sábado, 22 de maio de 2021

ENTRE IRMÃS



                                                              ENTRE IRMÃS

 

Era o ano de 1921 e...

Alberto conversava com seu pai, enquanto esperava suas irmãs se aprontarem para o jantar oferecido por dona Amália; para o qual haviam sido convidados os filhos das famílias mais ilustres do lugar. Era uma oportunidade para os jovens conhecerem seus netos, que moravam no Rio de Janeiro, e há duas semanas estavam na cidade.

Catarina e Elisa desceram as escadas sorridentes. Elas estavam usando vestidos novos, haviam ajeitado os cabelos de um modo diferente e estavam realmente muito bonitas, que até, o seu irmão teve que elogiá-las. Logo atrás delas, também descia Margareth, a mãe, muito orgulhosa de suas filhas.

 -- Eu não as reconheço... – Disse ele rindo -- Vocês estão lindas!

-- Como te atreves... – Falou Catarina -- És tu que estás mal dos olhos. Nós somos naturalmente bonitas, mas preferimos esconder a nossa beleza, não é mesmo? – Completou ela, virando-se para irmã.

-- Sim... – Respondeu Elisa.

Catarina era mais velha das irmãs, nos seus dezenove anos ela irradia confiança, e neste dia, o vestido que ela usava era na tonalidade verde esmeralda, que avivava a sua pele clara e combinava com olhos, e seu cabelo na tonalidade de castanho avermelhado, dando um contraste interessante.

Catarina que era muito vivaz e falante. Fazia amizade com facilidade, e desde muito jovem despertava o interesse dos rapazes. E em uma brincadeira de adolescentes, havia dado esperanças para Marcos, que iria estudar medicina em Porto Alegre, e só voltaria ao fim do curso.  Mas na verdade não havia compromisso entre eles. Só uma promessa...

Elisa aos dezessete anos era muito bonita e terrivelmente tímida, e para a ocasião ela usava um vestido azul claro, que realçava seus olhos azuis escuros, sua pele clara e seus cabelos que eram dourados, fazendo uma harmonia perfeita. 

Elas eram muito diferentes não só fisicamente, sobretudo no modo de ser. Catarina era alegre e expansiva, um tanto rebelde, e atraia a atenção de todos que estavam ao seu redor. Elisa sempre se colocava em segundo plano, não gostava de ser o centro das atenções, mas era muito observadora e inteligente. Falava pouco.

Alberto era uma mistura de suas irmãs. Ele era alto e forte, sua pele era bronzeada pelo sol e fazia um contraste com o azul dos olhos e o castanho avermelhado dos cabelos. Ele era simpático, alegre e inteligente.

Com a benção dos pais, os irmãos saíram para o jantar. Tomaram o carro para apenas contornar a praça. Poderiam ter ido a pé, mas não era elegante. Quando chegaram, eles foram recebidos no hall por dona Amália, os netos: Juliana e Gonçalo.

O burburinho anunciava que já haviam convidados, e todos se voltaram para eles quando adentraram a sala de visitas. Foi preciso circular a sala para cumprimentar cada um. Isso fez com Elisa ficasse tensa, e quando houve oportunidade, ela se colocou atrás de sua irmã. Alberto as deixou ali junto com as amigas e foi se juntar aos rapazes.

Catarina estava feliz, ela gostava de acontecimentos sociais e com um sorriso permanente em seus lábios ela conversava com suas amigas, enquanto Elisa apenas escutava a conversa e observava cada detalhe das roupas femininas e  dos acontecimentos.

A casa de Amália era quase um palacete, era imponente e espaçosa, suas salas eram mobiliadas com suntuosidade e conforto. Havia também, um salão de baile, onde eram realizadas as festas de Ano Novo.

Amália era uma rica viúva, que tivera apenas uma filha, que falecera há algum tempo. Seus netos moravam com o pai, que agora tinha uma nova esposa, e para agradá-la, ele mandou seus filhos para a casa da avó. Amália ficou feliz em ter perto de si os seus netos, que haviam crescido e se tornados adultos, mas, ela sabia, que eles ainda careciam de carinho e um ambiente acolhedor para viverem.

