sábado, 6 de abril de 2019

A HORA DO AMOR


                                          


                                                               A HORA DO AMOR



             





Adriana estava no aeroporto de Guarulhos, SP, esperando seu vôo para Milão. Teria que esperar mais de duas horas, foi para cafeteria. Enquanto saboreava seu café, ela começou a lembrar fatos de sua vida.

A saída tinha sido difícil. Além de sua família, seus amigos estavam no aeroporto para se despedirem dela. Fizeram uma algazarra, foi até divertido, mas ao dar o último adeus ela não conseguiu se controlar e chorou.

 Ela estava com 25 anos e havia decidido dar  outro rumo em sua vida. Pois, até então tudo tinha dado errado. Ela era desenhista de não conseguia um trabalho adequado, sua família era ótima, amava suas irmã e seu pai fazia todas as suas vontades, e  era muito apegada a sua mãe, mas isso não bastava.

Ela queria mais, ela queria se realizar profissionalmente e como mulher. Ela queria amar e ser amada. Ela nunca tivera  um namorado, nunca apareceu um cara que a interessasse. Suas irmãs mais novas já estavam comprometidas, Betina com 23 anos já estava casada com Mauro e Carina estava noiva de Luis e logo estaria casando.

Renato era apaixonado por ela, eles se conheciam desde o tempo de escola, ele era um cara legal, tinha se formado em medicina e sempre insistiu para namorar com ela. Ela gostava dele, era um bom amigo, mas não podia ser mais que isso. Ela tinha chorado muito na ultima vez que ele se declarou para ela. Não queria magoar seu querido amigo, mas teve que ser firme, e acabou magoando.

E  isso a fez pensar.

Talvez ela estivesse no lugar errado. Por essa razão resolveu mudar para Milão, afinal, foi  o lugar em que ela nasceu. Não era um lugar totalmente desconhecido. Seus pais, quando casaram foram morar em Milão por razões de trabalho. Permaneceram por quase três anos, e o primeiro ano de vida, ela viveu na Itália, precisamente em Milão.

Ela juntamente com sua família tinha voltado várias vezes para rever os amigos que ali deixaram. Mantinham fortes laços de amizade, e também comerciais. E  nos primeiros dias Adriana ficaria hospedada na casa de um casal de amigos. Enzo e Victoria eram os melhores amigos de Augusto e Helena.

Ela estava muito  esperançosa, tinha certeza que tudo daria certo. Não queria voltar derrotada para casa. Queria se tornar uma vencedora no lugar que escolheu para viver.

Estava tão distraída pensando que quando se  deu conta que estavam chamando para o seu voo ela precisou sair depressa. Enfim estava acomodada em sua poltrona. Seria uma longa viagem...  Depois  de quase doze horas de viagem Adriana estava cansada. Mas já tinha  avistando o aeroporto de Malpensa.

Quando ela chegou ao saguão do aeroporto, Adriana logo avistou o casal amigo de seus pais. Enzo e Victoria. Foi alegremente recebida por eles e que a levaram para sua casa, uma vila nas cercanias da cidade.

Era uma bela casa, rodeada por um vasto jardim, com canteiros floridos margeando as aleias que cortavam o gramado sombreado por imensas árvores. Enzo e Victoria eram donos de uma tecelagem, e estavam diretamente ligados ao mundo da moda.

Sua família também trabalhava com moda, tinham um grife e os tecidos que usavam em suas confecções, eram todos italianos. Suas irmãs trabalhavam na confecção uma na criação e a outra na composição das peças. Seus pais administravam.

Adriana era formada em desenho,  e seu sonho era criar as estampas dos tecidos, e ali na Itália estava a sua oportunidade. Ela tinha uma proposta de Victoria de fazer um estágio na indústria, na parte da criação para ver se adaptava ao trabalho.

Enzo queria que ela esperasse uns dias para iniciar. Ele primeiro queria reunir os seus assessores diretos em um almoço informal, que seria no próximo sábado,  para todos a conhecerem e ela poder se ambientar. Victoria e Enzo estavam fazendo o máximo para dar tudo certo para ela.

Sábado amanheceu esplendido, um dia com temperatura agradável e um sol intenso. Estava tudo sendo preparado e o almoço seria ao ar livre sob um pergolado.

Ela se vestiu com cuidado, queria causar boa impressão e vestiu um vestido primaveril de fundo branco  com um floral miúdo em tonalidades de lilás e verde claro. Calçou sandálias lilás que combinava perfeitamente. Deixou seus cabelos soltos e usou pouca maquiagem e passou um batom rosa suave.

Algumas pessoas já tinham chegado quando ela desceu. Ela sabia que alguns iriam trazer suas esposas ou noivas. Ela se aproximou de Victoria, pois precisava ser apresentada a todos.

Adriana foi apresentada aqueles que já estavam, e ficou por ali conversando com Marcela, que era gerente de um dos setores da fábrica. Pietro havia se aproximado e se integrou a conversa.

Pietro era do setor de produção, um jovem bonito e simpático, que demonstrou abertamente interesse por ela. Ele era solteiro e considerado um bom partido, foi o que segredou Victoria ao seu ouvido ao apresentá-la  a ele.

Enquanto falava ela observava a entrada  do jardim e  surgiu na porta  um homem alto e loiro e ao olhar para ele , ela sentiu suas pernas ficarem bambas, e seu coração pulsar forte. Ela precisou se apoiar na coluna. Nunca tinha acontecido isso com ela.  Não poderia ser por causa daquele cara. Decididamente não!

Enzo o acompanhava junto com uma jovem que parecia estar com ele. A medida que eles se aproximavam ela começou a gelar, e quando o rapaz a cumprimentou, sua mão era uma pedra de gelo. Tanto que ele olhou para ela sorrindo e colocou sua outra mão sobre a dela, quase como um carinho.

A moça se aproximou, apenas acenou com a cabeça e enganchou sua mão no braço do rapaz. Dome nico era o seu nome, o rapaz, que a olhava com intensidade. Criou um clima entre eles. E Carla percebeu. Enzo afastou-se e foi receber outros convidados e logo os apresentou a ela, o que obrigou Domênico se afastar com sua noiva Carla.

Adriana não conseguia se dominar, seus olhos  buscavam olhar para Domenico que também a olhava de maneira especial. Pietro observou a troca de olhares, mas isso não o intimidou, e ele não se afastou de Adriana.

Por ironia Victoria a levou para sentar perto de Domênico, e pediu a ele que dessa atenção a ela, que provavelmente seria sua colega de trabalho. Carla mordeu o lábio ao ouvir o que Victoria dizia.

