segunda-feira, 6 de setembro de 2021

NO REVERSO DA VIDA



 

NO REVERSO DA VIDA

 

   Depois de um dia de trabalho, Melina só queria chegar em casa, tomar um banho e atirar-se em sua cama. Ela desceu do ônibus, e avistou o Dr. Vinicius. Olhou novamente para conferir. Era ele, sem dúvida alguma. O que ele estaria fazendo por aqueles lados? O lado pobre da cidade. Melina parou, estava sem saber o que fazer. A verdade é que ele parecia desorientado... Deveria ir até ele? Mas ele não a conhecia. O que fazer? Ela olhou em volta. A rua estava deserta, e isso era uma grande chance de ser assaltada. Melina rapidamente decidiu. Aproximou-se dele e perguntou:

   -- Dr. Vinicius? – Disse ela cautelosamente.

   -- Sim. Como me conheces? – Perguntou ele um tanto alterado.

   -- Eu trabalho no Shopping Nobillis... – Explicou Melina – O senhor parece perdido. Em que posso lhe ajudar?

   -- Estou mesmo perdido. Não sei onde estou. Nem como aqui cheguei... – Disse ele.

   -- Foi assaltado? Venha comigo. Aqui estamos vulneráveis. Esse bairro tem um alto índice de criminalidade. – Disse Melina caminhando em direção a Pensão Modesta, local em que morava.

   Sem dizer nada Vinicius a seguiu. Enquanto caminhava, Melina tentava imaginar o que tinha acontecido. Ele era o diretor administrativo e filho do dono do Shopping. Era um homem trabalhador, o primeiro a chegar e o último a sair, por isso era exigente, intransigente e arrogante. Os funcionários o detestavam.

   Melissa abriu o portão e disse:

   -- Entre por favor. É aqui que eu moro.

   -- É uma pensão. – Afirmou ele lendo a placa.

   -- Sim. É o que eu posso pagar. Vamos entrar e ver como posso lhe ajudar.

   Dona Alba, a dona da pensão, se surpreendeu ao ver Melina entrar acompanhada de um belo rapaz, bem vestido, educado, que destoava totalmente do ambiente simples da casa. Ela observou que ele parecia estar confuso.

   Melina o levou para a sala de visitas, para uma conversa privada. Não queria expor o Dr. Vinicius aos demais moradores, que a essa hora estavam chegando do trabalho.

   -- O lhe aconteceu? Pode falar sem receios, aqui ninguém nos escuta. – Disse Melina cheia de curiosidade.

   -- Fui dispensado por meu pai. É isso! Quem assumirá o meu lugar na administração da empresa será a nova namorada do seu Victor Costa Vieira. Ele simplesmente me tirou tudo, inclusive o celular, que é da empresa. Tenho algumas economias, tentei sacar, mas também estão bloqueadas, assim como os cartões de crédito. Só tenho o dinheiro do bolso, que não é suficiente para me manter.

   -- O que significa me tirou tudo?

   -- Significa que não tenho trabalho, dinheiro, e nem onde morar. Nada! Apenas essa roupa que estou vestindo.

   -- Com que direito? – Perguntou Melina indignada.

   -- Eu não sou filho dele. Ele me criou, alimentou, me deu educação e estudo... Porém, não tenho direito a nada. Sempre soube disso. Por isso, apliquei algum dinheiro em ações do shopping. Lucile, a falecida esposa dele, me pegou para criar, quando eu era ainda muito pequeno, tinha cerca de dois anos. Eu sempre trabalhei com afinco em retribuição a tudo o que me deram. Reconheço que tive muito mais do que a vida teria me dado. Mas não mereço ser tratado assim, como se fosse um ser descartável.

   -- Com certeza. Estou pensando que deverias ficar aqui na pensão. Dona Alba inclui no preço o café da manhã e o jantar. Acho que poderias, sim, ficar aqui, tem um quarto vago, pelo que sei. Vou falar com a dona Alba. Me espera aqui.

   -- Eu não tenho como pagar...

   -- Ela precisa de alguém para fazer pequenos consertos. Poderias aceitar trabalhar aqui, até aparecer coisa melhor.

   -- Ela deve cobrar adiantado. E eu não tenho...

   -- Eu te empresto. Não posso te deixar largado na rua. Não vais sobreviver.

   -- Está bem. Eu te espero aqui. – Disse ele conformado com a sua situação. Ele tinha estudo e logo conseguiria um bom trabalho. Era uma emergência e ele não podia recusar a gentileza da moça.

 

   Vinicius Dalla Luce que sempre viveu na riqueza, de repente, se deparou com a vida dura de quem tem muito pouco. Ali na pensão moravam jovens vindos do interior, para tentar a sorte na capital. Trabalhavam e estudavam e sobreviviam com um salário mínimo.

   Vinicius descobriu que a sua amiga, Melina Ponti, cursava a faculdade no turno da manhã e trabalhava no turno da tarde até início da noite, chegando sempre muito tarde em casa. Como era horário de shopping, trabalhava também aos domingos, tendo uma única folga semanal, sempre as segundas feiras.

   Os dias passavam e Vinicius foi se adaptando a vida simples. Ele tentou realizar pequenos serviços na pensão, mas definitivamente, essa não era a sua aptidão. Saiu atrás de trabalho. Tinha certeza que com o seu currículo, encontraria uma ótima colocação, com um bom salário, e que logo poderia ter o seu próprio espaço.  Ele ambicionava poder alugar um pequeno apartamento. Pois, dividir o quarto com um estranho era muito difícil.  Ele precisava urgente de um emprego. Não tinha mais um centavo no bolso.

   Vinicius resolveu deixar o orgulho de lado e foi procurar seus antigos amigos. E foi aí que descobriu que não tinha um único amigo. Pois, todos eram interesseiros, e negaram a ele, qualquer oportunidade de trabalho. A vida ensina, dizia Vinicius para si mesmo, não confie! Então ele lembrou-se de Melina, nela ele podia confiar. Ela o ajudou desinteressadamente, e continuava o ajudando. Ela merecia a sua amizade!

   Naquela noite, Vinicius chegou, na pensão, cabisbaixo e desiludido. O clima de alegria que reinava na hora do jantar, não o contagiou. Sem fome, ele recusou a refeição, e foi para o seu quarto. Deitado em sua cama pensava. Ele não conseguia saber como eles podiam ser tão alegres e felizes, na situação de dificuldades que viviam. O dinheiro deles mal alcançava o fim do mês.

   Lembrou-se da vida que tivera, sem preocupação com dinheiro. Muitas vezes ele gastara em apenas um jantar, o equivalente ao salário mensal de seus colegas da pensão. Dava-se conta, agora, o quanto havia sido egoísta e personalista. Embora tivesse colaborado com algumas obras socias, jamais se interessou pelas necessidades alheias. Hoje, ele reconhecia que também era vítima da sociedade individualista que vivera até alguns dias atrás. Arrependia-se de suas atitudes.

   Uma leve batida na porta o tirou do devaneio. Levantou-se e abriu a porta e se deparou com Melina:

  -- Olá! Por que não estás jantando? Saco vazio não para em pé, já dizia a minha avó. Vem me fazer companhia.

  -- Estou sem fome. Mais um dia que passa e eu não consegui trabalho.

  -- Vamos conversar enquanto comemos. – Disse Melina o pegando pela mão.

  Dona Alba sempre fazia sopa para o jantar, acompanhada de pão. Ela variava os legumes e acrescentava arroz ou massa. Às vezes a sopa era de lentilha ou feijão, o importante é que era sempre nutritiva e gostosa. Ela entendia que aqueles jovens precisavam de uma boa alimentação, e dentro das possibilidades ela fazia o melhor. Acrescentava uma sobremesa, doce em calda.

