sábado, 13 de fevereiro de 2021

(in) FELIZ

 

                               



(in) FELIZ

 

Era uma tarde de sábado,  fria e chuvosa. Embora Milena gostasse de frio, aquele inverno estava sendo muito rigoroso. Por isso ela continuava tricotando, fazendo agasalhos para as crianças menos favorecidas. Ela trabalhava como voluntária em uma instituição religiosa que abrigava crianças órfãs. Duas vezes por semana ela ia contar histórias infantis para as crianças.

Milena comprava muitos livros infantis e juvenis e doava para instituição, pois sua meta era criar uma biblioteca. Ela tinha conseguido também, em seu círculo de conhecidos, muitas doações.

Ela, recentemente, tinha passado por uma situação de perda e, sobretudo, acrescida  de um grande desgosto que a deixou muito abalada. E quando ela percebeu que a melhor maneira de se reerguer era ajudando os mais necessitados, ela se entregou de corpo alma a essa tarefa. Agora, Milena, estava tranquila. Estava com sua vida organizada e vivia muito bem. Ela morava em um pequeno apartamento próximo ao seu consultório. Ela era nutricionista.

Enquanto tricotava, o seu pensamento voava, e fazia um passeio por seu passado. Ela tentava se afastar dos pensamentos mais sombrios, aqueles que relembravam o período de sua vida, que ela queria esquecer.

Seu pensamento a levava para um passado recente em que ela havia sido muito feliz. Quando ela amava intensamente e se sentia amada da mesma forma. Foi um período breve, porém muito forte.

Os momentos felizes  foram marcantes. Apesar da decepção que veio depois, ela não podia apagar os dias venturosos, que ainda iluminavam sua vida. Mesmo imersa na tempestade de sua vida, havia um raio de sol, que a fazia lembrar que o amor existe e que é sensacional amar e ser amada.

Mas Milena não gostava de relembrar...

Então, como não conseguia dominar seus pensamentos, Milena, guardou as agulhas de tricot, levantou-se e foi até a janela apreciar a chuva. Era uma chuva miúda e contínua. As pessoas na rua passavam apressadas. Ela até sorriu pensando em como ninguém gostava de se molhar...

A campainha de sua porta soou. Achou estranho, mas ela foi atender, abriu a porta e se deparou com um homem bonito e charmoso que sorriu para  ela:

 -- Oi, desculpe incomodar. Sou Marcelo Waren,  eu sou seu novo vizinho.

-- Oi, sou Milena Franco. Em que posso ajudar?

-- Mudei hoje cedo e ainda estou em meio a muitas caixas e não encontro minha caneca. E com esse frio um café vai bem. Será que pode me emprestar uma caneca?

-- Por que não entra e tomamos um café juntos e conversamos um pouco.

-- Não vai ser inoportuno?

-- Não. Por favor, entre...

Marcelo entrou, e ficou admirado com o espaço aberto que havia ali. Ela percebeu e disse:

-- Eu reformei. Coloquei as paredes abaixo, e ficou tudo integrado. Ficou muito legal e prático. É um apartamento pequeno que ficou muito confortável.

-- Ficou muito aconchegante. E tem lareira! Realmente está muito bonito. Todos os apartamentos são iguais, aqui neste prédio?

-- É um prédio pequeno com 8 unidades. Os apartamentos dos andares inferiores tem 3 dormitórios, sendo apenas esses dois daqui de cima  um pouco menor, com 2 quartos. E eu pude abrir esse espaço todo, porque é ultimo andar. Alguma vantagem devemos ter, afinal temos que enfrentar  98 degraus... Senta, vou fazer o café.

Ele sentou no banco da ilha, da magnífica cozinha, e ficou observando ela preparar o café. E ele viu ali, uma mulher muito bonita e atraente, embora estive vestindo um abrigo.  Ela tinha um sorriso simpático, os olhos e os cabelos escuros contrastavam com a pele clara. Era bem feita de corpo e tinha uma voz doce. Ele tinha gostado dela.

Enquanto tomavam o café  acompanhado por um pedaço de bolo caseiro (feito por Milena), eles comentaram sobre seus trabalhos. Ele era Engenheiro Elétrico e estava se estabelecendo com um escritório de venda de Projetos de Energia Limpa.

Marcelo contou para Milena que recém estava chegando à cidade. Ele era paulista e sempre havia estudado e trabalhado em São Paulo, capital.. Mas ele estava cansado de cidade grande... Ele queria uma vida mais  tranquila, por isso escolheu vir para o sul.

A conversa rolou e quando Marcelo  olhou para o relógio, se levantou apressado e disse:

--Imagina estamos conversando a mais de hora. Eu preciso ajeitar o meu apartamento...

-- Bah... Tanto tempo assim? Queres que eu te ajude?

-- Seria bem vinda essa ajuda...

-- Eu não tenho nada para fazer. Vamos lá encontrar a tua caneca. Depois jantamos aqui. Eu faço uma pizza excelente.

-- Sério?

E Milena foi com Marcelo e entraram na porta ao lado. Embora eles tivessem se conhecido  há uma hora atrás, ela se sentia bem na presença dele. E por isso se ofereceu para ajudá-lo. Ela tinha gostado dele. Conversavam e agiam como se conhecessem há muito tempo. Ele era confiável, era o que seu coração dizia.

Naquele piso, o ultimo andar, eram apenas dois apartamentos com o privilégio de ter um terraço grande para cada apartamento.

Milena era muito organizada e assumiu a arrumação da cozinha e logo tudo estava no lugar. Ajeitou a sala e foi fazer a pizza. Enquanto ela preparava a massa da pizza, ela pensava que Marcelo era um homem bonito, simpático e educado. Enquanto a massa  da pizza descansava, acendeu o fogo na lareira, e  foi tomar um banho e se arrumar.

 Ela estava usando um abrigo que não a favorecia em nada, ela queria parecer bonita para ele. Olhou suas roupas e viu que não tinha nada novo, pois tinha muito tempo que não fazia compras, para si mesma. E decidiu que naquela semana ela daria uma volta no shopping,

Então escolheu uma calça jeans e uma blusa de malha de lã, na cor  azul turquesa. Ajeitou os cabelos e passou pó no rosto, pintou os cílios e passou um batom rosa natural.

Olhou-se no espelho e gostou. Aquela calça delineava muito bem as suas curvas e deixava ver que ali existia uma mulher bem feita de corpo. Ela sorriu ao pensar isso e foi para a cozinha.

Milena escolheu uma garrafa de vinho e separou. Deixaria para ele abrir. Ajeitou a cozinha e foi esperá-lo. Ela escutou uma batida de leve na porta e foi abrir e Marcelo quando a viu disse:

-- Oi... Eu já tinha percebido que tu és  muito linda, mas agora eu vejo que és bonita demais.

-- Obrigada... – respondeu Milena com certa timidez. No fundo estava feliz com a reação dele. Fazia muito tempo que ela não se arrumava para se sentir admirada pelo sexo oposto.

Mas ele também havia tomado banho e estava lindo. Ele estava usando jeans e uma camisa pólo de fina lã, na tonalidade amêndoa.

Marcelo abriu o vinho e serviu e enquanto a pizza estava no forno eles saborearam o vinho e ele escancaradamente flertou com ela.

Marcelo precisou tirar o chapéu para a pizza que ela preparou. E não se furtou a tecer elogios a ela:

-- Parabéns! Tens mãos de fada. Essa pizza está divina, deliciosa mesmo. E olha que eu morei em São Paulo, a capital da pizza, e nunca encontrei sabor semelhante a está.

-- Obrigada! Mas por favor, não exagera. Eu fico encabulada.

-- Oh... Desculpe. Mas é a pura verdade. Tua pizza é muito deliciosa. E tu mereces sim ser enaltecida. Não deves sentir timidez diante de  um elogio sincero.

Milena assentiu com a cabeça e mudou de assunto. Mas seu coração estava alegre e cheio de expectativas. Realmente aquele homem havia mexido com ela.

Os dias passavam e Marcelo e Milena se tornaram grandes amigos. Eles gostavam de estarem juntos, e descobriram que tinham muita coisa em comum. E uma delas era cozinhar.  E como a cozinha de Milena era mais ampla e funcional era ali que Marcelo criava pratos surpreendentes.

Todos os  fins de semana, Marcelo tomava conta da cozinha de Milena. E saiam as receitas mais extravagantes. Muitas vezes os dois juntos, criavam pratos que depois saboreavam com prazer.

Eles nem precisavam sair de casa para terem um ótimo programa. Sábados pela manhã eles iam juntos ao supermercado e ali decidiam o que iriam cozinhar. E então compravam todos os ingredientes necessários além de um bom vinho.

Às vezes ele a levava para passear. Saiam de carro pela cidade. Ele ainda estava descobrindo Porto Alegre. E  Milena conhecia muito bem a capital gaúcha. Outras vezes saiam em direção a serra ou ao litoral. Mas também desbravaram a costa doce, e puderam admirar a beleza da Lagoa dos Patos.

Desde que Marcelo apareceu em sua vida, Milena não soube mais o que era monotonia, e a tristeza afastou-se dela. Ele preenchia as lacunas de sua vida. Ela estava feliz. Ele era ótimo. Era companheiro sem ser galanteador. Ao lodo de Marcelo ela se sentia segura.

Para Marcelo, conhecer Milena, foi a melhor coisa que aconteceu. Ele que saiu de São Paulo amargurado e derrotado, e  encontrou em Milena uma luz que o animava. Ela o deixava feliz e seguro.

