EU PRECISO DE TI
Lara entrou em seu prédio, pegou em sua caixa
a correspondência e subiu para seu apartamento. Estava curiosa com um envelope
especial que estava entre os demais. O papel era na cor azul hortênsia e muito distinto.
Ela abriu e viu que era um convite de
casamento de sua amiga Simone. Em um anexo havia, um pequeno bilhete, com o
convite especial, para ela ser sua madrinha. Isso a fez chorar... Tanta coisa
tinha acontecido... E a fez lembrar o
passado e voltar ao tempo feliz...
Lara estava feliz! Tinha passado no
vestibular e logo estaria saindo de sua cidade para cursar Engenharia
Biomédica, na UNIFRA em Santa Maria, RS, uma cidade universitária, situada no
coração do estado de onde vinham jovens estudantes de todos os quadrantes do
estado e até do exterior.
Ela já estava praticamente de malas prontas,
pois estava ansiosa demais. Ela iria uns dias antes, pois precisava encontrar
um lugar para morar. Sua mãe, que era viúva, não poderia acompanhá-la por ter
compromissos de trabalho.
Foi na imobiliária, que Lara conheceu Simone,
que era também calouro. Com entusiasmo, as duas, conseguiram alugar duas
unidades vizinhas num prédio de pequenos apartamentos próprios para estudantes.
Elas estavam cheias de expectativas para seus cursos, e dos novos amigos que
fariam. Conversavam muito e estavam se dando muito bem. Poderia se pensar que
já eram as melhores amigas.
As férias estavam terminando, e Lara logo
providenciou sua mudança. Ela gostava de tudo bem arrumado, e mesmo gastando
pouco dinheiro, ela conseguiu deixar o lugar acolhedor. E o seu ninho como
costumava dizer.
Os móveis era apenas o essencial, fogão,
geladeira, uma mesa e quatro mochinhos, e um pequeno armário para guardar os
mantimentos e louça, que também era pouca. O apartamento era tipo quitinete, e
ela colocou sua cama num canto e encheu de almofadas coloridas, para servir
também de sofá. Um pequeno armário completava seus pertences. Ela estava
orgulhosa de seu trabalho. Tinha ficado uma graça o seu AP.
Mesmo ainda faltando uns dias para o início
do semestre, naquele fim de semana, já havia muitos jovens circulando pelos
corredores. Lara já tinha conversado com
alguns. Ela sempre foi muito comunicativa, logo fazia novas amizades, o que não
acontecia com Simone, que era um pouco preconceituosa, para não dizer esnobe.
Simone vinha de uma família (perfeita) e de
muitas posses, e ela demonstrava ter sido sempre muito mimada, e suas vontades
eram uma ordem. Lara, porém, vinha uma família cheia de problemas, ela era
filha única e tinha crescido sem o pai, pois ele morrera de acidente de moto,
quando ela era ainda muito pequena, de forma que ela mal se lembrava dele. Sua
mãe era advogada e trabalhava muito, e sempre tinha um novo namorado que
consumia todo seu tempo livre. Portanto, Lara desde muito cedo apreendeu a
cuidar de si mesma. Era decidida e independente.
As aulas começaram.
Era impossível não fazer novas amizades,
todos os dias, num prédio onde todos os moradores eram jovens estudantes
universitários. Nem todos cursavam a mesma universidade, e tão pouco o mesmo
curso. Mas em alguns dias Lara já tinha conhecido um rapaz que deixou seu
coração abalado.
Augusto era seu colega de aula em algumas
matérias, já que ele cursava Engenharia Civil. Ele era incrível, alto, forte e
muito lindo. Dono dos olhos mais lindos que ela já tinha visto. Uma tonalidade
de verde quase esmeralda que contrastava com os cabelos escuros e a pele
morena. E o sorriso? Era o sorriso mais cativante que ela conhecia...
E demonstrava estar interessado nela. No
entanto ele não morava no mesmo prédio que ela. Mas isso não impedia de ele
aparecer sempre por lá e ficar junto dela.
Augusto era alegre e atencioso, a esperava na
entrada do campus para irem juntos para a sala de aula, e quando estavam em
salas diferentes, ele a aguardava próximo a saída. Ele estava, de fato,
gostando dela.
Era um
sábado de tarde e ele a convidou para tomar um sorvete, e ali enquanto
saboreavam o gelado, Augusto falou:
-- Tu és uma criatura incrível!
-- Eu?
-- A guria mais bonita que eu já vi.
-- Obrigada. – Lara olhou para ele um pouco envergonhada. Não
estava acostumada com elogios.
-- Tu queres namorar comigo?
-- Sim, eu quero.
E daquele momento em diante eles formaram o para perfeito.
Eles eram alegres e divertidos, e se gostavam muito. O amor deles era notado
por todos.
O semestre passou rapidamente. E nas férias
de inverno Lara não foi para casa. Não gostava do namorado mãe, pois ele a
olhava com um olhar de cobiça e isso a incomodava muito.
Então Augusto a levou com ele para Cachoeira
do Sul. Queria apresentá-la a sua família, porque ela era mulher de sua vida, a
mulher de seus sonhos. Os pais dele acolheram Lara com muito carinho e ficaram
surpreendidos quando os dois ocuparam o mesmo quarto.
Pela manhã, Lara ainda estava no quarto
quando ouviu vozes alteradas, ficou quieta tentando entender o que diziam:
-- Pai, o que tem de mal. Nós estamos juntos,
nós nos amamos, só isso...
-- Teu irmão nunca desrespeitou o ambiente
familiar.
-- Mas Leandro desde cedo namorou a Fabi que
morava a dois passos daqui. Quero ver se ela tivesse que ficar aqui onde ela
dormiria? Claro que com ele. Em que mundo vocês vivem.
-- São conceitos que temos. Gostamos muito da
Lara, ela é uma moça bonita, inteligente, alegre e realmente demonstra gostar
muito de ti, mas esse comportamento eu não esperava.
-- Pai, tu e mãe estão por fora da realidade.
Eu vou propor a ela para nós moráramos juntos agora no próximo semestre.
-- Bom, ficamos por aqui. Não quero
constranger a moça.
-- Obrigado pai. Mas abre um pouco a tua
mente.
Foi então que Lara resolveu sair do quarto e
ir para a sala. Seu Luis a acolheu com um alegre bom dia, e a levou para tomar
café na cozinha que dona Rute já tinha avisado que estava pronto.
E eles passaram umas férias maravilhosas, e
Augusto apresentou Lara a sua turma. Foram a muitas festas e churrascos, e no
último sábado retribuíram a todos os convites com um churrasco na garagem de
seu Luiz.
As duas semanas de férias passaram rápido e
logo eles estavam de volta a Santa Maria para retomar os estudos.
De fato, naquele semestre Augusto se mudou
para o apartamento de Lara, pois a localização era melhor e o aluguel mais
barato, ainda mais compartilhado. Compraram uma cama de casal e se ajeitaram na
quitinete.
A felicidade deles era contagiante.
Desde o início do curso eles estavam juntos e
nunca tinham tido uma briga séria. As poucas vezes que discordaram, sempre
foram por bobagem.
Eles formavam o par perfeito, era o que
diziam seus amigos e acrescentavam que eles chegavam a ser chatos de tão apaixonados
que eram.
O tempo passou rapidamente, e agora tinham
chegado ao final do curso.
E eles estavam às portas da formatura, e
Augusto decidiu que estava na hora de selarem o compromisso e a convidou para
jantar. E ele pediu que ela colocasse uma roupa mais chique, pois o lugar que
iam era de classe.
Lara se vestiu com requinte. Escolheu um
vestido preto de seda e colocou sandálias também pretas, prendeu o cabelo num
coque baixo e usou um par de brincos dourado combinado com a gargantilha. Ela
estava linda.
Augusto elogiou:
-- Como tu estás linda!
-- Obrigada.
-- Mas tu também estás de tirar o fôlego...
Com esse terno. Eu gosto de te ver arrumado assim.
-- É... Mas eu sempre te tiro o fôlego, não é
verdade?
-- Sim. Mas hoje de uma forma especial.
-- Hum. Quer dizer que nos outros dias é
corriqueiro...