   Melina aqueceu a sopa e serviu os pratos. Os dois sentaram e comeram com apetite. Vinicius deu-se conta que estava faminto. Sorriu ao comentar:

   -- Eu estava morto de fome... Obrigado por te preocupar comigo.

   -- Nunca deixe as dificuldades interferirem na tua alimentação, pois, ficar doente é um problemão...

   -- Eu sei... Como estão as coisas por lá?

   -- No shopping? Tudo muito confuso. A dona Arlete está fazendo algumas mudanças, mas ainda não entendemos o objetivo. Está se tornando um caos. O fim de ano chegando, o movimento aumentando... Não sei, não!

   -- Que tipo de mudanças?

   -- Localização dos guichês de pagamento de estacionamento é uma delas, as levou para a porta do estacionamento, provocando congestionamento....  Acrescentando quiosques nos corredores... Coisas desse tipo.

   -- Ela vai reduzir o espaço de circulação... Tens razão com o movimento de Natal será problemático. Aquele shopping foi projetado para ser inteiramente confortável aos clientes, é para a Classe A. E pelo o que me consta ela está popularizando... Não vai dar certo!

   -- Isso é problema do seu Victor, não é mais teu.  Mas eu tenho algo para te dizer. Ali perto da faculdade tem uma Concessionaria Multimarcas, e hoje estavam colocando um cartaz de oferta de emprego para vendedores. Lembrei que poderias ir comigo amanhã cedo, e tentar a vaga.

   -- Obrigada. Vou sim. – Disse Vinicius sorrindo e pegando a mão de Melina e a beijando com carinho. Uma troca de olhares tocou o coração dele.

  

   Vinicius estava feliz, enfim tinha conseguido um emprego, agora poderia se sustentar, abrindo mão de muitas coisas, as quais estava acostumado. Ele seguia o exemplo de sua amiga Melina, que lhe dava ótimas dicas. A primeira coisa que faria era trocar de quarto, o único que estava vago, e era minúsculo, assim como o da Melina, mas estaria sozinho. Um quarto só seu! Esse era o seu sonho...

   A amizade entre Melina e Vinicius aos poucos ia se fortalecendo. Ele a admirava por muitas coisas, sobretudo por sua tenacidade e alegria de viver. Ela vibrava pelas coisas simples. Cada vitória era motivo de comemoração, mesmo que fosse com pipocas. Melina era sincera e se interessava por todos os seus amigos da pensão.

  Quando Pamela levou “o fora de seu namorado”, foi Melina que a consolou; quando Paulo precisou de um avalista, foi Melina que prontamente se colocou à disposição; quando Andressa precisou viajar para ir ao enterro da avó, foi Melina que lhe emprestou o dinheiro. Ela era abnegada. Também em relação a Vinicius ela foi altruísta e o ajudou. E essas qualidades a deixavam “grande” diante dele. Quando ele recebeu o primeiro salário ele quis devolver o dinheiro que ela tinha lhe emprestado, mas ela só aceitou parte, deixando o restante para o próximo mês, pensando que ele precisaria do dinheiro no decorrer do período. Ela era assim. Uma pessoa única!

   Sempre que o horário permitia, Vinicius a esperava diante da faculdade e juntos eles iam até a carrocinha de cachorro quente, sentavam no banco da pracinha e faziam o almoço, antes dela pegar o ônibus para ir trabalhar. Vinicius gostava de estar com ela, principalmente quando estavam a sós.  Ele estava se apaixonando. Tinha vontade de acaricia-la, muitas vezes moveu a mão em direção a sua face, mas no último segundo desistiu. Tinha receio de ser inconveniente.

     Uma notícia inesperada deixou Melina chateada. E Vinicius logo notou, e perguntou:

   -- O que aconteceu? De repente ficastes aflita...

   -- O Tiago me avisou que vem este fim de semana.

   -- Quem é esse?

   -- Meu namorado...

   -- Namorado? – Exclamou Vinicius decepcionado. Ele que estava tão animado, e pronto para pedi-la em namoro... Foi um choque!

   -- Sim. Namorados desde que eu tinha 17 anos. Nossas famílias são amigas, e nos induziram ao namoro. A verdade é que eu mal o conheço, pois logo depois, ele foi para Passo Fundo, para estudar. Hoje ele está formado em Ciências Contábeis, e trabalha em uma Cerealista.

   -- Tu o amas?

   -- Não sei qual o sentimento que nos envolve. Amor não é, amizade? Talvez! Vejo mais como obrigação, já que nesse meio tempo nossos pais morreram. Eles viajavam juntos e sofreram um grave acidente.

   -- Foi há muito tempo?

   -- Pouco depois de eu vir para cá.

   -- E a tua mãe?

   -- A mãe mora com a Paola, minha irmã caçula, em Ibirapuitã. É uma cidadezinha próxima a Passo Fundo. Nossos bisavôs trabalharam na construção da estrada, e por ali se estabeleceram. Meu pai era um homem muito bom, mas simples, com pouco estudo, e trabalhava como borracheiro. O pai do Tiago trabalhava no posto de gasolina. Também era um homem simples.

   -- Tens outros irmãos?

   -- Sim. Mais dois. São bem mais velhos. O Valdomiro foi embora para o Paraná. Casou e trabalha como gerente de lavoura. O Carlito foi para o Mato Grosso, também casou e trabalha como mecânico em uma fazenda. Somos pobres.

  -- E a Paola, o que faz?

  -- Ela era muito pequena quando eu vim para cá. Agora ela está com  16 anos.

  -- Agora entendo porque te preocupas tanto em enviar dinheiro para tua mãe.

  -- Eu gostaria de trazê-las para cá, mas ainda não dá. Eu tenho algum dinheiro guardado, mas é preciso ter uma reserva para os imprevistos. Eu tenho a sorte de ganhar boas comissões além do salário. Me esforço para ser uma boa vendedora.

   -- Eu estou aprendendo. Já ganhei a minha primeira comissão. – Falou sorrindo.

   -- Não tenho a mínima noção do que Tiago quer comigo.

   -- Marcar a data do casamento?

   -- Não! Não quero me casar com ele, ainda mais agora...

   -- Não?  Esse é o objetivo do namoro. Se não o queres deverias livrá-lo do compromisso. Seria o mais certo a fazer, penso eu.

   -- Já pensei sobre isso. Vamos ver como será conversa... Talvez eu me anime a ser sincera, e termine esse namoro... Bah vou ter que pedir folga no sábado. A Alana não gosta de mudar a programação.

  

   Vinicius trabalhava sábados até as 13h, quando a loja encerrava o expediente. Ele fez um lanche rápido e foi para a pensão. Estava uma tarde quente, com uma revista na mão, ele procurou uma sombra no pátio para sentar, queria ver o tal Tiago chegar.

   Achou um ótimo lugar. Dali ele enxergava quase todo o pátio, e estava praticamente escondido pois sentara no gramado sob as Extremosas. Não demorou muito e ele viu o rapaz entrar. Era alto, forte e bem apessoado.

   Vinicius suspirou. Teria que abafar o sentimento que brotara em seu íntimo, uma forte paixão por Melina. Ela era especial, não tinha conhecido, em sua vida, uma mulher como ela. Ele que havia vivido na alta roda, rodeado por elegantes e belas mulheres, nunca tinha encontrado o amor. Foi preciso um reverso em sua vida para descobrir o amor. E um amor proibido! 

   Ele também pode ver o encontro de Melina e Tiago, e ficou pasmo. Apenas um aperto de mão, como se fossem completamente estranhos. Que coisa mais bizarra! Aqueles dois não podiam casar! Ele precisava alertar Melina. Não seriam felizes...

