Depois de um dia de trabalho, Melina só
queria chegar em casa, tomar um banho e atirar-se em sua cama. Ela desceu do
ônibus, e avistou o Dr. Vinicius. Olhou novamente para conferir. Era ele, sem dúvida
alguma. O que ele estaria fazendo por aqueles lados? O lado pobre da cidade.
Melina parou, estava sem saber o que fazer. A verdade é que ele parecia
desorientado... Deveria ir até ele? Mas ele não a conhecia. O que fazer? Ela
olhou em volta. A rua estava deserta, e isso era uma grande chance de ser
assaltada. Melina rapidamente decidiu. Aproximou-se dele e perguntou:
-- Dr. Vinicius? – Disse ela cautelosamente.
-- Sim. Como me conheces? – Perguntou ele um
tanto alterado.
-- Eu trabalho no Shopping Nobillis... –
Explicou Melina – O senhor parece perdido. Em que posso lhe ajudar?
-- Estou mesmo perdido. Não sei onde estou.
Nem como aqui cheguei... – Disse ele.
-- Foi assaltado? Venha comigo. Aqui estamos
vulneráveis. Esse bairro tem um alto índice de criminalidade. – Disse Melina
caminhando em direção a Pensão Modesta, local em que morava.
Sem dizer nada Vinicius a seguiu. Enquanto
caminhava, Melina tentava imaginar o que tinha acontecido. Ele era o diretor
administrativo e filho do dono do Shopping. Era um homem trabalhador, o
primeiro a chegar e o último a sair, por isso era exigente, intransigente e
arrogante. Os funcionários o detestavam.
Melissa abriu o portão e disse:
-- Entre por favor. É aqui que eu moro.
-- É uma pensão. – Afirmou ele lendo a
placa.
-- Sim. É o que eu posso pagar. Vamos entrar
e ver como posso lhe ajudar.
Dona Alba, a dona da pensão, se surpreendeu
ao ver Melina entrar acompanhada de um belo rapaz, bem vestido, educado, que
destoava totalmente do ambiente simples da casa. Ela observou que ele parecia
estar confuso.
Melina o levou para a sala de visitas, para
uma conversa privada. Não queria expor o Dr. Vinicius aos demais moradores, que
a essa hora estavam chegando do trabalho.
-- O lhe aconteceu? Pode falar sem receios,
aqui ninguém nos escuta. – Disse Melina cheia de curiosidade.
-- Fui dispensado por meu pai. É isso! Quem
assumirá o meu lugar na administração da empresa será a nova namorada do seu
Victor Costa Vieira. Ele simplesmente me tirou tudo, inclusive o celular, que é
da empresa. Tenho algumas economias, tentei sacar, mas também estão bloqueadas,
assim como os cartões de crédito. Só tenho o dinheiro do bolso, que não é
suficiente para me manter.
-- O que significa me tirou tudo?
-- Significa que não tenho trabalho,
dinheiro, e nem onde morar. Nada! Apenas essa roupa que estou vestindo.
-- Com que direito? – Perguntou Melina
indignada.
-- Eu não sou filho dele. Ele me criou, alimentou,
me deu educação e estudo... Porém, não tenho direito a nada. Sempre soube
disso. Por isso, apliquei algum dinheiro em ações do shopping. Lucile, a
falecida esposa dele, me pegou para criar, quando eu era ainda muito pequeno, tinha
cerca de dois anos. Eu sempre trabalhei com afinco em retribuição a tudo o que
me deram. Reconheço que tive muito mais do que a vida teria me dado. Mas não
mereço ser tratado assim, como se fosse um ser descartável.
-- Com certeza. Estou pensando que deverias
ficar aqui na pensão. Dona Alba inclui no preço o café da manhã e o jantar.
Acho que poderias, sim, ficar aqui, tem um quarto vago, pelo que sei. Vou falar
com a dona Alba. Me espera aqui.
-- Eu não tenho como pagar...
-- Ela precisa de alguém para fazer pequenos
consertos. Poderias aceitar trabalhar aqui, até aparecer coisa melhor.
-- Ela deve cobrar adiantado. E eu não
tenho...
-- Eu te empresto. Não posso te deixar
largado na rua. Não vais sobreviver.
-- Está bem. Eu te espero aqui. – Disse ele
conformado com a sua situação. Ele tinha estudo e logo conseguiria um bom
trabalho. Era uma emergência e ele não podia recusar a gentileza da moça.
Vinicius Dalla Luce que sempre viveu na
riqueza, de repente, se deparou com a vida dura de quem tem muito pouco. Ali na
pensão moravam jovens vindos do interior, para tentar a sorte na capital.
Trabalhavam e estudavam e sobreviviam com um salário mínimo.
Vinicius descobriu que a sua amiga, Melina
Ponti, cursava a faculdade no turno da manhã e trabalhava no turno da tarde até
início da noite, chegando sempre muito tarde em casa. Como era horário de
shopping, trabalhava também aos domingos, tendo uma única folga semanal, sempre
as segundas feiras.
Os dias passavam e Vinicius foi se adaptando
a vida simples. Ele tentou realizar pequenos serviços na pensão, mas definitivamente,
essa não era a sua aptidão. Saiu atrás de trabalho. Tinha certeza que com o seu
currículo, encontraria uma ótima colocação, com um bom salário, e que logo poderia
ter o seu próprio espaço. Ele
ambicionava poder alugar um pequeno apartamento. Pois, dividir o quarto com um
estranho era muito difícil. Ele precisava
urgente de um emprego. Não tinha mais um centavo no bolso.
Vinicius resolveu deixar o orgulho de lado e
foi procurar seus antigos amigos. E foi aí que descobriu que não tinha um único
amigo. Pois, todos eram interesseiros, e negaram a ele, qualquer oportunidade
de trabalho. A vida ensina, dizia Vinicius para si mesmo, não confie! Então ele
lembrou-se de Melina, nela ele podia confiar. Ela o ajudou desinteressadamente,
e continuava o ajudando. Ela merecia a sua amizade!
Naquela noite, Vinicius chegou, na pensão,
cabisbaixo e desiludido. O clima de alegria que reinava na hora do jantar, não
o contagiou. Sem fome, ele recusou a refeição, e foi para o seu quarto. Deitado
em sua cama pensava. Ele não conseguia saber como eles podiam ser tão alegres e
felizes, na situação de dificuldades que viviam. O dinheiro deles mal alcançava
o fim do mês.
Lembrou-se da vida que tivera, sem
preocupação com dinheiro. Muitas vezes ele gastara em apenas um jantar, o
equivalente ao salário mensal de seus colegas da pensão. Dava-se conta, agora,
o quanto havia sido egoísta e personalista. Embora tivesse colaborado com
algumas obras socias, jamais se interessou pelas necessidades alheias. Hoje,
ele reconhecia que também era vítima da sociedade individualista que vivera até
alguns dias atrás. Arrependia-se de suas atitudes.
Uma leve batida na porta o tirou do
devaneio. Levantou-se e abriu a porta e se deparou com Melina:
-- Olá! Por que não estás jantando? Saco
vazio não para em pé, já dizia a minha avó. Vem me fazer companhia.
-- Estou sem fome. Mais um dia que passa e eu
não consegui trabalho.
-- Vamos conversar enquanto comemos. – Disse
Melina o pegando pela mão.
Dona Alba sempre fazia sopa para o jantar,
acompanhada de pão. Ela variava os legumes e acrescentava arroz ou massa. Às
vezes a sopa era de lentilha ou feijão, o importante é que era sempre nutritiva
e gostosa. Ela entendia que aqueles jovens precisavam de uma boa alimentação, e
dentro das possibilidades ela fazia o melhor. Acrescentava uma sobremesa, doce
em calda.
Melina aqueceu a sopa e serviu os pratos. Os
dois sentaram e comeram com apetite. Vinicius deu-se conta que estava faminto.