Juliana era uma moça muito vistosa, alegre e desinibida; e com seus dezoito anos, estava na idade de arranjar casamento. Gonçalo era um moço bonito, do tipo atlético e um tanto quanto charmoso, mesmo sendo arrogante; já era formado em Direito e aceitou vir morar no sul, por não suportar Marisa, a mulher de seu pai.

Apesar de Porto da Pedra ser um lugar muito distante de tudo, era uma cidade aprazível, com uma praça bem arborizada e com muitos canteiros de flores, circundada por casarões, a igreja matriz, o clube e teatro, e com intensa atividade social.

 As belas casas em estilo inglês, pertenciam famílias inglesas que haviam se instalado na região, desde o tempo da construção da linha férrea. A cidade fazia fronteira com a Argentina, a qual era delimitada por um rio largo e caudaloso, onde havia muita pesca e pequenas praias próprias para banho.

Dona Amália possuía uma significativa extensão de terra e seus netos eram seus parceiros, pois herdaram a parte da mãe, já Alonso, seu genro, entregou tudo aos filhos quando casou com Marisa. Gonçalo veio com a intenção de administrar o patrimônio herdado, não só o dele, mas também o de sua irmã.

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Alberto tinha se encantado com Juliana. Ele estava parado em um ponto estratégico da sala, sozinho, esperando a oportunidade para se aproximar dela. Garçons ainda serviam canapés quando deu a chance que ele tanto esperava.

Ele a abordou e ela com um lindo sorriso, parou para conversar, e nesse momento foi anunciado o jantar. Ele prontamente ofereceu o braço a ela e os dois sentaram a mesa lado a lado.

Catarina que estava perto de Gonçalo se adiantou e colocou seu braço no dele, que estava desatento, pois observava Elisa ali parada sozinha. Então ele foi até ela e a convidou para ser sua acompanhante, e Gonçalo entrou na sala de jantar, com as duas irmãs, uma em cada lado, o que não agradou nenhum um pouco a Catarina.

Durante o jantar Catarina, muito falante, tentou monopolizar a atenção de Gonçalo, que educadamente respondia a ela, sem deixar de se voltar para Elisa e lhe fazer perguntas, que ela respondia num sussurro.

O jantar transcorreu com animação. Houve interação entre todos e logo os jovens estavam planejando uma programação, inclusive com noites no teatro, para assistir uma ópera La Traviata e a orquestra sinfônica de Buenos Aires.

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No outro dia Catarina revelou a irmã que estava apaixonada por Gonçalo, o que espantou, e Elisa que perguntou:

-- Mas tu não estavas apaixonada pelo Marco?                                                         

-- Ele está longe....

-- Como assim? Tu criaste esperanças a ele, dizendo que quando ele regressasse vocês firmariam compromisso. Estou enganada?

-- Não! É...  que eu mudei de opinião. Gonçalo é mais charmoso, lindo e rico.

-- Eu achei que Gonçalo   é educado, mas se sente superior a todos nós. Talvez no Rio de Janeiro seja assim que os moços se portam.

-- Para mim não importa que ele seja arrogante, o que importa é que ele será meu!

Elisa afastou-se da irmã, pensando que ela era muito imprudente. Quando seu pai soubesse...

Na hora do almoço os jovens foram bombardeados de perguntas por seus pais, que queriam saber cada detalhe da festa. Alberto falou sobre a beleza de Juliana, a simpatia e confessou que estava impressionado com a moça.

Catarina falou sobre Gonçalo ressaltando as qualidades dele, e que com certeza ele viria visitá-la, pois havia pedido permissão. E Elisa apenas falou que o jantar foi muito saboroso, enumerando os pratos servidos e as sobremesas oferecidas.

Margareth sabia que Elisa não se abria facilmente, e se algum rapaz havia chamado sua atenção, ela jamais falaria. E sendo assim, ela não insistiu.

 Naquela tarde Catarina se arrumou com mais requinte, e foi sentar na sala de visita, esperando por Gonçalo. Ela tinha certeza de que ele iria vê-la. Ele não iria resistir, sabia que o havia impressionado.

Elisa permaneceu com seu vestido caseiro, pegou seu livro e foi sentar no jardim. De onde estava ela avistava o porão principal da residência. E ficou na espreita. No seu entendimento, Gonçalo não manifestara nenhum interesse por sua irmã. Era pagar para ver.