   Dona Alba se aproximou dele, e comentou:

   -- É a primeira vez que vejo um casal de namorados desse jeito. Nos dias de hoje não existe mais compromisso por obrigação, casamento por vontade dos pais. Isso não dá certo, e resulta em separação.

   -- A senhora deveria alertá-la. Melina me parece muito ingênua... Ela vem de uma família de gente muito simples, e acho que mãe não vai fazer nada por ela. Isso me preocupa. Coitada!

   -- Coitada mesmo! Vou falar com ela. Teremos uma conversa de mãe e filha. Tenho idade suficiente para isso. Aliás eu sempre estou de olho nessas gurias. Tenho regras severas, tu as conheces. Eu converso muito com todas elas, são tão sozinhas nesta selva de pedra. Precisam de bons conselhos. A única que sempre foi muito quieta é justamente a Melina, a mais ingênua..., mas agora ela precisa de mim.

   -- Sim! Faça isso! Será uma boa ação.

   O casal de namorados estava sentado no banco do alpendre, junto a porta de entrada. Tanto Alba como Vinicius viram que o rapaz entregara para Melina uma carta. Ela abriu e leu. Lágrimas escorriam e ela secava as faces com mão para seguir a leitura.

   -- Deve ser da mãe. – Observou Alba.

   -- Por que da mãe? – Indagou Vinicius curioso.

   -- Não sei, apenas intuição. – Confessou dona Alba.

  Melina terminou de ler e dobrou o papel e recolocou no envelope. Tiago começou a falar, explicava gesticulando, e ela negava com a cabeça. Mais uma vez Melina chorou. O rapaz tentou consolar, porém ela não permitiu que ele a tocasse.

   -- O que será que ele tanta fala. – Disse Alba.

   -- Gostaria muito de saber. Ela não está feliz com o assunto.

   -- Concordo. Até parece que ele está tentando convencê-la de algo.

   -- É o que parece... – Afiançou Vinicius.

   De repente Melina levantou-se e entrou, retornando em seguida com a sua bolsa. Iriam sair. E Vinicius ficou tomado de ciúmes. Não tinha gostado do que vira. Tiago estava obrigando, Melina, a fazer o que não queria. Então decidiu que iria atrás, pois não confiava neste tal namorado. E foi o que fez, os seguiu de longe.

    Quando os viu entrar em uma lancheria, Vinicius retornou a pensão, e encontrou dona Alba saindo para ir à missa.  A casa estava quase deserta, estava só a Andressa estudando na mesa a cozinha. Ele bebeu um pouco de água, e foi para o seu quarto. Precisava pensar, e tomar uma decisão.

    Uma batida leve eu sua porta o sobressaltou. Levantou-se e abriu uma fresta, não estava disposto a aturar as criancices do Marcos. Mas, para sua surpresa, era Melina.

   -- Oi! Posso entrar? Preciso conversar contigo. – Pediu Melina.

   -- Entre. Sente-se aqui. – Disse indicando a cadeira. Ele permaneceu em pé. Não achou correto sentar na cama. Então ele encostou-se na porta.

   -- Eu estou com um problemão. Olha carta que minha mãe me mandou. – Falou Melina.

   Vinicius pegou a carta e leu. Era um absurdo o que dona Jacira estava fazendo com a filha. A obrigando a casar com o Tiago, para que ela e Paola pudessem ir morar em Passo Fundo, já que Tiago havia prometido que as levaria para morar com ele. Assim Paola poderia estudar e ter um futuro melhor. Indignado ele perguntou:

   -- Se tu vieste para cá para trabalhar e estudar, por que a Paola não pode fazer o mesmo?

   -- Essa é a pergunta que eu me faço. A Paola é a mimosa da mãe. Tudo gira em torno dela. Mas eu não quero casar agora.

   -- Minha querida, só vou te dizer uma coisa: casa-te por amor e não por obrigação. Tu o amas?

   -- Não. Mal o conheço. Nesse tempo todo, essa é a terceira vez que ele vem aqui, mesmo com celular e com Whatzapp, nós falamos muito pouco. Não sei nada sobre ele, assim como ele não sobre mim. Ele falou muito na Paola, em ajudar, dar oportunidades melhores para ela, já que ele está ganhando bem. Acho que ele deveria pensar em ser meu cunhado... – Melina falava m tom de desespero.

   Vinicius se aproximou dela e a abraçou e carinhosamente falou:

   -- Eu estou aqui, meu anjo, e totalmente apaixonado por ti. Pronto falei!

   Melina olhou para ele e disse:

   -- Eu também gosto muito de ti.

   Ele a olhou com amor e a beijou. Surpresa ela não sabia o que fazer, mas seguiu a sua intuição e entregou-se ao beijo. Ele afastou-se e explicou-se:

   -- Desculpe. Eu não devia ter feito isto.

   -- Não tem porque... – Disse Melina, um pouco encabulada – Eu nunca vivi um momento assim, é algo mágico. Foi maravilhoso. – Completou ela.

   Uma conversa alta indicou que dona Alba tinha chegado da missa. Melina tratou de sair do quarto de Vinicius. Foi rapidamente para o seu quarto que ficava duas portas além.

   Vinicius foi atrás da dona da pensão e foi logo dizendo:

   -- A senhora precisa ir falar com a Melina, ela está sendo pressionada pela mãe, para casar rapidamente com o Tiago. Ela enviou uma carta, a qual eu li, e fiquei angustiado. Melina é uma boa moça, e não pode ser manipulada dessa forma, pela própria mãe. Amanhã ela precisa ter uma resposta a proposta de casamento do rapaz. A ajude... – Implorou Vinicius.

   -- Acho que tem alguém apaixonado... – Disse Alba sorrindo. – Vou agora mesmo conversar com ela. Não te preocupes meu rapaz.

   Vinicius foi para o seu quarto. Pegou uma muda de roupa e foi para o banheiro. Um bom banho sempre era relaxante. Era o que estava precisando no momento. Quando ele retornou à cozinha encontrou Melina conversando com Andressa. Parecia mais calma. Ele sentou-se à mesa para jantar. Observando-a, Vinícius viu que Melina parecia mais calma. Ele estava curioso para saber o que ela havia decidido.

   Melina veio até ele, abaixou-se disse ao seu ouvido:

   -- Te espero no banco azul do pátio. Precisamos conversar.

   -- Certo.

   Ela foi até a geladeira e pegou um copo de suco de uva.

   -- Não vai jantar? – Perguntou dona Alba.

   -- Não. Eu fiz um lanche no fim da tarde. Com este calor, quero só um pouco de suco. – Respondeu Melina.

   Ela bebeu o suco, lavou o copo, colocou no escorredor e foi para o pátio. Estava uma noite quente, abafada... Prenuncio de chuva. Andou um pouco e foi para o banco azul que ficava um pouco retirado. Sentou para esperar por Vinicius, passou os dedos nos lábios lembrando o beijo que trocaram. Ele tinha sido ousado, mas ela gostara de ter sido beijada. Seu primeiro beijo! E foi maravilhoso... Fechou os olhos e imaginou que estava sendo beijada. Que sensação deliciosa... Melina suspirou e abriu os olhos e deu com Vinicius a sua frente. Ele a olhava com um sorriso maroto.

   -- Estas aí muito tempo? – Perguntou Melina.

   -- O suficiente para imaginar o que pensavas... Tua expressão estava sedutora. Em que pensavas? – Quis saber Vinicius.

   -- Em nada importante. – Respondeu ela rapidamente e sentindo suas faces aquecidas.

   -- Deu para mentir?

   -- Deixa de ser chato. Quero te contar o meu plano.