Sorriu ao comentar:
-- Eu estava morto de fome... Obrigado por
te preocupar comigo.
-- Nunca deixe as dificuldades interferirem
na tua alimentação, pois, ficar doente é um problemão...
-- Eu sei... Como estão as coisas por lá?
-- No shopping? Tudo muito confuso. A dona
Arlete está fazendo algumas mudanças, mas ainda não entendemos o objetivo. Está
se tornando um caos. O fim de ano chegando, o movimento aumentando... Não sei,
não!
-- Que tipo de mudanças?
-- Localização dos guichês de pagamento de
estacionamento é uma delas, as levou para a porta do estacionamento, provocando
congestionamento.... Acrescentando
quiosques nos corredores... Coisas desse tipo.
-- Ela vai reduzir o espaço de circulação...
Tens razão com o movimento de Natal será problemático. Aquele shopping foi
projetado para ser inteiramente confortável aos clientes, é para a Classe A. E
pelo o que me consta ela está popularizando... Não vai dar certo!
-- Isso é problema do seu Victor, não é mais
teu. Mas eu tenho algo para te dizer.
Ali perto da faculdade tem uma Concessionaria Multimarcas, e hoje estavam
colocando um cartaz de oferta de emprego para vendedores. Lembrei que poderias
ir comigo amanhã cedo, e tentar a vaga.
-- Obrigada. Vou sim. – Disse Vinicius
sorrindo e pegando a mão de Melina e a beijando com carinho. Uma troca de
olhares tocou o coração dele.
Vinicius estava feliz, enfim tinha
conseguido um emprego, agora poderia se sustentar, abrindo mão de muitas
coisas, as quais estava acostumado. Ele seguia o exemplo de sua amiga Melina,
que lhe dava ótimas dicas. A primeira coisa que faria era trocar de quarto, o
único que estava vago, e era minúsculo, assim como o da Melina, mas estaria
sozinho. Um quarto só seu! Esse era o seu sonho...
A amizade entre Melina e Vinicius aos poucos
ia se fortalecendo. Ele a admirava por muitas coisas, sobretudo por sua
tenacidade e alegria de viver. Ela vibrava pelas coisas simples. Cada vitória
era motivo de comemoração, mesmo que fosse com pipocas. Melina era sincera e se
interessava por todos os seus amigos da pensão.
Quando Pamela levou “o fora de seu namorado”,
foi Melina que a consolou; quando Paulo precisou de um avalista, foi Melina que
prontamente se colocou à disposição; quando Andressa precisou viajar para ir ao
enterro da avó, foi Melina que lhe emprestou o dinheiro. Ela era abnegada.
Também em relação a Vinicius ela foi altruísta e o ajudou. E essas qualidades a
deixavam “grande” diante dele. Quando ele recebeu o primeiro salário ele quis
devolver o dinheiro que ela tinha lhe emprestado, mas ela só aceitou parte, deixando
o restante para o próximo mês, pensando que ele precisaria do dinheiro no
decorrer do período. Ela era assim. Uma pessoa única!
Sempre que o horário permitia, Vinicius a
esperava diante da faculdade e juntos eles iam até a carrocinha de cachorro quente,
sentavam no banco da pracinha e faziam o almoço, antes dela pegar o ônibus para
ir trabalhar. Vinicius gostava de estar com ela, principalmente quando estavam
a sós. Ele estava se apaixonando. Tinha
vontade de acaricia-la, muitas vezes moveu a mão em direção a sua face, mas no último
segundo desistiu. Tinha receio de ser inconveniente.
Uma notícia inesperada deixou Melina chateada.
E Vinicius logo notou, e perguntou:
-- O que aconteceu? De repente ficastes
aflita...
-- O Tiago me avisou que vem este fim de
semana.
-- Quem é esse?
-- Meu namorado...
-- Namorado? – Exclamou Vinicius
decepcionado. Ele que estava tão animado, e pronto para pedi-la em namoro...
Foi um choque!
-- Sim. Namorados desde que eu tinha 17
anos. Nossas famílias são amigas, e nos induziram ao namoro. A verdade é que eu
mal o conheço, pois logo depois, ele foi para Passo Fundo, para estudar. Hoje
ele está formado em Ciências Contábeis, e trabalha em uma Cerealista.
-- Tu o amas?
-- Não sei qual o sentimento que nos
envolve. Amor não é, amizade? Talvez! Vejo mais como obrigação, já que nesse
meio tempo nossos pais morreram. Eles viajavam juntos e sofreram um grave
acidente.
-- Foi há muito tempo?
-- Pouco depois de eu vir para cá.
-- E a
tua mãe?
-- A mãe mora com a Paola, minha irmã
caçula, em Ibirapuitã. É uma cidadezinha próxima a Passo Fundo. Nossos bisavôs
trabalharam na construção da estrada, e por ali se estabeleceram. Meu pai era
um homem muito bom, mas simples, com pouco estudo, e trabalhava como borracheiro.
O pai do Tiago trabalhava no posto de gasolina. Também era um homem simples.
-- Tens outros irmãos?
-- Sim. Mais dois. São bem mais velhos. O
Valdomiro foi embora para o Paraná. Casou e trabalha como gerente de lavoura. O
Carlito foi para o Mato Grosso, também casou e trabalha como mecânico em uma
fazenda. Somos pobres.
-- E a Paola, o que faz?
-- Ela era muito pequena quando eu vim para cá.
Agora ela está com 16 anos.
-- Agora entendo porque te preocupas tanto em
enviar dinheiro para tua mãe.
-- Eu gostaria de trazê-las para cá, mas
ainda não dá. Eu tenho algum dinheiro guardado, mas é preciso ter uma reserva
para os imprevistos. Eu tenho a sorte de ganhar boas comissões além do salário.
Me esforço para ser uma boa vendedora.
-- Eu estou aprendendo. Já ganhei a minha
primeira comissão. – Falou sorrindo.
-- Não tenho a mínima noção do que Tiago
quer comigo.
-- Marcar a data do casamento?
-- Não! Não quero me casar com ele, ainda
mais agora...
-- Não? Esse é o objetivo do namoro. Se não o queres
deverias livrá-lo do compromisso. Seria o mais certo a fazer, penso eu.
-- Já pensei sobre isso. Vamos ver como será
conversa... Talvez eu me anime a ser sincera, e termine esse namoro... Bah vou
ter que pedir folga no sábado. A Alana não gosta de mudar a programação.
Vinicius trabalhava sábados até as 13h,
quando a loja encerrava o expediente. Ele fez um lanche rápido e foi para a
pensão. Estava uma tarde quente, com uma revista na mão, ele procurou uma
sombra no pátio para sentar, queria ver o tal Tiago chegar.
Achou um ótimo lugar. Dali ele enxergava
quase todo o pátio, e estava praticamente escondido pois sentara no gramado sob
as Extremosas. Não demorou muito e ele viu o rapaz entrar. Era alto, forte e
bem apessoado.
Vinicius suspirou. Teria que abafar o
sentimento que brotara em seu íntimo, uma forte paixão por Melina. Ela era
especial, não tinha conhecido, em sua vida, uma mulher como ela. Ele que havia
vivido na alta roda, rodeado por elegantes e belas mulheres, nunca tinha
encontrado o amor. Foi preciso um reverso em sua vida para descobrir o amor. E
um amor proibido!
Ele também pode ver o encontro de Melina e
Tiago, e ficou pasmo. Apenas um aperto de mão, como se fossem completamente
estranhos. Que coisa mais bizarra! Aqueles dois não podiam casar! Ele precisava
alertar Melina. Não seriam felizes...
Dona Alba se aproximou dele, e comentou:
-- É a primeira vez que vejo um casal de
namorados desse jeito. Nos dias de hoje não existe mais compromisso por
obrigação, casamento por vontade dos pais. Isso não dá certo, e resulta em
separação.