Depois de dois dias, sem receber nenhuma visita, Catarina estava irritada. Brigava por nada, até que foi repreendia por seu pai. Willian Blair era um pai amoroso, mas não admitia que seus filhos fossem grosseiros com os empregados.

Já era sábado, e a noite seria a estreia da peça La Traviata. Todos iriam ao teatro.

A família Blair tinha uma fortuna imensa, e era destaque na sociedade local. Eles eram comerciantes e administradores da estrada de ferro, e também administravam a filial da  Casa Bancária. Nessa noite de estreia, eles ocupavam o seu camarote no teatro. Catarina estava com um vestido vermelho, com bordados em dourados. Elisa estava usando um vestido branco com pequenos detalhes bordados em preto em torno do decote, um modelo singelo que valorizava o seu rosto, e deixando-a com um ar angelical.

Willian e Margareth sentaram na segunda fileira deixando para os filhos as três cadeiras a frente. Margareth preferia assim, pois de onde estava poderia observar melhor o comportamento dos filhos.

O camarote bem a frente era de Amália, que havia sentado entre os netos, na fileira da frente. Juliana estava com um vestido cor de rosa, que a deixava iluminada, pois realçava sua pele.

As pessoas estavam chegando e havia alguma agitação, mas o que Margareth viu, foi o neto de Amália, com os olhos grudados em Elisa. E ficou sem saber o que falar quando Catarina disse:

-- Mãe, tu viste com ele olha para cá?

-- Sim minha filha, mas proceda com recato, não olhe para lá. Os cumprimentos já foram feitos, fique com os olhos baixos.

-- Sim...

Elisa disfarçadamente observava o camarote da frente, e pode perceber que Gonçalo a olhava. Sentir-se observada por ele, mexeu com seu coração. Ela havia simpatizado com ele, mesmo ele tendo aquele jeito superior.

A peça iniciou e veio o primeiro intervalo e Gonçalo não saiu do seu camarote, ao contrário de Alberto que foi conversar com Juliana e foi convidado por sua avó para permanecer com eles.

Ao término do espetáculo, as duas famílias se encontraram no saguão do teatro e Willian convidou dona Amália e seus netos para provarem um licor em sua residência. Ainda era cedo e estava uma noite quente.

Logo que chegou à casa, Margareth foi buscar uns biscoitos e Elisa foi atrás de sua mãe. Ela estava nervosa e sua mãe percebeu.

-- Tu não aprecias essas visitas?

-- Por que a senhora pergunta?

-- Porque te vejo nervosa.

-- Não é nada mãe, eu sou assim, a senhora sabe.

Elisa, que costumava ajudar a sua mãe, entrou na sala com uma bandeja e a depositou na mesa de centro. E foi pegar os copos, e Gonçalo se aproximou dela para ajudá-la. Catarina vendo a cena fez um escândalo.

-- Minha irmã! Como permites que um convidado te ajude com os copos? Não aprendes mesmo!

Todos pararam de conversar e a pobre da Elisa se tingiu de vermelho. Ela queria sumir dali. Mas foi Gonçalo, que com rapidez. a pegou pelo cotovelo e disse baixinho:

-- Não ligue para ela... Tu és muito melhor...

Alberto foi até onde estava Elisa e disse:

-- Fique! Continue o que estavas fazendo. Tu sabes que nossa irmã é muito escandalosa. A vergonha fica com ela...

-- Eu só quis ajudar... –disse Gonçalo – não imaginei que causaria constrangimento.

-- Eu sei. Não leve em consideração, meu caro. – disse Alberto.

Willian olhou para Catarina com olhos de fogo. E pensava: por que será que ela sempre tinha que fazer as coisas erradas?

Margareth começou a conversar com Amália, com intuito de minimizar a cena. Juliana aproveitou e foi até onde estava seu irmão e os quatros ficaram conversando, enquanto que Catarina ficou se lastimando por tamanha falta de discrição.

No domingo todos se encontraram a saída da missa. E como estava uma manhã de sol, Gonçalo sugeriu um passeio pela praça; que nesta época do ano assumia um colorido incrível, produzido pelas diferentes espécies de flores.

