domingo, 30 de abril de 2017

A HERANÇA

                                                 A HERANÇA


                                                                                     
Joana recebeu um telefonema do escritório do Dr. Gilberto, advogado  de sua família. Faz muito tempo que ela não tem mais contato com ninguém da família. Depois de uma discussão com sua meia  irmã, mais nova, Luana, sua madrasta pediu que ela saísse de casa.  Joana na mesma hora arrumou suas coisas e saiu. Foi para um hotel enquanto procurava um pequeno apartamento para alugar. Seu pai ligou pediu que voltasse para casa, que Magda e Luana tinham extrapolado. Mas ela disse ao pai que o amava muito, mas não iria voltar, porque sempre tinha sido assim.
Ela era bioquímica e trabalhava havia algum tempo.  Tinha algum dinheiro guardado, que neste momento era necessário para poder se estabelecer. Conseguiu um lindo apartamento mobiliado, bem longe da casa de seus pais.
Joana, ao desligar o telefone, ficou pensando que, alguma coisa séria tinha acontecido na família. Dr. Gilberto marcou, uma reunião, para o fim da tarde, logo saberia.
Saiu mais cedo do trabalho e tomou o rumo do endereço que tinham lhe dado. Estava preocupada, com certeza encontraria alguém, talvez seu pai, tinha muita saudade dele. Ficou nervosa. Não sabia como seria sua reação.
Quando chegou ao escritório, foi levada para uma sala, e pediram que esperasse ali, ofereceram água e café, e ela aceitou. Assim teria com o que se distrair. Escutou vozes no corredor, tentou identificar, mas não eram conhecidas.
Levantou-se e foi até a janela, a vista para o rio era magnífica, no fim da tarde o sol avermelhando o reflexo da água. Era digno de uma foto. A porta se abriu e ela virou-se rapidamente para ver quem era. Um rapaz alto, moreno de físico tipo forte, com olhos escuros, entrou e disse:
-- Sou Diogo. Filho do Dr. Gilberto. Prazer em ti ver.
Ele estendeu a mão e saudou. Ela timidamente respondeu:
-- Prazer.
Ele a convidou para sentar, e sentou-se diante dela. Explicou que seu pai logo viria. Ela perguntou a ele qual a razão dela estar ali. Mais alguém de sua família também tinha sido chamado? Ele responde que não. Apenas ela. Que o motivo da sua presença ali, o seu pai lhe contaria. Conversaram sobre amenidades enquanto esperavam.
Quando Dr. Gilberto entrou na sala, ficou surpreendido com a beleza da jovem. Fazia muitos anos que não a via, ela era ainda uma menina. Ele era amigo do pai dela, cresceram juntos, e pensou que havia muito tempo que não tinha uma boa prosa com Geraldo, bom amigo! Era preciso marcar uma  janta para se reunirem, o tempo é breve, a vida passa correndo.   Aconteceu com Dionísio. Os três sempre juntos, agora não eram mais um trio.
Foi Diogo quem o despertou da lembrança.
Dr. Gilberto disse para Joana que ela havia herdado uns bens, e um deles era uma propriedade, ou melhor, uma fazenda com 1.800 ha, de porteira fechada. Ela ficou boquiaberta. Não estava entendendo nada. Como herdara? De quem? Sua família não possuía terras. Eram todos profissionais liberais?  Então Dr. Gilberto disse: escute, vou contar toda a história. Apenas eu sabia. Ela arregalou os olhos, olhou para Diogo que estava quieto a observando.
Dr. Gilberto perguntou:
-- Tu lembras de Dionísio?
-- Sim, eu lembro. Amigo de meu pai e do senhor.
-- Pois é,  ele não tinha herdeiros e em seu testamento deixou tudo para ti, e eu como seu procurador enquanto precisares.
-- Eu? Mas por quê?
-- Bem, isso foi resultado de uma aposta. Quando sua mãe estava grávida de ti, nós ainda tínhamos tempo para passarmos juntos, e seu pai dizia que era um menino e Dionísio  que era uma menina, e que se ele estivesse certo,  faria dessa menina sua herdeira. Eu testemunhei. Assinaram um papel.
Joana perguntou, e se fosse menino, meu pai daria alguma coisa para ele? Dr. Gilberto riu e disse, faria um churrasco.
E ele segue relatando. Dionísio era solteiro e sabia que não podia gerar filhos, tinha uma anomalia. Era rico e não deixaria para sua irmã , que estava muito bem casada e nunca tinha sido sua amiga, uma irmã de verdade. Então assim quando tu nasceste ele me procurou no escritório, fizemos o testamento, que foi lavrado conforme a lei e tem pleno valor. A Tereza, irmã de Dionísio não pode fazer nada. Então tu és a herdeira universal dele. Além da fazenda, tem o apartamento que ele morava e tudo o que tem dentro, mais o carro, jóias e o dinheiro que está no banco, mais aplicações bancarias e algumas ações, e mais alguns imóveis de aluguel. Ainda tenho que ir ao cartório e verificar para podermos fazer a transferência dos bens para o teu nome.
Ela ficou assustada. Como administraria tudo isso, não tinha experiência e capacidade para cuidar de uma fazenda, Ela era bioquímica, nada parecido.
Então Diogo disse:
-- Nós vamos te ajudar. Alias o pai pediu para que eu te levasse até o apartamento para tu conheceres e então depois decidir como faremos.
-- Sim. Pode ser. Quando?
-- Poderia ser amanhã? Deves tomar posse do que é teu logo. E depois vamos conhecer a fazenda, que fica aproximadamente 70 km daqui.
-- Está bem.
Diogo serviu um pouco de água e lhe estendeu o copo, ela estava lívida, realmente assustada com os acontecimentos. O  copo tremia em sua mão. A reunião tinha chegado ao fim. Então ele perguntou se ela estava de carro. Ela disse que não. Não tinha carro.
Ele se ofereceu para deixá-la em casa. Ela aceitou.
No trajeto Diogo comentou que se lembrava dela vagamente, mas que lembrava muito bem do pai dela, da sua gargalhada forte e engraçada. Ela sorriu, e disse eu também me lembro de ti, acho que temos a mesma idade. Ele respondeu que é um pouco mais velho que ela, ele é  do mês de maio. E ela completou, eu sou de outubro.
Despediram-se e combinaram o horário para o outro dia. Ela pediu que a pegasse no laboratório em que trabalhava, teria que pedir dispensa para ter a tarde livre.
Não conseguiu dormir. Estava agitada, não tinha com quem falar. Pensou em ligar para seu pai, mas... Sentiu saudades de sua mãe, sempre alegre e feliz, acolhendo os amigos  em sua casa. Um dia saiu e não voltou. Foi atropelada por um carro. Ela morreu tão cedo, ela tinha apenas 8 anos. Depois seu pai apareceu com Magda e então nasceu Luana e sua vida nunca mais teve paz. Agora entendia porque os amigos de seu pai tinham se afastado, por causa da nova mulher dele que era sem graça, chata e mal humorada. Não gostava de receber visitas.
Na hora combinada Diogo chegou. Ela despediu-se de sua colega e saíram. O apartamento ficava em um bairro nobre da cidade, num prédio antigo, porém muito bonito, num estilo clássico. Quando entraram no apartamento e abriram as cortinas, puderam ver a linda vista lá de cima. Uma parte da cidade, a praça mais a esquerda e por cima dos prédios uma nesga do rio. Ela ficou maravilhada e comentou com Diogo que também apreciava a paisagem.
Era um apartamento de três quartos, sendo que um foi transformado em biblioteca, com dois banheiros, sendo um privativo, uma bela com sacada para e esplêndida vista e mais cozinha e dependências de serviço. Muito bem mobiliado. Dionísio tinha bom gosto. Os móveis eram de qualidade e muito bem conservados.
Estava tudo muito organizado e limpo. Ela perguntou para Diogo quanto tempo fazia que ele tinha falecido. Ele não sabia ao certo, devia ser há uns dois meses. Mas tinha uma senhora que vinha semanalmente limpar e arejar tudo.
Ela gostou do apartamento e comentou com Diogo, que quando fosse morar ali, não mudaria nada. Realmente ela ficou encantada com o que viu. Diogo disse que também achava legal, sobretudo pela vista da sacada. E além do mais era muito bem situado e tinha duas vagas na garagem e mais um deposito. O condomínio tinha salão de festas e piscina adulto e infantil. Que agora eles iriam ver.
Diogo até se atreveu a dizer a ela:
-- Dá para notar que tu gostastes muito do apartamento, estas morando de aluguel, não é? Então porque não vens morar logo aqui? É só entrar.
--Pois é, isso eu já pensei. Tenho que tomar posse ainda, não é bom precipitar as coisas. Não achas?
--Sim. Tens razão.
Diogo olhou o relógio e viu que já era fim da tarde. Tinha gostado de estar com ela, era uma pessoa afável. Resolveu convidá-la para irem um lugar para conversarem. Estava uma temperatura tão agradável. Ela aceitou.
