O
TEU AMOR
Era
fim de tarde e Mariana caminhava pela praia. Era o momento que ela mais apreciava
o mar, quando os derradeiros raios de sol se projetavam sobre as ondas.
Ela
voltava para casa naquela tarde olhando para o mar, e não viu a sua frente, um
rapaz que parado a beira da água, que também olhava o mar, e esbarrou nele. Ela
muito envergonhada, se desculpou e seguiu apressada.
Apesar de ter sido uma fração de segundo, ela
não deixou de reparar nele. Em sua mente ele se apresentava como um cara alto, forte e muito bonito. Mas o
achou muito antipático, e tinha a sensação de que ele não a tinha desculpado
por sua falta de atenção.
Mariana
era uma pessoa muito simples, apesar de estar em uma praia frequentada pela
classe alta. Ali, ela se achava um “peixe fora d’água”. Sua tia, irmã de seu
pai, que tinha uma bela casa a beira do mar, sempre a convidava para a
temporada de verão, pois, ela e a prima Bruna se davam muito bem.
Mas,
Bruna estava integrada com os jovens da praia, eram seus amigos, desde a
infância, e todos estudaram na mesma escola, e era muito natural que Bruna
fosse convidada para as festas e reuniões organizadas por seus amigos.
Bruna
gostava sinceramente da prima e insistia para que ela a acompanhasse sempre nas
atividades organizadas pela turma. Porém Mariana tinha consciência de que não
pertencia aquele ambiente, e mesmo que os amigos de Bruna, se mostrassem
simpáticos e atenciosos, ela não se sentia a vontade no meio deles, não tinha
nem assunto para conversar com eles.
Naquela tarde mesmo, ela havia recusado ir a
um “happy hour” na casa de Diego, preferiu ir fazer sua caminhada na praia.
Ao
chegar em casa, Mariana foi para seu quarto, tomar banho e se arrumar para o
jantar, pois sabia que naquela noite, seus tios teriam convidados. Sua tia tinha um estilo de vida muito
diferente ao que ela estava habituada na chácara, onde vivia com seu pai.
Bruna
sabendo que seria um jantar de negócios, deu um jeito de escapar. Já era quase
hora dos convidados chegarem, quando ela ligou para sua mãe, avisando que
chegaria bem mais tarde em casa.
Tia
Zilda ficou contrariada e falou para o tio Luís, e este ficou furioso com a filha.
E comentou:
-- Essa nossa filha não tem jeito. Não pensa
no seu futuro.
--
Pois é, disse tia Zilda, vai perder uma ótima oportunidade de conhecer o melhor
partido da temporada.
Mariana só escutou. Sua tia se aproximou dela
e a observou e disse:
--
Muito bem, escolheste uma roupa adequada, que te assenta muito bem.
Mariana
era bem feita de corpo, não era do tipo magra, e sim do tipo curvas perfeitas.
Tinha a pele bronzeada que realçava seus cabelos loiros e seus olhos azuis. E
ela estava usando um vestido longo em tecido de Jersey acetinado com fundo claro e estampas florias em tonalidades azuis. Ela tinha feito uma maquiagem
suave e deixado os cabelos soltos, que eram levemente ondulados e caiam até os
ombros.
Seu
tio já tinha avisado que seria um jantar de negócios, e que depois da
sobremesa, as mulheres deveriam se retirar. No caso, as mulheres seriam apenas
sua tia e ela. O tio era um bem sucedido industrial, que trabalhava com
metalurgia.
Foi
quando a campainha tocou e Luís foi abrir a porta, e para espanto de Mariana, quem ali estava era o cara que ela tinha “atropelado” na praia, acompanhado de
outro rapaz. Ela chegou a corar de vergonha, quando foi apresentada para ele. Ao
ser apresentada ela não deu mostras de reconhecê-lo, e ele procedeu da mesma
forma. Foi uma apresentação formal, mas Mariana estava encabulada.
O
jantar transcorreu agradavelmente, no entanto, Mariana praticamente não participou da
conversa, que versava sobre viagens e cidades europeias e asiáticas. Ela não
tinha o que falar, pois nunca tinha viajado.
Ela o olhava enquanto ele contava suas
“aventuras” pela Ásia. Mariana não conseguia definir se ele era mesmo esnobe ou
idiota. Já o outro rapaz era muito simpático e agradável, chamava-se Marcelo
Grün.
Conforme tinha sido ordenado, quando terminou o jantar ela sumiu da sala. Foi sentar na
varanda e apreciar a noite estrelada.
Depois de algum tempo ela ouviu barulho na porta e viu os dois se
afastando. Entrou porque queria ouvir as observações de sua tia sobre os
rapazes. E Zilda disse ao marido:
--
Esse Frederico Blaus é muito altivo, tem o rei na barriga. Já o Marcelo é muito
alegre e expressivo. Gostei muito dele. Só lastimei que Bruna não estivesse
presente.
--
Sim, nossa filha escapou. Mas Frederico é riquíssimo. Se ele é considerado
arrogante é por causa de sua posição social e de sua esmerada educação. Imagina!
Ele foi educado na Suíça, em uma das melhores escolas do mundo. Ele é um rapaz
muito inteligente e apesar da pouca idade é muito responsável, sobretudo, em relação
aos negócios. Observou o tio Luís. – e voltando-se para Mariana perguntou:
-- O que tu achaste?
-- Eu achei o Marcelo mais agradável do que o
Frederico.
-- Esse Marcelo é boa pessoa. Ambos não têm
mais os pais. Marcelo tem duas irmãs, a mais velha é casada e mora em Los
Angeles, e a outra, mais nova, ainda estuda num colégio na Inglaterra. Deve ter 17 anos. O Frederico é
completamente só. Faz cerca de três anos
que ele perdeu sua família em um acidente, quando o helicóptero que viajavam explodiu em pleno
voo, em Ohio no Estados Unidos. Seus
pais e seu irmão morreram. – disse Luís.
-- Que historia triste... -- Observou Mariana.
-- E ele resolveu morar aqui? – perguntou
Zilda.
--
Sim, ele está se estabelecendo aqui no sul, embora tenha negócios em vários
países. Marcelo o convenceu. – respondeu Luís.
-- Ele e Marcelo são amigos de longa
data?—perguntou Mariana.
--
Cursaram a faculdade juntos em Harvard. São formados em Comercio e Economia.
-- E tu encaminhaste algum negócio com eles?
– Quis saber Zilda.
-- Não! É preciso ir com cautela. A família
de Frederico trabalhava com siderurgia. Mas, aqui, eles querem entrar para o
ramo da indústria. Estão, por enquanto, só especulando.
A
conversa cessou e Mariana foi para seu quarto. Deitou-se e ficou pensando em
tudo que o seu tio tinha falado. Mesmo sabendo de sua triste história, ela não
conseguia ver Frederico com simpatia. Mariana
havia percebido que Frederico a olhara durante o jantar e não tinha feito
nenhuma alusão ao episódio na praia. Ela tinha dúvidas se ele a reconhecera.
O
dia seguinte foi chuvoso. Bruna estava irritada. Tinha brigado com seu
namorado, o Diego. “E briga feia, talvez sem volta.” Foi o que afirmou a
prima. A
tarde Luana ligou chamando Bruna e Mariana para jogar. A chuva não parava e uma
turma grande iria se reunir para jogar, inclusive cartas. E elas aceitaram.
A
casa de Luana era muito linda, era enorme e na sala de jogos havia uma cozinha
completa para eles se servirem. Para os jogos havia
diferentes opções, até mesmo mesa de bilhar, e Mariana muito apreciava
esse jogo. Logo que chegou disse que ficaria com turma do bilhar o que Bruna
achou que era uma boa opção.
Os
demais convidados foram chegando e para surpresa de Mariana lá apareceu também
Marcelo e Frederico. As apresentações foram feitas e os jogos organizados. Os
olhos de Marcelo brilharam quando ele foi apresentado a Bruna; e ela também
demonstrou ter gostado dele. Bruna era
muito bonita. Ela tinha uma beleza suave, feições delicadas e seus olhos eram
escuros e expressivos. Seus cabelos escuros lisos e compridos. Era do tipo
esguio. Ela era alegre e divertida. E Marcelo estava realmente fascinado por
ela.