Alberto se adiantou e acompanhou Juliana, que estava completamente envolvida por ele. Gonçalo acompanhou as duas irmãs, colocando-se  entre elas.

Catarina estava alegre, estar com Gonçalo era o que mais queria, e tagarelava muito. Elisa se mantinha quieta e Gonçalo a olhava vez por outra. Quando chegaram ao portão de casa, ele perguntou se poderia visitá-las mais tarde, o que Catarina respondeu prontamente de forma afirmativa.

Alberto que acompanhou Juliana até a casa de sua avó, também perguntou se poderia voltar mais tarde para continuar a conversa. E Juliana com discrição, respondeu que sim.

Após o almoço, enquanto Alberto se dirigia a casa de dona Amália, Gonçalo fazia o caminho inverso. E quando tocou o sino a porta dos Blair, foi Catarina que o recebeu com um imenso sorriso.

Ao entrar na sala em viu que Elisa não estava ali, apenas dona Margareth e sem querer parecer indiscreto, mas sendo ele perguntou:

-- A menina Elisa, onde está?

-- Bah. Ela deve estar no jardim, lendo algum romance, é só o que faz... – disse Catarina.

-- Não fale de sua irmã. Ela gosta de ler, o que eu acho um bom hábito.

-- Concordo com a senhora. Eu também aprecio a leitura.

-- Vou mandar chamá-la. – disse Margareth tocando a sineta.

Catarina querendo monopolizar a conversa começou a parolar como era do seu jeito. Ela estava eufórica com a presença de Gonçalo.

Elisa entrou na sala cumprimentou e sentou-se em uma poltrona próxima de onde sua mãe estava. Ela ficou quieta observando os modos espevitados de sua irmã e apenas respondendo o que Gonçalo perguntava.

Foi Catarina que citou os hábitos ridículos da irmã, segundo ela. Entre eles estava: caminhar a beira do rio todas as manhãs, sentar nas areias e desenhar a paisagem e pescar. Mas essa última seu pai não permitia que fosse sozinha. E falou tudo, com certo desprezo, como se tudo fosse de péssimo gosto. Então discorreu sobre as suas preferências, que eram só futilidades, na opinião de Gonçalo.

Gonçalo despediu-se com a intenção de outro dia, cedo da manhã, dar uma explorada no rio. Mas para seu desgosto no outro dia amanheceu chovendo. Ele havia recebido muitos convites, e ele aceitou todos, e assim, no decorrer daquela semana chuvosa, pode conhecer todas as moças em idade de namorar da cidade.

 Mas seu pensamento estava voltado apenas para uma. Ele sonhava com aquele rosto perfeito, de feições delicadas e olhos expressivos; e não tinha certeza se ela simpatizava com ele. Ele tinha uma empreitada pela frente, conquistar o coração dela.

Gonçalo foi para fazenda e ficou mais de uma semana fora da cidade. Catarina havia ido visitar Juliana para saber dele. Ela estava inconformada que ele não tinha dito nada para ela. Juliana indignada com a atitude de Catarina, não se conteve e perguntou:

-- Por qual razão ele deveria te comunicar sobre a ausência dele? Vocês estão comprometidos?

-- Não! Imagina! Só que como ele me visita seguidamente achei que ele poderia me falar... Apenas isso.

-- Hum. Ele não é de falar sobre sua vida pessoal, só para os mais íntimos. E eu acho que ele não te coloca neste nível.

Dona Amália que escutava a conversa se admirou do modo como Juliana respondeu a moça, que na verdade, estava sendo mesmo muito intrometida. Mas se Juliana estava iniciando o namoro com Alberto, num futuro bem próximo,  elas poderiam ser cunhadas. Que situação!

Os dias passaram e Elisa passou e receber bilhetes de amor. Ela não sabia bem o que fazer com aquelas palavras que tocavam seu coração. Mostrou para sua mãe, que a incentivou a prestar atenção, para descobrir de quem poderia ser.

À noite, em seu quarto ela lia e relia cada bilhete. Alguns ela já sabia de cor:

O amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento, descontente;

É dor que desatina, sem doer.