   -- Ok. Me conta o que estas tramando.

   -- Desde que eu cheguei, aqui na pensão, dona Alba tem sido uma mãe para mim. Aliás, muito mais do que a minha própria mãe. E ela foi conversar comigo, queria saber o que o Tiago queria, já que ele nunca aparece. E eu contei, mostrei a carta, e ela me falou, assim como tu, que eu só deveria casar por amor. Enfatizou que não é fácil conviver intimamente com um homem, sobretudo se não tiver amor. Que eu não deveria ceder aos caprichos de Paola. Então resolvi dizer que primeiro vou terminar o meu curso, e só depois vou pensar em casar, e que o deixo livre de qualquer compromisso comigo. Que achas?

   -- Está bem. Mas deves escrever a tua mãe também. Ela precisa ficar ciente de que tu não és um joguete. Precisas deixar tudo muito claro, inclusive o rompimento do teu compromisso com o Tiago.

   -- Eu farei isso. Obrigada. Tu tens sido um amigão.

 

   O Natal estava se aproximando e Melina estava trabalhando até mais tarde. O horário estendido do shopping proporcionava aos clientes mais conforto para as suas compras.

   Melina tinha sido promovida e estava responsável pelo setor de moda feminina, com a promoção veio também um considerável aumento de salário, assim como mais responsabilidade. Ela sempre saia, da loja, por volta das 23h, chegando em casa quase meia-noite.

   Preocupado com Melina, Vinicius ia esperá-la na parada do ônibus. Ele também tinha sido promovido e já tinha condições de alugar um pequeno apartamento, mas permaneceu na pensão, para não se afastar de sua querida amiga. Melina precisava dele.

O namoro entre eles foi natural, aos poucos eles foram se envolvendo e se comprometendo um com o outro. Vinicius procedia de forma correta, respeitava as regras de dona Alba. Ele havia sido educado para ser um homem de bem, um perfeito cavalheiro.

 Cartas enviadas por Paola perturbavam Melina. Pois eram ofensivas e acusatórias, e mentirosas. Paola protegida pela mãe, não se cansava de escrever injurias sobre Melina, que era incapaz de dar o troco. Cada carta recebida era mais uma tristeza acumulada em seu íntimo.

Embora Vinicius e dona Alba pedissem para que Melina não levasse em conta o que sua irmã escrevia, ela não conseguia se livrar da mágoa que se instalara em seu coração.

Só havia dois caminhos, segundo dona Alba: ou Melina casava com o tal Tiago, ou rompia definitivamente com a mãe. Do contrário, elas continuariam fazendo pressão. Mas era uma escolha muito difícil para a pobre moça.

 Vinicius não opinou. Ela jamais incentivaria a sua namorada a romper com a família. Ele que cresceu em um lar “emprestado” sempre imaginou como seria estar com os pais verdadeiros. Embora não tivesse queixa de Victor e Lucile, que ofereceram a ele uma ótima educação, ele sempre se sentiu um estranho no ninho. E ele sabia que a atitude recente de Victor, foi por causa da nova namorada, a tal Arlete que só quer arrancar o dinheiro dele. E ao que parece vai levá-lo a falência.

Melina tomou a decisão de pedir as suas férias e ir para a casa da mãe, e conversar pessoalmente com a mãe e a irmã, resolver de uma vez a situação entre elas. Vinicius queria ir com ela, mas ainda não tinha direito a férias.

  Melina viajou com o coração cheio de esperanças.

 

   Era verão, época de veraneio e o trabalho estava bem calmo. Vinicius estava sozinho no salão de vendas, quando uma elegante senhora entrou acompanhada de seu motorista. Ele a observou de longe, permitiu que ela andasse entre os carros e os examinasse com tranquilidade. Alguns minutos e ele se aproximou dela. A mulher olhou para ele e ficou branca como uma folha de papel.  Foi amparada por seu motorista. Rapidamente Vinicius puxou uma cadeira e providenciou um copo com água. Estava uma tarde quente, e a senhora provavelmente teve uma queda de pressão, foi o que Vinicius pensou.

  A mulher o olhava como se tivesse visto um fantasma. Depois de beber alguns goles de água, ela respirou fundo e a palidez se foi. Sempre olhando para Vinicius, ela respondeu ao motorista, dizendo que estava bem. Mais animada ela disse ao Vinicius:

  -- Desculpe-me moço. Mas como tu te chamas?

  -- Meu nome é Vinicius Dalla Luce. A senhora me parece assustada...

  -- Realmente eu vi em ti a imagem perfeita do meu falecido irmão. Foi uma emoção inexplicável. Eu vim até aqui porque quero trocar de carro. Mas isso pode ficar para depois. Deixe-me me apresentar: sou Fernanda Gusmão de Andrade Bello. Agora eu preciso conversar contigo, Vinicius é o teu nome. Podemos conversar?

   -- Sim. Estou as suas ordens, minha senhora. Por favor vamos até a minha mesa.

   Vinicius indicou a direção e Fernanda Gusmão de Andrade Bello o acompanhou, enquanto que Jorge, o motorista seguiu examinando os carros. Depois dela estar sentada, Vinicius serviu-lhe mais um pouco de água fresca. Sentou-se a sua mesa e esperou que ela falasse.

   -- Pode parecer loucura... – disse ela – mas há possibilidade se seres meu sobrinho. Não sei qual é a tua história de vida, mas a tua semelhança com o meu irmão, Filipe é espantosa. Me fala sobre o teu pai, por favor.

   -- Eu não sei quem é o meu pai. Meu sobrenome é apenas da minha mãe. Também não a conheci, ou melhor, não me lembro, já que ela me deu para ser criada pelo casal, Victor e   Lucile Costa Vieira, quando eu tinha dois anos de idade.

   -- Então há esperanças. Felipe morreu no dia 26 de maio, em um acidente de moto, quando andava em alta velocidade, para chegar ao hospital, a tempo de ver a criança nascer. Um telefonema o fez sair de casa desesperado. Não sei qual foi a notícia que ele recebeu e nem quem ligou. Só sei o que ele me disse eufórico, antes de sair: “meu filho vai nascer”. E saiu correndo feito louco. Eu sabia que ele namorava uma moça pobre, estavam apaixonados, e havia uma criança a caminho, mas meu pai, que era muito orgulhoso e intransigente, não permitiu tal namoro. Ele estava no último semestre da faculdade, logo teria sua independência financeira e iria assumir o compromisso com a moça. Isso ele havia me confidenciado.    Então aconteceu a tragédia. Minha mãe chora até hoje e meu pai entrou em profunda depressão. A família toda sofreu as consequências da intolerância do seu Álvaro.

   -- Uma triste história... – Comentou Vinicius chocado com as palavras dela. – Bem, se essa informação ajuda, eu nasci no dia 27 de maio, pelo menos é o que consta em meus documentos.

   -- Tu aceitas fazer um teste de DNA? Sou tua tia, e devemos ter como provar cientificamente, porque fisicamente já temos a prova, pois és igual ao meu querido irmão,

   -- Faço sim.  Sempre tive curiosidade em saber mais sobre a minha origem.

   -- Muito bem. Vou marcar e te aviso. Não te preocupa é tudo por minha conta. – Disse Fernanda sorrindo. -- Agora vamos ver um carro para os teus avós. Jorge é nosso motorista há alguns anos, por isso gosto de escutar a sua opinião.

   -- Que tipo que carro está pretendendo...

   A conversação sobre os modelos expostos foi bem animada, e Vinicius vendeu para a sua “avó” o modelo mais sofisticado.

