COM AMOR
As
lembranças de um tempo feliz sempre vinham à mente de Paula. Recordações
do tempo em que ela era uma adolescente
encabulada que ficava muito zangada quando um determinado guri, que morava na
mesma rua que ela, e que sempre que passava por ela dizia: “Oi, bonitinha.”
Não gostava
de recordar a razão por sua família ter
se mudado daquela casa que ela tanto amava. Tinha vergonha dos acontecimentos,
pois tinha sido um escândalo. E sua mãe fugiu com ela para casa de sua avó.
Seu pai era
alcoólatra, e naquele dia chegou em casa e a puxou para o colo dele e começou a
molestar, tocando a acariciando suas partes intimas. Ela ficou assustada,
chorosa queria se afastar, mas ele tinha
mais força e ela não conseguia se livrar. Até que sua mãe entrou na sala e viu
a cena, e com um cabo de vassoura o agrediu. Então seu pai a soltou e começou a
agredir sua mãe. Paula gritava por socorro, então os visinhos acudiram e as livraram
dele.
E desse dia
em diante tudo mudou em sua vida. Trocou de bairro, de escola, e ficou sem amigas
e passou a ter uma visa solitária, porque sua mãe não a deixava sair, porque
tinha receio do que seu pai poderia
fazer se a encontrasse.
Ainda hoje,
doze anos depois ela era insegura, não confiava nos homens e não os deixava
chegar perto. Sua terapeuta havia dito que ela superaria essa dificuldade, quando encontrasse o amor, então sua vida
teria outra dimensão. Paula lutava para se livrar de seus traumas. Agora ela
era farmacêutica e desde que se formara
ela optou por trabalhar e morar sozinha, mesmo sob protesto de sua mãe.
Ela estava
dividindo um apartamento com Marisa, que era
sua colega de faculdade. Ambas trabalhavam na mesma rede de farmácias,
na mesma loja do shopping, porém em horários diferentes. Paula estava bem,
tranqüila e curtia muito seu trabalho. Marisa era mais agitada e gostava de
sair e sempre convidava a Paula para ir junto. Mas ela sempre recusava. Marisa namorava
Lucas há muito tempo. Eles estavam pensando em casar e como o apartamento era
de Marisa, então Paula estava procurando uma quitinete para ela.
Dessa vez
Paula não tinha como evitar, teria que ir à festa que estavam preparando para
Marisa. Era aniversário e noivado dela. Foram os pais de Marisa quem
organizaram a reunião em um restaurante.
Naquele dia
após sair do trabalho Paula foi escolher um vestido, pois não tinha nada adequado
para ir a festa de Marisa. Provou vários modelos, mas o que mais gostou foi
vestido simples, reto, cavado e com decote V, na cor verde mar bem claro.
Escolheu uma sandália preta para compor o traje.
Ela não era
muito alta, tinha um corpo esguio e pernas longas. Cabelos e olhos cor de mel.
Sua pele era clara tendendo para o bronzeado. E segundo a vendedora, a cor
assentava muito bem nela.
Paula chegou
ao restaurante um pouco atrasada, tinha trabalhado e até se aprontar... Marisa sabia que ela não
chegaria na hora marcada então protelou um pouco para esperar a amiga.
O salão de
festa ficava na parte superior do restaurante, era totalmente privado, com um
ambiente acolhedor e com espaço para danças.
Ela entrou no recinto e ficou parada olhando tudo, e só então foi na
direção de Marisa. A abraçou e perguntou:
-- Cadê a
aliança? Não colocaram ainda?
-- Não, eu
estava te esperando.
-- Que bom,
não queria perder essa.
-- Venha cá,
vou te apresentar os amigos de Lucas.
-- Ok.
-- Olha
gente, essa é a minha amiga Paula. Tem lugar para ela ai?
-- Sim. Aqui
do meu lado... – falou um rapaz simpático.
Paula
agradeceu se sentou. Engraçado, ela pensou, quando olhou para o rapaz que estava na ponta de mesa e achou
que o conhecia de algum lugar. Mas de onde? Ela não iria perguntar. A conversa
rolava, e diziam muita bobagem e todos riam.
Foi servido
o jantar, depois houve o brinde e os noivos declararam seu amor mútuo e
colocaram as alianças. E depois um tecladista começou a tocar e muitos casais
foram dançar. Na mesa ficou apenas ela. Os demais estavam dançando.
Ela estava
distraída quando ouviu uma voz dizer:
-- Oi
bonitinha, vamos dançar?
O coração de
Paula quase saiu pela boca, ela virou-se e viu que era Marcus o rapaz que
estava sentado na ponta da mesa. Ela olhou e disse:
-- Eu não
sei dançar...
-- Vem, eu
te ensino.
E ele a
enlaçou e foi guiando seus passos e logo ela estava acompanhando o ritmo da
musica. Ela queria perguntar se ele era aquele guri da adolescência que a
chamava de bonitinha, mas estava com vergonha. Era melhor deixar pra lá.
Mas Marcus
leu seu pensamento e perguntou:
-- Tu morava na rua Américo Vespúcio?
-- Sim – e
em seu pensamento ela estava vibrando, era ele, e ele se lembrava dela...
-- Tu te
lembras de mim?
-- Sim.
-- Eu te
incomodava muito? – disse ele rindo.
-- Um
pouco...
-- Um pouco?
Os teus olhos me fuzilavam...
-- Verdade?
-- Sim. Mas
eu gostava de te provocar. Depois te mudastes e eu não tive mais com quem
implicar. E hoje quando tu chegaste e ficaste, parada ali no topo da escada, eu
vi que era a minha bonitinha. Tinha certeza. Ainda é o mesmo rosto.
-- Eu quando
sentei a mesa achei que te conhecia de algum lugar, mas não consegui saber de
onde.