Adriana falava perfeitamente o italiano e logo eles entabularam uma conversa sobre os processos de manufatura dos tecidos. Carla se sentiu fora do assunto, então se levantou e saiu,  foi para outro grupo conversar.

Domênico foi o ultimo a sair, já era fim de tarde e Enzo ao se despedir pediu que ele viesse outro dia, no domingo, para almoçar com eles, precisavam conversar particularmente. 
Ele assentiu e saiu. Só quando estava perto de casa que Domênico percebeu que sua noiva havia sumido. Carla era muito ciumenta e possessiva. Ela deveria estar furiosa, e no outro dia ele também não iria estar com ela. Paciência!

Domênico sempre foi um menino quieto, gostava de estudar e quando chegou à mocidade, como qualquer rapaz teve suas aventuras e experiências sexuais. No entanto nunca amou  ninguém, nunca soube o que era paixão, nunca ficou fascinado por nenhuma mulher.  Mas ele era homem, e quando queria suprir suas necessidades, contratava uma profissional.

Foi Carla quem tomou todas as iniciativas para namorarem, e agora ela o estava pressionando para casar. Ele estava deixando rolar. Não queria passar a vida só, queria construir uma família, e Carla era uma boa moça, bonita, simpática. Carla era cirurgiã dentista, bem estabelecida e com fortuna pessoal. Era o que se chama de bom partido, mas ele não sentia nada além de amizade por ela. Mas já estava com 32 anos e precisava criar raízes.

Isso às vezes o deixava preocupado. Talvez não fosse normal um homem não sentir nada pelas mulheres. Teria alguma coisa errada com ele? Mas depois de por seus olhos em Adriana ele soube que não. Tinha ficado fascinado por ela, nunca em toda a sua vida se sentira assim diante de uma mulher.

Adriana era linda, simpática, inteligente e tomou conta de seu coração. Foi em um momento apenas e ele se entregou totalmente e ela. Que olhos! Que boca! Que corpo! Ele ficou tomado de desejos por Adriana. Ele mal a conhecia e ela seria sua colega de trabalho, além de ser protegida de Enzo e Victoria. Ele não podia vacilar...

Quando Domênico chegou em seu apartamento, encontrou Carla que o esperava e estava muito zangada.. E ele mal pôs os pés na sala e ela foi logo dizendo:
-- Tu esqueceste completamente de mim por causa daquela brasileira de nariz empinado. Uma barbaridade, eu tua noiva me afastei para não bancar a ridícula...
-- Tu te apartaste porque quis. Victoria pediu para eu dar atenção a ela, tu estavas ali e ouvistes. Depois tu saíste sem nem pedir licença. Querias que eu fosse atrás de ti?
-- Devias ter vindo atrás de mim. Mas amanhã vais me compensar, vamos para vinícola passar o dia.
-- Não. Enzo me convocou para uma reunião particular.
-- Isso é um complô contra mim?
-- Não sei, mas Enzo e Victoria sempre te trataram muito bem, devias ser mais prudente em tuas observações.
-- Telefona dando uma desculpa para não ir. Fica comigo.
-- Não. Eu devo muito a ele, e não vou decepcioná-lo. Meu trabalho depende disso. Esquece. Estou cansado, foi um dia cheio, vou te levar para a tua casa.
-- Não queres nem a minha presença...
-- Eu preciso ficar só.
-- Certo!  Qualquer dia nós nos falamos... Tchau.

Carla saiu muito preocupada, pois Domênico nunca agira dessa maneira, algo tinha acontecido e ela não sabia. Precisava descobrir. Mas ela não ai deixar ser fácil, ela iria complicar a vida de Adriana.

Naquela noite Adriana dormiu mal. Fora um dia agitado, tinha conhecido muitas pessoas e uma em especial a tinha perturbado muito. Será que isso era amor?

E Domênico era lindo, forte, com aqueles olhos azuis que a deixaram de pernas bambas. Mas ele era comprometido. Pobre moça, Carla deve ter percebido o jeito dela, tanto que até saiu dali. Mas ela não pode evitar, até ela ficou surpreendida consigo mesma. Nunca tinha acontecido uma coisa dessas.

E como seria amanhã? Será que ela ficaria abalada novamente, será que toda a vez que visse Domênico ela teria essas sensações? E provavelmente iriam trabalhar juntos... Que situação.

Adriana não sabia se Victoria tinha percebido alguma coisa, mas o fato foi que a noite, enquanto comiam um lanche, apenas as duas,  ela tinha feito muitos elogios a Domênico, que era o braço direito de Enzo, ainda tão jovem e tão responsável. E disse também que ele era um bom moço, muito sério e correto. Que de uns tempos para cá andava com Carla, aliás, e pelo que sabia, fora Carla quem o enredara. Para Victoria, Carla não era a pessoa ideal para ele, eram muito diferentes, se eles casassem, não daria certo.

Adriana deitada em sua cama pensava em todos os acontecimentos do dia, e Domênico se tornara o centro de seu pensamento. Esqueceu até que Pietro a convidara para sair no outro dia, mas ela sabiamente havia recusado, dizendo que já tinha algo combinado com Victoria. Adormeceu pensando nele. Sonhou com ele.

Domênico também teve problemas para dormir, Adriana o tinha impressionado muito. Ela estava em seu pensamento e havia Carla...

No outro dia Domênico acordou cedo, saiu para dar uma caminhada, estava tenso, precisava relaxar, e enquanto caminha procurava colocar seus pensamentos em ordem, mas a ordem estava invertida, porque era Adriana que estava em primeiro lugar.

Quando chegou a “Bella Villa”, Domênico encontrou Adriana e Victoria passeando pelo jardim. Ele as cumprimentou e foi para o escritório onde Enzo o esperava.

Adriana estava vestindo jeans e uma blusa de seda verde claro, que iluminava seu rosto, acentuando a cor de seus cabelos na tonalidade castanha médio. Ela estava linda foi o que observou Domênico.

Adriana quis disfarçar, mas ficou outra vez perturbada ao vê-lo. E Victoria notou, tanto que logo que o rapaz se afastou ela disse ao ouvido de Adriana:
-- Ele é lindo, não achas?
-- Sim, muito lindo e simpático...
-- Que bom que gostastes dele...

Adriana não falou mais nada, tinha receio de trair seus sentimentos, que agora estavam claros para ela. Ela estava apaixonada por ele. Suas mãos tremiam tanto que as colocou para trás para Victoria não ver.

