.
-- Eia! O mundo é dos ligeiros...
– disse seu Geraldo se afastando do filho.
Os doces já estavam sendo
servidos, e seu Geraldo estava tirando fotos com os filhos e a esposa. Mas ele
quis incluir Duda, e a chamou:
-- Duda minha querida, eu quero uma foto contigo.
Maria Eduarda foi até ele, e se
posicionou para foto. Matias a olhava e Lucas se levantou e se aproximou para observar o
grupo fotografado. Ele elogiava a Duda diante de todos, afirmando ser ela uma
garota que arrasava os corações, tanto
que estava se tornando inconveniente.
Carina percebendo o desconforto de
sua amiga, ela chamou todos para uma
foto, e manobrou de tal maneira que fez com Duda e Matias ficassem lado a lado.
Depois que o grupo de dispersou, Matias a tomou pela mão e a levou para o
jardim. Enquanto se afastavam Duda
falou:
-- Obrigada!
-- Pelo que?
-- Por me livrar do Lucas. Ele
bebeu um pouco além da conta e está muito chato.
-- Hum... Ele sempre bebe demais.
-- Ah é? É bom saber.
-- Nós precisamos sair para
conversar. Quero trocar umas ideais contigo. Quais são os teus planos para os próximos
dias.
-- Bah, amanhã vou para Florianópolis e permaneço toda
semana.
-- Eu posso ir te buscar?
-- Como buscar?
-- Eu tenho que fazer a avaliação
da estrutura de uma ponte ali perto. Então pensei que poderíamos voltar juntos.
-- Seria ótimo.
Duda e Matias sentaram em um
banco no meio de gramado, a sombra de uma Paineira. Ela olhava atenta a grama
tentando descobrir um trevo, então falou:
-- Matias
tu recordas daquele trevo de quatro folhas que eu achei e te dei?
-- Sim.
Eu ainda o tenho.
-- Sério!
Tu guardaste mesmo?
-- Uso
ele na minha carteira. Vou te mostrar...
-- Mas
por que conservaste, se tu nem me suportava?
-- Pois
é... E por que tu me deste se me odiavas?
--
Verdade, nós não podíamos nos enxergar... Duda olhou para ele e riu. – Sabe que
eu não sei a razão, acho que na real era só implicância.
-- E
agora?
-- O que
tem agora?
-- Gostas
de estar comigo?
-- Mas é
claro. Agora somos bons amigos.
--
Amigos! Tu me consideras apenas amigo?
--
Matias, não me faz pergunta difícil. E para ti o que sou?
-- Para
mim tu és linda, a garota mais bonita da
festa.
-- Vamos
parar por aqui. Vamos terminar brigando.
Então ela
desdobrou o papel amarelado pelo tempo, que Matias havia colocado em sua mão, e ali
estava a folha seca do trevo de quatro folhas, que ela havia dado a ele, há muito
tempo, cerca de dez anos atrás. E Duda leu o que ela tinha escrito no papel: “Para ter sempre sorte. Duda”
-- Se eu
não tivesse visto não iria acreditar que tu ainda tens... Obrigada! – Disse ela
com lágrimas nos olhos. Eu também tenho guardada aquela pedra branca que tu
achaste na beira da sanga, aquela vez que fomos para o sitio do teu avô.
-- Eu
lembro sim...
Matias
deu um beijo na face de Maria Eduarda e disse baixinho:
-- Para
mim tu és tudo.
Lucas
vinha chegando e Matias fechou a cara. Duda também não apreciou a situação.
Outra vez aquele chato no pé dela.
-- Eu vim
te dar tchau minha querida. Não esqueça que marcamos um compromisso, vamos
jantar juntos em Curitiba na outra semana.
-- Eu
ainda não tenho certeza, preciso da confirmação da cooperativa.
-- Nos
falamos... Tchau primo.
Lucas se
afastou e Duda suspirou aliviada. Matias pegou a mão dela e beijou, e
perguntou:
-- Ele é
o esperto da família, segundo meu pai.
-- Por
quê?
-- Porque
conseguiu sentar ao teu lado na hora do almoço.
-- Mas
não foi quem eu gostaria que estivesse comigo.
Matias
gostou da resposta dela, e sorriu para ela e a beijou de leve nos lábios.
Maria
Eduarda se surpreendeu, mas não recuou, e esperou que ele a beijasse outra vez.
Matias apenas apertou a mão dela, pois
eles não estavam mais sozinhos, suas tias se aproximavam.
A festa
terminou. Era hora de voltar para casa.
Seu Geraldo abraçou a Duda e disse:
-- Minha
querida tu és como uma filha para mim.
-- Eu
também lhe quero bem. Mas eu preciso ir. Amanhã viajo e tenho algumas coisas
que ajeitar.