Os
dois amigos optaram por jogar bilhar, se organizaram em duplas. Claro
que Marcelo escolheu Bruna para ser sua parceira e Frederico só olhou para
Mariana sem dizer nada. Ele era muito sério. Céus! Ela faria dupla com ele,
pensou Mariana, ninguém mais se interessou em participar da rodada. Mariana
jogava bem, pois praticava com o pai desde pequena. Era o divertimento deles aos
domingos à tarde.
Frederico
quase não falava. Enquanto Marcelo e Bruna conversavam e riam, Mariana prestava
atenção ao jogo, mas sabia que estava sendo observada por Frederico. Era
evidente que Marcelo e Bruna não estavam interessados no jogo, de forma que
Mariana e Frederico ganharam fácil. Foi servido um lanche e Frederico convidou
Mariana para jogarem apenas os dois. Ela aceitou e ganhou. Frederico ficou
muito admirado com a desenvoltura dela no jogo e perguntou:
--
Tu jogas seguidamente?
--
Sim, temos uma mesa em casa e eu jogo com meu pai.
--
Então está explicado. Porque tu és muito boa no bilhar.
--
Obrigada.
--
Onde tu moras, na capital?
--
Não, eu moro com meu pai no interior, em uma propriedade rural. Meu pai cria
cavalos.
--
Ah é? Eu gosto muito de cavalos. Qual a raça?
--
Cavalo Crioulo.
--
Sim aqui no sul são os preferidos. São originários do sul da América do sul.
Frederico
estava sendo gentil e educado. Ele não simpatizava com ela, mas ao mesmo tempo
havia algo nela que o atraia. Ele não sabia o que era. Ele havia percebido que
ela era inteligente, irônica e não se enquadrava no grupo da prima. Ela morando
em uma fazenda, não podia mesmo se afinar com aquelas garotas frívolas da
cidade.
Os
dias passavam e Marcelo seguidamente ia visitar Bruna, e Frederico sempre o acompanhava. Bruna e
Mariana os recebiam com alegria, e, sobretudo, tia Zilda os tratava com muita
amabilidade. Mariana achava engraçado. Tanto zelo com Frederico... Sua tia
ainda não tinha percebido, que quem estava interessado em Bruna era Marcelo.
Para
Mariana estava muito claro que Frederico não apreciava sua companhia, ele era
apenas educado. Mas era estranho como ele não tirava os olhos dela, mesmo
quando estavam afastados.
Era
aniversário de Bruna e o tio Luís organizou um churrasco para todos os amigos da
filha. Eram muitas pessoas, cerca de cinquenta. Mariana estava ajudando a prima
a receber os convidados. A
festa era em torno da piscina. Mesas haviam sido colocadas com guarda sois
coloridos, e uma equipe contratada servia salgadinhos e bebidas, enquanto o
churrasco seria servido mais tarde.
Mariana
não usava biquíni, só maiô, o que a deixava diferente das outras e com isso ela
se destacava das demais. Ela tinha um corpo perfeito. E chamava atenção.
Algumas das amigas de Bruna a ridicularizavam. Mas ela as ignorava.
Naquele
dia, Frederico mal a cumprimentou, e se manteve afastado dela, praticamente ao
lado oposto. Mas a olhava insistentemente. Ela estava ficando constrangida. Ele
nunca a tinha visto com roupa de banho. E quando ela tirou a blusa e foi em
direção a piscina, Frederico perdeu o fôlego. Ela era linda de corpo, suas
curvas perfeitas e naquela maiô ela estava muito provocante. Não
foram sós os olhos dele que a seguiram, os outros rapazes também se voltaram
para ela, e os mais atrevidos entraram na piscina e se aproximaram para falar
com ela. Frederico não gostou.
Os
dias corriam e Mariana só percebia em Frederico arrogância e egoísmo. Ela
estava cansada dele. Ele era um cara muito estranho e pedante. Mariana
resolveu encerrar suas férias mais cedo. Falou com sua tia e desculpou-se
dizendo que suas aulas começariam logo e ela precisava organizar ainda muitas
coisas.
Bruna
que gostava de festas preparou uma festa surpresa de despedida. Seria na casa
de Catiana. Além do jantar elas
planejaram danças e contrataram um DJ. Naquela
noite, todo o grupo lamentou por Mariana não poder ficar na praia para o
carnaval. Inclusive Frederico falou algo a respeito. E durante o jantar ele
sentou-se ao lado dela e puxou assunto, fazendo muitas perguntas sobre a sua
vida no campo. E dançou com ela e permaneceu ao lado dela, não permitindo que
outros rapazes a convidasse para dançar.
Para Mariana, essa atitude dele era muito atrevida. Ele não era nada dela , e com que licença ele respondia por ela? Mas como era o seu ultimo dia, deixou o rolar. Amanhã estaria em sua casa novamente. Estava com muitas saudades de casa. Até
então, Frederico não tinha se importado com ela, se colocava sempre o mais
longe possível dela, a agora isso... Ele pediu o numero do telefone dela, queria
adicioná-la no WhatsApp e Face book, e perguntou a ela se podia ligar para ela.
Estava
uma noite quente e dentro do salão de danças estava muito abafado, e Mariana
disse a ele:
--
Eu vou para o jardim para respirar um pouco. Não aguento esse calor e barulho...
--
Eu vou contigo.
Havia
mais pessoas por ali. Eles andaram lado a lado até mais adiante, onde encontraram um
banco. Os dois sentaram em silencio. Foi Frederico quem falou:
--
Eu te acho uma garota incrível...
--
Eu?!
--
Sim. Tu tens um jeito especial, tens personalidade, não és volúvel nas tuas
ideias, tens postura. Enfim, tu te destacas em qualquer lugar e ocasião.
--
Mesmo? Obrigada! Mas eu sou uma pobre ignorante, diante dessa gente que viaja e
conhece quase todo o mundo, eu não frequentei escolas renomadas, e faço
faculdade a distancia por ser mais barato e não tive muitas opções de curso...
Meu pai trabalha duro, e eu o ajudo no que posso. Vivemos bem, mas não temos
dinheiro sobrando. Não consigo te entender...
--
Tu és a garota mais inteligente de todas que eu conheço. Eu tenho te observado
e sei que tu não te importas com supérfluos. Para ti só tem importância as
pessoas e as relações entre elas, como amizade sincera, amor, honestidade. Tu
és humanitária, te preocupa com os problemas alheios. E eu aprecio muito
pessoas com esse modo de pensar. Tu me surpreendes sempre! E acima de tudo, tu
amas a natureza. Aquele dia em que me atropelaste na praia tu estavas admirando
o mar. Deu para perceber pelo teu olhar.
--
Bah... Achei que tu nem se lembrava mais disso.
--
Me lembro sim. Pois, ser trombado pela garota mais bonita da praia não é para
ser esquecido.
--
Não sou a mais bonita da praia.
--
Para mim és. Eu posso ir te visitar.
--
Não me leve a mal. Mas nós não temos nada em comum. Essa nossa amizade não deve
passar dessa temporada de verão. Eu não sei o que aconteceu contigo hoje, mas
tu és muito esquisito. Sempre quieto, só observando de longe. Para ser bem
sincera tu tens soberba demais para o meu gosto.
--
Se assim pensas, eu me afasto de ti. Mas fique sabendo que eu não tenho essa
altivez de que me acusas. Muito pelo contrário. Eu tenho dificuldades para me
relacionar com pessoas as quais eu não conheço. Eu preciso de um tempo para isso. Num primeiro momento,
até parece que eu me enganei a teu respeito, mas tenho certeza de que não, pois
sei que tu tens boas qualidades. Desejo-te felicidades. Não sei se nossos
caminhos se cruzarão novamente.
--
Eu também te desejo tudo de bom.
--
Tchau...
E
Frederico foi embora. Marina ficou ali olhando ele se afastar, e seu coração
naquele instante se apertou. Com certeza eles nunca mais se veriam, até porque
ela havia tomado a decisão que não mais aceitaria o convite de sua tia. No
próximo verão ela se imaginava já trabalhando. Mas,
na medida em que, Frederico se afastava, ela já se arrependia de ter sido tão dura com ele.
Afinal, ele era um cara de outra classe social. Mariana sentiu-se triste.
*****
Voltar
para casa e ter o pai por perto era motivo de muita alegria para Mariana. Ela
gostava da rotina do campo. Quando chegou das férias ela tinha muitas coisas
para contar para o pai, mas omitiu tudo a respeito de Frederico. Falou apenas
sobre Marcelo, já que ele e Bruna estavam namorando. Os dias passavam e aqueles dias que estivera na praia estavam distantes, mas ela ainda se lembrava de Frederico,
sobretudo da despedida deles. Sergio,
o pai de Mariana, a observava preocupado, pois ela estava muito diferente. Não
tinha mais aquele brilho no olhar, o sorriso fácil. Algo havia acontecido...