Foram a um lugar da moda. Ela não conhecia. Comentou com Diogo que ela pouco saia, porque suas amigas todas já estavam casadas, com filhos. Ele muito brincalhão disse, vamos resolveu isso. Riram e seguiram conversando. Tomaram um vinho e comeram alguns petiscos. E seguiram falando. O assunto brotava, falavam de tudo um pouco. Riam muito. Diogo contava umas historias engraçadas. Resolveram jantar. Pediram um filé com fritas. E já era mais de onze horas quando resolveram ir embora. Nem ela e tampouco ele viram as horas passarem. Ele a deixou em casa e combinaram para sábado pela manhã irem até a fazenda.
Joana chegou em casa e ria sozinha, Como ele era legal! Dormiu pensando nele. Acordou cedo e ajeitou seu apartamento e foi para banho para se arrumar. Que roupa ia vestir. Queria ficar bonita, mas ia para uma fazenda. Na verdade nunca tinha estado em uma fazenda, não sabia como se vestir. E pensava, calça de brim, lógico, com uma blusa branca básica e uma camisa de brim ficaria bom. E o nos pés tênis, sapatilha ou bota. Colocaria seu tênis e levaria a bota, talvez precisasse. Claro não podia esquecer de pegar um casaco , o tempo estava esquisito, e colocaria um lenço no pescoço, achava muito chique. Prendeu os cabelos feito um rabo de cavalo. Colocou uma muda de roupa na bolsa e mais algumas coisas, entre elas escova e creme dental. Nunca se sabe!
Estava pronta. Olhou-se no espelho e gostou. Achou-se bonita. Pegou os óculos de sol, a bolsa e desceu. Diogo estava esperando por ela. Deu um assovio quando a viu. Ela ficou encabulada. Mas contente. Ele riu e deu um beijo em sua mão.
Tomaram a estrada que naquele horário, ainda cedo, estava bem movimentada. Ligaram o radio e ouviram a previsão do tempo, que prometia muita chuva na parte da tarde. Ela ainda disse:
--Será? Está um dia tão lindo, o céu limpo.
--Se for verdade, teremos dificuldades, aquela estrada é muito baixa. Mas vamos, na pior das hipóteses teremos que passar a noite lá.
-- Vamos, sim! Vamos arriscar. Disse ela.
Foram conversando todo o caminho. Saíram da estrada principal e pegaram uma estrada de chão. Quando chegaram a uma elevação, Diogo parou o carro e mostrou para ela a extensão de terra que era dela. Ele conhecia muito bem. Sempre vinha passar fins de semana na fazenda do “tio” Dionísio, quando era criança. Seu pai e o “tio” eram muito ligados. Sua mãe também vinha, aliás, vinham todos, seu pai, mãe irmão e irmã. Enchiam a casa! Dionísio gostava.
Chegaram foram recebidos pelo casal que cuidava da casa e dois funcionários.. Dona Maria tinha preparado um café e eles não puderam recusar. Após saíram, foram mostrar para ela a sede a fazenda. Tudo muito limpo e organizado. Ela gostou do que viu. Deixaram o resto para depois do almoço. Agora iam tomar um bom chimarrão. Sentaram todos os homens em uma roda, ao redor do fogo que aquecia a água e a cuia rodando de mão em mão. Cada um contando uma historia. Ela não tinha o costume do mate, tomou um e pediu licença. Foi para casa conversar com D. Maria que preparava o almoço.
Não demorou muito e Diogo estava com ela. Ela foi mais uma vez olhar a casa, que era bem grande, Cinco quartos, dois banheiros e mais uma suíte. Duas salas e mais a sala de jantar, copa, cozinha e lavanderia. Por que tão grande se ele era só? Diogo disse que aquela casa estava sempre cheia, era assim todo fim de semana, sempre seus amigos traziam suas famílias. Cada fim de semana era uma festa.
Almoçaram  e descansaram um pouco e saíram. Ela não sabia montar a cavalo, então seu Maneco sugeriu que Diogo a levasse em seu cavalo. Ela era leve, o animal agüentaria. Iriam devagar.
Percorreram os pontos principais e seu Maneco fazia questão de apontar os detalhes. Na verdade ela dizia que sim, mas não tinha muita noção do assunto. Estavam voltando quando as nuvens começaram a se formar, numa pretura assustadora. Comentaram, logo vai cair muita água.
Mal deu tempo de chegarem a casa, e desabou uma chuvarada. Levantou um vento frio. Teriam que ficar. Não se arriscar a sair com aquele tempo.
Ela estava suada com toda aquela andança. Tinha se prevenido, trouxera uma muda de roupa. Sempre fazia isso, era um habito que tinha desde criança, achava que sua mãe tinha lhe ensinado. Pediu para D.       Maria para tomar um banho, que logo providenciou toalhas, sabonete, shampoo.             Ela foi levada para a suíte, segundo D. Maria, agora seu quarto. Estava limpo e cheiroso. Ela tomou um bom banho de banheira, quente e repousante, ficou um tempo até sentir a água esfriar. Saiu, vestiu-se e deixou os cabelos soltos, ainda estavam molhados.
Foi para a sala e lá estava Diogo de banho tomado, seus cabelos também ainda estavam molhados e ele estava de roupa limpa. Ele estava lindo. Ela perturbou-se, tão pouco tempo e ela parecia que estava apaixonada. Ela para disfarçar perguntou onde encontrou essa roupa, a minha eu trouxe. Ele deu uma risada e disse eu sou da casa, tenho roupas aqui. Ela riu com ele.
Ele por sua vez, também estava bem impressionado com ela. Com seu jeito, sua espontaneidade, simplicidade e beleza. Agora com os cabelos soltos e ainda  molhados estava muito sensual.
Diogo perguntou se ela queria beber alguma coisa, tinha cerveja, vinho, uísque, vermute, o que queria? Ela queria saber qual ela ia tomar, ela acompanharia. Escolheram o vinho.
Logo D. Maria apareceu trazendo um queijo picado, azeitonas e pepino e salame. Ainda disse, para se distraírem enquanto faço o jantar. Sentaram próximo a janela e Joana aproveitou e perguntou para Diogo sobre o manejo da fazenda. Ela não tinha entendido. Ele então lhe explicou. Falaram muito sobre a atividade pastoril e agrícola.
Jantaram. Depois sentaram novamente perto da janela e seguiram conversando, agora num campo mais pessoal. Diogo falou dele e perguntou muito dela. Ela levantou=se foi a cozinha tomar água e constatou que estavam a sós.
Diogo sabia, e disse que isso não mudaria nada. Ela poderia ficar segura. (Por mais que eu esteja atraído por ela).
Já era tarde e ainda chovia.
Foram dormir. Ele a deixou na porta de seu quarto. Ele olhou para ela que sustentou o olhar. Ele estremeceu. Não podia. Deu um beijo em sua face de foi para seu quarto. Ficou pensando. Ela até que estava querendo, mas ele não era nenhum cafajeste.
Ela deitou-se ficou revendo aquele dia. Como tinha sido bom. Ele era muito atencioso, gentil, e se ele tivesse tentado beijar ela o beijaria, sim! Mas ela estava muito fora do seu normal, também com todos os acontecimentos da semana e com esse homem maravilhoso diante dela... Por fim dormiu.
No outro dia, ela estava envergonhada do seu comportamento da noite anterior. Deu um bom dia tímido e Diogo percebeu. Puxou assunto sobre coisas variadas, contou passagens pitorescas de suas pescarias na fazenda. Até D. Maria entrou no assunto. Todos riam.  E Joana relaxou.
Tinha amanhecido um lindo dia. Mas seu Maneco recomendou que fossem só a tarde, a estrada estaria mais seca.
Diogo a convidou para uma caminhada até o rio, onde tinha uma praia, que era perfeita para pescarias. Ali ele tinha tomado muitos banhos. Quando estavam baixando para o rio ele pegou sua mão para que não escorregasse, ainda estava molhado.
Joana ficou encantada com o lugar, mas mais encantada estava porque Diogo não soltara sua mão. Caminhavam pela prainha de mãos dadas como se fossem namorados. Foi tão natural para eles. Ficaram por lá até quase meio dia. Então voltaram para o almoço.
No inicio da tarde, após o cafezinho, despediram-se e foram embora.
Pegaram a estrada e ficaram um bom tempo calados. Joana vinha olhando com atenção os pontos de referencia para aprender o caminho. Quando entraram na via principal ela falou que teria que renovar sua carteira de motorista, que fazia tempo que ela não dirigia, desde que saiu de casa.
Diogo disse que enquanto ela estivesse sem a carteira, ele a levaria aonde ela quisesse. Que ele estava gostando muito da companhia dela, que até estava pensando em provocar alguns encontros  a mais. E rindo, disse, verdade, até estou pedindo para jantarmos juntos. Ela riu, mas não respondeu.
Ficou pensando em todos os acontecimentos dos últimos dias. Como Diogo tinha sido atencioso e amigo. Ela também estava gostando de estar com ele. Sobretudo, quando andaram juntos a cavalo. Sentir seu cheiro, seu calor, e o som de sua voz junto ao seu ouvido foi perturbador. Então ela respondeu que aceitava seu convite.