Maria
Eduardo chegou a Florianópolis e era esperada no aeroporto por Jerônimo, um
fazendeiro, que a levaria para o interior, onde ela visitaria a sua fazenda e
ficaria hospedada. Não era muito distante da capital e ficava ao pé da serra.
Embora
fosse muito perto, a estrada que levava a fazenda era precária, e como havia
previsão de chuvas intensas para a região ela ficou preocupada, e propôs
voltarem naquele mesmo dia, porém não foi possível.
E naquela
noite a chuva caiu com intensidade. Ela acordou no meio da noite e primeira
coisa que veio a sua mente foi Matias. Ele não poderia fazer o trabalho
previsto, e ela estaria retida ali e sem comunicação.
Duda só
pode deixar a fazenda dois dias depois. Assim que percebeu o sinal telefônico,
tentou falar com Matias e não conseguiu, o telefone dele estava fora de área.
Ele se hospedou em Florianópolis e
esperou por Matias, que não apareceu, não atendeu as chamadas e tão pouco
retornou. Estranho! O que teria acontecido?
Quando
chegou em casa, Duda ligou para Carina. Se tivesse acontecido algo mais sério ela contaria. E aconteceu...
A medida
que Carina falava, Maria Eduarda ficava horrorizada. Não era possível que algo
assim pudesse ter acontecido. Matias ter sido agredido por Vanessa na praça de
alimentação do shopping. Enlouquecida a
moça destruiu o telefone dele e com um canivete na mão ela o agrediu e o feriu em varias
partes do corpo. Foram os seguranças do shopping que imobilizaram a moça, e acionaram a Brigada e
Vanessa foi presa em fragrante. Matias foi levado para o Pronto Socorro. Ele
estava bem, no entanto, virou noticia de telejornal. E estava se sentindo um “idiota” em rede
nacional. Ele jamais imaginou uma
situação dessas quando aceitou se encontrar com Vanessa. A família dela pagou
fiança e a internou em uma clinica psiquiátrica.
Maria
Eduarda desligou o telefone e foi ver Matias. Precisava fazer isso, seu coração
estava aflito. Mas para seu desespero
Matias se recusou a falar com ela. Duda se sentiu chateada e foi dona Lia que
explicou:
-- Minha
querida não fica aborrecida, ele está envergonhado com tudo isso. Um homem ser
agredido por uma mulher mexe nos brios deles. Releva... Todos nós estamos
indignados com a atitude da mãe dela, que usou da compaixão de meu filho para
satisfazer a loucura da filha. Bem que eu falei, que essa moça não me agradava.
E além do mais eles namoraram algum tempo, e ele não percebeu que ela era
dissimulada. Agora isso tudo conta e ele está inconformado consigo mesmo. Dá um
tempo para ele.
-- A
senhora tem razão, os homens reagem diferentes...
Maria
Eduarda estava magoada, conversou mais um pouco com dona Lia e foi embora.
Enquanto dirigia lágrimas afloraram em seus olhos. Por que ele foi se encontrar
com Vanessa? Com certeza Vanessa era
importante para ele. E Duda percebeu que havia se enganado... Apenas imaginou
que ele estivesse gostando dela... Mas aquele beijo? Para ele com certeza foi
só um carinho... Nada mais!
Na semana
seguinte ele não foi a Curitiba. Houve uma confusão de datas e as palestras
foram remarcadas para o próximo mês. Ela não avisou Lucas, pois tinha certeza
de que ele nem lembrava que a tinha convidado para jantar.
Os dias
passaram e Duda não ligou mais para saber de Matias. Carina ligou a convidando
para o almoço de domingo, mas ela recusou dando uma desculpa de estar com o
trabalho atrasado...
Maria
Eduarda decidiu tocar sua vida e deixar Matias para trás. Passou a frequentar a
academia do prédio e a piscina aquecida. E fez novas amizades.
O prédio
em que Duda morava era moderno, com apartamentos pequenos próprios para
solteiros. E ela descobriu que seu vizinho de porta, Alex, que havia se mudado
há pouco, era um cara sensacional. Era empresário e muito simpático.
Os dias estavam
mais quentes e longos e Alex convidou Duda para ir ao bar do Pepe, um lugar
agradável que servia um chopp bem gelado
e bolinhos de bacalhau. Ela aceitou e se encaixou no perfil da turma
dele.
Agora os
seus dias eram movimentados.
Maria
Eduarda estava programando passar o Natal com os pais, mas antes de comunicar a
eles a sua decisão, sua mãe avisou que estava indo para Nova York, e
permaneceria até a virada do ano.
Seu
Geraldo a convidou para o Natal. Mas ela foi firme e recusou. Não queria magoar
ninguém, gostava muito deles, mas o modo como Matias havia agido com ela, se
recusando a recebê-la, e ele nunca mais ter procurado por ela, sinalizava que
ele não a queria por perto. Ela não iria!
