domingo, 30 de agosto de 2020

A DECISÃO

 

                                                         


                                                                   A DECISÃO

 

Nina e Sandra era as melhores amigas desde os tempos de escola. A casa de Sandra era o ponto de encontro da turma de amigos, pois era uma casa enorme e tinha uma sala que D.  Rute, mãe de Sandra, havia destinado para eles. Tinha uma entrada lateral e uma lareira bem no meio da peça, que dividia em dois ambientes, além de um lavabo e as portas-janelas se abriam para a piscina. Ali aos fins de semana a turma se reunia. Havia muito tempo que se conheciam, alguns cresceram juntos e hoje já adultos e mantinham a amizade, eles eram um grupo de quinze amigos.

D. Rute viúva e professora aposentada transformou sua casa em uma pensão para moças, e gostava muito do movimento e da algazarra dos jovens. Jéssica, Beatriz, Priscila, Mônica, Roberta, Laís e Cátia moravam na pensão. Com exceção de Cátia que era mais velha, todas as outras eram estudantes e faziam parte do grupo de amigos.

Naquele sábado, Marcelo chegou com um amigo. Ele era seu colega de faculdade e muito “boa praça”. Todos acolheram Eduardo com alegria. Jéssica olhou o recém-chegado e disse para Nina:

-- Bah, ele é um pedaço de mau caminho. É muito bonito...

-- É, mas tem um tipo arrogante.

-- Tu achas?

-- Sim, observa o jeito de olhar para as gurias. Ele se acha.

Enquanto Nina dizia essas palavras, o olhar de Eduardo se encontrou com os olhos dela e ela sentiu algo que não gostou. Mas ficou quieta. Sandra entrou com uma bandeja de cachorro quente colocou sobre a mesa onde já havia bebida e pediu que se servissem enquanto estava quente.

Nina esperou um pouco e depois foi se servir. Mas antes de ela chegar à mesa Eduardo se adiantou e a serviu. Ela sem jeito agradeceu a gentileza. Ele puxou assunto e ela foi obrigada a conversar um pouco com ele. Jéssica que viu a cena e estava atrás dele ria dela. E isso deixou Nina arisca. E ela tratou de se afastar dele.

Sandra pediu a palavra. Tinha tido uma ideia para o feriadão. Seu tio tinha um sitio a beira do rio, e a sugestão era de eles acamparem para uma pescaria. Houve discussão, mas por fim a sugestão foi acolhida.

Nina tentou cair fora da tal pescaria, mas como houve muitos protestos ela teve que concordar em ir. Teriam que providenciar muitas coisas. Cada um se propondo a assumir uma tarefa.

Já depois de tudo acertado, Eduardo perguntou:

-- E eu estou incluído?

-- Mas claro que sim. – Foi a resposta de quase todos.

Nina saiu dali e foi ajudar d. Rute que estava providenciando uma nova rodada de cachorro quente. Enquanto ela estava na cozinha, eles decidiram se dividir em duplas para melhor cumprirem a missão de organizar a pescaria. Como havia no grupo casais de namorados não tinha muito que escolher. Jéssica estava ficando com Marcelo e sobrava Nina, Sandra e Laís. Mas Eduardo logo pediu para Nina ser a sua parceira, pois eles moravam próximos, essa foi a desculpa que ele deu.

Quando Nina chegou com a bandeja todos a rodearam. E Eduardo ficou para trás, tirou a bandeja da mão dela, colocou sobre a mesa, e preparou dois cachorros para eles. Sentaram para comer e então ela soube das duplas. Nina não seria grosseira a ponto de protestar, afinal era só até o feriadão, dali a alguns dias.

Era início da noite quando soprou um vento forte, que os deixou apreensivos e logo faltou luz. Eles queriam jogar cartas, mas tiveram que fazer outro tipo de jogo. E Bia sugeriu que cada um contasse uma mentira que poderia ser cômica ou dramática.

 Foi Vinicius quem iniciou e contou um caso de assombração. Depois foi Sandra que contou uma situação engraçada e assim foram até que as últimas mentiras eram de assombração e pânico.  Nina não gostava de estar no escuro, e se achegou inconscientemente para mais perto de Eduardo, que sentiu sua presença e pegou sua mão que estava gelada.

E do céu caia uma chuvarada tocada a vento. A luz voltou e já era bem tarde e Eduardo ofereceu carona para Nina e Marcelo que tinha vindo com ele. Eduardo deixou primeiro Marcelo em casa e  Nina ficou para o fim, porque realmente eles moravam muito próximos, no mesmo quarteirão.

Depois de tomar um banho Nina deitou tentando dormi, mas em seu pensamento estava Eduardo que a tinha perturbado muito. Ela achava que ele tinha um ar de arrogância, no jeito de andar e olhar para as pessoas. Ele era alto, forte, cabelos castanhos claros e olhos azuis, um rosto com feições bem marcadas. Era bonito! Ela não entendia porque ela tinha ficado tão mexida, e nervosa ao saber que teria que estar em dupla com ele.

Eduardo já conhecia Nina de vista, a via sempre passar em frente a sua loja. Ele se interessara por ela, e já tinha algumas informações. Sabia que ela era solteira, morava sozinha, sem família, tinha vinte e dois anos, estudava Nutrição e trabalhava meio turno em uma escola infantil.

Nina era uma moça de estatura mediana, era gordinha e tinha um rosto lindo, um par de olhos castanhos escuros com feições delicadas emolduradas por um cabelo castanho caídos até os ombros. Para Eduardo ela era muito linda. Ele pensava nela todos os dias e agora que a tinha conhecido com certeza, sonharia acordado com ela e teria dificuldade para dormir. Ainda bem que outro dia era domingo.

O domingo amanheceu chovendo. Nina decidiu não sair. Ia aproveitar e arrumar seu armário. Mas Jéssica ligou dizendo que todos estavam convocados para almoçar, pois d. Rute estava fazendo lasanha para todos. Por fim Nina concordou, não queria fazer desfeita para D. Rute que era tão legal com todo o mundo. E além do mais era um almoço muito gostoso e barato. Eles costumavam dividir o valor gasto com os ingredientes.

Nina se arrumou e ficou esperando por Marcelo, mas quem apareceu foi Eduardo para levá-la para almoçar. Ele tocou o interfone e disse:

--Oi estou te aguardando aqui embaixo.

-- Ok, estou descendo.

Mas quando ela chegou diante dele ela se mostrou surpreendida:

-- Tudo bem? Pensei que fosse Marcelo.

-- Decepcionada?

-- Não... Só pensei...

-- Vamos, o carro está ali.

Eles correram até o carro, pois a chuva estava mais forte. Quando ele estava dando partida no carro, Nina perguntou:

-- Onde tu moras?

-- Em cima a Papelaria.

-- Ali? Somos vizinhos?

-- Sim, e a loja é minha.

-- Hum... Eu nunca te vi... E já comprei muitas coisas lá.

-- Eu sei...

-- Mas como? Tu ficas escondido?

-- No escritório atrás da porta de vidro.

-- Bah, eu nunca notei que tinha um escritório ali. Mas não dá para ver da loja, não é?

-- Na verdade eu vejo a rua e a loja de onde trabalho. Realmente é para ser uma porta discreta.

Quando chegaram à casa de d. Rute, Nina se afastou de Eduardo. A proximidade dele a deixava muito inquieta. Sentou junto de Sandra e entrou no assunto que rolava: a pescaria. Agora só falavam nisso.

Sandra anunciou que tinha avisado o seu tio, que ficou muito contente e disse que iria participar com a turma. As moças poderiam se ajeitar na casa e os rapazes no galpão. Mas precisavam levar saco de dormir ou rede. Porque cama só tinha uma, e seria dele.

E dentro de casa tinha duas camas de casal e um beliche e um sofá. Então algumas das gurias teriam que levar saco de dormir ou colchonete e roupa de cama. Banheiro na casa tinha dois e no galpão tinha mais um.

Havia um lugar para churrasco, e a cozinha era grande. A casa tinha um avarandado que rodeava a casa, e uma piscina. Havia uma trilha no mato que subia o morro e outra que descia para o rio. Poderiam fazer boas caminhadas.

Todos ficaram muito entusiasmados com o passeio que estavam programando.

D. Rute chamou para o almoço, e quando Nina se deu conta, ele estava sentado ao seu lado. Sandra e Jéssica olharam para ela e começaram a rir. Ela olhou para elas muito séria e Eduardo percebeu os olhares e perguntou:

-- Alguma coisa errada?

-- Não, nada. Elas são umas crianças grandes, ficam falando bobagens o tempo todo.

-- Hum. Tu não gostas de falar coisas bobas e dar boas risadas?

-- Eu gosto, mas...

Ela foi salva por D. Rute que iniciou uma oração antes da refeição iniciar. E o assunto na mesa foi o temporal da noite anterior que tinha feito muitos estragos na cidade e no interior do estado. E ainda chovia, às vezes, pancadas bem fortes.

Depois do almoço os rapazes foram para a sala e a algumas das gurias foram ajudar a limpar a cozinha e Laís e Priscila foram tirar uma soneca.

Nina voltou para a sala, e por mais incrível que fosse o único lugar que tinha para sentar era ao lado de Eduardo. Ela olhou e pensou: “isso é armação, só pode ser.” Ela deu meia volta e foi buscar os almofadões para sentar no chão.

Acomodou-se próximo a lareira. Eduardo levantou, foi a cozinha, demorou um pouco para retornar à sala e sentou perto dela também nos almofadões, pois as gurias tinham ocupado o sofá.

E Nina teve que se render e aceitar a proximidade e a conversa dele. Resolveram jogar Banco Imobiliário. Todos sentaram no chão, arredaram a mesa de centro e no meio deles colocaram a tabuleiro.

Era fim da tarde quando uma nesga de sol surgiu no céu, e era hora de ir para casa. Terminou o jogo e Nina se levantou e anuciou  que ia embora. Sandra pediu que ficasse para jantar, ia sair uns sanduíches. Mas ela agradeceu e disse que precisava ir. E de repente ela vê Eduardo junto dela se despedindo também.

Quando já estavam na rua, ela disse:

-- Não precisa me levar. A chuva parou, eu vou andando. Obrigada.

-- Deixa de bobagem. Entra aí, eu te levo.

-- Ok.

Já com o carro em movimento Eduardo comentou que estava com vontade de comer uma pizza. E ela sem pensar falou:

-- Bah... seria uma boa...

-- Então vamos comer. O que preferes ir à pizzaria ou pedir para trazer em casa?

-- Acho que pedir é melhor, concordas?

-- Sim, aonde, no meu ou no teu apartamento?

-- No meu é claro.

-- Certo. Te deixo na porta, e vou deixar o carro na minha garagem e volto a pé. Ok?

E naquela noite eles conversaram sobre vários assuntos e ela pode ver que ele era um cara legal, que  tinha a mesma linha de pensamento que ela, e que foi obrigada a concordar com ele em muitos pontos, quando a vontade era só discordar. Era perto de meia noite quando Eduardo foi embora.

A semana passou e eles não se viram e tão pouco se falaram. Ela, tinha resolvido pegar a condução no outro ponto, mesmo sendo mais longe. No fim de semana Nina ficou em casa estudando.

Só uma semana antes do feriadão foi que eles se encontraram. Precisavam conversar e ver o que cada dupla já tinha cumprido de suas tarefas. Eles não tinham feito nada. Mas como ele ia levar uma rede para dormir e ela um colchonete, e mais roupa de cama, e o que era de comer era só passar no super mercado. Tudo tranquilo.

Enfim chegou o feriadão.

Eduardo passou bem cedinho para pegar Nina e foram para a pensão. De lá sairiam juntos. A última hora Laís avisou que não ia, pois Cátia estava com febre e ela ficaria com ela. E então os dois foram sozinhos no carro. Conversaram bastante na viagem. O local não era muito longe, cerca de oitenta quilômetros de estrada boa e cinco de estrada de chão.

O lugar era magnífico, era na encosta de um cerro e tinha uma parte baixa que se estendia até o rio. Era um vale muito bonito, uma vegetação exuberante e da casa  se tinha uma vista muito bonita e se enxergava longe.

