Uma
fotografia...
Uma
foto fez Tobias lembrar-se de Valentina.
Sua amiga de infância. Ele recordou os bons tempos, época que viviam
no sitio, tendo ao fundo um córrego... Foram muitas pescarias!
Suas
famílias eram muito amigas, e ele estava presente quando seu pai combinou com
seu Alencar, o casamento dele com Valentina, e os dois homens brindaram a esse
dia, com muita alegria, selando a forte
amizade que os unia.
Ela
era ainda uma menina, com cerca de oito anos, e ele já tinha doze, quando seu
Alencar, o pai dela, faleceu, e dona
Sandra mudou-se para capital, com a sua
filha. E eles nunca mais se encontraram.
E
muita coisa mudou desde então.
------
Era
uma tarde fria quando Tobias tocou a companhia da casa. Ele estava um pouco
nervoso. Era uma casa muito bonita, grande e luxuosa. Esperou. Ia tocar
novamente, quando a porta se abriu, e uma senhora o atendeu.
--
Boa tarde. O que o senhor deseja?
--
Olá, eu estou procurando por Valentina, ela está?
--
Sim. Seu nome?
--
Tobias de Alcântara.
Ele
aguardou no hall, e logo a senhora o conduziu para uma sala muito elegante. Ele
já estava começando a se arrepender daquela loucura. Era muito luxo, e ele
estava se sentindo mal. Mas então
Valentina apareceu.
Ele
estava parado de pé junto à lareira e ela parou quando o viu. Olhou para ele de
cima abaixo e franziu a testa e perguntou:
--
Eu te conheço?
--
Sim. Talvez não lembre... Tu eras muito pequena... E se passaram doze anos. Mas
nós éramos vizinhos de sitio e brincávamos juntos.
--
Agora eu lembro. Seja bem vindo. Sente por favor, e me diga por que estás aqui.
Tobias
a olhou com intensidade, mas não se moveu. Ela sentou, e com um sorriso
malicioso olhou para ele. O olhar dela era avaliador. E ele se sentiu como se
fosse uma peça de leilão.
Era
melhor dar uma desculpa qualquer e ir embora. Aquilo não ia dá certo. E ela era
linda demais. E ele ia acabar apaixonado...
--
E estou aqui porque eu vi uma foto de quando nós ainda éramos crianças, em uma
pescaria com nossos pais, que eram amigos.
--
Tens a foto ai? Deixa-me ver?
--
Sim. Aqui está. Disse ele tirando a foto do bolso da jaqueta.
Valentina
olhou a foto e disse:
--
Eu me lembro desse dia. Foi pouco antes de meu pai morrer... Isso foi na sanga
rasa, que passava ao fundo de nossas casas. Foi setembro de 1992.
--
Sim. E então vocês foram embora.
--
Eu gostava muito de lá. Foi muito difícil, para mim, vir para cá. Mas minha mãe
decidiu...
--
Como está sua mãe?
--
Ela deve estar bem... Está viajando com seu marido rico.
--
E tu ficas sozinha neste casarão?
--
Sim, a maior parte do tempo. Com os empregados, é claro.
--
Queres sair?
--
Não obrigada. –Valentina tocou a sineta e pediu que preparassem um café.
--
O que gostas de fazer?
--
Eu gosto de desenhar... Acho que tenho uma veia artística.
--
Gostaria de ver os teus desenhos...
--
Um dia eu te mostro. Venha vamos tomar um café. Está muito frio...
Eles
passaram para uma sala onde estava
servido o café com diferentes acompanhamentos, desde sanduíches até bolo de
chocolate. Eles sentaram, comeram e conversaram.
Recordaram
os bons tempos, sobre como estavam diferentes fisicamente e da vida que levavam
atualmente. Conversaram como velhos amigos. O que de fato eram.
Tobias
estava se despedindo de Valentina, quando ela falou:
--
Como me achaste?
--
Pesquisando e demorou até obter a resposta certa.
--
Gostei de tua visita, volta mais vezes... É bom falar do tempo em que éramos
felizes...
--
Sim voltarei, talvez amanhã. Posso?
--
Sim! Vou te esperar. Tchau.
Tobias
foi para o seu apartamento, precisava ordenar seus pensamentos, ela o deixou
fora do eixo. Aquele rosto de feições delicadas, aqueles olhos escuros e os
lábios sensuais o deixaram fascinado.
Mas
ela no meio daquele luxo e riqueza parecia tão frágil, tão sozinha e tão triste.
Era uma moça inteligente, agradável e culta. Ela tinha recebido uma ótima
educação, porém não estava feliz.
Ele
sentia que deveria fazer alguma por ela. Mas o quê?
Na
tarde seguinte ele voltou à casa de Valentina e ela o esperava. Abriu um largo
sorriso para ele, que o deixou emocionado. Tobias havia decidido tornar a vida
dela mais alegre e cheia de expectativas. E por sua cabeça passou a idéia de
realizar o compromisso feito por seu pai. Bah... Seria excelente!
Ela
era muito especial, tinha um lindo sorriso, porém o seu olhar era triste. Ele queria alegria em
sua expressão. Por isso decidiu mimá-la. A cada visita levar um presentinho
para ela.