Ele
sabia que a ausência da mãe era sentida pela filha, embora já fizesse muitos
anos. Mas ele não podia mudar os acontecimentos. Desde que Mariana nasceu, ela
se tornou o centro de sua vida. Seu casamento ia mal, aliás, ele e Lorena só
casaram por causa da situação.
Eles
eram jovens demais e não pensavam nas consequências de seus atos. Eles
namoravam... Não eram apaixonado um pelo outro, tinham apenas atração física,
pois ambos eram bonitos e atraentes. E se deixaram levar...
Quando
Lorena anunciou que estava grávida, eles decidiram casar. Mas a convivência
entre eles virou um inferno, e quando a filha nasceu Sergio se dedicou
inteiramente a filha, já que Lorena estava sempre de mau humor e tinha
engordado muito e não era mais uma mulher atraente. Mariana tinha apenas dois
anos quando a mãe fugiu com outro homem. E nunca mais procurou a filha.
Sergio
sabia que tudo isso pesava sobre os ombros de Mariana, embora ela não tivesse
culpa de nada. Mas a filha precisava da mãe, que num momento de fraqueza tirou
a própria vida. Ela era órfã. E Mariana se sentia rejeitada. Só o amor dele não
bastava. E isso Sergio não podia modificar. Ele
esperava que aparecesse um homem na vida de sua filha, um homem que merecesse
se amado por ela, e que a amasse desinteressadamente. Nesse dia, ele seria
plenamente feliz, pois a felicidade da filha iria refletir nele.
Mariana
também percebeu que não era mais mesma. Continuava carinhosa para com o pai,
gostava de andar pelo campo com ele, enquanto conversavam, mas algo dentro dela
estava diferente. Ela sentia um vazio dentro de si. Dedicou-se
aos estudos, era o ultimo semestre, do seu curso de Administração; e ela queria
trabalhar para poder ajudar nas despesas da casa. Seu pai nunca deixou que
faltasse alguma coisa para ela, moravam numa boa casa, num lugar agradável,
perto da cidade, mas ela sabia que não era fácil para o pai, pois a renda da
fazendola estava a cada ano menor.
A
criação de cavalos exigia cuidados e tinha um custo muito alto, e ultimamente
os animais estavam valendo menos. O lucro era mínimo. E isso tudo contribuía
para deixar Mariana ansiosa por conseguir um trabalho.
Como
ela tinha um currículo escolar muito bom, ela conseguiu o emprego que tanto
desejava. E se mostrava competente, e logo foi promovida, e passou a receber um
salário melhor. Agora
ela só encontrava com o pai a noite, e não conversavam mais tanto. Ambos
f alavam dos assuntos mais importantes. E naquela noite, enquanto jantavam
Sergio disse:
--
Tu estás mesmo feliz com esse teu emprego?
--
Sim, pai. Eu gosto muito, é um ambiente agradável e tranquilo e meus colegas são
legais.
--
Que bom! Sempre tive receio de que não fosse te adaptar a vida de escritório.
--
Eu sinto falta de nossas caminhadas. Mas a vida é assim. Nem tudo é como
gostaríamos que fosse.
--
É verdade.
--
Pai, tu não pensas em procurar uma mulher para ti. És tão solitário...
--
Eu tenho a ti.
--
Pai! Eu já sou adulta. Acho que deverias ter uma companheira.
--
O que tu estás querendo com essa conversa?
--
Nada. Há muito que penso sobre isso.
--
Estás pensando em me deixar?
--
Não! Nem namorado eu tenho...
--
Pois é. Tu és uma garota tão bonita e está sempre sozinha. Por quê? Teu coração
já tem dono?
--
Ainda não apareceu ninguém que tenha atingido meu coração.
--
Tenho duvidas. Tu estás muito diferente desde o ultimo verão. Alguma coisa
houve e tu não me contaste.
--
Nada de importante pai. Nada.
Sergio
não disse mais nada, mas percebeu tristeza na voz da filha.
*****
Frederico
depois daquela noite de despedida de
Mariana, decidiu ir embora. Conversou com seu amigo Marcelo, e lhe disse que
estava tempo demais afastado dos negócios. Precisava dar um giro pelas empresas
para se atualizar. E também negociar algumas de suas empresas, já que tinha pessoas interessadas. Não sabia o tempo que levaria para retornar.
Diante
disso, Marcelo não pode argumentar. No entanto, disse ao amigo que ele permaneceria
até o fim da temporada. Ele estava muito interessado na Bruna e não queria se
afastar dela, não nesse momento em que estava iniciando o namoro. Os
amigos se despediram com a promessa de se encontrarem dali um tempo. Frederico
afirmou que estava se organizando para se estabelecer aqui no sul.
Frederico
realmente queria voltar às origens. Seus antepassados haviam imigrado para esta
terra, especialmente para a região sul, ele tinha raízes. Ele estava só no
mundo, depois de perder tragicamente seus pais e irmão. Como seus pais tinham
ido morar nos Estados Unidos quando ele era ainda um bebê, eles haviam perdido
o contato com os parentes. Mas ele tinha esperança de encontrá-los.
Só depois de um ano e meio que Frederico retornou, ao Brasil, para o casamento de seu amigo. Ele
ainda não tinha resolvido tudo, mas não podia deixar de vir ao casamento do seu
único amigo. Quando
recebeu o convite de casamento de Marcelo e Bruna, logo surgiu no pensamento de
Frederico a imagem de Mariana, a garota que tinha mexido com seu coração. Já
fazia tanto tempo e ele ainda pensava nela, e até sonhava com ela.
Com
certeza iriam se encontrar... E será que ela ainda estava solteira? Não
acreditava nesta possibilidade, pois bonita como ela era, deveria ter muitos
homens atrás dela. Ele não gostava dessa possibilidade. No entanto, precisava ser realista... Ele
seria padrinho do casal. Como Mariana era muito amiga de Bruna, ela deveria
estar entre as madrinhas, porém não perguntou ao amigo.
Frederico estava à porta da igreja com
Marcelo, que recebia os convidados. O templo logo se encheu e ele não tinha
visto Mariana chegar. Ficou preocupado. Por que ela não estava no casamento da
prima? Os demais padrinhos e madrinhas já estavam todos ali, em formação para
entrarem na igreja.
Bruna
era uma noiva linda e feliz. Entrou na igreja irradiando felicidade e Marcelo a
esperava no altar com os olhos brilhando de alegria. Que fortuna era um
casamento por amor! Foi pensamento de
Frederico.
A
festa do casamento foi animada, mas Frederico não conseguiu se entusiasmar estava
decepcionado, pois esperava encontrar-se com Mariana. Ele precisava saber o que
havia acontecido, mas não se animava a perguntar. Decidiu conversar com d.
Zilda que falava fácil. E entre outras coisas ela acabou dizendo:
--
Pois é, em meio a felicidade de minha filha, eu estou um pouco triste, meu
irmão adoeceu, está hospitalizado e Mariana, lembra dela?. Mariana não pode
vir. Está cuidando do pai no hospital. Coitada! Se ele não superar o problema
no coração ela vai ficar só no mundo. Vou ter que trazê-la para morar comigo.
Eu gosto muito dela, é uma boa moça, quieta, ajuizada e responsável.
Frederico
ficou sem saber o que responder. Ficou quieto pensando nas palavras de d.
Zilda: “Ela vai ficar só no mundo.” Assim como ele. Eles tinham algumas coisas
em comum...
Nos
dias que se seguiram Frederico começou a procurar um lugar para viver. Não
queria morar na cidade, imaginava uma pequena propriedade na região
metropolitana, um local que não ficasse muito ermo, mas próximo a uma pequena
cidade. Visitou
muitos locais, mas nenhum agradou. Não era o que ele queria. Será que não
encontraria a paisagem que idealizava? Tinha uma propriedade, ainda para ver, e não estava muito entusiasmado. Essa estava à
venda, mas tinha alguma complicação, o dono morava no local, e ainda não tinha desocupado por motivo de saúde. Mas iria ver, assim mesmo.
No
outro dia ele foi visitar o tal sitio e Frederico ficou extasiado com o lugar.