Quando estavam estacionando em frente ao prédio que ela morava, o telefone do Diogo tocou. Era Dr. Gilberto convidando os dois para jantarem em sua casa. Ela disse que precisava de um tempo para se arrumar. Combinaram que ele a pegaria em uma hora.
Joana saiu do banho, enfiou-se num roupão e foi escolher uma roupa para vestir. Queria estar bonita, e não tinha entre suas roupas nada que agradava no momento. Pensou, preciso comprar umas peças novas. Escolheu um vestido azul escuro, secou os cabelos, pintou os olhos e colocou um batom vermelho. Deu uma risada quando se olhou no espelho, estava vestida para matar...
Diogo chegou todo bonito. Cheiroso! E ficou a contemplando. E disse:.
-- Joana, que bonita! É um prazer sair contigo.
Ela sorriu e disse.
-- Obrigada.
Quando chegaram, ele a ajudou descer do carro e a segurou pela mão e entraram no prédio. No elevador, ele deu um beijo em sua mão e disse estou ficando louco por ti. Ela apenas olhou para ele. Chegaram ao andar.
Dr. Gilberto fez muita festa na chegada deles, logo dona Lia veio abraçá-la dizendo que tinha saudades do tempo que sua mãe era viva. Como eram amigas! Logo passaram para a sala, ela sentou-se no sofá e D. Lia ao seu lado. Diogo escolheu a poltrona que ficava em frente. Dr. Gilberto servia as bebidas e os aperitivos.
Jantaram e a conversa  lembrava os bons tempos. Até que Dr. Gilberto contou que na véspera tinha encontrado casualmente com Geraldo, no super mercado, Conversaram um pouco e descobriu que ele não sabia da morte do Dionísio, por isso não tinha ido ao velório e ao enterro.
D. Lia disse:
-- Mas como que não, se nós telefonamos avisando. A mulher dele ficou de dar o recado.
Então Joana falou:
-- Ela é assim. Sempre afastou todos os amigos de meu pai. Ela simplesmente não dá os recados. Se eu sai de casa foi por causa dela. Tem uma hora que não dá mais para agüentar. E ainda tem Luana que é muito pior que ela, além de ser mimada demais.
Dr. Gilberto diz:
-- Eu não contei nada para ele. Não era local adequado. Por isso o convidei para amanhã a tarde participar da nossa reunião. Tudo bem, Joana?
-- Sim. Eu não o procurei porque queria conversar com ele longe da Magda.
Depois do jantar Diogo a levou para casa. Pediu se podia subir, ainda era cedo. Ela concordou. Mas disse:
-- Tudo bem vamos subir, mas eu não tenho nada em casa para te oferecer.
Ele aproximou-se bem dela e disse baixinho ao seu ouvido:
--Tem muito mais que imaginas.
Ela ficou enrubescida, baixou a cabeça e entrou no elevador. Ele notou e a abraçou.
Quando chegaram ao apartamento ele observou o capricho e a organização dela. E rindo disse:
-- Bah, quando conheceres o meu apartamento tu vais ficar chocada com a “minha organização”.
-- Muito bagunçado?
-- Só no dia da faxineira que fica em condições, depois fica inabitável.
Riram do exagero dele.
Sentaram-se no sofá e Diogo disse:
-- Quero falar contigo, assunto sério. Estou preocupado contigo, essa semana foi agitada, tu estas fazendo o que tem que ser feito, vejo que és responsável, mas o que falas de tua madrasta, me assusta. Tenho receio que ela vá te incomodar  por causa desse tua herança. Vai querer que dividas com tua irmã. Estou errado?
-- Não. Sem duvida ela tentará, colocará meu pai mais uma vez contra mim, mas não vou ceder. Não é justo! Porque se fosse ao contrario, se fosse a Luana a receber ela nem me comunicaria.
E Joana segue falando.
-- Meu pai é uma ótima pessoa, um médico dedicado aos seus pacientes. Trabalha muito, chega em casa sempre tarde e quer descansar, não quer se incomodar. E ela se aproveita disso. Eu sempre fui a garota desmiolada, nem minhas amigas ela deixava me visitarem, quanto mais os rapazes que queriam me namorar. Meu pai não sabe de nada disso. E ele sempre me pediu que não namorasse na rua, que eu tinha uma casa para receber as amigas, amigos e namorado. Então quantos namorados agüentaram a Magda e a Luana os correndo de casa? Literalmente os mandando embora.
Diogo faz um carinho em sua face e diz:
-- Por isso mesmo, tens que estar preparada. Vamos enfrentar juntos!
Joana levanta os olhos e olha para ele, com uma expressão que diz: não estou entendo... Diogo continua:
-- Minha linda não entendeu que eu quero estar contigo, que quero um compromisso contigo?
-- Mas assim tão rápido? Não será melhor irmos com calma?
-- Tu não queres ?
-- Não é isso. Apenas acho que faz pouco tempo que nos reencontramos... Eu gosto de estar contigo...me sinto atraída por ti.
-- Então, o mesmo acontece comigo. Joana! Somos adultos, independentes, não precisamos pedir licença para ninguém.  Confia em mim. Não vou te fazer sofrer.
Ele coloca o braço sobre o ombro dela, trás ela para perto dele e acaricia seu rosto. Depois levanta seu queixo e a beija delicadamente. Um beijo suave que ela retribui. Afasta-se um pouco e olha nos seus olhos. Ficam assim por um tempo e então a beija com paixão.
Ela fica sem saber o que fazer, nunca tinha sido beijada dessa forma, num beijo tão quente, tão profundo. Mas aos poucos vai se soltando e o beija também com toda a sua paixão. Ficam abraçados. E Diogo pergunta a ela?
-- Nunca foste beijada?
-- Não dessa maneira.
-- Tu és virgem?
-- Por incrível que pareça, sim.
Então ele a apertou em seu abraço. E disse:
-- Não tem importância, no momento certo daremos um jeito nisso.
Levantou-se para ir embora. Estava tarde. Dirigiram-se a porta. Ele disse que via pegá-la as 14 h. Deu um beijo rápido e foi embora.
Joana foi preparar-se para dormir. Mas mais uma vez não consegue. Em sua mente aparece  Diogo a beijando, percebendo que ela não sabe beijar. O que ele deve ter pensado dela? Que horror! Uma moça de 28 anos, boba desse jeito.
Diogo também está lembrando o beijo, como ela era ingênua ainda. Estava encantado com a ingenuidade e timidez de Joana. Ficou contente. Sua experiência com  mulher vivida não foi feliz. Sofreu muito por causa da Fabiana. Foi um amor arrebatador, ele ainda jovem foi praticamente seduzido por ela. Mas depois ela se cansou dele e o traiu, o deixou. Foi dolorido, foi difícil superar a vergonha de ser menosprezado por aquela vadia. Desde então não tinha se prendido a mais ninguém. Não queria mais esse tipo de mulher em sua vida. Queria alguém como Joana. Não! Queria Joana!
Agora ele percebeu a razão de Joana dizer que estavam sendo precipitados. Ela precisava de tempo. E ele daria o tempo que ela necessitava,  seria devagar.
Na segunda feira, Joana foi falar com Amanda, sua gerente, no laboratório. Precisava de alguns dias de folga, tinha muitas coisas para resolver, aliás, sua vida tinha virado de cabeça pra baixo. Literalmente!
Amanda, disse, mas tu tens férias vencidas. Vou conversar com o escritório. Te dou dois dias de folga. Até lá já deve estar pronta a papelada de tuas férias.
Joana pensou: isso resolvido,  vou comprar umas roupas novas, porque as minhas eu não agüento mais. Hoje preciso estar bem arrumada, não sou uma herdeira qualquer. E além do mais, tenho que ficar bonita para o Diogo.
A tarde quando ele foi buscar Joana ela estava linda, elegantemente vestida para a ocasião. Um conjunto de calça e casaco branco com uma blusa preta de bolinhas brancas. Muito chique. Ele a elogiou e ela agradeceu sorrindo. Ele sabia que ela precisava se sentir “poderosa” para enfrentar sua família.
Diogo não sabia qual seria a reação de seu Geraldo em relação a tudo isso. E se ele estaria só, ou sua mulher o acompanharia. Tomara que viesse só.
Chegaram ao escritório e Dr. Gilberto e o tabelião, os esperavam. Dr. Gilberto disse que seu pai tinha ligado dizendo que tinha surgido uma emergência  e poderia só mais tarde.
Depois de todos os documentos terem sido lidos e assinados, Dr. Gilberto disse que precisavam comemorar. Mandou buscar um espumante e brindaram. Já era noite. Diogo a convidou para jantar, a comemoração ia continuar.
Ele escolheu um bom restaurante, porém mais seleto. E tiveram um belo jantar. Conversaram e riram. Diogo a levou em casa, mas não subiu. Deus um beijo rápido ao se despedir.