-- Ah que
dor... Ela não me reconheceu... Pensei que tinha te incomodado o bastante para
me tornar inesquecível, mas não foi o suficiente.
E ambos
riram. E seguiram dançando, agora música mais ligeira para dançar separados.
Ele propôs sentarem um pouco para
tomarem algo. Estavam sedentos. E o resto da noite eles ficaram
conversando.
Então ela
soube que ele era amigo de Lucas, que era engenheiro elétrico e juntos eles tinham um escritório de planejamento e
execução de sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia. E Paula pode perceber como ele
gostava do seu trabalho, pois falou com entusiasmo dos projetos que eles tinham
elaborado e que agora estavam implantando. Ela também falou de sua profissão.
Ela gostava muito do que fazia. Estava realizada.
A festa
estava chegando ao fim, alguns convidados já haviam ido embora, mas mesmo assim
a tecladista continuava tocando, agora músicas lentas e ele a levou para dançar
novamente. Ela estava à vontade com ele.
Ele era divertido, bem falante e muito simpático. Não era bonito, mas ele tinha
um algo mais...
Quando
estavam saindo ele disse:
-- Eu te dou
uma carona.
-- Eu vou
com a Marisa, eu divido o apartamento
com ela.
-- Não vai
não... Deixa os noivos curtirem. Não devias nem ir para o apartamento para eles
ficarem mais a vontade.
-- Será? Vou
falar com ela.
-- Te espero
aqui.
Ela foi
falar com Marisa que rindo concordou com Marcus. E Paula ficou pensando para
onde ela iria? Ela foi até Marcus e com uma cara engraçada disse para ele;
-- O pior é
que eu não tenho para onde ir.
-- Não te
preocupa, vamos dar uma esticada por ai e depois mais tarde te levo para casa.
-- Certo.
Ele a levou
para curtir uma noite diferente. Ela nunca tinha saído pra noite, tudo era
novidade. Ele achou engraçado e perguntou:
-- Em que
mundo tu vives? Como nunca saiu?
-- Não
nunca!
-- Nunca
ficastes com um cara, nunca namorastes?
--Não.
-- Que
coisa! Tu vieste de outro planeta? Mas eu estou gostando de ter o prazer de te
apresentar o mundo a noite. Pode confiar em mim. Vamos a um lugar onde dá para
dançar.
Já era quase
cinco da manhã quando ele a deixou na porta do prédio em que morava. E disse
que viria buscá-la para almoçarem juntos.
Paula tomou
um banho quando chegou, achou que dormiria melhor, mas puro engano. Ela não
conseguiu conciliar o sono, pois Marcus estava em seu pensamento. Só depois de
muito rolar na cama foi que dormiu. E acordou sorrindo... Foi uma noite e
tanto!
Marisa
estava terminando de se arrumar para
sair com seu noivo, quando Paula apareceu na porta do quarto. Ao olhar para a
amiga sorrindo disse:
-- Tivemos
uma noite e tanto. Obrigada amiga. E a tua como foi?
-- Foi bem.
Mas agradeça ao Marcus, ele que me deu a dica. Tu sabes que eu não sou ligada
em alguns detalhes.
-- Mas vais
aprender. Vou-te dizer que gostei muito de te ver com o Marcus. Ele é um cara
muito legal, um amigo de verdade.
-- Eu o
conheci quando era guria. Depois nunca mais nos encontramos e ontem ele se
lembrou de mim e até de como ele implicava comigo para me deixar zangada.
-- Hum...
Então é um amor de longa data... Estou entendendo. Tchau bom domingo.
-- Tchau...
Paula olhou
a hora e foi se arrumar, logo Marcus estaria ali para buscá-la. Ela olhou para
suas roupas e ficou desolada. Não tinha
nada novo, nada bonito. Escolheu um vestido de malha azul marinho. Passou um pó
no rosto e passou batom numa tonalidade rosa. Mal ela terminou de se arrumar e o
interfone tocou. E ela desceu rapidamente.
-- Oi,
bonitinha. Tudo certo?
-- Oi, tudo
bem.
-- Aonde
queres ir? O que gostas de comer?
-- Tu
escolhes. Eu gosto de quase tudo.
-- Vamos
comer uma massa
-- Ótima
idéia. Vamos.
Eles foram a
um lugar bem simples e acolhedor, nos arredores da cidade, mas com uma comida
muito boa, bem feita. A especialidade da casa era massas.
Enquanto
almoçava ela comentou que precisava com urgência encontrar um apartamento para
ela. Pois só agora tinha se dado conta que ela atrapalhava os noivos. E Marcus
se propôs ajudá-la a encontrar. De repente ele lembrou que um amigo estava indo
de mudança para Curitiba e estava querendo alugar apartamento de um quarto
mobiliado. Ele só não sabia o preço que ele estava pedindo. Se ela quisesse
poderiam ir ver o apartamento, mais tarde, era só ligar para o Mauro.
Duas horas
depois ela estava olhando o apartamento, que era bem localizado em relação ao
seu emprego, até mais perto e com transporte a meia quadra. Ela ficou
empolgada. Mauro estava se mudando na terça feira e ficaria muito bom se ela já
acertasse com ele. E foi o que fizeram. No fim de semana ela estaria se
mudando.
Paula não
tinha muita coisa para transportar, e com Marcus ajudando foi rápido. No sábado
mesmo tudo já estava pronto para ela ficar morando. Ao fim da tarde depois de
tudo limpo e arrumado, Marcus a convidou para jantar fora. Mas ela estava
cansada e propôs que eles fizessem qualquer coisa ali mesmo.
Marcus
concordou. Enquanto ela descansava um pouco e tomava um banho, ele foi até em
casa tomar um banho e depois passaria no super para comprar alguns ingredientes
que ela não tinha. Ele viu que a despensa de Paula era muito pobre.
