segunda-feira, 26 de junho de 2017

EMA, MEU AMOR


                                               EMA, MEU AMOR.
Ema estava entre amigos se divertindo muito no baile de formatura de seu primo Álvaro. Ela havia dançado com Jairo, e agora estava sentada a mesa observando os casais dançando. A orquestra tinha começado a tocar músicas românticas e a pista se encheu de pares enamorados.
Ela escutou uma voz a convidando para dançar. Ela virou-se e ali estava um rapaz, alto, forte, simpático e absolutamente lindo, com os cabelos loiros e olhos castanhos escuros. Ela aceitou e se levantou e ele a conduziu para a pista de dança.
Ele logo falou:
-- Eu sou Renato Câmara. E tu deves ser Ema.
-- Sim, eu sou Ema. Como sabes?
-- Eu e teu primo Álvaro somos muito amigos. Ele fala muito em ti, tanto que parece que te conheço há muito tempo.
-- Mesmo?
-- Sim, ele me contou muitas das travessuras que vocês fizeram quando crianças.
-- O que deves pensar de mim?
-- Eu acho que és muito esperta, porque pelo que percebi a idéia e a iniciativa sempre foram tuas. Concordas?
-- Sim. Mas Álvaro sempre foi meu companheiro de brincadeiras, nós nos divertíamos muito. Bom tempo!
-- É, a gente cresce e fica a boa lembrança.
-- E tu também eras travesso?
-- Sim, mas não tanto quanto vocês...
E ambos riram. Continuaram dançando por um bom tempo. Ela era alta, esguia, tinha as feições delicadas e o rosto oval enfeitado por um par de olhos verdes e cabelos cor de mel.  Ele estava encantado por ela, por sua beleza, por sua simpatia e por sua simplicidade. Ela sendo uma moça riquíssima estava ali ainda dançando com ele. Ela poderia ter pedido licença após duas ou três músicas. Ele pensava que deveria convidá-la para tomar um refresco, pois estava muito quente. E foi o que fez:
-- Ema tu não queres tomar um refresco, descansamos um pouco e depois dançamos novamente. Aceitas?
-- Sim vamos.
Não voltaram para mesa onde estava o grupo de amigos dela, foram para o bar, e ele a levou até uma mesa e foi comprar as bebidas. E eles conversaram bastante, ele apreciando a alegria dela e como ela era divertida! Ela também estava fascinada por ele. Voltaram a dançar, agora já não falavam tanto, estavam embalados por melodias lentas e  num clima de romantismo ficaram dançando e se olhando.
Já amanhecia quando o baile terminou. Renato a levou até o grupo de amigos dela e Álvaro o convidou para no outro dia ir participar do churrasco que fariam em comemoração a formatura. Álvaro insistiu dizendo:
-- Meu amigo, nós conseguimos o “canudo” , vamos festejar juntos. Vou te esperar. Ao meio dia.
Ema aproveitou e disse:
-- Então amanhã nos veremos. Até.
-- Até depois.
Enquanto se afastava Renato foi pensando em tudo que acontecera em sua vida.
Ele tinha saído de sua cidade para estudar, sua família era pobre, e ele queria vencer na vida. Amava seus pais e seus irmãos, mas o modo deles de ser não era o ideal dele. Eles eram trabalhadores, mas nunca gostaram de estudar e, portanto, eles nunca conseguiram dar um passo a frente.
Seus pais já eram falecidos, ele era bem mais novo do que seus irmãos. Roberto o mais velho estava com quarenta e cinco anos e tinha dois filhos e trabalhava como garçom. Ricardo tinha quarenta e dois e tinha três filhos e trabalhava como serviços gerais em uma escola.
Quando terminou o segundo grau, Renato resolveu sair de sua cidade e vir para a capital para trabalhar e estudar. Havia conseguido um bom trabalho em um escritório e hoje, ele, com trinta anos, tinha se formado em Publicidade. Não tinha com quem comemorar esse feito, ninguém de sua família valorizava o estudo. Por isso nenhum de seus irmãos estava com ele. Então resolveu aceitar o convite do seu amigo.
As casas de Álvaro e Ema eram vizinhas. Era um imenso jardim com três casas, sendo uma dos avós. No centro do jardim ficava a piscina, que era enorme, e um salão de festa.
Renato chegou por volta das 13h e Ema o esperava. Ela passou seu braço pelo dele e o levou para vestir um calção de banho. Todos estavam na piscina. Disse que podia  pegar qualquer daqueles calções de banho e toalha, estavam ali para os convidados. Deixou-o a porta do vestiário e ficou por ali esperando.
Quando ela o viu em trajes de banho ficou admirada com seu físico. Ele era realmente muito bonito. E ela o queria, e como! E estava acostumada e ter tudo o que desejava.
Renato, por sua vez, quando a viu de biquíni, ele ficou arrebatado por seu corpo perfeito. Ao mesmo tempo em que se deixava levar por sua simpatia e beleza, um sinal de alerta pedia cuidado, “ela não é para ti.”
Sentaram na borda da piscina e ele pegou na mão dela e a segurou, como querendo sinalizar, que ele a queria. Ela viu os sinais. Entraram na água e nadaram, brincaram e conversaram, como se estivem a sós, sem se importar com os demais convidados que aos poucos iam chegando.
Aquele foi um dia especial, para Renato seria inesquecível.  Ema era sensacional, em todos os sentidos. Passaram o dia juntos, e ao despedirem-se, combinaram de se  verem durante a semana. E antes de ele ir embora ela o abraçou e o beijou ao qual ele correspondeu com empolgação.
Ele saiu da festa completamente apaixonado por Ema. Não sabia como seria, mas pagaria para ver. E assim foi feliz para o seu quarto, na pensão que ele morava.
Ema também estava feliz, nunca conhecera ninguém como Renato, lindo, educado e amoroso. Ela faria de tudo para dar certo, porque ele tinha tomado conta de seu coração.
Na quarta feira Ema telefonou para Renato o convidando para a inauguração de um bar e ela tinha os ingressos. Se ficasse bom para ele poderiam se encontrar no local. Ele aceitou o convite e encontraram-se em frente ao bar. Havia um grande movimento de pessoas. Com certeza esse seria o bar da moda.
Eles curtiram a noite. Conversaram  e divertiram se bastante. Ao final da noite, na hora de fechar a conta, Ema queria dividir com ele o valor a ser pago, mas ele recusou e pagou integralmente a conta. Mas ficou assustado com o valor. Tudo ali era muito caro. Ele não tinha “status” freqüentar aquele ambiente. Mas não falou nada para Ema.
No sábado, ela o levou a uma festa na casa de uma amiga. E mais uma vez foi uma noite maravilhosa. Ela estava linda, usava um vestido preto e tinha prendido o cabelo. Ela estava muito sensual, e ele estava tenso, porque estava louco por ela. E Ema percebeu e o provocava cada vez mais.
Quando saíram da festa, Ema, que estava de carro, disse que queria ficar a noite com ele. Iriam para o apartamento dele. Então ele foi obrigado a contar para ela que ele morava em uma pensão, um lugar muito simples, porém muito limpo. Que a D. Ieda não permitia entrar acompanhado. Então eles despediram-se e ela foi embora.
Renato sabia que ela tinha ficado chocada com a situação financeira dele. Então ele decidiu afastar-se dela. Ela jamais se adaptaria a uma vida simples. Ele teria que encontrar alguém do seu meio.
Álvaro era um bom amigo, e sabia que ele tinha dificuldades para poder cursar a faculdade, tanto que nunca o convidou para saírem juntos. E Renato resolveu conversar com seu amigo sobre sua prima Ema. Ele telefonou para o amigo e pediu para conversarem pessoalmente.
Então Renato explicou para seu amigo toda a paixão que havia nascido entre ele e Ema, mas eles viviam em mundos diferentes e não tinha nenhuma possibilidade de seguir em frente. Não queria magoar ninguém. Mas a realidade era essa. Ele não tinha condições de freqüentar os ambientes que Ema estava acostumada.
Álvaro entendeu e se propôs a conversar com sua prima. Mas deu esperanças ao amigo, pois quando ele estivesse trabalhando com publicidade as coisas mudariam e ele teria uma condição financeira melhor, e talvez, se o amor fosse sincero entre ele e Ema, eles poderiam retomar. Era preciso deixar o tempo correr.  Era isso que iria dizer também para sua prima.
Renato não tinha mais visto Álvaro e não teve coragem de ligar para Ema, que também não ligou mais para ele.  E eles estavam afastados definitivamente.
Renato dedicou-se ao trabalho, o escritório em que trabalhava tinha a política de valorizar o funcionário que estudava. E agora que ele estava formado, logo ele foi promovido.  Mudara de setor, agora estava direcionado à publicidade.
Rosana era sua chefa, que o acolheu muito bem. Ele estava trabalhando diretamente com ela. Ela era muito atraente, vestia-se bem, era elegante e muito bonita. Era de estatura mediana, era cheinha de corpo, e muito simpática. Eles sempre almoçavam juntos e agora já tinham se tornado bons amigos.
Era aniversário de Renato, e no sábado, ela organizou uma festa surpresa para ele em seu apartamento. Convidou a turma do escritório. Renato ficou muito feliz, pois nunca ninguém se lembrava do aniversário dele.
A festa foi ótima. Depois que todos saíram, Renato ficou para ajudar Rosana na limpeza da festa. Quando terminaram Rosana o convidou para sentar e tomarem um vinho. Ele aceitou. Bebericando o vinho e mais se olhando que conversando, foi surgindo um clima entre eles e acabaram beijando-se. Um beijo fogoso, que despertou desejo e se entregaram as caricias e ao fogo que ardia em seus corpos.