Estava um dia lindo, quente e a previsão era que iria continuar assim todo o feriado. Eles descarregaram os carros, as moças se encarregaram de organizar as camas e a despensa, enquanto que os rapazes estavam conhecendo a propriedade, com o tio Carlos.

Também organizaram o material de pesca, e logo mais à tardinha iriam pescar. Para o almoço eles tinham trazido uma carne que iriam assar. Marcelo e Pablo iam se encarregar do almoço.

Sentaram todos no gramado em frente à casa curtindo o dia e o lugar. Nina disse que queria subir pela trilha do cerro para ver a vista lá de cima. Tudo o mundo disse que era se cansar à toa, pois dali já tinha uma bela vista. Mas ela disse que iria sozinha.  E foi.

Eduardo tinha ido com o tio Carlos no galpão ajeitar umas coisas. Quando retornou não viu Nina no jardim, procurou na casa e não a encontrou. Então perguntou por ela.

-- A louca da Nina resolveu subir o cerro. E foi sozinha. – Disse Priscila.

-- Seu Carlos tem mais de uma trilha?

-- Principal é só uma, mas têm sim outras que circundam o cerro.

-- Eu vou atrás dela.

E Eduardo subiu preocupado com ela. Andava rápido, mas era uma subida íngreme e ele já estava sem fôlego. Parou e olhou para cima e a avistou encostada em uma árvore. Ela devia estar cansada. Ele chegou até ela e ralhou com ela:

-- Precisava subir sozinha. Por que não me esperou?

-- Ué, qual o mal de eu subir aqui sozinha?

-- Podes cair, podes escorregar, podes te machucar, pode aparecer uma cobra...

-- Ah! E por que esses cuidados todos comigo?

-- Porque eu me preocupo contigo, só por isso. Vem, me dá a mão, vamos subir juntos e devagar é muito abrupto. E o chão está úmido. Vamos com cuidado.

E alcançaram o pico. Realmente a vista era lindíssima. Ela estava com a máquina fotográfica e tirou belas fotos, inclusive dele. A descida foi mais difícil do que a subida, pois estava escorregadia. Em um momento ela deslizou, e  ele a segurou, e eles ficaram muito próximos, ela pensou que ele fosse beijá-la, pois até o hálito dele ela sentiu. Suas pernas tremeram e ela se agarrou nele, e Eduardo a olhou com intensidade a abraçou. O resto da baixada eles desceram devagar de mãos dadas.

Quando chegaram ao jardim eles estavam suados, e Nina realizada. Ficou tão contente que disse:

-- Obrigada. Sem ti eu não teria conseguido e foi maravilhoso.

-- Valeu, também gostei.

-- Acho que vou tomar uma ducha, estou muito suja para sentar à mesa.

-- Eu também.

Nina voltou com os cabelos molhados, tinha posto uma bermuda e uma  regata verde claro que realçava seus cabelos. Estava de cara lavada, sem nem um batom para dar uma corzinha.

Mas quando ele a viu ficou fascinado, ela tinha uma beleza natural, não precisava de artifícios para chamar sua atenção. E ele quase a beijou... A proximidade dela, o cheiro o deixou cheio de desejo.

Ela havia sentado na cozinha e estava mostrando as fotos que tinham tirado. E ele estava encostado no pilar do avarandado olhando para ela com cara de apaixonado. Marcelo percebeu e disse baixinho:

-- Cara! Tu estás dando bandeira. Cuidado...

-- Sério!

Então foi para a roda do chimarrão.

Depois do almoço ele pegou a sua rede e pendurou debaixo das árvores. Ali corria um vento e o sombreado deixava uma temperatura agradável. Nina viu quando ele foi para debaixo das árvores, queria ir ficar lá com ele, mas precisava de uma desculpa. Procurou um livro e pegou uma toalha e foi para a sombra. Ficou a uma pequena distancia dele. Deitou-se de bruços e abriu o livro.

Eduardo não estava dormindo e percebeu a manobra dela. Sorriu, e ficou quieto e de onde estava podia olhar para ela sem que ela percebesse. Mas de repente pensou que deveria se manifestar. Então falou:

-- As formigas não vão te pegar?

-- Tu achas que tem formigas aqui?

-- Com toda certeza.

-- Bah, então vou ter que sair daqui...

-- Não! Fica. Queres vir para rede? Ela é bem larga dá para duas pessoas, é só deitar atravessado. Vem.

Eduardo levantou-se e trocou de posição e esperou por ela que aceitou o convite. Ela sentou ao lado dele. Ele deu um impulso e os dois ficaram ali quietos aproveitando o balanço da rede. Ela sorriu e disse:

-- Eu adoro uma rede. Quando eu era pequena, na praia eu dormia na rede. Coisa bem boa. Uma vez cai e machuquei meu pulso. E meu pai guardou a rede, disse que eu me embalava forte demais.

-- Bah, eu nem sei quantos tombos levei da rede. Na praia eu e meu primo fazíamos disputa de quem voava mais alto com a rede. Minha avó também tirou a rede de nós.

-- É... Eu tenho vontade de colocar uma em meu apartamento, mas acho que não tem lugar...

-- Eu tenho uma em frente a janela, e quando estou deitado nela enxergo a rua.

-- Legal.

-- Vou lá no teu apartamento achar um lugar pra ti.

-- Vai mesmo.

Depois silenciaram. Ela estava com o quadril encostado conta o dele e isso a estava deixando nervosa. Ela fez menção de levantar, mas ele a segurou e pediu:

-- Fica...

E ela ficou. Ele passou o braço por sobre os ombros dela e a abraçou. Ela deitou a cabeça no peito dele e escutava o coração dele que batia forte, assim como o dela. E dormiram abraçados na rede.

Foi Jessica que os acordou, quando gritou para eles:

-- Hei, vocês não vão pescar? Estamos descendo para o rio. Nina coloca roupa de banho, tem uma prainha.

-- Ok, já vou;

Eduardo pegou a rede e Nina a toalha e o livro. Ela entrou em casa e voltou dentro de  um biquíni verde esmeralda, com uma canga que estava amarrando na altura do busto. Mas ele teve oportunidade de ver aquele corpo apetitoso.

Enquanto iam ele a pegou pela mão. Ela olhou para ele e sorriu e ele devolveu o sorriso com uma piscadela de olho.

O rio era largo e tinha um areal que formava uma praia. Segundo tio Carlos dava para tomar banho, mas com cuidado, tinha uma marcação de onde não se podia passar. Um poste enterrado bem visível.

Os homens começaram a procurar lugar para pescar. Não queriam ficar perto das “meninas” por causa do barulho que faziam e eles caminharam rio abaixo. Nina sentou na areia e ficou olhando Eduardo se afastar. Jessica sentou junto dela e perguntou baixinho:

-- E aí? O que está rolando?

-- Não sei. Só uma aproximação.

-- Deixa de ser boba, ele está caidinho por ti.

-- Tu achas?

-- E tu? Também está com o coração palpitando? E onde ficou o cara arrogante?

-- Pára! E deixa de ser chata...

Nina nunca tivera um namorado. Nenhum dos rapazes que ela conhecia havia se interessado por ela. Quando tinha dezesseis anos teve um namoradinho. Mas nada sério, e não durou muito tempo. Depois tanta coisa aconteceu em sua vida, que ela se esqueceu de tentar namorar alguém.

Mas agora era diferente, parecia que ele estava afim dela e ela estava muito mexida com ele, para não dizer apaixonadíssima. E isso a assustava...

Elas resolveram entrar na água, que estava com uma temperatura boa. E ficaram “de molho” conversando. Deram muitas gargalhadas. Até que Fernando veio dizer que elas estavam perturbando os peixes, que tinham se afastado. Eles não estavam pescando nada. Foi uma gargalhada só. E Sandra gritou:

-- Vocês não sabem pescar e a culpa é nossa.

Fernando entrou na água também, depois Marcelo e Eduardo e de repente todos estavam ali aproveitando a fim de tarde. Estava escurecendo e. D. Rute estava esperando por eles com um bolo recém tirado do forno.

Nina ficou pra trás e Eduardo ficou com ela. Vinham devagar conversando. Ela agora estava só de biquíni e ele sentiu ciúmes dos olhares dos outros e disse:

-- Tu és muito linda. Atrai os olhares de todos com esse biquíni.

-- Eu linda?

-- Sim. Homens gostam de curvas e de carne, não sabia?

Ela ficou vermelha e se enrolou na canga. Ele sorriu e se achegou a ela. E disse baixinho:

-- Minha linda...

Fizeram fila para o banho. Nina pegou um pedaço de bolo e sentou no banco de madeira que havia no avarandado. D. Rute tinha dado senha para banho e Nina era a última. Eduardo foi tomar banho e quando voltou ela ainda estava esperando.

Enquanto Nina tomava banho, ficou pensando que ele havia dito que ela era linda, ele a achava linda. Sorriu ao lembrar as palavras dele. Ela estava querendo ser beijada. Será que haveria oportunidade para isso. Bem havia outros casais de namorados que iriam ficar um pouco sozinhos e podia rolar uma chance de eles trocarem um beijo. Ela nunca tinha sido beijada.

Por isso ela se arrumou um pouco. Ela apareceu na sala com uma bermuda jeans e uma regata na cor Pink. Colocou brincos e colar e passou um batom e muito perfume. Quando ela chegou a sala todo mundo olhou para ela e alguns assoviaram. Ela ficou encabulada, deu meia volta e foi ajudar a Sandra arrumar a mesa para o jantar. Eduardo estava sentado próximo a porta levantou-se e foi até ela e disse:

-- Em que eu posso ajudar?

A noite estava quente e enluarada. A turma resolveu ficar no jardim. No primeiro momento todos sentados em uma roda conversando, mas aos poucos a roda se desfez. E ficaram alguns casais apreciando o romantismo da lua.

Eduardo pendurou sua rede no avarandado e Nina sentou com ele, que dali eles apreciavam a lua.  Eduardo abraçado a ela a puxou para perto e a beijou. Um beijo suave que foi se aprofundando, e ele percebeu que ela nunca tinha sido beijada. Aconchegou-se a ela com carinho.

Os dias que se seguiram foram de encantamento para Nina e Eduardo. Eles curtiram cada momento. O feriadão terminou. Nina e Eduardo estavam comprometidos.

O final de ano se aproximava e todos eles estavam com muitas coisas para fazer, e a turma estava se reunindo só de vez em quando. Todos estavam namorando, pois Jéssica e Marcelo firmaram compromisso, assim como Sandra tinha reatado o namoro com Sérgio. E Laís estava voltando para sua terra, seu curso havia terminado. Mas programaram alguns encontros.

 Nina ficava mais em casa, Eduardo havia estendido o horário de atendimento na papelaria, por causa do Natal, uma vez que tinha um nicho de presentes e brinquedos.

Eles estavam a cada dia, mais apaixonados, descobriram que eram muito parecidos, gostavam das mesmas coisas, até na comida. Entendiam-se muito bem e o namoro fluía. E Nina gostava de lembrar o primeiro beijo que eles trocaram e das caricias que trocavam, e da primeira relação amorosa. Como ele tinha sido carinhoso e gentil com ela. A tratava como se fosse uma princesa, e a chamava de minha linda. Nina estava feliz.

Fazia muito tempo que ela não se sentia tão leve e feliz. Desde a morte de sua mãe sua vida tinha virado de cabeça para baixo. Ela tinha dezesseis anos, quando sua mãe adoeceu um câncer de fígado que em três meses a matou. Ela era filha única e seu pai pouco tempo depois trouxe sua amante para morar com ele, na casa que era de sua mãe. Ela não aceitou tal situação, e foi morar sozinha. Era muito jovem, mas teve que assumir sua vida. Ela jamais perdoou seu pai.

Ele fez o inventario e ela ficou com três apartamentos, inclusive o que ela morava para não ter parte na casa. Ela se afastou completamente de seu pai e do resto da família. Sua mãe tinha apenas uma prima que morava na Espanha. Portanto ela era muito só.

