sexta-feira, 7 de junho de 2019

A LIVRARIA


                                                                            A LIVRARIA




Juliana estava com dificuldade para abrir a porta de sua pequena livraria. A fechadura estava emperrada e a chave não virava. Estava atrasada, tinha que enviar com urgência um pedido feito pelo site.

Mauricio estava olhando a vitrine da loja, quando percebeu a dificuldade da jovem. Propôs-se a ajudá-la, e Juliana aceitou agradecida a oferta. Mas ele também não conseguiu. Foi preciso chamar um especialista.

Enquanto esperavam Mauricio puxou assunto com ela sobre os livros expostos na vitrine. Ele disse a ela que estava procurando um livro  antigo e considerado raro. E tinham indicado a loja dela. Juliana disse que realmente ela tinha alguns títulos raros.

Por fim a porta foi aberta e Juliana foi localizar o livro que Mauricio estava procurando e indicou outros títulos que tratavam do mesmo assunto. E o deixou ali.  E foi preparar um café para eles.

A loja de Juliana era muito acolhedora, embora fosse rodeada de prateleiras altas até o teto, ela tinha sofás e  poltronas para os clientes desfrutarem de leituras de revistas ou livretos de poesias ou contos de amor. O café era por conta da casa. E determinadas horas do dia a loja ficava cheia.

Ela serviu o café para Mauricio e para ela e ficaram conversando. De repente ela se lembrou do pedido que deveria ser enviado com urgência e foi separar os livros e embalar. Chamou o mensageiro de o despachou.

Juliana amava seu trabalho, sua loja, amava os livros. Desde tenra idade ela foi acostumada a manusear livros. Seu pai era professor e tinha muitos livros e comprava muitos usados. E foi a partir disso que surgiu a ideia de trabalhar com livros usados. Logo tinham mais de dez mil títulos. E após a morte de seu pai, Juliana assumiu a loja e a ampliou e modernizou, ordenando os títulos pelo computador e criando um SITE de venda.

Mauricio solicitou sua ajuda para localizar mais livros. E mais uma vez ficaram conversando. Ele contou que era professor de filosofia e que gostava muito de ler, e sua leitura não se restringia só a sua área. Pois ele era muito curioso para deixar de ler sobre assuntos variados. Juliana também ficou sabendo que ele tinha se mudado para o bairro há duas semanas e ainda estava o conhecendo e descobrindo o que tinha de bom.

Ela falou a ele que sempre morou no bairro. Gostava muito dali, e além do mais era completo, tinha cinema, bares, restaurantes, escolas, mercados, lojas, farmácias e até um hospital.

Estava chovendo e a tarde ficou fria e poucas pessoas foram à livraria. Mas Mauricio estava fascinado pelos títulos que ele viu ali. Passou a tarde toda na livraria, e entre um papo e um cafezinho e ele escolheu cinco livros para levar. Ele despediu-se prometendo voltar.

Juliana ficou pensando nele. Ele era um homem de aproximadamente 40 anos, era alto e magro, moreno de olhos verdes. Simpático, inteligente, culto, um pouco tímido porém muito interessante. Não era bonito, mas tinha um “que” nele que a agradava muito. Mas ele usava uma aliança, ou era anel?

Ela tinha 42 anos, era divorciada e não tinha filhos. Era filha única e seus pais já haviam falecido. Apenas uma prima que morava nas proximidades era sua família. Os demais moravam distante e com o passar dos anos foram ficando afastados.

Luciana não se achava bonita. Ela era de estatura mediana e era gordinha. Seus olhos eram castanhos assim como os cabelos. Havia sofrido muito com seu divorcio, tinha um olhar triste e sorria pouco, embora fosse gentil e acolhedora.

Lucy tinha 40 anos e era solteira, era alta, esguia, cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso permanente nos lábios. Era simpática, muito alegre e divertida. Tinha muitos amigos. Trabalhava com moda, e dessa maneira andava sempre bem vestida. Lucy sempre dava uma passada pela livraria para tomar um cafezinho com Juliana.