-- É... Mais ou menos. – Ela deu uma risada
debochando dele — Mas agora falando sério, aonde nós vamos?
-- A um lugar especial, para uma ocasião
especial.
-- Eu ainda não estou conseguindo
adivinhar...
-- Não seja tão curiosa. No momento certo
saberás. Vamos...
Ele a levou ao melhor restaurante da cidade.
Augusto tinha feito reserva, e quando chegaram ao restaurante, o casal foi
levado para uma mesa mais no canto, em um espaço especial.
Era um ambiente acolhedor, bem decorado, com
pequenos vasos de flores sobre as mesas vestidas com toalhas na tonalidade
brancas. Era muito lindo e agradável.
Eles fizeram o pedido e escolheram o vinho.
Ambos estavam alegres e conversaram sobre muitas coisas.
Na
hora da sobremesa que Augusto ficou sério, pegou a mão de Laura, acariciou e
levantou os olhos para ela, que o olhava com um sorriso nos lábios.
Então ele falou:
-- Lara eu te amo muito. E tu me amas?
-- Sim, eu te amo muito. Tu bem sabes...
-- Se nós nos amamos tanto assim, precisamos
pensar em nosso futuro juntos.
-- Sim...
-- Então acho que devemos confirmar o nosso
amor em um compromisso.
-- Compromisso?
-- Lara, tu aceitas casar comigo?
E ao mesmo tempo em que falava Augusto tirou
do seu bolso um anel com uma linda safira contornada de pequenos diamantes. E
estava pronto para enfiar no dedo de Lara, quando ela puxou a mão. E perguntou:
-- Casar?
-- Sim meu anjo, eu estou falando em casamento,
e para muito breve.
-- Não posso.
-- Como?
-- Eu te amo muito, mas não posso fazer isso.
Eu sou muito nova e preciso conseguir um trabalho, que não sei onde será. Tu
sabes que o mercado de trabalho para mim não é ainda tão aberto. Eu tenho que
aceitar onde me ofereceram.
-- Mas...
-- Pensa. Seu eu tiver que ir para São Paulo
eu irei. E tu vais comigo? Ou vai trabalhar com teu pai.
Augusto olhava para ela sem acreditar que ela
o estava recusando. E ela continuou falando:
-- Vamos deixar do jeito que as coisas estão
e mais adiante a gente se casa.
-- E nem noivar tu queres. Rejeitastes o
anel.
-- Desculpe. Mas não posso aceitar.
Augusto pediu a conta e eles foram embora.
Não se falaram durante todo o trajeto. O taxi parou e eles desceram
rapidamente.
Lara chorava silenciosamente e Augusto estava
furioso. Não falaram mais no assunto e ao entrar no apartamento, Augusto pegou
uma valise arrumou algumas roupas e disse:
-- Acabou... Outra hora eu venho pegar o
resto das minhas coisas.
Bateu a porta e foi embora.
Lara ficou parada no meio da quitinete
aturdida e sem reação. Não conseguiu falar.
E grossas lágrimas rolavam por suas faces. Ficou ali, ainda um bom tempo
parada sem saber o que fazer.
Só bem depois, depois que ela conseguiu tirar
o vestido e se deitar. Dormir? Ela achava que nunca mais na vida iria dormir.
Augusto não saia de seu pensamento, ele não
podia ter feito isso. Não podia...
A separação deles foi uma bomba no meio
estudantil. Augusto não foi à formatura de Lara e Lara não foi à formatura de
Augusto.
Lara sempre foi muito estudiosa, e havia se
destacado durante o curso. Seu currículo
escolar era perfeito, e foi divulgado pela universidade.
Naqueles dias Lara recebeu um convite de um
empresário paulista para trabalhar. Ele oferecia um bom salário e mais algumas
vantagens.
Lara aceitou, sem pensar, e na semana
seguinte a sua formatura ela foi embora de muda para Campinas.
Com essa mudança, houve também um afastamento
dos amigos, e desse modo, ela passou a ter uma vida solitária.
E Lara nunca mais teve notícias de Augusto.
Nas raras vezes que ela conversou com um dos amigos da época de faculdade,
ninguém falou sobre Augusto. Ele simplesmente sumiu de sua vida.
Mas ela vivia para trabalhar, nunca mis se
interessou por ninguém. Era muito caseira, e o seu tempo livre ela aproveitava
para ler ou assistir um filme.
E assim tinham se passado quatro anos.
Mas aquele convite de casamento a tinha deixado
chocada. Simone estava se casando com Augusto. Seu coração doía muito. Ela não
tinha conseguido esquecê-lo. Ele continuava sendo o amor de sua vida.
Desde aquele famigerado jantar ela não tinha
mais encontrado a paz. Sentia-se incompleta, em seu trabalho, embora ela
gostasse do que fazia, ela sempre estava contrariada. Nada a satisfazia. Ela
tinha um bom salário, tinha conseguido desenvolver algumas técnicas, mas isso
não a deixava feliz. Tinha um vazio em sua vida, que só Augusto poderia
preencher.
Mas Lara decidiu que iria ao casamento, seria
madrinha, e que faria tudo isso para se curar da doença chamada Augusto.
Lara soube que a família de Simone havia se
mudado para a região serrana, e atualmente moravam em uma imensa casa nos
arredores de Canela.
As madrinhas e padrinhos ficariam hospedados
em uma pousada próxima a casa da família. Ela sabia que iria encontrar os
velhos amigos, aquela turma inseparável que eles tinham no tempo de estudantes.
Seria legal revê-los.
Portanto Lara confirmou a presença e
reorganizou sua agenda de trabalho para poder ficar uma semana na serra gaúcha.
Também
foi às compras. Ela estava precisando de roupas adequadas para a ocasião.
Por mais que pensasse Lara não conseguia
entender como Augusto e Simone poderiam estar se casando.
Ele sempre se referiu a ela como uma garota
muito desagradável e esnobe. E ela sempre se referiu a ele com desprezo. E em
muitas ocasiões havia perguntado “ O que tu viste nele?”.
Simone nunca tinha sido uma amiga verdadeira.
Aliás, ela deixou de confiar em Simone logo em seguida que se conheceram.
Foram várias vezes que elas saíram juntas
para as lojas, e tudo que Lara gostava, e que estava fora de seu orçamento,
Simone comprava e se exibia dizendo que dinheiro não lhe faltava.
Muitas vezes Lara tinha a sensação de que
Simone a invejava. E que queria Augusto para ela. Aliás, bastava Lara gostar de
uma coisa, para Simone querer para si.
Lara muitas vezes ficou chocada com as
atitudes de Simone, que não tinha sensibilidade e sempre acabava agredindo e
ofendendo os outros. Havia momentos em que Simone era insuportável.
E muitos amigos se afastaram do grupo.
Por mais que Lara tentasse entender, não
conseguia! Pois as peças não se encaixavam. Simone e Augusto eram antagônicos.
E ela ia pagar para ver. Por isso iria ao casamento.
Uns dias antes, Lara foi chamada pela direção
da empresa. Eles tinham uma ótima proposta para ela.
Queriam investir em seu aprimoramento, e,
portanto, iriam custear o doutorado dela na Alemanha, na FAU – Universidade de
Erlange – Nuremberg. Uma universidade voltada à pesquisa. Seriam dois anos fora
do Brasil. Eles deram um tempo para decidir.
Mas Lara não tinha nada que a impedia de
aceitar a proposta de sua empresa. E ela aceitou na hora.
Mas alertou que tinha um importante
compromisso entre os dias 2 e 7 de outubro. (Seria o casamento do grande amor
de sua vida)
Ela foi questionada por seu chefe sobre o
idioma, pois em seu currículo constava apenas o curso de inglês.
Mas ela era origem alemã, e crescera entre
pessoas que falavam o alemão, de forma que ela falava, lia e escrevia
corretamente o idioma.
O tempo passava rapidamente.
Eram muitas coisas para ajeitar antes de
viajar. Pois ela embarcaria para Alemanha dois depois de retornar do sul.
Precisava deixar tudo pronto antes de viajar
para Porto Alegre.
Chegou o dia de ir para o sul, enfrentar o
seu passado. Pegou sua mala e saiu. Quando Lara chegou ao aeroporto Salgado
Filho ela alugou um carro para subir a serra.