Não rolava nada entre eles. Eram amigos no sentido mais puro da palavra. Embora Marcelo se sentisse atraído por ela, ele nunca se atreveu a passar do limite. Mas ele sentia que logo a situação poderia evoluir. Dependia só dela.

Marcelo estava progredindo  em seu trabalho. Já havia implantado vários projetos. E agora estava atendendo ao interior do estado e Santa Catarina, e isso o obrigava a viajar e ficar alguns dias distante de Milena. Mas ele sempre se lembrava de trazer um presentinho para sua querida amiga. Sempre algo da região que ele estava. Às vezes eram doces ou geléias ou frutas e até mesmo flores...

Milena adorava...

O fato era que Marcelo havia se tornado uma presença constante em sua vida, e quando ele se afastava ela sentia muita falta de sua companhia. Com certeza ele era seu melhor amigo. Talvez mais do que amigo, coisa que ela não queria admitir.

Mas para Marcelo ela estava se tornando mais que uma simples amiga. Ele também gostava e precisava da presença dela em sua vida. Ele já havia sofrido por amor, tinha medo de se entregar novamente ao amor, mas Milena era diferente, ela era... Ele não tinha palavras para definir o que Milena representava em sua vida. Simples amiga? Não! Sua amada? Talvez. A essa questão ele ainda não sabia responder.

Ele havia encontrado em Milena uma mulher maravilhosa. Ela era inteligente, perspicaz, divertida, amável,  companheira e acima de tudo muito sedutora.

Ela já havia contado para ele que em determinado momento de sua vida as coisas tinham sido muito difíceis e ela havia sofrido muito, por isso ela frequentava o orfanato. Foi se dedicando as crianças que ela superou sua dor. E ele sabia que a dor tinha sido muito profunda, pois em seus olhos, ainda havia um fundo de tristeza. Marcelo tinha muita curiosidade, inúmeras vezes, ele quase perguntou para Milena a razão de seu sofrimento. Mas, um dia ele saberia, um dia chegaria essa oportunidade...

                                                   ***    ***    ***    ***

Era sexta feira, tinha amanhecido um dia lindo, com um sol esplendoroso e cálido. Milena estava feliz, foi para o consultório e voltou cedo, queria fazer  um jantar especial para Marcelo. Ela tinha começado pela sobremesa, uma torta de maçã que seria uma surpresa para ele.

Mas de repente, no meio da tarde, o tempo mudou, o céu escureceu e desabou uma tempestade com muitos raios, vento e chuva pesada. Milena se preocupou com Marcelo que deveria estar na estrada. Tentou ligar para ele, mas deu fora de área.

Milena estava em pânico. De novo não! Rezou pedindo a proteção de Deus para seu bom amigo. E a tempestade não passava. Fazia mais de hora que chovia torrencialmente. Era muita chuva...

Então ligou a TV. Uma noticia de Plantão, mostrava os alagamentos na cidade, queda de barreira nas estradas, pontes que haviam sido levadas pela correnteza e com automóveis e pessoas sendo arrastadas junto. Desligou a TV. Havia faltado luz. Ela acendeu uma vela e rezou para Mãe Conquistadora pedindo a proteção para Marcelo, e  deixou a vela acesa em cima da ilha da cozinha.

Já havia anoitecido, e chuva agora estava calma. A tempestade tinha passado. Entretanto Milena continuava inquieta. Não conseguia se acalmar, e lágrimas transbordavam de seus olhos. Marcelo era muito importante para ela, era muito mais que amigo, ele tinha se tornado indispensável na vida dela.

Ela foi para a janela... Ela estava tão absorta em seu pensamento que nem percebeu a porta se abrir. E levou um grande susto quando foi envolvida por um abraço.

Milena se virou e abraçou Marcelo com firmeza. Ela chorava e dizia palavras que ele não entendia, mas tudo revelando a preocupação e o amor que ela nutria por ele. E assim motivado ele a beijou na boca.

No primeiro instante ela se assustou, mas logo reagiu e retribuiu  o beijou com ardor. Seu coração estava transbordando de felicidade. Agora estava claro,, ela o amava.

Marcelo a beijou com ternura, era uma forma de demonstrar seu carinho e o beijo que iniciou com brandura se transformou em um beijo profundo a apaixonado.

Ambos estavam surpresos. A reação que tiveram diante daquele beijo os deixou cientes do amor que existia entre eles. Um amor puro (até então) se transformando em um amor impetuoso.

Permaneceu assim abraçado a ela, que encostou a cabeça no peito dele e chorou. Ela precisava colocar para fora toda a sua ansiedade. Ele acarinha seus cabelos e os beijava.

A luz voltou, e eles se afastaram.

Marcelo olhou para ela e viu desespero em seus olhos. Então perguntou:

-- O que aconteceu no passado que te deixa ainda assim tão aflita?

-- Eu tive medo por ti, andando na estrada com essa tempestade. Tentei de ligar e não fechou a ligação. Fiquei apavorada....

-- Eu estou vendo... Mas eu estou bem. Estou aqui. Eu estava perto quando o temporal começou. Então parei e me abriguei em um restaurante. Quando a tempestade acalmou, eu segui. O meu telefone ficou sem bateria. Não pude te avisar porque o telefone do  restaurante estava sem linha, pois o vento derrubou os postes de luz e telefone.

-- Foi terrível!

-- Sim. Um temporal muito forte. Mas eu estou com fome... Vou preparar alguma coisa para nós.

-- Não precisa. Eu fiz um pastelão de forno.

-- Hum... Vou lavar as mãos...

Eles jantaram serenamente. Conversaram sobre a semana que tiveram. Depois da sobremesa, que ele apreciou muito e foi razão de muitos elogios, ele entregou  para Milena uma pequena  caixa. Era seu presente da semana. Ela abriu e viu uma corrente com uma pedra de ametista talhada. Era linda demais!

Milena olhou para ele e disse:

-- É linda! Obrigada. Tu me mimas demais...

-- Tu mereces muito mais...

Marcelo a levou para o sofá e desta vez ele sentou bem próximo dela e colocou seu braço por sobre os ombros dela e a puxou para bem junto dele. Ele estava pensando no beijo que trocaram. E ele queria mais. Aliás, há muito tempo ele já olhava para ela com o corpo cheio de desejo. Ela era uma mulher sedutora.

Milena acomodada junto ao peito  escutava o ritmo do coração dele, que batia num cadenciado intenso. Ela também tinha o coração pulsando forte. O cheiro dele e proximidade que estavam a deixou com desejo.

Oh não! Nunca mais ela tinha tido essa sensação. Ela estava viva novamente... Depois daquele beijo um fogo de acendeu dentro dela, e agora como seria?

Permaneceram juntos em silêncio, estavam curtindo o momento. Nenhum deles queria romper aquele encantamento, pois sabiam que estavam se preparando para a sequência natural do amor.

Marcelo tomou a iniciativa e suas mãos corriam pelo corpo dela, enquanto que ela se aninhava mais a ele. Seus olhos se buscaram e suas bocas se encontraram em um beijo longo apaixonado.

Ele a tomou com paixão e  eles se amaram.

                                                      ***   ***   ***   ***

Na manhã seguinte Milena acordou com o cheiro de café que vinha da cozinha. Pulou da cama, vestiu o roupão e abriu as cortinas, e se deparou com um dia lindo de sol. Foi para cozinha e lá estava Marcelo.

Milena estava sem jeito, de certo modo estava encabulada pelo seu procedimento na noite anterior. Ela tinha consciência de que o havia provocado, e que ele aproveitou a ocasião. E ela lembrava tudo o que havia dito na hora do amor. Céus! Ela tinha falado coisas que nem ela própria sabia que sentia.  Ele tinha correspondido  a todos os seus anseios. Ele foi o amante perfeito.

E agora? Como ficaria a relação entre eles

Marcelo já conhecia Milena o suficiente para saber que ela estava envergonhada. Havia nela uma timidez encantadora. E ele também sabia que, depois da noite de amor, a relação entre eles tinha mudado. Tudo tinha acontecido tão inesperadamente. Eles precisavam conversar...

-- Bom dia! -- Saudou Milena.

-- Bom dia! Estou te esperando com um café novinho...

-- Eu acordei com esse delicioso cheiro de café recém feito.

-- Aqui tem umas delicias que eu trouxe. Vamos ver o que tem: um pote de geleia de mirtilo e outro de geleia de amora,  pão de aipim, cuca, embutido de porco e suco de uva. Aqui também tem um licor de frutas vermelhas

-- Hum... Quanta coisa boa... Vamos experimentar tudo.

-- Vamos.

Marcelo serviu o café e sentou perto dela. Depois que tomaram café, Milena disse:

-- Tudo muito bom. Hoje eu vou passar o dia no orfanato. Vai haver uma festa. Eu prometi que estaria por lá para ajudar.

-- Eu posso ir contigo?

-- Hoje é só trabalho. Amanhã terá um almoço para angariar fundos.

-- Ok. Então amanhã vou contigo.

-- Oh! Os ingressos estão esgotados...

-- Entendi o recado...

Marcelo se levantou, deu um beijo na testa de Milena e foi para seu apartamento.  Agora estava muito claro, ela estava estabelecendo uma distância entre eles.

E a noite deles tinha sido sensacional. Ela era tudo o que ele almejava, ela era uma mulher que sabia se entregar as carícias e que retribuía com ardor. Ela era quente e gostosa. Porém, havia muitos “mas”...

