domingo, 28 de maio de 2017

ALEGRIA NO AMOR

                                                       ALEGRIA NO AMOR

Roberta nasceu em uma família rica. Foi criada com todo cuidado e carinho, porém com rigidez. Ela sempre acatou a vontade dos pais sem discutir. Saia pouco e não tinha um circulo de amigas.
Fabio era amigo do seu pai, Jaime, desde o tempo da faculdade. Ele sempre freqüentou sua casa, e ela cresceu apegada a ele. Quando ficou adolescente era Fabio quem a levava a passear ou ao cinema.
Aos dezoito anos ela queria estudar, seu sonho era ser médica. Mas seus pais e também Fabio não aceitaram essa idéia. E decidiram que era hora de eles ficarem noivos. Assim ela tornou-se a noiva de Fabio.
Roberta se tornou uma moça muito bonita, com um corpo perfeito e era alta, cabelos aloirados e olhos azuis acinzentados. Era muito vistosa. E Fabio gostava de sair com ela, e exibi-la como um troféu.
E era exatamente  isso que Roberta sentia ao sair com ele. Sentia-se como um brinquedo que ele gostava de mostrar aos outros, não brincava e não deixava ninguém brincar.
Sua mãe, Sofia foi quem marcou a data do casamento.
Eles iriam morar na mansão da família dele, que era uma das mais tradicionais do país e tinham uma fortuna considerável. Ela não se dava bem com sua futura sogra, D. Dora que era muito prepotente e não queria esse casamento. Roberta não gostava a idéia de morar na mansão, sabia que sua vida seria um inferno.
D. Dora queria que Fabio casasse com uma nobre européia,  filha de sua melhor amiga. Mas Fabio resistiu a vontade de sua mãe. Queria Roberta como sua esposa.
Em cinco meses estaria casando. Mas Roberta não se sentia parte disso, ela apenas assistia a seus pais e Fabio acertarem os pontos. Ela sabia que faltava o amor entre os noivos. Sentia-se triste. Não queria casar. Tentou falar com seu pai, mas foi inútil.
O tempo corria, e Roberta a cada dia mais deprimida.
Sua mãe estava eufórica e atarefada organizando a cerimônia e a festa do casamento. Os vestidos seu e de sua mãe tinham sidos desenhados por um design europeu e seria confeccionado pelo melhor ateliê da cidade.
Roberta  por várias vezes, tinha falado com seus pais e  manifestado a vontade de adiar a data do casamento, se achava muito jovem para tal compromisso. Mas todas às vezes sua vontade foi repelida.
Agora estava a quinze dias do casamento.
Naquela tarde Sofia e Roberta foram fazer a prova final dos vestidos. Quando ela se viu dentro do vestido de noivo, que era lindíssimo e digno de um desfile de moda. Realmente era um modelo que assentava perfeitamente em seu corpo, revelando as suas curvas sem ser vulgar.
Quando se olhou no espelho, vestida de noiva, ficou muito nervosa. Ela não queria casar. A costureira fazia os últimos ajustes. Ela pediu licença e tirou o vestido e saiu dali, enquanto sua mãe estava na outra sala de prova.
Ela precisava andar... pensar... perâmbular...
Enquanto caminhava pensava que nos romances o amor era uma alegria, era festejado e vivido de forma física, com carinho, abraços, beijos... e tudo o mais. Seu noivo nunca a tinha beijado de maneira mais profunda, sempre foi apenas um “selinho.” Ele dava a ela muitos presentes, presentes caros, e nunca havia dito que a amava, ela não entendia. E o que ela sentia em relação a ele? Amor?  Não  disso ela tinha certeza, pois cresceu com a presença dele na família, era uma amizade... Talvez.!
Escutou alguém chamar seu nome e parou e se virou e viu Bruno, seu colega de aula, que vinha apressado em sua direção. E ela foi logo dizendo:
-- Bah... Mas quanto tempo? Como vais?
-- Eu vou bem... Que alegria te ver...
-- Eu também fiquei contente... E as novidades?
-- As tuas eu já sei, vi no jornal a noticia do teu casório.
-- Hummm... Quero saber as tuas...
-- Lembra da Melissa? Estou firme com ela. Consegui!
-- Que bom! Tu sempre foste louco por ela.
-- Sim... Mas me diz vais casar mesmo? Tão nova?
-- Pois é... Ando pensando...
Nisso se aproxima um rapaz, que Bruno logo apresenta a sua amiga.
-- Esse é meu primo Felipe.
-- Prazer, Roberta.
-- Prazer. Vamos para a cafeteria antes que encha e gente fica sem mesa.
Foram, Roberta e Bruno conversaram e riram lembrando fatos e conversando sobre os colegas de aula. Felipe observava os dois, estava encantado com ela, do seu jeito de ser, era educada, meiga e muito bonita. Que olhos! Que boca sedutora e apetitosa! Seu pensamento estava a mil, era melhor entrar na conversa e esperou a deixa:
-- Moras aqui perto?
-- Não, moro no Jardim.
-- Sério? Eu também.
E a conversa seguiu. Bruno pediu licença, disse que Melissa devia estar esperando por ele, e saiu rápido. Mas Felipe e Roberta nem se mexeram, continuaram a conversar. Pediram mais café e uma fatia de torta e prosseguiram no assunto, pareciam velhos amigos.
De repente ela olhou pela vidraça e percebeu que já era noite fechada. Assustou-se, precisava ir para casa. E estava sem bolsa, sem dinheiro e com o telefone descarregado. Mas Felipe disse que a deixaria em casa, que moravam muito perto. Quando ele estacionou em frente ao prédio dela perguntou;
-- Roberta, eu posso te ligar?
-- Sim
-- E te adicionar em meus grupos?
-- Sim pode. Agora eu carrego o meu celular e te confirmo, ok?
