A LIVRARIA
Juliana estava com dificuldade para abrir a
porta de sua pequena livraria. A fechadura estava emperrada e a chave não
virava. Estava atrasada, tinha que enviar com urgência um pedido feito pelo
site.
Mauricio estava olhando a vitrine da loja,
quando percebeu a dificuldade da jovem. Propôs-se a ajudá-la, e Juliana aceitou
agradecida a oferta. Mas ele também não conseguiu. Foi preciso chamar um
especialista.
Enquanto esperavam Mauricio puxou assunto com
ela sobre os livros expostos na vitrine. Ele disse a ela que estava procurando
um livro antigo e considerado raro. E
tinham indicado a loja dela. Juliana disse que realmente ela tinha alguns
títulos raros.
Por fim a porta foi aberta e Juliana foi
localizar o livro que Mauricio estava procurando e indicou outros títulos que
tratavam do mesmo assunto. E o deixou ali.
E foi preparar um café para eles.
A loja de Juliana era muito acolhedora,
embora fosse rodeada de prateleiras altas até o teto, ela tinha sofás e poltronas para os clientes desfrutarem de
leituras de revistas ou livretos de poesias ou contos de amor. O café era por
conta da casa. E determinadas horas do dia a loja ficava cheia.
Ela serviu o café para Mauricio e para ela e
ficaram conversando. De repente ela se lembrou do pedido que deveria ser enviado
com urgência e foi separar os livros e embalar. Chamou o mensageiro de o
despachou.
Juliana amava seu trabalho, sua loja, amava
os livros. Desde tenra idade ela foi acostumada a manusear livros. Seu pai era
professor e tinha muitos livros e comprava muitos usados. E foi a partir disso
que surgiu a ideia de trabalhar com livros usados. Logo tinham mais de dez mil
títulos. E após a morte de seu pai, Juliana assumiu a loja e a ampliou e
modernizou, ordenando os títulos pelo computador e criando um SITE de venda.
Mauricio solicitou sua ajuda para localizar
mais livros. E mais uma vez ficaram conversando. Ele contou que era professor
de filosofia e que gostava muito de ler, e sua leitura não se restringia só a
sua área. Pois ele era muito curioso para deixar de ler sobre assuntos
variados. Juliana também ficou sabendo que ele tinha se mudado para o bairro há
duas semanas e ainda estava o conhecendo e descobrindo o que tinha de bom.
Ela falou a ele que sempre morou no bairro.
Gostava muito dali, e além do mais era completo, tinha cinema, bares,
restaurantes, escolas, mercados, lojas, farmácias e até um hospital.
Estava chovendo e a tarde ficou fria e poucas
pessoas foram à livraria. Mas Mauricio estava fascinado pelos títulos que ele
viu ali. Passou a tarde toda na livraria, e entre um papo e um cafezinho e ele
escolheu cinco livros para levar. Ele despediu-se prometendo voltar.
Juliana ficou pensando nele. Ele era um homem
de aproximadamente 40 anos, era alto e magro, moreno de olhos verdes.
Simpático, inteligente, culto, um pouco tímido porém muito interessante. Não
era bonito, mas tinha um “que” nele que a agradava muito. Mas ele usava uma
aliança, ou era anel?
Ela tinha 42 anos, era divorciada e não tinha
filhos. Era filha única e seus pais já haviam falecido. Apenas uma prima que
morava nas proximidades era sua família. Os demais moravam distante e com o
passar dos anos foram ficando afastados.
Luciana não se achava bonita. Ela era de
estatura mediana e era gordinha. Seus olhos eram castanhos assim como os cabelos.
Havia sofrido muito com seu divorcio, tinha um olhar triste e sorria pouco,
embora fosse gentil e acolhedora.
Lucy tinha 40 anos e era solteira, era alta,
esguia, cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso permanente nos lábios. Era
simpática, muito alegre e divertida. Tinha muitos amigos. Trabalhava com moda,
e dessa maneira andava sempre bem vestida. Lucy sempre dava uma passada pela
livraria para tomar um cafezinho com Juliana.
Após uma semana Mauricio chegou à livraria e
foi logo cumprimentar Juliana:
-- Olá tudo bem? Isto é para ti...