-- A senhora deveria alertá-la. Melina me
parece muito ingênua... Ela vem de uma família de gente muito simples, e acho
que mãe não vai fazer nada por ela. Isso me preocupa. Coitada!
-- Coitada mesmo! Vou falar com ela. Teremos
uma conversa de mãe e filha. Tenho idade suficiente para isso. Aliás eu sempre
estou de olho nessas gurias. Tenho regras severas, tu as conheces. Eu converso
muito com todas elas, são tão sozinhas nesta selva de pedra. Precisam de bons
conselhos. A única que sempre foi muito quieta é justamente a Melina, a mais
ingênua..., mas agora ela precisa de mim.
-- Sim! Faça isso! Será uma boa ação.
O casal de namorados estava sentado no banco
do alpendre, junto a porta de entrada. Tanto Alba como Vinicius viram que o
rapaz entregara para Melina uma carta. Ela abriu e leu. Lágrimas escorriam e
ela secava as faces com mão para seguir a leitura.
-- Deve ser da mãe. – Observou Alba.
-- Por que da mãe? – Indagou Vinicius
curioso.
-- Não sei, apenas intuição. – Confessou
dona Alba.
Melina terminou de ler e dobrou o papel e
recolocou no envelope. Tiago começou a falar, explicava gesticulando, e ela
negava com a cabeça. Mais uma vez Melina chorou. O rapaz tentou consolar, porém
ela não permitiu que ele a tocasse.
-- O que será que ele tanta fala. – Disse
Alba.
-- Gostaria muito de saber. Ela não está
feliz com o assunto.
-- Concordo. Até parece que ele está
tentando convencê-la de algo.
-- É o que parece... – Afiançou Vinicius.
De repente Melina levantou-se e entrou,
retornando em seguida com a sua bolsa. Iriam sair. E Vinicius ficou tomado de
ciúmes. Não tinha gostado do que vira. Tiago estava obrigando, Melina, a fazer
o que não queria. Então decidiu que iria atrás, pois não confiava neste tal
namorado. E foi o que fez, os seguiu de longe.
Quando os viu entrar em uma lancheria,
Vinicius retornou a pensão, e encontrou dona Alba saindo para ir à missa. A casa estava quase deserta, estava só a
Andressa estudando na mesa a cozinha. Ele bebeu um pouco de água, e foi para o
seu quarto. Precisava pensar, e tomar uma decisão.
Uma batida leve eu sua porta o
sobressaltou. Levantou-se e abriu uma fresta, não estava disposto a aturar as
criancices do Marcos. Mas, para sua surpresa, era Melina.
-- Oi! Posso entrar? Preciso conversar
contigo. – Pediu Melina.
-- Entre. Sente-se aqui. – Disse indicando a
cadeira. Ele permaneceu em pé. Não achou correto sentar na cama. Então ele encostou-se
na porta.
-- Eu estou com um problemão. Olha carta que
minha mãe me mandou. – Falou Melina.
Vinicius pegou a carta e leu. Era um absurdo
o que dona Jacira estava fazendo com a filha. A obrigando a casar com o Tiago,
para que ela e Paola pudessem ir morar em Passo Fundo, já que Tiago havia
prometido que as levaria para morar com ele. Assim Paola poderia estudar e ter
um futuro melhor. Indignado ele perguntou:
-- Se tu vieste para cá para trabalhar e
estudar, por que a Paola não pode fazer o mesmo?
-- Essa é a pergunta que eu me faço. A Paola
é a mimosa da mãe. Tudo gira em torno dela. Mas eu não quero casar agora.
-- Minha querida, só vou te dizer uma coisa:
casa-te por amor e não por obrigação. Tu o amas?
-- Não. Mal o conheço. Nesse tempo todo,
essa é a terceira vez que ele vem aqui, mesmo com celular e com Whatzapp, nós
falamos muito pouco. Não sei nada sobre ele, assim como ele não sobre mim. Ele
falou muito na Paola, em ajudar, dar oportunidades melhores para ela, já que
ele está ganhando bem. Acho que ele deveria pensar em ser meu cunhado... –
Melina falava m tom de desespero.
Vinicius se aproximou dela e a abraçou e carinhosamente
falou:
-- Eu estou aqui, meu anjo, e totalmente
apaixonado por ti. Pronto falei!
Melina olhou para ele e disse:
-- Eu também gosto muito de ti.
Ele a olhou com amor e a beijou. Surpresa
ela não sabia o que fazer, mas seguiu a sua intuição e entregou-se ao beijo.
Ele afastou-se e explicou-se:
-- Desculpe. Eu não devia ter feito isto.
-- Não tem porque... – Disse Melina, um
pouco encabulada – Eu nunca vivi um momento assim, é algo mágico. Foi
maravilhoso. – Completou ela.
Uma conversa alta indicou que dona Alba
tinha chegado da missa. Melina tratou de sair do quarto de Vinicius. Foi
rapidamente para o seu quarto que ficava duas portas além.
Vinicius foi atrás da dona da pensão e foi
logo dizendo:
-- A senhora precisa ir falar com a Melina,
ela está sendo pressionada pela mãe, para casar rapidamente com o Tiago. Ela
enviou uma carta, a qual eu li, e fiquei angustiado. Melina é uma boa moça, e
não pode ser manipulada dessa forma, pela própria mãe. Amanhã ela precisa ter
uma resposta a proposta de casamento do rapaz. A ajude... – Implorou Vinicius.
-- Acho que tem alguém apaixonado... – Disse
Alba sorrindo. – Vou agora mesmo conversar com ela. Não te preocupes meu rapaz.
Vinicius foi para o seu quarto. Pegou uma
muda de roupa e foi para o banheiro. Um bom banho sempre era relaxante. Era o
que estava precisando no momento. Quando ele retornou à cozinha encontrou
Melina conversando com Andressa. Parecia mais calma. Ele sentou-se à mesa para
jantar. Observando-a, Vinícius viu que Melina parecia mais calma. Ele estava
curioso para saber o que ela havia decidido.
Melina veio até ele, abaixou-se disse ao seu
ouvido:
-- Te espero no banco azul do pátio.
Precisamos conversar.
-- Certo.
Ela foi até a geladeira e pegou um copo de
suco de uva.
-- Não vai jantar? – Perguntou dona Alba.
-- Não. Eu fiz um lanche no fim da tarde.
Com este calor, quero só um pouco de suco. – Respondeu Melina.
Ela bebeu o suco, lavou o copo, colocou no
escorredor e foi para o pátio. Estava uma noite quente, abafada... Prenuncio de
chuva. Andou um pouco e foi para o banco azul que ficava um pouco retirado.
Sentou para esperar por Vinicius, passou os dedos nos lábios lembrando o beijo
que trocaram. Ele tinha sido ousado, mas ela gostara de ter sido beijada. Seu
primeiro beijo! E foi maravilhoso... Fechou os olhos e imaginou que estava
sendo beijada. Que sensação deliciosa... Melina suspirou e abriu os olhos e deu
com Vinicius a sua frente. Ele a olhava com um sorriso maroto.
-- Estas aí muito tempo? – Perguntou Melina.
-- O suficiente para imaginar o que
pensavas... Tua expressão estava sedutora. Em que pensavas? – Quis saber
Vinicius.
-- Em nada importante. – Respondeu ela
rapidamente e sentindo suas faces aquecidas.
-- Deu para mentir?
-- Deixa de ser chato. Quero te contar o meu
plano.
-- Ok. Me conta o que estas tramando.