O almoço ao ar livre foi muito agradável, conversaram sobre os pontos turísticos da cidade e sobre viagens. Um assunto envolvente e todos tinham um fato para relatar. Já na hora da sobremesa foi Victoria quem falou:
-- Domênico seria pedir muito se eu sugerisse que levasse Adriana para um passeio pelas redondezas para ela conhecer melhor este lado da cidade? Sabe Enzo e eu estamos cansados de ontem e vamos descansar um pouco agora no inicio da tarde, mas vocês são jovens...
-- Será uma imensa alegria poder levar Adriana, e vamos encerrar em uma pizzaria, portanto só a trarei de volta a noite.
-- Oh... Eu sabia que podia contar contigo. “Grazie”...

Depois de terem tomado o café, Adriana foi buscar sua bolsa para sair, e Victoria aconselhou a levar um abrigo, a noite sempre esfriava um pouco. Os jovens deram adeus e saíram.

Enzo olhou para sua esposa e a repreendeu:
-- Por que fizestes isso? O rapaz esta comprometido com Carla.
-- Mas esses  dois têm futuro. Eu percebi o jeito que eles se olharam pela primeira vez. E se prestares atenção vais ver que tem uma química entre eles. Domênico não ama Carla. Se ele permanecer com ela vai ser infeliz. Vamos dar uma chance ao amor.
-- Minha querida tu és muito romântica, mas vamos esperar.

 Domênico levou Adriana para conhecer um pouco dos arredores da cidade que tinha uma paisagem exuberante. Conversaram, riram, e paqueraram, e depois de um tempo eles estavam andando de mão como se fossem namorados.

Adriana estava feliz, ela que sempre fora recatada, não estava nem um pouco preocupada com os outros. Ninguém a conhecia e ela estava com Domênico e seu coração estava pulsando fora do ritmo. Quando ele a tomou pela mão, ela ficou sem ar. A felicidade dava vontade de pular, correr, gritar.

E ela correu e pulou e gritou  em um gramado verde que se estendia em uma parque da cidade. Precisava extravasar... Domênico a olhava sorrindo... E definitivamente ele estava enfeitiçado por ela.

Andaram mais um pouco e escolheram um banco a sombra de uma  frondosa árvore no parque Sempione. Apreciaram o movimento e ali permaneceram até o cair da tarde.

Passearam de carro e Domênico a levou para comer uma verdadeira pizza milanesa. Tomaram um vinho e Adriana estava com o riso fácil, que o divertiu muito. Ela era engraçada, divertida, graciosa, encantadora.

Já era tarde quando ele a deixou em casa. Ele a levou até a porta e se despediu com um beijo em sua mão. E disse:
-- Nos vemos amanhã na fabrica. Boa noite.
-- Boa noite.

Ele saiu sem olhar para trás e ela ainda esperou para fechar a porta. E quando subia as escadas para chegar ao seu quarto ela encontrou com Victoria que a esperava e queria saber se ela tinha gostado do passeio e da companhia.

Adriana estava radiante, nem precisa perguntar para saber, mas Victoria queria escutar ela dizer sim e escutou e viu toda a sua empolgação. E ao mesmo tempo pensou: “Carla já era.”

Domênico estava feliz, tinha sido uma tarde muito boa, eles formavam uma boa dupla, seus gostos combinavam e ela era uma pessoa simples, que se adaptava as situações. Carla teria reclamado de um passeio como aquele, no meio do “povinho”.

Adriana tomou um banho e foi se deitar. No outro dia iria conhecer a fabrica, seu lugar de trabalho, seus colegas... Estava ansiosa. Cansada e feliz ela logo dormiu e teve sonhos bons.

Enzo e Victoria iam mais tarde para o trabalho, mas  Adriana deveria ir mais cedo. Ela vestiu-se e desceu para tomar café. Sabia que o motorista deveria levá-la. Mas para sua surpresa quem estava lá era Domênico, que mais cedo havia ligado dizendo que ele passaria para pegá-la.

Enquanto dirigia Domênico olhava de esguelha para ela. Ela estava vestida com simplicidade, quase em pintura, e muito bonita. Ela não precisava de artifícios, seu sorriso era suficiente. Quando foi preciso para em um sinal vermelho, ele pegou a mão dela deu um beijo e disse:
-- Tu és linda demais, estou fascinado por ti. Demorei mas encontrei.
Ela não disse nada, apenas olhou para ele e sorriu timidamente, pois estava pensando  e sentindo a mesma coisa. Ah se não tivesse a Carla no meio deles...

Domênico levou Adriana para conhecer toda a fabrica, a apresentou aos responsáveis por setores, enfim, mostrou tudo para ela  e depois a levou para o escritório, onde seria seu local de trabalho.

Era uma sala pequena com uma ampla janela, que dava muita luz natural. Tinha um armário, e uma mesa grande e várias gavetas com fracos de tinta, com todas as tonalidades e nuances de cores. Réguas, enfim, o material necessário para ela desenvolver a criatividade. Sua proposta era fazer padrões exclusivos. Pequenas quantidades para que fosse realmente um tecido único.

Pietro sabendo que Adriana estava na fabrica, foi até sua sala para dar as boas vindas. E Domênico não gostou de ver Pietro jogando charme para cima de Adriana, que respondia a ele com ma certa timidez. 

Domênico logo dispensou Pietro, dizendo que eles tinham uma reunião com Enzo e Victoria, não queriam se atrasar.

Depois desse tour pela fabrica eles foram para a sala de Enzo e Victoria, que trabalhavam na mesma sala em ambientes distintos. Agora iriam acertar os pontos.

Domênico estava se retirando, pois entendia que a conversa seria particular, mas Enzo o reteve. Conversaram bastante, acertaram pontos, acolheram sugestões e Adriana conseguiu captar qual era  a vontade deles. E ela daria o melhor dela para continuar naquele trabalho.

Os dias passaram e Adriana se dedicou com afinco a sua criação, e vez ou outra, Domênico  e aparecia em sua sala para saber dela. E Pietro também seguidamente ia vê rapidamente, sempre a convidando para um passeio. E ela aceitou.

E no sábado a tarde ele a levou para passear na Galeria Vitorio Emanuele  e no quadrilátero da moda. Foi uma tarde diferente, e Pietro era gentil e atencioso, uma boa companhia, além de ser muito respeitador.

Domênico estava ficou sabendo, através de Victoria, que Pietro estava fazendo a “corte” a Adriana. E ainda acrescentou, “ele é uma boa pessoa, fico tranquila.” Mas quem não estava tranqüilo era Domênico.

Já se passara mais de um mês e eles não saíram mais juntos. Viam-se muito pouco e apenas no trabalho. Enquanto que Pietro já tinha saído com ela mais vezes.