-- Oi... Para mim? Obrigada... São lindas!
-- Eu aprecio muito rosas e passei por um
rapaz que estava vendendo e lembrei-me de trazer para ti.
-- Eu também gosto muito de rosas, esse buquê
colorido me agrada, e essa na cor lilás
é muito delicada. Obrigada por lembrar-se de mim.
-- Não tenho como me esquecer de ti. Tu foste
muito atenciosa comigo, outro dia.
-- Vamos tomar um café...
Sentaram e conversaram por um longo tempo. A
loja estava com clientes, mas isso não atrapalhou o papo deles. Juliana
ofereceu a ele a possibilidade de associar-se e por uma taxa mensal podia levar
livros emprestados por uma semana. Mauricio achou uma boa ideia e preencheu sua
ficha. Escolheu um livro para levar e antes de sair perguntou a Juliana:
-- Até que horas ficas aqui? Eu queria te
convidar para comermos uma pizza.
-- Eu fico normalmente até as 20h. Às vezes
estendo até as 20.30h, dependendo do movimento. Mas aceito o convite. Vai ser
legal, gosto de conversar contigo, me sinto como uma velha amiga.
Ele sorriu e disse:
-- Passo aqui para te pegar. Até mais.
Ela queria se arrumar, não sabia como fazer.
Então pediu para D. Leda, uma senhora que frequentava a livraria, para cuidar,
enquanto ela dava uma saída rápida. Foi em casa e tomou um banho rápido, vestiu
jeans e uma blusa nova, escovou os cabelos deixando soltos, passou pó e batom, colocou perfume e voou para a loja.
Quando Mauricio chegou, ela já estava
fechando a loja. Ele olhou para ela e não pode deixar de dizer:
-- Estás linda! O teu cabelo é muito bonito,
devias usá-lo sempre solto.
-- Obrigada.
Eles tiveram uma noite muito agradável.
Falaram de suas vidas como se conhecessem a vida inteira. Mauricio falou de
seus pesares e de seus sonhos. Ela por sua vez também falou de sua vida.
Juliana abria a loja aos domingos a tarde, e
os frequentadores adoravam, e era o dia com maior volume de vendas. Ela
convidou Mauricio para aparecer no domingo, e ele disse que iria.
A livraria estava movimentada, e Juliana esta
atendendo, quando Lucy chegou, e como a prima estava no fundo da loja ela
esperou ali no balcão. Mauricio entrou na loja e viu que estava cheia, então
ficou próximo ao balcão esperando por Juliana.
Lucy o viu e dirigiu-se a ele perguntando em
que poderia servi-lo. Ele disse que esperava por Juliana. E Lucy se apresentou
e ficaram conversando. Quando Juliana terminou de atender a cliente e veio para
o caixa os encontrou tomando café e em altos papos. Ela ficou chateada, sabia
que Lucy o atrairia, pois era muito melhor que ela em tudo.
Eles estavam tão distraídos conversando, que
não perceberam que Juliana havia retornado ao seu posto, no caixa da loja. Mas
quando Mauricio a viu pediu licença, e foi para perto de Juliana.
Lucy percebeu que ele não era apenas um
cliente, que era amigo de sua prima, então resolveu investir nele. Foi para
junto deles e monopolizou o rapaz. Juliana apenas saiu de perto. Juliana
conhecia sua prima, ela iria conquistá-lo. Sempre foi assim. Ela sempre vencia.
Por isso Juliana não lutava mais.
Lucy propôs que fossem até sua casa, ela
faria um espaguete ao suco para jantarem juntos. Mauricio e Juliana aceitaram.
Foi um jantar bem divertido, mas Juliana estava apática. Disfarçou o que pode,
mas Mauricio percebeu, e quando a levou para casa perguntou:
-- Foi uma noite bem divertida... Não foi?
-- Foi.
-- Juliana, o que há? Tu estás diferente, o
que aconteceu?
-- Nada. Apenas estou cansada, com um pouco
de dor de cabeça.
-- Humm
Fizeram o resto do caminho em silêncio, ele a
deixou em casa e antes de se despedir falou:
-- Te cuida... Tu precisas descansar...