Na verdade Marcelo não tinha certeza de nada. A única certeza era de que ele gostava muito de estar com ela, quando se ausentava sentia falta dela, sentia muita saudades. Ele queria conviver com ela, mas não sabia se seu coração se entregaria totalmente ao amor, outra vez. As feridas ainda não estavam cicatrizadas. Mas ele queria  encontrar a felicidade junto de Milena,

Assim que Marcelo saiu, Milena arrumou a cozinha e foi tomar banho para se vestir e sair. Mas seu pensamento voava...

Ela tinha certeza que estava apaixonada por ele, ainda mais depois daquela noite... Mas ela havia decidido que não queria mais nenhum homem em sua vida. Tudo o que ela tinha sofrido... Ainda estava muito vivo dentro dela.

A solução seria afastar-se dele. Seria difícil com ele sendo seu vizinho de porta. E eles tinham chegado a um nível de entrosamento e amizade que a deixava tranquila.

Porém, para ela,  tudo mudou, depois que fizeram amor.

Ela sabia que não haveria mais espontaneidade na relação de amizade, ficariam cheios de cuidados com as coisas que diriam. O contato físico tinha sido muito intenso e isso não dava para esquecer facilmente. Pela da parte dela seria assim. Difícil de agir com naturalidade. Amigos não eram mais, tinham se tornados amantes.

Milena foi para o orfanato...

Era noite quando ela chegou de volta em casa. Milena entrou e esperou que Marcelo viesse atrás como sempre fazia. Mas ele não apareceu. Seu apartamento estava silencioso.

Milena praticamente não dormiu aquela noite. Ficou rolando na cama sem conseguir conciliar o sono. Levantou cedo e foi para o orfanato. Foi a primeira a chegar.

Passou o domingo, a semana e o fim de semana e Milena não tinha mais visto Marcelo, e também não retornou suas ligações e não respondeu aos seus recados. Era melhor ficarem afastados.

Marcelo resolveu sair por uns dias. Achou que era a melhor coisa para fazer. E no sábado a tarde ele pegou a estrada e foi para Santa Catarina, e permaneceu lá por quinze dias, aproveitou para visitar algumas empresas e oferecer seu produto.

Ele até ligou para Milena avisando que estaria fora, mas ela não atendeu ao seu chamado. Deixou vários recados para ela, mas não obteve resposta.

                                                      ***    ***    ***    ***

O tempo passava e Milena sentia muita falta de Marcelo. Só agora ela estava se dando conta de como a presença dele preenchia o vazio de sua vida. Junto dele ela era feliz.

Ela sabia que tinha sido muito fria com ele, depois daquela noite quente e maravilhosa de amor. Ela tinha uma vontade imensa de procurá-lo para contar seu drama de vida e assim justificar sua atitude, mas isso ela não faria, de jeito algum. Ela tinha medo, medo de sofrer novamente. Mas ela já estava sofrendo com a ausência dele e estava infeliz.

Marcelo envolvido com o trabalho continuava fora da cidade. Permanecia poucas horas no apartamento, já que precisava supervisionar a execução dos projetos feitos por ele.

Toda vez que ele ia ao seu apartamento, sua vontade era entrar na porta ao lado e  pedir uma explicação para Milena. Pois ainda não sabia a razão desse esfriamento na relação deles. Mas acabava desistindo.

E assim o tempo passou.

Milena continuava com sua rotina e com sua vida infeliz.

Marcelo estava tentando dar a volta por cima. E a primeira ação foi mudar de apartamento. Não era bom continuar ali tão próximo dela. Embora ela permanecesse em seu pensamento, em seu coração, ele precisava buscar uma vida de paz. Ele foi morar no mesmo bairro, apenas alguns quarteirões dali. Ele conseguiu um apartamento maior, muito bem localizado e com um espaço para  o escritório. Trabalharia em casa, via internet. 

Marcelo continuava com a dinâmica de entrar em contato através de seu site e depois fazer uma visita pessoal ao cliente, para uma conversa mais produtiva. E foi em uma dessas visitas que ele conheceu Rosana, que era administradora da vinícola de sua família.

Rosana era uma mulher bonita, simpática e sensual. Era também decidida e por isso ela não deixou escapar aquele “gato” que apareceu em sua vida. Ela era tão positiva que Marcelo aderiu a sua paquera.

E logo eles estavam em um relacionamento sério, porém aberto..

A vida de Marcelo mudou radicalmente, pois Rosana gostava de sair e se divertir, viajar e tinha uma vida cultural intensa. E nem sempre ele a acompanhava.

Para Marcelo esse tipo de relacionamento veio a calhar, era uma forma de tentar esquecer Milena. Ele não amava Rosana, que sabia disso, mas mesmo assim, quis ficar com ele.

Marcelo já tinha sofrido por amor, ele era muito jovem quando se apaixonou perdidamente por Heloisa, que era uma mulher mais velha e mais vivida do que ele. Ela era  lindíssima, envolvente, egoísta e infiel.

Ele estava há pouco tempo formado, abrindo caminho em sua profissão, quando conheceu Heloisa, através de amigos comuns. Entre eles, sobretudo da parte dele, houve desde o inicio uma atração muito forte. E logo começaram a viver juntos.

Marcelo a trouxe para morar com ele, na casa de sua mãe. Era um casarão, com muitos quartos e salas, e ele, tinha preparado um espaço privado e particular para ele, inclusive com entrada independente. Era um apartamento completo, criado dentro da casa.

A mãe de Marcelo, que era viúva, e disse ao filho que não iria ficar sozinha, ainda era muito moça para assumir o papel de viúva solitária. E havia casado  com Júlio. Um velho amigo da família.

Marcelo e Heloisa já estavam juntos há quase um ano, quando  aconteceu uma coisa horrível. Não só para ele como para sua mãe. Naquela ocasião ele expulsou  Heloisa  de sua vida e  foi embora dali.

 Sua mãe perdoou o marido, pois sabia que ele jamais faria alguma coisa que pudesse afetar a felicidade de Marcelo. Tinha sido aquela mulher vulgar que tinha tentado seduzir Júlio, a beira da piscina quando despiu seu biquíni e se insinuou, e foi repelida por ele.. De forma que não houve nada entre eles. Tereza havia visto a cena da janela de seu quarto.

Ele ainda lembrava perfeitamente de sua mãe dizendo:

-- Essa mulher é uma víbora. Ela é perigosa e queria enfeitiçar o meu Júlio, pois eu sei que ele jamais faria alguma coisa que pudesse te magoar. Eu o conheço muito e sei que ele é um homem integro. Foi ela que aprontou para todos nós, sobretudo para o Júlio. Eu teço meu filho,  perdoa teu padrasto, ele não merece isso. Perdoa meu filho, será melhor para ti. Segue tua vida sem carregar mágoa de quem te quer tão bem. Um dia tu saberás que eu tenho razão. Eu te amo meu filho e o Júlio te ama com um pai. Nunca te esqueças disso.

Foi então que Marcelo decidiu se mudar para o sul, ainda com o coração quebrado, mas pronto para recomeçar sua vida. Sair de São Paulo, deixar as lembranças para trás era o melhor remédio.

Ao chegar ao sul, apareceu em sua vida à encantadora Milena. O verdadeiro amor de sua vida. Hoje ele sabia que Heloisa tinha sido uma paixão juvenil passageira. Milena era a mulher de sua vida. E agora Rosana era um entretenimento. E ela sabia disso, e mesmo assim aceitou a condição.

Por isso esse relacionamento aberto não afetava Marcelo. Rosana não significava nada para ele, era apenas uma boa companhia que satisfazia o seu apetite sexual.

                                            ***    ***    ***    ***

Marcelo pensava constantemente em Milena. Chegou a estacionar o carro próximo ao prédio em que ela morava e ficou ali um tempo, com esperança de poder vê-la. Mas foi em vão. Ele queria apenas saber se ela estava bem. Sabia que ela era sozinha, e isso o preocupava muito. Marcelo guardava a chave que ela tinha entregado a ele. Ele poderia entrar no apartamento a hora que quisesse, mas isso ele não faria.

Os dias passavam e Milena lutava consigo mesma, para superar a tristeza que a sufocava. E dessa vez ela era culpada. Ela tinha se arrependido de ter agido tão duramente com Marcelo, que era um cara muito legal, um verdadeiro amigo... E ela tinha jogado fora essa amizade sincera, aliás, ela tinha rejeitado um amor verdadeiro sem razão para isso. Apenas loucuras...

Milena tinha emagrecido muito. Embora fosse nutricionista e soubesse o valor de uma alimentação correta, ela não conseguia comer. E por isso ela estava se alimentando basicamente de sopa. Até o cheiro de café a fazia lembrar aquela manhã, que surgiu, após uma noite de amor e paixão.

Nunca mais ele tinha ligado para ela...

                                             ***    ***    ***    ***

A vida seguia seu curso.

Lucas e Michele, amigos de Rosana, haviam convidado um grupo de amigos para passarem um fim de ano, na casa deles na praia. Eles tinham uma casa magnífica em Torres.

Estavam  os hóspedes, tomando café da manhã a beira da piscina, quando Bianca se dirigiu a Rosana perguntando:

-- Tu te lembras da Milena?

Ao escutar esse nome, o coração de Marcelo pulou, e fez com que ficasse mais ligado a conversa. Seria muita coincidência, mas esse mundo era do tamanho de  uma ervilha...

-- Milena...  Sim, eu nunca mais soube dela.

-- Sei quem é, diz Michele – aquela que se apaixonou por aquele pilantra e até brigou com a família por causa dele. Como ele se chamava mesmo... Ah lembrei. João Carlos.

-- Isso mesmo. —confirmou Bianca.

