segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

EU PRECISO DE TI


              
                   
                   
                                                   EU PRECISO DE TI



Lara entrou em seu prédio, pegou em sua caixa a correspondência e subiu para seu apartamento. Estava curiosa com um envelope especial que estava entre os demais. O papel era na cor azul hortênsia e muito distinto.
Ela abriu e viu que era um convite de casamento de sua amiga Simone. Em um anexo havia, um pequeno bilhete, com o convite especial, para ela ser sua madrinha. Isso a fez chorar... Tanta coisa tinha acontecido...   E a fez lembrar o passado e voltar ao tempo feliz...

Lara estava feliz! Tinha passado no vestibular e logo estaria saindo de sua cidade para cursar Engenharia Biomédica, na UNIFRA em Santa Maria, RS, uma cidade universitária, situada no coração do estado de onde vinham jovens estudantes de todos os quadrantes do estado e até do exterior.
Ela já estava praticamente de malas prontas, pois estava ansiosa demais. Ela iria uns dias antes, pois precisava encontrar um lugar para morar. Sua mãe, que era viúva, não poderia acompanhá-la por ter compromissos de trabalho.
Foi na imobiliária, que Lara conheceu Simone, que era também calouro. Com entusiasmo, as duas, conseguiram alugar duas unidades vizinhas num prédio de pequenos apartamentos próprios para estudantes. Elas estavam cheias de expectativas para seus cursos, e dos novos amigos que fariam. Conversavam muito e estavam se dando muito bem. Poderia se pensar que já eram as melhores amigas.
As férias estavam terminando, e Lara logo providenciou sua mudança. Ela gostava de tudo bem arrumado, e mesmo gastando pouco dinheiro, ela conseguiu deixar o lugar acolhedor. E o seu ninho como costumava dizer.
Os móveis era apenas o essencial, fogão, geladeira, uma mesa e quatro mochinhos, e um pequeno armário para guardar os mantimentos e louça, que também era pouca. O apartamento era tipo quitinete, e ela colocou sua cama num canto e encheu de almofadas coloridas, para servir também de sofá. Um pequeno armário completava seus pertences. Ela estava orgulhosa de seu trabalho. Tinha ficado uma graça o seu AP.

Mesmo ainda faltando uns dias para o início do semestre, naquele fim de semana, já havia muitos jovens circulando pelos corredores.  Lara já tinha conversado com alguns. Ela sempre foi muito comunicativa, logo fazia novas amizades, o que não acontecia com Simone, que era um pouco preconceituosa, para não dizer esnobe.
Simone vinha de uma família (perfeita) e de muitas posses, e ela demonstrava ter sido sempre muito mimada, e suas vontades eram uma ordem. Lara, porém, vinha uma família cheia de problemas, ela era filha única e tinha crescido sem o pai, pois ele morrera de acidente de moto, quando ela era ainda muito pequena, de forma que ela mal se lembrava dele. Sua mãe era advogada e trabalhava muito, e sempre tinha um novo namorado que consumia todo seu tempo livre. Portanto, Lara desde muito cedo apreendeu a cuidar de si mesma. Era decidida e independente.
As aulas começaram.
Era impossível não fazer novas amizades, todos os dias, num prédio onde todos os moradores eram jovens estudantes universitários. Nem todos cursavam a mesma universidade, e tão pouco o mesmo curso. Mas em alguns dias Lara já tinha conhecido um rapaz que deixou seu coração abalado.
Augusto era seu colega de aula em algumas matérias, já que ele cursava Engenharia Civil. Ele era incrível, alto, forte e muito lindo. Dono dos olhos mais lindos que ela já tinha visto. Uma tonalidade de verde quase esmeralda que contrastava com os cabelos escuros e a pele morena. E o sorriso? Era o sorriso mais cativante que ela conhecia...
E demonstrava estar interessado nela. No entanto ele não morava no mesmo prédio que ela. Mas isso não impedia de ele aparecer sempre por lá e ficar junto dela. 
Augusto era alegre e atencioso, a esperava na entrada do campus para irem juntos para a sala de aula, e quando estavam em salas diferentes, ele a aguardava próximo a saída. Ele estava, de fato, gostando dela.
 Era um sábado de tarde e ele a convidou para tomar um sorvete, e ali enquanto saboreavam o gelado, Augusto falou:
-- Tu és uma criatura incrível!
-- Eu?
-- A guria mais bonita que eu já vi.
-- Obrigada. – Lara olhou para ele um pouco envergonhada. Não estava acostumada com elogios.
-- Tu queres namorar comigo?
-- Sim, eu quero.
E daquele momento em diante eles formaram o para perfeito. Eles eram alegres e divertidos, e se gostavam muito. O amor deles era notado por todos. 
O semestre passou rapidamente. E nas férias de inverno Lara não foi para casa. Não gostava do namorado mãe, pois ele a olhava com um olhar de cobiça e isso a incomodava muito.
Então Augusto a levou com ele para Cachoeira do Sul. Queria apresentá-la a sua família, porque ela era mulher de sua vida, a mulher de seus sonhos. Os pais dele acolheram Lara com muito carinho e ficaram surpreendidos quando os dois ocuparam o mesmo quarto.
Pela manhã, Lara ainda estava no quarto quando ouviu vozes alteradas, ficou quieta tentando entender o que diziam:
-- Pai, o que tem de mal. Nós estamos juntos, nós nos amamos, só isso...
-- Teu irmão nunca desrespeitou o ambiente familiar.
-- Mas Leandro desde cedo namorou a Fabi que morava a dois passos daqui. Quero ver se ela tivesse que ficar aqui onde ela dormiria? Claro que com ele. Em que mundo vocês vivem.
-- São conceitos que temos. Gostamos muito da Lara, ela é uma moça bonita, inteligente, alegre e realmente demonstra gostar muito de ti, mas esse comportamento eu não esperava.
-- Pai, tu e mãe estão por fora da realidade. Eu vou propor a ela para nós moráramos juntos agora no próximo semestre.
-- Bom, ficamos por aqui. Não quero constranger a moça.
-- Obrigado pai. Mas abre um pouco a tua mente.
Foi então que Lara resolveu sair do quarto e ir para a sala. Seu Luis a acolheu com um alegre bom dia, e a levou para tomar café na cozinha que dona Rute já tinha avisado que estava pronto.
E eles passaram umas férias maravilhosas, e Augusto apresentou Lara a sua turma. Foram a muitas festas e churrascos, e no último sábado retribuíram a todos os convites com um churrasco na garagem de seu Luiz. 
As duas semanas de férias passaram rápido e logo eles estavam de volta a Santa Maria para retomar os estudos.
De fato, naquele semestre Augusto se mudou para o apartamento de Lara, pois a localização era melhor e o aluguel mais barato, ainda mais compartilhado. Compraram uma cama de casal e se ajeitaram na quitinete.
A felicidade deles era contagiante.