  Dias depois veio a confirmação através do exame de DNA que Vinicius era filho de Felipe Gusmão de Andrade. A tia Fernanda estava feliz e com o resultado na mão ela conduziu o sobrinho até a mansão, onde residiam seus avós. Os velhos já estavam preparados para a possibilidade de terem encontrado o neto. Porém, Fernanda não quis inverter a ordem dos fatos, e só levou o rapaz até lá, depois da confirmação.

  A semelhança com Felipe fez com que Álvaro se emocionasse, assim como Camila. Era como se o próprio filho estivesse diante deles, tal a semelhança, e até a voz era igual. Uma coisa inacreditável. Mas os velhos estavam felizes, o neto era um pedaço do próprio Felipe.

  Daquele momento em diante a vida de Vinicius deu uma reviravolta. Inúmeras perguntas dos avós e também de Fernanda, e a todas ele respondia com satisfação, pois estava feliz, muito feliz!  

   Vinicius queria que Melina estivesse ali com ele, conhecendo a sua verdadeira família. Mas fazia dois dias que não se falavam. Ele tinha ligado inúmeras vezes e só dava caixa postal. Estava preocupado com Melina.

  Sua família insistiu para que passasse a morar na mansão imediatamente, e que largasse o emprego. Ele iria trabalhar com a Fernanda na administração dos hotéis da família, a rede Clássico Hotel de Porto Alegre, de Caxias do Sul, de Torres, de Florianópolis e de Camboriú.  As plantações de oliveiras e a indústria de óleo, Azeite de Oliva Clássico, era administrada pelo Eduardo Fontana Bello, marido de Fernanda.

  Vinicius vivia um turbilhão em sua vida. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. E sentia falta de Melina...  Um vendaval tinha danificado algumas torres de telefonia e Vinicius entendeu que o lugar onde Melina estava, também tinha sido atingido. Esperou paciente, mas ela continuava sem atender o telefone.

  Ele protelou o máximo que pode, não queria ir morar na casa dos avós sem antes conversar com Melina. Mas não deu mais. Vinicius falou com dona Alba, deixou o seu novo endereço e telefona residencial, e pediu que o avisasse sobre Melina.

  Fernanda programou uma visita em todos os hotéis da rede Clássico, para que o sobrinho conhecesse cada hotel e o pessoal que ali trabalhava. Ficariam alguns dias fora.

 

-- Enfim retornastes! – Disse dona Alba, abraçando Melina com alegria – Porque essa demora e sem nenhum telefonema, o Vinicius está muito preocupado...

-- Aconteceram tantas coisas... – Disse Melina – Preciso muito acertar algumas coisas com o Vini. Estou com muitas saudades...

-- O Vinicius não mora mais aqui. A vida dele teve uma reviravolta. Mas para melhor. Ele encontrou a verdadeira família dele. Mudou-se semana passada para a casa dos avós. – Explicou dona Alba. – Ele quer muito falar contigo, acho que para te contar cada detalhe. Ele está muito feliz...

  -- Ah... Que bom que ele encontrou a família. É tão importante ter uma família. – Disse Melina pensativa.

 -- Venha! Deves estar faminta. – Disse Alba a levando para a cozinha. – Liga para o Vinicius, ele ficará feliz em saber que estás de volta. Aqui está o número – Completou ela, alcançando um pedaço de papel a Melina.

  Melina ligou, foi muito bem atendida, mas não conseguiu falar com namorado, soube que ele estava viajando com a tia a trabalho. Ela desligou muito desanimada.

  -- Ele está viajando a trabalho com a tia. – Disse Melina quase que para si mesma.

  Mas Alba que estava atenta escutou e acrescentou:

 -- Sim, ele me falou que começaria a trabalhar nos negócios da família, eles têm muito dinheiro, hotéis, fazendas e prédios. Andei pesquisando... Liga para o celular, esse outro número. Ele me deixou até o endereço, pediu pra ligares.

   -- Será que não vou incomodar? Se ele estiver em uma reunião? – Disse Melina indecisa.

  -- Deixa de bobagem menina. Ele é teu namorado!

Ela ligou e os namorados conversaram rapidamente, com a promessa de mais tarde falarem com mais calma, já que Vinicius estava entrando para uma reunião com o pessoal de Santa Catarina. Para a sua alegria, Vinicius encontrou sua boa amiga. Marcela era a gerente do hotel de Camboriú, que foi sua colega de faculdade. Vinicius ficou muito satisfeito em saber que ela faria parte de sua equipe na linha de frente.

Ela se tornara uma mulher muito bonita, simpática, elegante e inteligente. Nos tempos de faculdade ela tentara namorar com ele, mas Vinicius sempre foi muito centrado nos estudos e no trabalho. Mas agora...

 Fernanda estava entusiasmada com o seu sobrinho. Ele era um verdadeiro líder, tomou a frente das reuniões e soube cativar os seus companheiros de trabalho. Ele sabia se impor sem criar situações constrangedoras. Com simpatia e um sorriso ele trazia a reunião as questões mais difíceis, e resolvia tudo.

Uma proposta de venda os levou a Curitiba, Tanto Fernanda como Vinicius ficaram muito interessados em integrar mais um hotel a Rede Clássico. Marcela que os acompanhou se dispôs a ficar para inventariar os moveis e utensílios do hotel.

Enfim, depois de 15 dias Vinicius e a tia retornaram à Porto Alegre.

 

Melina tinha pedido demissão do seu trabalho. Ela havia decidido ir morar com a mãe, enquanto Paola estivesse estudando em Passo Fundo. Estava sentada na pensão, quando Vinicius telefonou:

-- Oi, como estás, minha querida? Quero que conheças minha família, vou te buscar para jantares aqui conosco.

-- Olá! Eu preciso ter uma conversa contigo, assunto sério, e prefiro que seja apenas nós dois. Outro dia eu ficarei imensamente feliz em conhecer tua família. Me desculpa.

-- Está bem. Vamos jantar só nos dois. Te busco às 20h. – Disse Vinicius com contrariedade na voz.

No horário combinado Melina estava pronta esperando. Ela estava nervosa, sabia que seria muito difícil falar tudo o que precisava para Vinicius. Ela tinha se arrumado com capricho, usava um vestido novo, um modelo bem atual na cor azul cobalto. Tinha prendido os cabelos de um jeito diferente. Ela estava elegante e bonita. Suas amigas da pensão, observaram que ela estava muito bem.

Vinicius a levou em um bom restaurante. Agora ele podia voltar a sua antiga vida, onde dinheiro não era problema. Ele também estava elegantemente vestido, com um terno sob medida.

O maitre os levou para a mesa reservada. Fizeram o pedido, e enquanto esperavam, Vinicius contava sobre o seu trabalho, e a felicidade de reencontrar a sua boa amiga Marcela. Os elogios foram tantos que Melina ficou enciumada. A comida foi servida e só depois  ela iniciou o assunto, dizendo:

-- Eu já te falei que minha mãe está doente. Ela tem fibromialgia, sente muita dor e isso a deixa depressiva. Não deve ficar sozinha. Por isso eu tomei a decisão de largar o meu trabalho e ir morar com ela, enquanto a Paola estuda em Passo Fundo.

 -- Não dá para trazê-la para cá? Agora eu tenho recursos e posso te ajudar.  – Falou Vinicius preocupado.

 -- Ainda não. Ela não aceita deixar a casa dela. Tentamos de todas as formas convencê-la, mas inutilmente.

-- E como vamos fazer, meu amor?

-- Vamos voltar a ser bons amigos. Não podemos manter esse compromisso. Seremos sempre os melhores amigos, com uma conexão extraordinária... Vamos deixar a vida nos levar. Talvez no futuro a gente possa voltar...

-- Mas o amor que sentimos um pelo outro... Ou não me amas mais?