Quando ele
retornou, ela estava o esperando sentada no sofá com ar de cansada, mas estava
linda com os cabelos ainda úmidos, de cara lavada, e com uma roupa simples. Ele
a achou muito sexy.
Marcus
entrou cheio de pacotes. E Paula foi para a cozinha com ele. A medida que ele
ia tirando as compras da sacola ela ia indagando:
-- Por que
tudo isso?
-- Porque tu
não tens quase nada na tua despensa.
-- Mas eu
nem almoço em casa...
-- Não
importa, mas eu gosto de comer, e pretendo freqüentar com assiduidade esse teu
apartamento, se é que me entendes.
-- Sim. –
respondeu Paula corando.
Marcus olhou
para ela e sorriu e deu beijinho na ponta do nariz dela. E se pôs a preparar o
jantar. Montou uma lasanha para o outro
dia e fez uma massa à carbonara. Que Paula de nota mil. Ele era um bom
cozinheiro. Depois do jantar e de limpar a cozinha eles sentaram no sofá
olhando TV.
Era como se
já tivessem uma convivência de muito tempo, mas fazia apenas quinze dias que
tinham se encontrado. Ele já descobrira algumas coisas sobre ela, Lucas havia
contado para ele, sobre o trauma que ela tinha vivido, mas muito por alto, sem
detalhes. E por isso ele sabia que deveria ser cuidadoso com ela. Tanto que
Lucas ainda brincara com ele quando falou: “cara ela é completamente virgem.”.
E ele sabia, gostava dessa idéia, mas também sabia que enfrentaria algumas
dificuldades.
Enquanto
assistiam ao filme, que era um drama muito complicado, Marcus pegou a mão de
Paula que não se incomodou. Ele se aproximou mais dela e passou o braço por
seus ombros e ela recostou a cabeça nele. Assim felá ficou até o final do
filme. Já era passava da meia noite quando Marcus disse que ia embora. Ela
concordou e ao sair ele disse:
-- Amanhã
pelas onze horas estou por ai. Tchau bonitinha.
E arriscou
um beijinho na face. Ela sorriu e esperou ele descer para fechar a porta. Ele
estava com uma copia das chaves, então ela não precisava ir com ele até a porta
da frente. Eram três chaves para ter acesso ao prédio.
Nessa noite
Paula dormiu direto, estava muito cansada e nem pensou em Marcus como acontecia
em outras noites. Mas sonhara com ele sonhos bons e bonitos. Quando acordou
estava sorrindo e ai sim com o sonho na memória ficou um bom tempo pensando
nele.
Marcus,
porém teve muita dificuldade para dormir, pois ela estava em seus pensamentos,
em sua imaginação e tudo isso o deixava aceso, sem sono. Na verdade ele estava
gostando dela, aliás, desde guri ela ocupava seus pensamentos e agora ele
estava preocupado com o tal do trauma que ela tinha vivido. Tinha vontade de
perguntar a ela, mas tinha receio de ser muito cedo. Não queria arriscar.
Precisa criar um pouco mais de intimidade com ela, mais companheirismo para ela
se sentir segura e contar sobre sua vida para ele. Precisava de paciência. Nada
de “amasso”, por enquanto.
Eram
exatamente onze horas quando Marcus
entrou e ela disse;
-- Bah...
Que pontualidade britânica. Tudo bem?
-- Tudo. E tu descansaste, dormiu bem?
-- Sim muito
bem, com direito a bons sonhos...
-- Ah é! Me
conta...
Paula deu um
sorriso malicioso e olhou para ele negando com o movimento de cabeça. Ele ficou
com vontade de abraçá-la, pois ela estava encantadora com aquele jeito zombeteiro. Era cedo para
pensarem em almoço, o dia estava lindo com uma temperatura agradável e Marcus
sugeriu que fossem dar uma caminhada. Paula aceitou e saíram de mãos dadas. Ela
era alegre e divertida, ela era um bom papo, pois falava de vários assuntos com
uma critica bem proveitosa. Ambos tinham a mesma linha de pensamento.
Voltaram do
passeio e prepararam o almoço juntos. Riram e divertiram-se. Depois do almoço
assistiram um filme... E eles passaram um domingo maravilhoso. Quando a Marcus
olhou o relógio deu um salto, era muito tarde. E Paula comentou:
-- Nossa,
que domingo que passou rápido.
-- Claro em
boa companhia – completou Marcus rindo. E continuou.
-- Essa
semana vou ficar fora, tenho que ver o
andamento de alguns projetos. Se tudo der certo volto na quinta. Nos falamos... Mas preciso te dizer que nem
sempre o lugar em que eu estou tem sinal.
-- Sim, tudo
bem. Boa viagem te cuida.
-- Obrigada.
Vem cá deixa eu te dar um beijinho de despedida.
E Paula
ofereceu o rosto para ele beijar, ele beijou sua bochecha e a pegou pelo queixo
e virou seu rosto de deu um beijo suave em seus lábios. Olhou para ela para ver
sua reação, mas ela estava aceitando, e
deu mais beijo na testa. E foi embora.
Paula havia
decidido que precisava de roupas novas. E naquela semana depois do trabalho ela
percorreu várias lojas pesquisando preços e olhando as novidades. Por fim
comprou algumas blusas e uma calça nova. Foi ao cabeleireiro renovar o corte de
seu cabelo. Estava feliz. Quando Marcus
chegasse teria o que usar. Ela queria estar bonita para ele, ela queria
surpreende-lo!
E conseguiu,
pois ele notou tudo. Ele elogiou o cabelo, a blusa nova, ele era demais! E foi mais um fim de semana que passou ligeiro.
Paula sabia que estava completamente
apaixonada por ele e tinha muita vontade
de estar perto dele e de ser beijada... E tocada por ele? Disso ela não
tinha certeza. Ela tinha consciência de que teria que contar para ele, sobre
seu problema, se o namoro seguisse em frente. Sabia que as caricias seriam mais
ousadas... E ela sentia pavor só em pensar. Talvez ela devesse desistir dele.