Desde o início do curso eles estavam juntos e nunca tinham tido uma briga séria. As poucas vezes que discordaram, sempre foram por bobagem.
Eles formavam o par perfeito, era o que diziam seus amigos e acrescentavam que eles chegavam a ser chatos de tão apaixonados que eram.
O tempo passou rapidamente, e agora tinham chegado ao final do curso.
E eles estavam às portas da formatura, e Augusto decidiu que estava na hora de selarem o compromisso e a convidou para jantar. E ele pediu que ela colocasse uma roupa mais chique, pois o lugar que iam era de classe.
Lara se vestiu com requinte. Escolheu um vestido preto de seda e colocou sandálias também pretas, prendeu o cabelo num coque baixo e usou um par de brincos dourado combinado com a gargantilha. Ela estava linda.
Augusto elogiou:
-- Como tu estás linda!
-- Obrigada.
-- Mas tu também estás de tirar o fôlego... Com esse terno. Eu gosto de te ver arrumado assim.
-- É... Mas eu sempre te tiro o fôlego, não é verdade?
-- Sim. Mas hoje de uma forma especial.
-- Hum. Quer dizer que nos outros dias é corriqueiro...
-- É... Mais ou menos. – Ela deu uma risada debochando dele — Mas agora falando sério, aonde nós vamos?
-- A um lugar especial, para uma ocasião especial.
-- Eu ainda não estou conseguindo adivinhar...
-- Não seja tão curiosa. No momento certo saberás. Vamos...
Ele a levou ao melhor restaurante da cidade. Augusto tinha feito reserva, e quando chegaram ao restaurante, o casal foi levado para uma mesa mais no canto, em um espaço especial.
Era um ambiente acolhedor, bem decorado, com pequenos vasos de flores sobre as mesas vestidas com toalhas na tonalidade brancas. Era muito lindo e agradável.
Eles fizeram o pedido e escolheram o vinho. Ambos estavam alegres e conversaram sobre muitas coisas.
 Na hora da sobremesa que Augusto ficou sério, pegou a mão de Laura, acariciou e levantou os olhos para ela, que o olhava com um sorriso nos lábios.
Então ele falou:
-- Lara eu te amo muito. E tu me amas?
-- Sim, eu te amo muito. Tu bem sabes...
-- Se nós nos amamos tanto assim, precisamos pensar em nosso futuro juntos.
-- Sim...
-- Então acho que devemos confirmar o nosso amor em um compromisso.
-- Compromisso?
-- Lara, tu aceitas casar comigo?
E ao mesmo tempo em que falava Augusto tirou do seu bolso um anel com uma linda safira contornada de pequenos diamantes. E estava pronto para enfiar no dedo de Lara, quando ela puxou a mão. E perguntou:
-- Casar?
-- Sim meu anjo, eu estou falando em casamento, e para muito breve.
-- Não posso.
-- Como?
-- Eu te amo muito, mas não posso fazer isso. Eu sou muito nova e preciso conseguir um trabalho, que não sei onde será. Tu sabes que o mercado de trabalho para mim não é ainda tão aberto. Eu tenho que aceitar onde me ofereceram.
-- Mas...
-- Pensa. Seu eu tiver que ir para São Paulo eu irei. E tu vais comigo? Ou vai trabalhar com teu pai.
Augusto olhava para ela sem acreditar que ela o estava recusando. E ela continuou falando:
-- Vamos deixar do jeito que as coisas estão e mais adiante a gente se casa.
-- E nem noivar tu queres. Rejeitastes o anel.
-- Desculpe. Mas não posso aceitar.
Augusto pediu a conta e eles foram embora. Não se falaram durante todo o trajeto. O taxi parou e eles desceram rapidamente.
Lara chorava silenciosamente e Augusto estava furioso. Não falaram mais no assunto e ao entrar no apartamento, Augusto pegou uma valise arrumou algumas roupas e disse:
-- Acabou... Outra hora eu venho pegar o resto das minhas coisas.
Bateu a porta e foi embora.
Lara ficou parada no meio da quitinete aturdida e sem reação. Não conseguiu falar.  E grossas lágrimas rolavam por suas faces. Ficou ali, ainda um bom tempo parada sem saber o que fazer.
Só bem depois, depois que ela conseguiu tirar o vestido e se deitar. Dormir? Ela achava que nunca mais na vida iria dormir.
Augusto não saia de seu pensamento, ele não podia ter feito isso. Não podia...
A separação deles foi uma bomba no meio estudantil. Augusto não foi à formatura de Lara e Lara não foi à formatura de Augusto.

Lara sempre foi muito estudiosa, e havia se destacado durante o curso.  Seu currículo escolar era perfeito, e foi divulgado pela universidade.
Naqueles dias Lara recebeu um convite de um empresário paulista para trabalhar. Ele oferecia um bom salário e mais algumas vantagens.
Lara aceitou, sem pensar, e na semana seguinte a sua formatura ela foi embora de muda para Campinas.
Com essa mudança, houve também um afastamento dos amigos, e desse modo, ela passou a ter uma vida solitária.
E Lara nunca mais teve notícias de Augusto. Nas raras vezes que ela conversou com um dos amigos da época de faculdade, ninguém falou sobre Augusto. Ele simplesmente sumiu de sua vida.
Mas ela vivia para trabalhar, nunca mis se interessou por ninguém. Era muito caseira, e o seu tempo livre ela aproveitava para ler ou assistir um filme.
E assim tinham se passado quatro anos.
                                                          
Mas aquele convite de casamento a tinha deixado chocada. Simone estava se casando com Augusto. Seu coração doía muito. Ela não tinha conseguido esquecê-lo. Ele continuava sendo o amor de sua vida.
Desde aquele famigerado jantar ela não tinha mais encontrado a paz. Sentia-se incompleta, em seu trabalho, embora ela gostasse do que fazia, ela sempre estava contrariada. Nada a satisfazia. Ela tinha um bom salário, tinha conseguido desenvolver algumas técnicas, mas isso não a deixava feliz. Tinha um vazio em sua vida, que só Augusto poderia preencher.
Mas Lara decidiu que iria ao casamento, seria madrinha, e que faria tudo isso para se curar da doença chamada Augusto.
Lara soube que a família de Simone havia se mudado para a região serrana, e atualmente moravam em uma imensa casa nos arredores de Canela.
As madrinhas e padrinhos ficariam hospedados em uma pousada próxima a casa da família. Ela sabia que iria encontrar os velhos amigos, aquela turma inseparável que eles tinham no tempo de estudantes. Seria legal revê-los.
Portanto Lara confirmou a presença e reorganizou sua agenda de trabalho para poder ficar uma semana na serra gaúcha.
 Também foi às compras. Ela estava precisando de roupas adequadas para a ocasião.
Por mais que pensasse Lara não conseguia entender como Augusto e Simone poderiam estar se casando.
Ele sempre se referiu a ela como uma garota muito desagradável e esnobe. E ela sempre se referiu a ele com desprezo. E em muitas ocasiões havia perguntado “ O que tu viste nele?”.
Simone nunca tinha sido uma amiga verdadeira. Aliás, ela deixou de confiar em Simone logo em seguida que se conheceram.
Foram várias vezes que elas saíram juntas para as lojas, e tudo que Lara gostava, e que estava fora de seu orçamento, Simone comprava e se exibia dizendo que dinheiro não lhe faltava.
Muitas vezes Lara tinha a sensação de que Simone a invejava. E que queria Augusto para ela. Aliás, bastava Lara gostar de uma coisa, para Simone querer para si.
Lara muitas vezes ficou chocada com as atitudes de Simone, que não tinha sensibilidade e sempre acabava agredindo e ofendendo os outros. Havia momentos em que Simone era insuportável.
E muitos amigos se afastaram do grupo.

Por mais que Lara tentasse entender, não conseguia! Pois as peças não se encaixavam. Simone e Augusto eram antagônicos. E ela ia pagar para ver. Por isso iria ao casamento.
Uns dias antes, Lara foi chamada pela direção da empresa. Eles tinham uma ótima proposta para ela.
Queriam investir em seu aprimoramento, e, portanto, iriam custear o doutorado dela na Alemanha, na FAU – Universidade de Erlange – Nuremberg. Uma universidade voltada à pesquisa. Seriam dois anos fora do Brasil. Eles deram um tempo para decidir.
Mas Lara não tinha nada que a impedia de aceitar a proposta de sua empresa. E ela aceitou na hora.
Mas alertou que tinha um importante compromisso entre os dias 2 e 7 de outubro. (Seria o casamento do grande amor de sua vida)
Ela foi questionada por seu chefe sobre o idioma, pois em seu currículo constava apenas o curso de inglês.
Mas ela era origem alemã, e crescera entre pessoas que falavam o alemão, de forma que ela falava, lia e escrevia corretamente o idioma.
O tempo passava rapidamente.
Eram muitas coisas para ajeitar antes de viajar. Pois ela embarcaria para Alemanha dois depois de retornar do sul.
Precisava deixar tudo pronto antes de viajar para Porto Alegre.