No dia seguinte, quando Renato se deu conta do que tinha acontecido ficou preocupado. Ela era sua chefa, e o que aconteceu foi culpa do vinho. Ele a considerava uma amiga, embora ela fosse uma mulher muito atraente, ele não queria  passar da condição de amigo e colega de trabalho. Ele ainda estava deitado na cama, completamente nu, quando Rosana entrou enrolada em uma toalha
Mas foi Rosana quem falou:
-- Bah o vinho nos pegou, e nós fizemos o que não devíamos. Me sinto culpada, pois fui eu quem ofereceu o vinho...
-- Nós dois fomos imprudentes...
-- Vamos deixar isso para trás. Vamos seguir em frente. Ok?
-- Tudo bem.
Ele pulou rápido da cama, pegou suas roupas e foi para o banheiro. Quando saiu ela já estava vestida e o convidando para tomar café. Conversaram sobre a festa da noite passada, sobre os colegas. Então ele resolveu ir embora.
-- Eu vou indo. Muito obrigado pela festa de aniversário, fazia muito tempo que eu não festejava. Obrigado mesmo.
-- Não precisa agradecer, fiz porque te acho um cara muito legal...
-- Ok. Tchau..
-- Tchau.
Renato foi pensando em sua vida. Como tudo estava diferente. Tinha alugado um pequeno apartamento mobiliado, perto do trabalho e tinha uma vida tranqüila. Saia pouco preferia ficar em casa, lendo um bom livro, do que ir para um bar e ficar bebendo como seus colegas.
Ainda pensava em Ema. Embora seu relacionamento com ela, tenha sido breve, o seu sentimento era profundo. Amava Ema!. Nunca mais teve noticias dela. Álvaro, logo depois da formatura, tinha sido convidado para trabalhar em uma agencia em Londres.
Rosana fingia que estava tudo bem entre eles, depois daquela noite, mas na verdade ela estava apaixonada por ele. Nunca tinha conhecido um rapaz tão inteligente e tão educado e sereno como Renato. Ele era alegre e divertido, sem ser abusado.
Ela, como chefa, já estava sabendo que ele seria promovido, e passaria para outro setor do escritório, em outro andar do prédio, pois agora ele  iria trabalhar com criação de anúncios de propagandas. Com certeza não se encontrariam mais tão seguidamente. Isso a deixou triste.
Já fazia dez meses que Renato havia sido promovido, e ele vinha se destacando dentro de sua equipe de trabalho. Seu nome estava se tornando conhecido no meio publicitário por suas idéias revolucionárias na propaganda.
Haveria uma festa de entrega de prêmios para os destaques do ano, e Renato era um dos destacados. Receberia o prêmio pela melhor propaganda. Ele convidou Eduarda para acompanhá-lo.
Eduarda era uma moça muito bonita  e era sua vizinha. Ele precisava de roupas novas, pois agora precisava ter boa apresentação, então pediu a Duda que o ajudasse, já que ela trabalhava em um magazine.
Ela adorou a tarefa. Renato era lindo e qualquer roupa ficava muito bem nele. E além de ajudá-lo escolher, ainda conseguiu um bom desconto no valor a ser pago, o que deixou Renato mais agradecido. Então como recompensa a convidou para acompanhá-lo.
Ela vestiu-se com esmero para a festa. Usava um vestido verde garrafa, em musselina, cortado na cintura, com decote V e com as costas nuas. A saia era rodada, o que dava leveza ao vestido. O tom do vestido realçava em sua pele, deixando os cabelos castanhos mais vistosos e combinava perfeitamente com a cor de seus olhos.
Renato a esperava na sala do apartamento dela e quando ele a viu ficou admirado com tanta beleza. Ele não pode deixar de dizer:
-- Estás linda! Será um grande prazer a tua companhia.
-- Obrigada. Vamos?
E saíram. O Uber os levou até o local. E Renato durante todo o trajeto ele estava olhando para ela e sorria, e Duda percebeu e ficou até ruborizada com a intensidade do olhar dele. Ao descer do carro ele a tomou pela mão e entraram no recinto. Realmente ela chamava atenção, pois quando eles chegaram muitos se voltaram para olhá-los.
A festa foi ótima. Renato recebeu seu prêmio, fez o agradecimento e foi muito aplaudido por todos, principalmente por seus companheiros de equipe. A TV o procurou para uma entrevista. A noite foi um sucesso.
Eles voltaram para casa muito felizes, Duda era uma boa companhia, era participativa e muito simpática com todos. Ele não a conhecia muito, mas gostou de estar com ela.
E a partir daquela noite, eles se tornaram companheiros inseparáveis. Ele não podia dizer que a amava, mas gostava muito dela. Ela, sim, estava enamorada dele, e não fazia segredo. Eles davam-se muito bem, gostavam das mesmas coisas e a relação foi crescendo e eles firmaram compromisso, estavam noivos
Duda muitas viu no olhar de Renato uma sombra de tristeza, que passava como um flash.  E nestas ocasiões ele ficava calado por um longo tempo. Ele tentava disfarçar quando percebia que Duda o observava. Ela tinha receio de perguntar, mas com certeza ele devia ter sofrido uma grande mágoa. E esse devia ser o motivo dele ainda não querer casar, ou simplesmente morar junto com ela.
Realmente, Renato ainda pensava muito em Ema, ela permanecia em seu coração e a angustia de não saber nada da vida dela o deixava entristecido. Queria muito saber se ela estava casada, pois assim poderia definir sua vida.
O tempo correu, já era fim de ano, e haveria uma festa de confraternização no escritório. Ele não apreciava esse tipo de festejo, mas ele não podia deixar de ir. Todos levariam suas namoradas ou esposas. Ele avisou para Duda que eles teriam que ir.
Duda gostava de participar das confraternizações do escritório, eram sempre muito divertidas, e em cada uma sempre havia uma surpresa para os convidados. Na ultima festa que houve  ela ganhou um presente por ter acertado o enigma.
Ela sempre gostava de estar bem vestida quando acompanhava Renato, queria fazer bonito perante seus colegas. Havia comprado um vestido especialmente para essa ocasião, era na tonalidade azul noite, corte reto, e decote U.
Quando Renato a viu ele notou sua elegância e a elogiou. Ela agradeceu e saiu contente de braço com seu amor. Eles formavam um belo casal.
A festa estava bem animada, e Duda que conhecia quase todos transitava com desenvoltura no ambiente. Renato  conversava em grupo, mas  a seguia com o olhar. Ela era linda e como todos gostavam dela, ele pensava. “Acho que estou dando muita importância para algo que nunca foi meu. Eu devia valorizar essa mulher que me ama.”
De repente alguém bateu em seu ombro, Renato virou-se e encontrou o sorriso de seu velho amigo, Álvaro. Abraçaram-se e riram de felicidade por terem se encontrado. Quem primeiro falou foi Renato:
-- Meu amigo, que alegria... Quando chegastes? Ficas agora por aqui?
-- Também estou feliz em rever-te. Eu cheguei ontem, e vim só por causa do casamento de Ema, que será na semana que vem.
-- Hum... Mas me conta como vai tua vida.
Renato tentou minimizar a noticia, e seguiu falando, mas em seu interior algo se quebrou. Uma imensa dor atravessou seu peito. Duda se aproximou e ele a apresentou ao amigo:
-- Essa Duda, minha noiva.
-- Prazer em conhecê-la
E Álvaro virou-se para Renato e disse:
-- Parabéns! Tens uma noiva lindíssima e muito simpática. Meus votos de felicidade ao casal.
-- Obrigado.
Estavam servindo o jantar e eles foram para suas mesas. Duda percebeu que algo tinha acontecido, Renato perdeu o brilho e quase não comeu. Ele estava muito estranho.
Quando voltaram, da festa, Renato deixou Duda em seu apartamento e foi dormir no dele. Aquela noite ele precisava ficar só com sua tristeza. A mulher que ele amava e que era inacessível para ele, iria casar com outro.
Duda sentiu que alguma coisa estava errada, mesmo. Sempre ficavam juntos, fazia muito tempo que Renato não dormia em seu apartamento. O que será que tinha acontecido? Ela precisava saber. E por causa disso ela também teve dificuldades para conciliar o sono.
No outro dia Renato não apareceu, se estava em casa, ela não sabia. Telefonou mas ele não atendeu. Duda ficou preocupada e foi ver se ele estava bem. Mas não o encontrou.
Renato mal dormiu. Era cedo quando saiu, precisava andar. Saiu sem rumo. Pensava se ele não teria sido muito severo consigo mesmo, que por causa de sua condição social inferior a de Ema, tinha se afastado dela, não dando nenhuma chance ao amor que havia entre eles. E isso pesava em seu coração. Mas agora era tarde. Ela casaria com outro dali alguns dias.
Quando ele se deu conta estava em frente a casa de Ema. Encostou-se no muro da casa em frente e ficou ali parado tentando vê-la. E viu. Ema saia de carro com seu noivo, Jairo. Ele o conhecia e sabia que Jairo queria namorar com ela há muito tempo, desde antes deles se conhecerem.
Renato olhou para ela dentro do carro, ela sorria, estava feliz. Ele então resolveu voltar para sua vida, sua realidade. Quando ele abriu a porta de seu apartamento deu com Duda que o esperava. Ela não preguntou nada, apenas disse:
-- Estava preocupada, que bom que estás bem.
-- Eu não estou bem...
Ele abraçou-se a ela e chorou, como uma criança. Ela afagou seu cabelo, beijou sua testa e deixou que colocasse sua tristeza para fora. Apenas ficou ali com ele.
Renato acalmou-se e pediu desculpas a ela por essa explosão de sentimento. Estava com vergonha de ser tão fraco e infantil. Ele que sempre viveu tão só, sempre soube reprimir suas dores e desilusões.