Hoje, cinco anos depois ela estava bem.  Sentia-se segura, pois era amada por Eduardo e o amava muito. Ela pedia a Deus que ele nunca a decepcionasse... Porque ela tinha apostado tudo nele.

A turma tinha decido passar o dia de Natal juntos. Cada um levaria um prato e bebida e passariam a beira da piscina. Sandra concordou. D. Rute gostava que eles fossem para lá, eram alegres e divertidos. Mas estava com problema de coluna e o médico havia recomendado que ficasse sem trabalhar por uns dias.

Na noite de Natal, Nina e Eduardo tinham combinado de ficar em casa. Só os dois. Ele sairia tarde e cansado da loja. Eles fariam uma festa particular, e no outro dia sim, iriam participar com a turma.

Nina preparou uma ceia para eles, decorou a sala com motivos natalinos, montou uma árvore de Natal, e foi o melhor natal de sua vida. E terminaram a noite fazendo amor com muita paixão.

No outro dia, por volta das onze horas a turma foi chegando à casa de Sandra. Arrumaram umas mesas no jardim, guarnecidas de guarda sois e na mesa cumprida da área colocaram as comidas.

A piscina foi a grande pedida.

Eles passaram um dia alegre e descontraído. O feriado de Ano Novo, Eduardo convidou Nina para irem para a praia. Alugaram um quarto em um pequeno hotel e curtiram muito.

Os dias passavam e Eduardo estava feliz ao lodo de Nina, que era a mulher que sempre idealizara para si. E toda vez que faziam amor ele sentia que ela era o seu paraíso, que ali era o seu lugar.

Nina também estava entregue a esse amor. Sabia que Eduardo era sincero e fiel, e que jamais procederia como seu pai, que nem respeitou a doença e nem a memória de sua mãe. Ela desprezava seu pai.

Nina e Eduardo não estavam morando juntos, mas seguidamente ele dormia no apartamento dela. Eles moravam tão próximos, a menos de trinta metros e eles curtiam ter momentos de privacidade.

Nina estava chegando em seu prédio quando um homem a abordou. Ela ficou com medo, mas era uma pessoa bem vestida e educada, que se apresentou e disse que precisava conversar com ela, assunto muito importante e privado. Que ela escolhesse o lugar e se quisesse levar alguém de confiança, não teria problema algum.

Ela pensou e marcou para o outro dia no shopping, na praça de alimentação. O homem agradeceu e foi embora. Ela ficou parada pensando e observando o homem entrar num carro preto.

Nina deu volta e foi para a papelaria, precisa contar para Eduardo. Depois de escutar o relato dela Eduardo achou que realmente ela deveria ouvir o que essa pessoa tinha para dizer. Ele iria junto com ela.

No outro dia Nina e Eduardo foram para o shopping um pouco mais cedo do que o combinado. Sentaram em uma mesa, mais ao canto. E esperaram.

No horário marcado se aproximou deles um homem com uma pasta. Ele educadamente pediu licença e sentou.

-- Olá, obrigado Nina por ter aceitado conversar comigo. Sei que foi outra pessoa quem falou contigo ontem, a meu pedido.

Eduardo perguntou:

-- Por favor, quem é o senhor? O que quer com a Nina?

-- Eu tenho muito a contar para ela, preciso revelar um segredo de Marília, a mãe de Nina.

-- O que tem minha mãe? Quem tu és?

-- Bem, vou começar pelo fim, para te acalmar. Eu sou teu pai.

Nina ficou pálida, Eduardo pegou em sua mão e disse:

-- O senhor é maluco?

-- Não... Marília e eu vivemos um grande amor... Vou contar tudo. Mas antes vou buscar uma água para ela, que está mais branca do que algodão.

Ele voltou com três garrafas de água mineral. Sentou na frente e Nina e olhando para ela disse:

-- Tu és linda como tua mãe. Estás muito parecida com ela. Eu sou um artista, amo a minha arte e casamento nunca esteve nos meus planos. Mas quando eu conheci tua mãe, minha vida virou de cabeça para baixo. Eu morava em Paris, estudava artes e frequentava exposições e pintava quadros na praça, os quais eu vendia para me sustentar. Minha família me mandava alguma ajuda. Minha mãe me apoiava, mas meu pai não. Minha irmã tinha vergonha de mim.  Bem, nós éramos muito jovens. E aquela tare, uma bela moça parou para olhar meus quadros e eu fiquei encantado com ela. Perguntei se ela gostaria de posar para mim, que eu faria o retrato dela. Ela aceitou na hora. Ela era alegre e impulsiva. E eu pintei e deu o quadro de presente para ela. Mas depois continuamos nos encontrando, nasceu entre nós uma paixão alucinante, que nos dominava. Vivemos dias felizes. Eu continuava meu curso na faculdade e ela estava lá para aprimorar o idioma. Foi a melhor época de minha vida. Mas ela engravidou e tudo se modificou. Ela ficou desnorteada com a gravidez, eu estava feliz, mas a família dela a obrigou a voltar. Eu prometi que viria para junto dela, eu só precisava juntar dinheiro para a passagem.  Mas quando eu cheguei aqui ela já estava casada. Para mim foi um golpe. A família dela tinha “comprado” um marido para ela. Ele era um rapaz ambicioso que estava se formando em direito. Teu avô propôs sociedade no escritório de advocacia para ele, se casasse com Marília. Deu uma casa e um bom salário. E tua mãe ficou infeliz. Eu vim para cá e enquanto ela viveu, eu a amei com loucura. Continuamos nos encontrando até o dia que ela não pode mais sair por causa da doença. Na verdade, segundo eu sei, ela e o marido nunca tiveram uma vida de casal. Ele sempre teve amantes. Eu te acompanhei sempre de longe. Te vi crescer, tornar-se essa moça linda que és, eu te amei a distância. Eu decidi te contar esse segredo de família, porque quero estar perto de ti minha filha. Eu sei que parece uma coisa absurda, mas tua mãe viveu uma linda história de amor comigo. Fomos felizes do jeito que podíamos. Hoje eu estou bem de vida, tenho uma galeria de arte, mas não foi sempre assim, houve época que eu só tinha o meu amor a oferecer a Marília.

-- Por que ela nunca me contou? Éramos amigas...

-- Mas tu eras muito jovem para entender. Só quem ama pode entender o amor.

-- E as provas do que tudo isso é verdadeiro? O retrato dela está comigo. Ela amava aquele quadro...

-- Eu proponho nós fazermos o exame de DNA. Isso vai provar tudo. E tenho fotos e cartas, bilhetes escritos por ela. Estão aqui na pasta. Leva, olha em casa com calma.

--E como é o teu nome?

-- Antônio Ramada, e meu nome artístico é Ramada.

-- E de onde és?

-- Eu sou paulista da capital. Mas vim para o sul, me estabeleci aqui para ficar perto de tua mãe. No início foi difícil, eu mal me sustentava, mas depois as coisas foram melhorando. Eu consegui vender quadros para o exterior e me tornei conhecido, e alguns quadros foram bem valorizados e hoje vivo bem.

-- Por que minha mãe nunca se separou dele?

-- Porque teu avô nunca permitiu. Ele me odiava. Hoje eu teria condições de sustentar uma família, mas naquela época não. Ela precisava do dinheiro da família para viver e te dar conforto. O marido não colocava dinheiro em casa. Depois que ela adoeceu quem me dava noticia dela era a Bá.

-- A Bá, morreu logo depois da mãe. E eu fiquei só. Muito só. Hoje eu tenho Eduardo aqui comigo, mas após a morte de minha mãe eu fiquei sem ninguém, aquele homem que disseram que era meu pai, nunca se importou comigo. Meus avôs sempre foram distantes de mim, e já estavam doentes. Ela fora “da casinha” e ele tinha problema de coração muito grave.

Antônio se despediu e foi embora. Pediu que ela olhasse tudo com cuidado e marcasse o exame, e o avisasse. Eduardo que até então tinha ficado quieto agradeceu a ele. Eles entrariam em contato.

Nina estava abalada. Eduardo a levou para casa. Ela tomou um banho enquanto ele preparava um chá para ela. Ela queria olhar as fotos e as cartas da mãe. Mas Eduardo achou melhor esperar um pouco, eram muitas emoções. Ele a abraçou, beijou sua testa e perguntou:

-- Tudo foi surpresa, ou tinha alguma coisa que tu sabias?

-- Não, em casa não se falava em dinheiro. Tudo o que eu precisava pedia para minha mãe porque eu nunca me dei com ele. Ele sempre foi um estranho que eu chamava de pai.

-- Como o dinheiro pode trazer infelicidade. Se teu avô não tivesse sido tão intransigente e tivesse ajudado ao Antônio, tudo seria diferente e eles teriam sido felizes.

-- Pois é, e quantas pessoas foram infelizes por causa dessa decisão de meu avô. Pelo menos quatro, porque eu me incluo. Minha infância não foi feliz. Em casa tudo sempre foi muito quieto, não havia conversas, risadas, nada... Não se festejava nem aniversário. Sabe, antes de tu entrares em minha vida, a melhor coisa que eu encontrei foi a turma de amigos. Ali eu me divertia e me sentia à vontade, me sentia parte do grupo. Ainda me sinto assim, gosto de todos eles são minha família.

-- E eu estraguei isso?

-- Deixa de ser bobo, tudo melhorou com tua presença em minha vida. Só espero que continuemos assim. Que nada nos afaste.

-- Eu também. Te amo muito para ficar longe de ti.

Mais tarde eles pediram uma pizza, sentaram no chão encostados no sofá e olharam tudo o que havia na pasta. Algumas fotos que Nina lembrava, mas outras eram desconhecidas dela. Leu as cartas e ficou convencida de que Antônio era seu pai. Naquela noite Eduardo ficou com ela.

O exame de DNA deu positivo, ela era realmente filha biológica dele.

Nina ficou feliz por não ser filha do marido de sua mãe. Agora ela tinha um pai de verdade que queria conhecer melhor e assim fez.

Ele a convidou para viajar com ele, já que iria visitar várias galerias em diferentes países. Que ela providenciasse o passaporte imediatamente e tirasse o visto para entrar nos EUA.

Nina estava eufórica, não tinha mais tempo para nada e Eduardo foi se sentindo em segundo plano. Aos poucos ele foi se afastando. Ela nem percebeu.

Como iam ficar fora um bom tempo, Nina trancou sua faculdade. E saiu com seu pai pelo mundo. Ela telefonava para Eduardo, mandava fotos, se comunicava com ele, mais como amiga do que namorada.

Ele decidiu por um final naquela relação que estava muito esquisita. E telefonou para ela explicando seus sentimentos e ela aceitou sem protesto algum. Após o telefonema Eduardo se sentiu péssimo. Mas ele precisava de definições, e agora estava livre de qualquer compromisso.

Depois de oito meses Nina retornou, ela foi a papelaria para ver Eduardo. Tinha trazido uns presentes para ele, mas ele não estava. Então os deixou em cima da mesa dele com um bilhete.

Eduardo quando chegou encontrou o bilhete dela que dizia: “Vou mudar para o apartamento do meu pai. Se puder ir me ver, estarei no meu apartamento arrumando minhas coisas. Te espero beijos” Ele abriu os presentes que ela havia deixado e foi vê-la.

Ele ainda tinha a chave do apartamento dela e entrou sem bater e a encontrou no quarto fechando a mala. Ela parou e olhou para ele e correu para abraçá-lo. Ele retribuiu o abraço morrendo de vontade de jogá-la na cama e fazer amor.

-- Senti muitas saudades tuas. – Foi o que ele disse.

-- Eu também. Sinto falta dos teus beijos e das nossas transas.

-- Achei que estavas feliz viajando com teu pai...

-- Sim, eu estava, mas tu não estavas lá.

E ele a beijou com intensidade e acabaram na cama, fazendo amor como nunca antes. Ambos estavam sedentos e se entregaram com ardor. Estavam ofegantes quando ela perguntou:

-- Por que tu quiseste desfazer nosso compromisso?

-- Porque eu estava me sentindo sozinho demais, me sentindo abandonado...