Na
tarde seguinte quando ele tocou a campainha ela logo abriu a porta. Já o
esperava. Sorriu para ele. Ele entregou a ela uma caixa de bombons, e esse
gesto simples, a fez feliz. Credo! Ela precisava de tão pouco... Talvez só
atenção bastasse.
Ele
precisava saber mais sobre a vida dela e fez muitas perguntas; e ele respondeu
outras tantas; e descobriu que ela encerrou sua vida de estudante no ensino
médio.
--
Não quiseste cursar faculdade?
--
Eu queria fazer a faculdade de Belas Artes, mas me barraram...
--
Quem?
--
Ora quem... Minha mãe e seu digníssimo marido.
--
Por quê?
--
Porque eles queriam que eu cursasse algo
mais consistente, mais na moda, como Medicina, Direito, Arquitetura...
--
Mas tudo é questão de aptidão, vocação...
--
Pois é! E tu cursas o quê?
--
Estou terminando Arquitetura e Urbanismo. Vou me formar no fim do ano. E depois
vou para Holanda fazer um Pós, na Universidade Delft. Eu consegui uma bolsa de
estudos e o interessante, é que nesta universidade, há uma ampla visão dos
diferentes campos onde o arquiteto pode atuar. É muito importante ter essa
conhecimento para um melhor discernimento.
Dizem
que Delft é uma cidade acolhedora,
pitoresca, com suas construções
antigas, pois é citada como cidade desde o ano 1200, e com seus canais, pontes
e flores que a deixa muito charmosa... Eu estou muito empolgado.
--
Que bom. Temos algo em comum. A arte nos atrai.
--
Com certeza... Mostra-me teus desenhos.
Valentina
o levou até o seu Studio, no sótão, onde ela passava os dias pintando e
desenhando. Era um local mal iluminado e sem ventilação, mas ela estava
orgulhosa daquele espaço.
--
Neste imenso casarão não há um lugar mais apropriado para praticares tua arte?
Aqui não tem iluminação natural...
--
Eu sei, mas é isso ou nada. Simples assim. Minha mãe odeia meus quadros e
desenhos. E tu o que achas?
--
São bons, eu gostei. Mas aqui não é salubre para essa atividade. O cheiro das
tintas pode te criar problemas...
--
Eu sei. Tudo isso eu já disse para a dona Sandra, mas ela é irredutível. Aliás,
ela não quer que eu pinte.
--
Tu tens liberdade de sair para onde quiseres ou precisas de consentimento de
tua mãe?
--
Bem depende. Durante o dia eu posso sair sem dar satisfação, mas a noite ela
não me deixa sair, sem saber onde e com quem estou.
--
Bem, ela não deixa de ter razão. Mas eu moro em uma cobertura, e tenho uma sala
especial para pintar. Eu também gosto de pintar, e igualmente uso para
desenhar, é muito clara e ventilada. E
totalmente independente do apartamento. Se
quiseres ir ver se te agrada...
--
Eu vou. Não preciso nem olhar. Tudo é melhor do este lugar. Mas vou deixar todo
esse material aqui, assim ela não fica sabendo.
Tobias
achou graça. Mas estava contente de poder proporcionar a ela um lugar mais
adequado, e sobretudo em tirar Valentina dali.
Naquela
mesma tarde eles saíram para comprar todo o material necessário para ela. E
foram ao apartamento dele conhecer o local. Valentina adorou! Era o espaço
ideal, que todo o artista almejava ter.
Combinaram
que ela viria três vezes na semana. Ele a deixou livre para escolher o dia e a
hora que fosse mais conveniente. Nem sempre ele estaria e por isso deu a ela
uma cópia da chave.
A
amizade entre eles estava restabelecida, ele continuava dando pequenos
presentes para ela, pois ele gostava de ver o brilho em seus olhos e o lindo
sorriso que enfeitava aquele rosto delicado.
Os
dias passavam e Tobias se tornou muito importante para Valentina. Não só pelo
apoio integral a sua arte, mas também por ser tão atencioso e gentil, sempre preocupado em agradá-la.
Ele
a tratava com respeito e quando ambos estavam trabalhando na sala, eles mal se
falavam, pois cada um ficava focado em sua criação. Tobias muitas vezes ficava
observando ela pintar. Ela era cheia de trejeitos, era muito engraçada, mas
também encantadora.
Tobias
sabia que estava a ponto de se apaixonar perdidamente por ela. Seguidamente ela
ocupava seus pensamentos e provocava sonhos eróticos. Mas ele tentava não se
aproximar muito dela, para evitar passar do limite da amizade.
Eles
saiam juntos com freqüência. Descobriram que curtiam as mesmas coisas. E
naquela noite ele foi pegá-la para irem ao teatro. E ele não sabia que dona
Sandra já tinha retornado de sua viagem.
Ele
bateu a porta, e a governanta, dona Zilda o atendeu. Ele entrou e ficou no hall
aguardando por Valentina. Quando escutou a conversa entre mãe e filha:
-- Aonde
vais?
-- Vou ao
teatro, quantas vezes é preciso repetir?
-- Com
quem?
-- Com o
Tobias.