Enquanto dirigia ela não queria pensar em
nada. Sabia que seria muito difícil ver Augusto com Simone, justo ela.
Então sintonizou o rádio em uma estação local
que tocava músicas do gênero que ela curtia. E foi cantando enquanto dirigia e
apreciava a paisagem. Precisa espantar a tristeza e mostrar uma falsa alegria.
Ela chegou à pousada, estacionou o carro,
fechou os olhos e buscou coragem para enfrentar aquela semana, que com certeza
seria a pior semana de sua vida.
Precisava colocar um sorriso nos lábios e não
permitir que ninguém descobrisse a tristeza que morava em seu coração.
Lara respirou fundo, e abriu os olhos e olhou
em volta. Não viu ninguém. Melhor... Ela estava muito nervosa. Suas mãos
tremiam...
Mas desceu do carro e andou bem ereta de
devagar, e se dirigiu a recepção e a levaram até o chalé que estava reservado
para ela.
O local onde estava situada a pousada era
muito lindo, havia um jardim muito bonito, com canteiros de amor-perfeito que
davam um colorido especial ao lugar.
Muitas árvores, passeios e recantos
românticos.
Ela notou que o chalé dela era diferente dos
demais, então perguntou:
-- Os chalés não são todos iguais?
-- De certa forma sim, há uma variação na
decoração, mas têm alguns mais luxuosos e o que está reservado para a senhora é
um deles. Um chalé especial, foi muito recomendado...
-- Ah. E fica mais distante.
-- Sim, mas é mais privativo.
-- São muitos assim?
-- Não. Temos apenas dois desse padrão.
E o rapaz abriu a porta e ela entrou no chalé
que era muito acolhedor. Disposto em três peças. Uma saleta com lareira, muito
bem decorada, com um conjunto de sofá e poltrona na cor coral, tapete na cor
bege e muitas almofadas com estampas florais. Havia uma mesa lateral com um
lindo vaso de rosas naturais e no outro lado um abajur. As cortinas na linha
romântica, era na cor palha. E uma pequena estante com alguns livros...
O quarto tinha uma imensa cama de dois metros
de largura, coberta com uma colcha floral de fundo verde clara, uma poltrona na
cor verde musgo e tapetes laterais na cor verde claro, cortinas branca e criado
mudo e um toucador; e um imenso espelho na parede em frente a cama; e um lindo
banheiro, todo branco, com uma esplendida banheira de hidromassagem.
Sobre o toucador havia flores, um cartão dos
noivos agradecendo a presença e um espumante e alguns bombons.
E um calendário com todo o programa para o
casamento. Eram jantares, ensaios, passeios... Enfim uma programação digna de
Simone.
Lara agradeceu a gentileza do rapaz. Fechou a
porta e inspecionou tudo. Estava desconfiada, era muita paparicação...
Procurou por câmeras, por microfones, mas não
encontrou nada. E todo o objeto que ela desconfiou ela girou.
Desfez sua mala, pendurou suas roupas e
escolheu uma para logo mais. Encheu a banheira, colocou sais e mergulhou na
água morna para relaxar. Até cochilou...
Augusto sabia que Lara iria chegar e queria
encontrar com ela sem a presença da noiva e tão pouco dos amigos. Ele estava
instalado no hotel, em uma suíte similar à dela
Fora ele quem organizara com a recepção da
pousada as acomodações para os amigos.
Todos
seriam recebidos com um mimo no quarto. Bombons, flores e o programa da
comemoração.
Augusto tinha pedido para ser avisado quando
Lara chegasse. Mas ele precisou sair e só agora tinha sido informado.
Então discretamente ele começou a andar pelo
jardim da pousada. Sentou-se em um dos recantos de onde podia ver o chalé que
Lara estava ocupando.
Lara saiu da banheira e enxugou-se,
vestiu-se. Escolheu um jeans e uma camisa de seda rosa claro, arrumou o cabelo,
passou um batom, e foi andar pelo jardim.
Sentou-se em um recanto para pensar. Fechou
os olhos. Precisava se preparar para ver Augusto. E foi nesse momento que ela
escutou a voz inesquecível.
-- Oi... Eu estava te procurando. A portaria
me avisou que tinhas chegado.
Quando ele a viu ficou sem ar, seu coração
disparou. Quanto tempo tinha se passado desde a última vez?
E ela estava linda, com o mesmo jeito de
sempre... Ela estava um pouco mais magra, seus cabelos mais curtos e ainda era
encantadora. E continuava muito bonita...
Lara abriu os olhos e Augusto estava a sua
frente, mais lindo do que nunca. Ele não tinha mais aquele físico de rapaz,
havia se tornado um homem, com ombros largos e peito e braços fortes.
Ela se recompôs rapidamente e colocou um
sorriso no rosto, e respondeu:
-- Oi. Eu estava descansando um pouco.
E ele se sentou ao lado dela, e a
cumprimentou com um beijo em cada face. Ela percebeu que ele estava tenso
também, então resolveu seguir falando.
-- Eu saí muito cedo hoje de Campinas.
Aluguei um carro em Porto Alegre e vim apreciando esse panorama deslumbrante.
Aqui tudo é lindo... Olha esse jardim...
-- Sim. E tudo é cuidado com muito capricho.
Foste bem recebida?
-- Sim. Obrigado pelos mimos, sobretudo pelo
espumante...
Ele olhou para ela e não disse nada. O
telefone dele tocou e era Simone avisando que estava chegando à pousada, queria
ver Lara. Augusto levantou-se e foi esperar sua noiva.
Lara não se mexeu. Ficou ali esperando a
“amiga” chegar.
Simone chegou fazendo um alvoroço e abraçou
sua amiga inúmeras vezes, e repetiu que sentia muita falta dela. E que de agora
em diante não iam mais ficar distantes.
Em seguida chegaram os demais. Eram oito
pares de padrinhos. E naquela noite haveria um jantar de acolhida a todos, e
cada um (padrinho e madrinha) teria que falar sobre os noivos. Relatar algum
fato...
Lara estava nervosa, estava com receio de
deixar transparecer seus sentimentos. Foi para o seu chalé. Precisava pensar o
que falar? E se concentrar para não terminar fazendo um papelão.
Simone estava rodeada por seus convidados e
Augusto se afastou. Foi para perto do pequeno lago e ficou parado olhando o
horizonte, ficou assim um bom tempo, tanto que Simone notou.
Distante do burburinho, Augusto voltou seu pensamento
ao passado. Ele tinha ficado tão infeliz com o rompimento do namoro com Lara,
que se tornou vulnerável.
Naquela época, ele tinha esperanças de que
Lara voltasse atrás e fosse a sua formatura. E então eles pudessem reconsiderar
e retomar o namoro.
Mas ela não foi e Simone se aproveitou de sua
tristeza e o cercou de atenção e carinho, e ainda ofereceu um emprego para ele.
O pai dela estava com um novo projeto de
construção na serra gaúcha precisamente Canela e São Francisco de Paula.
Inclusive ela também iria fazer parte da equipe como arquiteta, eles
trabalhariam juntos.
E ele aceitou sem pestanejar.
Mas isso fez Simone aproximar-se muito
dele. E ele acabou namorando, noivando e
agora estava na véspera de seu casamento.
E ele
não a amava... Tinha se deixado levar.
Simone estava tão irritante. Sempre querendo todas as atenções, sempre
querendo ser o centro de tudo.
E rever Lara, fez o seu amor adormecido
acordar. Ele continuava louco por ela, que estava mais bonita do que nunca. Ele
precisava conversar a sós com ela. Teria que dar um jeito.
A
noite antes do jantar os pais de Augusto se aproximaram de Lara para conversar
um pouco, pois eles sempre gostaram muito dela.
Simone não gostou de ver seus futuros sogros
dando atenção a sua amiga. E comentou
com sua mãe:
-- Por que D. Rute conversa tanto com a Lara?
-- São velhas amigas...
-- Mas não devia ser afinal foi ela quem
deixou o Augusto.
-- E por falar nele, teu noivo está muito
estranho hoje. Acho que devias ficar de olho nele.
-- Não tem perigo mãe. Eu fiz tudo
direitinho. Ele está amarrado a mim.