Duda ficou ali com, perguntou:
-- Comeste alguma coisa hoje?
-- Não sei, não lembro.
-- Então vou preparar um suco e um sanduíche, pode ser?
-- Sim, obrigado.
-- Então vem...
Ele levantou-se e a seguiu até o apartamento dela. Enquanto ela preparava o lanche, ele a olhava e pensava que ela era uma boa amiga, e ele não podia magoá-la de jeito nenhum. Ela queria casar com ele, sabia que não seria um bom marido.
Então, ele resolveu contar para ela o drama de sua vida, porque ele estava tão infeliz. E também disse que eles não deveriam seguir com o compromisso deles. Ele não a amava.
Duda escutou tudo o que ele falou. Ela aceitou a decisão dele, ela tinha dignidade, não iria implorar para continuarem. Eles teriam que se afastar.
Renato resolveu comprar um apartamento, agora tinha um bom salário, prosperava no trabalho. Tinha ganhado outro prêmio. E seu nome era destaque no círculo da publicidade.
Álvaro estava de volta ao país, e procurou Renato para convidá-lo para ser seu sócio na agência que estava criando. Era uma proposta tentadora e Renato aceitou.
Os dois amigos estavam contentes por estarem trabalhando juntos. No tempo de faculdade eles sempre formaram uma dupla, suas idéias sempre foram ousadas e  bem aceitas.
Apesar de pouco tempo a agencia  já era conceituada, pelo simples fato de Renato e Álvaro serem os donos. E por isso havia muitos clientes e muito trabalho.
O tempo correu, e Álvaro estava de casamento marcado e queria que seu amigo fosse seu padrinho. Renato não pode recusar tanta honra.
Era o dia do ensaio, e Renato não sabia quem seria seu par. Ele chegou no horário marcado e esperou um pouco até todos chegaram. E Álvaro apresentou seu par, era Adriana sua irmã.
Renato mal se lembrava dela, que era ainda muito jovem, quando a conheceu. Mas agora estava uma moça muito charmosa. Era simpática  e alegre. Conversaram enquanto esperavam o inicio do ensaio. Depois todos foram para a casa de Alexia, a noiva de Álvaro, que os havia convidado para jantar. Foi uma noite agradável, Adriana era boa companhia. Era bem falante e divertida.
Renato achou estranho que Ema e seu marido não estivessem entre os padrinhos dos noivos, pois Álvaro e a prima eram muito ligados. Mas ele não perguntou nada sobre Ema. Apenas escutou falarem sobre ela, mas ele não tinha conseguido entender, parece que ela havia sofrido um acidente. Depois perguntaria ao Álvaro. E foi o que fez no outro dia no escritório.
-- Bom dia, Álvaro. Tivemos uma noite muito divertida ontem.
-- Sim, essa turma é assim. Sempre fazendo bagunça. Alexia gosta desse tipo de reunião.
-- Posso te perguntar sobre Ema, o que houve com ela? Acidente?
-- Tenho muito sentimento por Ema. Ela fez um péssimo casamento.
-- Mas ela...
-- Não comenta nada com ninguém, Ema não quer que saibam. Na verdade estão dizendo que ela sofreu um acidente caseiro, que caiu de uma cadeira enquanto mexia na parte alta de seu closed. Mas não foi isso que aconteceu.
-- O quê aconteceu?
-- Ela apanha do Jairo. Eu sempre disse para ela que ele era violento quando bebia. Mas de certa maneira não foi ela quem decidiu com quem casar. Foi seu pai.
-- O pai? Por quê?
-- Porque ela nunca te esqueceu, não queria saber de ninguém, e como o tio João estava querendo comprar a indústria da família de Jairo, ele acertou o casamento, já que essa era uma imposição de Jairo. Sempre disse que era apaixonado por Ema. Imagina se não gostasse dela...
-- Pobre Ema... Por que ela não se divorcia dele?
-- Boa pergunta, não sei.
-- E a mãe dela, d. Vitoria não diz nada?
-- A tia chora muito, mas não se mete. O tio é muito autoritário, e ela não gosta de contrariá-lo.
-- Meu Senhor!
-- Todos lamentam, mas ninguém tem coragem de se envolver nas questões entre marido e mulher.
-- Eles têm filhos?
-- Não. Ela engravidou no ano passado, mas “caiu” e perdeu a criança.
-- Que horror! Pobre a Ema, quanto sofrimento...
-- Outro dia ela perguntou por ti, ela soube que estamos trabalhando juntos. Queria saber se estavas casado...
O telefone tocou e eles encerram o assunto. Renato foi para sua sala, mas não conseguiu se concentrar no trabalho. Levantou-se e saiu, precisava espairecer, precisava de uma caminhada.
Andou bastante,  estava cansado e então viu uma cafeteria e entrou e sentou-se no balcão e pediu um café.
Ema tinha tomado conta de seus pensamentos. Ele tomava para si parte da responsabilidade desta situação, pois se tivesse sido mais positivo, mais confiante em si, não teria se afastado dela. Ele sabia que ela o amava de verdade, assim como também ele a amava. Mas não podia voltar atrás. O que estava feito não tinha remédio. E isso o machucava.
Olhou o relógio e saiu apressado, tinha uma reunião em meia hora. Teria que pegar um taxi. O trânsito esta lento, e   foi então que ele a viu. Ela estava no carro ao lado. E ele pode ver as marcas arroxeadas em seu rosto, apesar de ela estar usando um par de óculos de sombra. Ele a olhava com tanta intensidade que ela virou-se, e o viu. O mundo parou. Eles ficaram se olhando até os carros andarem. Renato fechou os olhos para não perder a imagem dela.
Ele chegou atrasado a reunião, desculpou-se com o cliente e tentou prestar atenção na pauta, mas estava zonzo. Álvaro percebeu que seu amigo não estava bem e tomou a direção dos trabalhos.
Quando a reunião terminou e os clientes se retiraram, Álvaro perguntou ao amigo o que estava acontecendo com ele. E Renato apenas disse:
-- Eu vi a Ema, um pouco antes de chegar.
-- Onde?
-- Eu tomei um taxi e a enxerguei em outro taxi, que estava ao lado do meu.
-- Num taxi? Ema num taxi? Tem certeza?
-- Sim. Era ela.

Álvaro olhou seu celular e pediu licença para Renato e foi para sua sala. Renato permaneceu ali, pensando em Ema. Arrumou sua pasta e saiu da sala de reuniões. Quando cruzou pelo corredor, Álvaro o chamou. E disse:
-- Ema está vindo para cá. Quer falar contigo.
-- Comigo?
-- Sim. Ela me disse que te viu, quando estava a caminho do consultório de médico, que é aqui perto. Logo ela está chegando.
-- Ok! Então vamos esperá-la.
Os dois amigos ficaram em silêncio, estavam preocupados. Álvaro na semana de seu casamento queria que tudo fosse mais tranqüilo. Ele e sua esposa sairiam em viagem e já estava tudo organizado. Mas essa situação de Ema era complicada, não podia ser negar a ajudar a prima.
Renato achava que ele não tinha muito que fazer por ela. Ele era apenas um “ez” e a família dela sempre o desprezou por ser pobre.
Ema chegou e deu um beijo no primo e olhou para Renato fez um aceno com a cabeça e sentou-se. Renato fez menção de se retirar, mas ela pediu que ficasse. Ela olhou para o chão e depois se virou para Renato e disse:
-- Preciso de ajuda.
Álvaro responde:
-- Terás a ajuda que precisar, eu te prometo. Nós estamos contigo, não é mesmo, Renato?
-- Sim. Com certeza.
Ema começou a chorar. Renato que estava em pé aproximou-se dela e colocou suas mãos em seus ombros. E ela cobriu uma das mãos com a sua, e virou-se para olhar para ele.
Álvaro muito calmo disse:
-- Fala... Conta o que o médico disse... Fala alguma coisa...
-- O médico disse que eu preciso me afastar dele. E com urgência. Porque, conforme sua experiência, a violência tende a aumentar.
-- Sim. Continua.
-- Mas para onde eu vou? Para casa de meus pais não adianta, dos avós e tios, também não. Eu poderia ir para um hotel, mas não tenho dinheiro para isso. Meu pai cortou meu cartão de credito e Jairo nunca me dá dinheiro. Diz que mulher com dinheiro vai muito longe...
Álvaro olhou para Renato, que confirmou com a cabeça. Então Álvaro disse:
-- E o apartamento de Renato?
-- Eu não devo, ainda sou casada.
Então Renato falou:
-- Tens razão, eu sou solteiro e tu és casada. Seria um prato cheio para teu marido. Vais para um apart-hotel que fica perto do meu prédio. Eu pago pra ti.
-- Eu ajudo a pagar prima. Então está resolvido. Hoje não voltas para casa. Eu peço para Adriana ir lá pegar. Faz uma lista e me dá, junto com a chave. Bem agora preciso sair. Alexia está me esperando. Tu cuidas dela, meu bom amigo.
-- Sim. Ela fica comigo. Dá meu telefone para a Adriana. Porque Ema deve desligar o telefone agora. Desativar até o chip.
Álvaro se despediu e saiu. Renato olhou o relógio e viu que já era fim de expediente. Chamou a secretaria e pediu que fechasse tudo. Ele estava saindo.
Renato acompanhou Ema até o apart-hotel. Ela pediu que ele ficasse um pouco com ela. Ele disse que sim. Pediriam uma pizza e ficariam conversando.
Já era tarde, e estavam cansados, tinha sido um dia difícil.  Ema tomou um banho e foi para cama. Renato, esperou até que ela conciliasse o sono, deu um beijo nela e saiu. Foi para seu apartamento. Precisava pensar. Tudo tinha acontecido muito ligeiro.