-- Ah... Disse Rosana. Coitada deixou tudo para casar com aquele cafajeste. Eu lembro que eles estavam um pouco mais de um ano casados quando ele morreu em um acidente de carro na estrada. Ele pegou um temporal e o carro desgovernou...

-- Exatamente. – disse Michele. Mas o pior veio depois. No dia do enterro apareceu a amante do cara com duas filhas. Foi horrível! Quase toda a cidade estava no velório, pois o traste  era uma pessoa importante, e de família muito rica. E diante de todos a amante se apresentou como a mãe das filhas dele, com certidão de nascimento das crianças e tudo. Foi um escândalo. Uma das meninas tinha dois anos e a outra com alguns meses...

-- A pobre da Milena teve que enfrentar tudo isso – completou Bianca. – Além da perda, a decepção e a vergonha, que veio com o atrevimento daquela mulherzinha. Que era amante dele desde antes do casamento dele com Milena.

-- Sim estou lembrada. – disse Rosana. Foi horrível...  Eu sempre a admirei por sua atitude. Apesar de tudo ela se manteve digna. E logo ela saiu da cidade. Nunca soube para onde ela foi...

-- Pois, disse Bianca, eu encontrei com ela semana passada. Falei com ela ligeiramente no orfanato em que ela é voluntária. Aliás, eu preciso ressaltar que ela está fazendo um belo trabalho com aquelas crianças. A madre me contou que ela é muito dedicada. E que esse trabalho é que tem ajudado ela se manter afastada de depressão.

-- Coitada! Exclamou Michele.

-- E parece que ela teve outra decepção, recentemente...

-- Mesmo? Perguntou Rosana.

-- Acho que faz cerca de três anos que ela ficou viúva. E agora havia  outro cara na vida dela, e não deu certo. Ela não é mais a mesma. Vocês lembram como ela era bonita? Ela tinha um brilho próprio, e por isso chamava atenção naturalmente.

-- Sim, disserem Rosana e Michele em coro.

-- Eu sei que ela ficou muito bem de vida. – seguia Bianca. Ela foi correta  em relação  as crianças, inclusive, nomeou um administrador para gerir os bens das meninas, que só assumirão a herança quando alcançarem maioridade. Eu sei que ela conseguiu essa condição na justiça, alegando que a mãe das meninas não tinha capacidade para zelar pelo patrimônio das filhas. Só a mais velha é realmente filha dele. A outra não, inclusive foi feito exame de DNA e deu negativo. Mas ele a registrou como filha.

-- Eu não sabia. —disse Michele.

-- Sim, continuou Bianca. O advogado tinha uma carta do marido dela onde ele explicava tudo.

-- Verdade?

-- Sim.  Mas ela foi genial, ao tomar essa atitude. Eu sei que foi muito comentado.  E  ela ficou com muitos imóveis, inclusive o prédio que ele mora. Um pequeno edifício, bem simples.

-- Onde fica? – perguntou Michele.

-- Eu não sei o nome daquela rua, mas fica no bairro Petrópolis.

Agora Marcelo tinha certeza de que era da Milena dele que elas falavam. Realmente ela sofreu muito, ele até entendia algumas reações dela. Ele estava curioso para saber por que ela brigou com a sua família, mas não se atrevia a perguntar. E como se lesse seus pensamentos foi Rosana quem perguntou?

-- Se bem me lembro, ela brigou com a família porque não queriam que ela casasse com ele. Mas por quê? Tu sabes?

-- Sim, respondeu Bianca. As duas famílias eram inimigas políticas, desde o tempo dos avôs, que eram rivais. O pai dela não era ligado à política, como o avô, mas cultivou o ódio. E toda a família rompeu com ela. Nem no casamento foram. Eu sei que quando ela anunciou que casaria com João Carlos, seu pai a expulsou de casa, por não seguir as suas orientações. Imagina! E ela foi acolhida pela dona Silvia, a mãe de João Carlos. E inclusive ela morreu dias depois do acidente do filho. Ela já era viúva há muitos anos e não suportou a dor de perder um filho. É uma tragédia essa historia. Até que Milena foi bem sensata, ela conseguiu administrar sua vida e dar volta por cima. Claro que ficaram muitas cicatrizes, e só o tempo para curar. Ou um novo amor.

-- Sim, um novo amor renova o coração. Mas ela sempre foi estranha... E ela era bem apaixonada pelo marido... – comentou Rosana.

-- Sim. E ele por ela. O caso foi que ele não conseguiu se livrar da amante, que ameaçava fazer um escândalo. E dessa forma o mantinha ligado a ela, e por causa da filha, ele a visitava regularmente. E foi numa dessas visitas que ele soube que ela tinha outro amante, e no casa, um joão-ninguém,  que a engravidou novamente...Que quando soube da gravidez , desapareceu.... Por isso que João Carlos assumiu a criança como dele, para dar guarida as crianças. O fato era que ele sustentava essa mulher, se ele a amava ou assumiu a responsabilidade por ter desvirtuado a moça, ninguém sabe.

-- Nossa! – exclamou Michele. Que situação.

-- A verdade  é que a amante tinha um jeito de permanecer ligada a ele. Disse Bianca.

-- Uma complicação... Mas o quê sei, é que Milena e João Carlos se davam muito bem, eles formavam um belo casal e eles eram muito felizes, sobretudo, ela, que era apaixonadíssima pelo marido. – falou Michele.

-- Eu lembro o dia que eles se conheceram, continuou Bianca. Foi no primeiro ano da faculdade. Ele já cursava direito, e nós  iniciando o curso de Nutrição. E os cursos em turnos e prédios diferentes. Mas eu tinha duas amigas no direito, e teria uma festa, da turma delas, para angariar fundos para formatura,  e Milena e eu fomos, assim meio de penetra. Nós entramos e ele estava parado perto da porta. E foi incrível! Os dois se olharam e deu para ver, que tinha rolado um “curto circuito”. Ele veio direto falar conosco, e dali em diante os dois passavam juntos. Eles eram alegres e divertidos. Eu saí algumas vezes com eles. Nós éramos vizinhas e colegas de aula.

-- Que história! Daria enredo para um romance... Disse Rosana.

-- Ah e Milena,  até ressaltou, que esse cara, que ela deu chega pra lá, era muito legal, boa gente mesmo, mas que ela não tinha nem conseguido falar com ele sobre os acontecimentos da vida dela. Eu percebi que ela gosta do tal cara e que até se arrependeu de sua atitude. Foi o que eu li nas entrelinhas.

Caiu um silêncio.

Marcelo aproveitou e pediu licença. Ele precisava andar. Sua cabeça estava rodando. Foi caminhar na praia. Depois de saber de tudo, ele precisava se reaproximar de Milena. Porém, deveria montar uma estratégia. Em primeiro lugar, ele teria que por fim ao seu relacionamento com Rosana. Pois a historia não podia se repetir.

Era o penúltimo dia ano. Talvez se ele ligasse desejando um Feliz Ano Novo. Queria escutar a voz dela. Ou talvez fosse melhor enviar uma mensagem pelo whatsApp.

Fazia muito tempo que eles tinham se afastado. Nunca mais tinham se comunicado, então o ideal seria uma mensagem, e esperar... Quem sabe? Ela poderia responder e assim haveria uma abertura para conversarem.

Então Marcelo, sentado num quiosque da praia, formulou um pequeno texto e enviou uma mensagem para ela.

Era tarde quando ele retornou a casa. Rosana o esperava:

-- Eu estava preocupada contigo. Tu saíste cedo e nem veio almoçar. O que está acontecendo contigo?

-- Nada.  Eu sentei num quiosque da praia e perdi a hora. Apenas isso.

-- Mas tu estás estranho...

-- Eu sei. Vou tomar banho, me livrar dessa areia.

-- Tudo bem. Vou te esperar aqui.

Marcelo entrou no banheiro e ficou um bom tempo no chuveiro. Seus pensamentos estavam a mil. Sua atenção estava voltada para o telefone. Aguardava a resposta de Milena.

Ele saiu do banheiro e sentiu que Rosana queria uma explicação. E resolveu se abrir com ela:

-- Rosana, eu sou o cara que levou o fora de Milena. Só isso.

-- Não!

-- Sim. E eu vou tentar reatar a amizade com ela. Eu preciso. Eu a amo. Por isso estou indo embora. Espero que tu entendas... Nosso caso precisa terminar, e agora. Senão corro o risco de ser comparado ao falecido.

-- Entendo. Tu sempre foste sincero, nunca disse que me ama. Deixaste bem claro no inicio quais eram as tuas condições, e eu aceitei. Não tenho o que reclamar. Só lamento... Espero que consigas voltar com ela. Sinceramente torço por ti.

-- Obrigado. Vou sair sem me despedir.

-- Claro, te levo na rodoviária.

-- Obrigado, mas eu  contratei um carro com motorista, que  já deve estar chegando.

-- Que tenhas um Feliz Ano!

-- Desejo o mesmo para ti. Agradeça a todos pela acolhida. Estou indo.

Marcelo pegou sua mala e saiu. Rosana ficou ainda no quarto. Era um absurdo que ela estivesse perdendo um homem como aquele para sua arqui-inimiga Milena.

Rosana nunca gostou de Milena. Desde crianças havia uma animosidade entre elas. E depois na adolescência, a distância entre elas aumentou, porque Rosana ficava indignada com os “guris” da escola,  pois todos eram apaixonados por ela. Eles diziam que Milena além de linda, ela era uma guria muito legal.

Quando se tornaram adultas, elas definitivamente se afastaram, seguiram caminhos diferentes e nunca mais se encontraram. Rosana sabia dos acontecimentos da vida de Milena, por  amigos comuns.