Chegou o dia de ir para o sul, enfrentar o seu passado. Pegou sua mala e saiu. Quando Lara chegou ao aeroporto Salgado Filho ela alugou um carro para subir a serra.
Enquanto dirigia ela não queria pensar em nada. Sabia que seria muito difícil ver Augusto com Simone, justo ela.
Então sintonizou o rádio em uma estação local que tocava músicas do gênero que ela curtia. E foi cantando enquanto dirigia e apreciava a paisagem. Precisa espantar a tristeza e mostrar uma falsa alegria.
Ela chegou à pousada, estacionou o carro, fechou os olhos e buscou coragem para enfrentar aquela semana, que com certeza seria a pior semana de sua vida.
Precisava colocar um sorriso nos lábios e não permitir que ninguém descobrisse a tristeza que morava em seu coração.
Lara respirou fundo, e abriu os olhos e olhou em volta. Não viu ninguém. Melhor... Ela estava muito nervosa. Suas mãos tremiam...
Mas desceu do carro e andou bem ereta de devagar, e se dirigiu a recepção e a levaram até o chalé que estava reservado para ela.
O local onde estava situada a pousada era muito lindo, havia um jardim muito bonito, com canteiros de amor-perfeito que davam um colorido especial ao lugar.
Muitas árvores, passeios e recantos românticos.
Ela notou que o chalé dela era diferente dos demais, então perguntou:
-- Os chalés não são todos iguais?
-- De certa forma sim, há uma variação na decoração, mas têm alguns mais luxuosos e o que está reservado para a senhora é um deles. Um chalé especial, foi muito recomendado...
-- Ah. E fica mais distante.
-- Sim, mas é mais privativo.
-- São muitos assim?
-- Não. Temos apenas dois desse padrão.
E o rapaz abriu a porta e ela entrou no chalé que era muito acolhedor. Disposto em três peças. Uma saleta com lareira, muito bem decorada, com um conjunto de sofá e poltrona na cor coral, tapete na cor bege e muitas almofadas com estampas florais. Havia uma mesa lateral com um lindo vaso de rosas naturais e no outro lado um abajur. As cortinas na linha romântica, era na cor palha. E uma pequena estante com alguns livros...
O quarto tinha uma imensa cama de dois metros de largura, coberta com uma colcha floral de fundo verde clara, uma poltrona na cor verde musgo e tapetes laterais na cor verde claro, cortinas branca e criado mudo e um toucador; e um imenso espelho na parede em frente a cama; e um lindo banheiro, todo branco, com uma esplendida banheira de hidromassagem.
Sobre o toucador havia flores, um cartão dos noivos agradecendo a presença e um espumante e alguns bombons.
E um calendário com todo o programa para o casamento. Eram jantares, ensaios, passeios... Enfim uma programação digna de Simone.
Lara agradeceu a gentileza do rapaz. Fechou a porta e inspecionou tudo. Estava desconfiada, era muita paparicação...
Procurou por câmeras, por microfones, mas não encontrou nada. E todo o objeto que ela desconfiou ela girou.
Desfez sua mala, pendurou suas roupas e escolheu uma para logo mais. Encheu a banheira, colocou sais e mergulhou na água morna para relaxar. Até cochilou...
Augusto sabia que Lara iria chegar e queria encontrar com ela sem a presença da noiva e tão pouco dos amigos. Ele estava instalado no hotel, em uma suíte similar à dela
Fora ele quem organizara com a recepção da pousada as acomodações para os amigos.
 Todos seriam recebidos com um mimo no quarto. Bombons, flores e o programa da comemoração.

Augusto tinha pedido para ser avisado quando Lara chegasse. Mas ele precisou sair e só agora tinha sido informado.
Então discretamente ele começou a andar pelo jardim da pousada. Sentou-se em um dos recantos de onde podia ver o chalé que Lara estava ocupando.
Lara saiu da banheira e enxugou-se, vestiu-se. Escolheu um jeans e uma camisa de seda rosa claro, arrumou o cabelo, passou um batom, e foi andar pelo jardim.
Sentou-se em um recanto para pensar. Fechou os olhos. Precisava se preparar para ver Augusto. E foi nesse momento que ela escutou a voz inesquecível.
-- Oi... Eu estava te procurando. A portaria me avisou que tinhas chegado.
Quando ele a viu ficou sem ar, seu coração disparou. Quanto tempo tinha se passado desde a última vez?
E ela estava linda, com o mesmo jeito de sempre... Ela estava um pouco mais magra, seus cabelos mais curtos e ainda era encantadora. E continuava muito bonita...
Lara abriu os olhos e Augusto estava a sua frente, mais lindo do que nunca. Ele não tinha mais aquele físico de rapaz, havia se tornado um homem, com ombros largos e peito e braços fortes.
Ela se recompôs rapidamente e colocou um sorriso no rosto, e respondeu:
-- Oi. Eu estava descansando um pouco.
E ele se sentou ao lado dela, e a cumprimentou com um beijo em cada face. Ela percebeu que ele estava tenso também, então resolveu seguir falando.
-- Eu saí muito cedo hoje de Campinas. Aluguei um carro em Porto Alegre e vim apreciando esse panorama deslumbrante. Aqui tudo é lindo... Olha esse jardim...
-- Sim. E tudo é cuidado com muito capricho. Foste bem recebida?
-- Sim. Obrigado pelos mimos, sobretudo pelo espumante...
Ele olhou para ela e não disse nada. O telefone dele tocou e era Simone avisando que estava chegando à pousada, queria ver Lara. Augusto levantou-se e foi esperar sua noiva.
Lara não se mexeu. Ficou ali esperando a “amiga” chegar.
Simone chegou fazendo um alvoroço e abraçou sua amiga inúmeras vezes, e repetiu que sentia muita falta dela. E que de agora em diante não iam mais ficar distantes.
Em seguida chegaram os demais. Eram oito pares de padrinhos. E naquela noite haveria um jantar de acolhida a todos, e cada um (padrinho e madrinha) teria que falar sobre os noivos. Relatar algum fato...
Lara estava nervosa, estava com receio de deixar transparecer seus sentimentos. Foi para o seu chalé. Precisava pensar o que falar? E se concentrar para não terminar fazendo um papelão.
Simone estava rodeada por seus convidados e Augusto se afastou. Foi para perto do pequeno lago e ficou parado olhando o horizonte, ficou assim um bom tempo, tanto que Simone notou.
Distante do burburinho, Augusto voltou seu pensamento ao passado. Ele tinha ficado tão infeliz com o rompimento do namoro com Lara, que se tornou vulnerável.
Naquela época, ele tinha esperanças de que Lara voltasse atrás e fosse a sua formatura. E então eles pudessem reconsiderar e retomar o namoro.
Mas ela não foi e Simone se aproveitou de sua tristeza e o cercou de atenção e carinho, e ainda ofereceu um emprego para ele.
O pai dela estava com um novo projeto de construção na serra gaúcha precisamente Canela e São Francisco de Paula. Inclusive ela também iria fazer parte da equipe como arquiteta, eles trabalhariam juntos.
E ele aceitou sem pestanejar.
Mas isso fez Simone aproximar-se muito dele.  E ele acabou namorando, noivando e agora estava na véspera de seu casamento.
 E ele não a amava... Tinha se deixado levar.  Simone estava tão irritante. Sempre querendo todas as atenções, sempre querendo ser o centro de tudo.
E rever Lara, fez o seu amor adormecido acordar. Ele continuava louco por ela, que estava mais bonita do que nunca. Ele precisava conversar a sós com ela. Teria que dar um jeito.
 A noite antes do jantar os pais de Augusto se aproximaram de Lara para conversar um pouco, pois eles sempre gostaram muito dela.
Simone não gostou de ver seus futuros sogros dando atenção a sua amiga.  E comentou com sua mãe:
-- Por que D. Rute conversa tanto com a Lara?
-- São velhas amigas...
-- Mas não devia ser afinal foi ela quem deixou o Augusto.
-- E por falar nele, teu noivo está muito estranho hoje. Acho que devias ficar de olho nele.
-- Não tem perigo mãe. Eu fiz tudo direitinho. Ele está amarrado a mim.
-- Bem, eu estou te avisando...