-- Quem é
Tobias?
-- Meu
amigo de infância. Lembra do filho do amigo do pai?
--
Credo, aquele pé rapado! Com tanto rapaz rico, tu escolhes sair com um pobre!
Tu és igual ao teu pai, sempre “buscando a simplicidade” como ele dizia. Espero
que crie juízo e te afaste deste teu amigo de infância. É preciso olhar sempre
para cima, só assim se sobe na vida.
--
Já deu? Se eu sou como meu pai, de nada adianta ficar falando a cada minuto.
Fui...
Quando
Valentina chegou ao hall se deu conta que Tobias devia ter escutado a conversa,
e se desculpou:
--
Desculpe por isso... Vamos...
--
Estás linda... Vamos
Eles
saíram de mãos dadas. Valentina naquela noite estava muito bonita. Usava um
vestido de malha azul marinho, que moldava seu corpo perfeito. Tinha os cabelos
presos e usava um par de brincos pingente que dava um toque especial ao
conjunto. Tobias estufou o peito e saiu orgulhoso ao lado daquela bela jovem.
Após
o teatro eles foram jantar. Sem nenhuma
razão aparente, mas aquela noite foi especial. Os dois conversaram e eles
fizeram planos para o futuro, que incluía uma visita de Valentina a Holanda.
No
caminho de volta ela falou:
--
Tu sabes que eu acho que meu pai sabia que iria morrer logo, pois ele deixou
para mim, uma caixa lacrada, com algumas coisas dele e documentos que
interessavam somente a mim. Entre eles a escritura do sitio, que ele comprou em
meu nome. E o mais interessante é um documento assinado por ele e teu pai, onde
está firmado um compromisso entre eles, que nada mais é do que a promessa de
casamento entre nós. Fico até constrangida em dizer, mas eu achei muito
peculiar, bem coisa deles...
--
Sim, eu sei. Eu estava presente quando eles firmaram o contrato. Brindaram e
comemoraram com se estivesse acontecendo. Eu era ainda muito jovem, mas sabia o
significado do compromisso.
--
E não protestastes?
--
E devia?
--
É que nos tempos de hoje não se usa mais esses meios.
--
Tu rejeitarias o compromisso?
--
Acho que não...
--
Eu também não.
Os
dois se olharam por um breve momento e riram. Porém foi um olhar profundo que
revelava coisas que a boca não se animava a pronunciar. Eles se despediram com
um beijo leve, mas não mais na bochecha e sim nos lábios.
Valentina
entrou em seu quarto, trancou a porta e ficou girando de felicidade.
Definitivamente ela estava apaixonada por ele. Em breve ele iria embora, mas
ela não se importava. Iria atrás dele.
Os
dias passaram rapidamente, e o fim do ano chegou, com muita programação. Entre
elas a formatura de Tobias, que ela não
deixaria de comparecer.
Estava
um dia quente, e para o fim de tarde estava previsto um forte temporal na
cidade. Mas Valentina não mudou seus planos. Arrumou-se com esmero. Ela tinha
escolhido para ocasião, usar um vestido longo de verão, na cor turquesa. Deixou
seus cabelos soltos e fez uma maquiagem suave e colocou um conjunto de brincos,
gargantilha e pulseira com pedras turquesa.
Quando
ela chegou ao salão de atos, procurou um lugar mais a frente, de onde pudesse
ver seu querido por inteiro, Ela estava feliz por ele. Era um dia muito
importante na vida de seu amado amigo.
Após
a cerimônia ela foi ao encontro de Tobias. Esperava vê-lo rodeado por seus
familiares, mas era apenas ela ao seu lado. Valentina ficou curiosa, mas ali
não era hora de fazer perguntas.
Mas
em volta de Tobias estavam professores que não se cansavam de elogiar seu
inigualável desempenho no curso. E o incentivando a buscar mais conhecimento na
área.
Quando,
enfim, eles se dirigiam a saída, perceberam o forte vento que assolava aquela
parte da cidade. Ouviam estrondo de vidraças despencando. Resolveram aguardar
ali, até que a tempestade se acalmasse.
Valentina
não gostava de temporais, tinha medo, então Tobias passou o braço por seus
ombros e puxou para junto dele, e a manteve perto dele. Ele sentiu que ela
estava com o coração pulsando forte, e
atribuiu ao medo. Mas na verdade ela estava assim pela proximidade dele.
Quando
puderam deixar o prédio, viram que na rua estava o caos estabelecido. Mas
Tobias tinha vindo de carro e o deixara estacionado bem próximo da porta.
Correram
até o carro. Tiveram dificuldade de andar pelas ruas, pois havia arvores e
postes derrubados. Haveria uma festa da turma, mas foram avisados que o local estava
todo alagado, já que a cobertura tinha sido danificada. Então resolveram ir
para o apartamento dele.
Ao
se aproximar descobriram que ali o temporal tinha sido mais brando, e nem a luz
havia sido cortada. Subiram e Tobias foi a cozinha, consultar a o refrigerador
e ver o que eles tinham para comer, pois estavam com fome.
Abriram
uma garrafa de vinho branco e pegaram queijo, salame e pão e alegremente se
banquetearam. Conversaram, riram e se beijaram...