Era tudo o que ele queria. A casa precisava de reformas, mas a vista era
maravilhosa. Da janela da sala se avistava o lago que ao fundo tinham muitos
salso chorões plantados com seus ramos caindo até a água. O campo era ondulado
com pequenas elevações, as instalações eram boas, e estava localizado bem
próximo a uma cidadezinha. Pronto! Era esse! Estava decidido. Iria comprar com
porteira fechada, pois havia gostado muito dos animais. E para não perder o
negocio ele fez uma proposta acima do valor estipulado. O velho não iria recusar.
*****
Por
causa do trabalho, Mariana havia alugado um apartamento na cidade, e há algum
tempo ela havia pedido para o pai se desfazer da fazendola. Se
ele vendesse tudo, eles poderiam viver tranquilos, e ele viria morar com ela e ambos não ficariam mais tão solitários. Sergio
aceitou a proposta da filha. E encaminhou a venda da propriedade. Ele contratou
um casal para morar lá, e lhe fazer companhia, e também tratasse os animais e cuidasse da
casa, até que fosse vendido.
Não
vinha se sentindo bem, seu coração não era mais o mesmo, mas isso ele não
falava para a filha.. Até que enfartou. Foi um susto terrível para Mariana. Sergio
superou o enfarte, mas estava com o coração muito afetado. Ele teria uma vida
cheia de cuidados. Já estava em casa, e Mariana tinha pedido licença do
trabalho para cuidar do pai.
Naquela
tarde o corretor, encarregado de vender a propriedade, telefonou dizendo que
tinha uma boa proposta, era um rapaz que tinha oferecido um valor acima, porque
queria também os cavalos. E queria saber se o valor acrescentado era
suficiente. Sergio aceitou, era um valor muito bom. Era só providenciar o contrato,
que ele assinaria. E o pagamento era a vista. Que coisa!
Mariana
perguntou ao pai:
--
Quem é o comprador, pois dá mostras de ser uma pessoa muito justa e correta. E
isso atualmente é raro.
--
Muito raro minha filha. Sei que é um homem bem jovem, e se chama Carlos Licht.
Eu até nem sei se eu pronunciei certo esse sobrenome.
--
Eu não conheço ninguém com esse nome. Bem vamos esperar para ver se tudo se
confirma. Para quando marcaram?
--
Amanhã vamos assinar. Mas ele passou procuração para o seu advogado Dr. Fernando,
e ele vem aqui, assim não preciso sair.
--
Que bom. Mas amanhã vou ter que sair. Tenho que providenciar a tua aposentadoria,
já está agendada. Não vou poder ficar,
mas peço para Lilia servir um cafezinho para os senhores.
--
Obrigada filha. Não te preocupa, essa moça faz tudo direitinho. Bem, quero te
perguntar uma coisa. Queres comprar esse apartamento? E tem outro aqui no
prédio para vender. O zelador me disse.
--
Sim, eu pensei em ficar por aqui. A localização é boa, perto de tudo e fácil
para eu pegar o ônibus para o trabalho. Se tu achas que devemos comprar os dois,
vamos nos informar sobre o preço e condições.
--
Isso, filha. Faça isso logo.
--
Está bem. Amanhã eu falo com o seu Jorge.
--
Até quando é tua licença?
--
Segunda feira eu preciso retornar. Ainda bem que tu estas recuperado. Mas me
dói ter que te deixar sozinho.
--
Não fico só, tem a Lilia. Não é a mesma coisa, mas... eu não fico só.
Os
dias passaram e Mariana comprou os dois apartamentos. Sergio estava ainda muito
debilitado, se sentia fraco, mas não dizia nada para a filha, com receio de
preocupá-la.
Ele
agora, em casa, sem poder fazer mais nada, passava o dia recordando os fatos de
sua vida. Seu casamento tinha sido um desastre, a única coisa boa foi Mariana.
Lorena também não foi feliz. Tinha deixado tudo por causa de uma paixão, mas
não durou muito e ela se matou. Mariana não sabia que sua mãe tinha se
suicidado. Ele contou para filha que a mãe havia tomado a medicação errada.
Mesmo agora ele não queria remexer no passado. Na época ela tinha só nove anos,
não entenderia, e agora ele não tinha mais disposição e nem saúde para isso.
A
sua maior preocupação era deixar Mariana só no mundo. Sergio queria ver sua
filha amparada por um bom homem que a amasse, mas Mariana não se interessava em
conhecer e conviver com o sexo oposto. Sua
filha era inteligente e competente, tanto que tinha sido designada para ser
assessora da diretoria. Era um cargo alto e exigia responsabilidade. E os donos
da empresa estavam satisfeitos com o trabalho dela, e agora ela tinha um bom
salário. Quanto a isso ele não se preocupava. Mas a vida solitária dela o
deixava aflito.
O
que Sergio não sabia era que a filha tinha se arrependido de ter sido tão
intransigente em relação a Frederico. Ela não dera chance alguma a ele. E pouco
sabia sobre... Ela reconhecia que tinha errado. Ela o havia julgado severamente
apenas por aparência. E seu coração nunca mais teve sossego. Seu coração havia
sido arrebatado por ele. Todos os dias ela pensava nele e tinha uma vontade
imensa de tornar a vê-lo. Mariana
reconhecia que isso era impossível, seus mundos eram distantes, não se
cruzavam...
*****
Mariana,
na reunião da diretoria, ficou sabendo que havia um benemérito na região. Um
homem jovem ainda, que queria investir em saúde e educação para as famílias
mais necessitadas. Ele ainda estava fazendo estudos, mas o que adiantava era
que a empresa, em que ela trabalhava, havia sido convocada para uma reunião.
Era uma situação nova, e os diretores não sabiam como agir.
Mariana
chegou em casa e contou para seu pai, que disse:
--
Esse mundo ainda tem gente boa... Pessoas que têm muito dinheiro e se dispõe a
ajudar os que nada têm. Atitudes assim nos enchem de esperança.
--
Sim, num mundo tão violento, onde impera o egoísmo, atitudes de amor ao próximo
são raríssimas... E quando aparece alguém assim, a gente fica completamente
estarrecida. Continuou Mariana.
--
Verdade...
--
Eu fui chamada para acompanhar o Sr. Olavo e Sr. Alberto nesta reunião.
--
Vão só os dois?
--
Sim, eles são os manda chuva...
--
Então vais conhecer esse homem tão fora do comum.
--
Sim. Estou na expectativa. É amanhã à tarde e talvez se estenda, portanto eu
posso chegar mais tarde.
--
Tudo bem. Não te preocupa tanto comigo.
No
dia seguinte, ela iria para o escritório só às onze horas, de forma que tinha
tempo para se arrumar com cuidado. Um carro viria buscá-la. Mariana escolheu a sua melhor roupa para vestir. Queria estar bem vestida, não queria fazer feio. Ela
escolheu uma calça azul marinho, uma camisa de seda branca e um blazer
vermelho. Optou por usar uma echarpe que combinasse. Os sapatos e bolsa eram
azul marinho. Prendeu o cabelo num coque
baixo e fez uma maquiagem leve e escolheu os brincos que combinavam com a
gargantilha dourada. Ela estava chique.
A
reunião iniciaria com um almoço, em um dos melhores restaurantes da cidade. O
carro a levaria direto ao local combinado, aonde se encontraria com seus
patrões.
Ela
chegou e foi conduzida para um reservado envidraçado, pelo “maître” . Seus patrões já estavam
sentados e o outro homem estava de costas, mas seu coração disparou, suas
pernas tremeram. Aquele porte, aqueles ombros largos... Tudo a fazia lembrar
Frederico. Não era possível! E aqueles segundos foram os mais longos de sua
vida.
Quando
ela entrou, o homem se levantou para recebê-la e a olhou intensamente, então
sorriu e disse:
--
Seja bem vinda senhorita...
--
Obrigada.
--
Essa é a Mariana, nossa assessora. É ela quem vai cuidar desse projeto.
Portanto vocês vão trabalhar juntos. Disse Sr. Olavo.
--
Será um prazer... Disse o homem, enquanto puxava a cadeira para ela sentar.
Mariana
estava nervosa. Se aquele homem não era Frederico, então devia ser uma sósia
perfeita. Mas todos se referiam a ele como Sr. Carlos... De repente veio a sua
mente o nome da pessoa que havia comprado a propriedade do pai. Ela não ia
falar nada. Teria que esperar, já tinham se passado quase três anos e talvez ele nem recordasse mais aquele
veraneio.