Rosana decidiu dar um tempo, depois iria reconquistar Marcelo...

                                                 ***    ***    ***    ***

Milena viu a mensagem que Marcelo enviou. Ficou contente e admirada. Fazia tanto tempo que eles não se comunicavam de maneira nenhuma. Ela estava com o telefone na mão sem saber se respondia imediatamente, ou talvez nem respondesse. O que parecia ser a coisa certa. Eles estavam distantes e que assim continuassem.

Sem que ela percebesse seu pensamento correu para o passado, quando passaram o período de festas juntos.  Depois de um Natal festivo, o fim de ano foi tranquilo. Naquele Natal eles foram para o orfanato, e oferecem para as crianças, um dia muito especiais. Levaram doces e presentes e organizaram muitas brincadeiras. E o dia encerrou com uma missa especial, com as crianças contando diante do Presépio.

Depois de um Natal agitado, eles decidiram ficar em casa no fim do ano. Marcelo fez uma janta especial, estouraram um champanhe e a meia noite, apreciaram os fogos do terraço.

Esse fim de ano Milena estaria completamente só. Até o Natal deste ano foi melancólico, porque, embora ela estivesse envolvida com as crianças do orfanato, foi muito solitário.

Já tinha passado muito tempo que ela e Marcelo haviam se afastado, mas ela continuava sentindo muita falta dele. Nada substituía a presença dele em sua vida. Ele havia transformado tristeza em alegrias, nostalgia em novas esperanças, e deixado para trás as recordações e amarguras do passado. Ele tinha sido um novo sol em sua vida.

As boas lembranças povoaram seu pensamento. Um sorriso brotou em sua face ao relembrar os momentos que passou com Marcelo. Ele era tão... Maravilhoso!

Decidiu responder a mensagem. E neste clima de rememorar as coisas boas, ela passou uma mensagem de esperança, quando escreveu:

Hoje fui surpreendida com uma msm tua, o que me deixou feliz. Quero agradecer os votos de Feliz Ano e desejar ardentemente que tenhas um Novo Ano cheio de alegrias e esperanças, saúde e paz e com muito amor e realizações. Um forte abraço. Saudades...”

Milena tinha consciência de que essa mensagem representava muito mais do que as palavras ali escritas. E sabia que ele a procuraria. E quando ele batesse a sua porta o que ela faria? Já estava pronta para isso? Milena não sabia, e se arrependeu de ter sido tão aberta. Seu coração o queria por perto. Mas sua razão ainda não.

Marcelo estava em viagem quando recebeu a mensagem de Milena. Ele ficou bem entusiasmado com as palavras dela. Ele guardou o telefone e ficou imaginando o seu reencontro com ela.

Quando chegou ao seu apartamento, Marcelo foi logo revisar sua dispensa e geladeira. Estava desfalcada. Fazia mais de dez dias que ele estava fora. Foi ao mercado mais próximo.

Ele já tinha colocado no carrinho os itens principais, e antes de ir para o caixa, foi para seção de bebidas. Ele estava escolhendo um vinho quando alguém, ali perto, deixou cair uma garrafa que se espatifou no chão. As pessoas que por ali estavam, saltaram para não serem atingidas pelos respingos da bebida.

Marcelo estava de costas  quando alguém bateu nele, ele imediatamente se virou e deu com Milena que se desculpava. Mas ao ver que era ele, ela arregalou os olhos e ficou nervosa, sem saber o que dizer ou fazer. Então Marcelo a pegou pelo cotovelo, para que não caísse. E sorrindo disse:

-- Oi, nunca imaginei que teríamos um encontro desses, disse ele rindo.

-- É foi bem tumultuado, respondeu Milena sem jeito.

-- Venha vamos sair daqui, onde estão tuas compras?

-- Eu estava só olhando, sai para dar uma volta apenas.

Em seguida eles estavam saindo do mercado. Era pouca coisa que ele precisava comprar e Marcelo tinha ido a pé ao mercado. Ele convidou Milena para conhecer seu apartamento. E ela aceitou.

Logo que entrou Milena viu a mala, e perguntou:

-- Estás saindo em viagem, e vou te atrapalhar...

-- Não. Eu cheguei e fui para o mercado. Tu não atrapalhas em nada. Tua presença sempre é bem vinda.

-- Obrigada. Gostei daqui. Tens um espaço integrado, muito legal...

-- É eu gosto. Estou bem acomodado, e agora eu trabalho em casa. Terminei com o escritório. Faço contato pelo site e depois visito os clientes. Está dando certo.

-- Que bom que a tua vida está indo bem. Que horas são? Já esta anoitecendo... E eu estou a alguns quarteirões de casa. Preciso ir, não gosto de caminhar depois que já escureceu.

-- Fica. Vou preparar algo para nós comermos, depois te levo.

-- Está bem, então vou te ajudar. Posso?

-- Como nos velhos tempos...

E ela o ajudou a guardar as compras e juntos preparam uma salada de atum. Comeram e conversaram sobre vários assuntos, sem fazer nenhuma referencia a situação entre eles.

Melhor assim, foi o que ambos pensaram. Poderiam retomar a amizade sem explicações, e deixar a naturalidade voltar entre eles. Mais tarde haveria oportunidade para uma conversa.

Ele a levou para casa. Marcelo estacionou o carro, desceu e abriu a porta para ela descer, e a encaminhou a porta do prédio. Quando estavam se despedindo Marcelo quis entregar a chave que estava com ele, mas Milena o impediu. E disse:

-- Podes ficar. Eu confio em ti e quero que tenhas sempre livre acesso a minha casa, a minha vida. Eu só tenho a ti. E não quero te perder novamente.

Marcelo ficou sem saber o que dizer. Foi pego de surpresa. Então ele a abraçou e disse ao seu ouvido:

-- Tu nunca me perderás... Pode ter certeza disso.

-- Obrigada por ser tão amigo. Queres vir amanhã? Vamos esperar a meia noite no terraço, como...

-- Sim. A que horas?

-- A hora que quiseres...

-- Está bem. Amanhã te dou um toque.  

                                                     ***    ***    ***    ***

Marcelo a deixou e voltou para seu apartamento. Ele estava atordoado. Foram tantos acontecimentos naquele dia, que parecia ter muito mais do que 24 horas, sem duvida tinha  sido o dia mais longo de sua vida.

Sua cabeça girava em pensamentos. Ele tomou um banho e foi para sala, serviu uma dose de vodca  e ficou pensando em como deveria agir com Milena.

Ele deveria ter prudência, deixar correr  certo tempo, para então falar com ela sobre tudo que o preocupava. Não só a questão do relacionamento entre eles, mas também contar para ela sobre Rosana e da forma como ele ficou sabendo da tragédia que invadiu a  vida dela.

Sinceridade antes de tudo.

Ele estava feliz. Encontrar com ela, inesperadamente, no mercado foi mão de Deus. Era coincidência demais. Ele ainda não acreditava.  E de agora em diante, ele faria o impossível para ficar sempre perto dela, para conviver intimamente com a sua Milena.

Milena também estava perturbada. Ela havia pensado tanto nele, naquele dia,  que saiu para caminhar para espairecer, entrou naquele mercado só para fazer hora, foi escolher um vinho e alguém derrubou algumas garrafas de vinho e ao saltar para trás para não ser atingida pelo liquido, ela bateu nele. Eles estavam de costas um para o outro e se não fosse esse incidente, eles talvez nem se encontrassem. Ela acreditava que fosse vontade de divina.

Ela tentava dormir e não conseguia. Estava uma noite quente, e ela se serviu de um chá gelado e foi sentar no terraço. De lá ela avistava o prédio dele. Mas não o apartamento. Eles estavam tão próximos e nunca mais tinham se visto, nem de longe. Ela imagina que ele até tivesse mudado para outra cidade.

 Incrível! Como a vida dava voltas.

Milena estava contente. Era tudo o que ela mais queria ter novamente Marcelo perto dela. O céu tinha escutado suas preces.

Naquele ultimo dia do ano, depois de uma noite insone, Marcelo levantou-se mais tarde. Foi para cozinha preparou o café e sentou para beber calmante enquanto colocava seus pensamentos em ordem.

Enviou uma mensagem de bom dia para Milena e acrescentou que ele levaria uma salada de salmão. E ela respondeu assim: “ Por que não vens  para cá agora. Vamos preparar juntos. Estou te esperando.” “Deixa teu carro na minha vaga.”

Marcelo separou uma muda de roupa, e os ingredientes para a salada e uma garrafa de champanhe. Colocou em uma sacola e saiu.

Ele entrou no apartamento sem bater, usou sua chave, o que deixou Milena satisfeita. Ela queria tanto que as coisas entre eles voltassem a ser como eram.

Milena foi ao encontro de Marcelo com um lindo sorriso, que iluminava seu rosto. Seus olhos tinham um novo brilho. E ela estava bem mais magra, mas continuava muito sedutora. Ela usava um vestido simples de verão, estampado em tons de azul, e bem decotado. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo.

Ele ficou com vontade de tomá-la em seus braços e beijar aquela boca apetitosa e fazer amor. Mas precisava se dominar, pois não queria estragar tudo.

Ele a beijou na face e disse sorrindo:

-- Bom dia! Estás muito linda...

-- Oi. Obrigada, mas tu também estás um arraso.

-- Aqui estão os ingredientes para a nossa salada. Vou colocar na geladeira.

-- Sim. Eu estava te esperando para decidirmos o que vamos preparar.

-- Ok. Vamos começar com cafezinho?

-- Genial. Vou preparar...