-- Desde que eu cheguei, aqui na pensão,
dona Alba tem sido uma mãe para mim. Aliás, muito mais do que a minha própria
mãe. E ela foi conversar comigo, queria saber o que o Tiago queria, já que ele
nunca aparece. E eu contei, mostrei a carta, e ela me falou, assim como tu, que
eu só deveria casar por amor. Enfatizou que não é fácil conviver intimamente
com um homem, sobretudo se não tiver amor. Que eu não deveria ceder aos
caprichos de Paola. Então resolvi dizer que primeiro vou terminar o meu curso,
e só depois vou pensar em casar, e que o deixo livre de qualquer compromisso
comigo. Que achas?
-- Está bem. Mas deves escrever a tua mãe
também. Ela precisa ficar ciente de que tu não és um joguete. Precisas deixar
tudo muito claro, inclusive o rompimento do teu compromisso com o Tiago.
-- Eu farei isso. Obrigada. Tu tens sido um
amigão.
O Natal estava se aproximando e Melina
estava trabalhando até mais tarde. O horário estendido do shopping
proporcionava aos clientes mais conforto para as suas compras.
Melina tinha sido promovida e estava
responsável pelo setor de moda feminina, com a promoção veio também um
considerável aumento de salário, assim como mais responsabilidade. Ela sempre
saia, da loja, por volta das 23h, chegando em casa quase meia-noite.
Preocupado com Melina, Vinicius ia esperá-la
na parada do ônibus. Ele também tinha sido promovido e já tinha condições de
alugar um pequeno apartamento, mas permaneceu na pensão, para não se afastar de
sua querida amiga. Melina precisava dele.
O namoro
entre eles foi natural, aos poucos eles foram se envolvendo e se comprometendo
um com o outro. Vinicius procedia de forma correta, respeitava as regras de
dona Alba. Ele havia sido educado para ser um homem de bem, um perfeito cavalheiro.
Cartas enviadas por Paola perturbavam Melina.
Pois eram ofensivas e acusatórias, e mentirosas. Paola protegida pela mãe, não
se cansava de escrever injurias sobre Melina, que era incapaz de dar o troco.
Cada carta recebida era mais uma tristeza acumulada em seu íntimo.
Embora
Vinicius e dona Alba pedissem para que Melina não levasse em conta o que sua
irmã escrevia, ela não conseguia se livrar da mágoa que se instalara em seu
coração.
Só
havia dois caminhos, segundo dona Alba: ou Melina casava com o tal Tiago, ou
rompia definitivamente com a mãe. Do contrário, elas continuariam fazendo
pressão. Mas era uma escolha muito difícil para a pobre moça.
Vinicius não opinou. Ela jamais incentivaria a
sua namorada a romper com a família. Ele que cresceu em um lar “emprestado”
sempre imaginou como seria estar com os pais verdadeiros. Embora não tivesse
queixa de Victor e Lucile, que ofereceram a ele uma ótima educação, ele sempre
se sentiu um estranho no ninho. E ele sabia que a atitude recente de Victor,
foi por causa da nova namorada, a tal Arlete que só quer arrancar o dinheiro
dele. E ao que parece vai levá-lo a falência.
Melina
tomou a decisão de pedir as suas férias e ir para a casa da mãe, e conversar
pessoalmente com a mãe e a irmã, resolver de uma vez a situação entre elas.
Vinicius queria ir com ela, mas ainda não tinha direito a férias.
Melina viajou com o coração cheio de
esperanças.
Era verão, época de veraneio e o trabalho
estava bem calmo. Vinicius estava sozinho no salão de vendas, quando uma
elegante senhora entrou acompanhada de seu motorista. Ele a observou de longe,
permitiu que ela andasse entre os carros e os examinasse com tranquilidade.
Alguns minutos e ele se aproximou dela. A mulher olhou para ele e ficou branca
como uma folha de papel. Foi amparada
por seu motorista. Rapidamente Vinicius puxou uma cadeira e providenciou um
copo com água. Estava uma tarde quente, e a senhora provavelmente teve uma
queda de pressão, foi o que Vinicius pensou.
A mulher o olhava como se tivesse visto um
fantasma. Depois de beber alguns goles de água, ela respirou fundo e a palidez
se foi. Sempre olhando para Vinicius, ela respondeu ao motorista, dizendo que
estava bem. Mais animada ela disse ao Vinicius:
-- Desculpe-me moço. Mas como tu te chamas?
-- Meu nome é Vinicius Dalla Luce. A senhora
me parece assustada...
-- Realmente eu vi em ti a imagem perfeita do
meu falecido irmão. Foi uma emoção inexplicável. Eu vim até aqui porque quero
trocar de carro. Mas isso pode ficar para depois. Deixe-me me apresentar: sou
Fernanda Gusmão de Andrade Bello. Agora eu preciso conversar contigo, Vinicius
é o teu nome. Podemos conversar?
-- Sim. Estou as suas ordens, minha senhora.
Por favor vamos até a minha mesa.
Vinicius indicou a direção e Fernanda Gusmão
de Andrade Bello o acompanhou, enquanto que Jorge, o motorista seguiu
examinando os carros. Depois dela estar sentada, Vinicius serviu-lhe mais um
pouco de água fresca. Sentou-se a sua mesa e esperou que ela falasse.
-- Pode parecer loucura... – disse ela – mas
há possibilidade se seres meu sobrinho. Não sei qual é a tua história de vida,
mas a tua semelhança com o meu irmão, Filipe é espantosa. Me fala sobre o teu
pai, por favor.
-- Eu não sei quem é o meu pai. Meu
sobrenome é apenas da minha mãe. Também não a conheci, ou melhor, não me
lembro, já que ela me deu para ser criada pelo casal, Victor e Lucile Costa Vieira, quando eu tinha dois
anos de idade.
-- Então há esperanças. Felipe morreu no dia
26 de maio, em um acidente de moto, quando andava em alta velocidade, para
chegar ao hospital, a tempo de ver a criança nascer. Um telefonema o fez sair
de casa desesperado. Não sei qual foi a notícia que ele recebeu e nem quem
ligou. Só sei o que ele me disse eufórico, antes de sair: “meu filho vai
nascer”. E saiu correndo feito louco. Eu sabia que ele namorava uma moça pobre,
estavam apaixonados, e havia uma criança a caminho, mas meu pai, que era muito
orgulhoso e intransigente, não permitiu tal namoro. Ele estava no último
semestre da faculdade, logo teria sua independência financeira e iria assumir o
compromisso com a moça. Isso ele havia me confidenciado. Então aconteceu a tragédia. Minha mãe chora
até hoje e meu pai entrou em profunda depressão. A família toda sofreu as consequências
da intolerância do seu Álvaro.
-- Uma
triste história... – Comentou Vinicius chocado com as palavras dela. – Bem, se
essa informação ajuda, eu nasci no dia 27 de maio, pelo menos é o que consta em
meus documentos.
-- Tu aceitas fazer um teste de DNA? Sou tua
tia, e devemos ter como provar cientificamente, porque fisicamente já temos a
prova, pois és igual ao meu querido irmão,
-- Faço sim.
Sempre tive curiosidade em saber mais sobre a minha origem.
-- Muito bem. Vou marcar e te aviso. Não te
preocupa é tudo por minha conta. – Disse Fernanda sorrindo. -- Agora vamos ver
um carro para os teus avós. Jorge é nosso motorista há alguns anos, por isso
gosto de escutar a sua opinião.
-- Que tipo que carro está pretendendo...
A conversação sobre os modelos expostos foi
bem animada, e Vinicius vendeu para a sua “avó” o modelo mais sofisticado.
Dias depois veio a confirmação através do
exame de DNA que Vinicius era filho de Felipe Gusmão de Andrade. A tia Fernanda
estava feliz e com o resultado na mão ela conduziu o sobrinho até a mansão,
onde residiam seus avós. Os velhos já estavam preparados para a possibilidade
de terem encontrado o neto. Porém, Fernanda não quis inverter a ordem dos
fatos, e só levou o rapaz até lá, depois da confirmação.