Tomou um banho e deitou-se e ficou pensando como solucionar esse problema. Dormiu muito pouco. Levantou-se cedo e foi para o apart. Tinha prometido tomar o café da manhã com Ema.
E durante o café ele contou para ela o que tinha planejado:
-- Ema, em primeiro lugar, nós precisamos conversar com um advogado, para nos orientar. Porque penso que tu deves entrar com pedido de divórcio, mas antes separação de corpos. Tens registro policial?
-- Não, mas o médico ontem fez um laudo, e tem todo o meu histórico. Sempre foi ele que me atendeu.
-- Talvez sirva. Tens algum advogado conhecido?
-- Tenho. Mas não quero que seja alguém que tenha relação com minha família.
-- Bem, então vamos num conhecido meu. Certo?
-- Sim.
-- Vou ligar para ele. Dá licença.
Renato levantou-se e saiu do salão para falar ao telefone. Ema ficou olhando para ele através da porta de vidro. Esse deveria ter sido seu marido. Mas o maldito dinheiro sempre interferiu em sua vida.
Adriana telefonou dizendo que já estava com as coisas dela. Quando chegou foi logo dizendo:
-- Ainda bem que somos bem intimas. Pois assim a empregada não ligou quando eu disse que esperaria a por ti no quarto. Ela  cheguei cheia de sacolas (vazias) então, quando eu sai com as sacolas cheias a empregada não reparou.
-- Veio tudo?
-- Acho que sim.
-- Como estão às coisas por lá?
-- Tudo calmo. Ninguém ainda se deu conta que tu não voltaste para casa. Até a hora que eu saí tudo estava calmo. Mas acho que não posso vir aqui seguido. Podem me seguir. Podem somar dois mais dois e ver que foi eu quem pegou tuas roupas. Comprei um chip novo para ti. Vê se dá no teu telefone.
Ema pegou seu celular e colocou o novo chip e estava de numero novo. Agradeceu a prima.
-- Ninguém pode saber. Apenas Renato, tu e Álvaro. E tu passas o numero para ele. Certo?
-- Sim. Bem eu vou embora. Te cuida minha querida. Não entra na internet. Tchau.
-- Tchau.
Renato havia ido até a agência, precisa dar alguns telefonemas, e acertar com a secretaria alguns horários.
Enquanto isso Ema arrumou a roupa no armário. Tomou um banho e se vestiu para ir com Renato ao advogado. Quando ele chegou, ela  estava o esperando. E estava linda, como sempre.
Ela ainda estava com manchas no corpo, e o advogado recomendou que fosse a delegacia registrar a ocorrência. Ela teria que fazer pericia médica. Ema estava indecisa quanto a pericia, mas Renato a incentivou, ele estaria com ela. E ela decidiu fazer.
Foi mais um dia exaustivo. Mas agora ela tinha como se proteger do marido. Chegaram ao apart e Álvaro e Alexia os esperavam na portaria. Subiram e os quatro ficaram conversando sobre os acontecimentos. Depois resolveram sair para jantar. Iriam a um lugar bem simples, fora do circuito que estavam acostumados.
Ema disse que não iria ao casamento deles. Alexia acenou com cabeça que entendia e acrescentou dizendo não te preocupas, nós entendemos a tua situação. É melhor mesmo ficar fora de área.
O casamento de Alexia e Álvaro foi uma cerimônia linda. As comemorações também. Foi uma festa alegre, e Renato na companhia de Adriana se divertiu bastante.
Muitos sentiram falta do casal Jairo e Ema. Mas a resposta sempre foi que Ema havia se acidentado, estava em repouso em casa. E o marido ficara com ela, para não deixá-la sozinha. E todos aceitavam a mentira elaborada.
Mas na verdade o que Renato descobriu foi que d. Vitoria não sabia que sua filha não estava em casa. E quanto a seu João, não ficou muito claro se sabia ou não. E que Jairo estava sumido desde o inicio da semana.
No outro dia Renato disse a Ema:
-- Estamos ganhando tempo, minha querida. Isso é bom.
Ema sentou ao lado de Renato e abraçou-se a ele, que logo passou seu braço por sobre os ombros dela e lhe beijava os cabelos. Eles ficaram muito tempo em silêncio. Então Ema disse:
-- Hoje  é domingo. Vamos dar uma caminhada.
Saíram de mãos dadas como namorados. Ema estava tranqüila e se sentindo segura com Renato ao seu lado.
Os dias passavam e Renato trabalhava o dia todo e Ema ficava no apart. Ele tinha comprado para ela vários livros. Ela gostava de ler e assim o tempo passava ligeiro.
Não havia novidade alguma. Adriana achava que seus tios estavam querendo enganá-los, pois não era possível que ainda não soubessem que Ema tinha saído de casa. Ela havia ido ao escritório falar com Renato. Desconfiava que devesse ter algum detetive a seguindo. Na pior das hipóteses eles deveriam agir como namorados.
Assim fizeram. Saíram do prédio de mãos dadas. E Renato a levou até a porta do prédio em que ela morava e despediu-se com um beijo na face. E foi para seu apartamento. Deixou o carro na garagem e saiu por uma porta lateral do prédio que dava para outra rua. Tomou um taxi e foi para o apart.
Contou para Ema a conversa que tivera com Adriana. E como eles tinham agido para despistar. Ainda bem que Álvaro e Alexia chegariam ao outro dia.
E os recém casados chegaram de sua lua de mel radiantes de tanta felicidade. E Ema pensou que nem em sua lua de mel foi feliz, pois Jairo sempre bebia demais e era inconveniente. Ela passava o dia sozinha, ia as compras, aos passeios só.
Renato contou para seu amigo tudo o que aconteceu em sua ausência, e das desconfianças de sua irmã. E do plano dela para disfarçar. Álvaro escutou e concordou.
Claro que estavam mentindo. Algo deveria ter acontecido com Jairo que não aparecia  em lugar algum. Álvaro tentara falar com ele na noite anterior e sua empregada disse que o casal estava viajando. Quando voltavam? Ela não sabia. Pegou o telefone e ligou para o celular dele e estava fora de área.
Talvez estivesse fugindo. Será que a policia tinha ido atrás dele? E os dois amigos fizeram muitas conjecturas. Mas o importante era resguardar a Ema.
Renato soube por sua faxineira e pelo porteiro do prédio que um homem e depois uma mulher estavam procurando por ele, queriam saber quem morava com ele.
Então, Ema deveria ficar onde estava. Sair o menos possível. Apenas ele deveria manter o contato com ela. Pois se os outros também estavam sendo seguidos, seria muito obvio se todos fossem ao mesmo local seguidamente. E Renato poderia dizer que tinha uma amiga que morava lá. O nome de Ema não estava na lista de hospedes. Era o dele.
Alexia resolveu que iria ao apartamento em que Ema morava para uma visita a prima de seu marido. Foi sem avisar e foi recebida por Jairo, que estava com um comportamento muito estranho. Cheirava álcool, mas não estava bêbado.
Alexia perguntou se Ema iria demorar, ela não tinha avisado que vinha, estava constrangida. E Jairo disse que ela tinha ido ao médico, e que talvez fosse demorar. Alexia tratou de sair dali rapidamente.
Agora eles tinham certeza que havia uma mentira armada. Não queriam que ninguém soubesse que Ema havia saído de casa. Também os pais de Ema estavam simulando uma viagem.
Já tinham se passados três meses e o advogado disse a Ema que seu marido já havia sido notificado pela justiça do seu pedido de divórcio e separação de corpos por violência.
Logo haveria uma audiência e o juiz iria impor condições a ele. Agora faltava pouco, mas que ela ainda procurasse ficar em lugar seguro.
Ema estava nervosa e Adriana resolveu ficar com ela uns dias. Disse para sua mãe que tinha uma amiga da escola que estava na cidade e a tinha convidado para seu sua cicerone por uma semana. Assim ela ficaria com a amiga.
Dona Violeta, mãe de Adriana e Álvaro estava com problemas de memória. Muitas vezes ela saia do contexto por vários dias. Isso foi depois que o marido morreu. Eles eram um casal unido, felizes e d. Violeta não suportava a sua ausência, não suportava a realidade.
Adriana e mãe não moravam mais no condomínio familiar. Elas mudaram para um apartamento de cobertura, perto de onde Álvaro tinha comprado o seu.
Agora com Adriana fazendo companhia para ela, Ema estava bem. Adriana também não saia, deixava que Renato providenciasse tudo o que elas precisavam. Ficaram juntas por dez dias.
E tinha acontecido a audiência, e Jairo não poderia chegar perto de Ema, deveria manter uma distância de pelo menos trezentos metros.
Renato tirou férias, dez dias, viajou para o interior, e foi como tinha  planejado  para uma pousada no meio do campo, a beira de um rio. E levou Ema com ele. Fizeram a viagem de carro. A estrada era cheia de lindas paisagens. O lugar da pousada era magnífico. Seriam umas férias inesquecíveis.
Ema pensava que aquela era a primeira noite deles. Nunca tinham transado. Depois da janta ele foram caminhar pelo jardim da pousada, era uma noite de luar e como namorados estavam abraçados e trocavam beijos.
Foram para o quarto. Renato trancou a porta e aproximou-se dela. Trocaram carinhos e ele aos poucos foi despindo Ema, que estava encantada com a delicadeza dele. Então ela também tirou a roupa dele. Deitaram na cama e fizeram amor com muita paixão. Renato a desejava há muito tempo, muitas noites sonhou com esse momento. Muitas vezes soube que era impossível. Mas hoje ela era dele. Não importava o passado. Ela era dele.