Ela ficou desapontada. Ela tinha demonstrado que era uma tola, e ele não a queria mais. Entrou em casa com lágrimas nos olhos. Tomou banho e deitou-se. Não queria pensar, queria dormir, para ao menos sonhar com ele. Seu telefone toca. Ela atende e é Diogo dizendo coisas lindas para ela, e ficam falando mais de hora. Por fim ela dorme com um sorriso nos lábios.
Diogo e Joana passam a semana praticamente juntos. Havia muitas coisas que precisavam ser vistas, decididas e ele a ajudou em tudo. Tanto que ela perguntou:
 -- Me diz, tu  ainda estás trabalhando no escritório? Não vai mais lá.
-- Vou te contar um segredo, diz ele. Eu fiquei designado, pelo escritório, a ser teu “tutor” . Portanto estou até fazendo hora extra.
E deu uma gargalhada. Joana riu também.
Já era sexta feira. Sábado iriam para fazenda. Tudo planejado. Mas seu pai liga. Quer falar com ela. Pede que vá a sua casa. Promete ao pai que irá na parte da manhã, porque depois tem compromisso.
Ela disse para Diogo que teria que ir a casa de seu pai, então teriam que sair mais tarde para fazenda. Se ele podia avisar seu Maneco. Sem problemas, disse Diogo e acrescentou, eu vou contigo a casa de teu pai. Ela protestou, disse que não era preciso, mas ele insistiu e falou com firmeza, tenho que te defender das garras de tua madrasta.
No caminho para casa de seu Geraldo, Joana perguntou a Diogo:
-- Tu achas que meu pai já sabe? Como? Teu pai contou a ele?
-- Não, meu pai não falou mais com ele. Eu perguntei para o pai. Mas desconfio que ele já saiba. Como? Não sei.
Ao chegar Diogo segurou a mão de Joana, ela estava nervosa. Foram bem recebidos por seu Geraldo, que disse:
-- Eu soube que vocês estão de namoro. Que bom!
Joana pergunta;
-- Como soube?
-- Ora, minha filha, as noticias andam.
Neste momento entraram na sala Magda e Luana, que mal olharam para Joana e se desmancharam em sorrisos para Diogo. Joana ficou braba, tentou soltar sua mão da dele, mas ele segura firme. Caiu um silencio na sala.
Quem quebrou o silencio foi seu Geraldo, que disse a Joana que estava muito sentido com ela, que ela não foi capaz de ligar para ele e contar que tinha recebido uma herança. Ela levantou os olhos e olhou para seu pai. Diogo se adiantou e respondeu por ela. Que tudo foi supetão, que tiveram muita coisa para ver, resolver e que os dias tinham passado rapidamente, mas que Joana esperou que ele estivesse presente na primeira reunião que fizeram.
Ela completou o que Diogo falou, dizendo que ligou para o hospital mais de uma vez e não conseguiu falar com ele. E que para casa dele ela não adiantava ligar, porque ele não receberia o recado.
Nesse momento Magda falou de modo agressivo, dizendo que Joana não queria que soubessem, porque não queria dividir a herança com sua irmã Luana. E seu Geraldo acrescentou dizendo que Magda tinha razão. Ela já tinha recebido a herança de sua mãe, agora essa devia ser dividida com Luana.
Joana ficou chocada com o que seu pai falou. Lágrimas brotaram em seus olhos. Diogo então falou:
-- Com todo respeito, seu Geraldo, isso que o senhor falou não tem cabimento. A herança da mãe é um direito dela, ao fazer a maior idade tomar posse do que é seu. E tio Dionísio, deixou em testamento, que Joana era sua herdeira universal. Portanto, é dela. Somente dela. E ela faz o que ela quer com o que recebeu. Não vou permitir que tentem coagi-la.
Então Luana se mostrou aborrecida, dizendo que Joana sempre levava a melhor. Que isso era injusto.
Diogo achou que era hora de se retirarem. Convidou Joana, alegando que tinham compromisso. Levantaram-se e saíram. Despediram-se friamente de todos. Seu Geraldo estava com jeito que não tinha gostado da conversa. Magda ficou protestando e Luana se aproximou de Diogo, pegou seu rosto entre as mãos e deu um beijo na boca de Diogo, convidando ele para vir visitá-la.
Ele ficou pasmo. Que atrevida! Que família!
Quando entraram no carro, Joana começou a chorar por todas as razões. Diogo deixou que ela desabafasse. Era bom chorar. Com aquela família ele também choraria. Ele a levou a uma cafeteria. Ela precisava se acalmar. Ele não ia pegar a estrada com ela desse jeito.
Sentaram, ela pediu um chocolate quente e ele um café. Ela se acalmou, relaxou e deu até um sorriso torto para ele, dizendo: 
-- Que tal a minha irmã? Ela sempre foi assim, pegando tudo o que é meu, por isso brigávamos toda hora. Mas agora ela quer te pegar.
-- Mas comigo ela não tem vez. Não é o tipo que me agrada, ainda mais com esse comportamento. Não mesmo!
Ela não responde, e ele pergunta:
-- Queres ir mesmo para fazenda?
-- Sim vamos. Lá estamos a salvo.
Quando chegaram a fazenda era meio de tarde. D. Maria estava esperando com um verdadeiro café colonial. Uma mesa cheia de quitutes. Eles sem perda de tempo sentaram e deliciaram-se com tudo. Estava ficando frio, e aquele café foi reconfortante, ainda mais que não tinham almoçado.
Então Diogo a convidou para uma cavalgada pelo campo, ainda levaria um tempo para escurecer. Seu Maneco disse que o cavalo já estava encilhado, esperando por eles. Ela então disse a seu Maneco, quero aprender a montar, separe um cavalo bem manso. Ele disse, tenho uma égua, pode ser? Então Diogo disse, sim e prepare para amanhã de manhã, vamos iniciar as aulas. E deu um sorriso largo para ela.
Mais uma vez montaram juntos no cavalo. Ela a frente dele e ela a abraçando. A cavalgada tirou de seu pensamento todos os acontecimentos do dia. Eles observaram o gado, ele ensinando a ela as questões da criação de gado. Ela ouviu atentamente e fez muitas perguntas, e recebeu muitos beijinhos na face.
Chegaram com frio. Havia levantado um vento sul bem frio. Ela foi tomar banho e vestir uma roupa quente. Ele foi acender a lareira, a lenha já estava arrumada, era só acender, e viu que tinha mais lenha para alimentar o fogo. E foi também para o banho.
Quando Joana chegou na sala se encantou com o fogo e pegou um almofadão e sentou-se bem perto da lareira. Ele quando a viu ficou parado olhando sem ela se dar conta.
Foi D. Maria que tirou o encantamento quando perguntou se eles queriam jantar ali,  ela tinha feito pizza. Claro que foi a proposta ideal. Diogo abriu um vinho, pegou os copos e puxou a mesinha para mais perto deles. A pizza chegou e ficaram ali comendo, bebendo e conversando.
O tempo passou, D. Maria recolheu os pratos e disse que ia dormir, e se precisavam de mais alguma coisa? Joana agradeceu e disse que estava tudo bem.
Tomaram todo o vinho. Diogo propôs outra garrafa, mas ela disse que seria demais. Não tem nem um licor para nós encerrar a noite? E acharam um licor caseiro de pitanga.
Diogo serviu o licor se sentou ao lado dela, a abraçou e ficaram em silêncio olhando o fogo. O calor do fogo, a proximidade deles, provocou muitos beijos e troca de carinho. Os carinhos foram ficando mais ousados e Diogo perguntou a ela se estava tudo bem, se podiam seguir o curso do desejo que estava queimando em cada um deles. Ela consentiu. Então ele levou-a para o quarto e lá ela se entregou totalmente a ele. E ele ficou mais apaixonado por ela. Dormiram juntos. Ele não foi para o seu quarto. Ela havia pedido para ele ficar com ela.
Ela acordou e viu que ele ainda dormia. Ficou quieta pensando com tinha sido bom ,ela não se arrependia, não tinha certeza se iam ficar juntos mesmo, mas ele tinha sido tão carinhoso, gentil, cuidadoso... Ela não conhecia o amor, mas o que ela sentia devia de ser amor. E ele? Será que a amava? Ele nunca tinha dito a ela essas três palavras “eu te amo”. Disse que estava apaixonado, e era a mesma coisa? Ela achava que não. Amor era mais profundo, mais forte, mais... Então, como seria a partir de agora? Iriam morar juntos? Ela não tocaria no assunto. Deveria partir dele.
Ele acordou e deu um sorriso lindo para ela. E disse:
-- Minha linda! Está tudo bem contigo?
-- Sim, estou bem.
-- Então vem cá e me dá um beijo de bom dia.
Chegaram para tomar café e D. Maria percebeu pelo brilho do olhar que algo de bom tinha acontecido. Mas ficou quieta. Perguntou que horas eles pretendiam sair, se queriam o almoço mais cedo. Diogo disse que não, ficariam o dia todo, voltariam na segunda pela manhã.
Joana olhou para ele, mas não contestou. Tomaram o café e foram para o pátio, onde as montarias  estavam encilhadas, esperando.