-- Mas agora vamos ficar juntos novamente, eu te amo muito.

-- Não sei se devemos. Teu pai está te oferecendo uma vida diferente, em outra esfera social, a qual eu não faço parte, e tu vais conhecer pessoas diferentes e interessantes. E eu posso me tornar um estorvo para ti. Melhor assim, sem compromisso.

-- Sem compromisso, mas vamos seguir nos encontrando, certo?

-- Não sei, não posso prometer.

E ela foi morar com o pai. Agora ela era citada nas crônicas sociais, era fotografada e estava sempre acompanhada por herdeiros ricos. Ela parecia deslumbrada com seu novo mundo.

Eduardo havia terminado seu curso de Administração de Empresas e se dedicava ao seu trabalho a sua loja. Quase não saia, e seus amigos uns estavam casados e outros noivos. Ele preferia uma boa leitura a andar pela rua caçando, uma qualquer. Fazia mais de ano que não falava com a Nina.

Eduardo ainda pensava muito nela, e sempre soube, desde o instante que a viu, pela primeira vez, que ela era a mulher de sua vida. E por ironia da vida ela se afastou dele por causa do pai. Um pai que a seduziu com o fascínio da vida. Eduardo não tinha mais esperança em ter uma vida junto de Nina.

Certo dia ele estava almoçando em um dos restaurantes do bairro, que estava lotado, quando uma moça se aproximou e perguntou:

-- Posso compartilhar de sua mesa.

-- Sim. Sinta-se à vontade.

-- Eu tenho pressa. Não posso esperar.

-- Eu sou Eduardo.

-- Eu sou Bianca. Eu te conheço, tu não és o cara da papelaria?

-- Sim.  Mas não me lembro de ti. Já nos conhecíamos?

-- Não. É que geralmente eu desço do ônibus ali na frente e já te vi ali.

-- Bem, na próxima vez que descer ali, entra pra me dar um oi.

-- Com certeza... Vou aparecer por lá.

-- Está na minha hora, eu preciso ir ao banco. Até qualquer hora.

-- Tchau...

Eduardo saiu do restaurante e se dirigiu ao banco que era um quarteirão dali, e foi pensando em Bianca. Ela era simpática e bonitinha.  E bem novinha, devia ter uns vinte anos.

E naquela semana um fim de tarde, Bianca cumpriu o prometido, apareceu na papelaria e ficou conversando e esperando a hora de fechar a loja. Já haviam combinado de sair para fazer um lanche com ele.

E a amizade dele com Bianca foi se fortalecendo. Para ele era só amizade, mas para ela não, pois ela pressentia boas oportunidades com ele. Bianca era uma guria bem solta, bem moderninha e gostava de tomar iniciativas. E ela já tinha feito algumas propostas para ele. E, é claro que ele aceitou, mas deixando, sempre, bem explícito que não havia compromisso entre eles.

E foi num sábado a noitinha, quando ele saia de seu apartamento abraçado com Bianca que ele se deparou com Nina a sua porta, que estava indo procurá-lo. Quando eles se olharam Eduardo quis correr para Nina, que ficou parada ali a sua frente sem ação, tão surpresa de vê-lo abraçado a outra, quanto ele de vê-la.

-- Oi tudo bem? Eu estava passando por aqui e resolvi entrar ... – foi o que Nina falou.

-- Tudo bem. Essa é Bianca, uma amiga.

-- Prazer – falou Bianca.

-- Prazer. Bem estas de saída com tua amiga, outra hora falamos. Tchau.

E Nina saiu rapidamente porque não suportou ver Eduardo abraçado com outra moça, que bem novinha e bonita. Enquanto caminhava, as lágrimas rolavam em suas faces. Apesar da vida maravilhosa, que seu pai lhe oferecera, ela nunca deixou de pensar em Eduardo, era o seu amor, seu amigo, seu companheiro. Ela se lembrava dos momentos de intimidade que tiveram, como ele a tratava com carinho, como ele cuidava dela, como ele era maravilhoso. E agora... Tudo perdido... Será que teria chance?

Seu pai estava viajando e ela ficou em seu antigo apartamento, que ela conservava com uma pessoa indo limpar uma vez por semana. Tinha imaginado que Eduardo ficaria ali com ela e seria como os velhos tempos. E tinha ido lá para buscá-lo. Mas agora ele tinha a Bianca.

Nina abriu as janelas e sentou no sofá pensando. Ela precisava tomar uma atitude, decidir sua vida. Ela estava com saudades de sua vida simples, de trabalhar, estudar e namorar Eduardo. Era isso o que ela queria. Mas, e se ficasse sem Eduardo? Ela iria querer essa vida de novo?

Eduardo quis sair atrás de Nina, mas Bianca estava ali. Que hora errada! Ele tratou de despachar Bianca para ir procurar Nina, eles precisavam, pelo menos, conversar. Se ela veio até ele, era porque alguma coisa tinha mudado, não importava o quê, mas ele precisava saber.

Então decidiu ir ao apartamento antigo dela. Se ela estava por ali... Ele carregava a chave em seu chaveiro. Ele chegou a frente do prédio e viu as janelas abertas, e a luz acesa, ela estava lá, com certeza. Subiu e abriu a porta devagar e a encontrou no sofá chorando.

Ele entrou não disse nada. Sentou ao lado dela e a abraçou e o choro se tornou mais copioso e ele beijava suas faces para secar suas lágrimas. Depois de um tempo Nina se acalmou e Eduardo perguntou a ela:

-- Aconteceu alguma coisa? Tu estavas indo me procurar, o que houve?

-- Sim, eu estava indo lá para te ver, estava com muitas saudades de ti, de nossa vida juntos, até desse apartamento, eu sinto falta. Meu pai me ofereceu coisas demais, ele quer me compensar de alguma forma. Mas eu não gosto daquela vida, daquelas pessoas. Não me adapto. Mas...

-- Mas? Continua.

-- Não foi fácil te ver abraçado àquela garota. Me deu um aperto no peito. Eu sei que te perdi...  E é difícil aceitar.

-- Eu não estou comprometido com ninguém. Bianca é uma amiga.

-- Amiga? Vocês estavam saindo de uma transa, a fisionomia dela demonstrava isso. Estou errada?

-- Eu a conheci há pouco tempo, uns dois meses atrás, não temos nada.

-- Tu não respondeste a minha pergunta. Não estavam transando?

-- Sim estávamos.

-- Eu sabia aquele risinho de superioridade, não me enganou...

-- Mas que não significou nada, será que não entendes? Ela é nada para mim.

-- Nada!

-- Foste tu quem saiu da minha vida, se afastou de mim deslumbrada pela nova vida. Tu podias muito bem ter uma relação com teu pai sem me deixar para trás. Mas não foi o que tu fizeste. Simplesmente foi, sem se importar...

-- Eu sei, eu errei.

-- Então, o que queres?

-- Eu queria voltar no tempo, ter aquele namorado que era só meu...

-- Algumas coisas não dão para mudar. Precisamos recomeçar...

-- Eu vou voltar para cá. Tomei essa decisão hoje. Meu pai está viajando, quando ele voltar vou contar para ele.

-- E vais ficar aqui já a partir de agora?

-- Sim, eu vim para isso, trouxe uma valise com o que preciso.

-- Eu fico contigo. Não vamos mais discutir, vamos curtir essa noite, vamos pedir uma pizza, beber um vinho que eu vou buscar lá em casa. Ou queres ir para lá?

-- Bem capaz! Aquilo deve estar contaminado...

Eduardo deu uma gargalhada e levantou para sair e ir buscar o vinho. Foi em casa e aproveitou para tomar um banho. Precisava tirar do corpo o cheiro da Bianca.

Quando ele voltou, ela também tinha tomado um banho, estava de cabelos molhados e estava muito sensual. Ele ficou com vontade de a levar para cama, mas se conteve. Ele não queria estragar tudo. Ele estava “pisando em ovos”, tinha que ter cautela para ela voltar a confiar nele.

--Duas garrafas? Estás com más intenções?

-- Não, estou com boas intenções.

E riram e sentaram para conversar. Ela estava com o perfume que ele gostava e se achegou a ela para sentir o cheiro:

--Esse perfume me inebria...

E Eduardo aproveitou e fez um carinho em sua face e a beijou com suavidade nos lábios. Ele tinha que ir devagar, estava consciente disso. E passou o braço sobre os ombros dela e a puxou para perto dele.

Assim ficaram enquanto o assunto brotava. Era tanta coisa para contar.

A noite foi maravilhosa, saborearam uma pizza, beberam um bom vinho e se amaram com voracidade, com paixão, com loucura. Passaram o domingo juntos como antes. Eduardo saiu do apartamento só na segunda feira de manhã porque precisava abrir a loja.

Nina foi esperar seu pai e dizer que voltaria a morar em seu antigo apartamento. Mas seu pai chegou com uma novidade. Iriam se mudar para São Paulo. Agora ele poderia ter a galeria de seus sonhos...

E surgiu o impasse. Antônio queria que a filha fosse com ele para São Paulo.

Nina não queria magoar seu pai e foi falar com Eduardo. Foi até a loja e ele não estava, mas Bianca estava lá esperando por ele. Nina se recusou a ficar. Deixou um bilhete sobre sua mesa e foi para seu apartamento. Dessa vez queria decidir com ele.

Era fim da tarde quando Eduardo ligou:

-- Oi minha linda, recebi teu bilhete, mas só posso ir depois que eu fechar a loja. Se queres vir para cá, seria muito bom.

-- Aquela bisca ainda está por aí?

-- Quem?

-- Não te faz de desentendido, a Bianca.

-- Ela? Não sei, ela esteve aqui?

-- Sim, eu a vi.

-- Ninguém me falou nada, não sabia. Vens?

-- Não vou te esperar aqui.

-- Ok. Tchau...

Nina enquanto esperava por Eduardo havia decidido o que fazer, mas queria ver a reação dele, saber a opinião dele sobre o pedido de seu pai. Então ele chegou e ela contou a novidade, que imediatamente estampou uma tristeza nos olhos, então ela perguntou:

-- O que eu faço?

-- Ontem tu tinhas uma firme decisão e agora já tens dúvidas. Eu não vou opinar, não vou competir com teu pai. A escolha é tua.

Nisso toca o telefone de Eduardo:

-- Oi Bianca, tudo bem? ....

Nina ficou furiosa, aquela vadia estava marcando território e ela dando margem. E tomou sua decisão. Depois de desligar o telefone Eduardo continuou:

-- Nina eu não posso interferir, ele é teu pai, que tu conheceste há pouco tempo, é uma situação “sui generis “. Por mais que eu queira, não posso te pedir nada. Consegues entender?

E agora foi o telefone de Nina que tocou. Era seu pai a estava esperando. Ela ia jantar com ele, e convidou Eduardo:

-- Vem jantar conosco. Vamos decidir juntos...

-- Não obrigado. Vou para casa.

-- A Bianca vai estar lá contigo?

-- Não sejas assim. Não estrague as coisas. Ela não vai estar lá, se queres conferir depois do jantar com teu pai vai lá. Ela só me disse que esteve na loja hoje à tarde. Eu não dei conversa para ela tu ouviste, não foi?

-- Sim, mas não gosto dela, e não quero ela perto de ti.

-- Primeiro toma a tua decisão, e depois opina sobre quem pode ficar comigo.

Eduardo estava chateado, e Nina percebeu. Desceram quietos. Ele a levou até o carro, cumprimentou Antônio, fechou a porta e os viu sair. Foi para seu apartamento. Tomou um banho, ligou a TV e esperou as horas passarem. Não queria pensar. Se Nina fosse com o pai para São Paulo, eles ficariam definitivamente, longe um do outro. Era o fim do romance.

Ele estava cochilando quando sentiu um beijo em sua boca, era um beijo com o gosto de Nina, e isto ou deixou feliz e cheio de desejos, mas ele não sabia se estava sonhando ou se ela estava ali. Precisava abrir os olhos, mas tinha medo de ser só um sonho.

Mas era realidade, ela estava ali em seus braços e iria ficar com ele para sempre.