Para Ema foi a sua primeira noite de amor. Embora tivesse sido casada, nunca tinha sido amada dessa forma. E ela era dele e ele era dela. Estava feliz. Muito feliz.
Foi  a lua de mel deles. Passaram os dias cheios de paixão e felicidade. Nada mais os iria separar. Ela não queria o dinheiro de sua família, não queria nada de Jairo, queria apenas liberdade para ser feliz com Renato.
E foi o que fez quando retornou. Tomou coragem e foi dizer a sua família que se esquecessem dela. Ela tinha sido usada por eles só para aumentarem a fortuna. Que agora ela estava feliz. Que ninguém mais interferisse em sua vida. Não queria nada deles, que ficassem com seu dinheiro.
Ela mudou-se para o apartamento de Renato e começou a cuidar de tudo. Aventurou-se na cozinha e percebeu que tinha jeito. E uma vez por semana ela convidado os primos para apreciarem seus pratos.
Renato estava orgulhoso dela. Estava se tornando uma perfeita dona de casa. 
Álvaro sabia que ela era muito boa no desenho a mão livre e  a convidou para trabalhar com eles na agencia, na parte de artes. Pois algumas coisas ficariam mais legais se fossem desenhos mesmo e não só arte no computador.
Ela aceitou. Mas apenas duas vezes na semana. Queria cuidar de seu lar doce lar.E eles viveriam uma vida simples, mas cheia de felicidade. Tinham certeza que formariam uma linda família.
                                                            Maria Ronety Canibal

                                                                 Junho de 2017.

domingo, 18 de junho de 2017

AUSÊNCIA


                                                                       AUSÊNCIA
Melissa era nova na escola. Sentia-se sozinha e rejeitada pelos colegas da sala de aula. Era a segunda semana, e ela não conseguiu a atenção das colegas. Estava triste, sentada em um banco no pátio da escola.  Marcos e Antonio jogavam bola ali perto. De repente a bola foi aos seus pés, ela abaixou-se  para pegar a bola e entregou a Marcos que agradeceu e voltou a jogar. Ela ficou olhando o jogo deles.
Ela tinha doze anos e era uma menina inteligente, esperta e curiosa. Sempre foi boa aluna. Gostava de ler, pesquisar e sempre se saia muito bem nas provas.  Como não tinha amigas, ela passava muito tempo na biblioteca da escola.
Melissa estava concentrada na leitura e não viu Marcos e Antonio que sentaram próximos a ela. Marcos a cutucou e perguntou se ela podia ajudá-los no trabalho de história que precisavam fazer. Eles não eram da mesma turma dela, mas todos já sabiam que ela era nota dez em tudo. Ela prontamente os ajudou.  E partir daquele momento, os três,  se tornaram os melhores amigos.
O tempo correu e agora Melissa era uma jovem com 19 anos,  cursava a faculdade de Farmácia. Ela tinha se tornada uma moça muito bonita, estatura média, tinha os cabelos louros e olhos azuis e uma pele com um tom bronzeado. Era alegre e divertida e amava demais seus amigos. Eles estavam sempre juntos.
Marcos, com vinte anos, era um rapaz muito bonito, alto, forte, cabelo e olho castanho, e muito simpático, sempre sorrindo. Estudava Engenharia Civil e era apaixonado por Melissa desde o dia que ela entregou a bola e ele.
Antonio tinha dezenove anos, também era bonito, mas era de estatura mediana, magro e tinha olhos verdes e cabelos num tom avermelhado. Estudava Odontologia e também gostava Melissa.
Embora Melissa soubesse que seus amigos lhe queriam muito bem, ela não fazia distinção entre eles. Gostava de ambos, e se tivesse que escolher entre eles seria difícil.
Devido à amizade que cresceu entre os jovens, suas famílias criaram laços de amizade, e os pais dela confiavam plenamente nos rapazes. E Melissa sempre saia acompanhada pelos dois amigos. Ela não tinha amiga.

Era tempo de férias e as famílias costumavam passar as festas de fim de ano juntas na praia. Mas esse ano Antonio não estaria porque seus familiares haviam programado um cruzeiro marítimo.
Marcos tinha gostado de estar só Melissa, porque eram raras as vezes que Antonio não os acompanhava. Ele tinha muito amor por  ela, e essa seria a oportunidade de demonstrar seus sentimentos.
Melissa também estava satisfeita de estar com Marcos, pois ela descobriu que ele tinha se tornado seu favorito. Eles combinavam muito. Ela estava se arrumando para sair, Marcos a havia convidado para um jantar dançante no clube da praia. Ela vestiu um vestido longo, tomara que caia, na cor  turquesa,  com sandálias de salto dourada. Prendeu o cabelo num coque baixo. Colocou gargantinha e brincos dourados com pedrinhas na cor do vestido. Ela estava muito bonita. E ela queria ficar bonita para Marcos.
Ela encontrou seus pais no corredor do hotel, que reparam em sua elegância. Ela despediu-se deles, dizendo que eles não se preocupassem, porque ela chegaria tarde.
Marcos a esperava no saguão do hotel. Quando ele a viu seu rosto se iluminou e um sorriso surgiu quando a tomou pela mão, e a admirando disse:
-- Tu estás deslumbrante! Todos vão olhar para ti e eu vou ficar com ciúmes.
-- Não sejas bobo, meus olhos são teus.
Ele a beijou no rosto e saíram rindo. Ele a conduziu até o carro a ajudou a entrar e tomou seu lugar e foram para o clube. O salão onde seria a festa estava lotado, procuram uma mesa para dois, e sentaram. Marcos não parava de olhar para ela, e pensava: “ hoje terei o momento ideal para me declarar para ela. Acho que não serei rejeitado porque ela está agindo diferente comigo. Mais carinhosa e até ousada nas palavras. Vou arriscar.”
O jantar foi servido individualmente, uma comida deliciosa. Pediram vinho para acompanhar a janta. Depois da sobremesa iniciaram as danças. O repertório do conjunto que animava era romântico, aliás, o tema do jantar era poético, “Jantando a Média Luz”.
Marcos estendeu a braço sobre a mesa e pegou sua mão, enquanto a olhava firmemente, e ela mantinha o olhar. Havia um clima entre eles. Ele beijou sua mão e a levou para a pista de dança.
O conjunto tocava uma seleção de  boleros e ele cantava ao seu ouvido. Ela se abraçou a ele e estavam dançando bem juntinhos como se fossem namorados. Ele a apertou mais. Ele estava inebriado pelo perfume que exalava dela. Mas ela também estava gostando de sentir o cheiro delicioso dele.
Num breve intervalo da música eles ficaram parados de mãos dadas e se olhando apaixonadamente. Então Marcos falou bem baixinho ao ouvido dela:
-- Eu te amo!
Ela sorriu e disse:
-- Eu te amo!
A música recomeçou e voltaram dançar, agora mais envolvidos  em uma abraço e trocando beijos suaves. Dançaram por um bom tempo. Depois voltaram para a mesa e pediram um espumante para brindar o amor que os unia.
Saíram do clube e deram uma volta de carro pela praça do balneário, e  Marcos estacionou o carro de frente para o mar. Ficaram apreciando a claridade de lua que brilhava sobre a água. Estavam ali abraçados e beijaram-se com paixão, com sede de amor. Embora estivessem cheios de desejo Marcos optou por levá-la  para o hotel, não deveria abusar. Então a acompanhou até a porta de seu quarto e despediu-se com um beijo suave em seus lábios. Murmurou  boa noite e foi para seu quarto.
Melissa estava feliz, deu voltas em seu quarto dançando de felicidade. Sim Marcos era o seu amor, era o seu par para vida inteira. Ela teve dificuldade para dormir, pois a lembrança dos beijos que trocaram, e isso a deixou muito“ligada.”
Marcos também ria sozinho, ela o amava. Não conseguia conciliar o sono porque o gosto de Melissa permanecia em sua boca. 
Na manhã seguinte ele a buscou em seu quarto para tomarem café juntos. Seus pais ainda estavam à mesa, e reparam que eles chegaram de mãos dadas. Marcos logo anunciou a mudança de “status” de bons amigos para relacionamento sério. Todos saudaram o jovem casal.
Foram à praia e caminharam abraçados pela praia. Paravam para se beijar, apostavam corrida e se abraçavam outra vez. Irradiavam felicidade. Era o último dia do ano. A noite teriam outra festa, talvez hoje...
Festa de Ano Novo no hotel era a fantasia. Melissa já havia se preparado, e sairia de “Dama Antiga”. Tinha mandado fazer um vestido de cintura alta, com decote U bem pronunciado e com mangas curtas e bufantes.. O tecido era em seda branca e a fita que passava abaixo do busto era na cor azul, como seus olhos. Ela mesma tinha bordado o corpete do vestido com miçangas brancas. Melissa prendeu o cabelo de acordo com a época da roupa, deixando pequenos cachos caídos.
Marcos tinha escolhido uma fantasia de “ D’Artagnan, o Mosqueteiro” e estava muito alinhado. Quando o casal entrou no salão todos  olharam porque formavam um par perfeito.
Ele ainda a admirava dizendo:
-- Minha Lady tu estás maravilhosa. Sinto muito orgulho de ser teu par.
-- Obrigada, meu Lord. Tu também não estás para ser jogado fora.
E achavam graça de si mesmo. Seus familiares também elogiaram as fantasias deles e da incrível coincidência de estarem combinando no tema épico.


Naquela noite da virada do ano após o brinde. Eles saíram do salão e foram para a sacada de onde apreciavam a beleza dos fogos ao longe. Estavam abraçados trocando juras de amor. E se prometeram amor e fidelidade. Nada e nem ninguém iria impedir o amor deles.