Diogo ajudou Joana a montar, deu as explicações necessárias e primeiro fez a égua andar segurando pelo buçal, deram algumas volta pelo pátio, então ele montou em seu cavalo e saíram passo a passo e  ele sempre perto dela. Mas Joana logo pegou o jeito, e não tinha medo, e quando voltaram ela já estava comandando bem sua montaria. Estava feliz!
O resto do dia foi tranqüilo, almoçaram, descansaram vendo TV, deram um caminhada e prepararam-se para jantar. Quando chegaram a sala , o fogo da lareira já estava aceso, e na mesa uma garrafa de vinho e dois copos. Alguns salgadinhos.
Sentaram lado a lado no sofá, em frente a lareira. Joana adorava pasteis. Pediu para D. Maria fazer só pastel para a noite. Ela estava sentindo o cheiro que vinha da cozinha. Delicia! E D. Maria deixou sobre a mesa uma travessa cheia de pastel e um prato cheio de rapadura de leite. Diogo agradeceu e disse que ela poderia ir descansar. Teriam mais uma noite a beira do fogo, mais uma noite de amor.
Os dias correram tranqüilos. Joana ainda tinha uma semana de férias. Então resolveu que iria entregar o apartamento que morava e para mudar para o apartamento que herdou.
Diogo iria passar uns dias fora. Viajaria para o exterior, participaria de um Congresso em Londres. Ele ficou preocupado, logo na semana que Joana iria mudar. Mas sua mãe disse ajudaria Joana com a mudança. Seria bom, assim elas poderiam conversar bastante. Ela gostava de Joana queria que a considerasse como uma mãe.
Já instalada no apartamento, Joana queria voltar ao trabalho. Gostava de sua profissão. Queria aprender a conciliar a administração da fazendo com seu trabalho.
Diogo ainda estava fora.
Joana abriu seu e-mail e encontrou uma mensagem de Luana. Abriu. Ficou revoltada. Na tela estava uma foto de Diogo abraçado em uma moça bonita. Uma mensagem que dizia “bom esse congresso”. Ela salvou, Desligou o computador. E andou a noite toda, pensando. No outro dia Diogo estaria chegando. Ela não queria mais saber dele. Não aturava ser traída. Estava tão indignada que não conseguiu nem chorar.
Diogo vinha feliz, tinha uma surpresa para Joana. Estava ansioso para chegar. Ela havia prometido ir esperá-lo no aeroporto. Ele chegou e não a viu. Esperou ainda um pouco e resolveu tomar um taxi. Estava preocupado, que teria acontecido. Foi direto para casa dela. Ela não estava. Tentou ligar, ela não atendeu.
Foi então para seu apartamento e ligou para sua mãe para dizer que já tinha chegado e queria também noticias de Joana, não tinha conseguido falar com ela. D. Lia disse que ela devia estar no laboratório, pois tinha voltado a trabalhar. Ele resolveu tomar uma ducha para tirar o cansaço da viagem, e depois iria até o laboratório.
Já era fim da manhã. Deixou o csrro no estacionamento do laboratório e ficou esperando por ela. Logo ela saiu. Não viu ele. Ele foi atrás. Chamou seu nome, e ela parou e voltou-se para ele. Ela estava séria com um olhar triste. Ele a abraçou e queria saber o que tinha acontecido. Ela não disse nada, pediu que a deixasse. Não queria mais vê-lo.
Ele afastou-se dela, virou as costas e foi embora.
Foi para casa de sua mãe, queria conversar, queria entender o que estava acontecendo. Dona Lia não sabia. Ontem tinha estado com ela, tinham terminado de arrumar o apartamento. Ela estava feliz. Hoje ia retomar o trabalho. Não tinha idéia do que poderia ter acontecido.
Ele foi para o escritório. Não conseguiu se concentrar no trabalho. Então resolveu rever os pontos do congresso, e ver as fotos e eram muitas, algumas ele aparecia.

De repente aparece uma foto dele abraçado com uma mulher, Mas como! Aquilo era montagem. Ai estava a razão da atitude de Joana, e com razão. Mas ele tinha sido ultrajado. Iria averiguar, telefonou para um escritório especialista em fraude na internet.
Não procurou Joana. Ainda não era hora. Ia esperar o resultado da pericia. Passados alguns dias, ele foi chamado e recebeu o laudo pericial, onde apontava o numero do computador e o nome de quem havia postado a foto adulterada. Quando viu o nome que ali estava ele não se surpreendeu. Pegou o laudo e foi até Joana.
Era fim de tarde, foi esperá-la na saída do trabalho. Ela quando o viu estampou tristeza em seu rosto. Ele pediu para conversar com ela. Era necessário. Foram para o apartamento dela. Ele a ajudou a entrar no carro e seguiram todo o percurso calados. Subiram. Entraram. Ele sentou. Ela foi buscar uma água para beberem. Então ela sentou em frente a ele.
Diogo entregou a ela o envelope que trazia em sua pasta. Pediu que ela lesse. Ela abriu com cuidado o envelope e ele estava a observando. A medida que ela lia, sua expressão se alterava. Estava furiosa, indignada quando terminou. Olhou para ele e disse:
-- Magda e Luana! Me desculpa...
-- Me desculpa? E a confiança? Por que não me disse o que era, eu precisei descobrir sozinho, mandar fazer um laudo para acreditares em mim.         Pelo visto o que vivemos essas ultimas semanas não tem importância para ti.
-- Me perdoa...
Ele levantou, andou pela sala e disse:
--Teu pai precisa saber disso. Da víbora que ele criou em casa.
Diogo abriu a porta e foi embora. Joana ficou chorando. Mais uma vez Luana atrapalhou sua vida. Guardou o envelope com as provas da montagem fotográfica.
Joana nunca tinha se sentido tão só, como agora. Ela arrependeu-se, reconheceu que devia ter confiado nele, ter mostrado a razão de sua fúria. E agora ele havia deixado ela. Tentou falar com várias vezes, deixou recado e não veio resposta.
Seria um fim de semana longo, pois segunda feira era feriado, ela não podia ir para a fazenda, ainda estava sem a carteira de habilitação. Teria que ficar em casa, sozinha. A saudade dele cada vez maior. Resolveu falar com Dona Lia. Mas Dona Lia também não sabia dele. Ele saiu na quinta feira dizendo que precisava espairecer, ia sair sem destino.
O sábado amanheceu com tempo chuvoso., caiu uma chuvarada que alagou vários pontos da cidade, tinha noticias ventos fortes em várias regiões, muitas cidades sem luz, telefone e isoladas, por quedas de barreiras. Um caos instalado. Os noticiários da TV mostravam situações de desespero de famílias que perderam tudo.
Joana desligou a TV e ficou olhando o trânsito lá embaixo. No momento a chuva estava fraca, mas ao longe se via muitos relâmpagos.
Diogo não saia do seu pensamento. Ela precisava dele, tinha sido intransigente demais. Ela tinha que achar um jeito de falar com ele. Mas qual?
Tocou o telefone, ela atendeu. Era seu Maneco dizendo que estava tudo bem na fazenda, que o temporal tinha sido feio, e ainda bem que o Diogo estava por lá. Ajudou a recolher os animais. Ela agradeceu seu Maneco.
Então ele estava lá! Iria para lá agora. Telefonou e alugou um carro com chofer.
Joana chegou na fazenda por volta de 16h, estava tudo quieto, e estava recomeçando a chover. Seu Maneco veio ver quem era, e ficou alegre com a presença dela. Disse baixinho enquanto a cumprimentava, ele está precisando muito de ti. Ela fez um movimento com a cabeça, que concordava.
Ela entra na sala e não o encontrou, foi pé por pé pelo corredor e ele estava deitado no quarto dela, na cama “deles”. Ele dormia por cima da colcha. Ela tirou seus sapatos e se deitou ao lado dele, bem juntinho, e ficou olhando para ele que continuava dormindo.
Ela acarinhou seu rosto, ele abriu os olhos, não disse nada, e estendeu a mão para puxá-la para mais perto. Assim ficaram sem falar por um bom tempo. O olhar que eles trocaram é intenso, vem d’alma, demonstra o amor que os une. Não era preciso palavras, pois não elas descreveriam tudo o que olhos transmitiam.
Seus lábios se tocaram num beijo terno, que aos poucos foi se aprofundando e acendendo um fogo em seus corpos, que querem se dar um ao outro. Se amaram com paixão. Numa entrega  total.
Depois do amor ficaram abraçados. Diogo pegou algo na mesinha de cabeceira, e com uma voz rouca no seu ouvido perguntou:
-- Eu te amo. Quer casar comigo?
E estende um par de alianças.
Lágrimas rolaram nas faces de Joana, que se atirou sobre Diogo e entre beijos foi dizendo:
-- Sim... Sim... Sim...
                                                                                Maria Ronety Canibal
                                                                                   Abril 2017.