Foi
um beijo rápido, fruto de um alegre ímpeto. Talvez conseqüência do vinho, ou
simplesmente da vontade que ambos tinham de beijar. Porém foi um beijo que
mexeu no interior de cada um.
Meio
assustados eles se olharam, sorriram e tornaram a se beijar. Agora um beijo
consciente e profundo, que ambos se empenharam em fazer bem. Valentina não
tinha experiência em beijar, era sua primeira vez, mas ela queria muito agradar
a Tobias, todo seu ser vibrava de emoção.
Tobias
também estava emocionado, a vontade de beijá-la o consumia, e ele a tomou em
seus braços e a beijou com paixão. Percebeu que ela se esforçava para dar o
melhor e ele interrompeu o beijo, olhou
em seus olhos e sussurrou:
--
Minha amada...
E
retomou o beijo com ousadas caricias. Valentina não reagiu ao contrário, o
incentivou a seguir em frente. E eles tiveram uma noite de amor.
Na
manha seguinte, Tobias acordou cedo, e viu que Valentina dormia aconchegada a
ele. Ele a acariciou suas costas e ela se aninhou mais. E naquele momento ele
decidiu que casaria com ela. Fechou os olhos e dormiu tranqüilo.
Enquanto
tomava o café da manhã Tobias disse a ela:
--
Tu és maravilhosa... Vamos casar.
--
Casar?
--
Sim, foi a tua primeira vez.
--
Tu não és responsável, eu também quis.
--
Eu sei, mas eu quero casar contigo.
--
Mas eu não sei se quero casar só porque dormimos juntos.
--
Não é só por isso. Eu te amo...
--
Eu gosto de ti, mas não sei se é amor. Preciso pensar.
--
Nós podíamos ir juntos para Holanda. Depois casamos...
--
É uma proposta... Talvez eu aceite. Bem preciso ir...
--
Eu te levo só espera eu me vestir.
Os
dias passaram, e Valentina estava muito estranha. Não agia mais com
naturalidade diante dele, e arranjava desculpas para não sair com ele. Tobias percebeu,
mas mesmo assim esperava passar o Natal com ela, no entanto não foi o que aconteceu.
Tobias
decidiu antecipar sua viagem.
Após
as festas de fim de ano, Valentina foi ao apartamento de Tobias, então soube
que ele tinha viajado. Ela ficou zangada com a atitude dele. Ela sabia que
naqueles dias antes do Natal, tinha sido
negligente com ele, que até se recusou a sair com ele, só que havia motivos
para isso. Ela estava nervosa e ansiosa e não queria que ele soubesse de suas
aflições.
Valentina
voltou para casa, se trancou no quarto e chorou... Ela tinha descoberto que o
amava muito, que carregava em seu ventre um filho dele...
E
para piorar as coisas ele devia estar com telefone novo, pois ela ligava e
identificava como numero não existente. Tobias não usava as redes sociais. E
como ela iria fazer para se comunicar com ele?
Valentina
sabia que sua mãe não lhe daria dinheiro para ir para Holanda, ela não tinha o
suficiente, embora tivesse direito a metade das propriedades herdada do pai, e
tão pouca as rendas dos alugueis. O inventário não estava concluído. E ela não
tinha o que fazer, já que seu padrasto era o advogado responsável, e eles não
se davam bem.
Mas
ela tinha decidido que iria atrás de Tobias. Estava providenciando o
passaporte. E arrumando um jeito de conseguir dinheiro.
Naquela
manhã ela foi até o apartamento de Tobias para pintar. Olhou seus quadros e
lembrou-se do que Tobias havia dito sobre o seu trabalho. Segundo ele seus
traços eram fantásticos, ela traduzia em seus quadros paixão, e seriam fáceis
de vender.
Sem
muito pensar, ela embrulhou alguns de seus quadros e foi até um marchand,
indicado por uma galeria. O senhor Pierre Flur olhou os quadros e perguntou se
tinha mais. Então ela o levou até o atelier e o homem ficou entusiasmado com o
trabalho dela. E ofereceu um bom dinheiro pela obra. Ela vendeu todos, com
exceção de dois, que ela havia dado para Tobias.
No
que seu passaporte foi entregue, ela comprou sua passagem para Amsterdã.
Arrumou suas coisas e as levou para o atelier. Não ia contar para sua mãe sobre
a sua viagem. Estava muito magoada para isso. Ia simplesmente enviar um bilhete
avisando sobre sua viagem.
Para
Valentina foi uma viagem difícil. Ela não gostava de andar de avião e por conta
da gravidez ela enjoou muito. Chegou a Amsterdã sentindo-se fraca e zonza,
precisou permanecer um pouco sentada, tomar um suco para poder tomar seu rumo.
Ela
chegou a Delft e foi direto para a universidade, informou-se sobre o local do
curso de arquitetura e sentou-se um banco próximo a porta de saída dos alunos.
Viu
alguns estudantes saindo, mas Tobias não estava entre eles, aguardou mais um
tempo, então ele surgiu a porta, acompanhado de uma moça, que, aliás, estava
dependurada nele.