Quando Marcos foi levá-la até seu quarto, Melissa não o deixou ir embora. Ele entrou a abraçou e se acariciaram, e logo estavam na cama. Ele sabia que seria a primeira vez de Melissa, por isso foi carinhoso e gentil com ela, e se entregaram sem restrições, deixando o amor agir e o desejo ser saciado. Estavam felizes e dormiram abraçados.
Os dias passaram e a cada dia se amavam mais. Quando Antonio retornou de viagem, ele ficou surpreso com a novidade. O namoro entre seus amigos.
Antonio não esperava uma traição de seu melhor amigo,  Marcos, que sempre soube de seu amor por Melissa. Ele se afastou dos amigos. Não suportava ver os dois juntos.
Já se passara dois anos e Helena, a irmã de Marcos, iria casar e os convidou para serem suas testemunhas de casamento. Foi um momento especial para eles, pois Melissa e Marcos estavam querendo casar e se imaginaram ali, diante de Deus se prometendo amor eterno.
Depois da lua de mel, Helena e Marcelo, iriam morar e Sentinela do Mar. Embora todos estivessem tristes com a distância que separariam da querida filha e irmã, eles esperavam que o novo casal vivesse feliz.
Mas Milton, pai de Marcos, sofreu um infarto fulminante e morreu. Sua mãe resolveu morar perto da filha. E Marcos precisou deixar a faculdade porque necessitava trabalhar. E a empresa que o empregou o mandou para a África.
E esse giro que aconteceu em suas vidas, deixou os jovens namorados desesperados. Amavam-se, mas sabiam que teriam muitas dificuldades. A despedida foi difícil.
Marcos levou Melissa para passarem o fim de semana em uma pousada na serra. O lugar era lindo. Cada quarto tinha o nome de uma flor. E o quarto deles era o Amor perfeito.
Queriam boas lembranças, queriam eternizar esse fim de semana. Choraram, riram, passearam e se amaram. Marcos sussurrava ao ouvido de Melissa:
-- Confia em mim, eu te amo. Eu vou voltar para ti. Não deixe de me amar...
-- Eu te amo e sempre vou te amar. Eu confio em ti. Eu sei que vais voltar...
-- Meu amor, eu vou para um lugar estranho, não sei como será nossa comunicação, mas lembra que a cada momento estarei contigo no meu coração, em meu pensamento... Talvez eu demore a voltar... Mas eu volto para ti. Confia.
-- Eu confio. Eu sei que voltarás para mim....
Na segunda feira ela o acompanhou ao aeroporto, e foi muito difícil. Melissa esperou o avião decolar e voltou para casa. Uma tristeza tomou conta dela. Perdeu a alegria. Ela confiava nele, mas a sua ausência era insuportável.
Melissa não se conformava com a ausência de Marcos. Por que o pai dela não ofereceu trabalho para Marcos, já que tinha uma construtora? Definitivamente seus pais não eram favorável a esse namoro.
Dedicou-se inteiramente aos estudos. Conseguiu um estágio e gostava de seu trabalho.  Formou-se com louvor, era o primeiro lugar da turma. E Melissa, que era filha única, ganhou de seus pais uma Farmácia de Manipulação. Consagrou-se inteiramente ao trabalho. Os dias transcorriam, e Melissa estava magra, abatida e sem brilho.
Antonio assistia ao sofrimento de Melissa. Foi visitá-la, tentou animá-la, mas sem êxito. Resolveu então apenas ficar perto dela. Uma presença silenciosa. E assim fazia, todos os fins de semana ele ia para casa dela e apenas ficava perto dela.
Marcos tinha dificuldade em se comunicar com Melissa. Embora o mundo estivesse conectado, o lugar onde ele estava era isolado e a comunicação era precária. Ele escrevia uma carta por semana, mas Melissa recebeu apenas algumas. Ela agora com o endereço, escrevia para ele quase todos os dias. E juntava e envia na segunda feira. Toda a segunda feira ela enviava uma carta para ele. Ele recebeu apenas algumas.
Mas Melissa lembrava-se do pedido que ele tinha feito,”confia, eu volto para ti...” O tempo passava e todos perderam a esperança no futuro daquele namoro.
Faziam dois anos que Marcos tinha ido embora. Ela ainda tinha esperanças, esperava e confiava no seu amor. Os pais dela estavam preocupados. Pois, Melissa não voltara a ter alegria. Incentivavam para que ela aceitasse os convites de Antonio para sair, para se distrair.
Os noticiários da TV, daquela semana, falavam sobre região da África tinha sido devastada por chuvas intensas, grandes enchentes e o numero de vitimas era grande. Que operários que trabalhavam na construção de uma ponte tinham sido carregados pela enxurrada.
Melissa se desesperou. Entrou em contato com a empresa em que ele trabalhava para obter informações, mas o funcionário disse que não estava autorizado a falar a respeito. Ela procurou por Helena, que também estava ansiosa por noticias do irmão.
Passado um mês, Helena telefonou para Melissa dizendo que Marcos fora dado como desaparecido. Não haviam encontrado o corpo dele, devia estar soterrado assim como muitos outros. Todos lamentaram. E Melissa perdeu a esperança de que ele estivesse vivo.
Daquele dia em diante ela aceitou a companhia de Antonio, que a convidava para ir ao cinema, jantar, passear... Melissa não era mais a mesma, se tornara uma pessoa melancólica.
Antonio tentava animá-la. Agora fazia um ano do desaparecimento de Marcos. Ele havia esperado passar esse tempo para pedir Melissa em casamento. Sabia que os pais dela o apoiavam. Então ele a convidou para jantar.
Antonio a levou em um restaurante novo na cidade, que ficava na cobertura de um prédio e de lá se avistava a cidade. Era um ambiente chique e seria o lugar ideal para se declarar. Tinha até comprado um anel. Ele se arrumou com esmero, usava um blazer azul marinho, calça cinza e camisa branca.
Melissa vestiu-se sem muito entusiasmo. Sabia que deveria colocar um vestido mais social, pois o lugar do restaurante assim exigia. Escolheu um vestido preto simples, sem manga e decote redondo. Colocou uma corrente de ouro com a medalha de Nossa Senhora Aparecida. Levou um xale preto de abrigo.
Antonio quando a viu ficou feliz, porque ela havia se arrumado, e isso era um bom sinal. Ele beijou seu rosto e a levou até o carro. Eles ficaram o trajeto todo em silêncio. Quando chegaram, ele a conduziu até mesa que estava reservada para eles. Era em um canto junto à janela.
Fizeram o pedido, apreciaram a vista e conversaram. Antonio elogiou a elegância dela e ela também notou que ele estava alinhado. Pediram um vinho e bebericaram enquanto conversavam.
Após a sobremesa Antonio pegou a mão de Melissa, tomou coragem e disse:
-- Melissa tu sabes que eu sempre te amei. E eu penso que está na hora de tomarmos um rumo em nossa vida. Por isso te pergunto, aceita casar comigo?
Ela ficou assustada, nunca imaginou uma cena dessas. Antonio era seu amigo, o amor de sua vida foi Marcos. Não haveria outro. E ela não queria magoar seu bom amigo. Não sabia o que dizer. E falou:
-- Meu querido amigo, eu não sou a pessoa indicada para te dar felicidade. Não posso. Meu amor sempre foi para o Marcos. Jamais vou esquecê-lo.
-- Eu sei. Mas o meu amor por ti é muito grande, eu te quero mesmo sabendo que nunca me amarás.  Sei que sou teu bom amigo, e isso me basta. Aceita?
-- Preciso pensar... Dá-me um tempo.
-- O tempo que precisares. Mas posso te considerar minha namorada?
-- Não, ainda não. Eu estou com o coração apertado em te dizer esse não, mas ainda não estou pronta, não posso. Me desculpe.
E lágrimas rolaram em sua face. Seria muito melhor que Antonio não tivesse criado essa situação, era o que Melissa pensava. E agora? Haveria constrangimento entre eles.
Antonio pagou a conta e foram embora. Ele estava triste, talvez tivesse sido precipitado. Como ficaria a relação deles?

Depois desse dia Melissa não aceitou mais sair com Antonio. Fechou-se em si mesma. Ele também não apareceu mais. Mas os pais de Melissa insistiam para que ela levasse Antonio em consideração. Ele era um rapaz bom, e seria um ótimo marido para ela.
Melissa acabou cedendo, e aceitou Antonio como seu noivo. Todos estavam felizes, menos ela, que fingia estar tudo bem. Mas ela marcou a data do casamento para oito meses depois. Precisava se acostumar com a idéia.
Dona Sônia, mãe de Melissa, estava muito feliz, já planejando a cerimônia e a festa, pois, sua filha lhe dera carta branca.
Passados alguns dias da decisão, Melissa ainda pensava se realmente tinha feito a coisa certa. Todos queriam que ela aceitasse Antonio, mas seu coração não concordava. Ela havia prometido a Marcos o seu amor. Em seu intimo ela não acreditava que Marcos estava morto. Se ele estivesse vivo ela estaria traindo seu amor, sua confiança.
Melissa não conseguia dormir, estava ficando doente, de tanta angústia. Resolveu ter uma conversa franca com Antonio. Precisava se livrar desse compromisso. Pediu a Antonio que viesse falar com ela na farmácia. Não queria interferência de ninguém. Apenas os dois. Após o expediente ela preparou um café e esperou por Antonio, que logo chegou.
Ele chegou alegre, não sabia qual o motivo dela querer essa conversa fora de sua casa. Mas esperava que fosse sobre o casamento, talvez ela tivesse decidido morar com ele, antes do casamento. Sua expectativa era grande.