Os dias passaram e ele não conseguiu conversar com Carla para romper o compromisso entre eles. A mãe de Carla tinha câncer e fazia tratamento há mais de um ano. Mas ela percebendo a intenções dele, estava usando o tratamento da mãe como desculpa para ficar os fins de semana longe dele.

Carla insistiu muito para eles morarem juntos, porém ele foi firme, e não aceitou a proposta, pois não queria compartilhar inteiramente sua vida com ela. Gostava de sua privacidade e isso era uma das questões que o aterrorizavam em relação ao casamento, a vida em comum.

Mas agora ele e Carla praticamente não se viam. O trabalho de ambos não permitia que se encontrassem durante a semana. Por isso agora a dificuldade dele de achar um momento adequado para romper no namoro.

E isso estava deixando Domênico angustiado. Adriana era uma mulher muito bonita, sensual e atraia os olhares dos homens.  E Pietro não estava dando trégua. E ele tinha receio de perdê-la.

Adriana tinha aprontado uma série de amostras para apresentar na reunião que teria com Enzo, Victoria e Domênico, que iriam avaliar o trabalho dela. Ela estava nervosa... Porque a permanência dela nesse trabalho dependia, não só da sua criatividade, mas também da percepção das tendências da moda.

Ela recém estava chegando, e em Milão a moda andava a mil, pois era um dos lugares do mundo que ditava as tendências. Ela teria que sempre estar atenta a tudo, e participar de eventos para poder ter um trabalho de qualidade.

A reunião seria na sala de Domênico. Adriana chegou com o material e organizou em uma das mesas. Não havia o que explicar, e sim deixar que Enzo e Victoria percebessem a leveza do seu trabalho, a delicadeza dos traços e as nuances das tonalidades. Adriana estava muito satisfeita com a sua criação, mas...

Domênico viu que ela estava nervosa, e tentava distraí-la conversando sobre outros assuntos e em meio a conversa a convidou para domingo irem conhecer a vinícola, um lugar encantador, onde poderiam almoçar. Claro que Adriana aceitou. Ela gostava de estar com ele.

Enzo e Victoria entraram na sala, e foram direto ver a produção de Adriana, e eles ficaram surpreendidos com a qualidade do trabalho dela. É claro que ela estava efetivada. Ali mesmo brindaram com água a nova aquisição da fabrica.

Mas Victoria não ia deixar passar em branco e convidou Domênico para jantar em sua casa. Seria um jantar oferecido para Adriana. Muito intimo apenas os quatros. Ele sorriu e disse que estaria lá.

Victoria e Adriana saíram mais cedo da tecelagem. Precisavam organizar o jantar e se prepararem, foi o que disse Victoria ao se despedir dos homens.

Ao chegar na vila, Victoria dispensou Adriana, disse que ela precisa descansar, tomar um banho de imersão para estar deslumbrante na hora do jantar. E foi o que Adriana fez. Ela estava feliz, conseguira o emprego, agora teria que encontrar um lugar para ela morar. Pediria ajuda ao seu amigo Domênico.  E deitada na banheira com água cálida e perfumada ela fechou os olhos e ficou imaginando como seria seu apartamento.

Ela queria um apartamento de dois quartos, com uma sala aconchegante e uma cozinha moderna. Gostava de cozinhar e se imaginava com uma roda de amigos. Teria que ser perto do local de trabalho, talvez próximo ao prédio do Domênico.

Era uma noite quente e ela escolheu um vestido azul marinho reto com um profundo decote nas costas. Prendeu o cabelo e colocou um par de brincos pingentes dourado com uma pedra azul safira.

Quando ela chegou à sala, Domênico ficou sem fala, ela estava lindíssima e em seus olhos havia um brilho de felicidade que iluminava seu rosto. Ele foi até ela e a conduziu até onde estava Victoria e Enzo, que a estas alturas, já tinha percebido o jogo de sua mulher.

O jantar foi simples e agradável.  O vinho era delicioso e Adriana tinha tomado o suficiente para deixá-la leve e com o sorriso muito fácil. Após o jantar eles foram sentar na varanda e os dois casais conversaram sobre moda.

Mas a um sinal de sua esposa, Enzo levantou e pediu licença, ele estava cansado, mas que Domênico e Adriana ficasse curtindo a noite de verão, eles eram jovens. Victoria com uma desculpa qualquer saiu e os deixou sozinhos.

Não era ainda lua cheia, mas já produzia claridade a noite e Domênico convidou Adriana para passearem pelo jardim. Ela a tomou sua mão enquanto andavam.

Domênico olhava para ela e seu coração estava aos pulos e ele não conteve seu desejo e a beijou. Adriana retribuiu ao beijo bem  desajeitada. Ela ficou encabulada e se afastou: Domênico a fitava com intensidade e perguntou:
--O que foi?
-- Eu não sei beijar...
Domênico a abraçou e disse ao ouvido dela:
-- Eu te ensino, vamos tentar outra vez...

E a beijou com suavidade e foi permitindo ela experimentar, só depois ele aprofundou o beijo e sua língua invadiu todos os recantos da boca de Adriana, que bem entusiasmada também colocou sua língua em ação. Ela estava sem fôlego. Seu coração em disparada e suas pernas bambas.

Ele a manteve em seus braços, e ela encostou sua cabeça nele, que beijava seus cabelos e acariciava suas costas. E falava coisas que Adriana não conseguia entender.
Havia um banco ali perto e ele a levou para sentar. Então ele pegou sua mão, e começou e falar:
-- Eu nunca em minha vida senti isso que sinto agora. Meu namoro com Carla é um arranjo, não tenho amor por ela. E ela sempre soube, eu nunca a enganei. Desde que te vi pela primeira vez, algo mudou dentro de mim, eu sinto coisas que nunca senti. Eu estou apaixonado por ti. Mas preciso romper com a Carla, mas até agora não consegui. Ela tem a mãe doente, e tem ido todos os fins de semana para o interior. De modo que quase não nos falamos. E eu não posso iniciar nada contigo, por enquanto. Espero que me entendas, te peço um tempo.
-- Comigo aconteceu algo parecido. Nunca tive namorado porque nunca gostei de ninguém dessa forma. Tenho muitos amigos. Nunca permiti ser beijada, por isso fiz esse fiasco hoje...
-- Não foi fiasco... Foi maravilhoso...
-- Não podemos continuar assim, porque não me sinto bem, tu sendo noivo de outra. Não é honesto, não direito.
-- Eu também não acho correto, mas não quero te perder, pois Pietro estava te rondando.
-- Quanto a Pietro eu já fui bem clara com ele, somos apenas amigos.
-- Que bom! Então vamos aguardar até eu poder conversar com Carla.
-- Certo. Vamos deixar rolar... Eu preciso de ti para me ajudar a encontrar um apartamento para mim. Agora que estou sendo contratada, não vou mais continuar aqui. Victoria e Enzo são maravilhosos, mas não quero abusar.
-- Eu queria poder te convidar para que viesses morar comigo. Espera um pouco mais para sair daqui.
-- Não. Ainda não podemos pensar em morar juntos, mesmo que tu termines com ela amanhã. Não precisamos nos conhecer melhor, mesmo sentindo essas sensações.
Beijaram-se mais uma vez e outra vez, até estarem sem fôlego. Ele a conduziu de volta a varanda e despediu-se e foi embora.