IMAGEM VIA INTERNET

sexta-feira, 21 de abril de 2017

JOVEM DEMAIS PARA O AMOR

                                                              
Jovem demais para o amor

O aniversário de 15 anos de Silvana era o assunto da família. Estava sendo preparada uma grande festa. Seria no próximo sábado. Silvia que tinha apenas 13 anos estava eufórica, sua primeira festa. Mas não poderia dançar seu pai não permitia. Só depois dos 15 anos. Sua irmã estava, há muito tempo, ensaiando os passos da valsa que dançaria com seu pai.
Silvia acordou e foi no calendário verificar a data. Era hoje, dia 15 de setembro de 1960. Estava mais feliz do que Silvana, que nem acordar queria.
Abriu o armário e mais vez olhou seu vestido novo, era em organdi bordado na cor azul claro, com uma  faixa de cetim azul num tom mais forte com um laço de pontas caídas. Pela primeira vez iria vestir meias de seda e usaria um sapato forrado do mesmo tecido do vestido com um saltinho de 2 cm. Estava ansiosa para que chegasse a hora de se vestir para festa.
Já tinha pensado como ajeitar seu cabelo, que era comprido com as pontas levemente onduladas. Tinha comprado uma tiara e forrado  com fita da mesma cor do cinto. Tudo combinando. Ia ficar lindo demais.
O vestido de sua irmã também era muito bonito. Era na cor branca com bordados em azul e rosa e na cintura  uma faixa na cor rosa, sem o laço, e sim com um raminho de flores. Silvana tinha decidido que deixaria os cabelos soltos. E usaria pela primeira vez um sapato de salto alto. Imagina com 5 cm! Agora ela era uma moça, podia dançar nas festas e namorar.
Silvia trocou o pijama e desceu para tomar café. Nossa! Estava um corre, corre. Estavam abrindo espaço na sala de visitas para dar lugar para as danças. Tinham colocado as poltronas e mesinhas na sala de jantar. Ainda bem que as peças eram grandes. Ainda bem que a casa era grande!
Na cozinha também havia agitação. Sentou a mesa da copa para tomar seu café. E ficou pensando, quantas pessoas viriam?  Eram muitas! Toda família, tios, primos e primas, os avós, amigos da familia e mais todas as amigas e os amigos da aula de Silvana.
O dia passava ligeiro! A tarde ela tinha ajudado  Silvana separar os discos que mais gostavam, e, apenas esses seriam tocados na vitrola. Mariana, sua prima, tinha prometido trazer mais discos. Ela ficaria encarregada de cuidar disso, Silvana tinha pedido. Que bom! Assim poderia ficar todo tempo na sala.
Silvia foi a primeira ficar pronta. Olhou-se no espelho do hall de entrada e se achou muito bonita. Não era pretensiosa, mas hoje com esse vestido lindo, ela se gostou. Ficou por ali para receber os primeiros convidados, seu pai estava com ela. Sua mãe estava ajudando a Silvana nos últimos detalhes. Logo desceriam.
As amigas de Silvana chegaram praticamente todas juntas. Fizeram uma algazarra, todas rindo e conversando ao mesmo tempo. Depois os rapazes chegaram, todos de terno e gravata, entraram um pouco acanhados. Mas seu pai puxou assunto com eles e logo estavam todos falando de futebol.
A festa começou!
Só depois de cantarem os parabéns e cada um comer um pedaço do bolo, que as danças iniciaram. Silvana dançou a valsa, divinamente com seu pai, parecia que flutuava. Agora outros pares começaram a dançar. Ela estava atenta, cuidando para que a ordem das músicas fosse observada, como tinha prometido a sua irmã.
Felipe, que era bem mais velho, devia ter uns 17 anos, aproximou-se dela e a convidou para dançar, mas ela recusou. Seu pai não permitia, era ainda muito jovem. Felipe então ficou conversando com ela e ajudando com os discos.
Felipe sempre achou Silvana muito bonita, tinha a pele morena e os olhos e os cabelos castanhos escuros. Mas quando viu Silvia, ficou fascinado, ela era muito mais bonita que sua irmã. Embora a pele e os olhos fossem da mesma tonalidade de Silvana, os cabelos de Silvia eram  mais claro e tinham um brilho extraordinário. Ela era ainda uma menina, que com certeza se tornaria uma linda mulher.
Silvia era muito tagarela e tinha muita vivacidade e adorou conversar com Felipe, que não dançou com ninguém, e ficou todo o tempo junto dela.
As amigas de Silvana perceberam, e, logo começaram a comentar entre elas, por que ele tanto falava com aquela pirralha? Foram dizer para D. Lourdes, mãe de Silvana, que a Silvia estava atrapalhando as danças. E Silvia foi tirada da sala.
Felipe percebeu a maldade das outras, e resolveu ir embora. Foi despedir-se de D. Lourdes e Sr. José e aproveitou para dar mais uma palavrinha com Silvia, e combinaram se encontrarem no outro dia, no cinema do bairro. Silvia sempre ia ao cinema aos domingos de tarde. Encontrava com suas amigas sempre na fila para comprar os ingressos. Não tinha erro.
A festa foi até tarde, era quase 1h quando os últimos convidados foram embora. Sua mãe mandou que fosse dormir, porque senão teria dificuldade para acordar, para ir à missa. Ela obedeceu, mas sua irmã ainda ficou.
Silvia deitou-se e ficou quieta pensando em Felipe. Como era lindo! Era um “pão” como costumava dizer. Ele era alto, tinha os olhos verdes e os cabelos castanhos claro, e sua pele era bem clara.  Ela estava apaixonada.  Ficou pensando em tudo que tinham conversado.
Acordou cedo para ir a missa, só sua mãe estava acordada, e disse que não iria a missa, que ela fosse só. E ela foi. Sentou num banco mais atrás na igreja e de repente Felipe sentou ao seu lado. Ela ficou nervosa, mas sorriu para ele. No fim da missa Felipe acompanhou Silvia até a esquina de sua casa. Ela não deixou, o pai poderia ver. E recomendou que no cinema a tarde, não sentasse ao seu lado, mas atrás, assim poderiam falar.
Silvana disse que não queria ir ao cinema, estava cansada e iria ver seus presentes. Então Silvia telefonou para Alice, sua melhor amiga, e foram juntas.
Mas Felipe não atendeu a seu pedido, deixou apagar as luzes o foi sentar ao lado dela. Tentou até pegar sua mão. Ela ficou apavorada. Ele percebeu o nervosismo dela, achou engraçado, então deu um beijo na palma da mão e largou.
Silvia foi “as nuvens”. Alice olhou de rabo de olho e sorriu. Ele era muito pão, e Silvia era uma sortuda. Quando saíram do cinema, Felipe ofereceu pipoca e os três foram pela rua conversando e se deliciando com as pipocas.
Felipe pediu o numero de telefone de sal casa, iria ligar para ela. Ela disse qual era o numero e o horário que ela estava em casa, porque, pela parte da manhã ia a escola, a tarde nas segundas e quinta tinha aula de piano, terças e sextas  aulas de inglês, e na quarta violão. Só estaria em casa às 17h. Ele então perguntou onde ficava cada lugar, porque assim poderia esperá-la e acompanhar até sua casa.
E assim foi todos os dias se encontravam. Aos domingos iam ao cinema. Depois de duas semanas, Felipe disse que queria namorar com ela. E ela disse que seu pai não permitia. Felipe disse que falaria com ele e pediria permissão. Ela não deixou, propôs namorarem escondidos.
O tempo passou, e já era quase dezembro quando Rosa, uma amiga de Silvana foi contar para D. Lourdes do escândalo que Silvia estava provocando, ela estava namorando escondida, um rapaz bem mais velho.
Seu José ficou muito brabo, proibiu Silvia de sair sozinha, de ir ao cinema e atender telefone. De agora em diante estaria sempre acompanhada de sua mãe, que levaria e buscaria  em todos os lugares. D. Lourdes não contrariou o marido, mas pensou que ele estava sendo severo demais.
No outro dia quando Felipe foi esperar Silvia na saída da aula de piano, encontrou com dona Lourdes, estranhou a presença dela, mas não podia imaginar o que tinha acontecido. Foi dona Lourdes que contou toda historia para ele,( ela era uma pessoa muito  simpática e acolhedora) e  ainda acrescentou, essa menina, a Rosa fez tudo isso por despeito. Ele concordou e contou para a mãe dela que ele tinha boas intenções, que gostava de Silvia e queria ter pedido permissão para o namoro, mas Silvia não tinha deixado, achando que seria pior.Tinha medo do pai,  conhecia  seu pai. E dona Lourdes concordou.
Na verdade nem dona Lourdes sabia qual a saída. Talvez fosse melhor eles se afastarem e se realmente se gostassem, mais adiante poderiam namorar, quando ela tivesse idade. Ele não tinha outra saída, tinha que aceitar a proposta de D. Lourdes. Felipe despediu-se de Silvia, não iriam mais se ver, nem falar por telefone.
Silvia voltou chorando para casa. Trancou-se em seu quarto e ficar só. Chamaram para jantar e ela não foi. No outro dia não levantou para ir a escola, sua mãe compreendeu e disse que ela estava amolada.