Após uma semana Mauricio chegou à livraria e foi logo cumprimentar Juliana:
-- Olá tudo bem? Isto é para ti...
-- Oi... Para mim? Obrigada... São lindas!
-- Eu aprecio muito rosas e passei por um rapaz que estava vendendo e lembrei-me de trazer para ti.
-- Eu também gosto muito de rosas, esse buquê  colorido me agrada, e essa na cor lilás é muito delicada. Obrigada por lembrar-se de mim.
-- Não tenho como me esquecer de ti. Tu foste muito atenciosa comigo, outro dia.
-- Vamos tomar um café...

Sentaram e conversaram por um longo tempo. A loja estava com clientes, mas isso não atrapalhou o papo deles. Juliana ofereceu a ele a possibilidade de associar-se e por uma taxa mensal podia levar livros emprestados por uma semana. Mauricio achou uma boa ideia e preencheu sua ficha. Escolheu um livro para levar e antes de sair perguntou a Juliana:
-- Até que horas ficas aqui? Eu queria te convidar para comermos uma pizza.
-- Eu fico normalmente até as 20h. Às vezes estendo até as 20.30h, dependendo do movimento. Mas aceito o convite. Vai ser legal, gosto de conversar contigo, me sinto como uma velha amiga.
Ele sorriu e disse:
-- Passo aqui para te pegar. Até mais.

Ela queria se arrumar, não sabia como fazer. Então pediu para D. Leda, uma senhora que frequentava a livraria, para cuidar, enquanto ela dava uma saída rápida. Foi em casa e tomou um banho rápido, vestiu jeans e uma blusa nova, escovou os cabelos deixando soltos, passou pó  e batom, colocou perfume e voou para a loja.

Quando Mauricio chegou, ela já estava fechando a loja. Ele olhou para ela e não pode deixar de dizer:
-- Estás linda! O teu cabelo é muito bonito, devias usá-lo sempre solto.
-- Obrigada.
Eles tiveram uma noite muito agradável. Falaram de suas vidas como se conhecessem a vida inteira. Mauricio falou de seus pesares e de seus sonhos. Ela por sua vez também falou de sua vida.

Juliana abria a loja aos domingos a tarde, e os frequentadores adoravam, e era o dia com maior volume de vendas. Ela convidou Mauricio para aparecer no domingo, e ele disse que iria.

A livraria estava movimentada, e Juliana esta atendendo, quando Lucy chegou, e como a prima estava no fundo da loja ela esperou ali no balcão. Mauricio entrou na loja e viu que estava cheia, então ficou próximo ao balcão esperando por Juliana.

Lucy o viu e dirigiu-se a ele perguntando em que poderia servi-lo. Ele disse que esperava por Juliana. E Lucy se apresentou e ficaram conversando. Quando Juliana terminou de atender a cliente e veio para o caixa os encontrou tomando café e em altos papos. Ela ficou chateada, sabia que Lucy o atrairia, pois era muito melhor que ela em tudo.

Eles estavam tão distraídos conversando, que não perceberam que Juliana havia retornado ao seu posto, no caixa da loja. Mas quando Mauricio a viu pediu licença, e foi para perto de Juliana.
Lucy percebeu que ele não era apenas um cliente, que era amigo de sua prima, então resolveu investir nele. Foi para junto deles e monopolizou o rapaz. Juliana apenas saiu de perto. Juliana conhecia sua prima, ela iria conquistá-lo. Sempre foi assim. Ela sempre vencia. Por isso Juliana não lutava mais.

Lucy propôs que fossem até sua casa, ela faria um espaguete ao suco para jantarem juntos. Mauricio e Juliana aceitaram. Foi um jantar bem divertido, mas Juliana estava apática. Disfarçou o que pode, mas Mauricio percebeu, e quando a levou para casa perguntou:
-- Foi uma noite bem divertida... Não foi?
-- Foi.
-- Juliana, o que há? Tu estás diferente, o que aconteceu?
-- Nada. Apenas estou cansada, com um pouco de dor de cabeça.
-- Humm

Fizeram o resto do caminho em silêncio, ele a deixou em casa e antes de se despedir falou:
-- Te cuida... Tu precisas descansar... Trabalhas muito... Assim tu prejudicas teu organismo. Me liga se precisares de alguma coisa. Deu um beijo em sua face e foi embora.