Adriana foi para seu quarto. A noite tinha sido maravilhosa, ela ainda sentia o sabor dos beijos dele. Ele a amava, assim com ela o amava. Seriam felizes.

No outro dia Adriana conversou com Victoria, da sua intenção de ir morar sozinha, não falou nada sobre Domênico, apenas que tinha pedido ajuda para ele. Victoria concordou com ela, mas ressaltou que ela não precisava ter pressa em sair dali. Eles eram um casal sem filhos e gostavam da presença dela.

No domingo cedo Domênico a pegou para irem visitar a Cantina Bulgarini, que ficava em Pozzolengo, Brescia. Que ficava aproximadamente  uma hora dali. Durante a viagem eles foram conversando sobre vários assuntos, ele apontando para algumas construções e a paisagem era linda.

A cantina era um lugar singular, agradável e acolhedor e eles puderam caminhar pelos vinhedos, aprender sobre a produção das uvas e depois sobre como é feito o vinho. Degustaram, almoçaram e ficaram por ali apreciando a paisagem.  Pozzolengo era uma pequena cidade muito simpática com suas ruas bem estreitas.

Já era tarde da noite quando Domênico deixou Adriana em casa, e ao se despedir ele a beijou. Estava difícil se separar dela depois de um dia inteiro ao seu lado, desfrutando de sua beleza. Só mais um beijo eles diziam. E foram muitos beijos de boa noite.

A semana seguia seu ritmo, quando na quinta feira Giovanni, conhecido por ser conquistador, mas também por ser um estilista de renome, foi convidado a conhecer as novas estampas exclusivas da tecelagem.

Foi Domênico quem o apresentou para Adriana. E no mesmo momento ficou louco de ciúme, pois o olhar de Giovanni era devastador. Adriana mostrou todas as peças para ele e opinou sobre qual tecido aquela estampa ficaria melhor.

Domênico não deixou Adriana só com Giovanni. Mas mesmo assim o atrevido olhava para Adriana com olhos de cobiça, e quando se despedia a convidou para uma apresentação beneficente no Scala.

Foi Domênico que rapidamente respondeu dizendo que ela tinha um compromisso neste dia, um jantar em casa de amigos. Giovanni olhou para ela, que assentiu se desculpando.
Assim que Giovanni foi embora, Adriana foi tomar satisfação dele, e muito zangada disse:
-- Com que autoridade tu te intromete na minha vida. E se eu quisesse sair com ele? Só concordei com tua mentira porque não gostei do jeito dele. Mas que tenha sido está única vez. Não admito. Eu cuido de mim.

Domênico ficou assustado com o rompante dela. Nunca imaginou que ela teria uma reação assim. Ela parecia tão calma... Mas tudo bem, realmente ele tinha sido intrometido. E apenas disse:
-- Desculpe, só quis te livrar desse cara que é famoso por ser um “Don Juan”.
Os dias passaram e Adriana  se afastou de Domênico, que andava cheio de afazeres e preocupado com Carla, que claramente estava fugindo da conversa que eles precisavam ter.

Ele decidiu  no fim de semana ir até a clinica em que a mãe de Carla estava. Não podia mais esperar. Pois Adriana estava se afastando dele, cansando da situação e ele não tirava a razão dela.

Domênico  entrou na clinica e encontrou Carla no saguão. Ela estava abatida, sua mãe tinha piorado muito. E ele tentou conversar, mas acabou desistindo e  a consolando. Ele não conseguia ser tão insensível, por mais que necessitasse dessa conversa. Afinal até então Carla tinha sido sua namorada e nada fizera para merecer um fora neste momento de aflição. Ele amava muito a Adriana, disso tinha certeza, mas não poderia ser tão egoísta e desumano.

Enzo e Victoria muito satisfeitos com o trabalho apresentado por Adriana, resolveram levá-la  para fazer um giro pelo circuito da moda. Iriam a Paris, Londres, New York, Los Angeles, Tóquio,  Xangai, Nova Deli e Roma. Ficariam aproximadamente dois meses fora.
Embora Nova Deli não fosse destaque no mundo da moda, era importante ela conhecer para ter inspirações indianas em suas criações, assim com Xangai e Tóquio para estampas orientais.

Eles estavam apostando muito em Adriana, foi o que Enzo disse a Domênico, quando anunciou a ele a decisão de viajarem. E ele deveria assumir o comando geral da indústria enquanto estavam fora.

Enzo e Victoria confiavam em Domenico, que era um jovem talentoso, esforçado e muito trabalhador e era sócio da tecelagem e na exportadora.  Enzo e Victoria e os pais de Domênico foram muito amigos e trabalharam juntos por um longo tempo.

Domênico fora praticamente criado por eles, pois seus pais morreram em um acidente de barco, quando ele tinha apenas 13 anos. E foram Enzo e Victoria, que assumiram a guarda dele, e fizeram com muito carinha e atenção, que ele superasse a perda estudando e dando oportunidades a ele para se tornar um homem de bem.

Domênico sabia que Adriana tinha talento e essa viagem a ajudaria a despertar para as tendências da moda e reproduzir tudo em suas estampas. Também era importante para fábrica, e eles sempre faziam essa viagem anualmente, só que dessa vez Adriana estaria com eles.

Essa viagem dava mais tempo para Domênico resolver sua vida. Quando Adriana retornasse, ele queria estar pronto para ela. Mas as artimanhas de Carla era muitas e ele estava ficando receoso.

Carla ficou sabendo que Adriana estava viajando e que ficaria um bom tempo fora. Então resolveu agir. Queria conquistar Domênico, imaginando que o flerte ente ele e Adriana tivesse terminado. Porque pelas informações que tinha, eles não saíram mais juntos.

Era um sábado pela manhã e Carla foi ao apartamento de Domênico, queria fazer uma surpresa e ele, e levou uma cesta de picnic para passarem o dia no parque, pois era um dia de outono especial, com um lindo sol e temperatura agradável.