Trabalhas muito... Assim tu prejudicas teu organismo. Me liga se precisares de
alguma coisa. Deu um beijo em sua face e foi embora.
Ela na verdade estava triste, ela gostava muito de Mauricio, e
desde que o conhecera, pensava nele o tempo inteiro e agora sua prima estava se
intrometendo, como sempre. Ela não iria disputá-lo. Se Mauricio gostasse dela
não se deixaria levar por Lucy.
Os dias passaram e Mauricio já não aparecia
com tanta freqüência. Mas aquela tarde ele foi vê-la e levou uma caixa de
bombons de presente. Ela agradeceu e ficou esperando o que mais havia. E tinha
novidades.
Mauricio contou que estava saindo com sua
prima, e que ela o estava induzindo a viajarem juntos. E que ele na verdade não queria compromisso,
estava viúvo a alguns meses e em memória de sua esposa achava que deveria
respeitar o período de luto. No entender dele deveria ser de pelo menos um ano,
o que Juliana achava?
-- Bem, eu acho que isso é de cada um. Só tu
sabes o que vocês viveram juntos, o amor que os unia... E, portanto é teu
coração que manda. Acho que não deves explicações a ninguém. Isso é muito
pessoal. Se Lucy não entende... Então o problema é dela.
-- Obrigado Juliana. Eu sabia que tu és
coerente, inteligente e sensível. Tu és uma boa amiga. Eu te prezo muito.
-- Um pouco exagerado, não?
-- Não, com certeza não.
Mas para Juliana essas palavras doeram em seu
coração, ela não queria ser só uma boa amiga. Ela queria mais, ela queria amor,
pois o amava profundamente. Lágrimas escorreram e ela não conseguiu
esconde-las.
-- Juliana! Por que choras?
-- Nada... Bobagem minha...
E saiu dali, foi preparar um café para eles.
A amizade de Mauricio e Juliana se
solidificou. Saiam juntos para jantar, para ir ao cinema e todos os domingos
ele ia para livraria para fazer companhia a ela. Ele a ajudava a fechar e
depois iam para o apartamento dela, e ele cozinha e depois viam um filme
juntos. Conversavam muito, gostavam de estar juntos e contaram seus segredos um
para o outro.
Mauricio contou que tinha sido muito feliz no
seu casamento. Ele e Rita se namoravam desde a adolescência. Ela foi sua única
namorada. Casaram e eram felizes. Não
conseguiram ter filhos. Mas superaram essa tristeza com o amor que os unia. Até
aparecer a doença que a consumiu em três meses. Foi muito duro, foi muito
difícil ficar sem ela. Por isso ele havia mudado de bairro.
Juliana também falou de seu casamento com
Vicente. Ela nunca tinha tido um namorado. Ela sempre foi gordinha e na
adolescência e depois de moça ninguém se interessou por ela. Mas na faculdade
ela conheceu Vicente, que era um rapaz bonito e que pediu em namoro. Então ela
se apaixonou por ele, casaram. Seu casamento foi um inferno. Ele a tratava mal,
bebia, jogava e andava com outras mulheres.
Ela tinha engravidado, estava com sete meses
e um dia ele chegou muito bêbado e queria transar com ela, e ela recusou e ela
a espancou. Ela foi parar no
hospital e perdeu a criança. Era uma menina.
Ela procurou um advogado e pediu a separação
e proteção contra ele. E ainda teve que brigar porque ele queria ficar com a
metade de tudo que era dela. Mas eles tinham casado no regime de separação
parcial de bens. Ela não cedeu. E ela ficou com tudo que tinha recebido do pai.
O apartamento que morava, a livraria, jóias e mais uma loja na mesma galeria.
Ele às vezes aparecia na loja para pedir
dinheiro, por isso ela tinha instalado um botão de pânico, que soava na central
de segurança do prédio. Tinha um também no apartamento, já que ficava no prédio
em cima da galeria. Uma vez tinha sido necessário chamar a segurança, ele
estava bêbado e agressivo.
Era um domingo frio e chuvoso. Estavam apenas
Mauricio e Juliana na livraria, que estavam sentados lendo. Ela viu Vicente
entrar e logo se levantou e foi para o caixa e o chaveou. Mauricio percebeu e
ficou atento. Fingia que estava lendo.