Ela na verdade estava  triste, ela gostava muito de Mauricio, e desde que o conhecera, pensava nele o tempo inteiro e agora sua prima estava se intrometendo, como sempre. Ela não iria disputá-lo. Se Mauricio gostasse dela não se deixaria levar por Lucy.

Os dias passaram e Mauricio já não aparecia com tanta freqüência. Mas aquela tarde ele foi vê-la e levou uma caixa de bombons de presente. Ela agradeceu e ficou esperando o que mais havia. E tinha novidades.

Mauricio contou que estava saindo com sua prima, e que ela o estava induzindo a viajarem juntos.  E que ele na verdade não queria compromisso, estava viúvo a alguns meses e em memória de sua esposa achava que deveria respeitar o período de luto. No entender dele deveria ser de pelo menos um ano, o que Juliana achava?
-- Bem, eu acho que isso é de cada um. Só tu sabes o que vocês viveram juntos, o amor que os unia... E, portanto é teu coração que manda. Acho que não deves explicações a ninguém. Isso é muito pessoal. Se Lucy não entende... Então o problema é dela.
-- Obrigado Juliana. Eu sabia que tu és coerente, inteligente e sensível. Tu és uma boa amiga. Eu te prezo muito.
-- Um pouco exagerado, não?
-- Não, com certeza não.
Mas para Juliana essas palavras doeram em seu coração, ela não queria ser só uma boa amiga. Ela queria mais, ela queria amor, pois o amava profundamente. Lágrimas escorreram e ela não conseguiu esconde-las.
-- Juliana! Por que choras?
-- Nada... Bobagem minha...
E saiu dali, foi preparar um café para eles.

A amizade de Mauricio e Juliana se solidificou. Saiam juntos para jantar, para ir ao cinema e todos os domingos ele ia para livraria para fazer companhia a ela. Ele a ajudava a fechar e depois iam para o apartamento dela, e ele cozinha e depois viam um filme juntos. Conversavam muito, gostavam de estar juntos e contaram seus segredos um para o outro.

Mauricio contou que tinha sido muito feliz no seu casamento. Ele e Rita se namoravam desde a adolescência. Ela foi sua única namorada. Casaram e eram felizes.  Não conseguiram ter filhos. Mas superaram essa tristeza com o amor que os unia. Até aparecer a doença que a consumiu em três meses. Foi muito duro, foi muito difícil ficar sem ela. Por isso ele havia mudado de bairro.

Juliana também falou de seu casamento com Vicente. Ela nunca tinha tido um namorado. Ela sempre foi gordinha e na adolescência e depois de moça ninguém se interessou por ela. Mas na faculdade ela conheceu Vicente, que era um rapaz bonito e que pediu em namoro. Então ela se apaixonou por ele, casaram. Seu casamento foi um inferno. Ele a tratava mal, bebia, jogava e andava com outras mulheres.

Ela tinha engravidado, estava com sete meses e um dia ele chegou muito bêbado e queria transar com ela, e ela recusou e ela a espancou.  Ela foi parar no hospital e perdeu a criança. Era uma menina.

Ela procurou um advogado e pediu a separação e proteção contra ele. E ainda teve que brigar porque ele queria ficar com a metade de tudo que era dela. Mas eles tinham casado no regime de separação parcial de bens. Ela não cedeu. E ela ficou com tudo que tinha recebido do pai. O apartamento que morava, a livraria, jóias e mais uma loja na mesma galeria.

Ele às vezes aparecia na loja para pedir dinheiro, por isso ela tinha instalado um botão de pânico, que soava na central de segurança do prédio. Tinha um também no apartamento, já que ficava no prédio em cima da galeria. Uma vez tinha sido necessário chamar a segurança, ele estava bêbado e agressivo.

Era um domingo frio e chuvoso. Estavam apenas Mauricio e Juliana na livraria, que estavam sentados lendo. Ela viu Vicente entrar e logo se levantou e foi para o caixa e o chaveou. Mauricio percebeu e ficou atento. Fingia que estava lendo.