                                                           Maria Ronety Canibal

                                                              Setembro de 2017.

 

Nina e Sandra era as melhores amigas desde os tempos de escola. A casa de Sandra era o ponto de encontro da turma de amigos, pois era uma casa enorme e tinha uma sala que D.  Rute, mãe de Sandra, havia destinado para eles. Tinha uma entrada lateral e uma lareira bem no meio da peça, que dividia em dois ambientes, além de um lavabo e as portas-janelas se abriam para a piscina. Ali aos fins de semana a turma se reunia. Havia muito tempo que se conheciam, alguns cresceram juntos e hoje já adultos e mantinham a amizade, eles eram um grupo de quinze amigos.

D. Rute viúva e professora aposentada transformou sua casa em uma pensão para moças, e gostava muito do movimento e da algazarra dos jovens. Jéssica, Beatriz, Priscila, Mônica, Roberta, Laís e Cátia moravam na pensão. Com exceção de Cátia que era mais velha, todas as outras eram estudantes e faziam parte do grupo de amigos.

Naquele sábado, Marcelo chegou com um amigo. Ele era seu colega de faculdade e muito “boa praça”. Todos acolheram Eduardo com alegria. Jéssica olhou o recém-chegado e disse para Nina:

-- Bah, ele é um pedaço de mau caminho. É muito bonito...

-- É, mas tem um tipo arrogante.

-- Tu achas?

-- Sim, observa o jeito de olhar para as gurias. Ele se acha.

Enquanto Nina dizia essas palavras, o olhar de Eduardo se encontrou com os olhos dela e ela sentiu algo que não gostou. Mas ficou quieta. Sandra entrou com uma bandeja de cachorro quente colocou sobre a mesa onde já havia bebida e pediu que se servissem enquanto estava quente.

Nina esperou um pouco e depois foi se servir. Mas antes de ela chegar à mesa Eduardo se adiantou e a serviu. Ela sem jeito agradeceu a gentileza. Ele puxou assunto e ela foi obrigada a conversar um pouco com ele. Jéssica que viu a cena e estava atrás dele ria dela. E isso deixou Nina arisca. E ela tratou de se afastar dele.

Sandra pediu a palavra. Tinha tido uma ideia para o feriadão. Seu tio tinha um sitio a beira do rio, e a sugestão era de eles acamparem para uma pescaria. Houve discussão, mas por fim a sugestão foi acolhida.

Nina tentou cair fora da tal pescaria, mas como houve muitos protestos ela teve que concordar em ir. Teriam que providenciar muitas coisas. Cada um se propondo a assumir uma tarefa.

Já depois de tudo acertado, Eduardo perguntou:

-- E eu estou incluído?

-- Mas claro que sim. – Foi a resposta de quase todos.

Nina saiu dali e foi ajudar d. Rute que estava providenciando uma nova rodada de cachorro quente. Enquanto ela estava na cozinha, eles decidiram se dividir em duplas para melhor cumprirem a missão de organizar a pescaria. Como havia no grupo casais de namorados não tinha muito que escolher. Jéssica estava ficando com Marcelo e sobrava Nina, Sandra e Laís. Mas Eduardo logo pediu para Nina ser a sua parceira, pois eles moravam próximos, essa foi a desculpa que ele deu.

Quando Nina chegou com a bandeja todos a rodearam. E Eduardo ficou para trás, tirou a bandeja da mão dela, colocou sobre a mesa, e preparou dois cachorros para eles. Sentaram para comer e então ela soube das duplas. Nina não seria grosseira a ponto de protestar, afinal era só até o feriadão, dali a alguns dias.

Era início da noite quando soprou um vento forte, que os deixou apreensivos e logo faltou luz. Eles queriam jogar cartas, mas tiveram que fazer outro tipo de jogo. E Bia sugeriu que cada um contasse uma mentira que poderia ser cômica ou dramática.

 Foi Vinicius quem iniciou e contou um caso de assombração. Depois foi Sandra que contou uma situação engraçada e assim foram até que as últimas mentiras eram de assombração e pânico.  Nina não gostava de estar no escuro, e se achegou inconscientemente para mais perto de Eduardo, que sentiu sua presença e pegou sua mão que estava gelada.

E do céu caia uma chuvarada tocada a vento. A luz voltou e já era bem tarde e Eduardo ofereceu carona para Nina e Marcelo que tinha vindo com ele. Eduardo deixou primeiro Marcelo em casa e  Nina ficou para o fim, porque realmente eles moravam muito próximos, no mesmo quarteirão.

Depois de tomar um banho Nina deitou tentando dormi, mas em seu pensamento estava Eduardo que a tinha perturbado muito. Ela achava que ele tinha um ar de arrogância, no jeito de andar e olhar para as pessoas. Ele era alto, forte, cabelos castanhos claros e olhos azuis, um rosto com feições bem marcadas. Era bonito! Ela não entendia porque ela tinha ficado tão mexida, e nervosa ao saber que teria que estar em dupla com ele.

Eduardo já conhecia Nina de vista, a via sempre passar em frente a sua loja. Ele se interessara por ela, e já tinha algumas informações. Sabia que ela era solteira, morava sozinha, sem família, tinha vinte e dois anos, estudava Nutrição e trabalhava meio turno em uma escola infantil.

Nina era uma moça de estatura mediana, era gordinha e tinha um rosto lindo, um par de olhos castanhos escuros com feições delicadas emolduradas por um cabelo castanho caídos até os ombros. Para Eduardo ela era muito linda. Ele pensava nela todos os dias e agora que a tinha conhecido com certeza, sonharia acordado com ela e teria dificuldade para dormir. Ainda bem que outro dia era domingo.

O domingo amanheceu chovendo. Nina decidiu não sair. Ia aproveitar e arrumar seu armário. Mas Jéssica ligou dizendo que todos estavam convocados para almoçar, pois d. Rute estava fazendo lasanha para todos. Por fim Nina concordou, não queria fazer desfeita para D. Rute que era tão legal com todo o mundo. E além do mais era um almoço muito gostoso e barato. Eles costumavam dividir o valor gasto com os ingredientes.

Nina se arrumou e ficou esperando por Marcelo, mas quem apareceu foi Eduardo para levá-la para almoçar. Ele tocou o interfone e disse:

--Oi estou te aguardando aqui embaixo.

-- Ok, estou descendo.

Mas quando ela chegou diante dele ela se mostrou surpreendida:

-- Tudo bem? Pensei que fosse Marcelo.

-- Decepcionada?

-- Não... Só pensei...

-- Vamos, o carro está ali.

Eles correram até o carro, pois a chuva estava mais forte. Quando ele estava dando partida no carro, Nina perguntou:

-- Onde tu moras?

-- Em cima a Papelaria.

-- Ali? Somos vizinhos?

-- Sim, e a loja é minha.

-- Hum... Eu nunca te vi... E já comprei muitas coisas lá.

-- Eu sei...

-- Mas como? Tu ficas escondido?

-- No escritório atrás da porta de vidro.

-- Bah, eu nunca notei que tinha um escritório ali. Mas não dá para ver da loja, não é?

-- Na verdade eu vejo a rua e a loja de onde trabalho. Realmente é para ser uma porta discreta.

Quando chegaram à casa de d. Rute, Nina se afastou de Eduardo. A proximidade dele a deixava muito inquieta. Sentou junto de Sandra e entrou no assunto que rolava: a pescaria. Agora só falavam nisso.

Sandra anunciou que tinha avisado o seu tio, que ficou muito contente e disse que iria participar com a turma. As moças poderiam se ajeitar na casa e os rapazes no galpão. Mas precisavam levar saco de dormir ou rede. Porque cama só tinha uma, e seria dele.

E dentro de casa tinha duas camas de casal e um beliche e um sofá. Então algumas das gurias teriam que levar saco de dormir ou colchonete e roupa de cama. Banheiro na casa tinha dois e no galpão tinha mais um.

Havia um lugar para churrasco, e a cozinha era grande. A casa tinha um avarandado que rodeava a casa, e uma piscina. Havia uma trilha no mato que subia o morro e outra que descia para o rio. Poderiam fazer boas caminhadas.

Todos ficaram muito entusiasmados com o passeio que estavam programando.

D. Rute chamou para o almoço, e quando Nina se deu conta, ele estava sentado ao seu lado. Sandra e Jéssica olharam para ela e começaram a rir. Ela olhou para elas muito séria e Eduardo percebeu os olhares e perguntou:

-- Alguma coisa errada?

-- Não, nada. Elas são umas crianças grandes, ficam falando bobagens o tempo todo.

-- Hum. Tu não gostas de falar coisas bobas e dar boas risadas?

-- Eu gosto, mas...

Ela foi salva por D. Rute que iniciou uma oração antes da refeição iniciar. E o assunto na mesa foi o temporal da noite anterior que tinha feito muitos estragos na cidade e no interior do estado. E ainda chovia, às vezes, pancadas bem fortes.

Depois do almoço os rapazes foram para a sala e a algumas das gurias foram ajudar a limpar a cozinha e Laís e Priscila foram tirar uma soneca.

Nina voltou para a sala, e por mais incrível que fosse o único lugar que tinha para sentar era ao lado de Eduardo. Ela olhou e pensou: “isso é armação, só pode ser.” Ela deu meia volta e foi buscar os almofadões para sentar no chão.

Acomodou-se próximo a lareira. Eduardo levantou, foi a cozinha, demorou um pouco para retornar à sala e sentou perto dela também nos almofadões, pois as gurias tinham ocupado o sofá.

E Nina teve que se render e aceitar a proximidade e a conversa dele. Resolveram jogar Banco Imobiliário. Todos sentaram no chão, arredaram a mesa de centro e no meio deles colocaram a tabuleiro.

Era fim da tarde quando uma nesga de sol surgiu no céu, e era hora de ir para casa. Terminou o jogo e Nina se levantou e anuciou  que ia embora. Sandra pediu que ficasse para jantar, ia sair uns sanduíches. Mas ela agradeceu e disse que precisava ir. E de repente ela vê Eduardo junto dela se despedindo também.

Quando já estavam na rua, ela disse:

-- Não precisa me levar. A chuva parou, eu vou andando. Obrigada.

-- Deixa de bobagem. Entra aí, eu te levo.

-- Ok.

Já com o carro em movimento Eduardo comentou que estava com vontade de comer uma pizza. E ela sem pensar falou:

-- Bah... seria uma boa...

-- Então vamos comer. O que preferes ir à pizzaria ou pedir para trazer em casa?

-- Acho que pedir é melhor, concordas?

-- Sim, aonde, no meu ou no teu apartamento?

-- No meu é claro.

-- Certo. Te deixo na porta, e vou deixar o carro na minha garagem e volto a pé. Ok?

E naquela noite eles conversaram sobre vários assuntos e ela pode ver que ele era um cara legal, que  tinha a mesma linha de pensamento que ela, e que foi obrigada a concordar com ele em muitos pontos, quando a vontade era só discordar. Era perto de meia noite quando Eduardo foi embora.

A semana passou e eles não se viram e tão pouco se falaram. Ela, tinha resolvido pegar a condução no outro ponto, mesmo sendo mais longe. No fim de semana Nina ficou em casa estudando.

Só uma semana antes do feriadão foi que eles se encontraram. Precisavam conversar e ver o que cada dupla já tinha cumprido de suas tarefas. Eles não tinham feito nada. Mas como ele ia levar uma rede para dormir e ela um colchonete, e mais roupa de cama, e o que era de comer era só passar no super mercado. Tudo tranquilo.

Enfim chegou o feriadão.

Eduardo passou bem cedinho para pegar Nina e foram para a pensão. De lá sairiam juntos. A última hora Laís avisou que não ia, pois Cátia estava com febre e ela ficaria com ela. E então os dois foram sozinhos no carro. Conversaram bastante na viagem. O local não era muito longe, cerca de oitenta quilômetros de estrada boa e cinco de estrada de chão.

O lugar era magnífico, era na encosta de um cerro e tinha uma parte baixa que se estendia até o rio. Era um vale muito bonito, uma vegetação exuberante e da casa  se tinha uma vista muito bonita e se enxergava longe.