-- Sim, e eu posso te ver outra vez?
-- Acho que sim, combinamos. Obrigada pela carona.
-- Foi um prazer estar contigo, tu és muito legal.
-- Obrigada. Também gostei, minha tarde estava um horror e foi muito bom te conhecer. Tchau
-- Tchau..
Quando ela entrou em casa, ainda no hall veio Fabio alterado e falando rispidamente:
-- Onde estavas? E porque não atendeu as ligações?
-- O celular está sem carga. Eu estava numa cafeteria.
-- Minha noiva em uma cafeteria? Com quem?
-- Encontrei um amigo e ficamos conversando.
-- Mas desde quando minha noiva fica conversando com amigo?
-- Aha não me amola...
Roberta se trancou em sua suíte. Colocou o telefone para carregar e foi tomar banho. Estava alegre, feliz com há muito tempo não se  sentia. Deitou-se na cama e ligou seu PC e entrou na rede para adicionar seu mais recente amigo. Ele a convidou para falar inbox e ela ficou muito tempo conversando. Já era muito tarde quando se despediram com a promessa de se encontraram no outro dia.  Ela dormiu feliz, teve bons sonhos... E sonhou com Felipe... Sonhos de amor... Ela acordou sorrindo.
Levantou-se, tomou um banho se vestiu com capricho e colocou seu perfume preferido - Gabriela Sabatini—e pensou: “ agora teria que enfrentar a “tempestade” de minha mãe.” Mal saiu da suíte e encontrou Sofia que a esperava na saleta:
-- Quero uma explicação. Por que saíste da costureira ontem?
-- Bom dia, mãe.
-- Te fiz uma pergunta, estou esperando a resposta.
-- Queres a verdade...
-- Sim.
-- Eu saí de lá porque eu estava com medo de casar, está se aproximando a data e eu estou apavorada.  Quando me vi vestida de noiva começou me subir uma ansiedade, uma falta de ar, que eu precisava sair, pensar, caminhar...
-- Por que tens medo?
-- Sou muito nova, eu quero estudar, tomar conta da minha vida e não ser um brinquedo na mão de Fabio.
-- Bobagem!
-- Mas se ontem eu estava com medo de casar, hoje eu não quero mais casar. Viu como ele me tratou? Ainda nem casou? E vocês, tu e o pai ali, quietos e deixaram ele gritar comigo. Não vou me casar!
-- Roberta, o teu pai já te prometeu em casamento a ele. Deu a palavra.
-- Mas em que século vocês vivem?
-- Não vou casar, já disse. Tchau, vou passar o dia fora.
-- Roberta volta aqui. Eu ainda estou falando...
Roberta saiu pelos fundos, não queria ser vista. Sabia que Fabio devia estar chegando para tomar mais satisfações. Quando chegou a rua viu seu carro estacionado no espaço para visitas.
Foi pela rua quase que correndo para se afastar do prédio. Na outra esquina encontrou com Felipe que a esperou a porta do Café. Escolheram uma mesa num canto mais afastado e ele perguntou a ela o que tinha acontecido, ela não estava bem. Então Roberta relatou a ele seu drama de vida. Rolava uma empatia entre eles. Ele escutou tudo, entendeu sua situação e disse que iria ajudá-la a pensar em uma saída. Com certeza havia entre eles uma forte sintonia. Ela confiara nele como se o conhecesse a vida toda. Depois disse a ele:
-- Vais ter que me aturar todo o dia, não vou voltar para casa, Fabio está lá.
-- Será muito bom. Hoje eu não tenho aula, posso ficar contigo sim, meu anjo.
-- O quê estuda?
-- Medicina.
-- Verdade! É o meu sonho... Fale-me sobre teu curso.
E o assunto seguiu até Felipe se dar conta que já era meio dia. A convidou para almoçar na casa dele, era sua mãe quem cozinha e fazia comidas muito deliciosas. Ela gostava que levassem amigos.
Roberta foi bem acolhida por D. Aurora e por Fátima, sua irmã. Enquanto almoçavam o assunto rolava fácil. Depois foram para a sala e Felipe pegou o violão e logo saiu uma cantoria. D. Aurora sentou-se em uma poltrona e ficou observando os dois. Seu filho estava fascinado por ela dava para notar e ela tinha um brilho no olhar quando olhava para Felipe. Que Deus os ajudasse!
Tinha começado a chover e todos pediram bolinho de chuva que D. Aurora fez com alegria. E a tarde passou rapidamente, quando viram já estava anoitecendo e Felipe a levou para casa. Antes de ela descer do carro ele pegou sua mão e disse:
-- Meu anjo, eu tenho uma semana de provas, não vou poder te ver todos os dias, mas podes contar comigo e a noite sempre conversaremos, está bem?
-- Sim. Obrigada por tudo.
-- Não precisas agradecer, estou aqui para te ajudar.
E deu um leve beijo na face de Roberta.
-- Tchau...
Quando chegou a casa a cena do dia anterior se repetiu. Fabio gritando, tomando satisfação, seus pais sem interferir. Ela simplesmente os ignorou e foi para sua suíte.
Decidiu, a partir daquela hora, fingir que estava tudo bem. Mas estava articulando um plano.
Passou a semana ajudando sua mãe nas decisões que ainda faltava. Sofia estava muito animada com o casamento. Seria o casamento do ano! Roberta disse à mãe que queria visitar sua madrinha antes do casamento, sabia que ela estava adoentada e não viria a cerimônia. Sofia achou que ele deveria ir, seria uma alegria para Neiva.
Sofia colocou o motorista a disposição de Roberta para levá-la a casa de sua madrinha. Roberta aprontou uma valise e deu para o motorista colocar no carro. Despediu-se de sua mãe e foi.