Valentina
quando viu, sentiu seu coração se partir. Já havia outra pessoa na vida de
Tobias, ela perdera a vez. Mas mesmo assim precisava falar com ele.
Ela
levantou-se e Tobias a viu.
Notadamente
ele ficou pasmo. Jamais imaginou vê-la ali. Um turbilhão de emoções passou por seu
coração. Ele livrou-se de sua amiga e foi até ela. Abraçou Valentina com
alegria. E com entusiasmo disse:
--
É muito bom ver. Quando chegaste?
--
Hoje.
--
Vamos para meu apartamento. Podes ficar lá o tempo que quiseres. Eu estou feliz
em te ver.
Ele
a abraçou e caminharam pela rua em direção ao prédio dele. Não era muito longe
dali.
Valentina
usava uma calça legs e um blusão folgado por cima, sua barriga assim não era
notada. Mas mesmo assim ela teria que falar, o mais breve possível. Estava um tanto
encabulada, depois de tanto tempo...
Eles
tomavam uma caneca de chocolate quente quando Tobias falou:
--
O que há contigo? Estás diferente... Tu estás grávida!
--
Sim. Quando te procurei, não te achei... E agora já estou entrando no quarto
mês...
--
Um filho! Nosso!
--
Desculpe... Chegar assim de surpresa e ainda com uma novidade dessas...
--
Eu estou feliz, um pouco incrédulo, ainda, mas feliz! Tu me esnobaste naqueles
dias, nem atendia aos meus telefonemas, então resolvi vir antes da data
prevista.
--
Eu sei, mas as circunstâncias em que eu me encontrava... Eu estava na fazenda
de uns amigos de meu padrasto, inclusive com o intuito de me fazer conviver uns
dias com o filho do homem. Um cara sem expressão, um tipo riquinho, que não tem
nem assunto para conversar. Eu estava me sentindo mal, desconfiada de que
estava grávida, e precisei aturar tudo isso. Foi horrível. Eu só queria voltar
para estar contigo. Então quando fui te procurar... Não te encontrei. Chorei
muito, e resolvi vir atrás de ti. Precisava de dinheiro, e então vendi todos os
meus quadros, só ficaram os dois que te dei. Consegui o suficiente para vir, e
cá estou, e te encontro com outra, e eu com uma criança na barriga...
--
Não tenho nada com ninguém... Melissa é minha colega, ela é brasileira também.
--
Não é o que parece, ela estava literalmente dependurada em ti.
--
Está com ciúme? Perguntou ele sorrindo.
--
Talvez...
--
Tu ficaste feliz em saber que carregas um filho meu?
--
Sim, mas muito assustada. Não tenho idéia de como faremos para nos sustentar.
Eu posso continuar pintando e vendendo meus quadros, assim te ajudo nas
despesas. Mas em relação a criança, não sei como faremos...
--
E tua mãe o que disse?
--
Ela não sabe. Inclusive eu fugi. Mandei um bilhete pelo correio no dia que embarquei,
apenas dizendo que eu nâo ia voltar.
Tobias
descansou sua caneca na pia e foi sentar ao lado de Valentina que estava
chorando. Ele a abraçou carinhosamente e deixou que ela colocasse para fora
toda a tensão. Ela soluçava e desabafava... Falou coisas que ele não imaginava
que estivesse acontecendo em sua vida. E viu que seria necessário acionar seu
advogado para estabelecer o direito de Valentina a herança do pai.
Ela
se acalmou, mas ela a manteve junto dele. Ele sentia falta de sua proximidade.
Ele era muito só, aliás, sempre foi sozinho.. Sua mãe morreu de câncer quando
ele era ainda um adolescente, e seu pai não levou muito tempo para encontrar-se
com sua mãe. E aos dezessete anos estava sozinho no mundo. Ele não conheceu seus
avôs e nem o resto da família. Houve um rompimento familiar logo que seus pais
casaram. Quando eles vieram para o sul. Foi o “tio” Raul, que era advogado e um
amigo de seu pai, que ficou de tutor, e desde então é o seu administrador.
Aos
vinte e um anos, ele recebeu a herança de seu avô materno, que era paulista e
além de terras, tinha também imóveis em Campinas. Portanto Tobias não tinha
nenhuma preocupação em relação a finanças. Ele podia muito bem sustentar sua
família.
Naquela
noite eles dormiram abraçadinhos... Bem aconchegados.
Nos
dias que se seguiram Tobias levou Valentina ao médico, coisa que ela inda não
fizera. Mas saíram tranqüilos, estava tudo bem e seria uma menina. Eles estavam
felizes.
Embora
Tobias tivesse explicado para Valentina que ela não precisava colaborar com dinheiro, ela começou a pintar
com o intuito de vender. Ela tinha facilidade para colocar na tela suas idéias,
e em uma cidade tão romântica, ela criou quadros maravilhosos. E os vendia com
facilidade e tinha um excelente retorno financeiro.
Era
um dia chuvoso e Valentina saiu apressada para ir a padaria. Tobias logo
estaria em casa e ela queria recebê-lo com pães ainda quentinhos para o lanche.