Mariana
procurava agir com naturalidade. Enquanto almoçavam não falaram sobre o
projeto, conversaram sobre viagens e as tendências de mercado.
Ela
pouco falou, não quis se intrometer na conversa de seus patrões, só se
pronunciava quando solicitada. Sua cabeça estava girando, toda a vez que ela
levantava os olhos, encontrava os olhos do Sr. Carlos nela. Ele a observava
disfarçadamente.
Na
hora do cafezinho é que Sr. Carlos expôs o seu projeto. Ele apresentou as estatísticas
e projeções que justificavam perfeitamente a sua proposta. Era algo inédito,
que demonstrava a preocupação social em
relação a situação atual de muitas famílias, sobretudo as mais atingidas pelo
abandono.
Carlos
interessado em saber o parecer de Mariana perguntou diretamente:
--
O que a senhorita achou?
--
Eu gostei muito. Nunca soube de algo desse gênero por aqui. Mostra a sua
benevolência e preocupação com os mais fracos. Algumas empresas têm alguma
preocupação em relação aos seus empregados, então criam as creches, cursos de
alfabetização para adultos, convívio social, Mas sempre restrito aos seus
funcionários. Isso que o senhor está propondo, a meu ver, é uma ação
caritativa.
--
É eu concordo com Mariana. Sua proposta é inovadora. E com certeza vamos atuar
juntos. – disse Sr. Alberto.
--
Claro, que é preciso planejar o processo todo, mas isso eu sei que vocês farão
com maestria. – completou o Sr. Olavo.
--
Então aguardamos e depois nos reunimos
com os demais membros da diretoria. Mariana ficará a sua disposição o tempo que
for necessário.. Ela nem precisa comparecer na empresa. Nós já vamos indo.
Mariana tu ficas, o carro te leva em casa e se precisares novamente do carro, é só me comunicar. —disse o Sr. Alberto se
levantando e se despedindo.
--
Está bem. Obrigada. – disse Mariana ao seu patrão.
Depois
que eles se retiraram pairou um silêncio. Mariana para disfarçar pegou o
projeto para olhar. Carlos estava fascinado e não conseguia parar de olhar para
ela. Ele sabia que teria que falar...
--
Mariana por que estás tão nervosa?
--
Eu nervosa?
--
Sim. Tu não és assim... O que houve?
--
É que o senhor é muito parecido, quer dizer igual a uma pessoa que eu conheci.
--
Não conheces mais?
--
Conheço, mas nunca mais no vimos...
--
Sou eu mesmo, Mariana, meu nome completo é Carlos Frederico Blaus Licht. Meus
amigos me chamam de Frederico, mas comercialmente sou conhecido com Carlos F.
B. Licht.
--
Eu sabia. Não podia haver dois...
--
Fiquei contente em te rever.
--
Eu também. Foste tu que compraste a chácara do meu pai. Era esse o nome que eu
vi no contrato.
--
Era naquele lugar maravilhoso que tu moravas?
--
Sim. Mas as coisas não iam bem e meu pai já andava doente e sozinho, eu
precisando trabalhar, e morando na cidade, ficávamos os dois sozinhos. Então
resolvemos nos desfazer, mas não pensa que foi fácil...
--
Imagino. Eu me apaixonei pelo lugar assim que eu vi. É maravilhoso. Qualquer
dia desses vamos levar o teu pai para
ver os cavalos como estão lindos...
--
Bah... Ele vai gostar muito.
--
Antes de tu chegares. Alberto e Olavo estavam te elogiando. Eles confiam muito
na tua capacidade. Parabéns! Ter seus superiores tão satisfeitos com o trabalho
não é para qualquer um.
--
Obrigada.
--
Mariana dispensa o carro. Vamos voltar juntos, eu estou morando no sitio.
--
Está bem. Já volto.
--
Não, ficas aqui. Vou mandar chamá-lo.
Eles
ficaram até bem tarde trabalhando, e Mariana descobriu que Frederico era o dono
daquele restaurante. Ele não tinha ainda um escritório. Estava sendo preparado
no piso superior do prédio.
Embora
o clima tivesse melhor entre eles, Mariana ainda estava retraída. Ela que o
acusara de egoísta, estava agora diante de um projeto maravilhoso em beneficio
dos mais necessitados, e tudo financiado por ele. Ele estava abrindo mão de um
valor considerável e colocando para o bem estar de famílias sem nenhuma
perspectiva de vida.
Na
verdade, Mariana estava até envergonhada de ter julgado precipitadamente aquele
homem, que mexia tanto com o seu coração. Ele estava tão lindo, tão másculo,
tão sedutor... Credo! Ela não ia resistir...
Eles
se reuniam todos os dias. O planejamento estava avançando, mas era muita coisa
para determinar e tudo era também discutido antes de ser definido.
Nos fins de semanas Frederico convidava, o sr. Sergio, o pai de Mariana, para ir ver os cavalos. Sergio
gostava muito, pois amava aqueles animais. E Frederico estava empenhado em
criar um Haras de primeira linha. Os dois conversavam muito, e Mariana gostava
de rever os lugares de sua infância, caminhava pelo campo enquanto os dois ficavam
em torno dos cavalos.
A
casa estava completamente diferente. Ele tinha reformado e modernizado toda a
cozinha, que agora estava integrada a sala. Ele havia transformado todos os
quartos em suíte e fez um aumento na casa para dispor de uma suíte máster
completa, que tinha ficado muito bonita. A decoração de toda casa estava
renovada, mas ele havia deixado alguns moveis originais, dando assim um
contraponto entre o antigo e o moderno. Ele havia remodelado o jardim,
colocando uma piscina com água quente e um belo quiosque. Acrescentou canteiros
de flores e estava tudo muito bonito.
A
relação entre eles era de uma profunda amizade. Eles se viam todos os dias, e
com essa convivência eles já tinham conhecimento mútuo.
Aqueles
dias estavam sendo maravilhosos. Mas o trabalho estava avançando e logo estaria
concluído e depois disso não haveria mais razão para eles se encontrarem. Pois
ele já havia comentado que precisava viajar, estava só esperando o
encaminhamento. E ficaria um período grande fora. Ele tinha negócios no
exterior.
Ela
estava completamente apaixonada por ele, mas não demonstrava, até porque, não
sabia o que ele sentia por ela. E depois
de tudo o que ela havia dito, para ele naquela noite na praia... Frederico continuava muito
fechado, e não deixava transparecer se ela tinha algum poder de sedução sobre
ele. A única coisa que ele fazia, era olhar para ela com muita intensidade.
Frederico
desde que a viu aquele dia na praia, ficou admirado por sua beleza, e depois
quando se aproximou dela, se encheu de amor por ela. O afastamento o fez sofrer
e nenhuma outra mulher o conquistou. Ele era apaixonado por ela. Ele nunca
havia revelado a ela o seu amor. Quando naquela noite na praia, ela lhe deu “um
fora”, ele ficou sem ação e não iria
mais arriscar, e além de tudo ela não dava mostras de estar interessada nele.
Ele achava que ela apenas o suportava.
Mas
ele não se cansava de olhá-la. Ela tinha se tornado uma mulher deslumbrante.
Estava linda demais, era atraente, elegante e inteligente; além se ser
competente em seu trabalho e respeitada em seu circulo.
Para
ele tinha sido uma surpresa saber das coincidências que aconteceram. Uma era
ela ter sido designada para trabalhar com ele; outra ele ter comprado a
propriedade quer era do pai dela. Era incrível tudo isso. Com certeza os céus
estavam tramando a favor do amor entre eles.
Aquele
período de convivência serviu para confirmar, que Mariana era a mulher perfeita
para ele. Ela era alegre, divertida, irônica e sensível, o que resultou em um
amor maior e profundo. Ele não sabia como faria para viver longe dela. Mas
ele já estava decidido em se afastar, assim que o projeto estivesse pronto.
Ainda faltava muito... Recém tinha sido enviado para os arquitetos colocarem na
maquete todas as sugestões que Mariana e ele elaboraram.
Frederico
quando estava junto dela ficava extasiado e aproveitava cada sorriso, cada
olhar, cada trejeito para armazenar em sua memória. Às vezes, ele tinha a
sensação de que ela sentia o mesmo por ele. Se houvesse uma chance, ele
aproveitaria para se declarar a ela. Isso ele precisava fazer, para mais tarde
não se arrepender. Porém ela não deixava transparecer os seus sentimentos e não
dava chance alguma. Por sua vontade ele a convidava para sair, queria oportunidades
fora do trabalho.