E assim com descontração eles retomaram a convívio. Ambos estavam alegres e satisfeitos por estarem ali, outra vez juntos. Milena contou varias historias sobre as crianças do orfanato, e ele escutava bem interessado.

O dia passou tranquilo. Já anoitecia quando ela foi tomar banho e se arrumar para receber o novo ano. Logo que ela desocupou o banheiro foi a vez dele.

Milena tinha ganhado numa rifa, um vestido branco de verão, com um decote bem ousado. Ela nunca tinha usado o vestido, por não ter coragem de sair com um decote tão revelador. Mas para se fazer bonita para Marcelo, ela não hesitou e o vestiu. Ela olhou-se no espelho e viu ali uma linda mulher. Não retrocedeu. Talvez ela estivesse sendo muito provocante, mas teria que arcar com as consequências. Talvez fosse isso mesmo que ela queria...

Ela custou a sair do quarto. Marcelo que tinha entrado no banho depois dela, já a esperava na sala. Ele ligou a TV e estava distraído escutando as noticias, quando sentiu o perfume dela. O aroma de lavanda... Que tão era característico dela. Ele amava aquele cheiro.

Marcelo ergueu os olhos e a viu... Ele ficou sem ar. Levantou-se rapidamente, pois precisava respirar e se aproximar dela. Chegou perto dela, e a olhou de cima a baixo e sussurrou:

-- Caramba! Deixastes-me sem palavras. Estás demais. Nossa!

-- Não estou indecente?

-- Para os outros sim. Mas, não quando for só para mim. Tu és bela...

-- Obrigada.

Marcelo não conseguia desviar o olhar do decote que deixava a mostra parte dos seios dela, que eram cheios e perfeitos. Ele queria parecer natural, mas estava sendo difícil. Ele que tinha feito planos de permanecer longe dos atributos físicos dela... Com certeza ele seria capturado...

Milena sabia que  o estava provocando. Ela já imaginava como seria o fim de noite deles. E no fundo era isso que ela queria,  uma noite de amor. Mas ele estava tão tenso...

Eles foram para o terraço.

Milena foi até o parapeito e Marcelo a seguiu. E se posicionou atrás dela e beijou seu pescoço enquanto suas mãos a abraçavam pela cintura. Ele não resistiu aos encantos dela, e a fez girar, e quando ela virou de frente para ele, ele a olhava cheio de desejo... Então Milena  o beijou.

Céus! Foi o paraíso. Eles estavam tão sedentos... Eles se amaram... E brindaram o novo ano em meio a abraços e beijos.

                                                       ***    ***    ***    ***

Os dias que se seguiram foram de muito amor. Milena estava diferente, estava mais solta, segura de si.. Ela, agora, demonstrava com carinho e com muitos beijos seu amor por Marcelo, que da mesma forma retribuía com bastante entusiasmo.

Mas Marcelo sabia que esse momento de viviam precisava se consolidar, através da verdade. Ela continuava sem fazer nenhuma referencia ao seu passado. E já era hora de conversarem sobre isso.

Milena queria que ele voltasse a morar ali perto dela. Ela havia mandado reformar o apartamento, que agora era um espaço em conceito aberto, e totalmente mobiliado com esmero.

Porém, Marcelo estava protelando a decisão. Antes de uma conversa sincera, ele não faria a vontade dela.

Amanheceu chovendo. Era sábado e eles tinham planejado passar o fim de semana em uma cabana a beira da lagoa.. Os planos foram adiados. Com aquele tempo era melhor permanecer em casa.

Marcelo acordou antes de Milena e foi para a cozinha preparar o café. Ele levou na cama, o café para ela. Tinha sido mais uma noite de muito amor. Ela ainda dormia. Ele a acordou com um beijo.

Depois de  tomarem o café, Marcelo disse:

-- Com esse tempo, vamos ficar. Esta chovendo muito. Já cancelei a pousada. Então vamos aproveitar para conversar.

-- Conversar? Sobre...

-- Nossa vida, nossa situação e nosso futuro...

-- Tudo isso, brincou Milena. Está bem. Vou me vestir.

-- ok

Marcelo foi para a cozinha e arrumou a louça do café. Sentou-se na banqueta e ficou esperando por Milena.

-- Pronto. Estou ao teu inteiro dispor.

-- Vamos sentar no sofá é mais confortável.

Marcelo estava tenso, sabia que seria difícil contar tudo para ela. Então começou a relatar p tudo sobre sua vida. Desde a morte de seu pai... Contou que sua mãe havia se casado novamente, que ele, de certa forma, morava independente, mas na casa da mãe, que era muito grande, e de sua paixão por Heloisa, e como ele tinha sido tolo em se envolver com uma mulher tão vulgar, e que Heloisa tinha se insinuado abertamente para seu padrasto. E, que continuava casado e muito feliz com sua mãe, que sabia que Júlio jamais olharia para mulher de seu enteado. Que Heloisa era o mal vestido de mulher. E que depois desse lance, ele resolveu vir para o sul.

-- Eu vim para cá com o coração e o orgulho despedaçado. Eu cheguei juntando os pedaços em busca de uma nova vida. Então te conheci e uma nova luz  brilhou em minha vida. Acho que eu te amei no primeiro instante que te vi. E foi tudo tão belo, surgiu em mim um sentimento sublime, puro e duradouro. Muito diferente daquilo que eu senti por Heloisa. Eu era muito jovem e tive uma paixão sexual por ela. E hoje o que eu sei é que quero continuar do teu lado, que tu és a mulher que eu quero para mim.

-- Eu também te quero ao meu lado...

-- Eu sei. Mas eu sou homem, e por mais que eu quisesse resistir aos teus encantos, houve uma noite que não consegui, e nós fizemos amor e foi maravilhoso. Porém, isso nos afastou, e eu até hoje não sei qual a razão... Eu queria conversar contigo sobre o nosso amor, firmar um compromisso, mas tu, simplesmente, me tiraste de tua vida. Eu fiquei sem chão. Dediquei-me inteiramente ao trabalho. Mudei daqui, porque era muito duro passar em frente a tua porta e não poder entrar.

-- Desculpe...

-- Então, ao implantar um projeto em uma vinícola, eu conheci Rosana. Ela era a administradora e foi com ela que tratei toda a negociação. Tivemos muitas conversas. Ela é uma mulher bonita, simpática e envolvente. Nós saímos juntos algumas vezes, até que começamos a partilhar a cama. E ela me fez uma proposta para uma relação...

-- Aberta. Eu acho que sei ...

-- Eu fui sincero com ela, quando disse que eu não a amava, que já existia um amor em minha vida. Mas ela quis mesmo assim. Então tínhamos uma relação estabelecida. Recebemos o convite de Michele e Lucas, para o fim de ano com eles na praia. Havia também outro casal, Bianca e André.

-- Está de brincadeira...

-- Não. É sério. E Bianca, que se diz muito amiga tua, contou que havia encontrado contigo. Mas eu achei a coincidência de nome, mas não sabia que era de ti que falavam. Só no fim é que eu deduzi. Até porque não sei como o assunto começou, só prestei atenção quando ela falou teu nome. E então Bianca praticamente relatou todos os acontecimentos tristes de tua vida. Para mim foi um choque. Fiquei atordoado, fui para a beira da praia para colocar os pensamentos em ordem. Então te enviei aquele msm porque depois de conhecer o teu sofrimento, consegui entender o teu procedimento em relação a mim. Então decidido, eu conversei com Rosana e terminamos a relação.

-- E Rosana aceitou, assim numa boa?

-- Sim. Eu falei para ela que eu era o cara que tu havias dispensado, e que tu eras o amor de minha vida. E que eu ia tentar recuperar. Eu fiquei feliz quando recebi tua resposta. Eu já estava quase chegando de volta. E por obra divina nos encontramos no supermercado.

-- Logo a Rosana...

-- Eu ainda quero te dizer, que eu não sei por que tu nunca me falaste sobre esses acontecimentos em tua vida. Por quê?

-- Porque eu gostaria de esquecer, riscar de minha vida.

-- Mas eu precisava saber... Eu te quero tanto... Quero te ver feliz... E sabendo do teu passado eu posso te ajudar, talvez....

Milena deixou as lágrimas rolarem. Sua vida sempre foi assim, quando ela estava feliz, algo acontecia e a felicidade sumia.

Marcelo terminou de falar e ficou olhando para Milena e esperando que ela falasse alguma coisa, qualquer coisa. Mas ela estava de cabeça baixa e quieta. Ele não sabia o que fazer.  Ficou esperando.

Passado um tempo Milena disse:

-- Preciso de um tempo. Mais uma vez minha vida entra em caos.

-- Por quê? Eu estou aqui contigo...

-- Tu não conheces a Rosana. Ela não é o que aparenta ser. Para começar ela não me suporta. Nós nos conhecemos desde os cinco anos. Sempre fomos colegas de aula. E ela sempre aprontou para mim.  E não é agora que ela está diferente. Ela vai interferir na nossa relação. Ela vai dar um tempo e depois vai se meter na nossa vida. Sempre foi assim. Todos os caras que se interessaram por mim ela os  tirou de mim. Mas com o meu marido ela não teve vez, mas também já havia outra.

-- Eu fui bem claro com ela. Está tudo terminado...

-- Então vamos esperar para ver se eu não tenho razão.

-- Ela não tem importância para mim. Tu precisas entender isso.

-- Mas mesmo assim eu não quero continuar. Vamos dar um tempo...