A semelhança com Felipe fez com que Álvaro se
emocionasse, assim como Camila. Era como se o próprio filho estivesse diante
deles, tal a semelhança, e até a voz era igual. Uma coisa inacreditável. Mas os
velhos estavam felizes, o neto era um pedaço do próprio Felipe.
Daquele momento em diante a vida de Vinicius deu
uma reviravolta. Inúmeras perguntas dos avós e também de Fernanda, e a todas
ele respondia com satisfação, pois estava feliz, muito feliz!
Vinicius queria que Melina estivesse ali com
ele, conhecendo a sua verdadeira família. Mas fazia dois dias que não se
falavam. Ele tinha ligado inúmeras vezes e só dava caixa postal. Estava
preocupado com Melina.
Sua família insistiu para que passasse a
morar na mansão imediatamente, e que largasse o emprego. Ele iria trabalhar com
a Fernanda na administração dos hotéis da família, a rede Clássico Hotel de Porto
Alegre, de Caxias do Sul, de Torres, de Florianópolis e de Camboriú. As plantações de oliveiras e a indústria de
óleo, Azeite de Oliva Clássico, era administrada pelo Eduardo Fontana Bello,
marido de Fernanda.
Vinicius vivia um turbilhão em sua vida. Era
muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. E sentia falta de Melina... Um vendaval tinha danificado algumas torres de
telefonia e Vinicius entendeu que o lugar onde Melina estava, também tinha sido
atingido. Esperou paciente, mas ela continuava sem atender o telefone.
Ele protelou o máximo que pode, não queria ir
morar na casa dos avós sem antes conversar com Melina. Mas não deu mais.
Vinicius falou com dona Alba, deixou o seu novo endereço e telefona
residencial, e pediu que o avisasse sobre Melina.
Fernanda programou uma visita em todos os
hotéis da rede Clássico, para que o sobrinho conhecesse cada hotel e o pessoal
que ali trabalhava. Ficariam alguns dias fora.
--
Enfim retornastes! – Disse dona Alba, abraçando Melina com alegria – Porque
essa demora e sem nenhum telefonema, o Vinicius está muito preocupado...
--
Aconteceram tantas coisas... – Disse Melina – Preciso muito acertar algumas
coisas com o Vini. Estou com muitas saudades...
-- O
Vinicius não mora mais aqui. A vida dele teve uma reviravolta. Mas para melhor.
Ele encontrou a verdadeira família dele. Mudou-se semana passada para a casa
dos avós. – Explicou dona Alba. – Ele quer muito falar contigo, acho que para
te contar cada detalhe. Ele está muito feliz...
-- Ah... Que bom que ele encontrou a família.
É tão importante ter uma família. – Disse Melina pensativa.
-- Venha! Deves estar faminta. – Disse Alba a
levando para a cozinha. – Liga para o Vinicius, ele ficará feliz em saber que
estás de volta. Aqui está o número – Completou ela, alcançando um pedaço de
papel a Melina.
Melina ligou, foi muito bem atendida, mas não
conseguiu falar com namorado, soube que ele estava viajando com a tia a
trabalho. Ela desligou muito desanimada.
-- Ele está viajando a trabalho com a tia. –
Disse Melina quase que para si mesma.
Mas Alba que estava atenta escutou e
acrescentou:
-- Sim, ele me falou que começaria a trabalhar
nos negócios da família, eles têm muito dinheiro, hotéis, fazendas e prédios.
Andei pesquisando... Liga para o celular, esse outro número. Ele me deixou até
o endereço, pediu pra ligares.
-- Será que não vou incomodar? Se ele
estiver em uma reunião? – Disse Melina indecisa.
-- Deixa de bobagem menina. Ele é teu
namorado!
Ela
ligou e os namorados conversaram rapidamente, com a promessa de mais tarde
falarem com mais calma, já que Vinicius estava entrando para uma reunião com o
pessoal de Santa Catarina. Para a sua alegria, Vinicius encontrou sua boa
amiga. Marcela era a gerente do hotel de Camboriú, que foi sua colega de
faculdade. Vinicius ficou muito satisfeito em saber que ela faria parte de sua
equipe na linha de frente.
Ela se
tornara uma mulher muito bonita, simpática, elegante e inteligente. Nos tempos
de faculdade ela tentara namorar com ele, mas Vinicius sempre foi muito
centrado nos estudos e no trabalho. Mas agora...
Fernanda estava entusiasmada com o seu
sobrinho. Ele era um verdadeiro líder, tomou a frente das reuniões e soube
cativar os seus companheiros de trabalho. Ele sabia se impor sem criar situações
constrangedoras. Com simpatia e um sorriso ele trazia a reunião as questões
mais difíceis, e resolvia tudo.
Uma
proposta de venda os levou a Curitiba, Tanto Fernanda como Vinicius ficaram
muito interessados em integrar mais um hotel a Rede Clássico. Marcela que os
acompanhou se dispôs a ficar para inventariar os moveis e utensílios do hotel.
Enfim,
depois de 15 dias Vinicius e a tia retornaram à Porto Alegre.
Melina
tinha pedido demissão do seu trabalho. Ela havia decidido ir morar com a mãe,
enquanto Paola estivesse estudando em Passo Fundo. Estava sentada na pensão,
quando Vinicius telefonou:
-- Oi,
como estás, minha querida? Quero que conheças minha família, vou te buscar para
jantares aqui conosco.
--
Olá! Eu preciso ter uma conversa contigo, assunto sério, e prefiro que seja
apenas nós dois. Outro dia eu ficarei imensamente feliz em conhecer tua
família. Me desculpa.
--
Está bem. Vamos jantar só nos dois. Te busco às 20h. – Disse Vinicius com
contrariedade na voz.
No horário
combinado Melina estava pronta esperando. Ela estava nervosa, sabia que seria
muito difícil falar tudo o que precisava para Vinicius. Ela tinha se arrumado
com capricho, usava um vestido novo, um modelo bem atual na cor azul cobalto.
Tinha prendido os cabelos de um jeito diferente. Ela estava elegante e bonita.
Suas amigas da pensão, observaram que ela estava muito bem.
Vinicius
a levou em um bom restaurante. Agora ele podia voltar a sua antiga vida, onde
dinheiro não era problema. Ele também estava elegantemente vestido, com um
terno sob medida.
O
maitre os levou para a mesa reservada. Fizeram o pedido, e enquanto esperavam,
Vinicius contava sobre o seu trabalho, e a felicidade de reencontrar a sua boa
amiga Marcela. Os elogios foram tantos que Melina ficou enciumada. A comida foi
servida e só depois ela iniciou o
assunto, dizendo:
-- Eu
já te falei que minha mãe está doente. Ela tem fibromialgia, sente muita dor e
isso a deixa depressiva. Não deve ficar sozinha. Por isso eu tomei a decisão de
largar o meu trabalho e ir morar com ela, enquanto a Paola estuda em Passo
Fundo.
-- Não dá para trazê-la para cá? Agora eu
tenho recursos e posso te ajudar. –
Falou Vinicius preocupado.
-- Ainda não. Ela não aceita deixar a casa
dela. Tentamos de todas as formas convencê-la, mas inutilmente.
-- E
como vamos fazer, meu amor?
--
Vamos voltar a ser bons amigos. Não podemos manter esse compromisso. Seremos
sempre os melhores amigos, com uma conexão extraordinária... Vamos deixar a
vida nos levar. Talvez no futuro a gente possa voltar...
-- Mas
o amor que sentimos um pelo outro... Ou não me amas mais?
-- Não
é isso. É questão de consciência. Tu precisas ser livre. Não vou me impor a
nada e nem a ninguém. Entenda isso. Estar livre não significa sair namorando, e
sim ter a liberdade de escolher: se quer esperar ou seguir em frente. Será a
tua escolha. Ainda mais agora que encontrastes a tua verdadeira família...