Duda
sabia que seus vizinhos iriam para o interior, ou praia, pelo menos a maioria,
para visitar seus parentes. Ela ficaria só. Foi a sua opção... Se distanciar da
família tinha conseqüências, e essa era
uma delas.
Alex que
era sozinho a convidou para ir para serra com ele, em casa de amigos. Mas ela
recusou. Aproveitaria os feriados para passear pela cidade de Porto Alegre, que
era encantadora e fazia muito tempo que ela visitava seus locais preferidos.
Era
véspera de Natal e Maria Eduarda estava chegando ao prédio, com as compras de
super mercado, quando o porteiro a avisou que havia sido entregue um presente para ela. Ela estranhou, mas
pediu ao seu Jorge que alcançasse em sua porta, ela já estava cheia de sacolas.
Quando
ela viu o presente ficou boquiaberta. Era uma enorme cesta embrulhada em papel
celofane com um enorme tope de fita vermelha. Ela não conseguia imaginar quem
havia enviado.
Guardou
rapidamente suas compras e voltou-se para cesta. Estava curiosa para saber quem
havia se lembrado dela. Ela precisou remexer os produtos para encontrar o cartão bem no
fundo. Era um lindo cartão de Natal e
assinado apenas com a letra M.
Matias!
Foi o nome que surgiu em sua mente. Quem mais ela conhecia que tinha como
inicial a letra M? Marcos? Não... Marcelo? Não... O sobrenome de Alex era
Muños... Talvez pudesse ser ele. Ela teria que esperar, para descobrir.
Duda foi
para a cozinha, nessa noite especial ela faria um jantar. Comprou várias coisas das quais gostava e
iria preparar para si mesma. Depois de tudo pronto, arrumou a mesa e foi tomar
banho. Vestiu sua roupa nova, e foi para sala, e colocou a TV no canal de música.
Escolheu o gênero clássico. Serviu-se de vinho e recostou-se no sofá e fechou os olhos e
permitiu que seu pensamento voasse.
De
repente o interfone tocou. Duda se assustou. Não esperava ninguém. Ela ficou
indecisa, mas decidiu atender. Eram Carina e Benício que passaram para dar um
abraço nela, antes de ir para casa dos pais. Carina sabia que sua querida amiga
estava reticente por causa de seu irmão. Ela não sabia o que tinha acontecido
entre eles, mas Duda tinha se magoado muito.
Duda
havia comprado um presente para sua amiga de sempre. Elas trocaram presentes,
abraços e se desejaram felicidades e Carina já estava de saída, quando viu a
cesta na cozinha. Ela olhou e disse baixinho para o marido:
-- Olha
aonde veio parar a cesta...
O casal
se despediu de saiu rapidamente. Porém Duda escutou o que Carinha falou para Benício, e agora
sabia que o presente era de Matias. Então o que significava esse presente? Ela
não sabia...
Era tarde
e Maria Eduarda sentou a mesa para seu solitário jantar de Natal, quando o
telefone tocou, era um numero desconhecido. Mas ela atendeu. Seu coração
começou a pulsar fortemente quando ela reconheceu a voz de Matias.
Ele
estava na frente do prédio, veio para ficar a noite de Natal com ela, apenas
com ela. Duda autorizou sua entrada no prédio, ela estava nervosa, suas mãos
tremiam, foi até a cozinha e bebeu um pouco de água e foi abrir a porta.
Diante
dela estava Matias que a abraçou fortemente enquanto falava:
-- Me
perdoa... Eu fui egoísta e injusto contigo... Perdoa-me... Mas na verdade tu
eras a única pessoa que eu não queria encontrar... Eu estava envergonhado.
Duda o
trouxe para dentro e fechou a porta e então disse:
-- Eu
fiquei muito magoada. Jamais esperei uma rejeição de tua parte, não agora.
-- Eu
sei. Eu errei, e quero consertar. Tu me dás uma nova chance?
-- Nova
chance?
-- Sim...
De retomar de onde paramos, ou seja, de reiniciar o nosso romance...
Duda
olhou para ele, seu coração disparou. Então ela não havia se enganado, ele
estava mesmo afim dela. Ela não iria desperdiçar essa oportunidade de ter
Matias a seu lado.
-- Sim...
Vamos reiniciar o nosso relacionamento.
-- Um
relacionamento sério. –disse Matias
antes de beijá-la.
Ele a
beijou com profundidade a deixando estonteada. Ela queria retribuir o beijo,
mas não sabia como fazer. Matias sorriu e disse:
-- Meu
amor, não te preocupa deixa fluir, o toque é essencial, é o que dá sabor ao beijo. Vamos tentar novamente.