Estava um dia lindo, quente e a previsão era que iria continuar assim todo o feriado. Eles descarregaram os carros, as moças se encarregaram de organizar as camas e a despensa, enquanto que os rapazes estavam conhecendo a propriedade, com o tio Carlos.

Também organizaram o material de pesca, e logo mais à tardinha iriam pescar. Para o almoço eles tinham trazido uma carne que iriam assar. Marcelo e Pablo iam se encarregar do almoço.

Sentaram todos no gramado em frente à casa curtindo o dia e o lugar. Nina disse que queria subir pela trilha do cerro para ver a vista lá de cima. Tudo o mundo disse que era se cansar à toa, pois dali já tinha uma bela vista. Mas ela disse que iria sozinha.  E foi.

Eduardo tinha ido com o tio Carlos no galpão ajeitar umas coisas. Quando retornou não viu Nina no jardim, procurou na casa e não a encontrou. Então perguntou por ela.

-- A louca da Nina resolveu subir o cerro. E foi sozinha. – Disse Priscila.

-- Seu Carlos tem mais de uma trilha?

-- Principal é só uma, mas têm sim outras que circundam o cerro.

-- Eu vou atrás dela.

E Eduardo subiu preocupado com ela. Andava rápido, mas era uma subida íngreme e ele já estava sem fôlego. Parou e olhou para cima e a avistou encostada em uma árvore. Ela devia estar cansada. Ele chegou até ela e ralhou com ela:

-- Precisava subir sozinha. Por que não me esperou?

-- Ué, qual o mal de eu subir aqui sozinha?

-- Podes cair, podes escorregar, podes te machucar, pode aparecer uma cobra...

-- Ah! E por que esses cuidados todos comigo?

-- Porque eu me preocupo contigo, só por isso. Vem, me dá a mão, vamos subir juntos e devagar é muito abrupto. E o chão está úmido. Vamos com cuidado.

E alcançaram o pico. Realmente a vista era lindíssima. Ela estava com a máquina fotográfica e tirou belas fotos, inclusive dele. A descida foi mais difícil do que a subida, pois estava escorregadia. Em um momento ela deslizou, e  ele a segurou, e eles ficaram muito próximos, ela pensou que ele fosse beijá-la, pois até o hálito dele ela sentiu. Suas pernas tremeram e ela se agarrou nele, e Eduardo a olhou com intensidade a abraçou. O resto da baixada eles desceram devagar de mãos dadas.

Quando chegaram ao jardim eles estavam suados, e Nina realizada. Ficou tão contente que disse:

-- Obrigada. Sem ti eu não teria conseguido e foi maravilhoso.

-- Valeu, também gostei.

-- Acho que vou tomar uma ducha, estou muito suja para sentar à mesa.

-- Eu também.

Nina voltou com os cabelos molhados, tinha posto uma bermuda e uma  regata verde claro que realçava seus cabelos. Estava de cara lavada, sem nem um batom para dar uma corzinha.

Mas quando ele a viu ficou fascinado, ela tinha uma beleza natural, não precisava de artifícios para chamar sua atenção. E ele quase a beijou... A proximidade dela, o cheiro o deixou cheio de desejo.

Ela havia sentado na cozinha e estava mostrando as fotos que tinham tirado. E ele estava encostado no pilar do avarandado olhando para ela com cara de apaixonado. Marcelo percebeu e disse baixinho:

-- Cara! Tu estás dando bandeira. Cuidado...

-- Sério!

Então foi para a roda do chimarrão.

Depois do almoço ele pegou a sua rede e pendurou debaixo das árvores. Ali corria um vento e o sombreado deixava uma temperatura agradável. Nina viu quando ele foi para debaixo das árvores, queria ir ficar lá com ele, mas precisava de uma desculpa. Procurou um livro e pegou uma toalha e foi para a sombra. Ficou a uma pequena distancia dele. Deitou-se de bruços e abriu o livro.

Eduardo não estava dormindo e percebeu a manobra dela. Sorriu, e ficou quieto e de onde estava podia olhar para ela sem que ela percebesse. Mas de repente pensou que deveria se manifestar. Então falou:

-- As formigas não vão te pegar?

-- Tu achas que tem formigas aqui?

-- Com toda certeza.

-- Bah, então vou ter que sair daqui...

-- Não! Fica. Queres vir para rede? Ela é bem larga dá para duas pessoas, é só deitar atravessado. Vem.

Eduardo levantou-se e trocou de posição e esperou por ela que aceitou o convite. Ela sentou ao lado dele. Ele deu um impulso e os dois ficaram ali quietos aproveitando o balanço da rede. Ela sorriu e disse:

-- Eu adoro uma rede. Quando eu era pequena, na praia eu dormia na rede. Coisa bem boa. Uma vez cai e machuquei meu pulso. E meu pai guardou a rede, disse que eu me embalava forte demais.

-- Bah, eu nem sei quantos tombos levei da rede. Na praia eu e meu primo fazíamos disputa de quem voava mais alto com a rede. Minha avó também tirou a rede de nós.

-- É... Eu tenho vontade de colocar uma em meu apartamento, mas acho que não tem lugar...

-- Eu tenho uma em frente a janela, e quando estou deitado nela enxergo a rua.

-- Legal.

-- Vou lá no teu apartamento achar um lugar pra ti.

-- Vai mesmo.

Depois silenciaram. Ela estava com o quadril encostado conta o dele e isso a estava deixando nervosa. Ela fez menção de levantar, mas ele a segurou e pediu:

-- Fica...

E ela ficou. Ele passou o braço por sobre os ombros dela e a abraçou. Ela deitou a cabeça no peito dele e escutava o coração dele que batia forte, assim como o dela. E dormiram abraçados na rede.

Foi Jessica que os acordou, quando gritou para eles:

-- Hei, vocês não vão pescar? Estamos descendo para o rio. Nina coloca roupa de banho, tem uma prainha.

-- Ok, já vou;

Eduardo pegou a rede e Nina a toalha e o livro. Ela entrou em casa e voltou dentro de  um biquíni verde esmeralda, com uma canga que estava amarrando na altura do busto. Mas ele teve oportunidade de ver aquele corpo apetitoso.

Enquanto iam ele a pegou pela mão. Ela olhou para ele e sorriu e ele devolveu o sorriso com uma piscadela de olho.

O rio era largo e tinha um areal que formava uma praia. Segundo tio Carlos dava para tomar banho, mas com cuidado, tinha uma marcação de onde não se podia passar. Um poste enterrado bem visível.

Os homens começaram a procurar lugar para pescar. Não queriam ficar perto das “meninas” por causa do barulho que faziam e eles caminharam rio abaixo. Nina sentou na areia e ficou olhando Eduardo se afastar. Jessica sentou junto dela e perguntou baixinho:

-- E aí? O que está rolando?

-- Não sei. Só uma aproximação.

-- Deixa de ser boba, ele está caidinho por ti.

-- Tu achas?

-- E tu? Também está com o coração palpitando? E onde ficou o cara arrogante?

-- Pára! E deixa de ser chata...

Nina nunca tivera um namorado. Nenhum dos rapazes que ela conhecia havia se interessado por ela. Quando tinha dezesseis anos teve um namoradinho. Mas nada sério, e não durou muito tempo. Depois tanta coisa aconteceu em sua vida, que ela se esqueceu de tentar namorar alguém.

Mas agora era diferente, parecia que ele estava afim dela e ela estava muito mexida com ele, para não dizer apaixonadíssima. E isso a assustava...

Elas resolveram entrar na água, que estava com uma temperatura boa. E ficaram “de molho” conversando. Deram muitas gargalhadas. Até que Fernando veio dizer que elas estavam perturbando os peixes, que tinham se afastado. Eles não estavam pescando nada. Foi uma gargalhada só. E Sandra gritou:

-- Vocês não sabem pescar e a culpa é nossa.

Fernando entrou na água também, depois Marcelo e Eduardo e de repente todos estavam ali aproveitando a fim de tarde. Estava escurecendo e. D. Rute estava esperando por eles com um bolo recém tirado do forno.

Nina ficou pra trás e Eduardo ficou com ela. Vinham devagar conversando. Ela agora estava só de biquíni e ele sentiu ciúmes dos olhares dos outros e disse:

-- Tu és muito linda. Atrai os olhares de todos com esse biquíni.

-- Eu linda?

-- Sim. Homens gostam de curvas e de carne, não sabia?

Ela ficou vermelha e se enrolou na canga. Ele sorriu e se achegou a ela. E disse baixinho:

-- Minha linda...

Fizeram fila para o banho. Nina pegou um pedaço de bolo e sentou no banco de madeira que havia no avarandado. D. Rute tinha dado senha para banho e Nina era a última. Eduardo foi tomar banho e quando voltou ela ainda estava esperando.

Enquanto Nina tomava banho, ficou pensando que ele havia dito que ela era linda, ele a achava linda. Sorriu ao lembrar as palavras dele. Ela estava querendo ser beijada. Será que haveria oportunidade para isso. Bem havia outros casais de namorados que iriam ficar um pouco sozinhos e podia rolar uma chance de eles trocarem um beijo. Ela nunca tinha sido beijada.

Por isso ela se arrumou um pouco. Ela apareceu na sala com uma bermuda jeans e uma regata na cor Pink. Colocou brincos e colar e passou um batom e muito perfume. Quando ela chegou a sala todo mundo olhou para ela e alguns assoviaram. Ela ficou encabulada, deu meia volta e foi ajudar a Sandra arrumar a mesa para o jantar. Eduardo estava sentado próximo a porta levantou-se e foi até ela e disse:

-- Em que eu posso ajudar?

A noite estava quente e enluarada. A turma resolveu ficar no jardim. No primeiro momento todos sentados em uma roda conversando, mas aos poucos a roda se desfez. E ficaram alguns casais apreciando o romantismo da lua.

Eduardo pendurou sua rede no avarandado e Nina sentou com ele, que dali eles apreciavam a lua.  Eduardo abraçado a ela a puxou para perto e a beijou. Um beijo suave que foi se aprofundando, e ele percebeu que ela nunca tinha sido beijada. Aconchegou-se a ela com carinho.

Os dias que se seguiram foram de encantamento para Nina e Eduardo. Eles curtiram cada momento. O feriadão terminou. Nina e Eduardo estavam comprometidos.

O final de ano se aproximava e todos eles estavam com muitas coisas para fazer, e a turma estava se reunindo só de vez em quando. Todos estavam namorando, pois Jéssica e Marcelo firmaram compromisso, assim como Sandra tinha reatado o namoro com Sérgio. E Laís estava voltando para sua terra, seu curso havia terminado. Mas programaram alguns encontros.

 Nina ficava mais em casa, Eduardo havia estendido o horário de atendimento na papelaria, por causa do Natal, uma vez que tinha um nicho de presentes e brinquedos.

Eles estavam a cada dia, mais apaixonados, descobriram que eram muito parecidos, gostavam das mesmas coisas, até na comida. Entendiam-se muito bem e o namoro fluía. E Nina gostava de lembrar o primeiro beijo que eles trocaram e das caricias que trocavam, e da primeira relação amorosa. Como ele tinha sido carinhoso e gentil com ela. A tratava como se fosse uma princesa, e a chamava de minha linda. Nina estava feliz.

Fazia muito tempo que ela não se sentia tão leve e feliz. Desde a morte de sua mãe sua vida tinha virado de cabeça para baixo. Ela tinha dezesseis anos, quando sua mãe adoeceu um câncer de fígado que em três meses a matou. Ela era filha única e seu pai pouco tempo depois trouxe sua amante para morar com ele, na casa que era de sua mãe. Ela não aceitou tal situação, e foi morar sozinha. Era muito jovem, mas teve que assumir sua vida. Ela jamais perdoou seu pai.

Ele fez o inventario e ela ficou com três apartamentos, inclusive o que ela morava para não ter parte na casa. Ela se afastou completamente de seu pai e do resto da família. Sua mãe tinha apenas uma prima que morava na Espanha. Portanto ela era muito só.