Vicente e Juliana falavam em voz baixa e ele
não conseguia entender o que diziam. De repente Vicente agarrou o braço dela.
Mauricio se levantou e foi até o balcão. Vicente muito alterado perguntou:
-- O quê tu queres?
-- Eu quero que solte o braço da moça.
-- Isso é coisa de marido e mulher, não te
mete....
-- Solte-a...
Na verdade Mauricio o distraiu para poder
apertar o botão de pânico. E logo a segurança chegou e o levou para a
delegacia. Juliana disse:
-- Já faz cinco anos que estamos divorciados
e ele ainda me incomoda.
-- Juliana vamos para casa. Com esse tempo
ninguém virá. Tu estas nervosa. Precisas relaxar. Vamos fechar.
-- Sim vamos.
Ele a acompanhou até em casa. Fez um chá para
ela, e a deitou na cama, ajeitou um cobertor em cima dela e recostou-se junto
dela fazendo um cafuné. Ela dormiu. E ele ficou analisando seus sentimentos por
ela.
Ele gostava muito dela, gostava de estar com
ela, queria cuidar dela, se preocupava com ela. E quantas vezes teve vontade
de tomá-la no braços e a beijar. Amigo
não tinha desejos. Ele estava enganando a si próprio. Ele estava apaixonado por
ela. E agora? Deveria contar para ela
sobre essa mudança nos sentimentos dela? Ou devia ir devagar para não
assustá-la?
Ele deitou-se junto dela, abraçou-se a ela e dormiu.
Depois daquele dia Mauricio dedicava mais
atenção a ela, procurava um jeito de mostrar que ela não era apenas uma amiga
para ele. Juliana percebeu a mudança nele, mas não queria se iludir, se ele
estava interessado nela, teria que falar claramente.
Era sábado e entrou na livraria um homem
procurando por um livro raro. Ela encontrou o livro e entregou ao cliente, que
a olhava muito. Ela chegou a ficar encabulada. O homem perguntou se ela poderia
ajudá-lo a encontrar outros títulos do mesmo assunto. Ela assentiu e ficou ali
com ele. E o homem começou a puxar assunto, perguntou da livraria e por fim
sobre ela. Juliana ficou assustada com tanta pergunta. Mas o homem disse que havia
gostado muito do lugar e, sobretudo dela, que era uma mulher linda e simpática.
E concluiu perguntando se poderia vê-la novamente. E ela respondeu que ele
seria sempre bem vindo na livraria.
E de fato, Vinicius passou a ser frequentador
da livraria, depois que soube que abria aos domingos a tarde, se tornou
assíduo. Mauricio não gostava de vê-la flertando com Vinicius. Ele teria que
dar um jeito na situação, porque senão o outro a conquistaria.
Nunca mais Lucy tinha ido à livraria. Já se
passara seis meses. E nesse dia ela foi. Encontrou Juliana sendo paquerada por
aquele homem maravilhosamente lindo, e logo ela que era tão sem graça. Entrou
em ação. Fez de tudo para chamar atenção de Vinicius, mas ele só tinha olhos
para Juliana. Virou-se frustrada para Mauricio que por sua vez a ignorou. Não
houve jeito, ele teve que ir embora. Juliana não deixou de perceber a audácia
de sua prima e ficou muito satisfeita com a atitude dos dois homens que ali se
encontravam.
Vinicius tinha 40 anos e era formado em
Contabilidade, e trabalhava em um banco. Havia sido transferido há pouco tempo
e ele não conhecia ninguém na cidade. Por isso frequentava tão assiduamente a
loja, ele era muito só.
Vinicius convidou Mauricio e Juliana para
jantarem com ele em seu apartamento. Ele morava a dois quarteirões da loja. Ele
gostava de cozinhar e juntar os amigos.
Foi uma noite agradável, tomaram um bom vinho
e se deliciaram com a comida. Nesse dia Vinicius contou para os novos amigos
seus infortúnios. Ele estava em um relacionamento sério com uma colega de
serviço. Ela estava pensando em casar, e já estavam planejando o casamento,
inclusive com data marcada na Igreja.