-- Nós já demos esse tempo. Não seja infantil. Não se deixa levar por coisas que nem sabemos se vão acontecer. Nós precisamos estar unidos e firmes para ela saber que não tem vez. Parece que tu queres ser derrotada. Sinto que estás me entregando de bandeja para ela...

-- Talvez...

-- Milena pensa bem... Às vezes tomamos decisões que depois não tem volta. E definitivamente tu não confias em mim. E isso me deixa ofendido. Eu tenho jogado limpo contigo. Sou sincero e te quero bem. Por que tu ages assim?

-- Eu precisei desenvolver um escudo para me proteger. Eu sou sozinha no mundo. Minha própria família me abandonou por questões que eu não tenho nada a ver. Foram problemas políticos do meu avô, e quem sofreu as consequências fui eu. Até a herança me tiraram. Quer dizer me deram ações de uma empresa falido, essa foi a minha parte de uma fortuna imensa. Meus irmãos e primos vivem como príncipes. Se eu não tivesse o que meu marido me deixou eu não teria nada. Simples assim. Se fui roubada e excluída por minha própria gente, como tu achas que eu posso confiar em outros. O homem que era meu marido, o qual eu era apaixonada, também me atraiçoava, e tu me pedes confiança...

-- Se tu não confias em mim, então precisamos, mesmo, para por aqui. Vamos seguir separados, por caminhos diferentes...

Ao escutar isso Milena arregalou os olhos e olhou para Marcelo. Ela não esperava essa reação dele.

O telefone de Marcelo tocou, ele olhou o numero e atendeu. Milena não queria demonstrar, mas estava curiosa para saber quem era, porém ele se afastou e ela não escutou a conversa.

Marcelo desligou o telefone e disse:

-- Vou ter que ir a São Paulo. Minha mãe sofreu um enfarte e está hospitalizada. Ela quer me ver.

-- Bah... O que posso fazer por ti.

-- Nada. Eu preciso conseguir comprar uma passagem para hoje.

Ele despediu-se de Milena e saiu.

Ela ficou desatinada. Mais uma vez ela tinha afastado Marcelo de sua vida. O modo como ele se despediu dela, sem nenhum beijo ou expressão de carinho, dava provas de que ele estava magoado com ela.

                                              ***    ***    ***    ***

Naquele mesmo dia, quando Marcelo chegou ao hospital já era fim de tarde, e soube que sua mãe estava em estado critico. Mas mesmo assim o médico permitiu que ele a visse, pois ela pedia para ver o filho.

Ele entrou na UTI e logo avistou  sua mãe, que estava todo encubada. Ele segurou sua mão e acariciou seus cabelos. Seus olhos ficaram marejados e uma forte emoção tomou conta de seu coração. Ver sua mãe ali tão fragilizada o comoveu.

Ele ficou ali falando com ela. Ratificando o seu amor e lembrando os bons momentos que eles compartilharam. Ela queria falar, mas não podia. Marcelo permaneceu ao lado da mãe, até que o médico sinalizou para ele se despedir dela. E Marcelo se despediu da mãe com muito amor. Ele sabia que talvez essa fosse a ultima vez...

E de fato foi. Dona Tereza faleceu naquela noite.

Marcelo e Júlio voltaram para casarão juntos. Ambos estavam muito abatidos. Eles precisavam decidir muitas coisas. Marcelo não queria permanecer muito tempo em São Paulo.

Mas mexendo nos pertences de sua mãe ele encontrou uma carta, onde ela confessava que Júlio era seu verdadeiro pai. Que ele fizesse exame para confirmar.

E contou... “ Antônio era um bom homem, bem mais velho do que eu, e nosso casamento foi de fachada. Ele era impotente. Casou-se comigo porque me amava com um amor platônico, e como tinha uma grande fortuna, não queria que seus sobrinhos, com os quais não se dava, fossem seus herdeiros. Ele me aconselhou a buscar um amante e a única condição era discrição. Ele queria que eu engravidasse. Foi quando eu conheci Júlio, meu amigo e companheiro da vida toda. Foi Júlio que me desvirginou, pois Antônio não tinha capacidade para isso, porém sempre me tratou com carinho e te amou como verdadeiro pai. Júlio também te ama, tu és sangue dele, e fruto do amor que nos manteve unidos. Aquele incidente com Heloisa, foi culpa dela. Tu bem sabes que aquela mulher era uma devassa, que não servia para ti.  Peço que o respeite, ele é teu pai e merece o teu amor. Eu não estou bem, não sei se terei tempo para conversar, pessoalmente, contigo sobre isso. Então resolvi escrever estas linhas explicando precariamente os fatos e dando as razões de tais atos. Te amo muito,  e rogo ao Senhor para que encontres o amor que mereces, que encontres uma mulher que te ame verdadeiramente, assim como eu amei teu pai. Com amor tua mãe.”

Marcelo terminou aquela carta e ficou atordoado. Credo! O que mais faltava em sua vida?

Ele recostou-se na poltrona e fechou os olhos. Eram tantas revelações em tão pouco tempo que sua cabeça girava. Marcelo estava cansado... A perda de sua mãe doía muito. Ele precisava de um tempo para se recompor e dar uma nova direção em sua vida. Milena não o queria mais...

Qual o rumo a tomar? Deixar o sul e voltar para São Paulo?

Ele precisava relaxar, para então decidir. Ficaria mais uns dias, havia ainda muitas coisas para resolver com Júlio.

Júlio aproximou-se de Marcelo e disse:

-- Meu filho... Enfim chegou o dia em que eu posso te chamar assim. Eu te amo. Sei que esse segredo que envolveu nossa família é algo fora do comum, mas eu amei tua mãe desde a primeira vez que a vi.

-- Ok. Não vamos falar disso. Existem coisas que acontecem em nossa vida, que nos levam para outra direção, e aparecem oportunidades de refazer o caminho e encontrar a felicidade. Tu és meu pai. Eu te respeito. Mas meu amor filial sempre foi para o Antônio, espero que entendas.

-- Sim. O teu respeito e a tua amizade me bastam.

-- E agora o que vais fazer?  

-- Eu pretendo ir morar na praia. Eu gosto do mar. Eu até tinha proposto a Tereza para irmos lá, ver alguma casa para comprarmos. Mas ela foi adiando... E agora vou sozinho. Vou encontrar um lugar adequado para mim.

-- Com certeza. Estou pensando em vender essa propriedade que vale um bom dinheiro.

-- Sim concordo, devemos vender. Há muitos empreendedores que já manifestaram interesse. Vou entrar em contato com eles. Quanto tempo tu ainda ficas por aqui?

-- Não sei... Semana de carnaval, eu  acho que não vou vender nada... Creio que vou depois do feriado.

-- Então vamos encaminhar a venda do casarão. Precisamos de uma avaliação...

E eles seguiram falando. Havia entre eles uma camaradagem.

Marcelo havia deixado seu telefone no silencioso. Tinha até esquecido. E agora o telefone estava sem bateria. Mas com certeza não tinha ligações importantes. Ele não tinha nenhum negocio encaminhado.

Após deixar algum tempo carregando, Marcelo ligou o telefone e ficou abismado com o numero de ligações, sobretudo de Milena. Mas, também tinha algumas de Rosana. Será que não se livraria dela... Bem que Milena tinha avisado.

Sua preocupação era com Milena, por que será que ela tinha insistido tanto? Então ele ligou para ela. E ela não atendeu. Agora sim, ele tinha ficado aflito. Ligaria mais tarde... Ele se deitou e dormiu...

Marcelo acordou assustado. Tivera sonhos esquisitos. Não tinha noção das horas.  Olhou o telefone e viu que era quase meia noite. Credo! Ele tinha dormido muito, desde o meio da tarde. Estava com fome. Ia até a cozinha ver o que tinha para comer.  E o telefone tocou:

-- Oi, tudo bem? Eu estou tão preocupada contigo. Tu não me deste mais noticia alguma. E isso me deixou aflita. Como estão as coisas por ai?

-- Oi. Eu estou bem. Eu não tinha visto as tuas ligações, só hoje. Eu tinha colocado o aparelho no silencioso e esqueci. Só agora que me dei conta e estava descarregado. E quando eu liguei, mas tu não atendeste. Depois dormi, estava muito cansado e atordoado. São muitas coisas para uma única pessoa...

-- E tua mãe como está?

-- Pois tudo isso é porque ela faleceu...

-- Oh... Eu lastimo muito... Mas conseguiste falar com ela?

-- Sim... Ela estava todo cheia de tubos e só eu falei...

-- Que pena. Será que ela tinha algo importante para te falar?

-- Sim. Ela me deixou uma carta. Tu nem imaginas o que ela revelou...

-- Queres contar?

-- Sim, mas pessoalmente. E como tu estás?

-- Eu estou bem, porém arrependida...

-- Arrependida?

-- Sim. Nós vamos conversar quando voltares. Até quando ficas por ai?

-- Tenho algumas coisas para encaminhar. Semana que vem é carnaval. Eu penso em voltar depois dos feriados.

-- Tu queres que eu vá para ficar contigo?

-- Tu queres vir?

-- Sim. Mas és tu quem decide...

-- Venha. Eu não estou bem.

-- Ok. Depois te digo o horário de chegada.

-- Certo. Te cuida... Beijo...

-- Tu também... Beijo.

Marcelo foi para a cozinha e lá estava Júlio, sentado diante de uma xícara de chá, com os olhos vermelhos de chorar. Ele tentou disfarçar, mas Marcelo colocou a mão em seu ombro e disse:

-- Não é fácil...  Eu ainda não consegui chorar. Minha cabeça dói, foram muitos acontecimentos e informações para mim nestes últimos  dias. Eu já vim de cabeça cheia... E aqui me deparo com mais fatos...