Neiva a recebeu de braços abertos. Ela não tinha sido abençoada com filhos e sua afilhada sempre foi sua grande afeição. Roberta falou de seu noivo, de seu sonho e de sua decisão de não casar. Ela escutou e aquiesceu.
Falou para a afilhada sobre seu falecido marido, de como eles se amavam e como foram felizes. Roberta escutou e mentalmente fazia comparação com as atitudes de Fabio com seu sentimento de posse. Também reconheceu que não sentia nada por ele, até a amizade tinha sido prejudicada nos últimos tempos. E tudo isso fortaleceu sua decisão.
Amanhã seria o grande dia, o dia de seu casamento. Sua  mãe a aconselhara:
-- Filha vai te deitar cedo hoje, precisas dormir bastante para amanhã estar bem descansada, com a pele bonita e os olhos perfeitos.
-- Sim. Boa noite mãe. Boa noite pai.
Trancou-se na suíte. Antes do amanhecer Roberta saiu sem fazer barulho, desceu pelos fundos e ganhou a rua. Felipe a esperava com o carro. Ele a levou para casa de sua madrinha. Ele a acompanhou até a porta. Bateram. Neiva já esperava e logo abriu a porta e disse:
-- Bom dia! Entrem.
-- Madrinha esse é o Felipe.
-- Seja bem vindo.
-- Querem um café? Vamos para a cozinha.
-- Eu deixei um bilhete sobre a mesinha de cabeceira. Acho que vão encontrar.
-- Sim, com certeza. O que escreveste? Perguntou Neiva.
-- Eu escrevi assim: Não quero casar. Não se preocupem. Vou estar bem.
-- Esta bem, então vamos ter aguardar os acontecimentos. Continuou Neiva.
-- Roberta estas com o celular desligado? Perguntou Felipe.
-- Sim, também desativei a localização. Do meu PC também.
-- Ok.
Tomaram café, comeram bolo e ficaram conversando esperando as horas passarem.  Felipe havia descido para colocar o carro na vaga do apartamento de Neiva. Seria mais seguro.
Enquanto ele estava ausente Neiva disse a Roberta:
-- Esse rapaz gosta muito de ti. Da para ver. E parece um bom moço.
-- É...  eu também gosto dele.
-- Vocês formam um lindo par.
Roberta riu. Felipe retornou e todos foram sentar na sala. Ligaram a TV para ver o noticiário. Alguma nota teria que dar. Neiva sentou em uma poltrona deixando o sofá para os dois. Roberta estava cansada, não tinha dormido a noite e toda a adrenalina tinha a fatigado. Felipe colocou seu braço por sobre o ombro dela e a puxou para perto dele e ela acomodou-se no sei peito e dormiu. Neiva só observava o desabrochar de um amor.
Enquanto isso Sofia andava de lado a lado da sala, Fabio estava sentado no sofá olhando o chão e Jaime havia se trancado no escritório. Eles haviam discutido. Fabio acusava a Jaime de não ter controle da filha. Era responsabilidade de ele levar Roberta até ao altar. Tinham combinado o casamento há muito tempo. Fabio esbravejava de raiva. Estava transtornado. Sofia chorava enquanto eles discutiam.

Era perto do meio dia, Neiva  foi para cozinha providenciar o almoço. Felipe havia apoiado a cabeça e também dormia. O telefone tocou na cozinha. Neiva atendeu. Era Sofia.
Neiva confirmou que ela estava lá, que ficaria com ela, pois Roberta não queria casar. Que respeitassem essa vontade dela. Ainda era muito jovem. Que loucura era essa de seus pais permitirem um casamento assim? Sofia não respondeu. Que Roberta ficasse lá. Iria enviar pelo motorista as coisas dela.
Agora Fabio, Jaime e Sofia estavam mais calmos. Sabiam onde Roberta estava. Era um lugar seguro. Ninguém a descobriria lá. Decidiram então largar uma nota na TV. Fabio também resolveu que iria para Roma. Roberta não devia voltar para casa. Que ficasse por lá, até o casamento ser esquecido. Fabio acrescentou que o noivado não estava desfeito, apenas o casamento estava sendo adiado.
Era meio da tarde quando a TV deu a noticia do cancelamento do casamento, motivado por um pequeno acidente doméstico. A jovem tinha escorregado no banheiro e estava machucada e com o pé quebrado.
Foi um alivio para Roberta.
Neiva foi logo dizendo. Não entendo tua mãe. Ela era uma boa amiga, crescemos e estudamos juntas. Eu casei antes dela conhecer Jaime, teu pai. Mas continuamos a nossa amizade. Quando nasceste eu já sabia que não teria filhos e ela me deu a honra de ser tua madrinha. Foi uma felicidade para mim e também para o meu falecido Fernando. Mas depois ela foi se distanciando, foi crescendo socialmente e nos afastamos. Mas uma coisa eu preciso dizer, sempre te mandou vir me visitar. Lembra? Tua babá, a Dália, sempre te trazia uma vez ao mês.
Felipe falou que deveria ir para casa. Estava ficando tarde e todos estavam cansados. Roberta segurou sua mão. Pediu que ficasse se sentiria mais segura. Neiva concordou. Ele poderia dormir no sofá do escritório era bem confortável.
No outro dia todos estavam mais calmos. Felipe conversou bastante com Neiva, cedo da manhã enquanto Roberta ainda dormia. E ele se colocou a disposição de Neiva para qualquer coisa que precisasse, já que Roberta iria morar com ela.  Sabia que ela estava doente...
-- Meu filho, obrigada. Mas minha maior doença é a solidão. Para o resto tomo medicação. Será bom para mim ter Roberta aqui.
-- Mas vai lhe dar serviço.
-- Não!  Roberta vai me ajudar, ela não se deixou envolver pelas loucuras e esnobismo da mãe.
-- Bem, a senhora quem sabe. Mas precisar... estou as ordens.