Mas, certo dia foi deixado sobre sua mesa de trabalho um
bilhete dizendo que sua noiva o estava traindo com um colega muito próximo. Ele
no primeiro momento pensou em rasgar o papel e não levar em conta.
Mas ao mesmo
tempo, ficou com vontade de descobrir se era verdade. A única hora que ele e
Joseane não estavam juntos, era na academia que ela fazia três vezes por
semana. E ele descobriu que a academia que sua noiva fazia era outra.
No outro
dia pediu transferência no banco, pois estava envergonhado de ter sido tão
tolo. Mandou Joseane embora de sua casa. E em dez dias saiu sua transferência,
ele mudou de cidade. Agora estava ali agradecido aos novos amigos que lhe
faziam companhia.
Juliana comentou:
-- Nós três temos histórias tristes. Não
fomos felizes no amor. Será que teremos coragem para buscar um novo amor?
Vinicius respondeu:
-- Os acontecimentos em minha vida são muito
recentes, ainda estou ferido, mas eu quero sim, encontrar uma mulher honesta e
sincera. Eu sei que existe, e bem perto.
E olhou para Juliana, e ela corou. Mauricio
percebeu e resolveu arriscar:
-- Eu também acredito no amor, e eu já
encontrei...
Juliana arregalou os olhos para ele, ficou
com vontade de perguntar quem era, mas ficou com medo. Mas Vinicius disse:
-- Olha meu amigo, se tu já encontraste pega
com as duas mãos não deixa escapar.
-- Sim, é isso que vou fazer...
Estavam voltando para casa, e Mauricio estava
iniciando a falar, quando Juliana pisou em falso, virou o pé e caiu. Ele tentou
segurá-la, mas ela foi tão rápido ao chão que não deu tempo. Ele viu que ela
precisava de atendimento, seu tornozelo doía muito. Ele chamou um taxi e a
levou ao hospital.
A boa noticia era que ela não havia quebrado
o pé, mas tinha rompido os ligamentos no tornozelo. Teria que ficar quinze dias
sem colocar o pé no chão. Juliana ficou apavorada, como faria?
Mauricio se prontificou a ajudá-la. Se ela
permitisse ele ficaria todo o tempo com ela, ele tinha recebido uma licença prêmio
que iniciava na segunda feira. Então era sexta feira e ele tinha todo o tempo
para cuidar dela. Ela aceitou.
Nesses quinze dias ele ficou no apartamento
dela, e a cuidou com todo zelo e carinho. Foi muito respeitoso e demonstrou
mais uma vez amor por ela, embora não tivesse falado nada.
Vinicius também procurou ajudar, no seu tempo
livre, fazia companhia a ela. Mauricio estava cuidando também da livraria.
Colocou um cartaz e abriria a loja apenas duas horas por dia.
Juliana queria ir para a loja, estava se
aproximando fim do ano e era a melhor temporada de vendas. Mas nem Mauricio e
nem Vinicius permitiram. Eles estavam atendendo a loja.
Ela ainda sentia muitas dores e o médico deu
mais dez dias para ela ficar em repouso absoluto. E depois ela teria que usar
uma bota ortopédica por seis meses, para então ver se estava tudo bem. Juliana
estava enlouquecida, não queria mais ficar em casa. Foi com muita paciência que
Mauricio a convenceu a seguir as ordens médicas. Ela por fim cedeu.
O dia que Juliana pode voltar a loja, ela foi
apoiada por uma muleta que Mauricio havia alugado. Ele a acompanhou e a fez ficar sentada quieta no caixa. Se precisasse buscar
ou indicar algum livro ele o faria, porque já conhecia a loja como a palma de
sua mão.
Realmente o movimento era grande. O dia
estava quente e os ventiladores não foram suficientes. No fim da tarde estavam
cansados. Vinicius chegou trazendo lanche para eles e acabou ajudando Mauricio
no atendimento aos clientes. No outro dia cedo Mauricio comprou aparelhos de ar
condicionado e mandou instalar. Deu um rebuliço na loja, mas no fim da manhã
estava tudo pronto. Agora sim, estava melhor de trabalhar.