-- Bem, eu estou te avisando...
O jantar foi servido. E chegou o momento dos
padrinhos se manifestarem. Lara foi a primeira a ser chamada para falar. Suas
mãos estavam geladas, mas levantou-se, pegou a taça e elevou um brinde aos
amigos presentes e...
-- Eu tive o privilégio de ser convidada para
ser madrinha deste querido casal. Sou amiga de ambos. Quando cheguei a
universidade, a primeira pessoa que conheci foi Simone. E ficamos amigas e o
somos até hoje. Logo formamos um grupo de amigos inseparáveis, e para minha
alegria vejo todos aqui. Temos muitas histórias para contar. Mas hoje queremos
brindar a felicidade do casal! Um
brinde!
-- Fala um pouco mais ... – gritou Juliano,
que estava visivelmente embriagado”.
-- Sim, tem muitas histórias picantes para
contar... – falou Marcela.
-- Isso eu deixo para vocês, meus amores.
Obrigada.
Lara sentou-se. Sabia que não tinha dito
nada. Não tinha como falar sem lembrar que ela era a namorada do noivo.
E isso era constrangedor. As histórias
continuaram, e para tranquilidade do ambiente, ninguém se referiu ao namoro de
Lara e Augusto.
O jantar terminou e Simone foi com seus pais
para casa. Os que estavam hospedados ali resolveram curtir a noite, pegaram algumas
garrafas de vinho e foram para o jardim, sentaram-se na grama próximo ao
lago. Augusto os acompanhou.
Ricardo seria o par de Lara. Ele tinha bebido
muito e estava se tornando inconveniente e insistia em abraçar a Lara, que o
afastava discretamente.
Eles estavam todos sentados no chão formando
uma roda e Augusto estava bem de frente para Lara, e percebeu os avanços de
Ricardo sobre ela.
E sem que ninguém esperasse Augusto se
levantou e foi defendê-la.
Ele pegou Ricardo pelo colarinho e o mandou
para dormir em seu chalé e deixar de ficar incomodando todo mundo. Um silêncio
pairou no ar. Ricardo envergonhado se levantou com certa dificuldade e Gabriel
o ajudou a ir para seu quarto.
Com esse incidente, o grupo se dispersou. Foi
cada um para seu quarto. Apenas Augusto
ficou por ali.
Ele estava sóbrio, e não conseguiria dormir.
Seu coração estava muito agitado. Seus pensamentos também.
Lara, em quarto, também estava agitada. Não
tinha bebido, pois precisava estar senhora de seus pensamentos e atos. Tomou um
banho de imersão, relaxou e vestiu seu conjunto de camisola e penhoar, de cetim
preto.
Resolveu abrir o espumante. Serviu-se e
deixou a garrafa no refrigerador. Gostava de beber bem gelado. Apreciava as
borbulhas na taça, quando ouviu uma batida de leve em sua porta.
Ela abriu e era Augusto.
-- Posso entrar um pouco. Preciso conversar
contigo...
-- Entra.
E quando Augusto a viu de camisola ficou
rígido. Ele sonhava muito com ela e sonhava que estavam fazendo amor. Sonhava
que estavam juntos e eram muito felizes. Mas conteve-se.
Lara pediu que sentasse e foi pegar uma taça
e o serviu de espumante. Ela acomodou-se na poltrona e ambos brindaram a noite.
-- Precisamos conversar. Tem algumas coisas
que não ficaram esclarecidas... – disse Augusto.
-- Sim. Muitas coisas—replicou Lara.
-- Então fale... – disse Augusto com a voz um
pouco alterada.
-- Por que a Simone? Não entendo, tu que
sempre falou mal dela...
-- Eu estava vulnerável, tu não quiseste
casar comigo...
-- Mas eu não podia... Nem emprego tinha... E
foste tu que me deixaste...
-- Me senti rejeitado por ti.
-- E como tu achas que eu fiquei depois que
tu foste embora? Eu fiquei completamente só. E tu nem pensou em reconsiderar...
E dizem que eu te deixei, não é verdade, tu sabes...
-- Eu sei...
-- Como foi que Simone te pegou?
E Augusto contou para ela, e ao final Lara
comentou:
-- Ela sempre comprou os vestidos que eu
gostava e não tinha grana para comprar, os sapatos, as bolsas, enfim, tudo o
que eu gostava ela comprava, só para me humilhar e se exibir. Mostrar que ela
tinha dinheiro e eu era uma pobretona. Mas até então, essas atitudes dela, não
me afetavam... Só que agora ela conseguiu pegar para ela, a coisa mais
importante da minha vida.
E Lara não reteve as lágrimas. Era preciso
deixar sair toda tristeza que dominava seu íntimo.
Augusto se aproximou dela, ele também sentia
uma tristeza imensa, então ajoelhou-se e abraçou-se a Lara, e também chorou.
O que tinham feito de suas vidas?
Lara se acalmou, secou as lagrimas com as
costas das mãos, e afastou-se dele. Augusto a olhou e confessou:
-- Eu sempre te amei, eu ainda te amo...
-- E por que vai se casar com ela?
-- Fui levado a isso por ela e sua família.
-- Então estás consciente do teu futuro...
-- De certa forma sim. Cheguei até aqui e
agora não dá mais para recuar. Mas nós podíamos ter uma noite de amor.
-- O quê? Tu tens a coragem de me propor uma
coisa dessas? Por favor, vai embora.
-- Desculpe. Mas eu preciso de ti.
-- Mas não desse jeito... Vai... Tu estás me
faltando com o respeito e dizendo bobagem.
Augusto saiu e Lara trancou a porta e as
janelas. Foi para cama, não chorou, não dormiu, apenas permaneceu deitada...
Ela também sentia muita saudade da vida a
dois que tiveram, ainda ansiava e sonhava com ele, mas não podia descer tão
baixo...
No outro dia às dez horas seria o ensaio na
Catedral de Pedra de Canela. Uma construção imensa, toda feita de pedras. Era
muito linda!
Lara levantou muito cedo, tomou o seu café da
manhã e saiu. Estava abatida, cansada e nervosa, com medo de encontrar com
Augusto. Pegou seu carro, deu uma volta por Gramado e um pouco antes da hora
estacionou o carro na rua lateral da igreja.
Entrou no templo e rezou. Pediu a Jesus que
conduzisse as coisas como deveria ser. Que produzisse força e coragem para ela.
Pois doía muito ver o seu amor se casando com outra.
Ainda estava concentrada rezando, quando
alguém tocou seu ombro. Era Ricardo. Ele estava encabulado e desculpou-se pelo
seu comportamento na noite anterior. Lara sorriu e disse:
-- Não foi nada. Está desculpado.
E juntos foram para a porta da igreja. A
coordenadora da cerimônia estava reunindo todos para as instruções. Mas ainda
faltava chegar o noivo. Simone estava ansiosa e perguntou a todos por ele.
Augusto chegou apressado, foi até sua noiva e
se desculpou, alegando que tinha perdido a hora. Lara não olhou para ele e não
sabia se ele tinha dirigido o olhar para ela.
Quando terminou o ensaio, eles estavam
livres. Só a noite teriam compromisso, que seria um jantar, uma espécie de
despedida de solteiro. Os homens com o noivo e as mulheres com a noiva.
As madrinhas reunidas na casa da noiva e os
padrinhos com o noivo. Onde? Ninguém sabia.
Então Ricardo muito gentil convidou a Lara
para almoçar. Ela deixou o carro dela estacionado ali e foi com ele a um lugar
encantador.
Era fora do circuito de turismo, mas era um
restaurante pequeno, simples e muito acolhedor, com comida típica alemã
deliciosa. Depois ele a levou para passear e foram visitar a cascata do
Caracol, e entraram e muitas lojinhas. Foi uma tarde divertida.
Só no início da noite que eles voltaram à
pousada. E apressados foram se arrumar para o jantar, que seria na casa da
noiva.
Augusto tinha olhado para Lara quando chegou
a igreja e ficou muito chateado com ela, que fez questão de ignorá-lo.
E para
sua decepção, depois, Lara saiu com Ricardo, e passaram a tarde toda
juntos. E chegaram só àquela hora... Ele
estava com ciúmes.