Vicente e Juliana falavam em voz baixa e ele não conseguia entender o que diziam. De repente Vicente agarrou o braço dela. Mauricio se levantou e foi até o balcão. Vicente muito alterado perguntou:
-- O quê tu queres?
-- Eu quero que solte o braço da moça.
-- Isso é coisa de marido e mulher, não te mete....
-- Solte-a...
Na verdade Mauricio o distraiu para poder apertar o botão de pânico. E logo a segurança chegou e o levou para a delegacia. Juliana disse:
-- Já faz cinco anos que estamos divorciados e ele ainda me incomoda.
-- Juliana vamos para casa. Com esse tempo ninguém virá. Tu estas nervosa. Precisas relaxar. Vamos fechar.
-- Sim vamos.

Ele a acompanhou até em casa. Fez um chá para ela, e a deitou na cama, ajeitou um cobertor em cima dela e recostou-se junto dela fazendo um cafuné. Ela dormiu. E ele ficou analisando seus sentimentos por ela.

Ele gostava muito dela, gostava de estar com ela, queria cuidar dela, se preocupava com ela. E quantas vezes teve vontade de  tomá-la no braços e a beijar. Amigo não tinha desejos. Ele estava enganando a si próprio. Ele estava apaixonado por ela. E agora?  Deveria contar para ela sobre essa mudança nos sentimentos dela? Ou devia ir devagar para não assustá-la?
Ele deitou-se junto dela,  abraçou-se a ela e dormiu.

Depois daquele dia Mauricio dedicava mais atenção a ela, procurava um jeito de mostrar que ela não era apenas uma amiga para ele. Juliana percebeu a mudança nele, mas não queria se iludir, se ele estava interessado nela, teria que falar claramente.

Era sábado e entrou na livraria um homem procurando por um livro raro. Ela encontrou o livro e entregou ao cliente, que a olhava muito. Ela chegou a ficar encabulada. O homem perguntou se ela poderia ajudá-lo a encontrar outros títulos do mesmo assunto. Ela assentiu e ficou ali com ele. E o homem começou a puxar assunto, perguntou da livraria e por fim sobre ela. Juliana ficou assustada com tanta pergunta. Mas o homem disse que havia gostado muito do lugar e, sobretudo dela, que era uma mulher linda e simpática. E concluiu perguntando se poderia vê-la novamente. E ela respondeu que ele seria sempre bem vindo na livraria.

E de fato, Vinicius passou a ser frequentador da livraria, depois que soube que abria aos domingos a tarde, se tornou assíduo. Mauricio não gostava de vê-la flertando com Vinicius. Ele teria que dar um jeito na situação, porque senão o outro a conquistaria.

Nunca mais Lucy tinha ido à livraria. Já se passara seis meses. E nesse dia ela foi. Encontrou Juliana sendo paquerada por aquele homem maravilhosamente lindo, e logo ela que era tão sem graça. Entrou em ação. Fez de tudo para chamar atenção de Vinicius, mas ele só tinha olhos para Juliana. Virou-se frustrada para Mauricio que por sua vez a ignorou. Não houve jeito, ele teve que ir embora. Juliana não deixou de perceber a audácia de sua prima e ficou muito satisfeita com a atitude dos dois homens que ali se encontravam.

Vinicius tinha 40 anos e era formado em Contabilidade, e trabalhava em um banco. Havia sido transferido há pouco tempo e ele não conhecia ninguém na cidade. Por isso frequentava tão assiduamente a loja, ele era muito só.

Vinicius convidou Mauricio e Juliana para jantarem com ele em seu apartamento. Ele morava a dois quarteirões da loja. Ele gostava de cozinhar e juntar os amigos.

Foi uma noite agradável, tomaram um bom vinho e se deliciaram com a comida. Nesse dia Vinicius contou para os novos amigos seus infortúnios. Ele estava em um relacionamento sério com uma colega de serviço. Ela estava pensando em casar, e já estavam planejando o casamento, inclusive com data marcada na Igreja. 