-- Não é isso. É questão de consciência. Tu precisas ser livre. Não vou me impor a nada e nem a ninguém. Entenda isso. Estar livre não significa sair namorando, e sim ter a liberdade de escolher: se quer esperar ou seguir em frente. Será a tua escolha. Ainda mais agora que encontrastes a tua verdadeira família...

-- Está certo! Quando vais?

-- Fico esse mês, estou de aviso prévio de dispensa. Ainda não saiu o meu dinheiro. Fiz um acerto com o shopping. Eles me despediram, mas vão me pagar só a metade. Falta assinar alguns documentos.

-- Mesmo assim quero que conheças a minha tia e meus avós. Eu tenho um primo, que ainda não conheci, ele estuda na Inglaterra.

-- Sim eu quero conhecê-los.

-- Amanhã pela manhã, nós vamos sair para comprar um telefone novo para ti, com mais recursos tecnológicos, pois será o nosso meio de comunicação.

-- Estou mesmo precisando. O meu foi parar fundo do riacho. Paola endoideceu, arrancou o telefone da minha mão o atirou na água. Agora entendo a minha irmã, ela está estressada de cuidar a mãe, que quando está com dores fica insuportável.

A conversa seguiu, já era tarde quando ele a deixou na pensão. Nem um beijo trocaram, já que eram só amigos. Ele estava inconformado com a situação. Mas estava de “mãos atadas”.

Na manhã seguinte ele passou cedo para pegá-la. Iriam escolher o telefone e depois Vinicius a deixaria no Shopping Nobillis.

Já na loja de eletrônicos ele a deixou escolhendo o telefone e foi olhar os computadores. Sem que Melina percebesse, Vinicius comprou também um PC para ela.

Melina estava nervosa, tanto que suas mãos estavam úmidas de suor. Quando Vinicius estacionou entrou pelo portão de carro, ela pode ver o imenso jardim que rodeava a enorme casa... Era linda!

Vinicius estacionou o automóvel, desceu, contornou o carro e abriu a porta para ela descer. Ao tocar em suas mãos ele percebeu o nervosismo dela, e falou:

-- Não fica assim. Meus avós são pessoas simples, apesar da aparência. Tu estas comigo. Me dá a mão se te sentes mais segura.

-- Sim. Fica perto de mim, por favor...

A casa por dentro era ainda mais bonita. Nunca tinha visto algo assim... só em filmes. Nunca imaginou que entraria, algum dia em sua vida, numa casa de rico. Ela avistou o casal de velhos sentados confortavelmente num dos cantos da sala, próximos a janela.

Vinicius foi logo anunciando a presença deles, quando disse:

-- Meus queridos avós, essa é a Melina.

Seu Álvaro logo levantou-se e a cumprimentou com polidez. Ao apertar sua mão ele comentou:

-- És mesmo muito bonita, Melina. Muito prazer, seja bem-vinda a esta casa.

-- Obrigada, senhor. É uma alegria conhecê-lo – Disse ela sorrindo.

Camila já esperava de braços abertos, feliz ela disse:

-- Venha cá minha filha. Me dá um abraço. Meu neto fala muito em ti. Estava ansiosa para te conhecer.

-- Muito prazer. Eu também estava querendo conhecê-los, pois são a família do Vini. Quando eu o conheci ele estava sozinho no mundo...

-- Sim, eu soube do mau procedimento daquele homem. Mas agora estamos aqui para amá-lo...

-- Vamos sentar, minha filha. Sente-se perto de mim...

Melina sentou ao lado de Camila no sofá. Ela olhou para Vinicius e sorriu. O nervosismo tinha passado. Ele apenas sorriu para ela e sentou-se na poltrona próxima.

A conversa fluiu. Camila era alegre e simpática e gostou muito de Melina. O mesmo aconteceu com a moça, que se sentiu bem acolhida naquela casa. Fernanda e Eduardo chegaram logo em seguida e como a mãe, ela também acolheu com carinho a amiga de seu sobrinho.

Aqueles dias passaram rapidamente.

Camila estava triste com a partida de Melina. Ela era uma boa moça, pensava Camila, e gostava sinceramente de seu neto. Dava para perceber no olhar amoroso da moça, e também Vinicius gostava muito dela. Apostava nos desígnios de Deus, que providenciaria a união entre eles, para a felicidade dos jovens.

Camila fez um almoço de despedida para a Melina, foi um dia especial, mesmo havendo uma tristeza no coração, Vinicius e Melina tentaram manter a alegria do encontro. Álvaro observou os jovens e os aconselhou, dizendo:

-- Há entre vocês algo muito forte. Peço que façam o impossível para não se perderem... pois a vida apronta, se não nos mantivermos atentos.

Vinicius e Melina olharam para ele e sorriram, mas ambos sabiam que teriam dias difíceis pela frente.

 

Fernanda foi até a sala do sobrinho para conversar sobre o futuro, ela tinha alguns planos e precisava discutir com Vinicius. E no meio da conversa ela sugeriu:

-- Vini, tu deverias ir para Nova York fazer um curso de hotelaria. Eu andei me informando e inicia em setembro. Acho que seria muito bom, pois ali terás noções das tendências do ramo. Precisamos estar atualizados.

-- Até quando é a inscrição?

-- Encerra daqui a uma semana. Dá tempo para pensar e se organizar. Teu passaporte está em dia?

-- Sim, meu visto está atualizado.

Dias depois foi a vez de Vinicius se despedir dos avós.

Vinicius chegou a Nova York uns dias antes. Instalou-se no hotel onde o curso seria ministrado, e logo conheceu seus colegas de turma, a maioria era americanos, mas tinha mexicanos, chilenos e argentinos. Ele logo fez novas amizades. Sim, porque após o reverso em sua vida, Vinicius aprendeu que é preciso ter amigos, sobretudo, bons amigos.

Ele havia avisado a Melina, e combinaram de se falarem todos os dias, como faziam. Mas não pensaram no fuso horário e os desencontros aconteceram, e agora eles falavam raramente.

Melina não se acertava com sua mãe, que era autoritária e nunca a considerou a sua filha preferida, muito ao contrário. Seus irmãos, mesmo sabendo do declínio de saúde da mãe, não se dispuseram a vir, e a situação de dona Jacira só piorava.

Então, numa manhã fria de junho, dona Jacira não acordou.

A morte da mãe não foi surpresa para Melina, que a viu definhar dia a dia.

Autorizada pelos irmãos ela vendeu a pequena casa e repartiu o valor entre eles.


Livre dos compromissos familiares, Melina retornou a Porto Alegre e foi alugar um quarto na pensão de dona Alba. Ali ela sentia-se bem, ali era tratada com consideração por todos, especialmente por dona Alba.

-- Minha querida! Que bom que voltastes! – Disse Alba a abraçando Melina com carinho. – Queres um quarto, ou estás só de visita?

-- É muito bom estar de volta. Senti saudades de todos... – Falou Melina deixando-se abraçar pela dona da pensão. – Eu preciso de um quarto. E por muito tempo.  Minha mãe morreu...

-- Oh! Meus sentimentos. E a tua irmã?  Vem para cá também? – Quis saber Alba.

-- Não. Ela está estudando em Passo Fundo. Fica por lá. – Explicou Melina. – Nós não nos entendemos, e vãos seguir separadas, ela lá e eu aqui.

-- Tenho para ti um quarto melhor... – Disse Alba dirigindo-se ao quarto. – Este!

-- Bah é muito bom, mas será que eu posso pagar por ele? Ainda estou desempregada...

-- Mantenho o valor antigo até conseguires um emprego. Combinado?!

-- Sim. Vou ficar muito bem instalada, e tem banheiro privativo!

-- Sim! Reformei este lado da casa.