Roberta acordou, tomaram café e conversaram sobre o futuro de Roberta.
Roberta decidiu que iria estudar para as provas do vestibular. Felipe ainda tinha guardado as apostilas de seu curso preparatório. Trouxe para ela. E ela se dedicou ao estudo. Aos fins de semana Felipe sempre ia para lá, algumas vezes levava Fátima que se tornara uma boa amiga para Roberta.
 Roberta não falou mais com seus pais. Eles apenas enviavam a ela uma vultosa mesada. No fim do ano D. Aurora e seu marido Carlos, convidaram Neiva e Roberta para passarem as festa junto com eles em sua casa na praia.
A casa era grande com um avarandado em toda a volta, com muitas cadeiras e redes espalhadas ao longo das áreas, com o mar a sua frente.
Foram dias muito animados. A duas senhoras se tornaram amigas. Fátima encontrara sua turma e os jovens namorados aproveitaram o tempo para ficarem juntos. As tardes ficavam  deitados na rede, abraçados conversando e dormitando.
A noite de Natal estava iluminada por um luar maravilhoso, e depois de trocaram os presentes e jantarem, Felipe a convidou para passearam na praia. Caminhavam de mãos dadas de pés descalço a beira da água. Pararam para olhar o brilho do luar sobre a água e Felipe a abraçou e a beijou com paixão. Ela entregou-se aquele beijo, ofereceu todo seu amor a Felipe. Estavam cheios de desejos e ali nas areias da praia, a luz do luar, ela tornou-se sua mulher.
Roberta prestou a provas para a faculdade de medicina e passou. Foi uma alegria. Saíram todos para festejar em uma pizzaria. 
Roberta estava feliz como nunca tinha sido. Gostava de morar com sua madrinha que tinha uma vida simples, “sem as frescuras de sua mãe”. Também a família de Felipe era generosa e alegre. Ela sentia-se muito bem em estar com eles.
As aulas começaram e Roberta era estudiosa, tinha ânsia de aprender. Felipe agora estava fazendo residência e o tempo era muito escasso. Pouco se viam. Mas eles confiavam um no outro, confiavam no amor que os unia. Apesar de não se encontrarem como gostariam, os namorados vivam a alegria do amor.
O tempo passou e Felipe formou-se com distinção. Foi orador da turma, que foi motivo de orgulho para Roberta e D. Aurora e Dr. Carlos, que também era médico e via o filho trilhar o seu caminho.
Logo, Felipe recebeu o convite da Universidade de Berlim para residência em Pneumologia. Seria no mínimo três anos. E ele pensou, Roberta ainda estava estudando, teria mais quatro anos pela frente. Ele confiava no amor dela e conhecia a profundidade do seu amor por ela. Roberta o incentivou a aceitar essa oportunidade que seria muito válida para o futuro deles. Felipe aceitou. E logo embarcou.
Felipe pediu que ninguém o acompanhasse ao aeroporto, não gostava de despedidas. Mas Roberta queria estar com ele até o último momento, e foi ao aeroporto. Foi difícil. Estavam abraçados e segredavam juras de amor entre beijos e lágrimas.
 Roberta dedicou-se mais intensamente aos estudos, queria ser dermatologista e nas férias, conseguiu ser auxiliar na clinica de sua professora.  Agora tinha as horas preenchidas e não tinha tempo para pensar, só para sentir seu coração sedento de Felipe.
Os pais de Felipe foram visitá-lo, Fatima também, mas ela não foi. Ela falava muito pouco com Felipe, os horários não se encaixavam. E o tempo corria...
Felipe tinha terminado sua residência em Berlim com louvor. E foi convidado a fazer parte da equipe de pesquisas médicas da universidade. Ficaria morando lá. Roberta iria para lá, até estava fazendo um curso de conversação em alemão. Mas Felipe não falara nada sobre isso, e ela teria que esperar. Ultimamente estava se sentindo insegura, eles estavam tanto tempo longes que Felipe poderia ter encontrado outro amor, ter encontrado uma mulher mais interessante que ela. Isso a deixava triste, muitas noites sonhou que Felipe a tinha trocado por outra e acordava banhada em lágrimas.
Roberta estava terminando seu curso. Esperava que Felipe pudesse vir. Esperava que seus pais fossem a cerimônia de formatura.
D. Aurora e Neiva estavam planejando uma festa surpresa para ela. Era um dia muito importante para ela, tornar-se médica, era a realização de um sonho.
Chegou o dia!
Roberta e seus colegas estavam entrando no anfiteatro da universidade onde seria o ato de colação de grau. Enquanto percorriam o corredor para chegar ao palco, ela avistou seus convidados todos sentados juntos. Não viu Felipe. Seu coração se apertou. Mas manteve os olhos enxutos. Era a sua formatura, era o seu dia, não se deixaria abalar.
Roberta assistia calmamente seus colegas receberem seus diplomas ela estaria entre as ultimas a receberem por ser por ordem alfabética. Chegou a sua vez, e quando ela aproximou-se da mesa, o Reitor em vez de entregar o diploma a ela, o reteve e chamou o Dr. Felipe Castro de Castro para fazer a entrega. Ela tremeu dos pés a cabeça, sentiu as pernas fraquejarem pela emoção. Ele entregou o diploma e a abraçou e a platéia e os professores todos aplaudiram. Quem não conhecia a historia deles, imaginou que fosse de um amor verdadeiro.
Enquanto estavam abraçados ambos sussurravam:
-- Meu amor que saudade....que alegria em te abraçar...                           
-- Meu anjo, minha vida...como esperei por esse momento...por estar em teus braços...
Roberta já tivera a surpresa da noite, e saiu com Felipe depois de receber os cumprimentos. Ao chegarem ao carro ela abraçou-se a ele e extravasou sua emoção. Chorou de alegria, e fez Felipe também chorar. E diziam:
-- Estou tão feliz em te ver... Foi tão difícil... A saudade dói...