--
Está certo! Quando vais?
-- Fico
esse mês, estou de aviso prévio de dispensa. Ainda não saiu o meu dinheiro. Fiz
um acerto com o shopping. Eles me despediram, mas vão me pagar só a metade.
Falta assinar alguns documentos.
--
Mesmo assim quero que conheças a minha tia e meus avós. Eu tenho um primo, que ainda
não conheci, ele estuda na Inglaterra.
-- Sim
eu quero conhecê-los.
--
Amanhã pela manhã, nós vamos sair para comprar um telefone novo para ti, com
mais recursos tecnológicos, pois será o nosso meio de comunicação.
--
Estou mesmo precisando. O meu foi parar fundo do riacho. Paola endoideceu,
arrancou o telefone da minha mão o atirou na água. Agora entendo a minha irmã,
ela está estressada de cuidar a mãe, que quando está com dores fica
insuportável.
A
conversa seguiu, já era tarde quando ele a deixou na pensão. Nem um beijo
trocaram, já que eram só amigos. Ele estava inconformado com a situação. Mas
estava de “mãos atadas”.
Na
manhã seguinte ele passou cedo para pegá-la. Iriam escolher o telefone e depois
Vinicius a deixaria no Shopping Nobillis.
Já na
loja de eletrônicos ele a deixou escolhendo o telefone e foi olhar os
computadores. Sem que Melina percebesse, Vinicius comprou também um PC para
ela.
Melina
estava nervosa, tanto que suas mãos estavam úmidas de suor. Quando Vinicius
estacionou entrou pelo portão de carro, ela pode ver o imenso jardim que
rodeava a enorme casa... Era linda!
Vinicius
estacionou o automóvel, desceu, contornou o carro e abriu a porta para ela
descer. Ao tocar em suas mãos ele percebeu o nervosismo dela, e falou:
-- Não
fica assim. Meus avós são pessoas simples, apesar da aparência. Tu estas
comigo. Me dá a mão se te sentes mais segura.
--
Sim. Fica perto de mim, por favor...
A casa
por dentro era ainda mais bonita. Nunca tinha visto algo assim... só em filmes.
Nunca imaginou que entraria, algum dia em sua vida, numa casa de rico. Ela
avistou o casal de velhos sentados confortavelmente num dos cantos da sala,
próximos a janela.
Vinicius
foi logo anunciando a presença deles, quando disse:
--
Meus queridos avós, essa é a Melina.
Seu
Álvaro logo levantou-se e a cumprimentou com polidez. Ao apertar sua mão ele
comentou:
-- És
mesmo muito bonita, Melina. Muito prazer, seja bem-vinda a esta casa.
--
Obrigada, senhor. É uma alegria conhecê-lo – Disse ela sorrindo.
Camila
já esperava de braços abertos, feliz ela disse:
--
Venha cá minha filha. Me dá um abraço. Meu neto fala muito em ti. Estava
ansiosa para te conhecer.
--
Muito prazer. Eu também estava querendo conhecê-los, pois são a família do
Vini. Quando eu o conheci ele estava sozinho no mundo...
--
Sim, eu soube do mau procedimento daquele homem. Mas agora estamos aqui para
amá-lo...
--
Vamos sentar, minha filha. Sente-se perto de mim...
Melina
sentou ao lado de Camila no sofá. Ela olhou para Vinicius e sorriu. O
nervosismo tinha passado. Ele apenas sorriu para ela e sentou-se na poltrona
próxima.
A
conversa fluiu. Camila era alegre e simpática e gostou muito de Melina. O mesmo
aconteceu com a moça, que se sentiu bem acolhida naquela casa. Fernanda e Eduardo
chegaram logo em seguida e como a mãe, ela também acolheu com carinho a amiga
de seu sobrinho.
Aqueles
dias passaram rapidamente.
Camila
estava triste com a partida de Melina. Ela era uma boa moça, pensava Camila, e gostava
sinceramente de seu neto. Dava para perceber no olhar amoroso da moça, e também
Vinicius gostava muito dela. Apostava nos desígnios de Deus, que providenciaria
a união entre eles, para a felicidade dos jovens.
Camila
fez um almoço de despedida para a Melina, foi um dia especial, mesmo havendo
uma tristeza no coração, Vinicius e Melina tentaram manter a alegria do
encontro. Álvaro observou os jovens e os aconselhou, dizendo:
-- Há
entre vocês algo muito forte. Peço que façam o impossível para não se perderem...
pois a vida apronta, se não nos mantivermos atentos.
Vinicius
e Melina olharam para ele e sorriram, mas ambos sabiam que teriam dias difíceis
pela frente.
Fernanda
foi até a sala do sobrinho para conversar sobre o futuro, ela tinha alguns planos
e precisava discutir com Vinicius. E no meio da conversa ela sugeriu:
--
Vini, tu deverias ir para Nova York fazer um curso de hotelaria. Eu andei me
informando e inicia em setembro. Acho que seria muito bom, pois ali terás
noções das tendências do ramo. Precisamos estar atualizados.
-- Até
quando é a inscrição?
--
Encerra daqui a uma semana. Dá tempo para pensar e se organizar. Teu passaporte
está em dia?
--
Sim, meu visto está atualizado.
Dias
depois foi a vez de Vinicius se despedir dos avós.
Vinicius
chegou a Nova York uns dias antes. Instalou-se no hotel onde o curso seria
ministrado, e logo conheceu seus colegas de turma, a maioria era americanos,
mas tinha mexicanos, chilenos e argentinos. Ele logo fez novas amizades. Sim,
porque após o reverso em sua vida, Vinicius aprendeu que é preciso ter amigos,
sobretudo, bons amigos.
Ele
havia avisado a Melina, e combinaram de se falarem todos os dias, como faziam.
Mas não pensaram no fuso horário e os desencontros aconteceram, e agora eles
falavam raramente.
Melina
não se acertava com sua mãe, que era autoritária e nunca a considerou a sua
filha preferida, muito ao contrário. Seus irmãos, mesmo sabendo do declínio de
saúde da mãe, não se dispuseram a vir, e a situação de dona Jacira só piorava.
Então,
numa manhã fria de junho, dona Jacira não acordou.
A
morte da mãe não foi surpresa para Melina, que a viu definhar dia a dia.
Autorizada
pelos irmãos ela vendeu a pequena casa e repartiu o valor entre eles.
Livre
dos compromissos familiares, Melina retornou a Porto Alegre e foi alugar um
quarto na pensão de dona Alba. Ali ela sentia-se bem, ali era tratada com
consideração por todos, especialmente por dona Alba.
--
Minha querida! Que bom que voltastes! – Disse Alba a abraçando Melina com
carinho. – Queres um quarto, ou estás só de visita?
-- É
muito bom estar de volta. Senti saudades de todos... – Falou Melina deixando-se
abraçar pela dona da pensão. – Eu preciso de um quarto. E por muito tempo. Minha mãe morreu...
-- Oh!
Meus sentimentos. E a tua irmã? Vem para
cá também? – Quis saber Alba.
--
Não. Ela está estudando em Passo Fundo. Fica por lá. – Explicou Melina. – Nós
não nos entendemos, e vãos seguir separadas, ela lá e eu aqui.
--
Tenho para ti um quarto melhor... – Disse Alba dirigindo-se ao quarto. – Este!
-- Bah
é muito bom, mas será que eu posso pagar por ele? Ainda estou desempregada...
--
Mantenho o valor antigo até conseguires um emprego. Combinado?!
--
Sim. Vou ficar muito bem instalada, e tem banheiro privativo!
--
Sim! Reformei este lado da casa.
Melina
se instalou e depois foi conversar com suas antigas amigas que estavam chegando
do trabalho. As novidades eram muitas. A conversa se estendeu até tarde.