Ele não estava animado nem para a despedida
de solteiro que seus amigos haviam preparado. Seria em uma boate na cidade
vizinha de São Francisco de Paula.
O problema é que Lara não saia do seu
pensamento, ele estava perturbado, pois seus amigos comentavam que ela estava
linda demais. Realmente os homens olhavam para ela com olhos de caçador. E isso
o deixaria furioso. Precisava se esforçar para se controlar o tempo inteiro.
Não podia dar “bandeira”, ainda mais que Simone estava de olho.
Até Simone já havia reclamado dele, que
perecia estar distante e participando dos preparativos do casamento sem
entusiasmo. Mas o que ele podia fazer...
Ele amava Lara com paixão. Sempre foi assim desde que se conheceram, e ele
sabia que ela ainda o amava. O olhar dela denunciava. Era o mesmo olhar...
Lara tomou um banho rápido e se vestiu para o
jantar de despedida de solteira de Simone. Escolheu para a ocasião, um terninho
azul marinho, com uma camisa branca de seda, com detalhes em amarelo.
Ela já estava pronta, mas decidiu dar um
tempo, não queria ir junto com ninguém. Iria sozinha em seu carro. Assim, não
dependia de ninguém, e poderia voltar cedo.
Lara só queria que tudo terminasse. Estava
arrependida de ter aceito participar dessa semana “pré-nupcial”.
Pegou o telefone e viu que tinha cinco
mensagens de Augusto, e em todas elas, ele estava perguntando onde ela estava.
Lara logo apagou as mensagens. E disse pra si
mesma: “Ele surtou. Vai casar amanhã... “Olhou a hora e achou que já podia ir.
Quando saiu de seu chalé, Lara se deu de cara
com Augusto que estava esperando por ela.
Ela se assustou. Achou que ele já tivesse saído.
-- Lara, eu preciso conversar contigo...
-- Não. Já estou atrasada...
-- Eu preciso de ti...
-- Agora é muito tarde. Já estás
comprometido. Eu preciso ir. Tchau
E Augusto a viu se afastar rapidamente. Ficou
parado olhando e pensando que nunca mais eles poderiam ficar juntos. Ele havia
estragado tudo.
Ricardo e Luciano se aproximaram de Augusto,
que fingiu estar esperando pelos amigos, e os três saíram para a festa de
despedida. Havia muita animação entre os rapazes, o único desanimado era o
noivo. Até parecia que estava a caminho do calabouço.
Na casa de Simone estavam todas as luzes
acesas em todas as salas. Algumas amigas de Simone que Lara não conhecia foram apresentadas
a ela.
As bebidas foram servidas. E Lara decidida a
não beber, pediu um suco de uva.
O jantar transcorreu com elegância. Foi
servido à francesa. E mais uma vez a família de Simone arrasou.
Após as convidadas foram para uma sala
privada. E ali começam as brincadeiras organizadas por Marcela, Carina, Débora
e Miriam.
Mas antes Lara entregou a noiva uma liga
azul, para ela ter uma coisa azul para usar na hora de seu casamento, Aline
entregou um par de brincos antigos, para ela ter uma coisa velha. Letícia deu
uma calcinha para ela usar uma coisa nova e Fabiane emprestou o seu colar, para
ela ter uma coisa emprestada e isso daria sorte a noiva.
A brincadeira que Marcela escolheu foi
“adivinha o que o noivo disse”. Marcela havia feito várias perguntas ao noivo e
agora a noiva tinha que responde de acordo com a resposta do noivo, enfim
acertar qual foi a resposta do noivo. Se errasse, teria que pagar uma prenda.
Foi muito divertida e Simone acertou apenas
uma entre as dez perguntas. Estava muito mal, pensou Lara, que não se atreveu a
dizer, mas Fabiane se arriscou a falar e a noiva não gostou.
Depois foi a brincadeira criada por Carina
que consistia em completar a frase: “ eu nunca...” Essa foi bem legal e todas participaram e
deram muitas risadas.
Débora veio com o jogo de “lingerie” que nada
mais era do adivinhar quem das amigas deu aquela peça. Foi legal. Alguns erros.
Elas já estavam bêbadas, inclusive a noiva,
pois cada pergunta erguia o copo para um brinde. Apenas Lara se mantinha
sóbria.
E por fim Miriam veio com a “uma caixa para
minha história”, e essa brincadeira consistia em fazer a noiva contar a
historieta de seu namoro e sempre acrescentando o objeto tirado de dentro da
caixa. Foi muito engraçada e um pouco constrangedor, pois Simone enveredou para
o caminho da intimidade do casal.
E foi nesse momento que ela decidiu sair de
fininho. Mas Simone percebeu e a pegou pelo braço e com a fala enrolada, disse:
-- Fica, Lara, para me escutar. Eu consegui!
E agora ele é meu. Eu sempre te detestei porque ele estava contigo. Mas tudo
mudou... Não vai dizer nada? Não vai chorar?
-- Eu sempre soube da tua falsidade, nunca me
enganaste...
-- Então por que aceitou ser minha madrinha?
-- Para não te dar a vitória. Eu estou bem...
Melhor do que tu, que estás totalmente insegura... Continuo sendo amada
enquanto que tu precisas comprar o amor dele. Ele veio atrás de mim, queria
ficar comigo. Eu recusei. Portanto eu venci mais uma vez. Tu vais ficar com as
migalhas.
-- Isso é mentira...
-- Tchau. Até amanhã.
E Laura se retirou como um raio. Pegou seu
carro e foi andar pela cidade. Ela estava aborrecida consigo mesma, pois tinha
se deixado levar pela provocação de Simone de acabou dizendo coisas que não
eram para serem ditas.
Já estava a caminho da pousada quando avistou
Lucas e Antônio caminhando em direção a Canela. Ela diminuiu a velocidade e
parou junto deles e perguntou:
-- Oi, vocês querem carona?
Os dois se olharam e aceitaram a oferta.
Entraram no carro e Lara percebeu que tinha alguma coisa errada e os
questionou:
-- O que foi que deu de errado na despedida
de solteiro? Vocês estão muito estranhos...
-- Bem, ainda não temos certeza. Só saberemos
amanhã. – disse Lucas
-- A festa de vocês já terminou? A Aline já está no hotel? Perguntou Antônio.
-- Não sei, eu sai mais cedo, discuti com a
noiva. Imagina que situação a minha...
-- Bah... Esse casamento vai dá o que
falar... – comentou Lucas.
-- Vocês não vão me contar o que aconteceu?
–disse Laura.
-- O noivo sumiu...
-- Como assim? Cadê o resto da turma? E por
que vocês estavam a pé?
-- Nos separamos para procurar por ele. Fomos
de van para festa para poder beber. Mas deu tudo errado. – disse Antônio.
-- Estava tudo bem organizado, contratamos
umas gatas para alegrar o ambiente, e, por favor, não conta para as nossas
esposas, só nos dois somos casados.
-- Tudo bem continua....
-- Tudo rolando direitinho, até que Augusto
abraçado em duas gatas avisou que ia ter um particular. – disse Lucas.
-- Até aí tudo certo, as gatas não eram para
o noivo se esbaldar? Ele deve estar
curtindo... – disse Lara.
-- Aí é que está o problema. Ele foi com
elas, mas não ficou com elas. Ele sumiu.
Foram elas que nos avisaram depois que ficaram um tempo esperando por
ele, que tinha dito que voltava logo. – disse Antônio.
-- Ele deve estar na pousada. Vamos para lá.
--- completou Lara.
-- Não está na pousada, já estivemos lá. O
carro dele está estacionado, mas ele não está. Mas vamos, não quero brigar com
Marcela. Já é muito tarde. – disse Lucas.
Quando eles chegaram os outros rapazes também
estavam chegando. Foram direto na suíte do noivo, talvez ele estivesse dormindo.
Estava destrancada, Rodrigo entrou e estava vazia. Realmente ninguém sabia do
noivo. E decidiram ficar quietos. Não iriam contar para noiva. O negócio era
todos irem para a catedral normalmente e esperar para ver o que aconteceria.
Antes de se vestir para a cerimônia, Laura
deixou todas as suas coisas arrumadas e sua bagagem na mala do carro. Não iria
participar do almoço comemorativo, não tinha coragem... Logo após o casamento,
ela iria visitar sua mãe que estava morando em Torres. Ela desceria a serra
pela estrada do sol.