Mas os dias foram seguindo e Silvia não melhorava,  estava sempre triste sem vontade de nada. Seu pai estava preocupado, mandou que fosse ao médico. Dona Lourdes a levou, mas o doutor disse que fisicamente ela não tinha nada. Deveriam dar tempo ao tempo.
Felipe soube por Alice do estado doentio de Silvia. Então ele , por intermédio da amiga, lhe mandou uma carta e uma caixa de bombons. Isso animou Silvia. Ela respondeu a carta dele e foram se correspondendo com o auxilio da boa amiga, Alice.
Silvana, agora, tinha um namorado. Roberto era um bom rapaz, que estudava Direito. Ela terminou o ginásio e agora ia para a Escola de Administração do Lar. Silvia declarou que ela queria ser professora, que depois do ginásio ela iria para o Curso Normal.
As férias chegaram. Sempre passavam uma temporada na praia e outra na fazenda. Mas agora nenhuma das irmãs queria ir para fazenda. Mas seu pai não aceitou e todos iriam para fazenda, como sempre.
Foram! Quando voltaram havia algumas novidades, nem todas boas.
Alice entregou para Silvia as cartas escritas por Felipe, no período das férias e ela por sua vez também entregou as suas e pediu para que Alice dissesse a ele que fosse a missa no domingo para se verem, ao menos isso.
A novidade que Alice tinha para contar, era que seu pai tinha sido transferido, ela iria embora para outra cidade. As duas se abraçaram e choraram. E agora? Como seria? Quem iria cuidar da correspondência deles?
No domingo, conforme o pedido de Silvia ele foi a missa.  Sentou no banco lateral e ela no banco de sempre. Assim podiam se olhar. Mas na saída da missa, Felipe se atreveu e foi falar com ela. Disse que ele  tinha passado no vestibular e iria fazer medicina. Que não sabia como seria seu tempo, teria aula o dia inteiro. Sem ninguém para ajudar. Bem então combinaram que seria na missa o encontro deles.
Mas as dificuldades não paravam por ai. Seu pai tinha comprado um apartamento em outro bairro, iriam mudar quando o prédio ficasse pronto. Não sabia quando...
Felipe soube que Roberto estava namorando com Silvana. Foi falar com ele, pedindo que levasse um bilhete para Silvia. Mas ele se recusou, dizendo que não. O ”velho” delas era muito rígido e ele não queria se indispor com ele. Não daria nem o novo numero de telefone e tão pouco o endereço. E a mudança seria em algumas semanas.
Silvia completou 14 anos. Dona Lourdes queria comemorar como sempre, chamando suas amigas para um lanche, mas ela não quis. Sentia falta de Alice, sentia falta de Felipe e sentia falta das cartas dele. Passava relendo as cartas dele, já sabia de cor o que estava escrito. Era isso que ela tinha. E ela realmente tinha mudado seu comportamento. Não era mais a menina tagarela e animada. Agora era quieta e triste.
Todos estavam muito entusiasmados com o apartamento novo, sua mãe decorando tudo. Os móveis eram todos novos, também as cortinas e os tapetes. Seu quarto tinha ficado lindo, sua mãe caprichara, mas nem isso a deixava melhor.
Até de escola ela ia mudar. Odiava tudo isso.
Depois que mudaram para o apartamento, que era num bairro bem distante não tinha mais como Silvia e Felipe se verem se falarem, e, até o numero do telefone era outro. Ela ligou para ele algumas vezes, mas ele nunca estava em casa. E ela ficou constrangida em pedir que anotassem o numero dela para entregar a ele.

Passou um ano e Silvia iria fazer 15 anos. Seus pais queriam fazer uma festa como a de sua irmã. Mas ela não quis. Nem presente, nem valsa, nada.
Agora seu José estava preocupado. Será que tinha errado em ser tão intransigente com aquele namoro? Sua esposa havia intercedido pelos jovens namorados, até disse que o rapaz queria falar com ele, mas foi impedido pelo medo que Silvia tinha dele. Mas havia as regras, se agisse de outro modo suas filhas ficariam “mal faladas”. Amava suas filhas, sua família, queria o melhor para elas.
Mas de agora em diante seria mais brando, especialmente com Silvia.
Silvia ainda pensava muito em Felipe. Não culpava seus pais pelo afastamento deles. Seu pai era assim e tinha suas razões. Só não entendia porque a Rosa tinha falado tão mal dela a sua irmã e sua mãe. Eles namoravam, mas ele era respeitador, acompanhava ela pela rua sem tocar nela, só no cinema ele pegava em sua mão e sempre beijava a palma da mão. Beijinhos só de despedida. Nunca tinha beijado ela para valer, porque ele gostava muito dela e não queria que se alguém visse e julgasse mal o comportamento deles.
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Silvia estava com 20 anos e estava no curso de Letras a Universidade Federal. Tinha conquistado o primeiro lugar no vestibular. Também só o que fazia era estudar.
Ainda pensava muito em Felipe, nunca mais se interessou por ninguém. Havia um rapaz do curso de direito que sempre a procurava para conversar, já tinha convidado para saírem, mas ela educadamente recusava. Sempre tinha uma boa desculpa. Definitivamente seu coração era de Felipe. Iria ficar solteira? Essa não era a sua preocupação.
Felipe também ainda pensava em Silvia, como tinham sidos separados por uma fofoca interesseira daquela falsa da Rosa. Ele ficou horrorizado com a forma de agir daquela rapariga, que logo em seguida começou a “dar em cima dele”. Queria namorar com ele de qualquer jeito, oferecia-se escandalosamente. Ele tinha nojo dela!
Ficava imaginando como estaria Silvia hoje, agora moça feita, deveria estar muito bonita, com aquele brilho no olhar, conquistando muitos rapazes. Sentia ciúmes! Tinha vontade de procurá-la. Quantas vezes tinha pedido a Roberto uma ajuda, mas o amigo, não se dispunha a isso. Será que era seu amigo?
 Felipe tinha iniciado o namoro com uma colega de curso.  Não era apaixonado pela Helena, e ela sabia, pois conhecia sua história. Eram bons amigos. Mas ela achava ele lindo e decidiu investir. Foi ela quem o pediu em namoro. Estavam deixando andar para ver o que aconteceria.  Helena queria correr o risco. Contava com sua astúcia para conquistá-lo.
Felipe tinha que tocar sua vida, tentou de vários modos chegar até Silvia, e não conseguiu. Agora passado tento tempo, talvez ela estivesse até noiva, e ele ainda cultivando esse amor impossível. Por isso resolveu aceitar namorar Helena. Definitivamente tinha perdido as esperanças em relação à Silvia.
Silvia às vezes acompanhava sua irmã e o noivo, e observava como eles se amavam como eram felizes. Faziam planos para o futuro, e estavam só esperando que Roberto terminasse seu curso e tivesse um bom emprego, para casar.
O tempo passava rápido!
Agora sim, tinham marcado a data do casamento, Silvana em breve casaria com Roberto.  A sua mãe não parava de fazer listas de coisas para fazer. Ainda precisava comprar algumas peças para o enxoval de Silvana.  O apartamento que eles iam morar, já estava mobiliado, faltava ainda as cortinas,  e detalhes.
Haveria uma grande festa, seria no clube. Hoje ela iria com sua irmã e sua mãe escolher os vestidos para o grande dia. Iriam num ateliê de um costureiro famoso.
Azul era a sua cor preferida e escolheu um modelo simples, que seria confeccionado em renda. Sua mãe escolheu um verde escuro e o modelo do vestido de noiva de sua irmã era demais. Lindíssimo!
Dona Lourdes perguntou a Silvana se haveria um jeito de convidar Felipe para o casamento. Ele não tinha sido colega de aula do Roberto? Quem sabe elas não poderiam dar uma ajuda para o destino.  Ela ainda achava que aqueles dois precisavam se encontrar para saberem se ainda se gostavam.  O trauma da separação poderia ter criado ilusões. E ela queria ver Silvia feliz. Fosse com Felipe ou outro rapaz.
 Silvana disse que ia convidá-lo.
Chegou o dia!
Silvia era madrinha de par com Julio, o irmão de Roberto. Entrou no cortejo, e já no altar olhou para a porta da igreja, onde sua irmã deveria entrar. Mas ao cruzar os olhos viu Felipe. Seu coração disparou. Deu uma tremedeira que ela não sabia o que fazer. Parecia que ele estava acompanhado. Será que estava mesmo? Ficou mal, seu coração doeu, doeu muito.
Ela tentou prestar atenção em sua irmã, que  vinha de braço com seu pai com um esplêndido sorriso. Ela estava linda! Silvia queria assistir a cerimônia, mas estava difícil. Continuou fazendo um tremendo esforço para se concentrar no ritual que já estava acontecendo, mas não conseguia. Seus olhos corriam para Felipe, que agora também olhava para ela fixamente. Ela estava perturbada.
Ao termino da cerimônia vou falar com ela, foi o pensamento de Felipe. Eram muitos convidados, a igreja estava cheia, e Felipe dirigiu-se rapidamente para porta, para poder falar com Silvia lá fora. Mas não a viu.