-- Sim, amor dói muito... Mas certeza do amor nos torna forte.  Eu te amo... Eu te amo desesperadamente.
-- Eu te amo desde o primeiro dia que te vi... Eu te amo muito...
 Depois de acalmarem-se Felipe deu partida ao carro e a levou para o local da festa. Mais uma emoção, seus pais estavam lá para abraçá-la e compartilhar de sua felicidade. Seu pai  foi o primeiro a abraçá-la de disse:
-- Estou orgulhoso de ti. Tu mostraste que tens força e lutou por tudo que não queria para alcançar teu sonho. Parabéns minha filha. Perdoa-me, eu fui severo demais. Perdoa-me...
-- Oh meu pai... Que bom que estas aqui... Que alegria me dá. Tu és meu pai, eu não tenho nada a perdoar.
Depois sua mãe:
-- Oh filha, tu estás linda... Parabéns... Eu fui boba, ingênua, me deixei levar... E me arrependi muito, desculpa...
-- Tudo bem mãe... Tudo bem... Só espero que goste de Felipe, ele é o amor da minha vida.
Enquanto Roberta conversava com seus pais, Felipe se manteve afastado, observando e percebeu que Roberta tinha se transformado em uma linda mulher.
Roberta chamou Felipe e o apresentou a seus pais. Ficaram um pouco conversando, e Sofia olhou para Jaime e disse a Roberta e Felipe:
-- Minha filha, nós tivemos uma terrível noticia outro dia. Fabio não é o que pensávamos.
-- Mãe eu sei.
E Roberta pediu licença e foi com Felipe dar atenção aos demais convidados.
O casal de namorados estava ansioso para estarem a sós,  mas a festa parecia não ter fim. Até que Fatima os dispensou da festa. Foram para um hotel. Queriam sossego, precisavam de todo o tempo do mundo para matar a saudade. Felipe murmurava:
-- Vem meu anjo, estou sedento de ti... Passei todo esse tempo me guardando para ti... Vem amor... Deixa eu te tocar todinha... Tu estás linda... Agora com jeito de mulher.
-- Sim amor... Te guardastes para mim? Eu te amo mais por isso... Tinha medo que me trocasse por outra... Chegava a sonhar... E chorava...
-- Eu também chorei de saudades tuas... Por ter ido para tão longe... De ficar sem teu cheiro... Sem teu sorriso lindo... Sem esta tua boca apetitosa... Me beija...
E se entregaram ao amor e a paixão.
Felipe a convidou para ir com ele para Berlim. Tinha conseguido uma residência para ela na universidade. As aulas começavam em trinta dias. Teriam tempo para fazer a rota romântica da Alemanha de carro.
Roberta achava que estava vivendo um conto de fadas em meio a tanta beleza e caminhando por cidades com mais de mil anos, sem pensar nos castelos que visitou. Foi uma viagem romântica de fato.
Roberta e Felipe se amaram desde o primeiro momento que se viram, enfrentaram a distãncia, a solidão, mas confiaram no amor que sentiam, e ficaram firmes esperando o dia que poderiam viver a alegria no amor.
                                                           Maria Ronety Canibal
                                                             Maio de 2017.


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quarta-feira, 17 de maio de 2017

A ROSA NEGRA



                                                   A  ROSA NEGRA

João e Lélia escolheram para morar uma pequena cidade, chamada Belo Vale, porque tinha alto índice de qualidade de vida. Situada no vale do rio Ité, uma região muito linda e  produtiva com muitas pousadas sempre lotadas nos fins de semana, por causa dos esportes aquáticos.
Estavam casados e Lívia estava com três anos,  e queriam que sua filha crescesse em um lugar tranqüilo e tivesse uma infância cheia de brincadeiras em um lindo pátio. Eles eram de família abastada, e ambos eram médicos.
Compraram uma casa grande, com um pátio imenso, com pomar, horta e um lindo jardim. Nas peças da frente ficariam os consultórios e para trás as demais peças da casa, na qual a sala dava para o lindo jardim e para piscina.
Ao lado morava a família de Geraldo e Jane,  ele era  comerciante na cidade, e sua casa  também tinha um pátio grande, com pomar e jardins, e um lindo roseiral. Sendo que as duas casas se comunicavam por um pequeno portão no meio da cerca divisória.
Os vizinhos Geraldo e Jane os acolheram com muito carinho, e as crianças logo se acertaram nas brincadeiras. Igor era filho do casal e tinha a mesma idade de Lívia, e Alex era mais velho dois anos. Alex tinha sido recebido pelos tios após ter perdido os pais precocemente.
Alex com dez anos, já gostava de cuidar das flores, não brincava mais com os pequenos, mas os cuidava. E eles passavam os dias inteiros juntos. Iam para escola e depois dos deveres prontos as brincadeiras iam até a noite, quando relutavam para tomar banho para se aprontarem para o jantar.
João e Lélia logo formaram grande clientela e eram muito queridos na cidade e em toda redondeza. O tempo passava rápido e Lívia já estava ficando uma mocinha. Os pais queriam que ela estudasse piano, e aprendesse a falar francês e inglês. Ela era inteligente e conseguia conciliar o estudo com as brincadeiras e sempre tinha tempo para os amigos.
Na adolescência Lívia descobriu que Alex era muito importante para ela, gostava também de Igor, mas era diferente. Ele era um bom amigo. Porém Alex mexia com o coração dela. 
Lívia muitas vezes pegou Alex olhando para ela, que por sua vez devolvia o olhar. E eles ficavam um tempo só se olhando. Ele nunca havia dito nada a respeito, mas ela tinha certeza que ele gostava dela. Ainda eram muito jovens.