Ela não tinha condições para superar seu trauma.
Amava ele, disso tinha absoluta certeza. Porém
tinha duvidas quanto a ele, sentia que ele gostava dela, mas será que ele
suportaria esperar a superação dos
problemas dela? Essa era a grande questão.
Naquele
sábado, depois de estar ausente toda a semana Marcus estava com muitas saudades
dela e quando a viu a abraçou e beijou com avidez. Paula que também sentira
falta dele estava ansiosa por ser beijada de verdade, retribuiu aos beijos. Ele percebeu que ela
estava afim. Parou o beijo de deu as dicas necessárias para ela poder beijá-lo
também. E eles chegaram à porta do paraíso.
Marcus ficou
animado com a recepção que tivera. E pensou que poderia dar um passo a
frente. E já sentado no sofá e abraçado
a ela a beijou novamente e ousou, desceu sua mão para uma caricia em seu seio.
Mas ela o repeliu e começou a chorar.
Ele não
sabia como fazer acalmá-la , pois ela chorava compulsivamente. Então resolveu
levá-la para o quarto e acomodá-la na cama para ver se ela dormia e parasse de
chorar. Ficou ali com ela um bom tempo ninando como se fosse uma criança. Por
fim ela dormiu.
Marcus foi
para a cozinha passou um café e enquanto bebia ficou pensando em como ajudá-la
a superar tudo isso. Ele teria que a fazer falar. Esperou um bom tempo, foi
espiar várias vezes para ver como ela estava e a cobriu, pois achou que ela
estava gelada. Depois de quase três horas foi que Paula acordou.
Ela chegou a
porta da sala toda inchada de tanto chorar e olhou para ele envergonhada. Ele
foi até ela, a pegou pela mão e a fez sentar no sofá. Ofereceu a ela água que
ela aceitou e perguntou se queria um café, mas ela recusou.
Então muito
séria ela olhou para Marcus com os olhos rasos de água novamente e disse:
-- Eu não
consigo. Acho que não podemos continuar com esse namoro. Eu não sou uma mulher
normal.
-- Não vamos
precipitar as coisas. Eu acho que tu devias falar comigo,sobre toda esta questão que tanto
te aflige. Eu quero te ajudar. Eu quero ficar ao teu lado.
-- Eu tenho
vergonha de falar...
-- Mas é pra
mim que tu vais contar, só pra mim...
-- É muito
difícil...
-- Eu sei.
Mas é preciso. Só assim eu poderei te ajudar a superar. Queres aquele café
agora, ou outro copo de água.
-- Um café.
-- Fica
quietinha ai que eu vou buscar.
Marcus
retornou com duas canecas fumegantes de café. Puxou uma cadeira e sentou-se a
frente dela. Precisava observar tudo nela. E aos poucos ela começou a falar e
contou tudo para ele, os mínimos detalhes, coisas que ela nunca tinha dito para
ninguém, ela falou para ele. Marcus segurava as mãos dela enquanto ela falava.
Ele estava
revoltado, indignado com tudo o que ela passara e com todo aquele sofrimento.
Ele estava disposto a ajudá-la a superar tudo aquilo, ela valia a pena. Ele a
amava muito. E ela terminou dizendo:
-- Viu como
eu sou complicada, não vou conseguir ser a namorada que tu desejas. Por isso é preciso parar por aqui. Não dá,
não quero mais.
-- Eu posso
esperar o tempo que tu necessitas para avançar. Um dia nós vamos conseguir
fazer amor. É isso que tu precisas entender, o que nós estamos fazendo, ou
querendo fazer, é por causa do amor que
sentimos um pelo outro. E o amor é divino, é puro, é sublime, é maravilhoso. É
o amor que nos torna um só, o ato de amor nos completa. Deus fez assim.
-- Preciso
ficar sozinha.
-- Não! Hoje
eu vou ficar aqui contigo, não vou para casa. E pode ficar tranqüila que nem
vou chegar perto de ti, só se tu quiseres. Vou te cuidar.
-- Não
precisa...
-- Está
decidido. Porque não tomas um banho para relaxar. Eu vou ficar aqui vendo TV.
Vai...
Paula ainda
protestou, mas Marcus foi firme. Ele preparou algo leve para eles comerem e
após ficou assistindo TV ao lado dela. Mais tarde ele viu que ela estava cansada
e a mandou para cama. Ela concordou, mas antes trouxe um travesseiro e coberta
para ele.
No meio da
noite Marcus escutou um choro e foi até o quarto com a intenção de acalmar Paula,
mas para sua surpresa ela estava dormindo e chorava, com certeza era um sonho
ruim.
Ele ficou
parado olhando sem saber que atitude tomar. Resolveu não acordá-la, mas fazer algo, então pegou
sua mão e afagou seu rosto. Talvez desse certo. E deu. Cessou o choro e ela se
aninhou perto dele se seguiu dormindo. E Marcus permaneceu um bom tempo ali com
ela.
No outro dia
cedo, ela acordou com um cheiro de café que vinha da cozinha, então se
lembrou de que Marcus estava lá com ela.
Paula vestiu um roupão e foi para cozinha. Ela entrou sorrindo, dizendo que primeiro tivera um sonho triste, mas depois o
sonho mudou e foi muito bom. Tanto que acordou bem disposta.
Marcus
serviu o café. Estava começando a chover e ela disse:
-- Eu tinha
planejado te convidar para dar uma caminhada, mas não vai dar.
-- É, mas
vamos curtir essa chuva ali no sofá...