Melina se instalou e depois foi conversar com suas antigas amigas que estavam chegando do trabalho. As novidades eram muitas. A conversa se estendeu até tarde.

No dia seguinte Melina saiu atrás de trabalho. Não queria mais trabalhar em loja, almejava trabalhar em um escritório, pois agora já tinha o seu diploma de Administração de Empresas. Não foi fácil, mas  ela conseguiu um lugar com um ótimo salário. Trabalharia de segunda a sexta-feira. Nunca tinha tido o fim de semana livre. Melina estava tranquila. Sentia-se quase feliz. Faltava apenas a presença de Vinicius para ficar completamente feliz.

Melina lembrou-se do aniversário de dona Camila. Ela gostava muito da boa senhora. Se encheu de coragem e no sábado à tarde foi visita-la, sem avisar. Ela tocou no interfone e aguardou. Ela se identificou e a porta foi logo aberta. Logo atrás entrou uma moça bonita e elegantemente vestida.

Ao avançarem pelo jardim, a estranha, falou para Melina, com voz alterada:

-- A entrada de serviço é pelo lado. 

-- É? Mas eu sempre entrei nesta casa, pela porta principal. – Respondeu Melina com educação.

-- Mas que atrevimento... Não admito que me retruques... Sua...

Da janela da sala Camila observava a cena. Então se apressou e abriu a porta para evitar maior constrangimento para Melina.

-- Minha querida! Que saudade! – Falou Camila abraçando Melina. – Venha vamos entrar. – E virando-se para Marcela disse – Como vais Marcela. Entre.

Marcela ficou indecisa. Não sabia como agir. E tratou de ir embora com uma desculpa esfarrapada.

-- Não vou entrar... Eu passei por aqui, só para lhe entregar essa lembrancinha. Estou super atrasada. Uma amiga me espera... —Disse ela enquanto tirava da bolsa um pequeno pacote.

-- Obrigada! É muita gentileza. – Disse Camila aceitando o presente.

Marcela saiu rapidamente dali.

Para Camila e Álvaro a presença de Melina foi uma imensa alegria. Eles gostavam muito dela e torciam para que quando o neto retornasse a procurasse para um compromisso formal.

Naquela noite Melina teve dificuldade para dormir. Vinicius estava por chegar. Fazia mais de ano que eles não se viam, e muitos meses que não se falavam. Mas essa informação ela evitou de dar aos avós dele, que nutriam pelo neto uma fervorosa admiração.

Os dias passavam rapidamente...

Melina recebeu um convite de dona Camila para um almoço de domingo. Ela chegou pontualmente no horário marcado. Já se encontravam presentes Fernanda acompanhada do marido, e queixando-se do filho, que ainda permanecia na Europa, mesmo estando com os estudos terminados.

Estavam todos sentados na sala, quando Vinicius e Marcela entraram demonstrando intimidade. Melina sentiu seu coração gelar. Vê-lo com outra era difícil, mas vê-lo com aquela criatura, em especial, era terrível.

-- Bom dia! Eu... – Disse Vinicius interrompendo a fala quando viu Melina ali sentada. Ele tentou se desvencilhar de Marcela, mas ela não permitiu. – Desculpem o atraso. – Completou ele.

O almoço transcorreu num clima pesado. Embora Melina tentasse disfarçar, ela não conseguia deixar de olhar para Vinicius. Parecia que um imã a puxava para o lado dele. Mas ele também estava tenso, e foram muitas as vezes que seus olhares se encontraram e se mantiveram presos um no outro.

Marcela estava contente e bem falante.  E contou em detalhes a sua aventura, quando foi encontrar Vinicius em Porto Rico. Ela se demorou falando da beleza do lugar, a parte antiga da capital, San Juan era encantadora, com o seu casario pintado de cores fortes. Também as praias eram maravilhosas E terminou dizendo que foi em meio a esse cenário, que eles iniciaram o namoro. Vinicius nada dizia, só olhava para Melina como se quisesse se desculpar.

Camila observava o comportamento do neto diante de Melina.

Na primeira oportunidade que teve, Melina aproveitou para ir embora. Com uma desculpa qualquer, ela saiu apressadamente daquela casa. Ao chegar à rua ela suspirou profundamente e deixou que lágrimas rolassem em suas faces. Caminhava apressada, ela só queria fugir dali, o mais rápido possível.

Dias depois Camila ligou a convidando para almoçar, mas Melina educadamente recusou, com desculpa de um compromisso já assumido. Mais alguns convites foram recusados, e Camila muito triste comentou com o marido:

-- O Vinicius fez uma bobagem das grandes.

-- Explica... – Pediu Álvaro.

-- Esse namoro dele com essa Marcela. Essa moça não gosta dele...

-- Nem ele dela. – Afirmou Álvaro.

-- Não entendo porque ele deixou a Melina escapar. Essa sim gosta dele de verdade. Eu vejo no fundo dos olhos dela. Pois, quando ele está por perto os olhos brilham de forma diferente. Assim como os dele. – Explanou Camila ao marido.

-- Sim. Eu também percebo que existe uma forte sintonia entre eles. Mas foi ela quem terminou o namoro. – Disse Álvaro.

-- Sim, eu sei. Foi quando Fernando o encontrou. Ele tinha uma família para conhecer e se entrosar, e inteligentemente, Melina deixou espaço na vida dele para isso. O tempo correu e ele podia ter ido atrás dela. Mas agora está envolvido com essa biscateira de Marcela.

-- Marcela foi colega dele na faculdade, tem boa condição social.

-- São novos ricos, segundo soube de dinheiro mal havido... Ela está atrás do dinheiro dele. Procure observar os assuntos e o comportamento dela. Pergunte a Fernanda.

-- O que a Fernanda disse a respeito de Marcela?

-- Fernanda não, Eduardo o teu genro.

Álvaro ficou pensativo. Lembrava-se vagamente de um escândalo financeiro de alguns anos atrás, mas não recordava do nome das pessoas. Na primeira oportunidade conversaria com Eduardo sobre o assunto.

Camila nunca mais ligou para Melina. Ela entendia a razão pela qual a moça havia se retirado de sua casa. Mas sentia muitas saudades dela, pois além de bonita, a garota era inteligente e sincera, coisa rara nos tempos atuais.

 

Vinicius andava cansado de tanta festa, de tanta gente chata. Já não bastava os que precisava aturar por causa do trabalho, Marcela insistia em ir a todas as festas e fazia questão de ser fotografada para sair na crônica social. Ele daria um basta!          

-- Mais uma festa, Marcela! Eu não gosto desse tipo de vida. Definitivamente, não conta mais comigo, porque eu não irei ... – Falou Vinicius contrariado.

-- Mas amor, nós precisamos fazer representação social.

-- Eu pago um bom salário para o Lucas e a Angelica fazerem esse trabalho.

-- Tu és o meu namorado, tens que me acompanhar. – Exigiu Eduarda.

-- Muito bem. A partir desse momento o nosso namoro está terminado. Resolvido!

-- Mas... – Protestou Marcela.

-- Está decidido. Não te quero mais. – Afirmou ele.

Ele levantou-se e foi embora. Vinicius agradecia a sua tia Fernando, por ter o aconselhado a não ir morar junto com a Marcela. Usou como desculpa a tristeza dos avós se ele saísse de casa. Quando ele fechou a porta do apartamento ao sair, ele sentiu a liberdade que tanto almejava. Esse namoro o estava sufocando. Livre! Estava livre!

Melina que acompanhava os passos de Vinicius pelo jornal, estranhou que nas fotos recentes Marcela andava sozinha. Será que tinham terminado a relação? Os dias passaram e Marcela tinha sumido da crônica social. Alguma coisa tinha acontecido, e ela não tinha como saber. Resolveu esquecer o assunto.