O
que ele não sabia era que Mariana também o amava, ainda mais agora que ela
sabia que ele não era egoísta e excêntrico como havia julgado; e sim que ele
era uma pessoa caridosa, desapegada dos bens materiais e com princípios morais
e éticos baseados em sua formação religiosa. Ele tinha tudo o que ela havia
imaginado numa pessoa considerada uma “pessoa de bem”.
Mas
ela não tinha coragem de revelar seus sentimentos, e já previa a solidão que
seria a sua vida, quando ele fosse viajar, que seria em breve. Tudo isso estava
causando sofrimento a Mariana, ela precisava conversar com uma amiga sobre sua
conduta, e Bruna estava afastada; depois do casamento sua prima mudou, não
tinha mais tempo para ela. Ela precisa se abrir, com alguém, para matar a vontade que tinha
de falar sobre, mas não para seu pai.
Frederico
tinha notado tristeza no olhar de Mariana, tanto que não se conteve e
perguntou:
--
Tu estás triste?
--
Por quê?
--
Porque teus olhos perderam o brilho, posso saber o que te aflige?
--
Nada! Bobagens minha. Mas te agradeço pela atenção.
--
Tu mereces e sempre tens e terás toda a minha atenção... Tu sabes...
Neste
instante o telefone dele tocou e ela viu que era a tal da Raquel. Ela fingiu
que não estava atenta a conversa, mas ela não perdeu uma palavra e soube que
ele andava saindo com essa tal.
Ela
tinha feito um café e eles conversaram um pouco mais enquanto bebiam. E
Frederico ainda se mostrava atencioso e afetuoso com ela. Mariana fez menção de
levantar e ele prendeu sua mão a levou até seus lábios e beijou, e disse:
--
Tua tristeza me entristece. Embora eu tenha demorado a perceber há algo entre
nós, e que é muito forte. Nós temos uma ligação profunda, que mantém as nossas
almas unidas. Não importa se estamos aqui um diante do outro, ou se estamos a
quilômetros de distância. Sempre estamos unidos. Eu sinto assim e sei que tu tens
o mesmo sentimento. Estou certo?
--
De certa maneira sim.
--
Nós devíamos nos dar uma chance... Vamos sair juntos... Nós nos vemos
diariamente, mas só falamos de trabalho.
--
Talvez tenhas razão.
--
Então está combinado. Eu tenho um jantar hoje e tu me acompanhas.
--
Mas não é bem assim. Eu tenho um pai que não deve ficar só. Hoje eu não posso.
Mariana
tinha sido tão firme, que ele não insistiu. Soltou sua mão e foi para sua mesa
de trabalho. Praticamente, não conversaram mais aquela tarde.
No dia seguinte
ela foi trabalhar como de costume, e ao chegar recebeu um recado de Frederico,
que dizia que ele estaria ausente por uns dez dias e se ela quisesse levar o
projeto para terminar em casa, para ficar perto do pai, não tinha problema
algum. Mariana
ficou furiosa. Recolheu todos os papeis colocou em uma pasta e saiu apressada.
O motorista dele se prontificou a levá-la em casa, mas ela recusou.
No
caminho para casa ela se apercebeu de que ele tinha dado uma chance para ela, e
ela havia recusado. Ela era uma idiota retardada, dizia a si mesma. E agora ele
devia estar com a tal da Raquel em algum hotel sossegado, curtindo a vida. Ora,
um cara como Frederico, tinha milhares de mulheres atrás dele e ela se fazendo
de difícil. E ele praticamente tinha se declarado para ela. Que tonta!
Essa
conclusão a deixou mais zangada com si mesma. Como é que ela podia ser tão
boba. Uma chance era tudo que ela mais almejava... E ela tinha deixado escapar.
Mariana
chegou em casa e foi para seu quarto chorar. Nessa hora seu pai não estava em
casa, ele descia para a academia do prédio, para fazer esteira. Acalmou-se,
lavou o rosto, trocou de roupa e foi para cozinha fazer um café. E seu pai
abriu a porta e disse:
--
Ué! O que houve? Já está essa hora em
casa?
--
Não houve nada. Frederico está viajando e me permitiu trabalhar em casa nos
dias em que ele está fora.
--
Esse rapaz gosta muito de ti.
--
Por que tu pensas assim, pai? Ele te falou algo?
--
Não. E nem precisa. Ora! Só cego para
não ver. O jeito que ele olha para ti, e a forma atenciosa que ele te trata.
Nenhum patrão deixa funcionário trabalhando em casa... Acorda menina?
--
Será?
--
Seja esperta. E tu também gostas dele, pois teus olhos brilham quando tu estas
junto dele. Só não sei o que vocês estão esperando...
A conversa com o pai a tinha deixado ainda mais deprimida, e como se não bastasse, sua prima Bruna telefonou para contar a novidade: “Frederico tinha convidado Raquel para viajar com ele. Até que enfim esse cara se decidiu... Pois fazia um tempo que Raquel borboleteava em torno dele”. Naquele dia Mariana não conseguiu trabalhar. Então ficou fazendo companhia para seu pai. Conversaram como nos velhos tempos e até cartas jogaram.
Ela
terminou o trabalho. E quando Frederico voltou de “suas férias” ela entregou os
relatórios prontos para ele e disse que no outro dia estaria de volta a sua
empresa. Se ele precisasse de alguma informação era só telefonar.
E
cada um tomou seu rumo.
Mariana
voltou a sua rotina, e não sabia se ele já tinha saído em viagem. Não tinha
como saber. Em seu ambiente de trabalho ninguém falava nada sobre ele. Só Bruna
poderia saber. Então decidiu ligar para a prima, mas ela também estava
viajando.
O
tempo passava e Mariana tinha perdido as ilusões em relação a Frederico, ele era
um cara legal, mas nunca daria certo, eles eram de mundos diferentes. Ele
precisava mesmo era de moças mais atrevidas.
Era
uma sexta feira já no fim da tarde e Mariana recebeu um telefonema de
Frederico. Seu coração pulou e sua boca ficou seca, tanto que estava com
dificuldade de falar.
--
Oi, tudo bem?
--
Eu preciso te ver hoje. Vou pedir para o meu motorista te pegar na saída do
escritório. Eu te peço, não diga não.
--
Está bem. Vou avisar meu pai que vou me atrasar.
--
Obrigado.
Mariana
não conseguiu mais se concentrar em seu trabalho. Encerrou. E desceu. Ao chegar
ao térreo, o Joel estava a sua espera. E a levou para o restaurante. Frederico
estava na sua sala reservada, mas desta vez com as cortinas fechadas. Ela
entrou devagar e ele se aproximou dela, fechou a porta e a abraçou. Ficou assim
abraçado a ela um bom tempo.
Mariana
não se afastou, ficou parada sentindo o cheiro dele, que exalava um aroma de
cravo. Não estava entendendo nada. O que será que ele queria com ela? Frederico
a beijou na testa e se afastou dela.
Sentaram
nas poltronas e já havia alguns salgadinhos e ele serviu um espumante, sem nada
dizer. Tudo muito estranho! Era o que ela pensava. Mas ia esperar.
--
Eu te chamei aqui porque eu precisava te ver, falar contigo antes de ir...
--
Quando viajas?
--
Amanhã no início da tarde. E vou ficar muito tempo fora... E desta vez não vou
sozinho... Raquel vai me acompanhar.
--
Vocês estão juntos, eu sei, Bruna me falou...
--
O que mais ela te disse?
--
Nada demais. Só que vocês já estavam ensaiando ficar juntos há muito tempo.
--
Eu não! Raquel pode ser. E tu bem sabes por que eu tomei essa decisão...
--
Eu sei?
--
Sim. Por duas vezes eu tentei te dizer que eu sou apaixonado por ti, e tu nunca
se importou. Por isso resolvi tratar da minha vida.
--
Bem, então o que nós estamos comemorando? A tua vitória ou a minha derrota?
--
Derrota? Por que derrota?
--
Porque tu nunca quiseste saber sobre os meus sentimentos. Tu mesmo disseste
ainda agora, “tentei falar” ... O que não é o mesmo que falar. Mas agora isso
não tem mais importância. Vamos comemorar a tua viagem... Vamos brindar!