Ela também estava procurando por ele. Logo que terminou o cortejo de saída, Julio   perguntou se poderia ser seu par na festa. Ela não soube responder, e foi salva por sua prima Bibiana que a chamou para irem no mesmo carro para o salão.
Silvia achou estranho que Roberto tivesse convidado Felipe para o seu casamento, já que ela, mais de uma vez, havia perguntado a ele se continuava tendo contato com Felipe e ele sempre lhe disse que não. Com certeza foi convidado só para igreja, não estaria na festa. E quem seria a moça que estava com Felipe? Ele tinha uma irmã, ela não conhecia, poderia ser, já que não estavam em atitude de namorados. Será que aquela moça estava com ele? Não enxergou mais a moça perto dele. Será que ele tinha namorada? As idéias começaram a pipocar na mente de Silvia que não conseguia se acalmar. Não queria que os outros percebessem sua agitação.
Quando chegou ao clube foi direto para o toalete, retocar a maquiagem, o cabelo, e ficar um pouco só para poder voltar ao normal. Não sabia quanto tempo ficou ali. Devia ter ficado bastante tempo, porque quando saiu os convidados já tinham chegado. Era muita gente.
Andou devagar, saudando as pessoas amigas e foi tomando o rumo da mesa principal onde deveria ficar. Mas ao sentar-se sua mãe lhe disse que sua avó queria ficar ali. Ela concordava? Silvia disse que não tinha problema, mas onde sentaria, não eram lugares marcados?  Sua mãe disse que eram, e já tinha providenciado um lugar para ela. Seria na mesa 51.
Ela saiu a procura da mesa e quando encontrou viu que era uma mesa pequena para apenas duas pessoas. Quem seria a outra pessoa? Sentou-se. Ficou quieta olhando para suas mãos, ainda não estava bem, não queria conversar com ninguém. Tomara que não sentassem ali.
Estava distraída, e quando alguém disse boa noite, mais uma vez ela tremeu, era Felipe. Será que sua mãe tinha alguma coisa a ver com essa coincidência.
Foi um momento tenso para os dois. Estavam tímidos, sem saber como agir. Fazia tanto tempo que não se viam e que não se falavam. Foi Felipe quem primeiro superou a tensão.
Abriu o seu lindo sorriso e sentou. Ela retribui o sorriso e se olharam por longo tempo. Depois foi Felipe quem disse que ela estava linda, mais do que ele pudesse imaginar. Que azul era sua cor preferida e ficava perfeita nela. Por uns momentos segurou sua mão. Firmou sua mão na dela e olhou para ela, que tremia dos pés a cabeça. Mas ele também estava com o coração em disparada. E assim foram se acalmando, ele ainda segurando sua mão. Depois de um tempo começaram a falar, e foram aos poucos, revelando um para o outro como estavam suas vidas.
Por fim conversaram animadamente, voltando todo o entusiasmo que tinham um pelo outro, os olhos de Silvia, mais uma vez brilhando, refletindo a sua felicidade de estar ali com ele.
Felipe a convidou para dançar, observou que nunca tinham dançado juntos, e ela disse que não sabia dançar, nunca mais foi a festas. Ele levantou, pegou sua mão e disse, eu te ensino. Vamos.
Dona Lourdes quando viu  os dois dançando, ficou radiante. Cutucou seu José. Ele olhou para o lindo par dançando, e sorriu. Pediu a Deus naquele momento para que fossem felizes.
Os noivos já tinham deixado o salão. Os convidados começaram a ir embora. A festa estava terminando.
Felipe disse que eles precisavam conversar, tinham assuntos sérios a tratar. Quando poderia ser? Amanhã? Ela perguntou, com um sorriso, segunda feira? Ele deu-se conta e riu, hoje à tarde. Te pego em casa às 12 h e vamos para algum lugar tranqüilo. Ok?
Claro que nem Silvia e nem Felipe conseguiram dormir direito. Os sentimentos tinham aflorado, não eram mais jovens, e na verdade pouco se conheciam. Mas definitivamente, continuavam apaixonados um pelo outro.
Silvia acordou mais tarde naquele domingo. Levantou-se tomou um café  puro e foi se arrumar. Estava ansiosa, queria estar bonita. Vestiu um vestido tubinho branco com detalhes azul marinho. Calçou os sapatos na cor azul marinho combinando com a bolsa.
Avisou sua mãe que ia sair. Não deu explicações. Desceu e foi esperar por Felipe no hall de entrada do edifício. Ele foi pontual.
Silvia percebeu que Felipe a olhava com enlevo. Ela por sua vez admirava o belo rapaz que ele tinha se tornado. Agora o seu físico estava mais vigoroso.
Foram a um restaurante e escolheram uma mesa mais afastada para poderem conversar com mais privacidade. Fizeram o pedido e enquanto esperavam o almoço tomaram um aperitivo.
Conversaram sobre amenidades. Almoçaram e depois da sobremesa Felipe revelou a ela que tinha uma namorada, já algum tempo. Que ele tinha pensado muito durante a noite, aliás, quase nem dormira. E chegou a conclusão que eles deveriam  ter uma chance de se conhecerem melhor. O que houve entre eles foi apenas um namorico juvenil, mas que tinha mexido muito com suas vidas. Ele a amava, mas não conhecia seus pensamentos, seus ideais, e sobretudo, não sabia o sabor do seu beijo.
Indagou dela sobre seus namorados e ficou orgulhoso quando ela disse que não tinha tido outro namorado. Apenas ele. Ela aproveitou e perguntou se ele gostava da namorada dele. Ele explicou que Helena sabia de tudo, e que mesmo assim queria ele.
Como fariam? Essa era a pergunta que se faziam.
Felipe disse que a primeira atitude seria falar com Helena. Terminar o namoro com ela.  Mas o problema é que Helena estava lidando com doença na família, doença grave. Teriam que esperar. Silvia concordou, mas não gostou. Agora que tinham se achado outra vez, tinha necessidade de estar próxima dele.
Mas o Universo esta a favor deles.
Segunda feira Helena telefonou para Felipe dizendo que sua irmã estava fora de perigo, mas que teria que fazer transplante de rim. Iriam fazer exames todos familiares para saber quem era compatível. E ela queria encontrar com ele, precisavam conversar.
Quando Felipe viu Helena ficou preocupado, ela estava muito abatida. Realmente a doença de Heloisa foi desgastante. Embora Helena estivesse sorrindo, dava para perceber que estava muito nervosa. Fazia muitos dias que ela tinha ido para a casa dos pais, em sua cidade.
Helena iniciou a conversa relatando os fatos da doença de sua irmã, eram estudantes de medicina, do ultimo ano, e isso era um assunto de interesse. Por fim ela começa a falar que mais de uma ocasião ela saiu com o Raul, também colega deles, e que rolou sexo. E ela já devia ter contado para ele, mas com problema de sua irmã, deixou para depois. Ela pedia perdão, gostava dele, mas....tinha sido estúpida.
Felipe não ficou surpreso, entre eles já havia rolado sexo fácil. Mas aproveitou para terminar o compromisso. Felipe era muito integro, não aceitava certos comportamentos.
Felipe estava aliviado. Fora uma conversa franca. Bem, agora estava livre para Silvia.
Silvia atendeu ao telefone e era Felipe dizendo que tinha uma ótima novidade, onde se encontrariam? Ela ficou curiosíssima, mas ele não deu nenhuma dica. Arrumou-se, e foi ao encontro dele.      
Felipe estava esperando por ela. Tinha uma expressão de felicidade. Um sorriso largo em seu rosto e Silvia ficou tentando adivinhar o quê era ?                                 
 Ela quase não acreditou naquilo que Felipe contou. Por um lado e moça havia sido infiel a ele, mas por outro lado estavam prontos para namorar.
Felipe a levou para jantar , dando inicio ao noivado deles. Não iriam namorar, ficariam noivos, se amavam, sabiam disso e as arestas deveriam ser tiradas com   conversas sinceras, algumas talvez doloridas, mas precisavam confiar um no outro, no amor que havia entre eles e a paciência e o carinho seriam indispensáveis neste processo.
Já era bem tarde quando Felipe a deixou em casa, e na despedida trocaram  o primeiro beijo, foi tão especial que as lágrimas rolaram não só nas faces de Silvia, mas igualmente nas de Felipe.    
Felipe se formaria no fim do ano. Em sua família havia muitos médicos, seu avô, pai, tio e prima. Iria trabalhar com eles. Tinham uma clinica. Então, já podia marcar a data do casamento. Seria em maio.
Silvia e Felipe estavam radiantes, enfim tinham encontrado a felicidade.     
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Era uma tarde chuvosa e Silvia estava olhando seus filhos brincando no tapete da sala , eram lindos!     Eduardo com 5 anos, Elisa com 3 anos e Eliane com 1 ano.     Felipe se aproximou dela, abraçou sua cintura e disse ao seu ouvido, que linda família formamos. Eu te amo.
                                                                          Maria Ronety Canibal
                                                                                  Abril 2017


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