O Natal estava chegando, e Mauricio queria
aproveitar a data para se declarar a Juliana. Iria arriscar tudo. Talvez até a
boa amizade, mas não tinha mais jeito, ele a amava profundamente. Esses dias
que esteve cuidando dela foram um tormento para ele, teve que usar toda a sua
resistência para não se aproximar dela, para não se deixar levar pelo desejo
que o atormentava dia e noite.
Saiu e comprou um anel para ela. Era simples
apenas uma safira incrustada em uma armação de ouro. Mas era lindo. Teria que
achar um momento em que estivessem a sós, já que Vinicius estava sempre por
perto.
Mauricio resolveu criar esse momento. Ele a
convidou para jantar no apartamento dele. Ela nunca tinha estado lá. Encomendou
uma janta para os dois, com direito a espumante.
Ele foi buscá-la e ela estava ansiosa, algo
dentro dela dizia que seria uma noite especial. Talvez! Ela entrou no
apartamento e gostou do ambiente, era uma quitinete, mas muito acolhedora.
Ela sentou-se e ele ajoelhou-se diante dela e
perguntou:
-- Quer casar comigo?
Ela tomou um susto, ficou sem fala, e ele
prosseguiu dizendo:
-- Eu te amo muito, e há muito tempo. Desde
que te vi fiquei seduzido pelo teu jeito, por tua conduta, por tua sinceridade
e honestidade. Tu és uma pessoa rara. Tu és bonita por dentro e por fora. Por
isso te amei desde o primeiro momento que te vi.
-- Eu também gosto de ti, quer dizer eu
também te amo, há muito tempo. Sim eu aceito casar contigo.
Então ele colocou o anel no dedo de Juliana
que emocionada deixava as lágrimas escorrer em seu rosto. Ele as secou com
beijos. Depois a abraçou e a beijou com carinho, com desejo, com paixão. Ela
ria e o beijava também. Estavam felizes. E ela disse:
-- Eu pensei que esse dia nunca ia chegar.
-- Já era para ter acontecido, mas o teu
tombo atrapalhou.
E riram felizes. Brindaram com o espumante e
empolgados fizeram amor ali mesmo, no sofá. Só bem mais tarde que foram jantar.
Ela passou a noite com ele, e foi uma noite cheia de amor e paixão.
No outro dia chegaram felizes a livraria,
logo apareceu Vinicius que recebeu a noticia com alegria. Eles eram bons
amigos, ficou feliz por eles. Sabia que Juliana era a mulher dos sonhos, mas já
havia percebido há muito tempo que os dois se amavam. Ele ainda esta no período
de cura. Precisa esperar as feridas cicatrizarem.
Marcaram a data do casamento e Mauricio foi
morar com ela. Por aqueles dias apareceu na loja Marina, uma amiga de Juliana que
esteve morando no exterior, e agora retornara ao país. Ela era muito legal e
Juliana a apresentou para Vinicius que ficou impressionado com a beleza dela e
com sua simplicidade.
A livraria tinha se tornado o ponto de
encontro. Mauricio deu a ideia de fazer uma pequena alteração e dar mais espaço
para colocar outro sofá e uma máquina de café e uma estufa para vender empadas
e doces. Talvez algumas mezinhas. Havia espaço.
Foi Marina quem ajudou a organizar o ambiente,
que ficou muito acolhedor. A livraria agora “bombava”. Fim de tarde, sábados e
domingos estava sempre cheia. E Juliana estava muito satisfeita com as vendas
que tinham aumentado consideravelmente.
Mauricio decidiu reduzir seu horário na
escola para poder ajudar Juliana na loja. Vinicius sempre andava por lá, agora
acompanhado de Marina.
O casamento de Juliana e Mauricio, foi
simples, apenas no cartório e Vinicius e Marina foram as testemunhas. Após
foram para um restaurante para comemorar.
Mauricio determinou que a loja ficasse
fechada enquanto estivessem em lua de mel, que durou uma semana. No dia em que
chegaram, os frequentadores da livraria, os esperaram com uma faixa em frente a
loja que dizia: “Felicidades ao casal”. Eles ficaram emocionados com o carinho
de todos.
Juliana se deu conta que a felicidade
contamina o ambiente. Que bom! Sua livraria agora estava mais alegre e todos
pareciam felizes. Coisas do amor.
Maria Ronety Canibal
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