Lara vestiu-se com capricho. Tinha escolhido
para a ocasião um vestido na tonalidade azul hortênsia, com estampa de pequenos
ramos de flores.
Era em musselina num modelo drapeado no corpo
e a saia solta, sendo mais curta na frente. Era um modelo original e próprio
para uma cerimônia de casamento as 11horas, tinha assentado muito bem nela, ressaltando suas curvas com elegância.
Quando ela entrou na igreja chamou atenção de
todos. Ela tinha colocado um sorriso nos lábios, precisava disfarçar a angustia
que tinha dentro de si. Procurou ficar mais quieta, sem conversar, apenas
observando.
Estava na hora do casamento, a igreja estava
cheia e a noiva estava dentro do carro esperando o sinal da organizadora, para
entrar, sobre o tapete vermelho, pela nave principal, que estava toda enfeitada
com flores brancas. Mas o caso era que o noivo ainda não tinha aparecido.
Já passava quinze minutos da hora e ninguém
se atrevia a ir contar para Simone que o noivo não tinha chegado.
Até que a organizadora foi até o pai dela,
que resolveu dizer à filha que não haveria casamento por causa da ausência do
noivo.
Simone se desesperou. Houve um mal-estar
geral. E Lara tratou de ir embora. E saiu sem se despedir. Pegou seu carro e se
afastou dali. Só mais adiante foi que ela parou em um restaurante e usou a
toalete para trocar de roupa. Vestiu uma
calça jeans, uma blusa de malha e calçou tênis. Almoçou e seguiu viagem com seu
telefone desligado. Não queria nem saber o que estava acontecendo.
Lara sabia que depois, Carina que sempre
tinha sido uma amiga sincera, lhe informaria de todos os detalhes, e ainda mais
que ela também achava Simone insuportável e havia dito que não acreditava na
realização daquele casamento.
Ela lembrava-se de suas palavras: “Lara, o
Augusto sempre foi louco por ti. Eu vi o sofrimento dele quando vocês
terminaram e tenho certeza que esse casamento não sai. Tu achas que ele vai
casar com ela depois de te ver, ainda mais linda como tu estás, e sabendo que
tu não tens namorado. Ele vai tentar de novo. Escuta bem o que estou te
falando!”
Lara não conseguia parar de pensar em
Augusto, foi com certa dificuldade que se concentrou na estrada, era uma
descida muito perigosa e tinha movimento.
Ao chegar em Torres demorou para encontrar o
endereço onde sua mãe estava morando. Estacionou o carro e desceu olhou ao
redor e deveria ser ali.
Era uma casa enorme, em meio a um imenso
jardim. Uma casa linda. E Lara pensou que o novo namorado de sua mãe deveria
ter muita grana.
Tocou no interfone e esperou. Identificou-se
e o portão se abriu e a mandaram entrar de carro.
Sua mãe a esperava na porta da casa,
acompanhada por um homem de cerca de sessenta anos. Um tipo simpático. E pensou
que agora sua mãe tinha procurado “a sua turma”, isto é, gente de sua idade.
Foi muito bem acolhida, e Carlos a recebeu
com alegria, quase como uma filha. Pela primeira vez ela sentiu-se em família.
Soube que ele também tinha uma filha, que estava morando na Califórnia, em São
Francisco.
Lara
permaneceu ali dois dias, tempo suficiente para colocar a conversa em dia.
Voltou a Porto Alegre para retornar para Campinas.
Uma
semana depois Lara estava em Nuremberg no estado da Baviera, na Alemanha. A
universidade que ela iria estudar era muito antiga, tinha sido fundada em 1743.
Com cerca de 40 mil alunos era uma das mais importes em pesquisas em toda a
Europa.
Ela estava radiante. Seu pequeno apartamento
era muito confortável e bem próximo do campus. As aulas haviam começado há uma
semana, mas ela se integrou rapidamente a sua equipe de pesquisa.
Além de seu chefe e sua mãe, apenas sua amiga
Carina sabia o novo telefone dela e seu endereço na Alemanha. E cerca de um tempo depois ela ligou:
-- Oi, como estás, minha querida?
-- Carina! Que surpresa. Eu estou
maravilhosamente bem. Aqui é muito lindo, e muito frio e meus colegas são
ótimos. Estou muito entusiasmada. E aí
como estão às coisas? O Augusto apareceu?
-- Bah... Foi um babado. Logo que tu saíste,
um motoqueiro estacionou ao lado do carro onde estava a noiva e entregou a ela
uma carta. Era mais um bilhete, que Augusto mandou para ela justificando sua
fuga. E com essas palavras: “Eu amo outra mulher. Não posso me casar contigo.
Desculpe.”
-- E daí?
-- Claro que Simone gritava; “aquela traidora
da Lara”
-- Mas até os rapazes de te defenderam,
dizendo que naquela noite da festa tu encontraste com eles e que estavam juntos
procurando pelo noivo.
-- Mas ela estava completamente
descontrolada. Foi um escândalo o tal não casamento. Diante daquele grande
número de convidados, havia um burburinho na igreja e ninguém ia embora, todos
esperando para ver o que ainda aconteceria. Foi divertido. Coitada!
-- Bem pelo que sei, ela forçou a barra
através de coação, pois ele perderia o emprego. E isso não é legal. Augusto
sempre foi estudioso e deve ser um ótimo engenheiro. E aonde ele se escondeu?
-- Naquela noite ele fugiu da tal boate e
pegou a camionete dele e foi para Florianópolis. Ele ligou, dias depois, para o
Juliano, que dividia o apartamento com ele, pedindo para mandar as suas roupas.
Que colocasse em uma caixa e despachasse como frete.
-- Então ele está em Floripa?
-- Acho que não.
-- Não!
-- Ele queria saber de ti. Eu disse que tu
estavas estudando na Alemanha. Ele pediu teu endereço. Acho que ele vai te
visitar.
-- Estás de brincadeira...
-- Sério. Peço desculpas. Mas vocês precisam
de mais uma chance. Vocês se amam. Vou ficar na torcida. Só para saber o Juliano
também está deixando a construtora do pai da Simone, e vem morar comigo.
Estamos nos acertando. Ele até já conseguiu um trabalho novo.
-- Que bom. Sejam felizes.
-- Obrigada. Um beijão.
Lara ficou pensando na atitude de Augusto e
ficou muito decepcionada com ele. Jamais ele deveria ter procedido desta forma.
Deveria ser homem o suficiente para terminar com Simone antes de todos aqueles
festejos suntuosos do casamento.
Mas Augusto não foi visitar Lara. E não foi
por falta de vontade, foi por falta de dinheiro. Ele tinha abandonado o emprego
e tinha perdido seus direitos. E o que ele precisava urgentemente era de um
emprego. E conseguiu em Curitiba.
Augusto sabia que não tinha agido corretamente
em relação a Simone, e estava preocupado com o que Lara iria pensar dele quando
soubesse de tudo.
Conhecia Lara perfeitamente e sabia que ela
não aceitava esse comportamento covarde dele. Ele deveria ter tido coragem e
terminado com Simone antes dos preparativos do casamento.
Mas ele estava envolvido em uma rede, o
trabalho e a família dela o enredaram. E só naquela noite que conversou com
Lara foi que ele percebeu que não poderia casar. Ele amava a Lara, e era um
amor muito profundo. E ele apenas suportava a Simone.
E estando livre tinha chances de reconquistar
sua amada.
Augusto foi trabalhar no Chile. Sua empresa
estava construindo um shopping em Santiago e com previsão de no mínimo dois
anos para terminar a obra. Então antes disso ele não voltaria ao Brasil.
Ele tentou ligar para a Lara, mas não
conseguiu completara ligação. Faltava um algarismo no conjunto do número.
Então mandou um e-mail para ela, pois sabia
que ela não se manifestava em redes sociais.
E agora era esperar o retorno...
E Lara, quando viu que ele havia entrado em
contato com ela, ficou radiante, seu coração pulsava forte e suas mãos tremiam.
Credo!
Ela respondeu ao e-mail depois de duas
semanas, e sem dar muita abertura. Não queria criar ilusões. Estavam distantes
e precisava se dedicar ao seu doutorado.