O tempo
corria , já se passara seis meses e no próximo sábado seria o casamento de
Marisa e Lucas. Paula e Marcus seriam padrinhos dos noivos. Todos estavam muito
envolvidos na preparação da cerimônia. Naquela semana teriam que fazer o ensaio
na igreja e D. Rosa, mãe de Marisa tinha convidado os padrinhos para um jantar
na quarta feira. Marisa tinha deixado o trabalho na farmácia. Decidiu trabalhar
em um laboratório e iria iniciar no novo emprego depois que voltasse da lua de
mel.
Era o dia do
casamento e Marcus todo arrumado foi buscar Paula. E quando ele a viu ficou sem
palavras. Ela estava muito linda dentro daquele vestido de seda na tonalidade
azul Royal. Tinha feito um jeito diferente no cabelo que a deixou deslumbrante.
Ele deu um beijo em sua testa e disse:
-- Oi minha
bonitinha. Estas demais... Muito linda. Vou ficar com ciúmes se os outros
homens te olharem muito.
-- Mas eu
vou estar é contigo, isso que importa meu bonitão. Está um gato de terno.
E saíram
rindo. Estavam felizes, e Marcus estava confiante, sabia que eles superariam as
dificuldades. O casamento foi lindo, a
festa muito alegre e divertida. E eles dançaram muito. Antes dos noivos
deixarem a festa, todos fizeram um brinde com champanhe ao casal. Tudo
maravilhoso.
Enquanto
dançavam Paula pediu a Marcus que ficasse com ela naquela noite. Ela queria
tentar avançar na relação. E Marcus concordou. Ele sabia que ela estava um
pouco “alta”, mas era ela que estava pedindo e ele na recusaria um pedido
desses. Paula queria superar o problema, vinha pensando nisso a um bom tempo. E
só na pratica é que ela saberia qual seria seu grau de aceitação.
Já era
madrugada quando chegaram. Marcus pensou em a deixar tomar a iniciativa e ir
até onde ela suportava. Não iria forçar. E disse:
-- Eu vou
fazer só o que queres que eu faça. Tu vai
me orientado. Certo?
-- Sim. Eu
preciso tentar, Pode dar tudo errado, mas eu preciso.
-- Eu sei,
eu te amo, e com amor nós vamos chegar lá. Vamos dar um passo de cada vez.
-- Obrigada.
Eu te amo por tudo isso.
Ele a
abraçou e a levou para o quarto, e vagarosamente foi a despindo e beijando e
acarinhando seus ombros, pescoço e suas mãos se moviam nas costas de Paula, que
tremia, mas continuava querendo. Ela fez o mesmo com ele, tirou sua roupa e o
beijou no peito e no lóbulo da orelha.
Depois de
tirar toda a roupa dela, Marcus a deitou com cuidado, e acomodou-se a seu lado
e foi aos poucos chegando aos seios, que acariciou e beijou e foi avançando um
pouco mais. Mas então Paula sussurrou um não. Paula queria retribuir os
carinhos, mas não conseguiu ficou bloqueada.
Então Marcus
a puxou para perto de si, passou seu braço por sobre os ombros dela e ficaram
assim abraçados enquanto ele falava ao seu ouvido dizendo coisas de amor. E
dormiram assim abraçados.
Paula acordou
antes dele e se ajeitou de maneira que pudesse olhar aquele corpo nu e admirar
a sua beleza, mesmo em estado de inércia. Mas ela tinha percebido a potencia
que havia nele. Ela queria consumar o ato. Estava se esforçando para isso.
Ele abriu os
olhos e sorriu, e ela o beijou e murmurou:
-- Vamos
continuar o que começamos?
-- Se
queres? Só preciso usar o banheiro antes. Me dá licença?
Ele voltou e
deitou-se e falou:
-- Vamos nos
tocar, vamos aos poucos avançando, não te preocupa tanto.
-- Mas tu
ficas em uma situação...
-- E que
situação! – falou rindo dela.
E mais uma
vez com muito amor Marcus foi tocando no corpo dela e deixando que ela o
tocasse. Ficou a disposição da curiosidade dela. Mas de repente ela parou.
Começou a tremer. E ela abraçou e ela se sentiu segura e se acalmou.
Estavam
progredindo.
Mais uma
semana passou e no sábado ele dormiu novamente com Paula e se tocaram sem
consumar o ato de amor. O domingo passou, e Marcus avisou que teria que viajar.
E não sabia o tempo que levaria para cumprir a programa de viagem.
Despediram-se como de costume.
No sábado a
tarde, Marcus tentou falar com Paula e não conseguiu. Ligou para a farmácia e
lá disseram que ela não tinha vindo trabalhar e nem no dia anterior e nem tinha
avisado nada. Ele ficou preocupado e ligou para a mãe de Paula, dona Silvia.
Ela também não tinha falado com Paula. Mas disse que iria lá ver o que estava
acontecendo. Marcus agradeceu e ficou de telefonar mais tarde.
Dona Silvia
encontrou a filha em estado de depressão. Só chorando, sem querer abrir a
janela, toda desalinhada, sem comer e sem tomar banho desde quinta feira. Foi a
sua conclusão. Paula não respondia as suas perguntas e falava coisas
desconexas. Então a levou para a clinica médica onde ela já havia se tratado. E ela ficou internada.
Marcus ligou
várias vezes até que d. Silvia atendeu. Ela contou a situação para ele e disse,
por conta própria, que ele estava prejudicando a filha, que se afastasse dela.
Marcus ficou chocado, e inconformado.
Procurou
falar com Marisa que já estava sabendo da internação da amiga. Ela já tinha
pedido para falar com o médico
responsável, pois não confiava na mão de Paula. Achava que d. Silvia não dava
as informações corretas e sua mente era muito criativa. Enfim, Marisa, disse
para Marcus, que sempre achou que d. Silvia não ajudava a filha, ao contrárioe
a colocava para baixo.
Falar com
Marisa deixou Marcus mais calmo, pois
ele era da mesma opinião, achava que a mãe prejudicava a Paula. Ele ainda não
tinha terminado seu serviço, mais um dia e então voltaria para perto dela.