O jantar foi servido. E chegou o momento dos padrinhos se manifestarem. Lara foi a primeira a ser chamada para falar. Suas mãos estavam geladas, mas levantou-se, pegou a taça e elevou um brinde aos amigos presentes e...
-- Eu tive o privilégio de ser convidada para ser madrinha deste querido casal. Sou amiga de ambos. Quando cheguei a universidade, a primeira pessoa que conheci foi Simone. E ficamos amigas e o somos até hoje. Logo formamos um grupo de amigos inseparáveis, e para minha alegria vejo todos aqui. Temos muitas histórias para contar. Mas hoje queremos brindar a felicidade do casal!  Um brinde!
-- Fala um pouco mais ... – gritou Juliano, que estava visivelmente embriagado”.
-- Sim, tem muitas histórias picantes para contar... – falou Marcela.
-- Isso eu deixo para vocês, meus amores. Obrigada.
Lara sentou-se. Sabia que não tinha dito nada. Não tinha como falar sem lembrar que ela era a namorada do noivo.
E isso era constrangedor. As histórias continuaram, e para tranquilidade do ambiente, ninguém se referiu ao namoro de Lara e Augusto.
O jantar terminou e Simone foi com seus pais para casa. Os que estavam hospedados ali resolveram curtir a noite, pegaram algumas garrafas de vinho e foram para o jardim, sentaram-se na grama próximo ao lago.  Augusto os acompanhou.
Ricardo seria o par de Lara. Ele tinha bebido muito e estava se tornando inconveniente e insistia em abraçar a Lara, que o afastava discretamente.
Eles estavam todos sentados no chão formando uma roda e Augusto estava bem de frente para Lara, e percebeu os avanços de Ricardo sobre ela.
E sem que ninguém esperasse Augusto se levantou e foi defendê-la.
Ele pegou Ricardo pelo colarinho e o mandou para dormir em seu chalé e deixar de ficar incomodando todo mundo. Um silêncio pairou no ar. Ricardo envergonhado se levantou com certa dificuldade e Gabriel o ajudou a ir para seu quarto.
Com esse incidente, o grupo se dispersou. Foi cada um para seu quarto.  Apenas Augusto ficou por ali.

Ele estava sóbrio, e não conseguiria dormir. Seu coração estava muito agitado. Seus pensamentos também.
Lara, em quarto, também estava agitada. Não tinha bebido, pois precisava estar senhora de seus pensamentos e atos. Tomou um banho de imersão, relaxou e vestiu seu conjunto de camisola e penhoar, de cetim preto.
Resolveu abrir o espumante. Serviu-se e deixou a garrafa no refrigerador. Gostava de beber bem gelado. Apreciava as borbulhas na taça, quando ouviu uma batida de leve em sua porta.
Ela abriu e era Augusto.
-- Posso entrar um pouco. Preciso conversar contigo...
-- Entra.
E quando Augusto a viu de camisola ficou rígido. Ele sonhava muito com ela e sonhava que estavam fazendo amor. Sonhava que estavam juntos e eram muito felizes. Mas conteve-se.
Lara pediu que sentasse e foi pegar uma taça e o serviu de espumante. Ela acomodou-se na poltrona e ambos brindaram a noite.
-- Precisamos conversar. Tem algumas coisas que não ficaram esclarecidas... – disse Augusto.
-- Sim. Muitas coisas—replicou Lara.
-- Então fale... – disse Augusto com a voz um pouco alterada.
-- Por que a Simone? Não entendo, tu que sempre falou mal dela...
-- Eu estava vulnerável, tu não quiseste casar comigo...
-- Mas eu não podia... Nem emprego tinha... E foste tu que me deixaste...
-- Me senti rejeitado por ti.
-- E como tu achas que eu fiquei depois que tu foste embora? Eu fiquei completamente só. E tu nem pensou em reconsiderar... E dizem que eu te deixei, não é verdade, tu sabes...
-- Eu sei...
-- Como foi que Simone te pegou?
E Augusto contou para ela, e ao final Lara comentou:
-- Ela sempre comprou os vestidos que eu gostava e não tinha grana para comprar, os sapatos, as bolsas, enfim, tudo o que eu gostava ela comprava, só para me humilhar e se exibir. Mostrar que ela tinha dinheiro e eu era uma pobretona. Mas até então, essas atitudes dela, não me afetavam... Só que agora ela conseguiu pegar para ela, a coisa mais importante da minha vida.
E Lara não reteve as lágrimas. Era preciso deixar sair toda tristeza que dominava seu íntimo.
 Augusto se aproximou dela, ele também sentia uma tristeza imensa, então ajoelhou-se e abraçou-se a Lara, e também chorou.
O que tinham feito de suas vidas?
Lara se acalmou, secou as lagrimas com as costas das mãos, e afastou-se dele. Augusto a olhou e confessou:

-- Eu sempre te amei, eu ainda te amo...
-- E por que vai se casar com ela?
-- Fui levado a isso por ela e sua família.
-- Então estás consciente do teu futuro...
-- De certa forma sim. Cheguei até aqui e agora não dá mais para recuar. Mas nós podíamos ter uma noite de amor.
-- O quê? Tu tens a coragem de me propor uma coisa dessas? Por favor, vai embora.
-- Desculpe. Mas eu preciso de ti.
-- Mas não desse jeito... Vai... Tu estás me faltando com o respeito e dizendo bobagem.
Augusto saiu e Lara trancou a porta e as janelas. Foi para cama, não chorou, não dormiu, apenas permaneceu deitada...
Ela também sentia muita saudade da vida a dois que tiveram, ainda ansiava e sonhava com ele, mas não podia descer tão baixo...

No outro dia às dez horas seria o ensaio na Catedral de Pedra de Canela. Uma construção imensa, toda feita de pedras. Era muito linda!
Lara levantou muito cedo, tomou o seu café da manhã e saiu. Estava abatida, cansada e nervosa, com medo de encontrar com Augusto. Pegou seu carro, deu uma volta por Gramado e um pouco antes da hora estacionou o carro na rua lateral da igreja.
Entrou no templo e rezou. Pediu a Jesus que conduzisse as coisas como deveria ser. Que produzisse força e coragem para ela. Pois doía muito ver o seu amor se casando com outra.
Ainda estava concentrada rezando, quando alguém tocou seu ombro. Era Ricardo. Ele estava encabulado e desculpou-se pelo seu comportamento na noite anterior. Lara sorriu e disse:
-- Não foi nada. Está desculpado.
E juntos foram para a porta da igreja. A coordenadora da cerimônia estava reunindo todos para as instruções. Mas ainda faltava chegar o noivo. Simone estava ansiosa e perguntou a todos por ele.
Augusto chegou apressado, foi até sua noiva e se desculpou, alegando que tinha perdido a hora. Lara não olhou para ele e não sabia se ele tinha dirigido o olhar para ela.
Quando terminou o ensaio, eles estavam livres. Só a noite teriam compromisso, que seria um jantar, uma espécie de despedida de solteiro. Os homens com o noivo e as mulheres com a noiva.
As madrinhas reunidas na casa da noiva e os padrinhos com o noivo. Onde? Ninguém sabia.
Então Ricardo muito gentil convidou a Lara para almoçar. Ela deixou o carro dela estacionado ali e foi com ele a um lugar encantador.
Era fora do circuito de turismo, mas era um restaurante pequeno, simples e muito acolhedor, com comida típica alemã deliciosa. Depois ele a levou para passear e foram visitar a cascata do Caracol, e entraram e muitas lojinhas. Foi uma tarde divertida.