Desculpou-se dizendo que os estudos estavam
tomando todo o tempo. Mas que tinha ficado feliz em ter noticia dele e desejou
sucesso em seu trabalho no Chile.
E depois deste gelo, Augusto e Lara se
comunicavam raramente, só de tempos em tempos.
Hugo era o monitor de Lara. Um homem
simpático e muito alegre. Não era bonito. Ele tinha os cabelos, cílios e
sobrancelhas numa tonalidade muito clara, sua pele com muitas sardas e os olhos
de um azul profundo. Mas ganhava em
cordialidade e elegância.
Ele era inteligente e notadamente estava
apaixonado por Lara. Ela ficava até encabulada com o modo que ele a olhava,
mesmo quando estavam em aula. Ela o considerava um bom amigo e dessa forma o
tratava. Mas Hugo arriscou e a convidou para sair e ela respondeu;
-- Eu aceito com uma condição.
-- Diga...
-- Apenas no campo da amizade. Meu coração já
tem dono e não quero te dar esperanças. E se for assim, vamos ser ótimos
companheiros.
-- Aceito.
E a partir daquele dia se tornaram
inseparáveis. Eram parceiros na pesquisa e isso fazia com que passassem muitas
horas juntos. Hugo respeitou o acordo que fizeram e nunca declarou seu amor por
ela.
Os dias passavam... E Lara sentia muita
saudade de sua terra, e sobretudo, de Augusto.
Queria ter conversado mais com ele, naqueles
dias que antecederam o “casamento”. Mas não foi possível. E depois daquela
proposta indecente...
Mas o fato era que ela pensava tanto nele que
ele estava sempre em seus sonhos. Não tivera mais notícias dele e nem sabia se
ele ainda estava trabalhando no Chile.
Talvez ele estivesse até comprometido com
outra mulher. E ela precisa saber, por que se ele estava sozinho ela ainda
teria alguma chance. Era uma esperança que alimentava no fundo de seu coração.
Os feriados de fim de ano se aproximavam. Ela
teria vinte dias de folga, e isso era tempo suficiente para visitar sua mãe e
rever alguns amigos especiais. Ela precisava se decidir.
Conversou com sua mãe e ela viajaria. Iria
passar o fim de ano em Dubai. Tentou falar com Carina e não conseguiu, então
decidiu enviar um e-mail para Augusto, que retornou como endereço inválido.
Agora sim. Havia perdido totalmente o contato
com Augusto. Seu coração se apertou e Lara chorou.
Todos tinham um rumo em suas vidas, todos
tinham uma programação para o fim de ano, apenas ela que estava longe, e não tinha ninguém, iria ficar sozinha.
Então iria curtir a sua solidão no Natal.
Pois até seu amigo Hugo, tinha programado, visitar seus parentes na Polônia.
Naquela noite havia uma nevasca muito forte e
Lara com uma xícara de chá bem quente estava em pé junto à janela vendo a neve
cair. As pessoas que ainda estavam na rua caminhavam apressadas.
Ela se assustou quando seu celular chamou.
Foi ver e era número restrito. Ela não costumava dar importância, mas naquele
momento ela atendeu a ligação.
E quando ela escutou a voz do outro lado,
suas pernas tremeram. Ela ficou tão nervosa que até derrubou um pouco de chá no
piso. Precisou sentar. Era uma surpresa tão boa... Era Augusto querendo saber
dela.
-- Alô... Alô... Está me escutando? –
perguntou ele.
-- Sim.
Como vais?
-- Tudo bem e contigo?
-- Tudo certo.
-- É muito cara essa ligação para não ir
direto ao ponto. Então quero te ver nesses feriados. Poderíamos nos encontrar
em Portugal.
-- Portugal?
-- Sim. Para mim fica bem mais barato. Não
tenho grana...
-- Mas a diferença da passagem, tu vais
economizar em hospedagem. Vem pra cá. Com o teu inglês tu chegas fácil até
aqui. Te garanto.
-- Ok. Vou ver. Depois te confirmo. Beijos
-- Beijos.
Laura não sabia se aquilo tinha acontecido
realmente. Foi um telefonema meio louco, falaram só o essencial, mas o fato é
que ele queria estar com ela no Natal. Com o coração aos pulos ela ria sozinha.
Parecia meio enlouquecida. Augusto tinha ligado para ela...
Fazia muito tempo..., mas entre eles sempre
houve uma sintonia tão grande, que parecia que estavam sempre conectados. Desde
que se conheceram era assim.
Eles não precisavam de muitas palavras, eles
precisavam era de proximidade. E a distância estava machucando.
Ela tinha ficado furiosa com ele por causa do
casamento. Ela sabia que ele não gostava de Simone, só não entendia por que ele
tinha seguido adiante. Conhecia Simone muito bem e sabia que ela devia ter
investido muito forte para ele se deixar levar.
Embora não concordasse com o modo como aquele
“casamento” terminou, estava feliz porque Augusto ainda poderia ser dela. E
dessa vez ela não ia vacilar, dessa vez eles iam ser felizes para sempre.
Dois dias depois ela recebeu uma mensagem de
texto dele, onde confirmava sua ida e mandava o número do voo e o horário de
chegada. E então Laura foi às compras.
Precisava comprar roupas adequadas para ele;
um casaco, meias, luvas, cachecol e calças próprias para aquele frio intenso.
Também comprou doces, chocolates, biscoitos,
e ingredientes para uma ceia de Natal. Escolheu um vinho e levou também licor
de cereja. Foi a uma lojinha perto de seu apartamento e comprou uma pequena
árvore e enfeites para deixar o ambiente de sua sala, totalmente voltado para o
Natal.
E chegou o dia!
Lara foi esperá-lo no aeroporto. O horário
previsto de chegada era as 17.40h. Ela ao chegar ao aeroporto viu que o voo
dele estava com previsão de chegada dentro do horário marcado.
Augusto já tinha se comunicado com ela, de
Amsterdã, onde ele fez escala e precisou esperar um bom tempo, aproximadamente
6 horas. Mas agora ele estava chegando. Ele estava fazendo o mesmo itinerário
que ela havia feito.
O avião posou e ela estava ansiosa. A saudade
era muito grande. Enfim ele apareceu. Augusto parou e a procurou pelo saguão.
Ela já tinha o avistado, mas precisava chegar até ele.
Eles ficaram frente a frente. E com lágrimas
nos olhos Augusto a abraçou com força, tanto que ela quase ficou sem ar.
Beijava seus cabelos e suas faces. Ele a manteve em seus braços e só então se
afastou e olhou para ela com os olhos marejados de lágrimas.
Pegaram a mala dele e saíram em direção à
estação do metrô. Estava muito frio e estava começando a nevar. Em pouco tempo
estavam chegando ao prédio onde ela morava que ficava muito próxima a saída do
metrô.
Entraram no apartamento e Augusto gostou de
ver como ela tinha se preocupado em enfeitar a casa para o Natal. Ele sabia que
ela gostava muito do Natal, que para ela era a festa mais importante do ano.
Ali estava quente e o ambiente era
aconchegante. Ele pousou a mala e se atirou no sofá. Estava muito cansado. A
viagem sobre o Atlântico tinha sido um pouco tensa, havia uma tempestade e ele
não relaxou em momento algum.
Laura foi à cozinha aquecer o chocolate que
ela já tinha deixado pronto. E veio para junto dele com duas canecas
fumegantes. Ela sentou a seu lado e entregou uma caneca para ele. Concentrados
em sorver a bebida quente eles não falaram, apenas se olhavam. Até que:
-- O que houve com teu endereço de e-mail? --
Perguntou Lara.
-- Eu cancelei. Meu PC foi roubado.
-- Hum. Foi recentemente?
-- Já faz um tempo. E eu ainda não comprei
outra máquina. Mas me conta como tu estas aqui?
-- Eu estou bem. Às vezes é muito solitário,
mas normalmente eu estou sempre bem ativa. A minha turma é muito boa e estou
bem integrada, mas fim de semana e feriado é difícil. Bate uma saudade...
-- Sei como é. Comigo aconteceu o mesmo
enquanto estava no Chile.