Marcus
chegou e foi direto a clinica, queria conversar com o médico e precisava
vê-la. O médico foi atencioso com ele e
perguntou tudo o que precisava saber, para Marcus, que falou tudo o que havia
se passado entre eles para ajudar na recuperação dela. O dr. Davi permitiu que
Marcus a visse na presença dele, queria analisar as reações dela.
Quando Paula
viu Marcus ela abriu um sorriso e correu para ele, que a abraçou com carinho.
Ela se aconchegou em seu peito e assim ficou, enquanto conversavam.
Dr. Davi
ficou satisfeito com o que viu, dava para perceber que eles se amavam e muito e
que ela confiava nele. Que aquele era o caminho de cura para ela. Mas também
sabia que mãe dela só atrapalhava o tratamento, toda hora lembrando o fato
acontecido na adolescência.
Restava
saber o que tinha acontecido para ela ficar daquele jeito. Ela ainda não tinha
falado nada. Mas esperava que ela contasse para Marcus. Por isso saiu da sala e
os deixou sozinhos. E Marcus orientado pelo médico perguntou e ela respondeu:
-- Eu
acordei e estava me preparando para ir trabalhar, e lembrei que tinha que ligar
para minha mãe, porque tinha deixado milhões de recados na minha caixa. E isso
me deixou tensa, porque em todos os recados ela falava que tinha receio que eu
encontrasse com meu pai, que era para eu
voltar a morar com ela, porque só ela sabia como me proteger, mais ninguém. Que
eu agora andava com um homem que procederia como meu pai.
-- Meu amor,
vamos contar isso para o doutor. Ele precisa saber, e eu acho que quem precisa
de tratamento é a tua mãe. Onde está teu telefone° No apartamento?
-- Acho que
sim.
-- Depois
vou lá pegar e trazer para o doutor.
Paula contou
para o médico e Marcus foi até o apartamento para pegar o telefone. Mas não retornou. Esperaram... Ligaram...
Foram ao apartamento dela... Ao apartamento dele... E ele não dava sinal algum.
Muito
preocupado Lucas saiu a sua procura.
Lucas procurou nos hospitais, ligou para
diversas pessoas, clientes, foi ao prédio em que ele morava, entrou em contato
com família dele, que morava no interior e ninguém sabia de Marcus. Então foi a
delegacia registrar seu desaparecimento.
Marisa
estava preocupada com sua querida amiga que estava tão bem, conforme o médico disse, ela estava se
estabilizando com o carinho e o cuidado do namorado. E agora ele some.
Simplesmente desaparece assim do nada. Paula ainda estava na clinica, mas
devido a essa situação o doutor iria a deixar baixada por mais uns dias. E
Paula não sabia de nada, pensou que ele estava viajando.
Os dias
passavam em nada... E Paula deixou a clinica
Então Marisa
resolveu ficar com ela, não a deixaria com sua mãe, ainda mais agora que d.
Silvia estava sendo avaliada pelo dr. Davi. Mas ela teria que contar a Paula
sobre o sumiço de Marcus. Só precisava de coragem.
Quando Lucas
chegou em casa, ela pediu a ele que a ajudasse a contar para Paula o que estava
acontecendo, e foi Lucas quem contou com simplicidade o que tinha ocorrido e
relatou para Paulo todos os procedimentos que tiveram. Agora estavam aguardando
noticias.
Paula
chorou, mas depois disse;
-- Não vamos
perder a esperança. Ele vai aparecer, tenho certeza. Vou publicar na internet
fotos dele, pode ser que alguém o tenha visto. Como podemos saber o que houve
com ele. Uma coisa eu sei, ele jamais se afastaria de mim, assim.
Naquele dia, em que Marcus foi procurar o
telefone de Paula em seu apartamento, e não encontrou, quando ele saia do prédio e entrava no carro, ele
foi assaltado, colocado no porta mala do carro e deixado desacordado em outra
cidade. Sem o carro, sem documentos, sem dinheiro, machucado e desnorteado.
Ele acordou,
com muitas dores pelo corpo. Viu que estava amarrado, com esforço se
desvencilhou da corda e olhou ao seu
redor. Ele não tinha noção de onde
estava. Era um lugar deserto, talvez uma antiga mina, ou pedreira. Com
dificuldade se levantou e foi caminhando devagar tentando achar um rumo.
Escutou
barulho de motores e foi na direção. Chegou a uma estrada, mas não viu ninguém,
ou alguma casa. Tudo ermo. Caminhou com
dificuldade pela estrada em direção ao sol. Avistou um posto de gasolina. Lá
chegando perguntou que lugar era aquele, um rapaz muito brincalhão disse:
-- Aqui é o
fim do mundo.
E o rapaz
perguntou;
-- Para onde
queres ir?
E Marcus
pensou e disse:
-- Eu não
sei...
-- Oi cara
para tu curar esse porre, tomar um café e comer alguma coisa. Tem dinheiro?
Marcus
procurou por tudo e não achou nada. E o rapaz percebeu que tinha algo errado e
disse:
-- Tu foste
roubado?
-- Roubado?
-- Vem cá ,
eu tenho café e bolo aqui, vou te dar e tu vai ficar me devendo essa.
Marcus
sentou num banco e tomou o café e comeu o bolo. E o rapaz olhava para ele, e
disse se ele quisesse poderia ficar por ali.
E Marcus
ficou por ali. Sentia dores e tinha febre. Waldemar, o rapaz da oficina ficou
“encucado” com aquilo. Ele estava machucado, podia ser briga de “cachorro
grande” ou vitima de seqüestro, ou assalto. E percebeu que o rapaz estava meio
bobo, atordoado. Deixou ele ficar.