No dia
seguinte Melina saiu atrás de trabalho. Não queria mais trabalhar em loja,
almejava trabalhar em um escritório, pois agora já tinha o seu diploma de
Administração de Empresas. Não foi fácil, mas
ela conseguiu um lugar com um ótimo salário. Trabalharia de segunda a
sexta-feira. Nunca tinha tido o fim de semana livre. Melina estava tranquila.
Sentia-se quase feliz. Faltava apenas a presença de Vinicius para ficar
completamente feliz.
Melina
lembrou-se do aniversário de dona Camila. Ela gostava muito da boa senhora. Se
encheu de coragem e no sábado à tarde foi visita-la, sem avisar. Ela tocou no
interfone e aguardou. Ela se identificou e a porta foi logo aberta. Logo atrás
entrou uma moça bonita e elegantemente vestida.
Ao
avançarem pelo jardim, a estranha, falou para Melina, com voz alterada:
-- A
entrada de serviço é pelo lado.
-- É?
Mas eu sempre entrei nesta casa, pela porta principal. – Respondeu Melina com
educação.
-- Mas
que atrevimento... Não admito que me retruques... Sua...
Da
janela da sala Camila observava a cena. Então se apressou e abriu a porta para
evitar maior constrangimento para Melina.
--
Minha querida! Que saudade! – Falou Camila abraçando Melina. – Venha vamos
entrar. – E virando-se para Marcela disse – Como vais Marcela. Entre.
Marcela
ficou indecisa. Não sabia como agir. E tratou de ir embora com uma desculpa
esfarrapada.
-- Não
vou entrar... Eu passei por aqui, só para lhe entregar essa lembrancinha. Estou
super atrasada. Uma amiga me espera... —Disse ela enquanto tirava da bolsa um
pequeno pacote.
--
Obrigada! É muita gentileza. – Disse Camila aceitando o presente.
Marcela
saiu rapidamente dali.
Para
Camila e Álvaro a presença de Melina foi uma imensa alegria. Eles gostavam
muito dela e torciam para que quando o neto retornasse a procurasse para um
compromisso formal.
Naquela
noite Melina teve dificuldade para dormir. Vinicius estava por chegar. Fazia
mais de ano que eles não se viam, e muitos meses que não se falavam. Mas essa
informação ela evitou de dar aos avós dele, que nutriam pelo neto uma fervorosa
admiração.
Os
dias passavam rapidamente...
Melina
recebeu um convite de dona Camila para um almoço de domingo. Ela chegou
pontualmente no horário marcado. Já se encontravam presentes Fernanda
acompanhada do marido, e queixando-se do filho, que ainda permanecia na Europa,
mesmo estando com os estudos terminados.
Estavam
todos sentados na sala, quando Vinicius e Marcela entraram demonstrando
intimidade. Melina sentiu seu coração gelar. Vê-lo com outra era difícil, mas
vê-lo com aquela criatura, em especial, era terrível.
-- Bom
dia! Eu... – Disse Vinicius interrompendo a fala quando viu Melina ali sentada.
Ele tentou se desvencilhar de Marcela, mas ela não permitiu. – Desculpem o
atraso. – Completou ele.
O
almoço transcorreu num clima pesado. Embora Melina tentasse disfarçar, ela não
conseguia deixar de olhar para Vinicius. Parecia que um imã a puxava para o
lado dele. Mas ele também estava tenso, e foram muitas as vezes que seus
olhares se encontraram e se mantiveram presos um no outro.
Marcela
estava contente e bem falante. E contou
em detalhes a sua aventura, quando foi encontrar Vinicius em Porto Rico. Ela se
demorou falando da beleza do lugar, a parte antiga da capital, San Juan era
encantadora, com o seu casario pintado de cores fortes. Também as praias eram
maravilhosas E terminou dizendo que foi em meio a esse cenário, que eles
iniciaram o namoro. Vinicius nada dizia, só olhava para Melina como se quisesse
se desculpar.
Camila
observava o comportamento do neto diante de Melina.
Na
primeira oportunidade que teve, Melina aproveitou para ir embora. Com uma
desculpa qualquer, ela saiu apressadamente daquela casa. Ao chegar à rua ela
suspirou profundamente e deixou que lágrimas rolassem em suas faces. Caminhava
apressada, ela só queria fugir dali, o mais rápido possível.
Dias
depois Camila ligou a convidando para almoçar, mas Melina educadamente recusou,
com desculpa de um compromisso já assumido. Mais alguns convites foram
recusados, e Camila muito triste comentou com o marido:
-- O
Vinicius fez uma bobagem das grandes.
--
Explica... – Pediu Álvaro.
--
Esse namoro dele com essa Marcela. Essa moça não gosta dele...
-- Nem
ele dela. – Afirmou Álvaro.
-- Não
entendo porque ele deixou a Melina escapar. Essa sim gosta dele de verdade. Eu
vejo no fundo dos olhos dela. Pois, quando ele está por perto os olhos brilham
de forma diferente. Assim como os dele. – Explanou Camila ao marido.
--
Sim. Eu também percebo que existe uma forte sintonia entre eles. Mas foi ela
quem terminou o namoro. – Disse Álvaro.
--
Sim, eu sei. Foi quando Fernando o encontrou. Ele tinha uma família para
conhecer e se entrosar, e inteligentemente, Melina deixou espaço na vida dele
para isso. O tempo correu e ele podia ter ido atrás dela. Mas agora está envolvido
com essa biscateira de Marcela.
--
Marcela foi colega dele na faculdade, tem boa condição social.
-- São
novos ricos, segundo soube de dinheiro mal havido... Ela está atrás do dinheiro
dele. Procure observar os assuntos e o comportamento dela. Pergunte a Fernanda.
-- O
que a Fernanda disse a respeito de Marcela?
--
Fernanda não, Eduardo o teu genro.
Álvaro
ficou pensativo. Lembrava-se vagamente de um escândalo financeiro de alguns
anos atrás, mas não recordava do nome das pessoas. Na primeira oportunidade
conversaria com Eduardo sobre o assunto.
Camila
nunca mais ligou para Melina. Ela entendia a razão pela qual a moça havia se
retirado de sua casa. Mas sentia muitas saudades dela, pois além de bonita, a
garota era inteligente e sincera, coisa rara nos tempos atuais.
Vinicius
andava cansado de tanta festa, de tanta gente chata. Já não bastava os que
precisava aturar por causa do trabalho, Marcela insistia em ir a todas as
festas e fazia questão de ser fotografada para sair na crônica social. Ele daria
um basta!
--
Mais uma festa, Marcela! Eu não gosto desse tipo de vida. Definitivamente, não
conta mais comigo, porque eu não irei ... – Falou Vinicius contrariado.
-- Mas
amor, nós precisamos fazer representação social.
-- Eu
pago um bom salário para o Lucas e a Angelica fazerem esse trabalho.
-- Tu
és o meu namorado, tens que me acompanhar. – Exigiu Eduarda.
--
Muito bem. A partir desse momento o nosso namoro está terminado. Resolvido!
--
Mas... – Protestou Marcela.
--
Está decidido. Não te quero mais. – Afirmou ele.
Ele
levantou-se e foi embora. Vinicius agradecia a sua tia Fernando, por ter o
aconselhado a não ir morar junto com a Marcela. Usou como desculpa a tristeza
dos avós se ele saísse de casa. Quando ele fechou a porta do apartamento ao
sair, ele sentiu a liberdade que tanto almejava. Esse namoro o estava
sufocando. Livre! Estava livre!
Melina
que acompanhava os passos de Vinicius pelo jornal, estranhou que nas fotos
recentes Marcela andava sozinha. Será que tinham terminado a relação? Os dias
passaram e Marcela tinha sumido da crônica social. Alguma coisa tinha
acontecido, e ela não tinha como saber. Resolveu esquecer o assunto.