Domênico concordou e pensou que essa era a hora. Sentados em meio um imenso gramado eles conversaram sobre vários assuntos, inclusive sobre a viagem de Enzo e Victoria. Mas ambos não citaram o nome de Adriana.

Carla estava alegre e relaxada. Estirada sobre o cobertor e olhava os pássaros que gorjeavam em um galho de uma árvore, quando Domênico falou:
-- Eu quero romper nosso compromisso. Não tenho condições de continuar, tu bem sabes... Sempre fui sincero e não tenho amor por ti. Tenho uma amizade, te quero bem... E por isso mesmo não posso manter esse compromisso, seria o mesmo que tolher tua liberdade. És uma mulher bonita, simpática, e vai encontrar quem te de amor como mereces.
-- Estás tomando esta decisão por causa de Adriana... Aquela metida.
-- Adriana não tem nada com isso. Aliás, antes dela viajar nós não tivemos mais contato, só no ambiente de trabalho, é claro.
-- Mas eu te amo tanto...
-- Vamos terminar em paz, sem atritos. Eu te peço.
-- Bem, eu não tenho escolha, mas ainda penso que o motivo é aquela brasileira emproada.

Carla levantou e começou e recolher as coisas. Ia embora. Não havia mais razão para ficarem ali juntos. Domênico concordou e a ajudou a enrolar o cobertor. Colocaram tudo no carro dela e ela se foi, deixando ele a pé.

Ele tomou um táxi e foi para a casa e ao passar pela Bella Villa ele sentiu uma nostalgia. Ele viveu ali um período de sua vida. Momentos difíceis e  também muitas alegrias. Havia sido acolhido por Victoria como um filho e ainda assim se considerava. Amava aquele casal que tinha sido seu esteio na hora da dor, e da solidão. Estava com saudade deles, que dessa vez estavam demorando mais. E tinha muita vontade de encontrar Adriana e dizer para ela que agora ele era um homem livre, queria gritar bem alto.

Domênico chegou em casa, tomou um banho e foi ver TV. Estava tão leve, que ria sozinho. E não era só por causa de Adriana, era por ele também, porque ele estava sendo conduzido por Carla por um caminho que não era o dele.

Os dias passavam e tudo corria bem. Domênico tinha sido avisado por Enzo que chegariam no sábado pela manhã. E que ele falasse com Tereza para esperá-los com um almoço bem típico. Estava com saudade do tempero da comida caseira.

Domênico esperava por eles no pórtico da casa. Victoria foi logo abraçá-lo e Enzo também. Mas Adriana apenas olhou e sorriu, porém ele não se conteve e foi abraçá-la.
Todos entraram e alguns dos empregados chegaram para saudar os patrões. Enzo cumprimentou a todos e foi até a cozinha abrir a tampa das panelas para ver o que tinha para o almoço e saiu rindo após ser enxotado por Tereza.

Enquanto esperavam o almoço, Domênico preparou bebidas para todos. Um vinho brindando o retorno deles. Enzo e Victoria estavam contando sobre a viagem e Adriana estava muito falante, empolgada com as coisas que vira, e com as idéias que teve, tanto que ela mostrou um caderno com o esboço de  suas nova criações.

Adriana procurou em sua mala o presente que trouxera para Domênico, não havia se esquecido do bom amigo. Ele ficou emocionada com o presente , um par de abotoadoras de prata com formato de cabeça de cavalo.

Ele se emocionou porque ela se lembrara que ele tinha paixão por cavalos e seu sonho era ter uma criação.

Domênico olhava para ela, estava fascinado por ela. Mas notou que ela estava diferente em relação a ele. Educada, gentil, mas não estava dando oportunidade para ele ficar perto dela.

Adriana havia encontrado seus pais em New York, e disse que eles combinaram de se encontrarem, as irmãs também, em Lugano, na Suiça, ára passarem o Natal. Ela estava muito entusiasmada.

Victoria olhou para Enzo e deu a sugestão de que eles poderiam se juntar a eles, o que seria fabuloso. E  que Domênico estava incluído no grupo. Pois eles sempre passavam o Natal juntos e ela não admitia ficar longe dele.

Então Adriana disse:
-- Acho que seria maravilhoso... Meu pai alugou uma casa. Não sei qual o tamanho. Deveríamos falar com ele, seria muito bom ficarmos todos juntos na mesma casa, como quando éramos crianças. Vocês se lembram?
-- Sim, disse Victoria. Nós íamos passar o Natal em  Algarves, Portugal.
-- E Carla? Pergunto Enzo.
-- Eu e Carla terminamos. Já fazia um bom tempo que eu tinha tomado essa decisão, mas com a doença da mãe dela não deu para conversar sobre isso. Mas agora houve oportunidade e terminamos.
-- Pensei que terminaria em casamento... – completou Enzo.
-- Essa era ideia dela, não é mesmo Domênico? –afirmou Victoria.
-- Sim, sem duvida. Eu estava enredado, mas consegui me libertar.
-- Quem é a próxima vitima? --Perguntou Enzo.
-- Não tem próxima vitima. – conclui Domênico.
-- Por que essa desilusão meu rapaz? – inquiriu Victoria.
-- Ah... Se eu pudesse saber o que se passa... – disse Domênico olhando para Adriana que se mantinha quieta só escutando. Não queria demonstrar sua paixão por ele para Victoria, ela era muito perspicaz.

O almoço foi servido e após o almoço Adriana pediu licença e foi para seu quarto. Enzo chamou Domênico no escritório e Victoria foi ligar para Helena para programarem o Natal juntos.

Victoria, que não era boba, tinha notado que havia algo errado entre Adriana e Domênico, que antes, logo que ela chegou,  eram tão espontâneos e estavam sempre juntos. Tinham se distanciado! E ele tinha terminado com Carla. Essa parte ela achava bom, nunca concordou com a possibilidade de um futuro dele ao lado de  Carla, não combinavam. Mas com Adriana era diferente. Eles formavam um belo par, e tinham gostos parecidos, foram feitos um para o outro. Ela não podia dizer nada, mas podia agir sem que eles desconfiassem. E era isso que ela ira fazer. Ajeitar os dois para se entenderem amorosamente. E essas férias em Lugano seria o lugar ideal.

Victoria não deixou Domênico ir embora, ela tinha mandado fazer pizza para comerem a noite em frente a lareira. Ele podia até dormir, o quarto continuava a ser dele e até roupas limpas tinha. Ela o convenceu e ele ficou.