Só no início da noite que eles voltaram à pousada. E apressados foram se arrumar para o jantar, que seria na casa da noiva.
Augusto tinha olhado para Lara quando chegou a igreja e ficou muito chateado com ela, que fez questão de ignorá-lo.
 E para sua decepção, depois, Lara saiu com Ricardo, e passaram a tarde toda juntos.  E chegaram só àquela hora... Ele estava com ciúmes.
Ele não estava animado nem para a despedida de solteiro que seus amigos haviam preparado. Seria em uma boate na cidade vizinha de São Francisco de Paula.
O problema é que Lara não saia do seu pensamento, ele estava perturbado, pois seus amigos comentavam que ela estava linda demais. Realmente os homens olhavam para ela com olhos de caçador. E isso o deixaria furioso. Precisava se esforçar para se controlar o tempo inteiro. Não podia dar “bandeira”, ainda mais que Simone estava de olho.
Até Simone já havia reclamado dele, que perecia estar distante e participando dos preparativos do casamento sem entusiasmo.  Mas o que ele podia fazer... Ele amava Lara com paixão. Sempre foi assim desde que se conheceram, e ele sabia que ela ainda o amava. O olhar dela denunciava. Era o mesmo olhar...


Lara tomou um banho rápido e se vestiu para o jantar de despedida de solteira de Simone. Escolheu para a ocasião, um terninho azul marinho, com uma camisa branca de seda, com detalhes em amarelo.
Ela já estava pronta, mas decidiu dar um tempo, não queria ir junto com ninguém. Iria sozinha em seu carro. Assim, não dependia de ninguém, e poderia voltar cedo.
Lara só queria que tudo terminasse. Estava arrependida de ter aceito participar dessa semana “pré-nupcial”.
Pegou o telefone e viu que tinha cinco mensagens de Augusto, e em todas elas, ele estava perguntando onde ela estava.
Lara logo apagou as mensagens. E disse pra si mesma: “Ele surtou. Vai casar amanhã... “Olhou a hora e achou que já podia ir.
Quando saiu de seu chalé, Lara se deu de cara com Augusto que estava esperando por ela.  Ela se assustou. Achou que ele já tivesse saído.
-- Lara, eu preciso conversar contigo...
-- Não. Já estou atrasada...
-- Eu preciso de ti...
-- Agora é muito tarde. Já estás comprometido. Eu preciso ir. Tchau
E Augusto a viu se afastar rapidamente. Ficou parado olhando e pensando que nunca mais eles poderiam ficar juntos. Ele havia estragado tudo.
Ricardo e Luciano se aproximaram de Augusto, que fingiu estar esperando pelos amigos, e os três saíram para a festa de despedida. Havia muita animação entre os rapazes, o único desanimado era o noivo. Até parecia que estava a caminho do calabouço.


Na casa de Simone estavam todas as luzes acesas em todas as salas. Algumas amigas de Simone que Lara não conhecia foram apresentadas a ela.
As bebidas foram servidas. E Lara decidida a não beber, pediu um suco de uva.
O jantar transcorreu com elegância. Foi servido à francesa. E mais uma vez a família de Simone arrasou.


Após as convidadas foram para uma sala privada. E ali começam as brincadeiras organizadas por Marcela, Carina, Débora e Miriam.
Mas antes Lara entregou a noiva uma liga azul, para ela ter uma coisa azul para usar na hora de seu casamento, Aline entregou um par de brincos antigos, para ela ter uma coisa velha. Letícia deu uma calcinha para ela usar uma coisa nova e Fabiane emprestou o seu colar, para ela ter uma coisa emprestada e isso daria sorte a noiva.
A brincadeira que Marcela escolheu foi “adivinha o que o noivo disse”. Marcela havia feito várias perguntas ao noivo e agora a noiva tinha que responde de acordo com a resposta do noivo, enfim acertar qual foi a resposta do noivo. Se errasse, teria que pagar uma prenda.
Foi muito divertida e Simone acertou apenas uma entre as dez perguntas. Estava muito mal, pensou Lara, que não se atreveu a dizer, mas Fabiane se arriscou a falar e a noiva não gostou.
Depois foi a brincadeira criada por Carina que consistia em completar a frase: “ eu nunca...”  Essa foi bem legal e todas participaram e deram muitas risadas.
Débora veio com o jogo de “lingerie” que nada mais era do adivinhar quem das amigas deu aquela peça. Foi legal. Alguns erros.
Elas já estavam bêbadas, inclusive a noiva, pois cada pergunta erguia o copo para um brinde. Apenas Lara se mantinha sóbria.
E por fim Miriam veio com a “uma caixa para minha história”, e essa brincadeira consistia em fazer a noiva contar a historieta de seu namoro e sempre acrescentando o objeto tirado de dentro da caixa. Foi muito engraçada e um pouco constrangedor, pois Simone enveredou para o caminho da intimidade do casal.
E foi nesse momento que ela decidiu sair de fininho. Mas Simone percebeu e a pegou pelo braço e com a fala enrolada, disse:
-- Fica, Lara, para me escutar. Eu consegui! E agora ele é meu. Eu sempre te detestei porque ele estava contigo. Mas tudo mudou... Não vai dizer nada? Não vai chorar?
-- Eu sempre soube da tua falsidade, nunca me enganaste...
-- Então por que aceitou ser minha madrinha?
-- Para não te dar a vitória. Eu estou bem... Melhor do que tu, que estás totalmente insegura... Continuo sendo amada enquanto que tu precisas comprar o amor dele. Ele veio atrás de mim, queria ficar comigo. Eu recusei. Portanto eu venci mais uma vez. Tu vais ficar com as migalhas.
-- Isso é mentira...
-- Tchau. Até amanhã.
E Laura se retirou como um raio. Pegou seu carro e foi andar pela cidade. Ela estava aborrecida consigo mesma, pois tinha se deixado levar pela provocação de Simone de acabou dizendo coisas que não eram para serem ditas.
Já estava a caminho da pousada quando avistou Lucas e Antônio caminhando em direção a Canela. Ela diminuiu a velocidade e parou junto deles e perguntou:
-- Oi, vocês querem carona?
Os dois se olharam e aceitaram a oferta. Entraram no carro e Lara percebeu que tinha alguma coisa errada e os questionou:
-- O que foi que deu de errado na despedida de solteiro? Vocês estão muito estranhos...
-- Bem, ainda não temos certeza. Só saberemos amanhã. – disse Lucas
-- A festa de vocês já terminou?  A Aline já está no hotel? Perguntou Antônio.
-- Não sei, eu sai mais cedo, discuti com a noiva. Imagina que situação a minha...
-- Bah... Esse casamento vai dá o que falar... – comentou Lucas.
-- Vocês não vão me contar o que aconteceu? –disse Laura.
-- O noivo sumiu...
-- Como assim? Cadê o resto da turma? E por que vocês estavam a pé?
-- Nos separamos para procurar por ele. Fomos de van para festa para poder beber. Mas deu tudo errado. – disse Antônio.
-- Estava tudo bem organizado, contratamos umas gatas para alegrar o ambiente, e, por favor, não conta para as nossas esposas, só nos dois somos casados.
-- Tudo bem continua....
-- Tudo rolando direitinho, até que Augusto abraçado em duas gatas avisou que ia ter um particular. – disse Lucas.
-- Até aí tudo certo, as gatas não eram para o noivo se esbaldar?  Ele deve estar curtindo... – disse Lara.
-- Aí é que está o problema. Ele foi com elas, mas não ficou com elas. Ele sumiu.  Foram elas que nos avisaram depois que ficaram um tempo esperando por ele, que tinha dito que voltava logo. – disse Antônio.
-- Ele deve estar na pousada. Vamos para lá. --- completou Lara.
-- Não está na pousada, já estivemos lá. O carro dele está estacionado, mas ele não está. Mas vamos, não quero brigar com Marcela. Já é muito tarde. – disse Lucas.
Quando eles chegaram os outros rapazes também estavam chegando. Foram direto na suíte do noivo, talvez ele estivesse dormindo. Estava destrancada, Rodrigo entrou e estava vazia. Realmente ninguém sabia do noivo. E decidiram ficar quietos. Não iriam contar para noiva. O negócio era todos irem para a catedral normalmente e esperar para ver o que aconteceria.