Vinicius
aproveitou o fim do namoro e programou fazer um giro pelos hotéis,
hospedando-se como mero hospede, utilizando seu sobrenome materno, e usando
óculos. Assim ele podia avaliar o atendimento. E esse tempo ele usou para
refletir sobre a sua vida. Andava infeliz, não por ter terminado com Marcela,
mas por estar distante de Melina.
Era
tarde da noite de uma sexta-feira, quando Melina recebeu um telefonema
estranho. Alguém, se identificando como Julia, e funcionária da casa, estava avisando
que dona Camila não estava bem. Tinha sido hospitalizada, informando qual o hospital.
Assustada,
Melina ligou para o hospital para confirmar, e era verdade. Dona Camila não
estava nada bem. Ela vestiu-se apressadamente e foi para o hospital. Lá ela
encontrou seu Álvaro acompanhado por um rapaz, deveria ser o filho da Fernanda,
portanto era o primo de Vinicius. Ele era muito bonito, simpático e chamava-se
Andres. Seu Álvaro ficou contente ao ver Melina, e logo fez as apresentações.
--
Como soubesse, minha querida? – Quis saber Álvaro.
-- Uma
moça chamada Julia me ligou. Então vim logo para cá. Como dona Camila está, e o
que aconteceu?
--
Ainda não sabemos... – Disse Andres – Ela está fazendo mais exames.
Foi
nesse instante que Vinicius chegou apressado. Querendo saber como estava a avó,
quando se deparou com Melina.
-- Oi,
como estás? Faz tempo! – Disse Vinicius a abraçando.
O
médico se aproximou do grupo e explicou que Camila estava bem, tinha tido uma
pequena isquemia, mas teria que ficar em observação, pelo menos mais 24h. Ele
permitiu que o marido entrasse para vê-la.
Melina ao saber que Camila estava bem, resolveu ir embora.
-- Já
que dona Camila está bem, eu vou embora. Amanhã eu ligo para saber dela.
Tchau... – Disse ela tomando a direção da saída.
--
Espera... Eu te levo. Andres fica com o vô. – Falou Vinicius olhando para o
primo, que acenou positivamente com cabeça.
Vinicius
apressou o passo e alcançou Melina,
--
Calma, para que toda essa pressa. Até parece que queres fugir de mim... Queres?
– Perguntou ele com curiosidade. Ele a tomou pela mão e ambos caminharam em
silencio até o estacionamento.
Já
dentro do carro ele insistiu.
-- Não
respondeste... Por que me evitas? Eu te fiz alguma coisa?
-- Não
fizestes nada. Sou eu que...
-- Tu
o quê?
Melina
suspirou e olhou para o outro lado. Lágrimas surgiram e ela não queria que ele
a visse, assim tu vulnerável a presença dele. Ela o amava, o queria muito e a
razão dizia que ela não devia se arriscar. Ele estava em outra esfera social...
Vinicius
percebeu que ela estava emocionada, assim como ele. Fazia muito tempo que não
se viam, e esse encontro inesperado mexeu com as emoções deles. Sinal de que o
amor estava presente.
Ele
acarinhou seu braço, e a fez virar-se para ele, e lentamente se aproximou e a
beijou suavemente. Afastou e a olhou nos olhos e a beijou novamente, agora um
beijo profundo.
-- Eu
te amo – Confessou ele. – Eu te quero, outra vez, em minha vida...
Melina
absorveu aquele momento, nada disse. Tinha receio de ser precipitada. Não era
assim, as coisas não funcionavam, não era como num passe de mágica. Ela não
queria sofrer novamente. Ela apenas se deixou envolver.
-- Eu
sofri com a nossa separação. Me atirei no trabalho para superar, depois o curso
em Nova York e a loucura da cidade e o fuso horário atrapalhou a nossa
comunicação. Eu sei. Mas sempre estivestes no meu coração, guardei esse amor a
sete chaves. Mas ao te ver hoje... Confesso que arrombastes o cofre do meu
coração e o amor explodiu. Ah minha amada, não vou te deixar nunca mais.
-- Me
leva para casa. Amanhã conversamos. Do jeito que estou não tenho condições de
pensar com clareza. Não podemos ser imprudentes, faríamos mal a quem nos quer
bem.
--
Certo amanhã...
Vinicius
deu partida no carro. Fizeram todo o percurso em silencio. Ele estacionou em
frente a pensão, olhou para a casa modesta e disse:
-- Eu
tenho boas lembranças desse lugar. Fui muito feliz... Amanhã as 10h. Venho te
pegar, vamos conversar e depois vamos ao hospital.
--
Combinado. Até amanhã. – Disse Melina saindo do carro e entrando apressada na
casa. Acenou para ele da porta.
Vinicius
deu partida no carro e foi para casa. Precisava pensar. Ele teve um arroubo que
a deixou pasmada, mas continuava firme na intenção. Ele queria, ele precisava
de Melina em sua vida.
Na
hora combinada Vinicius estacionou o carro em frente pensão, e Melina surgiu na
porta. Ela estava linda! Vestia uma calça de brim e uma blusa cor de ferrugem.
O cabelo solto caindo pelos ombros e um sorriso de tirar o folego.
-- Bom
dia! – Disse ela entrando no carro.
-- Bom
dia! Estás linda! Aonde queres ir? – Falou Vinicius.
--
Está uma linda manhã. Podíamos ir para a beira do Guaíba. Sentar num banco,
apreciar a beleza do lugar conversar, que achas?
--
Excelente sugestão. Vamos – Disse dando partida no carro.
Eles
percorreram as ruas da cidade observando o movimento e falando banalidades.
Caminharam pelo parque e sentaram em um banco a sombra de uma árvore e
apreciaram a paisagem.
Vinicius
pegou a mão de Melina e beijou. A olhou nos olhos e falou:
-- Eu
te amo e te quero em minha vida. Vou repetir isso sempre, porque tu és a razão
do meu viver. Tu me aceitas em tua vida?
-- Eu
pensei sobre isso, e estou segura do que quero.
-- E o
que queres?
--
Compartilhar a minha vida contigo. Estar contigo... Te amar...
-- Ah
minha querida... Vamos ser felizes. Aceitas casar comigo em breve?
--
Sim. Eu aceito.
--
Vamos para um lugar aonde eu possa te beijar, e depois vamos contar essa
novidade para a dona Camila.
-- Sim
vamos.
O
casamento aconteceu no fim do ano.
Após
uma recepção para os amigos o casal embarcou para Curaçao, onde passariam 15
dias em lua de mel. Foram dias especiais, Melina encantou-se com a ilha, a
cidade de Willemstad com os prédios em tons pasteis, o azul transparente da
água e com o carinho e a dedicação de Vinicius, que era um homem maravilhoso em
todos os sentidos.
A
primeira vez deles foi difícil, ele estava com medo de machucá-la, mas Melina
era corajosa e o incentivou a cumprir o seu papel com toda a energia...
Já
Vinicius encontrou na esposa tudo o que sonhara... Ela era sua, unicamente
sua... Nunca havia sido tocada por nenhum outro homem. E ela havia se revelado
ser uma amante vibrante, que o deixava enlouquecido.
A lua
de mel foi perfeita!
Ao
retornar o casal aceitou o convite do vô Álvaro de morar no casarão. Como os
velhos estavam com dificuldade para subir as escadas, uma saleta, no térreo,
foi transformada em quarto. E o andar de
cima foi arrumado para o casal, com salas e até com uma pequena cozinha. E o
casal passou a morar ali, praticamente junto dos avós, sentiam-se afortunados
com a felicidade do neto tão querido.
Vinicius
e Melina eram a felicidade. Eles irradiavam o amor que sentiam, deixando tudo a
sua volta mais bonito.
Maria Ronety Canibal
Setembro 2021