Vinicius aproveitou o fim do namoro e programou fazer um giro pelos hotéis, hospedando-se como mero hospede, utilizando seu sobrenome materno, e usando óculos. Assim ele podia avaliar o atendimento. E esse tempo ele usou para refletir sobre a sua vida. Andava infeliz, não por ter terminado com Marcela, mas por estar distante de Melina.

 

Era tarde da noite de uma sexta-feira, quando Melina recebeu um telefonema estranho. Alguém, se identificando como Julia, e funcionária da casa, estava avisando que dona Camila não estava bem. Tinha sido hospitalizada, informando qual o hospital.

Assustada, Melina ligou para o hospital para confirmar, e era verdade. Dona Camila não estava nada bem. Ela vestiu-se apressadamente e foi para o hospital. Lá ela encontrou seu Álvaro acompanhado por um rapaz, deveria ser o filho da Fernanda, portanto era o primo de Vinicius. Ele era muito bonito, simpático e chamava-se Andres. Seu Álvaro ficou contente ao ver Melina, e logo fez as apresentações.

-- Como soubesse, minha querida? – Quis saber Álvaro.

-- Uma moça chamada Julia me ligou. Então vim logo para cá. Como dona Camila está, e o que aconteceu?

-- Ainda não sabemos... – Disse Andres – Ela está fazendo mais exames.

Foi nesse instante que Vinicius chegou apressado. Querendo saber como estava a avó, quando se deparou com Melina.

-- Oi, como estás? Faz tempo! – Disse Vinicius a abraçando.

O médico se aproximou do grupo e explicou que Camila estava bem, tinha tido uma pequena isquemia, mas teria que ficar em observação, pelo menos mais 24h. Ele permitiu que o marido entrasse para vê-la.  Melina ao saber que Camila estava bem, resolveu ir embora.

-- Já que dona Camila está bem, eu vou embora. Amanhã eu ligo para saber dela. Tchau... – Disse ela tomando a direção da saída.

-- Espera... Eu te levo. Andres fica com o vô. – Falou Vinicius olhando para o primo, que acenou positivamente com cabeça.

Vinicius apressou o passo e alcançou Melina,

-- Calma, para que toda essa pressa. Até parece que queres fugir de mim... Queres? – Perguntou ele com curiosidade. Ele a tomou pela mão e ambos caminharam em silencio até o estacionamento.

Já dentro do carro ele insistiu.

-- Não respondeste... Por que me evitas? Eu te fiz alguma coisa?

-- Não fizestes nada. Sou eu que...

-- Tu o quê?

Melina suspirou e olhou para o outro lado. Lágrimas surgiram e ela não queria que ele a visse, assim tu vulnerável a presença dele. Ela o amava, o queria muito e a razão dizia que ela não devia se arriscar. Ele estava em outra esfera social...

Vinicius percebeu que ela estava emocionada, assim como ele. Fazia muito tempo que não se viam, e esse encontro inesperado mexeu com as emoções deles. Sinal de que o amor estava presente.

Ele acarinhou seu braço, e a fez virar-se para ele, e lentamente se aproximou e a beijou suavemente. Afastou e a olhou nos olhos e a beijou novamente, agora um beijo profundo.

-- Eu te amo – Confessou ele. – Eu te quero, outra vez, em minha vida...

Melina absorveu aquele momento, nada disse. Tinha receio de ser precipitada. Não era assim, as coisas não funcionavam, não era como num passe de mágica. Ela não queria sofrer novamente. Ela apenas se deixou envolver.

-- Eu sofri com a nossa separação. Me atirei no trabalho para superar, depois o curso em Nova York e a loucura da cidade e o fuso horário atrapalhou a nossa comunicação. Eu sei. Mas sempre estivestes no meu coração, guardei esse amor a sete chaves. Mas ao te ver hoje... Confesso que arrombastes o cofre do meu coração e o amor explodiu. Ah minha amada, não vou te deixar nunca mais.

-- Me leva para casa. Amanhã conversamos. Do jeito que estou não tenho condições de pensar com clareza. Não podemos ser imprudentes, faríamos mal a quem nos quer bem.

-- Certo amanhã...

Vinicius deu partida no carro. Fizeram todo o percurso em silencio. Ele estacionou em frente a pensão, olhou para a casa modesta e disse:

-- Eu tenho boas lembranças desse lugar. Fui muito feliz... Amanhã as 10h. Venho te pegar, vamos conversar e depois vamos ao hospital.

-- Combinado. Até amanhã. – Disse Melina saindo do carro e entrando apressada na casa. Acenou para ele da porta.

Vinicius deu partida no carro e foi para casa. Precisava pensar. Ele teve um arroubo que a deixou pasmada, mas continuava firme na intenção. Ele queria, ele precisava de Melina em sua vida.

Na hora combinada Vinicius estacionou o carro em frente pensão, e Melina surgiu na porta. Ela estava linda! Vestia uma calça de brim e uma blusa cor de ferrugem. O cabelo solto caindo pelos ombros e um sorriso de tirar o folego.

-- Bom dia! – Disse ela entrando no carro.

-- Bom dia! Estás linda! Aonde queres ir? – Falou Vinicius.

-- Está uma linda manhã. Podíamos ir para a beira do Guaíba. Sentar num banco, apreciar a beleza do lugar conversar, que achas?

-- Excelente sugestão. Vamos – Disse dando partida no carro.

Eles percorreram as ruas da cidade observando o movimento e falando banalidades. Caminharam pelo parque e sentaram em um banco a sombra de uma árvore e apreciaram a paisagem.

Vinicius pegou a mão de Melina e beijou. A olhou nos olhos e falou:

-- Eu te amo e te quero em minha vida. Vou repetir isso sempre, porque tu és a razão do meu viver. Tu me aceitas em tua vida?

-- Eu pensei sobre isso, e estou segura do que quero.

-- E o que queres?

-- Compartilhar a minha vida contigo. Estar contigo... Te amar...

-- Ah minha querida... Vamos ser felizes. Aceitas casar comigo em breve?

-- Sim. Eu aceito.

-- Vamos para um lugar aonde eu possa te beijar, e depois vamos contar essa novidade para a dona Camila.

-- Sim vamos.

 

O casamento aconteceu no fim do ano.

Após uma recepção para os amigos o casal embarcou para Curaçao, onde passariam 15 dias em lua de mel. Foram dias especiais, Melina encantou-se com a ilha, a cidade de Willemstad com os prédios em tons pasteis, o azul transparente da água e com o carinho e a dedicação de Vinicius, que era um homem maravilhoso em todos os sentidos.

A primeira vez deles foi difícil, ele estava com medo de machucá-la, mas Melina era corajosa e o incentivou a cumprir o seu papel com toda a energia...

Já Vinicius encontrou na esposa tudo o que sonhara... Ela era sua, unicamente sua... Nunca havia sido tocada por nenhum outro homem. E ela havia se revelado ser uma amante vibrante, que o deixava enlouquecido.

A lua de mel foi perfeita!

Ao retornar o casal aceitou o convite do vô Álvaro de morar no casarão. Como os velhos estavam com dificuldade para subir as escadas, uma saleta, no térreo, foi transformada em quarto.  E o andar de cima foi arrumado para o casal, com salas e até com uma pequena cozinha. E o casal passou a morar ali, praticamente junto dos avós, sentiam-se afortunados com a felicidade do neto tão querido.

Vinicius e Melina eram a felicidade. Eles irradiavam o amor que sentiam, deixando tudo a sua volta mais bonito.

                                                                           Maria Ronety Canibal

                                                                                  Setembro 2021

 

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