Antes de se vestir para a cerimônia, Laura deixou todas as suas coisas arrumadas e sua bagagem na mala do carro. Não iria participar do almoço comemorativo, não tinha coragem... Logo após o casamento, ela iria visitar sua mãe que estava morando em Torres. Ela desceria a serra pela estrada do sol.
Lara vestiu-se com capricho. Tinha escolhido para a ocasião um vestido na tonalidade azul hortênsia, com estampa de pequenos ramos de flores.
Era em musselina num modelo drapeado no corpo e a saia solta, sendo mais curta na frente. Era um modelo original e próprio para uma cerimônia de casamento as 11horas, tinha assentado muito bem  nela, ressaltando suas curvas com elegância.
Quando ela entrou na igreja chamou atenção de todos. Ela tinha colocado um sorriso nos lábios, precisava disfarçar a angustia que tinha dentro de si. Procurou ficar mais quieta, sem conversar, apenas observando.
Estava na hora do casamento, a igreja estava cheia e a noiva estava dentro do carro esperando o sinal da organizadora, para entrar, sobre o tapete vermelho, pela nave principal, que estava toda enfeitada com flores brancas. Mas o caso era que o noivo ainda não tinha aparecido.
Já passava quinze minutos da hora e ninguém se atrevia a ir contar para Simone que o noivo não tinha chegado.
Até que a organizadora foi até o pai dela, que resolveu dizer à filha que não haveria casamento por causa da ausência do noivo.
Simone se desesperou. Houve um mal-estar geral. E Lara tratou de ir embora. E saiu sem se despedir. Pegou seu carro e se afastou dali. Só mais adiante foi que ela parou em um restaurante e usou a toalete para trocar de roupa.  Vestiu uma calça jeans, uma blusa de malha e calçou tênis. Almoçou e seguiu viagem com seu telefone desligado. Não queria nem saber o que estava acontecendo.
Lara sabia que depois, Carina que sempre tinha sido uma amiga sincera, lhe informaria de todos os detalhes, e ainda mais que ela também achava Simone insuportável e havia dito que não acreditava na realização daquele casamento.
Ela lembrava-se de suas palavras: “Lara, o Augusto sempre foi louco por ti. Eu vi o sofrimento dele quando vocês terminaram e tenho certeza que esse casamento não sai. Tu achas que ele vai casar com ela depois de te ver, ainda mais linda como tu estás, e sabendo que tu não tens namorado. Ele vai tentar de novo. Escuta bem o que estou te falando!”
Lara não conseguia parar de pensar em Augusto, foi com certa dificuldade que se concentrou na estrada, era uma descida muito perigosa e tinha movimento.
Ao chegar em Torres demorou para encontrar o endereço onde sua mãe estava morando. Estacionou o carro e desceu olhou ao redor e deveria ser ali.
Era uma casa enorme, em meio a um imenso jardim. Uma casa linda. E Lara pensou que o novo namorado de sua mãe deveria ter muita grana. 
Tocou no interfone e esperou. Identificou-se e o portão se abriu e a mandaram entrar de carro.
Sua mãe a esperava na porta da casa, acompanhada por um homem de cerca de sessenta anos. Um tipo simpático. E pensou que agora sua mãe tinha procurado “a sua turma”, isto é, gente de sua idade.
Foi muito bem acolhida, e Carlos a recebeu com alegria, quase como uma filha. Pela primeira vez ela sentiu-se em família. Soube que ele também tinha uma filha, que estava morando na Califórnia, em São Francisco.
 Lara permaneceu ali dois dias, tempo suficiente para colocar a conversa em dia. Voltou a Porto Alegre para retornar para Campinas.

 Uma semana depois Lara estava em Nuremberg no estado da Baviera, na Alemanha. A universidade que ela iria estudar era muito antiga, tinha sido fundada em 1743. Com cerca de 40 mil alunos era uma das mais importes em pesquisas em toda a Europa.
Ela estava radiante. Seu pequeno apartamento era muito confortável e bem próximo do campus. As aulas haviam começado há uma semana, mas ela se integrou rapidamente a sua equipe de pesquisa.
Além de seu chefe e sua mãe, apenas sua amiga Carina sabia o novo telefone dela e seu endereço na Alemanha.  E cerca de um tempo depois ela ligou:
-- Oi, como estás, minha querida?
-- Carina! Que surpresa. Eu estou maravilhosamente bem. Aqui é muito lindo, e muito frio e meus colegas são ótimos. Estou muito entusiasmada.  E aí como estão às coisas? O Augusto apareceu?
-- Bah... Foi um babado. Logo que tu saíste, um motoqueiro estacionou ao lado do carro onde estava a noiva e entregou a ela uma carta. Era mais um bilhete, que Augusto mandou para ela justificando sua fuga. E com essas palavras: “Eu amo outra mulher. Não posso me casar contigo. Desculpe.”
-- E daí?
-- Claro que Simone gritava; “aquela traidora da Lara”
-- Mas até os rapazes de te defenderam, dizendo que naquela noite da festa tu encontraste com eles e que estavam juntos procurando pelo noivo.
-- Mas ela estava completamente descontrolada. Foi um escândalo o tal não casamento. Diante daquele grande número de convidados, havia um burburinho na igreja e ninguém ia embora, todos esperando para ver o que ainda aconteceria. Foi divertido. Coitada!
-- Bem pelo que sei, ela forçou a barra através de coação, pois ele perderia o emprego. E isso não é legal. Augusto sempre foi estudioso e deve ser um ótimo engenheiro. E aonde ele se escondeu?
-- Naquela noite ele fugiu da tal boate e pegou a camionete dele e foi para Florianópolis. Ele ligou, dias depois, para o Juliano, que dividia o apartamento com ele, pedindo para mandar as suas roupas. Que colocasse em uma caixa e despachasse como frete.
-- Então ele está em Floripa?
-- Acho que não.
-- Não!
-- Ele queria saber de ti. Eu disse que tu estavas estudando na Alemanha. Ele pediu teu endereço. Acho que ele vai te visitar.
-- Estás de brincadeira...
-- Sério. Peço desculpas. Mas vocês precisam de mais uma chance. Vocês se amam. Vou ficar na torcida. Só para saber o Juliano também está deixando a construtora do pai da Simone, e vem morar comigo. Estamos nos acertando. Ele até já conseguiu um trabalho novo.
-- Que bom. Sejam felizes.
-- Obrigada. Um beijão.
Lara ficou pensando na atitude de Augusto e ficou muito decepcionada com ele. Jamais ele deveria ter procedido desta forma. Deveria ser homem o suficiente para terminar com Simone antes de todos aqueles festejos suntuosos do casamento.

Mas Augusto não foi visitar Lara. E não foi por falta de vontade, foi por falta de dinheiro. Ele tinha abandonado o emprego e tinha perdido seus direitos. E o que ele precisava urgentemente era de um emprego. E conseguiu em Curitiba.
Augusto sabia que não tinha agido corretamente em relação a Simone, e estava preocupado com o que Lara iria pensar dele quando soubesse de tudo.
Conhecia Lara perfeitamente e sabia que ela não aceitava esse comportamento covarde dele. Ele deveria ter tido coragem e terminado com Simone antes dos preparativos do casamento.
Mas ele estava envolvido em uma rede, o trabalho e a família dela o enredaram. E só naquela noite que conversou com Lara foi que ele percebeu que não poderia casar. Ele amava a Lara, e era um amor muito profundo. E ele apenas suportava a Simone.
E estando livre tinha chances de reconquistar sua amada.
Augusto foi trabalhar no Chile. Sua empresa estava construindo um shopping em Santiago e com previsão de no mínimo dois anos para terminar a obra. Então antes disso ele não voltaria ao Brasil.
Ele tentou ligar para a Lara, mas não conseguiu completara ligação. Faltava um algarismo no conjunto do número.
Então mandou um e-mail para ela, pois sabia que ela não se manifestava em redes sociais.  E agora era esperar o retorno...
E Lara, quando viu que ele havia entrado em contato com ela, ficou radiante, seu coração pulsava forte e suas mãos tremiam. Credo!
Ela respondeu ao e-mail depois de duas semanas, e sem dar muita abertura. Não queria criar ilusões. Estavam distantes e precisava se dedicar ao seu doutorado.
Desculpou-se dizendo que os estudos estavam tomando todo o tempo. Mas que tinha ficado feliz em ter noticia dele e desejou sucesso em seu trabalho no Chile.
E depois deste gelo, Augusto e Lara se comunicavam raramente, só de tempos em tempos.