Tobias
entrou em no apartamento e notou que Valentina tinha arrumada uma linda mesa
para o lanche. Achou que ela estivesse tomando banho, mas na verdade ela não
estava em casa. Então foi até a janela, quando viu uma ambulância chegando para
levar uma pessoa que tinha sido atropelada. Ele prestou atenção a cena e com
horror viu que era Valentina que estava sendo colocada na maca.
Ele
saiu desesperado, e correu escada abaixo, mas quando chegou à rua a ambulância
estava saindo. Ele tomou um taxi e foi atrás.
Chegou
ao hospital e precisava esperar para saber como elas estavam. Foram os piores
momentos de sua vida. Ficar sem saber o que tinha acontecido com as duas...
Sim! Com as duas. Foi o que ele pensou,
pois sua querida Celina, a sua filha que ainda estava sendo gerada, já era
muito amada. Ele não saberia continuar vivendo sem elas, ambas eram importantes
e se precisasse escolher? Céus! Que Deus o protegesse de uma situação dessas.
Ele
amava Valentina profundamente, embora muitas vezes eles tivessem dificuldade no
relacionamento, por causa do gênio forte dos dois, ele a queria em sua vida.
Depois
de algum tempo de espera o médico o permitiu entrar e ver Valentina. Graças aos
céus, não tinha sido nada de grave. Mas ela precisava ficar em observação e
permaneceria internada por dois dias, foi o que médico disse a ele.
No
pequeno quarto, Valentina dormia. Ela havia tomado calmante, pois estava muito
nervosa. Ele tomou a mão dela entre as suas, a beijou com delicadeza na testa e
a olhou com amor, e permitiu colocar toda tensão para fora ao deixar as
lágrimas rolarem silenciosamente.
Tobias
saiu do hospital e foi para casa andando. Ainda chuviscava, mas ele precisava
caminhar. Já era noite quando entrou no apartamento. Foi para o quarto e abriu
a gaveta onde Valentina guardava o enxoval de Celina. Ele pegou cada roupinha e
afagou.
------
Os
dias passavam e Tobias precisava se dedicar aos estudos, por isso ficava muitas
horas na biblioteca da universidade estudando e fazendo seus trabalhos.
Ele
chegava tarde e Valentina reclamava. E cada dia parecia que se entendiam menos.
Eles já não faziam mais amor, pois com o adiantado da gravidez, ele achava que
não devia. Aliás, desde que ela chegara, foram poucas vezes que tiveram
intimidade.
Faltava
pouco tempo para Celina nascer, e Tobias atribuía o mau humor de Valentina a
isso. A barriga devia incomodar, já não dormia bem, e se sentia pesada e
cansada. Era um período de férias e ele pode dar atenção a Valentina. E nos
últimos dias ele a mimou muito.
Enfim,
Celina chegou!
Ela
era linda! Muito parecida com Valentina. E ele estava orgulhoso das duas
mulheres de sua vida.
Mas
com a chegada da pequena a vida virou um caos. As aulas de Tobias recomeçaram e
Valentina não conseguia dar conta de tudo sozinha. E quando ele chegava em casa era só choro e
reclamação.
Por
paciencioso que ele fosse; Tobias não conseguia superar os problemas criados
por Valentina. E tinha a certeza absoluta de que o esforço para criar um
ambiente de paz, partia somente dele.
Ele
já tinha tentado de tudo. Arriscou resolver os problemas através do diálogo, do
carinho, da indiferença..., mas nenhum desses métodos foi eficaz.
Tobias
havia imaginado que depois do nascimento de filha, o relacionamento entre ele e
Valentina assumiria uma rotina e eles estabeleceriam uma intimidade maior entre
eles.
Tudo
ilusão! Ele não sabia o que fazer... Sua vida estava de pernas para o ar.
°°°°°°°
Valentina
também estava decepcionada com a vida em comum deles. Sempre imaginou que o amor
era lindo... Embora ela amasse muito a Tobias, ela não conseguia enxergar a
felicidade junto dele.
Estava
resolvida a voltar para casa de sua mãe, onde com certeza teria alguém para
tomar conta de Celina, que não dava folga um minuto. Precisava conversar com
Tobias, e sabia que não seria fácil.
Valentina
havia decidido que não iria mais protelar o assunto. E quando Tobias chegou,
naquele fim de tarde, ela chamou para uma conversa.
Tobias
quando chegava ao apartamento, tinha o costume de entrar com um sorriso no
rosto, abraçar e beijar sua amada, para depois pegar Celina no colo e acariciar
sua querida filha.
Naquele
dia não foi diferente, porém Valentina notou que havia um brilho no olhar dele. Ela o amava muito, estava com
o coração apertado, mas era preciso colocar para fora toda a aflição que
guardava em seu peito.
--
Nós precisamos conversar... – disse Valentina.
--
Sim, tenho novidades. As damas por primeiro.
Tobias
andava pela sala com Celina no colo. Então Valentina pediu:
--
Senta. O assunto é importante.
--
Ok. Já estou sentado. Continua...