Mas, certo dia  foi deixado sobre sua mesa de trabalho um bilhete dizendo que sua noiva o estava traindo com um colega muito próximo. Ele no primeiro momento pensou em rasgar o papel e não levar em conta. 

Mas ao mesmo tempo, ficou com vontade de descobrir se era verdade. A única hora que ele e Joseane não estavam juntos, era na academia que ela fazia três vezes por semana. E ele descobriu que a academia que sua noiva fazia era outra. 

No outro dia pediu transferência no banco, pois estava envergonhado de ter sido tão tolo. Mandou Joseane embora de sua casa. E em dez dias saiu sua transferência, ele mudou de cidade. Agora estava ali agradecido aos novos amigos que lhe faziam companhia.
Juliana comentou:
-- Nós três temos histórias tristes. Não fomos felizes no amor. Será que teremos coragem para buscar um novo amor?
Vinicius respondeu:
-- Os acontecimentos em minha vida são muito recentes, ainda estou ferido, mas eu quero sim, encontrar uma mulher honesta e sincera. Eu sei que existe, e bem perto.
E olhou para Juliana, e ela corou. Mauricio percebeu e resolveu arriscar:
-- Eu também acredito no amor, e eu já encontrei...
Juliana arregalou os olhos para ele, ficou com vontade de perguntar quem era, mas ficou com medo. Mas Vinicius disse:
-- Olha meu amigo, se tu já encontraste pega com as duas mãos não deixa escapar.
-- Sim, é isso que vou fazer...

Estavam voltando para casa, e Mauricio estava iniciando a falar, quando Juliana pisou em falso, virou o pé e caiu. Ele tentou segurá-la, mas ela foi tão rápido ao chão que não deu tempo. Ele viu que ela precisava de atendimento, seu tornozelo doía muito. Ele chamou um taxi e a levou ao hospital.

A boa noticia era que ela não havia quebrado o pé, mas tinha rompido os ligamentos no tornozelo. Teria que ficar quinze dias sem colocar o pé no chão. Juliana ficou apavorada, como faria?

Mauricio se prontificou a ajudá-la. Se ela permitisse ele ficaria todo o tempo com ela, ele tinha recebido uma licença prêmio que iniciava na segunda feira. Então era sexta feira e ele tinha todo o tempo para cuidar dela. Ela aceitou.

Nesses quinze dias ele ficou no apartamento dela, e a cuidou com todo zelo e carinho. Foi muito respeitoso e demonstrou mais uma vez amor por ela, embora não tivesse falado nada.
Vinicius também procurou ajudar, no seu tempo livre, fazia companhia a ela. Mauricio estava cuidando também da livraria. Colocou um cartaz e abriria a loja apenas duas horas por dia.

Juliana queria ir para a loja, estava se aproximando fim do ano e era a melhor temporada de vendas. Mas nem Mauricio e nem Vinicius permitiram. Eles estavam atendendo a loja.
Ela ainda sentia muitas dores e o médico deu mais dez dias para ela ficar em repouso absoluto. E depois ela teria que usar uma bota ortopédica por seis meses, para então ver se estava tudo bem. Juliana estava enlouquecida, não queria mais ficar em casa. Foi com muita paciência que Mauricio a convenceu a seguir as ordens médicas. Ela por fim cedeu.

O dia que Juliana pode voltar a loja, ela foi apoiada por uma muleta que Mauricio havia alugado. Ele a acompanhou e a fez  ficar sentada quieta no caixa. Se precisasse buscar ou indicar algum livro ele o faria, porque já conhecia a loja como a palma de sua mão.

Realmente o movimento era grande. O dia estava quente e os ventiladores não foram suficientes. No fim da tarde estavam cansados. Vinicius chegou trazendo lanche para eles e acabou ajudando Mauricio no atendimento aos clientes. No outro dia cedo Mauricio comprou aparelhos de ar condicionado e mandou instalar. Deu um rebuliço na loja, mas no fim da manhã estava tudo pronto. Agora sim, estava melhor de trabalhar.