Hugo era o monitor de Lara. Um homem simpático e muito alegre. Não era bonito. Ele tinha os cabelos, cílios e sobrancelhas numa tonalidade muito clara, sua pele com muitas sardas e os olhos de um azul profundo.  Mas ganhava em cordialidade e elegância.
Ele era inteligente e notadamente estava apaixonado por Lara. Ela ficava até encabulada com o modo que ele a olhava, mesmo quando estavam em aula. Ela o considerava um bom amigo e dessa forma o tratava. Mas Hugo arriscou e a convidou para sair e ela respondeu;
-- Eu aceito com uma condição.
-- Diga...
-- Apenas no campo da amizade. Meu coração já tem dono e não quero te dar esperanças. E se for assim, vamos ser ótimos companheiros.
-- Aceito.
E a partir daquele dia se tornaram inseparáveis. Eram parceiros na pesquisa e isso fazia com que passassem muitas horas juntos. Hugo respeitou o acordo que fizeram e nunca declarou seu amor por ela.


Os dias passavam... E Lara sentia muita saudade de sua terra, e sobretudo, de Augusto. 
Queria ter conversado mais com ele, naqueles dias que antecederam o “casamento”. Mas não foi possível. E depois daquela proposta indecente...
Mas o fato era que ela pensava tanto nele que ele estava sempre em seus sonhos. Não tivera mais notícias dele e nem sabia se ele ainda estava trabalhando no Chile.
Talvez ele estivesse até comprometido com outra mulher. E ela precisa saber, por que se ele estava sozinho ela ainda teria alguma chance. Era uma esperança que alimentava no fundo de seu coração.


Os feriados de fim de ano se aproximavam. Ela teria vinte dias de folga, e isso era tempo suficiente para visitar sua mãe e rever alguns amigos especiais. Ela precisava se decidir.
Conversou com sua mãe e ela viajaria. Iria passar o fim de ano em Dubai. Tentou falar com Carina e não conseguiu, então decidiu enviar um e-mail para Augusto, que retornou como endereço inválido.
Agora sim. Havia perdido totalmente o contato com Augusto. Seu coração se apertou e Lara chorou.
Todos tinham um rumo em suas vidas, todos tinham uma programação para o fim de ano, apenas ela que estava longe, e  não tinha ninguém, iria ficar sozinha. 
Então iria curtir a sua solidão no Natal. Pois até seu amigo Hugo, tinha programado, visitar seus parentes na Polônia.
Naquela noite havia uma nevasca muito forte e Lara com uma xícara de chá bem quente estava em pé junto à janela vendo a neve cair. As pessoas que ainda estavam na rua caminhavam apressadas.
Ela se assustou quando seu celular chamou. Foi ver e era número restrito. Ela não costumava dar importância, mas naquele momento ela atendeu a ligação.
E quando ela escutou a voz do outro lado, suas pernas tremeram. Ela ficou tão nervosa que até derrubou um pouco de chá no piso. Precisou sentar. Era uma surpresa tão boa... Era Augusto querendo saber dela.
-- Alô... Alô... Está me escutando? – perguntou ele.
-- Sim.  Como vais?
-- Tudo bem e contigo?
-- Tudo certo.
-- É muito cara essa ligação para não ir direto ao ponto. Então quero te ver nesses feriados. Poderíamos nos encontrar em Portugal.
-- Portugal?
-- Sim. Para mim fica bem mais barato. Não tenho grana...
-- Mas a diferença da passagem, tu vais economizar em hospedagem. Vem pra cá. Com o teu inglês tu chegas fácil até aqui. Te garanto.
-- Ok. Vou ver. Depois te confirmo. Beijos
-- Beijos.
Laura não sabia se aquilo tinha acontecido realmente. Foi um telefonema meio louco, falaram só o essencial, mas o fato é que ele queria estar com ela no Natal. Com o coração aos pulos ela ria sozinha. Parecia meio enlouquecida. Augusto tinha ligado para ela...

Fazia muito tempo..., mas entre eles sempre houve uma sintonia tão grande, que parecia que estavam sempre conectados. Desde que se conheceram era assim.
Eles não precisavam de muitas palavras, eles precisavam era de proximidade. E a distância estava machucando.
Ela tinha ficado furiosa com ele por causa do casamento. Ela sabia que ele não gostava de Simone, só não entendia por que ele tinha seguido adiante. Conhecia Simone muito bem e sabia que ela devia ter investido muito forte para ele se deixar levar.
Embora não concordasse com o modo como aquele “casamento” terminou, estava feliz porque Augusto ainda poderia ser dela. E dessa vez ela não ia vacilar, dessa vez eles iam ser felizes para sempre.


Dois dias depois ela recebeu uma mensagem de texto dele, onde confirmava sua ida e mandava o número do voo e o horário de chegada. E então Laura foi às compras.
Precisava comprar roupas adequadas para ele; um casaco, meias, luvas, cachecol e calças próprias para aquele frio intenso.
Também comprou doces, chocolates, biscoitos, e ingredientes para uma ceia de Natal. Escolheu um vinho e levou também licor de cereja. Foi a uma lojinha perto de seu apartamento e comprou uma pequena árvore e enfeites para deixar o ambiente de sua sala, totalmente voltado para o Natal.
E chegou o dia!
Lara foi esperá-lo no aeroporto. O horário previsto de chegada era as 17.40h. Ela ao chegar ao aeroporto viu que o voo dele estava com previsão de chegada dentro do horário marcado.
Augusto já tinha se comunicado com ela, de Amsterdã, onde ele fez escala e precisou esperar um bom tempo, aproximadamente 6 horas. Mas agora ele estava chegando. Ele estava fazendo o mesmo itinerário que ela havia feito.
O avião posou e ela estava ansiosa. A saudade era muito grande. Enfim ele apareceu. Augusto parou e a procurou pelo saguão. Ela já tinha o avistado, mas precisava chegar até ele.
Eles ficaram frente a frente. E com lágrimas nos olhos Augusto a abraçou com força, tanto que ela quase ficou sem ar. Beijava seus cabelos e suas faces. Ele a manteve em seus braços e só então se afastou e olhou para ela com os olhos marejados de lágrimas.
Pegaram a mala dele e saíram em direção à estação do metrô. Estava muito frio e estava começando a nevar. Em pouco tempo estavam chegando ao prédio onde ela morava que ficava muito próxima a saída do metrô.
Entraram no apartamento e Augusto gostou de ver como ela tinha se preocupado em enfeitar a casa para o Natal. Ele sabia que ela gostava muito do Natal, que para ela era a festa mais importante do ano.
Ali estava quente e o ambiente era aconchegante. Ele pousou a mala e se atirou no sofá. Estava muito cansado. A viagem sobre o Atlântico tinha sido um pouco tensa, havia uma tempestade e ele não relaxou em momento algum.
Laura foi à cozinha aquecer o chocolate que ela já tinha deixado pronto. E veio para junto dele com duas canecas fumegantes. Ela sentou a seu lado e entregou uma caneca para ele. Concentrados em sorver a bebida quente eles não falaram, apenas se olhavam. Até que:
-- O que houve com teu endereço de e-mail? -- Perguntou Lara.
-- Eu cancelei. Meu PC foi roubado.
-- Hum. Foi recentemente?
-- Já faz um tempo. E eu ainda não comprei outra máquina. Mas me conta como tu estas aqui?
-- Eu estou bem. Às vezes é muito solitário, mas normalmente eu estou sempre bem ativa. A minha turma é muito boa e estou bem integrada, mas fim de semana e feriado é difícil. Bate uma saudade...
-- Sei como é. Comigo aconteceu o mesmo enquanto estava no Chile.
-- Onde estás trabalhando? Voltou para o Brasil?
-- Não. Ainda tenho mais uma temporada por lá.
-- É faz parte do nosso trabalho.
Augusto descansou a caneca em uma mesinha, pegou a caneca da mãe dela e colocou junto da sua e a passou seu braço por sobre os ombros de Lara e a puxou para perto dele. Queria sentir as batidas de seu coração. Acarinhou seu rosto e a beijou com carinho, com amor...
Então disse:
-- Não acho justo nós termos que ficar tão distante um do outro. Eu não aguento mais. Tenho vontade mandar tudo as favas...
-- Eu também...  Mas e depois? Precisamos trabalhar para viver... Disse Lara.
-- Eu te quero em minha vida. Já faz tempo demais...  Não tem jeito, eu preciso de ti. Tu és o meu Norte... Primeiro tu te recusaste a casar comigo. Fiquei muito magoado contigo. Jamais imaginei que me dirias um não. Depois entrei naquela furada de me casar com Simone... E agora estamos um em cada lado do mundo...  Longe de ti eu me perco e só faço bobagem.
-- Não vamos falar sobre isso. Vamos aproveitar que estamos juntos, que vamos passar o Natal assim, bem abraçadinho. Eu também te quero. Tu és a única pessoa no mundo que me interessa.
Ele a abraçou e a manteve junto de si, sua vontade era se fundir nela e por isso a mantinha tão apertada, que ela estava com dificuldade para respirar.
Ela se aconchegou em seu peito, estava com saudade de seu cheiro, de seu gosto... Fazia muito tempo...
A nevasca ficou mais intensa e Lara o levou a janela para poderem apreciar juntos. Ela gostava de ver a neve. E bem juntinhos eles ficaram olhando pela vidraça as pessoas caminhando depressa em direção as suas casas. Alguns cheios de pacotes. Era quase Natal, e esse período deixava as pessoas felizes, todos eram mais solidários e fraternos.