Quando ela fez quinze anos, seus pais fizeram uma bonita festa. Todos esperavam que ala convidasse o Igor para ser seu par e dançar a valsa, mas ela elegeu Alex para ser seu par na festa.
Ela escolheu um vestido na cor branca todo enfeitado com pequenos botões de rosa cor de rosa. Ela se arrumou com esmero, não por vaidade, mas porque queria ficar bonita para Alex.
 Ele também se vestiu com cuidado, usou um terno na cor grafite com uma gravata colorida em tons de verde. Escolheu essa cor de gravata para combinar com os olhos dela. Não queria decepcionar Lívia.
Eles formavam um par bonito. Dançaram a valsa e seguiram dançando e enquanto dançavam ele falou a ela:
-- Lívia, eu quero te dizer uma coisa.
-- É... Então diga....
-- Tu és muito bonita, e hoje tu estás demais, estás deslumbrante.
-- É ? Obrigada. Mas tu também estás muito alinhado, para não dizer que estás lindo.
Ambos riram.
-- Eu quero te dizer uma coisa.
-- O quê?
-- Que eu gosto muito de ti, muito mais do que a forma que um amigo gosta. Eu acho que estou apaixonado por ti, desde sempre.
-- Eu também te gosto, Alex. Muito mais que se gosta de um amigo.
-- Eu gostaria de namorar contigo, mas não posso.
-- Por quê?
-- Porque tu és uma menina rica, eu moro de favor na casa de meus tios. Eu não tenho nada.
-- Tens sim! Eu ouvi a tia Jane falando com minha mãe que tu tens a herança de teus pais, que só receberá quando fizer vinte e um anos.
--  É mas acho que não é muita coisa.
-- Eu quero namorar contigo.
-- Mas não sei se teus pais vão consentir. Eles querem que tu namores o Igor. Aliás, todos querem. Meus tios também, eles passam falando e sonhando com isso.
-- Então vamos esperar um pouco mais. Ficamos desde já comprometidos. Eu não olho para nem um rapaz e tu para nenhuma moça. Fechado?
-- Fechado. Mas posso te convidar para passear aos domingos.
-- Sim, vamos para praça e nos encontramos sempre lá.
Dançaram mais um pouco e logo Lélia veio dizer a Lívia que ela devia dar atenção aos outros convidados.  E eles se afastaram. Alex logo foi embora da festa.
E assim fizeram todos os domingos à tarde, o grupo de amigos se encontrava na praça. E Alex e Lívia sempre se colocavam juntos um do outro.
Certo domingo estava chovendo e Lívia chamou seus amigos para sua casa. Iriam jogar Banco Imobiliário. Alex e Lívia ficaram de fora naquela rodada. Eles foram para a cozinha para fazer pipoca. E aproveitaram que estavam a sós e trocaram o primeiro beijo deles.
Foi um beijo suave, tímido que os deixou de pernas bambas. Voltaram para a sala com a pipoca, sentaram-se lado a lado e por baixo a mesa de deram as mãos.
O tempo  passou rápido. Lívia terminou o ensino médio. Estava estudando para o vestibular, queria medicina, era muito concorrido, precisa se dedicar. Parou de sair com os amigos. Apenas Alex conseguia passar um tempo com ela no fundo do pátio.
Igor também estava estudando, queria cursar engenharia. E Alex não queria estudar mais, queria cuidar das flores. Embora Lívia já tivesse falado que ele deveria estudar botânica.
Igor e Lívia passaram nas provas e estudariam no mesmo campus da universidade. Iriam morar em Santa Joana, que ficava a quatrocentos quilômetros dali.
Alex despediu-se de Lívia, no lugar onde sempre se encontravam lá no fundo do quintal. Abraçaram-se, beijaram-se, trocaram juras e promessas e choraram muito. Combinaram de se falarem todos os dias a noite pelo celular.
Lívia pouco esteve em casa no período de estudo, porque os seus pais sempre iam visitá-la e nas férias viajavam. Mas em uma dessas poucas ocasiões era fim de ano e Alex a convidou para o baile.
Ela ficou muito feliz com o convite. Comprou um vestido novo, todo branco, enfeitado com strass. Alex também estava todo elegante em um smoking preto com camisa branca e gravata preta.
Ele era um rapaz bonito, alto, forte, cabelos e olhos escuros. Era tímido, sincero e bondoso.
Lívia tinha ser tornado uma moça muito bonita, era alta, elegante, cabelos longos num tom castanho claro, os olhos verdes claros e tinha um sorriso deslumbrante. Era simpática, acolhedora e caridosa.
O casal saiu e Lélia ficou observando o comportamento deles. Era evidente que Alex gostava de Lívia, desde criança ele sempre a cuidava e protegia. Mas ele não tinha estudado o que poderia oferecer a ela?
A mãe de Lívia sabia que ela desde pequena gostava mais de Alex do que de Igor, que era declaradamente apaixonado por Lívia. Sabia também que Igor já havia pedido para que Lívia aceitasse ser sua noiva. Mas ela mais de uma vez recusara. E Lélia nunca desconfiou do arranjo que sua filha e Alex tinham feito, de namorarem disfarçadamente entre o grupo de amigos.
Lélia não falou nada ao marido quando ele se chegou a ela e perguntou o que tanto pensava. Ela apenas sorriu e não respondeu. Abraçou o marido e o convidou para tomar um refresco, estava muito quente.
Lélia mal dormiu naquela noite e cedo acordou e sentou-se no jardim para ver o nascer do dia e saborear uma xícara de café. O banco em que sentara ficava em um ângulo que ela poderia ver o portão de entrada sem ser vista. Estava esperando por Lívia, que ainda não chegara.
Não demorou muito Alex estacionou o carro. Desceu e rodeou para abrir a porta para Lívia e ajudá-la a descer. Ele a acompanhou até o portão enquanto segurava sua mão. Pararam e ficaram se olhando por um tempo, então se beijaram.