Hoje, cinco anos depois ela estava bem.  Sentia-se segura, pois era amada por Eduardo e o amava muito. Ela pedia a Deus que ele nunca a decepcionasse... Porque ela tinha apostado tudo nele.

A turma tinha decido passar o dia de Natal juntos. Cada um levaria um prato e bebida e passariam a beira da piscina. Sandra concordou. D. Rute gostava que eles fossem para lá, eram alegres e divertidos. Mas estava com problema de coluna e o médico havia recomendado que ficasse sem trabalhar por uns dias.

Na noite de Natal, Nina e Eduardo tinham combinado de ficar em casa. Só os dois. Ele sairia tarde e cansado da loja. Eles fariam uma festa particular, e no outro dia sim, iriam participar com a turma.

Nina preparou uma ceia para eles, decorou a sala com motivos natalinos, montou uma árvore de Natal, e foi o melhor natal de sua vida. E terminaram a noite fazendo amor com muita paixão.

No outro dia, por volta das onze horas a turma foi chegando à casa de Sandra. Arrumaram umas mesas no jardim, guarnecidas de guarda sois e na mesa cumprida da área colocaram as comidas.

A piscina foi a grande pedida.

Eles passaram um dia alegre e descontraído. O feriado de Ano Novo, Eduardo convidou Nina para irem para a praia. Alugaram um quarto em um pequeno hotel e curtiram muito.

Os dias passavam e Eduardo estava feliz ao lodo de Nina, que era a mulher que sempre idealizara para si. E toda vez que faziam amor ele sentia que ela era o seu paraíso, que ali era o seu lugar.

Nina também estava entregue a esse amor. Sabia que Eduardo era sincero e fiel, e que jamais procederia como seu pai, que nem respeitou a doença e nem a memória de sua mãe. Ela desprezava seu pai.

Nina e Eduardo não estavam morando juntos, mas seguidamente ele dormia no apartamento dela. Eles moravam tão próximos, a menos de trinta metros e eles curtiam ter momentos de privacidade.

Nina estava chegando em seu prédio quando um homem a abordou. Ela ficou com medo, mas era uma pessoa bem vestida e educada, que se apresentou e disse que precisava conversar com ela, assunto muito importante e privado. Que ela escolhesse o lugar e se quisesse levar alguém de confiança, não teria problema algum.

Ela pensou e marcou para o outro dia no shopping, na praça de alimentação. O homem agradeceu e foi embora. Ela ficou parada pensando e observando o homem entrar num carro preto.

Nina deu volta e foi para a papelaria, precisa contar para Eduardo. Depois de escutar o relato dela Eduardo achou que realmente ela deveria ouvir o que essa pessoa tinha para dizer. Ele iria junto com ela.

No outro dia Nina e Eduardo foram para o shopping um pouco mais cedo do que o combinado. Sentaram em uma mesa, mais ao canto. E esperaram.

No horário marcado se aproximou deles um homem com uma pasta. Ele educadamente pediu licença e sentou.

-- Olá, obrigado Nina por ter aceitado conversar comigo. Sei que foi outra pessoa quem falou contigo ontem, a meu pedido.

Eduardo perguntou:

-- Por favor, quem é o senhor? O que quer com a Nina?

-- Eu tenho muito a contar para ela, preciso revelar um segredo de Marília, a mãe de Nina.

-- O que tem minha mãe? Quem tu és?

-- Bem, vou começar pelo fim, para te acalmar. Eu sou teu pai.

Nina ficou pálida, Eduardo pegou em sua mão e disse:

-- O senhor é maluco?

-- Não... Marília e eu vivemos um grande amor... Vou contar tudo. Mas antes vou buscar uma água para ela, que está mais branca do que algodão.

Ele voltou com três garrafas de água mineral. Sentou na frente e Nina e olhando para ela disse:

-- Tu és linda como tua mãe. Estás muito parecida com ela. Eu sou um artista, amo a minha arte e casamento nunca esteve nos meus planos. Mas quando eu conheci tua mãe, minha vida virou de cabeça para baixo. Eu morava em Paris, estudava artes e frequentava exposições e pintava quadros na praça, os quais eu vendia para me sustentar. Minha família me mandava alguma ajuda. Minha mãe me apoiava, mas meu pai não. Minha irmã tinha vergonha de mim.  Bem, nós éramos muito jovens. E aquela tare, uma bela moça parou para olhar meus quadros e eu fiquei encantado com ela. Perguntei se ela gostaria de posar para mim, que eu faria o retrato dela. Ela aceitou na hora. Ela era alegre e impulsiva. E eu pintei e deu o quadro de presente para ela. Mas depois continuamos nos encontrando, nasceu entre nós uma paixão alucinante, que nos dominava. Vivemos dias felizes. Eu continuava meu curso na faculdade e ela estava lá para aprimorar o idioma. Foi a melhor época de minha vida. Mas ela engravidou e tudo se modificou. Ela ficou desnorteada com a gravidez, eu estava feliz, mas a família dela a obrigou a voltar. Eu prometi que viria para junto dela, eu só precisava juntar dinheiro para a passagem.  Mas quando eu cheguei aqui ela já estava casada. Para mim foi um golpe. A família dela tinha “comprado” um marido para ela. Ele era um rapaz ambicioso que estava se formando em direito. Teu avô propôs sociedade no escritório de advocacia para ele, se casasse com Marília. Deu uma casa e um bom salário. E tua mãe ficou infeliz. Eu vim para cá e enquanto ela viveu, eu a amei com loucura. Continuamos nos encontrando até o dia que ela não pode mais sair por causa da doença. Na verdade, segundo eu sei, ela e o marido nunca tiveram uma vida de casal. Ele sempre teve amantes. Eu te acompanhei sempre de longe. Te vi crescer, tornar-se essa moça linda que és, eu te amei a distância. Eu decidi te contar esse segredo de família, porque quero estar perto de ti minha filha. Eu sei que parece uma coisa absurda, mas tua mãe viveu uma linda história de amor comigo. Fomos felizes do jeito que podíamos. Hoje eu estou bem de vida, tenho uma galeria de arte, mas não foi sempre assim, houve época que eu só tinha o meu amor a oferecer a Marília.

-- Por que ela nunca me contou? Éramos amigas...

-- Mas tu eras muito jovem para entender. Só quem ama pode entender o amor.

-- E as provas do que tudo isso é verdadeiro? O retrato dela está comigo. Ela amava aquele quadro...

-- Eu proponho nós fazermos o exame de DNA. Isso vai provar tudo. E tenho fotos e cartas, bilhetes escritos por ela. Estão aqui na pasta. Leva, olha em casa com calma.

--E como é o teu nome?

-- Antônio Ramada, e meu nome artístico é Ramada.

-- E de onde és?

-- Eu sou paulista da capital. Mas vim para o sul, me estabeleci aqui para ficar perto de tua mãe. No início foi difícil, eu mal me sustentava, mas depois as coisas foram melhorando. Eu consegui vender quadros para o exterior e me tornei conhecido, e alguns quadros foram bem valorizados e hoje vivo bem.

-- Por que minha mãe nunca se separou dele?

-- Porque teu avô nunca permitiu. Ele me odiava. Hoje eu teria condições de sustentar uma família, mas naquela época não. Ela precisava do dinheiro da família para viver e te dar conforto. O marido não colocava dinheiro em casa. Depois que ela adoeceu quem me dava noticia dela era a Bá.

-- A Bá, morreu logo depois da mãe. E eu fiquei só. Muito só. Hoje eu tenho Eduardo aqui comigo, mas após a morte de minha mãe eu fiquei sem ninguém, aquele homem que disseram que era meu pai, nunca se importou comigo. Meus avôs sempre foram distantes de mim, e já estavam doentes. Ela fora “da casinha” e ele tinha problema de coração muito grave.

Antônio se despediu e foi embora. Pediu que ela olhasse tudo com cuidado e marcasse o exame, e o avisasse. Eduardo que até então tinha ficado quieto agradeceu a ele. Eles entrariam em contato.

Nina estava abalada. Eduardo a levou para casa. Ela tomou um banho enquanto ele preparava um chá para ela. Ela queria olhar as fotos e as cartas da mãe. Mas Eduardo achou melhor esperar um pouco, eram muitas emoções. Ele a abraçou, beijou sua testa e perguntou:

-- Tudo foi surpresa, ou tinha alguma coisa que tu sabias?

-- Não, em casa não se falava em dinheiro. Tudo o que eu precisava pedia para minha mãe porque eu nunca me dei com ele. Ele sempre foi um estranho que eu chamava de pai.

-- Como o dinheiro pode trazer infelicidade. Se teu avô não tivesse sido tão intransigente e tivesse ajudado ao Antônio, tudo seria diferente e eles teriam sido felizes.

-- Pois é, e quantas pessoas foram infelizes por causa dessa decisão de meu avô. Pelo menos quatro, porque eu me incluo. Minha infância não foi feliz. Em casa tudo sempre foi muito quieto, não havia conversas, risadas, nada... Não se festejava nem aniversário. Sabe, antes de tu entrares em minha vida, a melhor coisa que eu encontrei foi a turma de amigos. Ali eu me divertia e me sentia à vontade, me sentia parte do grupo. Ainda me sinto assim, gosto de todos eles são minha família.

-- E eu estraguei isso?

-- Deixa de ser bobo, tudo melhorou com tua presença em minha vida. Só espero que continuemos assim. Que nada nos afaste.

-- Eu também. Te amo muito para ficar longe de ti.

Mais tarde eles pediram uma pizza, sentaram no chão encostados no sofá e olharam tudo o que havia na pasta. Algumas fotos que Nina lembrava, mas outras eram desconhecidas dela. Leu as cartas e ficou convencida de que Antônio era seu pai. Naquela noite Eduardo ficou com ela.

O exame de DNA deu positivo, ela era realmente filha biológica dele.

Nina ficou feliz por não ser filha do marido de sua mãe. Agora ela tinha um pai de verdade que queria conhecer melhor e assim fez.

Ele a convidou para viajar com ele, já que iria visitar várias galerias em diferentes países. Que ela providenciasse o passaporte imediatamente e tirasse o visto para entrar nos EUA.

Nina estava eufórica, não tinha mais tempo para nada e Eduardo foi se sentindo em segundo plano. Aos poucos ele foi se afastando. Ela nem percebeu.

Como iam ficar fora um bom tempo, Nina trancou sua faculdade. E saiu com seu pai pelo mundo. Ela telefonava para Eduardo, mandava fotos, se comunicava com ele, mais como amiga do que namorada.

Ele decidiu por um final naquela relação que estava muito esquisita. E telefonou para ela explicando seus sentimentos e ela aceitou sem protesto algum. Após o telefonema Eduardo se sentiu péssimo. Mas ele precisava de definições, e agora estava livre de qualquer compromisso.

Depois de oito meses Nina retornou, ela foi a papelaria para ver Eduardo. Tinha trazido uns presentes para ele, mas ele não estava. Então os deixou em cima da mesa dele com um bilhete.

Eduardo quando chegou encontrou o bilhete dela que dizia: “Vou mudar para o apartamento do meu pai. Se puder ir me ver, estarei no meu apartamento arrumando minhas coisas. Te espero beijos” Ele abriu os presentes que ela havia deixado e foi vê-la.

Ele ainda tinha a chave do apartamento dela e entrou sem bater e a encontrou no quarto fechando a mala. Ela parou e olhou para ele e correu para abraçá-lo. Ele retribuiu o abraço morrendo de vontade de jogá-la na cama e fazer amor.

-- Senti muitas saudades tuas. – Foi o que ele disse.

-- Eu também. Sinto falta dos teus beijos e das nossas transas.

-- Achei que estavas feliz viajando com teu pai...

-- Sim, eu estava, mas tu não estavas lá.

E ele a beijou com intensidade e acabaram na cama, fazendo amor como nunca antes. Ambos estavam sedentos e se entregaram com ardor. Estavam ofegantes quando ela perguntou:

-- Por que tu quiseste desfazer nosso compromisso?

-- Porque eu estava me sentindo sozinho demais, me sentindo abandonado...

-- Mas agora vamos ficar juntos novamente, eu te amo muito.