Mais tarde, depois de saborearem uma sopa de batata eles foram se preparar para deitar. Augusto estava visivelmente cansado. Ela preparou para ele um banho de imersão em água tépida e ele relaxou.
Ela o fez deitar antes dela.  E depois chegou pé por pé não queria acordá-lo, pois ele estava tão quieto que devia estar em um sono ferrado. E quando ela deitou bem devagarzinho ele pulou em cima dela.
Lara levou um susto enorme. E Augusto ria dela. E se amaram com loucura. Seus corações estavam inquietos há muito tempo. Eles se queriam muito. E depois do amor eles dormiram abraçados.
Foram dias especiais.
O sol brilhou e eles passearam pela cidade, descobriram lugares encantadores. Juntos prepararam a ceia de Natal. Foram a Missa do Galo e trocaram presentes e juras de amor.
Ambos sabiam que estavam vivendo um interlúdio de amor. Que logo a rotina de suas vidas iria afastá-los outra vez. Mas não queriam pensar sobre isso. Desejavam curtir o momento.
A despedida no aeroporto foi difícil. Não queriam se largar. E Augusto foi o último passageiro e entrar no avião.
Ele estava com o coração despedaçado. Colocou óculos escuros para ninguém notar que ele não conseguia conter as lágrimas. Foi a viagem mais difícil de sua vida. Deixar sua amada do outro lado do planeta.
Augusto decidiu que não iria mais voltar para o Chile. Então pediu demissão. Foi para Campinas, pois era para lá de que Lara iria voltar e  ele queria se estabelecer, para que quando ela retornasse ele tivesse algo para oferecer a ela.
Ele conseguiu um emprego. A cidade crescia e havia muitas construções. E agora Augusto estava mais sossegado. Tinha alugado um apartamento bom, mobiliado e pronto receber sua amada.
Depois de eles terem reatado o compromisso, Augusto e Lara se comunicavam diariamente. E apesar da distância, estavam felizes e cheios de esperança.
Lara havia sido convidada para ser membro permanente da equipe de pesquisa da universidade, porém ela não aceitou.
 Tinha compromisso com sua empresa, que tinha financiado seus estudos para o doutorado.
Agora faltava pouco para ela voltar ao Brasil. Mas não seria antes de março e aquele Natal eles estariam distantes. Eles tentaram dar um jeito, mas não conseguiram.
Ela precisava terminar sua monografia e preparar a apresentação de sua tese. E ele não teria férias de fim de ano. A obra estava atrasada, pois tinha chovido muito e só agora eles poderiam fazer a concretagem e ele precisava supervisionar.
Foi um Natal solitário, mas recheado de esperanças...

Enfim Lara voltou!
Ela adorou o apartamento que ele havia escolhido para eles morarem. Era bem próximo ao local de trabalho dela. Ela teve apenas uma semana de folga, antes de entrar na rotina.
Eles estavam felizes. Estavam com a data do casamento marcada. Não haveria festa.
Seria somente um almoço para os mais próximos. Carina e Juliano os padrinhos dela e Antônio e Aline os pradinhos de Augusto.
Os pais e o irmão de Augusto e a mãe de Laura, já tinha avisado que não poderia estar presente.
Foi uma cerimônia simples, pela manhã em uma pequena capela próximo ao local onde moravam.
 Ela usava um vestido curto na tonalidade branco pérola e um arranjo de flores nos cabelos, quando entrou na capela, sozinha pelo corredor central. Ela estava muito linda!
Augusto estava emocionado. Ele a esperava no presbitério, mesmo sendo uma cerimônia simples, foi emocionante.
Quanto tempo ele esperou por esse momento, para ouvir a sua amada dizer sim diante de Deus. Eles selaram diante do altar o amor que os unia, e nada no mundo iria separá-los.
Isso foi um pacto que eles fizeram. Nada iria separá-los. Já tinham vivido essa experiência e não foi nada boa. De agora em diante seriam um só e para sempre.
Escolheram para passar a lua de mel, uma pousada na serra em Campos do Jordão. Eles queriam curtir o seu amor e uma bela paisagem.
Os dias corriam tranquilos...
Aquele dia Lara não foi trabalhar. Ela estava de laudo, pois estava de repouso por causa da gravidez.
Eles estavam cerca de três meses casados, quando uma moça chilena, com uma filha nos braços, bateu a porta dizendo que a criança era filha de Augusto.
Lara ficou calma. Precisava ter sangue frio. Não ia maltratar a moça. Mas fez muitas perguntas. E repetiu as perguntas e a moça se atrapalhou. E ela viu que tudo era uma grande mentira.
Por fim a moça confessou que ela tivera sim, um envolvimento com Augusto há dois anos, nada mais do que uma noite, e que tinha sido paga para se meter com ele.
E, que mais uma vez foi paga para dizer que daquela noite tinha nascido uma filha. Ela inclusive estava munida de fotos da relação intima deles. E que o exame de DNA iria dar positivo. Estava tudo pronto para criar a separação do casal. E que Augusto estava sendo seguido há muito tempo.
Lara ficou furiosa. Queria matar Simone. Era óbvio que algo assim só podia ser de quem tem muito dinheiro para jogar fora.
Mas se conteve. Telefonou para Augusto e chamou a polícia e um advogado. E não deixou a moça sair. Ofereceu a ela um café com biscoitos para distraí-la.
A moça saiu detida, a criança foi para o juizado e o homem contratado para seguir Augusto foi localizado e preso.
E Augusto e Laura moveram uma ação contra Simone.
Agora os dias passavam tranquilos. A gravidez de Laura vingou e ela estava indo para o hospital para ter o seu primeiro bebê. Augusto estava junto dela e estava muito nervoso.
Já era perto do meio dia quando o pequeno Felipe nasceu. Veio ao mundo para trazer muita alegria a seus pais, que estavam radiantes de felicidade.
Um tempo depois eles souberam que eles haviam ganhado, a ação na justiça, e Simone teria que pagar ao casal por perdas e danos um valor considerável.
Augusto e Laura viam com orgulho o pequeno Felipe crescer saudável. “O amor é lindo quando verdadeiro.”     
                                          Fim