Frederico
ficou pasmado. Ela literalmente estava dizendo que o amava.
--
Eu vou embora. Tenhas uma vida feliz. Tchau...
Mariana
saiu que era um foguete, ele tentou alcançá-la, mas ela já tinha tomado um
taxi. E quem estava derrotado era ele, completamente derrotado... Frederico
decidiu adiar a viagem. Telefonou para companhia aérea cancelando as passagens.
Mandou avisar Raquel e foi para casa. No caminho resolveu que devia ir falar
com Mariana, na manhã seguinte. Seria uma conversa sincera e aberta. Ele
precisava esclarecer tudo.
Naquela
noite ele não dormiu. Estava ansioso e furioso...
Na
manhã seguinte ele foi procurar Mariana. Não podia deixar a situação neste pé.
Eles precisavam conversar e brigar, pôr para fora tudo o que sentiam, para então,
começar tudo outra vez. Ele a queria e agora ele não ia desistir dela. Não
mesmo!
Quando
ele chegou ao prédio havia uma agitação anormal. Estavam estacionados em frente
uma ambulância e um carro da polícia civil. Frederico ficou preocupado e subiu
de escada até o terceiro andar. Lá ele viu que o acontecimento era no
apartamento de Mariana.
Ele entrou e indagou com o policial o que
estava acontecendo, ele era amigo da família. Então ele soube que seu Sergio
havia falecido durante a noite, ou melhor, ele não tinha acordado.
Foi procurar por Mariana e a encontrou em um canto da cozinha, agachada chorando
desesperadamente. Ele se abaixou e a segurou pelos ombros a fez levantar e a
tomou nos braços. Alisava seus cabelos, enquanto ela continuava aos prantos,
mas quando viu que era ele quem a estava abraçando começou a socar seu peito
dizendo: “tudo culpa tua, ontem eu cheguei furiosa e não dei atenção a ele, me
tranquei no meu quarto. Tudo culpa tua...”
Frederico
escutou o desabafo e não respondeu. Ela precisava pôr para fora a sua angustia,
mas as palavras dela calaram fundo em seu coração. Depois
que ela se acalmou, ele disse que iria providenciar toda a parte legal, e tratar
do funeral. Ela estava em transe, talvez nem estivesse entendendo o que ele
falava, pois sua dor era muito profunda.
Quando
estava tudo providenciado, Frederico retornou e ficou perto dela todo o tempo,
dando atenção e carinho. Depois do enterro, ela estava exausta. Ele não queria
que ela ficasse sozinha, então a levou para sua casa no sitio, pediu a dona
Amélia, sua caseira, para que a ajudasse.
Dona
Amélia a ajudou, preparou um banho de banheira na suíte máster e depois a levou
para a cama. Vestiu nela um pijama de Frederico, que ficou enorme, serviu uma
sopa e fez deitar-se na cama dele. E ficou ali zelando por seu sono. Amélia a
conhecia e gostava muito dela e ficou desolada com a morte do seu Sergio.
Frederico
dormiu em um dos quartos e no outro dia bem cedo foi até o apartamento dela para
buscar roupas para ela e ver se estava tudo certo. Revisou e fechou todas as
janelas e em uma valise pegou os produtos de higiene que ele achou no banheiro
e juntou com as roupas intimas que achou no armário e mais calça jeans e
camisas e uma jaqueta.
Quando
chegou ao sitio ela ainda dormia. Pediu que a deixasse dormir. Ele sentou na
sala e ficou ali olhando pela janela e pensando em como seria... A queixa dela
retumbava em seu peito. Ele
não sabia como ela reagira a presença dele daqui para frente. Era preciso
esperar. Frederico estava angustiado. Iria aguardar alguns dias para tomar o
seu rumo.
*****
Mariana
acordou, olhou em volta, e não sabia onde estava. Sua cabeça doía e se sentia
cansada. Foi quando Amélia entrou com uma bandeja de café.
--
Bom dia! Como te sentes?
--
Mais ou menos. Tenho a impressão que fui triturada, minha cabeça dói e meu corpo
também. Por que eu estou aqui? O que aconteceu?
--
Fique descansada, não aconteceu nada. Eu passei a noite contigo, sentada
naquela poltrona. Seu Frederico te trouxe para cá, tu estavas exausta e ele
achou que não devias ficar só em teu apartamento. Então ele te trouxe para cá e
pediu que eu providenciasse um banho de imersão para relaxar. Estavas tensa
demais, depois tomaste uma sopa e dormistes até agora. Ele apenas chegou na
porta para saber como tu estavas. Ele te ama. A preocupação que ele tem contigo
é sinal de amor.
--
E onde ele dormiu?
--
Num dos quartos de hóspedes. Hoje cedo ele foi buscar umas roupas para ti.
Estão nesta valise.
--
E ele ainda está aqui ou foi viajar?
--
Ele cancelou a viagem. Agora toma teu café antes que esfrie... Depois tu vestes
o roupão e vai falar com ele que está sentado quieto na sala.
Frederico
estava distraído e não a viu entrar na sala, e quando percebeu que Mariana
estava ali a sua frente, tão frágil e abatida, dentro daquele enorme roupão,
teve vontade de tomá-la nos braços e consolar com muitos beijos e afagos. Ele
nunca tinha sequer a beijado. Ela sempre se posicionou distante dele. E ele
sempre a respeitou. Ela não era como as outras. Mas ele estava tomado de amor
por ela e a desejava ardentemente. Mesmo assim tão triste, ela estava sedutora
dentro das roupas dele.
Mariana
numa voz muito fraca disse:
--
Eu quero te agradecer por ter tomado todas as providências, foi de grande ajuda
mesmo. E também por ter trazido para cá. Obrigada.
--
Não precisa agradecer.
Frederico
levantou-se foi até ela e a abraçou, e carinhosamente ele falou:
--
Venha, vamos nos sentar aqui no sofá. Eu preciso te dizer algumas coisas.
--
O que tens para me dizer?
--
Primeiro é que tu não precisas ficar me agradecendo pelo que eu faço por ti. Tu
és especial para mim e eu vou sempre estar preocupado contigo, e por isso quero
te pedir tu fiques aqui no sitio mais uns dias. Não quero que fiques sozinha. Eu
preciso viajar, tu sabes, tenho uma reunião que já foi adiada por minha causa.
Não posso mais protelar. Mas eu vou e volto. Em quatro dias eu estarei de
volta. Então até lá, tu ficas aqui aos cuidados de Amélia.
--
Tu vais com a Raquel?
--
Não eu vou sozinho a negócios. Esquece a Raquel. Ela foi só um “affair”
passageiro.
--
Não sei não...
--
Presta atenção ao que vou te dizer, tu és a pessoa mais importante para mim,
por que eu te amo, desde a trombada na praia. Nenhuma outra mulher ocupa o meu
coração. E quando eu voltar, nós vamos ter que nos acertar, porque eu não aguento
mais viver assim.
Ela
olhou para ele com espanto. E resmungou...
--
Meu pai tinha razão...
--
Não entendi o que disseste.
--
Nada.
Nisso
o telefone dela tocou. Mariana atendeu e era da empresa, do departamento de
pessoal, que comunicavam que ela, além dos dias de licença, teria também as
férias. Contudo, ela precisa ir ao departamento assinar os papeis. Ela suspirou e
disse:
--
Vou tirar as minhas férias também. Bah... Eu não queria que fosse agora. Como será a
minha vida agora? Minha tia e minha prima não são mais as mesmas. Depois que
Bruna casou tudo se modificou. E tia Zilda nem atende mais aos meus
telefonemas. Nem veio se despedir do irmão...
--
É, eu senti a falta deles. Mas tu tens a mim. Só peço que confies em mim e no
amor que eu tenho por ti. Nunca falamos disso. Mas eu a tenho em meus
pensamentos e em meu coração há muito tempo. Ambos somos sozinhos no mundo. E
eu quero cuidar de ti... Tu me prometes que vais ficar aqui em casa até eu
retornar?
--
Prometo.
Ele
puxou para perto dele e Mariana recostou a cabeça em seu peito, e assim ficaram
olhando o dia ensolarado. De repente ele disse:
--
Vai te trocar. Vamos dar uma caminhada.