-- Não sei se devemos. Teu pai está te oferecendo uma vida diferente, em outra esfera social, a qual eu não faço parte, e tu vais conhecer pessoas diferentes e interessantes. E eu posso me tornar um estorvo para ti. Melhor assim, sem compromisso.

-- Sem compromisso, mas vamos seguir nos encontrando, certo?

-- Não sei, não posso prometer.

E ela foi morar com o pai. Agora ela era citada nas crônicas sociais, era fotografada e estava sempre acompanhada por herdeiros ricos. Ela parecia deslumbrada com seu novo mundo.

Eduardo havia terminado seu curso de Administração de Empresas e se dedicava ao seu trabalho a sua loja. Quase não saia, e seus amigos uns estavam casados e outros noivos. Ele preferia uma boa leitura a andar pela rua caçando, uma qualquer. Fazia mais de ano que não falava com a Nina.

Eduardo ainda pensava muito nela, e sempre soube, desde o instante que a viu, pela primeira vez, que ela era a mulher de sua vida. E por ironia da vida ela se afastou dele por causa do pai. Um pai que a seduziu com o fascínio da vida. Eduardo não tinha mais esperança em ter uma vida junto de Nina.

Certo dia ele estava almoçando em um dos restaurantes do bairro, que estava lotado, quando uma moça se aproximou e perguntou:

-- Posso compartilhar de sua mesa.

-- Sim. Sinta-se à vontade.

-- Eu tenho pressa. Não posso esperar.

-- Eu sou Eduardo.

-- Eu sou Bianca. Eu te conheço, tu não és o cara da papelaria?

-- Sim.  Mas não me lembro de ti. Já nos conhecíamos?

-- Não. É que geralmente eu desço do ônibus ali na frente e já te vi ali.

-- Bem, na próxima vez que descer ali, entra pra me dar um oi.

-- Com certeza... Vou aparecer por lá.

-- Está na minha hora, eu preciso ir ao banco. Até qualquer hora.

-- Tchau...

Eduardo saiu do restaurante e se dirigiu ao banco que era um quarteirão dali, e foi pensando em Bianca. Ela era simpática e bonitinha.  E bem novinha, devia ter uns vinte anos.

E naquela semana um fim de tarde, Bianca cumpriu o prometido, apareceu na papelaria e ficou conversando e esperando a hora de fechar a loja. Já haviam combinado de sair para fazer um lanche com ele.

E a amizade dele com Bianca foi se fortalecendo. Para ele era só amizade, mas para ela não, pois ela pressentia boas oportunidades com ele. Bianca era uma guria bem solta, bem moderninha e gostava de tomar iniciativas. E ela já tinha feito algumas propostas para ele. E, é claro que ele aceitou, mas deixando, sempre, bem explícito que não havia compromisso entre eles.

E foi num sábado a noitinha, quando ele saia de seu apartamento abraçado com Bianca que ele se deparou com Nina a sua porta, que estava indo procurá-lo. Quando eles se olharam Eduardo quis correr para Nina, que ficou parada ali a sua frente sem ação, tão surpresa de vê-lo abraçado a outra, quanto ele de vê-la.

-- Oi tudo bem? Eu estava passando por aqui e resolvi entrar ... – foi o que Nina falou.

-- Tudo bem. Essa é Bianca, uma amiga.

-- Prazer – falou Bianca.

-- Prazer. Bem estas de saída com tua amiga, outra hora falamos. Tchau.

E Nina saiu rapidamente porque não suportou ver Eduardo abraçado com outra moça, que bem novinha e bonita. Enquanto caminhava, as lágrimas rolavam em suas faces. Apesar da vida maravilhosa, que seu pai lhe oferecera, ela nunca deixou de pensar em Eduardo, era o seu amor, seu amigo, seu companheiro. Ela se lembrava dos momentos de intimidade que tiveram, como ele a tratava com carinho, como ele cuidava dela, como ele era maravilhoso. E agora... Tudo perdido... Será que teria chance?

Seu pai estava viajando e ela ficou em seu antigo apartamento, que ela conservava com uma pessoa indo limpar uma vez por semana. Tinha imaginado que Eduardo ficaria ali com ela e seria como os velhos tempos. E tinha ido lá para buscá-lo. Mas agora ele tinha a Bianca.

Nina abriu as janelas e sentou no sofá pensando. Ela precisava tomar uma atitude, decidir sua vida. Ela estava com saudades de sua vida simples, de trabalhar, estudar e namorar Eduardo. Era isso o que ela queria. Mas, e se ficasse sem Eduardo? Ela iria querer essa vida de novo?

Eduardo quis sair atrás de Nina, mas Bianca estava ali. Que hora errada! Ele tratou de despachar Bianca para ir procurar Nina, eles precisavam, pelo menos, conversar. Se ela veio até ele, era porque alguma coisa tinha mudado, não importava o quê, mas ele precisava saber.

Então decidiu ir ao apartamento antigo dela. Se ela estava por ali... Ele carregava a chave em seu chaveiro. Ele chegou a frente do prédio e viu as janelas abertas, e a luz acesa, ela estava lá, com certeza. Subiu e abriu a porta devagar e a encontrou no sofá chorando.

Ele entrou não disse nada. Sentou ao lado dela e a abraçou e o choro se tornou mais copioso e ele beijava suas faces para secar suas lágrimas. Depois de um tempo Nina se acalmou e Eduardo perguntou a ela:

-- Aconteceu alguma coisa? Tu estavas indo me procurar, o que houve?

-- Sim, eu estava indo lá para te ver, estava com muitas saudades de ti, de nossa vida juntos, até desse apartamento, eu sinto falta. Meu pai me ofereceu coisas demais, ele quer me compensar de alguma forma. Mas eu não gosto daquela vida, daquelas pessoas. Não me adapto. Mas...

-- Mas? Continua.

-- Não foi fácil te ver abraçado àquela garota. Me deu um aperto no peito. Eu sei que te perdi...  E é difícil aceitar.

-- Eu não estou comprometido com ninguém. Bianca é uma amiga.

-- Amiga? Vocês estavam saindo de uma transa, a fisionomia dela demonstrava isso. Estou errada?

-- Eu a conheci há pouco tempo, uns dois meses atrás, não temos nada.

-- Tu não respondeste a minha pergunta. Não estavam transando?

-- Sim estávamos.

-- Eu sabia aquele risinho de superioridade, não me enganou...

-- Mas que não significou nada, será que não entendes? Ela é nada para mim.

-- Nada!

-- Foste tu quem saiu da minha vida, se afastou de mim deslumbrada pela nova vida. Tu podias muito bem ter uma relação com teu pai sem me deixar para trás. Mas não foi o que tu fizeste. Simplesmente foi, sem se importar...

-- Eu sei, eu errei.

-- Então, o que queres?

-- Eu queria voltar no tempo, ter aquele namorado que era só meu...

-- Algumas coisas não dão para mudar. Precisamos recomeçar...

-- Eu vou voltar para cá. Tomei essa decisão hoje. Meu pai está viajando, quando ele voltar vou contar para ele.

-- E vais ficar aqui já a partir de agora?

-- Sim, eu vim para isso, trouxe uma valise com o que preciso.

-- Eu fico contigo. Não vamos mais discutir, vamos curtir essa noite, vamos pedir uma pizza, beber um vinho que eu vou buscar lá em casa. Ou queres ir para lá?

-- Bem capaz! Aquilo deve estar contaminado...

Eduardo deu uma gargalhada e levantou para sair e ir buscar o vinho. Foi em casa e aproveitou para tomar um banho. Precisava tirar do corpo o cheiro da Bianca.

Quando ele voltou, ela também tinha tomado um banho, estava de cabelos molhados e estava muito sensual. Ele ficou com vontade de a levar para cama, mas se conteve. Ele não queria estragar tudo. Ele estava “pisando em ovos”, tinha que ter cautela para ela voltar a confiar nele.

--Duas garrafas? Estás com más intenções?

-- Não, estou com boas intenções.

E riram e sentaram para conversar. Ela estava com o perfume que ele gostava e se achegou a ela para sentir o cheiro:

--Esse perfume me inebria...

E Eduardo aproveitou e fez um carinho em sua face e a beijou com suavidade nos lábios. Ele tinha que ir devagar, estava consciente disso. E passou o braço sobre os ombros dela e a puxou para perto dele.

Assim ficaram enquanto o assunto brotava. Era tanta coisa para contar.

A noite foi maravilhosa, saborearam uma pizza, beberam um bom vinho e se amaram com voracidade, com paixão, com loucura. Passaram o domingo juntos como antes. Eduardo saiu do apartamento só na segunda feira de manhã porque precisava abrir a loja.

Nina foi esperar seu pai e dizer que voltaria a morar em seu antigo apartamento. Mas seu pai chegou com uma novidade. Iriam se mudar para São Paulo. Agora ele poderia ter a galeria de seus sonhos...

E surgiu o impasse. Antônio queria que a filha fosse com ele para São Paulo.

Nina não queria magoar seu pai e foi falar com Eduardo. Foi até a loja e ele não estava, mas Bianca estava lá esperando por ele. Nina se recusou a ficar. Deixou um bilhete sobre sua mesa e foi para seu apartamento. Dessa vez queria decidir com ele.

Era fim da tarde quando Eduardo ligou:

-- Oi minha linda, recebi teu bilhete, mas só posso ir depois que eu fechar a loja. Se queres vir para cá, seria muito bom.

-- Aquela bisca ainda está por aí?

-- Quem?

-- Não te faz de desentendido, a Bianca.

-- Ela? Não sei, ela esteve aqui?

-- Sim, eu a vi.

-- Ninguém me falou nada, não sabia. Vens?

-- Não vou te esperar aqui.

-- Ok. Tchau...

Nina enquanto esperava por Eduardo havia decidido o que fazer, mas queria ver a reação dele, saber a opinião dele sobre o pedido de seu pai. Então ele chegou e ela contou a novidade, que imediatamente estampou uma tristeza nos olhos, então ela perguntou:

-- O que eu faço?

-- Ontem tu tinhas uma firme decisão e agora já tens dúvidas. Eu não vou opinar, não vou competir com teu pai. A escolha é tua.

Nisso toca o telefone de Eduardo:

-- Oi Bianca, tudo bem? ....

Nina ficou furiosa, aquela vadia estava marcando território e ela dando margem. E tomou sua decisão. Depois de desligar o telefone Eduardo continuou:

-- Nina eu não posso interferir, ele é teu pai, que tu conheceste há pouco tempo, é uma situação “sui generis “. Por mais que eu queira, não posso te pedir nada. Consegues entender?

E agora foi o telefone de Nina que tocou. Era seu pai a estava esperando. Ela ia jantar com ele, e convidou Eduardo:

-- Vem jantar conosco. Vamos decidir juntos...

-- Não obrigado. Vou para casa.

-- A Bianca vai estar lá contigo?

-- Não sejas assim. Não estrague as coisas. Ela não vai estar lá, se queres conferir depois do jantar com teu pai vai lá. Ela só me disse que esteve na loja hoje à tarde. Eu não dei conversa para ela tu ouviste, não foi?

-- Sim, mas não gosto dela, e não quero ela perto de ti.

-- Primeiro toma a tua decisão, e depois opina sobre quem pode ficar comigo.

Eduardo estava chateado, e Nina percebeu. Desceram quietos. Ele a levou até o carro, cumprimentou Antônio, fechou a porta e os viu sair. Foi para seu apartamento. Tomou um banho, ligou a TV e esperou as horas passarem. Não queria pensar. Se Nina fosse com o pai para São Paulo, eles ficariam definitivamente, longe um do outro. Era o fim do romance.

Ele estava cochilando quando sentiu um beijo em sua boca, era um beijo com o gosto de Nina, e isto ou deixou feliz e cheio de desejos, mas ele não sabia se estava sonhando ou se ela estava ali. Precisava abrir os olhos, mas tinha medo de ser só um sonho.

Mas era realidade, ela estava ali em seus braços e iria ficar com ele para sempre.

                                                           Maria Ronety Canibal

                                                              Setembro de 2017.

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