Seria muito bom porque assim talvez ele pudesse descobrir a razão pela qual Adriana estava assim tai estranha, tão distante. Ele foi para a saleta e atiçou o fogo na lareira, serviu-se de um vinho e sentou. Estava só. Enzo e Victoria tinham ido para o quarto se preparar para a noite.

Adriana apareceu na sala, estava com um traje caseiro, mas elegante. Uma calça de malha de lã verde musgo e um blusão de malha todo trabalhado em tons de verde e natural. Cabelos soltos, sem pintura e com uma botinha de camurça.

Ela ficou admirada por encontrá-lo ali, mas sentou na poltrona perto do fogo de frente para ele. Ele explicou que foi seduzido pela pizza. E ambos riram.

Adriana olhou para o fogo e ficou pensativa, ele a observava, ela estava muito bonita, estava um pouco mais cheia de corpo. A suas curvas estavam mais acentuadas.

Ele serviu o vinho para ela, e antes de provar levantou a taça saudando o brinde. E ele estava curioso para saber a opinião dela quanto ele ir junto para os feriados de Natal. E perguntou:
-- Que pensas de eu ir para o Natal?
-- Eu não penso nada. Victoria te quer como se fosse filho dela, e se eles vão estar lá,  nada mais natural do que tu ires também. Se não tiveres outro compromisso acho que deverias ir, pois Enzo e Victoria ficariam muito felizes.
--  Não quero me tornar intruso, ser indesejável.
-- Ora, não me faças rir, tu indesejável? Quando? Aonde?
-- Assim eu fico encabulado...
-- Domênico, tu és um cara legal, simpático, todos irão gostar de tua presença. Eu te garanto.
-- Obrigado. És muito gentil.

Domênico não insistiu mais no assunto e Victoria e Enzo,  se juntaram a eles. Conversaram ainda sobre os acontecimentos da viagem. Foi uma noite muito agradável, mas ele não conseguiu  descobrir o que estava havendo com Adriana que estava tão fechada com ele.

Naquela noite Helena ligou confirmado que a casa era grande com seis quartos e tinha espaço para todos. Seria reviver os velhos tempos.

Ainda faltava um mês para o Natal, e todos estavam bem atarefados com a proximidade do fim do ano. Adriana queria comprar alguns presentes e pediu a Domênico se ele podia acompanhá-la.

Passaram o dia visitando as lojas, comprando presentes e felizes naquele clima natalino. Fizeram um refeição rápida em uma cafeteria e voltaram as lojas. Quando chegaram em casa Adriana estava cansadíssima e Domênico carregado de sacolas.

Victoria os recebeu na porta e disse a Domênico que ficasse para o jantar, porque Tereza estava fazendo seu prato preferido. Ele ficou e a noite foi divertida. Adriana contando passagens engraçadas de sua vida.

Mesmo com toda essa afabilidade, Adriana ainda não era a mesma com ele. Portava-se como uma boa amiga, e não demonstrava outro interesse. Tanto que ele não tinha nem jeito de se aproximara dela como um homem apaixonado.

Como Victoria queria dar uma ajuda ao destino, organizou a ida deles para Lugano, de forma que Domênico e Adriana fossem juntos..  Enzo aceitou a lógica de sua esposa e arranjou uma desculpa para irem depois. Eles iriam de trem.

A viagem com Adriana foi ótima, ela estava alegre e descontraída, e apreciava a paisagem, e Domênico a observava. A trecho não era longo, e em pouca mais de hora, e estavam chegando.

Ao deixar e estação do trem eles resolveram não pegar taxi. Foram caminhando, e descobrindo a cidade, não era muita bagagem, e o dia estava frio, porém tinha sol e estava um frio gostoso. Adriana não conhecia a região e estava deslumbrada pela beleza do lugar.

Depois de um tempo de caminhada eles chegaram a casa. Foi uma algazarra quando as irmãs se encontraram. Domênico se apresentou aos pais de Adriana e aos cunhados. Porque ela e as irmãs pareciam adolescentes depois das férias.

Essa alegria inerente a Adriana deixava Domênico fascinado. Era um dos predicados dela que ele mais apreciava. Enfim passado alguns minutos, ele foi apresentado a Betina e Carina.

Eles passaram um dia empolgante. Não faltou assunto, e Adriana sempre explicava para ele a situação em italiano. Ele entendia um pouco de português, conseguia acompanhar a conversa.

A noite quando estava só em seu quarto Domênico resolveu que não ia forçar nada com Adriana, não naquele ambiente tão alegre que era a família dela. Estava feliz de poder desfrutar esses momentos junto dela. Tinha que dar tempo ao tempo. Ele sabia que ela gostava dele, ela mesma já tinha dito. Só não sabia o que tinha a feito  recuar tanto. Mas como bom jogador ele iria esperar a hora do amor.

Foram dias maravilhosos, estava frio, mas não estava nevando, e o sol sempre aparecia e eles caminhavam a margem do lago Lugano, exploravam os cantos e recantos da cidade.

Adriana tinha pensado que Domênico iria aproveitar a oportunidade para insistir com ela, para firmarem um compromisso. Mas não era isso que ele estava fazendo. Tinha se tornado um parceiro admirável, sempre risonho, feliz, animado e disposto a qualquer programa.

Agora era Adriana que estava preocupada. Talvez ele tivesse desistido dela, manteria apenas a amizade, já que trabalhavam juntos e ele era seu chefe. Ela estava desapontada. Teria que pensar em táticas para despertar o interesse dele novamente. Mas depois, agora iria aproveitar os dias com sua família e afinal ele estava ali ao alcance dela.

Victoria e Helena tinham a mesma opinião acerca deles. Era perceptível que eles se gostavam. Estavam fazendo um jogo. Mas por quê? Isso elas queriam descobrir. Mas Helena lembrou a amiga:
-- Ela é muito parecida comigo. Eu também tive um inicio de namoro complicado e foi a paciência de Augusto que permitiu a nossa historia de amor acontecer, e nós termos essa família maravilhosa que hoje temos.
-- É, eu espero que Domênico tenha essa calma tão necessária. Ele é um bom rapaz, nunca se apaixonou, antes. Eu o conheço muito bem, há um brilho em seu olhar que se ilumina mais quando Adriana esta junto dele. Ele vai conseguir. Tenho certeza.

Aquele dia amanheceu com prenuncio de neve. Os jovens resolveram não sair. A casa era imensa, com muitos ambientes e eles escolheram ficar jogando em uma saleta muito aconchegante. Divertiram-se muito se fazendo entender por mímica.

Era véspera de Natal. A noite seria festiva. Após o almoço Victoria e Helena foram para cozinha, tinham muito que fazer. Betina e Mauro foram para o quarto descansar assim como Carina e Luiz.  Augusto e Enzo ficavam no que chamavam de escritório, jogando xadrez e rememorando os velhos tempos.