Depois de
uma semana parou um caminhoneiro para
consertar o pneu, olhou para Marcus e disse;
-- É o cara
da foto!
-- Que foto?
– perguntou Waldemar.
--Essa aqui,
deixa eu achar, esse cara está sumido e família anda atrás dele. Parece que ele
foi assaltado, porque o carro dele foi achado. Olha foto...
-- Mas é ele
mesmo. Como vamos fazer para avisar a família? Tem um número ai para a gente
ligar?
-- Vou tirar
uma foto dele e enviar para a família com a localização. Para eles saberem que
não é blefe.
-- Isso faz
assim. Pobre gente. Ele é educado...
-- É Marcus,
segundo está aqui. Eu vou seguir viagem, mas tu segura ele por ai.
-- Sim,
obrigado... Boa viagem.
E no outro
dia Lucas foi buscar seu amigo, e percebeu que Marcos estava zonzo. Agradeceu a
Waldemar e deu uma boa gorgeta.
Lucas o
levou direto para uma clinica, precisava de cuidados médicos, e ele tinha umas
marcas muito feias nas costas. Deve ter apanhado dos assaltantes.
Marcus foi
examinado e ficou internado, estava enfraquecido, e muito machucado e com inflamação devido às pauladas que levou. E
precisava também passar por uma avaliação para identificar a razão de sua
tontura.. Dona Ana e Sr. Ivo, pais de Marcus vieram da chácara para cuidar
dele.
Marcus foi
diagnosticado com ruptura no baço, e precisa ser operado com urgência. Todos
ficaram muito apreensivos. No momento em que todos achavam que Paula iria
desmoronar, ela foi forte e confiante. Tinha certeza de que ele ficaria bom.
Enquanto ele
estava na mesa de cirurgia, Paula foi para capela do hospital, para pedir ao
Senhor que olhasse por ele e o
protegesse. Ela também pediu para que ela conseguisse superar seu problema,
porque a felicidade deles dependia disso.
Ela tinha recebido uma carta de seu pai, que
não tinha tido a coragem de abrir, então ali na capela, entre lágrimas, ela leu
o que sei pai lhe escrevera. Ele pedia à
filha que fosse feliz, que superasse as dificuldades causadas por ele, que ele
se arrependia amargamente. Que ele estava no fim da vida, com cirrose e logo
morreria, por isso pedia perdão por todo o mal que tinha causado. Mas que ele,
seu pai, a amava muito.
Paula já
tinha entendido que precisava perdoar seu pai, não podia viver alimentando o
ódio como sua mãe. Dessa forma nunca ficaria curada. E hoje sabia que seu pai
era doente, pois o alcoolismo é uma doença.
Por tudo
isso, ali na capela, diante de Deus, ela perdoou seu pai.
No outro dia
Paula foi com Marisa ao hospital para visitá-lo. Marisa estava apreensiva e
Paula muito ansiosa. E quando pôs os olhos nele, com uma determinação extrema,
foi até ele e o chamou pelo nome. Ele abriu os olhos e olhou para ela e sorriu.
E murmurou:
-- Oi
bonitinha.
Foi um
alivio geral. Ele esta melhorando.
Marcus ficou
ainda mais uns dias no hospital, mas ainda precisava ter certos cuidados, não
poderia voltar logo a o trabalho. E Paula o levou para seu apartamento, iria
cuidar dele.
Nesse
ínterim, Mauro ligou dizendo que estava colocando o apartamento à venda. E se
Paula quisesse comprar ela tinha a preferência, senão teria que deixar o
corretor mostrar aos interessados.
Paula
gostava do apartamento, mas não queria comprar. Para comprar ela pretendia um
apartamento de dois quartos e com garagem. E ela tinha fundos para isso. Então
disse a Marcus:
-- Bem, vou
começar a procurar outro lugar, porque se ele vender logo, terei que entregar.
-- Posso te
dar uma sugestão. Espera um pouco. Ele não vai vender assim tão ligeiro.
-- Mas por
que esperar?
-- Porque tu
pode ir morar comigo, se for necessário. Mas o que eu quero mesmo é casar. Tu
aceitas casar comigo?
-- Casar?
-- Sim. Eu
preciso ajoelhar para fazer o pedido?- disse rindo.
-- Não! Mas
casar?
-- Por que a
surpresa?
-- Não sei
se deveríamos casar?
-- Te
explica, achei que ias cair em braços e dizer sim...
-- É a minha
vontade, mas...
-- O que é
que está acontecendo, não me queres mais?
-- Eu te quero
muito, tu sabes que eu te amo, mas é que não consigo me livrar do meu trauma...
-- Com o meu
amor, eu vou fazer tu esquecer tudo isso. Vamos ser muito felizes e vamos ter
nossos filhos., que achas?
-- Filho...
Eu bem que gostaria...
-- Então,
esse é o nosso objetivo, e vamos ter que trilhar o caminho...
-- Sim, eu
quero me casar contigo.
E chorando
Paula se atirou em seus braços. Eles se amavam, iam formar uma família. E com o
coração transbordando de esperança começaram a fazer planos.
Marcus notou
que Paula estava diferente. Ela estava com mais vivacidade, mais confiante. Ele
percebia uma melhora nela. Não sabia a que atribuir. Mas o fato é que ela
demonstrava um jeito novo de ser e agir. E ele estava percebendo nela uma nova
mulher, muito mais interessante e cativante.
Ele ainda
estava se recuperando da operação e sem poder fazer esforço, eles não tinham
mais trocado caricias. Mas ele imaginava que quando chegasse a hora ela iria
ter uma nova atitude e conseguiriam ir até o fim.
Passado uns
dias, e Marcus já estava bem, e em condições de voltar ao trabalho. Ele já
tinha avisado a Paula que, no domingo voltaria para seu apartamento e a
convidou para ir morar com ele. Ela não respondeu, apenas escutou e ficou
pensando. Como sempre ele não a pressionou.