--
Tu sabes que as coisas não andam bem entre nós. Eu gostaria que fosse
diferente, porque eu te amo, tu sabes disso. Mas não dou conta de cuidar
sozinha de nossa filha. E quando tu chegas em casa, eu estou cansada demais e
não te dou atenção; e não somos mais um casal. Estamos ficando distantes um do
outro. Somos apenas duas pessoas que moram no mesmo local. Isso é muito desgastante. Então estive pensando em voltar
para a casa de minha mãe. Lá será mais fácil, terei ajuda... Quero que entendas
que eu não estou te deixando, só preciso superar esta fase.
--
E eu fico sem a minha filha? Não é um pensamento egoísta? Eu amo essa coisinha
fofa. Se eu pudesse eu te ajudava mais. E eu não estou te cobrando nada! Sei
que tudo isso vai passar... Mas tu sabes que eu preciso fazer os meus
trabalhos, pesquisas e estudar. E por isso fico mais tempo fora, pois utilizo a
biblioteca da faculdade. Por que aqui não deu certo. Tu sabes.
--
Sinceramente eu não tinha pensado por este lado. Claro vais ficar longe dela.
Um
silêncio caiu sobre eles. Tobias abraçou a filha. Não suportaria ficar longe
delas... Ele olhou para Valentina e percebeu que ela chorava. Ele que tinha
chegado tão feliz, com uma boa noticia para eles, mas agora não iria nem falar
sobre o assunto.
No
entanto, Valentina lembrou que ele tinha algo para dizer e perguntou:
--
O que tu tinhas para me dizer?
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Nada importante...
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Me diga mesmo assim, quero saber.
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Acho que não é hora...
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Por favor, fale, está me deixando ansiada...
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A embaixada me avisou que os papeis ficaram prontos. Que podemos marcar a data
do nosso casamento. Só isso.
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Como não é importante?
--
Mas tu queres voltar para casa de tua mãe, aliás, um lugar onde não suportavas
viver...
--
Tens razão. Eu não suportava mais morar lá. Peço que me desculpes. Fui
infantil. No primeiro problema querendo voltar para casa da mãe. Mas eu estou
exausta. Não consigo fazer tudo, esse apartamento está sujo, a minha comida não
é boa, e não sei se consigo ser uma boa mãe para Celina. Não tenho esses
predicados.
--
Vamos ter que dar um jeito.
--
Mas qual?
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Primeiro precisamos ter a certeza de que queremos permanecer juntos.
--
Tu queres?
--
Eu quero, e tu não vai mais querer correr para a mamãe?
--
Não! Foi loucura pensar uma coisa dessas. Vamos permanecer juntos, nós nos
amamos e amamos nossa filha.
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Muito bem. Vamos contratar uma pessoa para fazer a limpeza do apartamento.
Assim não te sobrecarrega tanto.
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E a comida?
--
Bem a comida eu terei que agüentar. Quando der eu cozinho... Está bem assim?
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Mas uma pessoa para limpar vai ficar muito caro...
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Não importa!
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E quando vamos casar?
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O mais breve possível. Vou ver meus compromissos na faculdade e ver se consigo
dispensa para a próxima semana.
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Não temos ninguém para servir de testemunhas.
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Pensei em convidar meu professor e a esposa. Eles são ótimos. Talvez até possam
nos ajudar com a Celina.
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Está bem. Semana que vem...
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Vou comunicar a minha mãe. Ela pode até aparecer por aqui.
--
Tudo bem. Se ele vier vamos tirar um dia para a nossa lua de mel.
--
Um dia?
--
Melhor do que nada...
Valentina
sorriu, aproximou-se dele e o beijou com carinho. Eles se amavam. Disso ela
tinha certeza. Ela precisa amadurecer para não perder Tobias. Realmente ela
tinha sido muito mimada, nunca fizera nada e sempre teve o costume de reclamar
de tudo. Mas agora ela iria mudar. Iria se esforçar para dar conta de tudo.
Tobias
notou que depois daquela conversa, Valentina estava se esforçando para ser uma
dona de casa. Já não reclamava e nem brigava, aliás, o clima entre eles esta
perfeito. Haviam se tornado um casal de verdade. Até Celina estava mais calma.
Dormia a noite toda e Valentina podia ter um sono repousante. Ele estava feliz.
Na
próxima sexta feira seria o casamento. Dona Sandra e o marido tinham chegado.
Eles estavam em um hotel próximo.
Naquele dia Tobias ficou com a filha, era um sábado, enquanto Valentina
saiu com sua mãe para comprar um vestido para o casamento. Ele só esperava que
Valentina não se deixasse influenciar pela mãe, e comprasse um vestido mais
simples.
Dona
Sandra chamou Tobias para uma conversa em particular. Ele atendeu o chamado
dela, sem falar nada para Valentina, e foi até o hotel. Ela o esperava,
acompanhada do marido, em uma sala reservada no térreo. Tobias ficou um pouco
surpreso com o local. Por que tanta reserva? Mas não falou, apenas esperou para
saber qual era o problema.
Dona
Sandra o recebeu com cordialidade e seu marido também, mas com discrição.
--
Que bom que aceitaste vir conversar aqui. Não é nada de mais, o que temos para
falar, mas penso que é melhor que minha filha não participe. Ela não
entenderia...