-- Foi um choque para ti, nunca desconfiastes...

-- Não. Eu sabia que vocês se amavam muito. Mas nunca imaginei que fosse amor tão antigo. Como foi conviver com essa situação inusitada?

-- Pois é, eu conhecia Antônio, e trabalhava com ele, admirava-o muito, porque ele era um homem muito inteligente. E foi ele quem me apresentou a Tereza. Tua mãe era muito bonita, simpática e envolvente. E a partir desse dia, eu passei a ser convidado seguidamente para jantar na mansão, para fins de semana em Guarujá, até que nos apaixonamos...

-- E ele como agia?

-- Ele nos proporcionava muitos momentos a sós. Eram telefonemas urgentes, eram documentos que precisava estudar, enfim, ele sempre tinha um motivo para se trancar no escritório. E me pedia para acompanhar tua mãe.

-- E ela já sabia?

-- Não! Das intenções dele, não.  Mas estava aflita, porque ele nunca tinha tocado nela. E ela sabia que tinha algo errado, porém não contou para ninguém porque sentia vergonha da situação.

-- Coitada!

-- Um dia eu não resisti e investi sobre ela que se apavorou, e me contou.

-- E daí?

-- Fui conversar com ele, pois era caso de anulação de casamento, eu como advogado tinha como ajudar. E foi então que ele me relatou o problema e nos fez a proposta indecente, que acabamos aceitando. Fomos felizes os três. Criamos um esquema e nunca ninguém soube. Só depois da morte dele que houve alguns comentários, porque nós casamos. Quero salientar que apesar de tudo, tua mãe sempre foi uma mulher honesta.

--Que coisa!

-- É mesmo. Mas valeu a pena. Nosso amor era muito forte e tivemos o fruto desse amor, que és tu meu filho. Eu te amo muito...

E Marcelo lembrou-se das palavras de sua mãe. As ultimas que ela falou, ante dele partir. “Júlio te ama como um pai. Nunca te esqueças disso.”

-- Eu também te quero bem...  Estou com fome, não almocei  e nem tomei um café  hoje pela manhã. O que tem para comer?

-- Pão e frios. Dá para fazer sanduíches. Eu também não almocei e só tomei um chá...

-- Eu faço. Preciso te avisar que amanhã vem uma amiga minha.  É uma historia muito enrolada, mas ela ligou e me disse que quer vir, e eu aceitei a companhia. Nós estávamos em meio a uma conversa séria, quando recebi a tua ligação. Portanto temos ainda muito que conversar para acertar os nossos ponteiros.

-- Espero que se acertem.

-- Eu também. Eu gosto muito dela.

Já era madrugada quando eles foram deitar. E Marcelo foi acordado pelo telefonema de Milena. Ela chegaria ao inicio da tarde.

                                                     ***    ***    ***    ***

Júlio queria acolher bem a namorada de seu filho. Ele também gostava de cozinhar. Então preparou um saboroso café da tarde, com bolo e pasteis de forno e pão de queijo e colocou também na mesa pães, geleias e frios.

Ele arrumou a mesa na sala de jantar, colocou a toalha favorita de Tereza e usou a louça reservada. Júlio queria que tudo fosse como se Tereza estivesse presente.

Quando Marcelo e Milena chegaram, Júlio os esperava a porta da frente. A casa estava toda em ordem. Ele tinha limpado e arrumado tudo, deixando a sala bem acolhedora com flores do jardim no vaso.

Marcelo se admirou e não se aguentou e perguntou:

-- Foste tu que fizeste tudo isso?

-- Sim, e tem mais... Mas primeiro me apresenta a esta linda moça...

-- Essa é Milena...

-- Eu sou o Júlio, o padrasto. Seja bem vinda...

Marcelo conduziu Milena para a sala de visitas. Não era necessária tanta formalidade, mas se isso fazia Júlio feliz... Conversaram um pouco e logo Júlio a convidou para tomar um café. E lá estava uma mesa cheia de delicias.

-- Unau... Fez Marcelo. Fazia tempo que eu não via essa fartura por aqui...

-- Que mesa linda! Exclamou Milena

-- Sentem vou servir o café... Espero que gostem... Os pasteis de forno e o bolo, foram feitos por mim.

-- Mesmo? – disse ela.

-- Sim. Aqui nesta casa os homens gostam de cozinhar... Disse Marcelo.

Júlio sentou a mesa com eles e conversaram descontraidamente. A visita de Milena era uma bênção para eles, pois tanto Marcelo como Júlio ficaram mais animados.

Júlio tinha simpatizado com a moça. Seu filho sabia escolher, pois além de bonita, a moça era culta e muito cativante. Se Tereza  a conhecesse aprovaria a escolha de Marcelo.

Marcelo e Milena precisavam conversar, e Júlio discretamente os deixou a sós. Ele foi para a cozinha lavar a louça e depois que estava tudo em ordem, Júlio foi sentar a sombra do pergolado.

Ele e Tereza sempre sentavam ali no fim da tarde. Apreciavam o por do sol enquanto sentiam o perfume das flores. Aquela casa trazia muitas lembranças. De fato ele precisava sair dali, senão sua vida seria em uma eterna nostalgia. Mas enquanto estivesse por ali, iria deixar seus pensamentos correrem para sua querida e amada esposa.

                                                 ***    ***    ***    ***

Marcelo abraçou e beijou Milena com ímpeto. Ela se deixou abraçar e retribui com paixão as caricias dele. Ainda nos braços dele, Milena disse:

-- Nós precisamos terminar aquela conversa.

-- A conversa em que tu me pedes um tempo? Um tempo para quê? Eu sei que tu me queres assim como eu te quero, então por que tanto fricote? Por que simplesmente não podemos viver felizes?  Tudo precisa de explicações... Seja mais simples... Seja mais feliz... E só para o teu conhecimento, tu tinhas razão, a Rosana já me ligou...

-- Já? E o que ela queria?

-- Eu não atendi. Eu já te disse que ela pode ligar quantas vezes quiser, eu não vou atender. Prestou atenção?

-- Credo! Por que estás assim tão irritado?

-- Porque minha vida virou uma “zona”. Só por isso.

-- Marcelo, eu vim até aqui porque eu queria falar olhando nos teus olhos. Então me escuta e olha para mim.

-- Estou escutando e olhando...

-- Sou uma pessoa sozinha no mundo. Tu bem sabes. Mas  então tu  surgiste em minha vida. E meu mundo começou a brilhar novamente. Meus dias longe de ti são tristes, me deixam infeliz. Eu já provei a vida contigo e reprovei a vida longe de ti. Eu sou egoísta. Penso que só eu tenho problemas, que só eu sofro. Mas percebi que estou errada. Tu voltaste para mim, e isso é o mais importante. Se nesse meio do caminho apareceu a Rosana em tua vida... Paciência.  Mas tu me escolheste. Eu quero que me perdoe por ser tão idiota... Eu vim para ficar contigo, para partilhar as nossas vidas. Se é que tu ainda me queres...

-- Ufa! Enfim recuperaste a razão. Vem cá, vamos tirar o atrasado.

E ele a puxou para perto e a beijou e acariciou e se amaram com frenesi. Foi uma noite perfeita. Eles se entregaram totalmente ao amor.

                                                    ***    ***    ***    ***

Os dias transcorriam com serenidade.

Marcelo ainda não tinha contado a ela sobre a sua inusitada família, já tinha pedido permissão ao pai para revelar a ela o segredo de família.

Milena se ajustou perfeitamente com Júlio, que ela achava muito parecido com Marcelo. Tanto que naquela noite, enquanto jantava ela disse:

-- Eu estou impressionada como vocês dois têm os mesmos gostos...

--De fato. Quem nos vê acredita que somos pai e filho. Eu na verdade sou o pai dele. É uma longa historia que Marcelo irá te contar. – disse Júlio.

-- Eu só fiquei sabendo há dois dias. -- Comentou Marcelo.

-- Mesmo? – disse Milena.

-- Sim, segredos de família. – Completou Júlio.

-- Segredos de família devem permanecer como segredos. Não preciso saber dos detalhes. – disse Milena. Até porque para mim não vai mudar nada. Eu amo Marcelo como ele é.

Milena já andava pensando, que Júlio, não deveria ficar sozinho em São Paulo. O ideal seria ele morar perto deles. E quando teve oportunidade ela conversou com Marcelo sobre isso. Que concordou. Júlio não tinha ninguém por ele. E era seu pai...

Depois dos feriados de carnaval, Milena retornou a Porto Alegre. Marcelo precisou ficar porque estavam negociando o casarão. E ela estava com a incumbência de deixar tudo organizado para quando eles chegassem.

Tinham decido que Júlio ficaria no apartamento alugado por Marcelo, que voltaria para seu apartamento antigo, agora todo reformado e integrado ao de Milena. Ela tinha mandado abrir uma porta interna de comunicação.  Assim eles tinham mais espaço e Marcelo teria privacidade para trabalhar.

Era uma tarde linda de outono, quando ela foi buscá-los no aeroporto. Finalmente tudo no seu devido lugar. Eles poderiam, enfim, viver  a felicidade.

                                             ***    ***    ***    ***

Algum tempo depois...

Milena olhava Marcelo que brincava com o pequeno Antônio e Júlio com os olhos rasos d’água não continha sua emoção de ver seu neto e seu filho  tão felizes. E ela pensou que  fazia parte daquele quadro familiar. Enfim  ela tinha sua própria família e  estava muito  feliz.

                                                                       Maria Ronety Canibal

                                                                                Abril 2018