Antonio bateu de leve na porta e entrou na farmácia. Melissa o cumprimentou e passou a chave na porta. Sentaram no escritório e ela ofereceu a ele um café. Ele chegou bem falante, contando sobre seu dia, enquanto ela apenas o escutava. De repente ela disse:
-- Antonio, o nosso assunto é sério. Eu estive pensando muito em nós, e devo ser leal a ti e a nossa antiga amizade. E o nosso casamento será um grande erro.
-- Melissa! Por que um grande erro?
-- Nunca escondi nada de ti, e tu sabes que não te amo. Meu coração sempre pertenceu a Marcos, ainda pertence, e tenho esperança que ele esteja vivo. Seria uma traição se ele me encontrasse casada. Não posso, não quero, prometi esperar por ele...
-- Mas, minha querida, se ele estivesse vivo, ele teria entrado em contato, pelo menos com a família dele. Eu sei que tu telefonas para a Helena seguidamente.
-- Sim, eu ligo toda a semana.
-- Então. O que ela te diz? Ela tem esperança?
-- Não. Ela se conformou com o anúncio do desaparecimento dele. Tu sabes que ontem falei com ela e dona Odete está bem doente, ela acha que não dura muito. Está muito fraca, com o passamento de Marcos, ela entrou em depressão.
-- Coitada...
-- É mesmo, eram uma família tão feliz, alegres, divertidos e depois do falecimento de seu Milton, foi só tristeza. Tenho dó de Helena, que desde que casou só aconteceu tragédia na família. Como consegue ter alegria no casamento?
-- É... Coisas da vida. Mas vamos voltar ao nosso assunto. O que tu queres então?
-- Eu quero desfazer o nosso compromisso. Tu sabes que eu aceitei sob pressão, de meus pais, teus pais e tua também. Agora eu tenho estado aflita, não posso casar. Ainda não.
-- Queres mais tempo?
-- Não, eu quero que procure outra moça, porque eu não vou te fazer feliz e seremos os dois infelizes. Antonio tu és um cara legal, és bonito, és educado, gentil e carinhoso. Tu tens muito amor para dar. Procura uma pessoa legal para ti. Eu sei que vais encontrar.
-- Mas eu te amo.
-- Mas de que adianta tu me amar se eu não te amo. Eu te quero bem, quero que sejas feliz.
-- E tu que vai fazer de tua vida?
-- Eu vou seguir com meu trabalho que me traz benefício. Eu gosto do que faço. Não te preocupas comigo, eu vou estar bem.
-- Eu não sei...
-- Sabe sim. Vai procura alguém que te mereça o teu amor. Vai ser feliz meu querido amigo.
-- Não sei...
-- Então vamos juntos comunicar a família a nossa decisão?
-- Vamos.
Melissa apagou as luzes, fechou a farmácia e subiram para casa. Dona Sonia estava servindo o jantar, tinha esperado por eles, mas Ângelo estava com fome. E ela decidiu não esperar mais. Mas eles chegaram bem a tempo e agora todos jantariam juntos.
O pai de Melissa percebeu que tinha algo errado e perguntou:
-- O que está acontecendo?
-- Nada, pai. Depois falamos.
Antonio estava calado, carrancudo e mal tocou na comida. Melissa estava tranqüila e até comeu. Sonia intuiu problemas no ar. Mas não disse nada. Depois que foi servida a sobremesa, todos passaram para a sala de estar onde Sonia serviu o café.
Tinha uma montanha de louça na cozinha para lavar, mas ela não deixaria a sala por nada. Depois limparia a cozinha. Ângelo que era sempre muito discreto apenas disse:
-- Então???
Foi Melissa quem falou:
-- Pai, mãe, eu e Antonio conversamos e decidimos desfazer o nosso compromisso. Não vai haver mais casamento.
Sonia arregalou os olhos, se virou para Antonio e perguntou:
-- Não vai haver casamento?
-- Não dona Sonia. Decidimos assim.
-- Decidimos? Ou foi Melissa quem decidiu?
-- Não, nós conversamos e decidimos juntos.
Antonio sabia que tinha sido quase que coagido a concordar com Melissa, mas iria assumir perante todos a sua parcela na decisão.
-- Filha, diga para seu pai, o que aconteceu?
-- O que aconteceu, pai e mãe, é que nós achamos que seria um erro, que não seriamos felizes. Então é melhor desistir antes. Eu não  tenho mais alegria de viver, não seria justo, com Antonio, ele pode ser feliz. Ele vai achar quem o faça feliz como tem direito a ser.
-- É seu Ângelo, nós pensamos e concluímos que seria um grande erro, Nenhum de nós seria feliz. É isso.

Melissa agora estava tranqüila, com seu coração sossegado. Sua missão era ajudar a Antonio ser feliz. E ela queria apresentar para ele uma moça que era cliente da farmácia. Ela sabia que Alice o chamava de bonitão, e que gostaria de conhecê-lo.
Dali a dois dias Alice entrou na farmácia para pegar suas encomendas e Melissa puxou conversa com ela. Ela a convidou para irem até o escritório. Ofereceu um café, e foi direto ao assunto.
-- Alice desculpe se vou ser intrometida, mas várias vezes, eu observei que te referes ao Dr. Antonio como o “bonitão”. Tu gostarias de ser apresentada a ele?
-- Melissa... Assim eu fico constrangida...
-- Peço desculpas mais uma vez pela minha indelicadeza. Mas não me respondestes.
-- Bem... Eu o acho lindo, um gato... E gostaria sim de ser apresentada a ele... Ele parece ser tão tímido.
-- Ok. Vamos providenciar. Ele é um bom amigo, crescemos juntos, ele teve um decepção amorosa e eu quero ajudá-lo a superar. Por isso me lembrei de ti, Tu és bonita, simpática e com certeza vai conquistar seu coração.
-- Tomara. Como e quando vai ser?
-- No sábado, vou combinar com ele na cafeteria da praça, por volta das 17,30h. Eu fecho a farmácia às 17h e vou para lá. Encontraremos-nos lá ou queres vir aqui para chegarmos juntas.
-- Venho aqui.
-- Combinado. Qualquer contratempo te aviso.
Alice saiu rindo sozinha. Ela realmente tinha uma queda pelo bonitão que sempre passava em frente a sua loja. Ela tinha certeza que ele nunca a tinha visto. Ele era muito tímido e concentrado. Andava sempre ligeiro e não olhava para os lados. Ela sempre estava à porta da loja para vê-lo passar.
Alice era uma moça de 25 anos, não era muito alta, era esguia e muito elegante. Seu rosto era delicado, tinha os olhos grandes e escuros, sua pele clara e seus cabelos aloirados. E ela era gerente de uma butique de roupas femininas, que trabalhava com artigos de fina qualidade. Estava na cidade a cerca de um ano e não tinha amigos.  Por isso quando ia a farmácia gostava de conversar com Melissa.
Melissa convidou Antonio para tomarem um café juntos, ela queria conversar com ele. Claro que ele aceitou. Mas quando ele viu Melissa chegar com Alice, que ele já havia reparado que sempre estava a porta de loja quando ele passava, logo percebeu qual era o assunto dela.
Melissa os apresentou, tomou um café e depois pediu licença e saiu. Deixou os dois conversando. Que Deus os ajudasse e eles se entenderiam. Alice era uma boa moça. Pelo menos aparentava ser.
No outro dia Antonio telefonou para Melissa agradecendo pelo “golpe”. Realmente Alice era uma moça bem interessante, era culta, educada e muito cativante, claro, e também era muito bonita. Eles tinham combinado de sair logo mais.
Melissa ficou feliz.
Era domingo, mas ela desceu até a loja para verificar se estava tudo certo. A noite tinha chovido e tinha faltado luz. Quando ela chegou viu um homem , parado no outro lado da rua, olhando para farmácia. Ele tinha aparência de uma pessoa doente, e não estava bem vestido. Talvez precisasse de algum medicamento. Ela pensou em falar com ele, mas quando ela o procurou não o achou. Ele tinha sumido.
A semana inteira choveu. E Melissa não viu mais o homem.
Seus pais, que estavam aposentados, queriam morar no sitio. Mas estavam preocupados com ela, que ficaria só. Mas Melissa os incentivou a irem. Ela ficaria em um apartamento menor.
O prédio em que moravam era um pequeno edifício, com duas lojas no térreo, garagens e com um apartamento grande no primeiro piso, que era onde moravam e mais quatro apartamentos, sendo dois no segundo piso e dois no terceiro piso. Seu pai que tinha construído para eles morarem.
E assim ela mudou-se para o apartamento menor do segundo piso, e era de frente para a rua. Depois de estar tudo ajeitado no apartamento dela, foi que seus pais desocuparam o apartamento em que viviam e o colocaram para alugar.
Melissa pela manhã sempre pegava sua xícara,  e ia até a janela para observar a rua, enquanto bebia seu café. E lá estava outra vez o homem, que agora olhava para a janela dela. Ela ficou intrigada com aquilo. Quem seria? Por que a cuidava? Seria algum delinqüente? Bem ficaria atenta.
Um dia ela resolveu que falaria com aquele homem, porque se fosse para fazer algum mal a ela, já teria praticado, e, se fosse para pedir algum medicamento, já teria pedido. Ela só saberia se falasse com ele. Mas teria que o surpreender. Então naquele dia saiu bem mais cedo de casa e ficou escondida atrás de uma árvore. Quando ele chegou, ela viu que ele olhava para a janela dela com ansiedade. Ela chegou bem devagar e disse:
-- Bom dia, senhor. O que quer de mim?
O homem assustou-se, virou rápido para ela, baixou a cabeça e tentou se afastar, mas ela estava segurando seu casaco. Então ele parou e disse:
-- Bom dia, moça.