Foi uma
noite especial. Foi o melhor Natal de vida de Maria Eduarda, que se entregou
totalmente ao amor, e acordou nos braços de Matias. Para Duda tudo parecia um
sonho, precisou tocar nele para saber que não era imaginação.
Ele
acordou e puxou para ele, beijou sua
bochecha com carinho e declarou o seu amor. Ele sempre a quis perto dele.
Acariciou seu rosto e beijou os olhos, as faces, a ponta do nariz e pousou os lábios na boca de Duda e a beijou
com ardor.
-- Eu te
amo... Tu és tudo para mim... – sussurrava ele.
Duda se
afastou, olhou para Matias, sorriu e o beijou com paixão. Fizeram amor mais uma
vez, se entregaram sem reservas um ao outro. Quando terminaram estavam cansados
e suados e Matias disse ao ouvido dela:
-- Vamos
casar... Quero que seja logo... Porque não quero correr o risco de te perder.
Duda não
respondeu. Foi para o banheiro tomar
banho e logo Matias estava com ela. Riram, brincaram embaixo do chuveiro
como duas crianças. Vestiram-se e eles foram para cozinha fazer o café.
-- O que
queres fazer? Ficar por aqui ou ir almoçar lá em casa?
-- Acho
que devíamos ir almoçar. Sabe com tua mãe é. Ela gosta de ter todos reunidos em
datas especiais.
-- Tens
razão. Vamos e já anunciaremos que em breve vamos casar.
-- Tem
certeza?
-- De que
quero casar? Mas é claro que tenho. Tu tens duvidas?
-- Não.
Cheguei a conclusão que nossa implicância era uma forma de nos manter ligados.
Já era amor.
-- Minha
mãe sempre falou isso. E ela tinha razão.
Quando
eles chegaram para o almoço, seu Geraldo foi o primeiro a ver a mudança de
“status” entre eles. Abraçou a Duda com carinho e disse:
-- Bem
vinda a família.
--
Obrigada! Sempre me senti parte dessa família.
Carina
piscou para ela e disse:
--
Demorou... Mas enfim juntos. Estou feliz. Quando serão os doces?
-- Breve!
Muito em breve.– disse Matias.
Estavam
morando juntos e ambos refizeram suas agendas, para saírem em viagem no mesmo
período, pois queriam não queria ficar afastados. Matias havia se mudado para o
apartamento dela no dia Natal.
Era fim
de maio quando Maria Eduarda entrou na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora, para
se tornar a senhora Matias Child. Ela estava linda. Vestida com simplicidade
ela entrou pelo braço de seu pai, que embora já bem velho, estava orgulhoso de
levar a filha ao altar para entregá-la para Matias. Ele gostava do rapaz.
Sempre imaginou a possibilidade de ele vir a ser seu genro. E agora estava se
tornando realidade.
Os noivos
fizeram uma recepção apenas para os familiares e amigos mais chegados. O casal
saiu em lua de mel para Europa. Depois de um mês eles voltaram e se
estabeleceram no apartamento de Duda.
O tempo
passava e eles estavam a cada dia, mais unidos e felizes. Então era primavera,
dia do aniversário de seu sogro, quando ela anunciou que estava grávida e por
coincidência Carina também.
Matias e
Benício estavam orgulhosos, e seu Geraldo e dona Lia emocionados. As duas
amigas queriam que as crianças nascessem no mesmo dia. Talvez fosse até
possível...
Era
madrugada de uma quinta feira chuvosa quando Duda começou a sentir fortes dores
e Matias a levou para o hospital. Quando entrou avistou seu cunhado que recém
tinha trazido Carina.
Ambos
foram chamados para assistir o parto e ficar com suas esposas. As crianças
iriam nascer quase a mesma hora. O primeiro a nascer foi o filho de Matias, um
lindo menino, que iria se chamar Pedro. Em seguida nasceu a menina de Carina a
quem deram o nome de Marina.
Geraldo e
Lia, não cabiam em si de tanta felicidade. Os pais de Duda foram avisados e
pegaram o primeiro avião. Ao chegar ao hospital foi uma verdadeira festa.
Quando se
viu a sós, Matias beijou a esposa e o filho e disse:
-- Vocês
dois são o meu tesouro, a razão do meu viver. Obrigada meu amor. Eu te amo
muito... – Lágrimas de felicidade escorriam pelas faces de Matias.
Maria
Eduarda adorava chegar no quarto e encontrar uma rosa vermelha sobre seu
travesseiro, sempre no dia 24 de cada mês. Era a forma de Matias homenagear a
esposa e lembrar o dia que se amaram pela
primeira vez.
Maria Ronety Canibal
Dezembro de 2018.
IMAGENS VIA INTERNET