Aquelas férias foram dias felizes para Alex e Lívia. Porém Igor estava irritado. Os primos agora seguidamente discutiam. Geraldo e Jane não sabiam o que fazer, mas era visível e sempre foi a preferência de Lívia por Alex.
As férias estavam no fim. Alex convidou Lívia para jantar. Escolheram uma cantina pequena e acolhedora, com mesas cobertas com toalhas xadrez vermelho e branco, e decoração bem rústica.
Conversaram muito sobre muitas coisas. Só no fim que Alex disse;
-- Lívia, eu te amo, e meu maior desejo é estar junto de ti pelo resto de minha vida.
-- Eu também te amo. Desde que éramos crianças, eu sempre sonhei ser tua mulher.
-- E tu és a minha querida namorada, a namorada que eu sonhei. Eu trouxe essa rosa para ti dar. Peço que a guarde, assim lembrarás sempre de mim.
-- Eu vou guardar, sim, com todo cuidado, com todo o amor.
Olharam-se por um longo tempo. Deixaram a cantina e foram devagar de mãos dadas até o carro. Ficaram dando voltas pela cidade, pois não queriam se separar. Por fim foram para casa. Despediram-se com um beijo apaixonado entre as lágrimas que derramavam.
No outro dia cedo da manhã, Lívia voltou para a universidade. Eles se falavam sempre por telefone, mensagens, Face.... Mas um dia a comunicação cessou....
Alex sumiu. Sem deixar nenhum bilhete, sem dizer nada a ninguém.
Quando Lívia soube entrou nela uma tristeza intensa.
Os tios de Alex estavam preocupados, um rapaz quieto e trabalhador. O quê teria acontecido? A única noticia que tiveram foi que ele sacou parte do seu dinheiro do banco. Esse dinheiro era  a herança deixada por seus pais. Havia ainda algumas propriedades.
Lívia não tinha mais ânimo nem para estudar. Igor aproximou-se dela, procurando ajudar a amiga a ter novamente alegria de viver.  Todos os dias ele estava com ela, saiam para um cinema, uma caminhada no parque, uma janta entre amigos.
O tempo foi passando e nenhuma noticia de Alex. Os pais de Lívia a levaram em uma longa viagem que se prolongou por todo o período de férias. Esse seria o último  semestre e logo ela estaria se formando.
Não só Lívia estava se formando, mas também Igor. As famílias então resolveram fazer uma grande festa conjunta. Os amigos foram o centro das atenções e todos perguntavam se eles não iriam casar, formavam um lindo par.
Igor já tinha feito essa proposta a ela, que dizia sempre não.
Os pais de Lívia estavam fazendo pressão para que ela aceitasse casar com Igor, que era um rapaz bonito, elegante, rico e formado. Formavam um belo par. Ela com ele teriam segurança e ele seria um bom marido, pois a amava muito.
Ela que deixasse de pensar em Alex que nunca quis estudar, era um rapaz bonito sim, mas muito esquisito, só queria saber de flores. Que futuro ela teria? Ela uma moça educada, fina, elegante, bonita teria que trabalhar para sustentar um marido maluco.
Mas ela não queria ouvir, queria esperar por ele, sabia que Alex a amava de verdade. Só não sabia por que ele havia sumido sem dizer nada a ela?
Agora fazia três anos que Alex tinha partido. Lívia ainda sentia seus carinhos, sonhava com seus beijos, com seu corpo forte e quente junto ao seu. Chorava acordada, acordava chorando. E a rosa que Alex dera a ela estava sempre perto dela. Todo o dia ela pegava a flor seca e fazia uma oração por ele.
Igor tinha aberto um escritório de engenharia e estava progredindo na profissão. E não desistia de Lívia. Continua a pressionando para casar.
O longo tempo de afastamento de Alex deixou Lívia vulnerável. Seus pais continuavam insistindo para que casasse com Igor. Também os pais de Igor queriam o casamento dos dois.
Lívia cedeu. Aceitou casar com Igor.
As famílias muito contentes começaram os preparativos. Lívia deixou por conta de sua mãe. Estava apática. Lá no fundo do seu ser tinha esperança que Alex iria voltar.
Ela foi protelando, adiando a data do casamento. Mas Jane adoeceu gravemente, um câncer no fígado, e ela tinha pouco tempo de vida. Queria ver seu único filho casado com a sua linda noiva.
E então a data foi marcada para breve.
Apesar de sua doença Jane quis que os planos de uma grande festa fossem mantidos. Seria uma linda festa com quinhentos convidados.
A igreja da cidade estava toda enfeitada de rosas brancas, tapete vermelho. O povo da cidade foi espiar o casamento da filha dos doutores. A praça em frente a igreja ficou lotada. A igreja também não tinha espaço para os quinhentos convidados.
Livia no braço de seu pai adentrou ao templo e deixou as lágrimas rolarem. As rosas sempre lembravam Alex. Queria que fosse ele que a estivesse esperando no altar. Tinha vontade de dar meio volta.
Ela estava linda, em um vestido de renda branca com mangas longas, decote reto e uma longa cauda. Uma delicada grinalda com um véu curto. Levava um buquê de rosas brancas.
Igor não se continha de felicidade. Tinha conseguido, ela seria sua esposa. Aquela linda noiva que se aproximava do altar, vinha para se casar com ele. Ela a recebeu com um beijo na mão.
O padre iniciou a cerimônia, e quando chegou a hora de Lívia responder que aceitava ser esposa de Igor, ela hesitou. Fez um silêncio geral na igreja e depois de uma grande pausa, Lívia disse NÃO.
Todos ficaram perplexos com a atitude dela. Ela, porém saiu sozinha de cabeça erguida. Sem se importar com o que aquela gente estava pensando ou falando dela.