Ela estremeceu, aquela voz era de Marcos, era ele! Como ele estava desfigurado, maltratado e maltrapilho. O que tinha acontecido com ele? E ela disse:
-- Marcos! És tu mesmo?
-- Sim.
Ela abraçou-se a ele e chorou. Levou ele para seu apartamento. Avisou para sua funcionaria que não iria à parte da manhã, mas que ela estaria em casa, Serviu um café para ele, e preparou ovos mexidos, e fez torradas. Ele estava mal alimentado.
Não perguntou nada. Esperou que ele terminasse seu café. Apenas olhava para ele. Sua cabeça funcionando a mil. Que teria acontecido? Ele comeu pouco. Depois olhou para ela e em seu olhar havia muito sofrimento.
Ela perguntou pela saúde dele, pois ele estava com aspecto doentio. Então ele começou a falar. Devagar, fazendo longas pausas, mas contou tudo. Ela escutava e chorava.
Marcos começou respondendo a pergunta que ela fizera.
-- Sim eu estou doente, contrai   esquistossomose. Precisava de tratamento constante, mas como eu tinha que dar jeito de voltar para o Brasil, eu piorei. Melissa disse;
--  De agora em diante eu vou cuidar de ti, e  vamos fazer o tratamento corretamente. Precisas de uma boa alimentação e de tranqüilidade. Tudo isso terás. Eu prometo.
Ele chorou, se acalmou e seguiu contando:
“Nós éramos um grupo de vinte homens, fomos levados para um lugar isolado, sem comunicação, para construir uma ponte e no início tudo corria bem. Recebíamos nosso salário conforme o combinado, nós tínhamos alimentação e alojamento muito precário. Todos nós tínhamos deixado família aqui, escrevíamos cartas na esperança de logo receber noticias, mas as cartas não eram enviadas, apenas algumas. Eu tenho os rascunhos de todas as cartas que te enviei. De repente as coisas começaram a ficar ruim, alimentação que antes era farta, ficou restrita, o salário não foi mais pago e nossos documentos estavam retidos.  Estávamos escravizados! Eu pensei no primeiro momento em fugir. Mas eu nem sabia direito onde estava, não tinha mapa, nada como referencia. Então veio aquela chuvarada. Quando a chuva começou, eu falei para um companheiro, que ia embora, não ia ficar ali, pois aquele solo era fofo demais, iria desmoronar. Ele concordou comigo e fugimos. Eu tinha guardado dinheiro e algum alimento seco. Coloquei tudo na mochila e saímos na chuva. Andamos dois dias na chuva, até eu escorregar e quebrar o pé. Fizemos uma tala e meu companheiro me ajudou até chegarmos a um vilarejo. Ali começou uma febre, o pé estava infectado. Ali perto tinha um alojamento dos médicos sem fronteira. Me levaram para lá. A febre era muito alta e entrei em coma. Fiquei bastante tempo. Quando acordei não sabia onde estava. Tinha dificuldade de pensar, de saber quem eu era. Meu companheiro tinha seguido viagem. Melhorei, fiquei por ali, até ficar mais forte. E lembrei de tudo. Então procurei um modo de vir para cá. Atravessei  por campos abertos e tomei banho em açudes e foi ai que peguei essa maldita doença. Fiquei outra vez fraco, sem forças para andar. Fui ajudado por dois padres missionários. Acolheram-me e me alimentaram e orientaram como devia fazer para voltar. Então consegui chegar, vim direto para cá, queria ao menos ti ver. Meu coração doía de tanta saudade. Não sabia se estavas sozinha, ou quem sabe casada... Faz tempo que eu estou na espreita. Foi isso que aconteceu. Já se passou quatro anos.”
Melissa perguntou:
 -- E não procurastes a Helena?
-- Eu tentei ligar, mas não era aquele número.
-- Bem, depois resolvemos isso. Agora eu quero saber onde tu estas morando.
-- Eu aluguei um quarto numa pensão barata.
-- O que tens lá para pegar?
-- Nada. Tudo que tenho está aqui comigo.
-- Então, tu vai tomar um banho e depois deitar, descansar.. Eu vou providenciar roupas para ti e um médico para te examinar.. E vais ficar  aqui comigo. Vou cuidar de ti.
-- Mas Melissa, eu vou atrapalhar tua vida. Eu não tenho mais nada a ti oferecer. Não posso aceitar.
-- Pode sim. Pelo menos por agora, depois a gente vê como fazer. Certo?
-- Certo.
Enquanto ele tomava banho ela telefonou para a loja vizinha a farmácia e pediu que levassem até ela: pijama, meias, cuecas, camisas, calças, abrigo, casaco, suéter. Chinelo e tênis.
Ela arrumou a cama para ele deitar, Marcos estava nu, e ela pode ver como ele estava magro. Isso doeu nela. Aquele rapaz tão perfeito de corpo agora estava neste estado de fraqueza. Ele deitou-se, mas não dormiu. Estava esperando por ela.
As roupas chegaram. Ela ajudou ele vestir o pijama. Agora estava mais apresentável. Disse a ele que as roupas velhas seriam jogadas fora. Ela já tinha revisado os bolsos e pego tudo o que tinha neles.
O médico logo chegaria. O que ele queria comer. Ela precisava providenciar. Ele pediu uma sopa. Então Melissa foi fazer. Tinha legumes e frango em casa. O meédico chegou.
Dr. Artur examinou, fez perguntas e mandou fazer uma série de exames. Era melhor o laboratório vir colher o material. Seria bom se ele observasse repouso. Alimentação deveria ser leve, e a cada duas horas comer alguma coisa. O ideal seria frutas variadas, gelatinas, iogurtes...
Melissa fez tudo como o médico indicou. Marcos já estava com outra aparência. Os exames dele não tinham acusado esquistossomose. Melissa ficou aliviada. Ele estava muito fraco, anêmico, com todos os números muito baixos. Ele iria se recuperar.
Marcos agora estava melhor, mais animado, mais fortalecido e tinha falado com sua irmã, que deu a noticia da morte da mãe. Ela viria vê-lo. Ficou contente que Melissa estava cuidando dele.
Os pais de Melissa quando souberam não gostaram nada da atitude dela de acolhê-lo dentro da casa dela. Isso era comprometedor demais. E Melissa nem se cansou em discutir com eles.
Antonio foi visitá-lo, ficou chocado com a aparência do velho amigo. Mas nessa visita Antonio aproveitou a oportunidade para dizer que estava em um relacionamento sério com Alice. Que no fim de semana ela viria com ele, para conhecer o Marcos.
Os dias passaram rápidos e Marcos agora já recuperado se sentia constrangido de estar ali, à custa de Melissa. Então ela propôs a ele, que trabalhasse na farmácia com ela. Ela precisava de um administrador, que cuidasse dos pagamentos e enfim de várias  coisas que tomavam muito o tempo dela. E ele aceitou.
Tudo estava tomando o rumo certo, assim aparentava.
Embora Marcos estivesse morando  no apartamento de Melissa, eles não dormiam juntos. Ele precisava de repouso como o médico havia dito. Mas agora ele estava bem e o Dr. Artur havia dado alta a ele. Ele poderia levar uma vida normal.
Marcos ainda era muito apaixonado por ela, mas não sabia como agir. Resolveu ter uma conversa franca com ela. E foi dizendo:
-- Melissa, eu preciso te agradecer por tudo que fizestes por mim. Cuidastes de mim com carinho e dedicação. Sem isso talvez eu já estivesse morto. Mas acho que não devo mais atrapalhar tua vida.
-- Tudo que eu fiz foi por amor. Eu ainda te amo. Tu não precisas me agradecer e também não me atrapalhas em nada. Pelo contrário, tu acalmas meu coração. Mas se tu achas que precisas ir porque não me queres é diferente. Não vou te prender. És livre.
-- Mas antes que tu te vás eu quero te entregar toas as cartas que eu te escrevi, porque copiei todas elas.
Melissa foi buscar e entregou a ele uma caixa que ele abriu para pegar as centenas de cartas escritas para ele. Sentou-se no sofá e leu cada uma delas. Ele estava emocionado e lágrimas corriam de seus olhos. Também foi buscar seu pacote de cartas e entregou a ela.
Melissa leu todas as cartas enquanto ele a olhava intensamente.
Depois que leu a última carta, Melissa levantou-se do sofá e foi para a janela olhar a rua. Mas não conseguia enxergar nada, porque seus olhos estavam marejados de lágrimas.
Marcos também levantou e foi até ela. Abraçou e disse:
-- Eu nunca deixei de te amar. Sou louco por ti. Mas não te mereço, não estou a tua altura. Sou um joão-ninguém
-- Não, não és. Estás trabalhando.
-- .Mas dependo de ti.
-- Ora, isso é orgulho bobo.
-- Se estamos trabalhando juntos, não estás dependendo de mim. Deixa de criar caso. 
-- Teus pais não me aceitam.
-- O problema é deles. A vida é minha e eu decido. Agora chega desse assunto, Se não me queres vai embora. Decide.
Marcos a abraçou mais forte e girou para olhar para ele. Ela levantou o rosto para ele e lágrimas escorriam. Ele as secou com beijos. Tomou seus lábios e a beijou com paixão. E sussurrou:
-- Eu te amo, eu te quero tanto que chega a doer em minha alma.
-- Eu te amo tanto que dói meu peito.
-- Eu estou faminto de ti... Eu preciso de ti... Vamos nos amar...
E se amaram com loucura. Queriam apagar toda a dor que a ausência dele tinha dilacerado em seus corações. E cansados dormiam abraçados, para depois novamente se entregarem a paixão ao amor que os unia. Sorriam, porque depois de tanto sofrimento eles vislumbravam uma vida de felicidade.
                                                          Maria Ronety Canibal


                                                               Junho 2017
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