E no sábado ela disse:
-- Eu andei
pensando, e vou te fazer uma proposta.
-- Sou todo
ouvido...
-- Tu já me
pediste em casamento, já me convidou para morar contigo, mas eu acho que antes
de tudo nós tínhamos que ter certeza de que eu estou curada. Eu me acho melhor,
certos pensamentos não me vêm mais a cabeça, e me sinto leve e livre desde o
dia que recebi a carta de meu pai, e lá na capela do hospital, enquanto orava
por ti, também pedi por mim, para que pudéssemos ser felizes. E eu tinha
recebido a carta naquela manhã e ainda não tinha tido a coragem de abrir. Então
diante do Sacrário eu a li e decidi, ali
diante de Jesus, perdoar meu pai e procurar esquecer tudo o que aconteceu. Ele
era um doente, dependente do álcool e não tinha noção do quanto ele poderia me
prejudicar. Ele pediu perdão a mim,
pediu que eu fosse feliz, e está muito doente, no fim da vida. Minha mãe sempre
me fez alimentar ódio por ele, e foi isso que me deixou
tão vulnerável, foi o ódio que eu fui induzida a sentir que perturbou minha
vida. Minha mãe e ele tinham problemas de relacionamento, e ela se aproveitou
de mim para externar sua infelicidade. E ela sempre me responsabilizou pela
separação deles. Mas eu tinha apenas onze anos, era ainda uma criança... E eu
quero te pedir uma coisa.
-- Diga...
-- Eu quero
ir ver meu pai, e peço que me acompanhes, porque só assim eu ficarei com minha
consciência tranqüila.
-- Eu vou
contigo. E acho que está certa. Se quiseres andar para frente não podes mais
ficar olhando para o passado, ficar voltada para trás. E tu sabes onde está?
-- Eu acho
que sim, no remetente tem um endereço e
eu andei pesquisando é uma tipo de asilo para homens.
-- E quando
queres ir?
-- Ainda essa
semana, antes que voltes a trabalhar. Já indaguei aos domingos é aberto para visitas.
-- Ok,
amanhã pela manhã nos vamos lá.
Era cedo
quando eles saíram rumo ao asilo. Chegaram e foram atendidos por uma religiosa,
que muito cordial os levou até ele. Quando Paula viu seu pai, ela começou a
tremer, Marcus segurou firme sua mão e sussurrou ao seu ouvido:
-- Coragem, eu
estou aqui contigo.
O homem
magro e enfraquecido estava em cima de uma cama, e quando eles se aproximaram
abriu os olhos e os olhou, mas fixou seu olhar em Paula e com muito esforço
disse:
-- Minha
filha, me perdoa...
E Paula
chorando pegou sua mão e sacudiu a cabeça afirmativamente e ao mesmo tempo em
seus lábios brotou um sim. Pai e filha se olharam e ambos estavam muito
emocionados. Seu pai deu um suspiro de alivio e fechou os olhos e dormiu. Até
Marcus sentiu um nó na garganta ao assistir a cena. Paula ficou um pouco ainda
olhando para seu pai, fez um carinho em sua face e foi embora.
Quando
estavam saindo, a irmã que os recebera os chamou, e contou que ele estava muito
mal, que talvez fosse questão de horas, mas que ele sempre chamava pela filha.
Quando ele chegou aqui ele ainda não estava neste estado terminal e pediu que
eu escrevesse uma carta para sua filha. Mas demoramos a encontrar o seu
endereço, Mas enfim conseguimos, e hoje tu vieste, ele vai morrer em paz, e tu
vais viver em paz. O perdão é essencial para a felicidade. E acrescentou:
-- Obrigado
por ter vindo, isso foi um ato de amor. Ele pecou, mas se arrependeu
amargamente. Vai em paz...
-- Obrigada
irmã. Aqui está o meu telefone, me avise...
E Paula
saiu renovada. Marcus que não disse nada
apenas a acompanhou e observou, percebeu um algo novo em seu olhar, não sabia
definir o que era, mas era algo bom.
Chegaram em
casa e Paula não comentou mais nada. Era como se tivesse se desligado de alguma
coisa que a incomodava. Definitivamente ela estava diferente.
Almoçaram e
ela arrumou a cozinha enquanto Marcus descansava deitado no sofá, e até
cochilou e quando ele acordou, a encontrou organizando a roupa dele. Ela estava
tranqüila com uma fisionomia de serenidade.
Ele se
aproximou dela e a abraçou, Paula olhou para ele e o beijou, e o convidou para
irem para cama, ela estava se sentindo tão bem, que queria provar a ele que era
uma nova pessoa, que era a mulher que ele tanto queria.
E fizeram
amor com muita paixão, sem restrições e com muito amor e com carinho Marcus a
desvirginou, e ela emocionada chorou de
alegria. Agora eles seriam felizes.
Na semana
seguinte Paula recebeu a noticia de que seu pai falecera e ela foi ao seu
enterro acompanhada de Marcus, Marisa e Lucas. E ao sair a irmã Maria veio lhe
entregar um envelope.
Quando
chegou em casa ela abriu o envelope e leu o documento que dizia que ela Paula
era a única herdeira de Cássio Miranda. Que deixava para ela três casas que
rendiam aluguel, e mais o valor em dinheiro que tinha no banco.
Marcaram a
data do casamento para dali a três meses. Os preparativos eram grandes.
Depois
de quinze meses...
Quando
Marcus chegou, viu sua mulher que estava encantadora, e cada dia mais bonita,
sedutora, mesmo com aquela imensa barriga onde gerava um casal de gêmeos, seus
filhos Liane e Leonel.
Foi até ela
e a beijo e sussurrou ao seu ouvido:
-- Oi
bonitinha...
Maria Ronety
Canibal
Outubro de 2017
IMAGEM VIA INTERNET
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