--
Admito que eu fiquei curioso para saber qual é o segredo. – Falou Tobias
tentando ser engraçado.
--
Não há segredo. Apenas quero justificar atitudes tomadas, pelo bem de
Valentina. Tobias tu sabes que ela herdou bens imóveis do pai, e retive até
agora.
--
Sim eu sei. Até pedi para meu advogado entrar em contato para clarear a
situação.
--Então,
após a morte do pai, Valentina ficou
muito revoltada. Foi com dificuldade que eu consegui que ela estudasse até o
ensino médio. Aos 16 ou 17 anos ela começou a pintar, e fazia um bom trabalho,
mas fui obrigada a restringir as horas e o espaço de pintura, porque ela não
dormia e nem se alimentava direito, por causa da pintura. Para quem vê, deixar
que ela utilizasse o sótão para isso, parece muito estranho, já que não é
apropriado por varias razões. Assim dessa maneira drástica ela regulou seu
horário.
--
Mesmo que ela precisasse de controle, o sótão era totalmente inadequado, pois
sem iluminação natural e sem ventilação suficiente por causa do cheiro forte
das tintas. Ela poderia ter desenvolvido um problema pulmonar.
--
Concordo. Mas eu naquele momento achei que era solução. Foi nessa época que eu
e Marcelo casamos. Ela não aceitou. E foram muitas discussões. Ela fez 18 anos
e queria o dinheiro dela para ir viver pelo mundo. Foi ai que decidi reter o
dinheiro dela. Posso ter errado, mas com a intenção de acertar. Ela se negou a
prestar vestibular, queria fazer Belas Artes, e fui contra. Ela tem potencial
para qualquer outra profissão mais valorizada.
--
Ela me contou...
--
Enfim tu apareceste na vida dela, que confesso, que no inicio eu não estava
muito satisfeita, mas depois percebi que tu és o homem ideal para ela. Sabe
lidar com ela, e eu sei que não é fácil. Ela tem um gênio difícil, é igual ao
pai.
--
Ela amadureceu, e ultimamente é um doce de pessoa.
--
Que bom! E agora que vocês vão casar eu já providenciei a transferência de tudo
para ela, até os arrendamentos vão para conta dela. Ela vai ter assinar alguns
documentos, mas o Marcelo vai conduzir tudo isso.. E peço que tome conhecimento
de todos os bens dela. Assim poderás ajudá-la a administrar.
--
Não! Ela tem plena capacidade de administrar o que é dela.
°°°°°°°°
Tobias
não gostou daquela conversa. Saiu do hotel e decidiu retornar para seu
apartamento, a pé e pelo o caminho mais longo. Precisa desvanecer. Valentina
iria perceber que ele estava chateado.
Tudo
o que dona Sandra havia falado, para ele, parecia uma desculpa esfarrapada para
justificar o abandono em que Valentina cresceu. Ele sabia que Sandra era uma
mulher deslumbrada.
Tobias
ouviu, muitas vezes, sua mãe fazer comentários sobre o comportamento de dona
Sandra.
E
agora ele tinha condições de entender muito melhor a sua querida Valentina. Ela
teve muitos problemas desde a morte de seu pai.
°°°°°°°
O
casamento foi uma cerimônia simples, na embaixada, mas Valentina estava
elegante num vestido de lã azul claro. Ela tinha penteado o cabelo de modo
diferente e estava muito bonita.
Ele
estava orgulhoso de sua noiva, e muito feliz. Após a cerimônia todos foram
convidados a almoçar. O padrasto (sogro)era o anfitrião. Ele escolheu um lugar
pequeno e acolhedor, que serviu um saboroso almoço e a sobremesa foi um bolo de
noiva.
Na
tarde naquele mesmo dia quando Tobias e Valentina pegaram o trem para Paris. No
domingo estariam de volta. Mas um dia na cidade luz era o suficiente para eles
terem uma linda lembrança da lua de mel.
Paris
a cidade do amor!
E
eles se amaram com paixão. Foi mais forte e mais profundo. Tobias pensava que
tudo era conseqüência do ambiente romântico da cidade e o quarto do hotel, que
era puro rococó.
Eles
exultavam de felicidade.
Ainda
abraçados, depois do amor, Valentina falou:
--
Tudo por causa de uma fotografia. Porque foi isso que te fez procurar por mim.
--
Não! É que a foto me fez lembrar o documento assinado por nossos pais.
--
E nós cumprimos a vontade deles...
--
Sim. De onde eles estão devem estar sorrindo felizes para nós.
--
Com certeza...
°°°°°°°°
Eles
permaneceram mais um ano na Holanda, até Tobias completar o mestrado. Então
retornaram para Porto Alegre, onde decidiram viver.
Mas
resgataram o local da infância deles, uniram os dois sítios e todo o fim de
semana era para lá que iam. Celina adorava, e já estava aprendendo a pescar com
o pai.
Valentina
muitas vezes se pegava pensando sobre os acontecimentos da vida. Hoje sua filha
estava desfrutando de momentos semelhantes aos dela. E isso a deixava em paz.
Eles
tinham formado uma família feliz, ancorada em um amor forte e verdadeiro, que
se concretizava em uma vida simples.
Maria Ronety Canibal