-- Onde estás trabalhando? Voltou para o
Brasil?
-- Não. Ainda tenho mais uma temporada por
lá.
-- É faz parte do nosso trabalho.
Augusto descansou a caneca em uma mesinha,
pegou a caneca da mãe dela e colocou junto da sua e a passou seu braço por
sobre os ombros de Lara e a puxou para perto dele. Queria sentir as batidas de
seu coração. Acarinhou seu rosto e a beijou com carinho, com amor...
Então disse:
-- Não acho justo nós termos que ficar tão
distante um do outro. Eu não aguento mais. Tenho vontade mandar tudo as
favas...
-- Eu também... Mas e depois? Precisamos trabalhar para viver...
Disse Lara.
-- Eu te quero em minha vida. Já faz tempo
demais... Não tem jeito, eu preciso de
ti. Tu és o meu Norte... Primeiro tu te recusaste a casar comigo. Fiquei muito
magoado contigo. Jamais imaginei que me dirias um não. Depois entrei naquela
furada de me casar com Simone... E agora estamos um em cada lado do
mundo... Longe de ti eu me perco e só
faço bobagem.
-- Não vamos falar sobre isso. Vamos
aproveitar que estamos juntos, que vamos passar o Natal assim, bem abraçadinho.
Eu também te quero. Tu és a única pessoa no mundo que me interessa.
Ele a abraçou e a manteve junto de si, sua
vontade era se fundir nela e por isso a mantinha tão apertada, que ela estava
com dificuldade para respirar.
Ela se aconchegou em seu peito, estava com
saudade de seu cheiro, de seu gosto... Fazia muito tempo...
A nevasca ficou mais intensa e Lara o levou a
janela para poderem apreciar juntos. Ela gostava de ver a neve. E bem juntinhos
eles ficaram olhando pela vidraça as pessoas caminhando depressa em direção as
suas casas. Alguns cheios de pacotes. Era quase Natal, e esse período deixava
as pessoas felizes, todos eram mais solidários e fraternos.
Mais tarde, depois de saborearem uma sopa de
batata eles foram se preparar para deitar. Augusto estava visivelmente cansado.
Ela preparou para ele um banho de imersão em água tépida e ele relaxou.
Ela o fez deitar antes dela. E depois chegou pé por pé não queria
acordá-lo, pois ele estava tão quieto que devia estar em um sono ferrado. E
quando ela deitou bem devagarzinho ele pulou em cima dela.
Lara levou um susto enorme. E Augusto ria
dela. E se amaram com loucura. Seus corações estavam inquietos há muito tempo.
Eles se queriam muito. E depois do amor eles dormiram abraçados.
Foram dias especiais.
O sol brilhou e eles passearam pela cidade,
descobriram lugares encantadores. Juntos prepararam a ceia de Natal. Foram a
Missa do Galo e trocaram presentes e juras de amor.
Ambos sabiam que estavam vivendo um
interlúdio de amor. Que logo a rotina de suas vidas iria afastá-los outra vez.
Mas não queriam pensar sobre isso. Desejavam curtir o momento.
A despedida no aeroporto foi difícil. Não
queriam se largar. E Augusto foi o último passageiro e entrar no avião.
Ele estava com o coração despedaçado. Colocou
óculos escuros para ninguém notar que ele não conseguia conter as lágrimas. Foi
a viagem mais difícil de sua vida. Deixar sua amada do outro lado do planeta.
Augusto decidiu que não iria mais voltar para
o Chile. Então pediu demissão. Foi para Campinas, pois era para lá de que Lara
iria voltar e ele queria se estabelecer,
para que quando ela retornasse ele tivesse algo para oferecer a ela.
Ele conseguiu um emprego. A cidade crescia e
havia muitas construções. E agora Augusto estava mais sossegado. Tinha alugado
um apartamento bom, mobiliado e pronto receber sua amada.
Depois de eles terem reatado o compromisso,
Augusto e Lara se comunicavam diariamente. E apesar da distância, estavam
felizes e cheios de esperança.
Lara havia sido convidada para ser membro
permanente da equipe de pesquisa da universidade, porém ela não aceitou.
Tinha
compromisso com sua empresa, que tinha financiado seus estudos para o doutorado.
Agora faltava pouco para ela voltar ao
Brasil. Mas não seria antes de março e aquele Natal eles estariam distantes.
Eles tentaram dar um jeito, mas não conseguiram.
Ela precisava terminar sua monografia e
preparar a apresentação de sua tese. E ele não teria férias de fim de ano. A
obra estava atrasada, pois tinha chovido muito e só agora eles poderiam fazer a
concretagem e ele precisava supervisionar.
Foi um Natal solitário, mas recheado de
esperanças...
Enfim Lara voltou!
Ela adorou o apartamento que ele havia
escolhido para eles morarem. Era bem próximo ao local de trabalho dela. Ela
teve apenas uma semana de folga, antes de entrar na rotina.
Eles estavam felizes. Estavam com a data do
casamento marcada. Não haveria festa.
Seria somente um almoço para os mais
próximos. Carina e Juliano os padrinhos dela e Antônio e Aline os pradinhos de
Augusto.
Os pais e o irmão de Augusto e a mãe de
Laura, já tinha avisado que não poderia estar presente.
Foi uma cerimônia simples, pela manhã em uma
pequena capela próximo ao local onde moravam.
Ela
usava um vestido curto na tonalidade branco pérola e um arranjo de flores nos
cabelos, quando entrou na capela, sozinha pelo corredor central. Ela estava
muito linda!
Augusto estava emocionado. Ele a esperava no
presbitério, mesmo sendo uma cerimônia simples, foi emocionante.
Quanto tempo ele esperou por esse momento,
para ouvir a sua amada dizer sim diante de Deus. Eles selaram diante do altar o
amor que os unia, e nada no mundo iria separá-los.
Isso foi um pacto que eles fizeram. Nada iria
separá-los. Já tinham vivido essa experiência e não foi nada boa. De agora em
diante seriam um só e para sempre.
Escolheram para passar a lua de mel, uma
pousada na serra em Campos do Jordão. Eles queriam curtir o seu amor e uma bela
paisagem.
Os dias corriam tranquilos...
Aquele dia Lara não foi trabalhar. Ela estava
de laudo, pois estava de repouso por causa da gravidez.
Eles estavam cerca de três meses casados,
quando uma moça chilena, com uma filha nos braços, bateu a porta dizendo que a
criança era filha de Augusto.
Lara ficou calma. Precisava ter sangue frio.
Não ia maltratar a moça. Mas fez muitas perguntas. E repetiu as perguntas e a
moça se atrapalhou. E ela viu que tudo era uma grande mentira.
Por fim a moça confessou que ela tivera sim,
um envolvimento com Augusto há dois anos, nada mais do que uma noite, e que
tinha sido paga para se meter com ele.
E, que mais uma vez foi paga para dizer que
daquela noite tinha nascido uma filha. Ela inclusive estava munida de fotos da
relação intima deles. E que o exame de DNA iria dar positivo. Estava tudo
pronto para criar a separação do casal. E que Augusto estava sendo seguido há
muito tempo.
Lara ficou furiosa. Queria matar Simone. Era
óbvio que algo assim só podia ser de quem tem muito dinheiro para jogar fora.
Mas se conteve. Telefonou para Augusto e
chamou a polícia e um advogado. E não deixou a moça sair. Ofereceu a ela um
café com biscoitos para distraí-la.
A moça saiu detida, a criança foi para o
juizado e o homem contratado para seguir Augusto foi localizado e preso.
E Augusto e Laura moveram uma ação contra
Simone.
Agora os dias passavam tranquilos. A gravidez
de Laura vingou e ela estava indo para o hospital para ter o seu primeiro bebê.
Augusto estava junto dela e estava muito nervoso.
Já era perto do meio dia quando o pequeno
Felipe nasceu. Veio ao mundo para trazer muita alegria a seus pais, que estavam
radiantes de felicidade.
Um tempo depois eles souberam que eles haviam
ganhado, a ação na justiça, e Simone teria que pagar ao casal por perdas e
danos um valor considerável.
Augusto e Laura viam com orgulho o pequeno
Felipe crescer saudável. “O amor é lindo quando verdadeiro.”
Fim