 Apenas Domênico e Adriana ficaram  na saleta onde a lareira estava acesa. Sentaram juntos no sofá, lado a lado e ela aproximou-se dele e deitou sua cabeça em seu ombro. Ele passou o braço por seus ombros e trouxe para mais perto dele e assim permaneceram em silêncio.

Adriana se aproximou dele sem se dar conta. Foi um gesto totalmente espontâneo. E quando ela passou o braço e a puxou para perto dela, foi que ela viu o que tinha feito. Não recuou, pois era isso que estava querendo há muito tempo, estar perto dele, sentir o seu cheiro, o seu calor...

Era muita emoção que Adriana sentia, seu coração pulsava descompassadamente e isso a deixava perturbada. Nunca imaginou que gostar de alguém causasse tanta agitação interior. Era só  olhar para ele e suas pernas tremiam.

Ela sentia o coração de Dome nico batendo forte, e ela se deu conta que ele sentia a mesma emoção que ela. Ele já tinha dito a ela, que a amava, e que nunca antes tinha sentido algo semelhante. Assim como ela.

Domênico estava com sua cabeça inclinada sobre a delas, sentia o perfume de seus cabelos e a beijava levemente sua cabeça e sussurrou:
-- Por quê? Por que ficaste tão diferente comigo?
-- Não sei, sou muito complicada...
-- Agora estou livre,  tu sabes. Nada mais impede o nosso amor.
-- Sim, eu sei, mas...
-- Vamos começar a partir de agora, vamos tentar nos acertar. Eu sei que temos sentimentos fortes que nos une, vamos viver esse nosso amor.
-- Vamos,
-- Comprometidos?
-- Sim comprometidos.
E ele a beijou com carinho. Abraçados eles permaneceram, tudo mudou. Conversaram muito e riram bastante. E a tarde voou.

Helena que passou pelo corredor os viu, e chegando a cozinha disse para sua amiga Victoria que eles pareciam que tinham se acertado. Então Victoria combinou com a amiga uma brincadeira para quando todos estivessem reunidos.

No fim da tarde todos estavam reunidos na saleta para um lanche. Helena tinha preparado pasteis de forno e estavam deliciosos e todos saborearam com um gostoso chocolate quente.

Enquanto comiam não havia muito assunto. Então Victoria disse para Helena:
-- Tu sabes que eu estou aborrecida com Adriana. Imagina que outro dia ela me disse que está procurando um lugar para morar, quer sair de minha casa.
-- É verdade Adriana? – perguntou Helena.
-- Sim, mas...
-- Eu queria tanto que ela continuasse conosco, queria vê sair de lá,  para casar. Como não tive filha sonhei um momento assim com minha querida hóspede.—continuou Victoria.
-- E ela veio para cá para encontrar um marido, porque lá no Brasil não achou. – disse Helena.

Adriana estava encabulada, suas faces rosadas e Domênico a olhava rindo. Mas ela não disse nada ficou quieta, e ela pegou sua mão e apertou entre as suas e disse:
-- Acho que teu sonho será realizado Victoria, logo ela será a noiva mais linda que vocês jamais viram. – E deu um beijo na face de Adriana.

A gargalhada foi geral. Só que Adriana não sabia por que estavam rindo deles. Era normal, as pessoas namorarem, foi o que ela pensou. No fim riu também quando percebeu que foi uma brincadeira. Todos já tinham percebidos que os dois estavam de bem, pois seus olhos estavam com um brilho a mais.

Mais tarde, após a ceia, quando  trocavam presentes, ela recebeu de Domênico um livro ilustrado sobre os mestres da arte na Itália. Ela adorou o presente e perguntou:
-- Tu compraste naquele dia em fomos as compras?
-- Sim. Eu vi que ti tinhas gostado.
-- Mas como eu não vi.
-- Aha, isso é segredo...

A seguir  ela entregou a ele o que ela tinha feito para ele. Uma miniatura em óleo sobre tela, de uma foto dos pais dele que Victoria havia mostrado a ela.

Mais uma vez ele ficou surpreendido e emocionado com Adriana, que era a pessoa mais doce que ele conhecia. Ela tinha conseguido ser fiel a foto e dava para reconhecer perfeitamente as feições de seus pais.

Todos ficaram admirados com o trabalho dela, e descobriram mais uma veia artística nela.

A semana passou e era noite de réveillon. Estava muito frio e ficariam em casa. As mulheres se encarregaram de uma bela ceia regada a espumante. E quando deu a virada do ano, todos estavam um pouco “altos”.

A neve caia e a manhã estava gelada e Adriana se achegou a Domênico que ainda dormia. Era o primeiro dia do ano novo. A festa de Ano Novo tinha sido especial, pois foi a primeira vez que passaram a noite juntos.

Ele era maravilhoso, tão carinhoso e a tinha feito se sentir a mulher mais linda da face da terra.. Ela o amava muito, estava feliz, e iriam casar em breve. 
Ele acordou e a abraçou, a  beijou e disse:
-- Bom dia meu amor? Como estás?
-- Bom dia, eu estou muito bem... Estou muito feliz.
-- Eu também. Tu és deslumbrante e toda minha. Eu te amo muito. Vem...
E fizeram amor naquela manhã gelada, mas seus corpos estavam aquecidos pelo amor...

Cinco meses depois.

A casa de Victoria estava sendo preparada para uma linda festa de casamento. Agitação era grande. O sonho de Victoria estava acontecendo, ali se realizaria a festa de casamento de Adriana e Domênico, dois jovens que moraram em sua casa, dois jovens que ela amava como se fossem filhos.

A festa seria apenas para os mais chegados, mas a família de Adriana era grande e todos vieram do Brasil para o casamento. Helena e Augusto já tinham chegado a quinze dias.
O vestido de Adriana, presente de Victoria era muito bonito, ela mandara fazer um tecido exclusivo, e o modelo era simples.

Quando Augusto entrou com sua linda filha Adriana, na igreja toda enfeitada com rosas brancas, ele estava orgulhoso e emocionado. Domênico que a esperava no altar teve que disfarçar uma lágrima, pois ele estava muito comovido ao ver Adriana, tão linda, entrando no templo para se tornar sua esposa.

A única mulher que despertou amor em seu coração era toda sua para toda a vida. A festa rolava, e ela se aproximou  do marido que a pegou pelo braço e a conduziu para a porta lateral... Enfim eles puderam fugir da festa...  

Para eles essa era a hora do amor.


Maria Ronety Canibal

IMAGENS VIA INTERNET