Os
dois caminhavam de mãos dadas em torno do lago. Andavam em silêncio, até que
Mariana falou:
--
Eu confio em ti e no teu amor. Eu também te amo, e desde que te vi. Mas minha
razão não me permitia ter esse sentimento. Eu vivia em conflito interior. Por
isso, eu vim embora antes do fim do veraneio. Se eu ficasse perto de ti mais
tempo, eu iria sucumbir. E eu não podia, pois meu orgulho não admitia.
--
Mas todas aquelas palavras duras que tu me disseste, me fizeram refletir sobre
a minha vida. Eu acho que tu não estavas enganada. Eu era um jovem milionário
muito petulante.
--
Então, de certa forma te ajudei a mudar... Porque quando nos encontramos para a
elaboração do projeto, eu fui obrigada a rever meu conceito e foi difícil, mas
precisei mudar minha opinião sobre ti. Porque eu via ali um cara legal, uma
pessoa preocupada com os males da humanidade.
--
Eu realmente mudei. E essa ideia do projeto eu amadureci por um longo tempo. E
decidi realizar aqui, porque é o lugar que pretendia e pretendo continuar a morar. Eu comprei esse
lugar maravilhoso para viver contigo, aqui criar os meus filhos. E eu te
pergunto: “aceitas casar comigo?”.
--
Sim eu aceito. Tu és o homem da minha vida.
Ali
embaixo de uma centenária figueira ele a beijou com paixão, e com a promessa de
uma vida feliz. Ela se entregou ao abraço e ao beijo profundo. Estava selado o
compromisso.
--
Semana que vem quando eu voltar, nós vamos providenciar o nosso casamento, por
que eu te quero em minha vida definitivamente.
Embora
houvesse dor em seu coração, a felicidade se instalou em seu íntimo. Mariana
estava feliz, apesar da circunstância.
*****
Frederico
chegou de viagem, e trazia muitos presentes para sua amada. Entrou em casa e
procurou por Mariana e não a encontrou. Mas, Amélia que tinha visto o patrão
chegar, o esperou na sala.
--
Onde está Mariana?
--
Ontem, ela saiu para ir ao escritório assinar os documentos e não voltou. Telefonei,
mas está fora de área, o Joel foi até o apartamento dela, mas ela não está lá.
--
E como ela estava?
--
Bem, dentro do possível. Mas antes de sair disse que ia só até o escritório. Que
devia chegar cedo.
--
Então alguma coisa aconteceu. Eu vou procurar por ela. Liga para o escritório
dela, esse número aqui, e pergunta se ela esteve lá ontem. E me avisa.
Frederico
ficou desesperado. Ela não iria fugir dele, não tinha esse comportamento, ela
sempre foi direta e sincera... Ele precisava de alguns dados sobre ela antes de
ir à polícia. Abriu seu computador e anotou os números do RG e CPF.
Foi
a delegacia fazer a ocorrência e registrar o desaparecimento dela. E depois foi
aos hospitais de Pronto Socorro. Não havia registros com o nome dela. Ele não
sabia mais aonde procurar.
Seu
corpo estava tenso dolorido e sua cabeça a ponto de estourar. Sentou por ali
pensando... Ele precisava encontrá-la. E ali no saguão do Pronto Socorro ele
fechou os olhos e abaixou a cabeça e rezou. Sua vida era marcada por tragédias
e ele pedia a Deus que o livrasse de mais uma desgraça.
Lágrimas
silenciosas escorriam por suas faces. Ele levantou e foi novamente ao guichê de
informações e dessa vez formulou a pergunta diferente:
--
Eu estou procurando por uma moça chamada Mariana, já me disseram que não, mas por
acaso entrou alguma moça sem identidade?
--
Sim, ontem chegaram três mulheres, sem documentos, que foram assaltadas.
--
Eu posso vê-las para saber se é quem eu procuro?
--
Sim. Um momento... Vou chamar alguém para acompanhá-lo.
--
Obrigado.
Frederico
se encheu de esperança.
Ele
foi conduzido até uma enfermaria e então seu coração se contraiu. Lá estava a
sua Mariana, em uma maca, e segundo o informaram em estado crítico. Ela havia
perdido muito sangue, o ferimento havia sido fundo. Ela tinha levado uma facada no abdômen.
Frederico
queria transferi-la para um hospital particular, para ter um atendimento melhor
e ter mais chances de sobreviver. Foi a recepção, mas precisava da documentação
dela para isso, que havia sido roubada, segundo deduziu.
Ele
já tinha feito BO na delegacia de polícia, sobre o desaparecimento dela. Teria
que voltar para dizer que a encontrara no Pronto Socorro e que precisava de uma
autorização para fazer a transferência. Quando ele chegou à delegacia, o
atendente disse que havia sido preso um indivíduo com os documentos de Mariana. Frederico
de posse dos documentos dela, conseguiu interná-la em outro hospital.
*****
Depois
de muitos dias, na UTI e agora no quarto, Mariana estava bem, ainda um
pouco fraca, mas já em condições de ir para casa. Foram
dias de incertezas e angustias para Frederico, pois Mariana realmente estava
muito mal. O médico, mesmo, havia dito a ele, que as chances de ela sobreviver
eram poucas, mas tinha um fio de esperança. Precisavam aguardar.
A infecção ainda era a maior preocupação.
Mas
ela reagiu e a febre foi embora. Ela estava bem debilitada, mas logo estaria
boa. Frederico agradecia a Deus por sua bondade, por permitir que Mariana
vivesse. Ele tinha pedido a Amélia que preparasse para Mariana o quarto principal da casa,
ou seja, o quarto dele. Ele queria que ela tivesse o máximo de conforto.
Mariana
se emocionou quando chegou ao sitio, pois todos os empregados a receberam com
carinho e desejando pronto restabelecimento. Ela
estava fraca para caminhar, e Frederico a pegou no colo e a levou para o
quarto, que estava pronto esperando por ela. Ele e Amélia iriam se revezar no
cuidado para com ela.
Frederico
passava o dia com Mariana, só saia do quarto quando a Amélia vinha para preparar
o banho dela. Até a noite ele ficava, tinha mandado colocar um colchão no chão,
para ficar perto dela.
Mariana
dormia muito, e enquanto ela dormia, Frederico se distraia com um livro. E
muitas vezes, ele ficava apenas olhando para ela, coisa que ele não se cansava
de fazer, pois contemplava aquele rosto amado.
Naquele
dia, Mariana acordou mais disposta, e conversou muito. Ele tinha receio por ela,
tinha medo que ficasse cansada. Mas ela estava se recuperando, com uma cicatriz
horrível na barriga. E rindo ela disse:
--
Ainda bem que eu não uso biquíni, por que a cicatriz é muito feia. Bah um
horror.
--
Posso ver?
--
Sim.
Ela
levantou a coberta e puxou a camisola para ele ver. Frederico não se importou
com a marca e disse:
--
Não é assim como tu dizes. Ainda é recente e está muito vermelha, mas com o
tempo ela fica menos aparente.
--
Tu achas?
--
Sim. Eu acho vai se tornar o teu charme.
--
Como charme se ninguém verá?
--
Eu pretendo ver todos os dias da minha vida.
Mariana
corou e ficou quieta. Ele deu um sorriso malicioso. Pegou a mão dela e a beijou
e continuou:
--
Tu não imaginas o medo que tive de te perder. Essa cicatriz é marca da tua
determinação em querer viver. E eu te sou grato por isso. Tu estivestes muito
mal, os médicos não me deram garantias. Foram dias terríveis.
--
Eu sobrevivi porque tu estiveste todo o tempo ao meu lado, segurando a minha
mão... Eu acordava e dormia e tu sempre ali. Foi a tua presença, o teu amor e a
tua esperança que me ajudaram a superar as barreiras da infecção.
--
Mas agora passou. A cada dia que passa tu estás mais forte e logo nós estaremos
casando.
--
Sim. Mas eu quero um casamento simples, e com a presença apenas dos nossos amigos
verdadeiros. E sabemos que são poucos.
--
Será tudo conforme a tua vontade. Eu te amo muito e quero demonstrar esse amor
através do meu corpo inteiro.
--
Eu sei... Eu também te quero.
Ele
a beijou com carinho. Amélia entrou no quarto para preparar o banho de Mariana.
Frederico saiu. Foi para a sua poltrona predileta na sala, para planejar a lua
de mel.
*****
Três
meses depois eles desfrutavam de um passeio de gôndola na romântica Veneza.
Mariana estava restabelecida, e a lua de mel estava recém começando...
Maria Ronety Canibal
Julho de 2018.
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