O Natal estava chegando, e Mauricio queria aproveitar a data para se declarar a Juliana. Iria arriscar tudo. Talvez até a boa amizade, mas não tinha mais jeito, ele a amava profundamente. Esses dias que esteve cuidando dela foram um tormento para ele, teve que usar toda a sua resistência para não se aproximar dela, para não se deixar levar pelo desejo que o atormentava dia e noite.

Saiu e comprou um anel para ela. Era simples apenas uma safira incrustada em uma armação de ouro. Mas era lindo. Teria que achar um momento em que estivessem a sós, já que Vinicius estava sempre por perto.

Mauricio resolveu criar esse momento. Ele a convidou para jantar no apartamento dele. Ela nunca tinha estado lá. Encomendou uma janta para os dois, com direito a espumante.
Ele foi buscá-la e ela estava ansiosa, algo dentro dela dizia que seria uma noite especial. Talvez! Ela entrou no apartamento e gostou do ambiente, era uma quitinete, mas muito acolhedora.

Ela sentou-se e ele ajoelhou-se diante dela e perguntou:
-- Quer casar comigo?
Ela tomou um susto, ficou sem fala, e ele prosseguiu dizendo: 
-- Eu te amo muito, e há muito tempo. Desde que te vi fiquei seduzido pelo teu jeito, por tua conduta, por tua sinceridade e honestidade. Tu és uma pessoa rara. Tu és bonita por dentro e por fora. Por isso te amei desde o primeiro momento que te vi.
-- Eu também gosto de ti, quer dizer eu também te amo, há muito tempo. Sim eu aceito casar contigo.
Então ele colocou o anel no dedo de Juliana que emocionada deixava as lágrimas escorrer em seu rosto. Ele as secou com beijos. Depois a abraçou e a beijou com carinho, com desejo, com paixão. Ela ria e o beijava também. Estavam felizes. E ela disse:
-- Eu pensei que esse dia nunca ia chegar.
-- Já era para ter acontecido, mas o teu tombo atrapalhou.

E riram felizes. Brindaram com o espumante e empolgados fizeram amor ali mesmo, no sofá. Só bem mais tarde que foram jantar. Ela passou a noite com ele, e foi uma noite cheia de amor e paixão.

No outro dia chegaram felizes a livraria, logo apareceu Vinicius que recebeu a noticia com alegria. Eles eram bons amigos, ficou feliz por eles. Sabia que Juliana era a mulher dos sonhos, mas já havia percebido há muito tempo que os dois se amavam. Ele ainda esta no período de cura. Precisa esperar as feridas cicatrizarem.

Marcaram a data do casamento e Mauricio foi morar com ela. Por aqueles dias apareceu na loja Marina, uma amiga de Juliana que esteve morando no exterior, e agora retornara ao país. Ela era muito legal e Juliana a apresentou para Vinicius que ficou impressionado com a beleza dela e com sua simplicidade.

A livraria tinha se tornado o ponto de encontro. Mauricio deu a ideia de fazer uma pequena alteração e dar mais espaço para colocar outro sofá e uma máquina de café e uma estufa para vender empadas e doces. Talvez algumas mezinhas. Havia espaço.

Foi Marina quem ajudou a organizar o ambiente, que ficou muito acolhedor. A livraria agora “bombava”. Fim de tarde, sábados e domingos estava sempre cheia. E Juliana estava muito satisfeita com as vendas que tinham aumentado consideravelmente.

Mauricio decidiu reduzir seu horário na escola para poder ajudar Juliana na loja. Vinicius sempre andava por lá, agora acompanhado de Marina.
O casamento de Juliana e Mauricio, foi simples, apenas no cartório e Vinicius e Marina foram as testemunhas. Após foram para um restaurante para comemorar.

Mauricio determinou que a loja ficasse fechada enquanto estivessem em lua de mel, que durou uma semana. No dia em que chegaram, os frequentadores da livraria, os esperaram com uma faixa em frente a loja que dizia: “Felicidades ao casal”. Eles ficaram emocionados com o carinho de todos.

Juliana se deu conta que a felicidade contamina o ambiente. Que bom! Sua livraria agora estava mais alegre e todos pareciam felizes. Coisas do amor.


                                                                               Maria Ronety Canibal
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