Foi para sua casa, trocou de roupa, arrumou uma valise e saiu em seu carro. Foi embora. Foi para casa de uma colega de faculdade, e de lá ligou para seus pais dizendo que estava bem, que não se preocupassem com ela. Ela precisava ficar só.
Decidiu que iria trabalhar nos Médicos Sem Fronteira. Preparou-se e foi.
João e Lélia arrependeram-se de terem se intrometido tanto na vida de sua filha. Agora ela estava distante e trabalhando em condições adversas. Já fazia dois anos que Lívia estava longe, e naquela semana Alex havia procurado por ela.
Alex estava diferente, tinha se tornado um homem, era um autodidata em botânica e havia se estabelecido na sua cidade natal, com uma loja de flores e  floricultura onde ele mesmo produzia as flores que vendia.
Agora ele tinha condições de casar com Lívia, de oferecer a ela tudo o que ela merecia. Mas não a encontrou. E novamente desapareceu.
Seu tio procurou por ele, precisa contar que sua tia havia falecido, tinha que passar para ele alguns valores, jóias de família que sua tia havia guardado para ele. A loja de flores que era dele estava aberta funcionando normalmente, tinha um gerente. Mas dele ninguém sabia.
Alex estava desesperado atrás de Lívia. Dr. João dissera a ele que ela estava trabalhando nos Médicos Voluntários, e que estavam muito preocupados, porque fazia algum tempo que não sabiam noticias dela, que aquilo era loucura, ela estava em meio a uma guerra civil.
Ele tentou entrar em contato, mas eram vários grupos que atuavam em diferentes frentes e não obteve noticias dela. Então ele foi para lá. Estava percorrendo a região, com um dicionário na mochila, para poder se comunicar com as pessoas do lugar. Havia uma revolução e estourava bombas a toda hora.
Passados alguns dias Lívia entrou em contato com os pais, e eles pediram que ela voltasse, já estava mais de dois anos neste trabalho, e que a revolução era muito sangrenta. Eles precisavam dela.
Lívia disse que voltaria sim, não porque eles estavam pedindo, mas porque estava doente, com anemia, e não podia trabalhar. Ela chegou muito magra e abatida, com olhos fundos. Não era mais mesma.
Ela trabalhou à exaustão para aliviar o sofrimento daquelas pessoas, para ela não se entregar ao seu próprio sofrimento. Mas foi um esforço demasiado. Ela adoeceu.
Quando chegou a sua primeira pergunta foi se tinham noticias de Alex. Seus pais se olharam e responderam que não.         Ela murchou mais ainda. Fazia muito tempo, só a rosa não bastava. Doía muito a ausência dele. Essa angustia que tinha no peito prejudicava sua recuperação.
Soube que ele agora tinha uma floricultura, ficou feliz com essa noticia, foi até lá e não conseguiu nada, nenhuma informação.
Lívia resolveu colocar um detetive para procurar Alex. Não importava qual seria o custo. Ela precisava de pistas. Nem que o detetive tivesse que ir até o fim do mundo.
Por fim chegou uma informação que ele estava ferido em um país da África, a região de onde ela estava. Não pensou duas vezes e foi lá buscar ele.
Quando Alex abriu os olhos e viu Lívia em sua frente ele pensou que estava sonhando.
-- Eu estou delirando...
-- Não meu amor, sou eu mesma. Vim te buscar.
-- Eu vim atrás de ti, não agüentava mais ficar longe.
-- Eu sei. Dói muito. Mas tu sumiste!
-- Não, fui construir o nosso futuro.
-- Eu vi. Estive na loja.
-- É ?
-- Sim, achei legal.
-- Que bom.
-- Mas agora estou contigo, vou te levar para casa.
-- Para a nossa casa?
-- Temos a nossa casa?
-- Sim, no apartamento onde nasci em cima da loja. Está pronta te esperando. Arrumei tudo. Se não gostares pode trocar.
-- Eu vou amar.
-- Espero...
-- Descansa, dorme um pouco. Vou ficar aqui ao teu lado.
Ele tinha sido atingido por estilhaços em várias partes do corpo., inclusive no rosto. Teriam que esperar, ele ainda não podia viajar.
Eles retornaram e foram direto para casa deles. Lívia estava revoltada com seus pais que não tinham sido sinceros com ela, não contaram da busca de Alex por ela. Amava seus pais, mas não entendia a atitude deles. Por que eram tão contra Alex, que era uma boa pessoa, honesto e trabalhador?
Lívia cuidou de Alex e Alex cuidou dela. Estavam curados. A cicatriz na face de Alex era muito feia, mas aos olhos de Lívia era um bonito sinal do amor que ele nutria por ela.
Casaram e Lívia abriu seu consultório ao lado da Loja de Flores e moravam no apartamento em cima. No prédio que era da família dele. Estavam felizes. Aos fins de semana iam para o sitio onde Alex cultiva suas flores.
Lívia estava grávida, de gêmeos. Seria um casal. A menina seria Lavínia, e o menino Luis Francisco em homenagem ao pai de Alex.
Estavam passeando pelo sitio. Ela admirava as flores cultivadas por ele com tanto cuidado, eram lindas e ela sabia a história e as características de cada espécie. Ela sorria e dizia:
-- Esse é o cara que eu amo.
-- Vem cá, vou te mostrar uma coisa.
Ele a levou para a estufa, onde havia várias espécies de orquídeas. Mas não eram elas que ele queria mostrar, mas sim uma rosa negra que ele tinha cultivado para ela.
-- Essa é especial para ti, meu amor.
-- É linda, obrigada.  Sabe, eu ainda guardo a nossa rosa vermelha, foi ela que me deu forças para te esperar e encontrar a felicidade.
Abraçaram-se e ficaram contemplando a bela rosa, confiantes no futuro feliz.
                                                      Maria Ronety Canibal
                                                           Maio de 2017
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