Luiz de Camões

Gonçalo não ia mais tão frequente em sua casa. Ele estava sem saber como agir, pois Catarina achava que as visitas eram para ela, então começou a não mais visitar casa dos Blair, e passou a ir caminhar pelas areias a margem do rio. E quando a sorte sorria, ele a encontrava; outras vezes ele a observava desenhando, e só quando Elisa estava guardando o material é que ele se aproximava.

E nestes momentos, ela sorria para ele, descrevia o seu desenho e ele ficava embevecido com ela, que era tão adorável... A cada dia ele percebia que a timidez de Elisa a revelava como uma pessoa doce e gentil.

Ele rezava a todos os santos para que Catarina arranjasse um namorado, pois só assim ele poderá se declarar para a sua amada. Ele sabia que as tradições estabelecidas, eram que a irmã mais nova só poderia se comprometer quando a mais velha se casasse.

Naquela manhã, Gonçalo alcançou Elisa e ambos caminharam pelas areias fofas da margem do rio. E foi neste dia que ele disse:

-- Hoje à tarde eu vou para a estância. Vai começar a tosa do rebanho e preciso ver como funciona, aliás, tenho muito que aprender. Uma coisa meu pai me ensinou, se aprende fazendo e se aprende participando.

-- Teu pai tem razão. Meu pai também fez o Alberto começar a trabalhar na loja desde que ele era apenas um adolescente. Depois foi para a faculdade e hoje ele está na administração da Casa Bancaria.

-- Tua família é apenas do comércio.

-- Sim, mas temos um sitio aqui perto. As férias de verão sempre passamos lá. Eu adoro, pois lá eu posso pescar... É tão divertido...

-- Eu também gosto de pescar. Se tiver oportunidade eu gostaria de te acompanhar em uma pescaria.

-- Aqui meu pai não permite.

E assim ele a acompanhou até o portão de sua casa. Mas para infelicidade de Elisa, Catarina os viu. E quando ela cruzou a porta, foi agredida não só com palavras, mas com tapas. Catarina estava fora de si.

Foi Alberto quem afastou as irmãs, pois Elisa tomada pelo susto chorava copiosamente. A mãe chegou em seguida e queria saber a razão de tal fúria, e Catarina descontroladamente gritava:

-- Ela estava com Gonçalo, eu vi. Eles estão se encontrando escondidos. Como a minha irmã, tão certinha pode me insultar, saindo com meu namorado...

-- Catarina ele não é teu namorado, ele não está interessado em ti. Entenda isso... – disse Alberto.

Margareth consolava Elisa que estava com o rosto marcado dos tabefes recebidos. Ela tirou a filha dali. E Alberto estava passando uma reprimenda na irmã, e quando o Sr. Willian chegou à casa, perguntou o que se passava, e foi Alberto quem contou.

Ele ficou espantado quando soube o que Catarina feito a irmã, e a colocou de castigo, em seu quarto por uma semana. Alberto acompanhou a irmã até o quarto e trancou a porta por fora. Ele a conhecia muito bem, ela era capaz de qualquer coisa para burlar o castigo.

Depois Alberto reuniu-se com seu pai, no escritório, com a porta fechada, e explicou o que estava acontecendo. Ele sabia, pois Juliana falava para ele das investidas de Catarina sobre Gonçalo, que não a queria, pois estava apaixonado por Elisa. E continuou:

-- E tem um agravante, nas ultimas férias, ela deu sinceras esperanças ao Marco, que em breve estará chegando já formado em medicina. Ele vai se estabelecer junto a farmácia do pai.

-- Sim eu sei, Júlio me falou. Ele é um bom moço. Por que ninguém me informou sobre isso?

-- Não sei...

-- Acho que já sei o que vamos fazer. Por favor, chame a tua mãe.

Willian sabia que não poderiam abafar a briga entre as irmãs, já que os empregados presenciaram. E com certeza cairia nos ouvidos de muita gente, inclusive do Marco, que logo estaria na cidade.

Margareth sugeriu que a mandasse com a prima Agnes, para Buenos Aires, para a casa do primo Felipe. Ele tinha uma filha da mesma idade que Catarina e seria a solução ideal. Willian concordou com a esposa.

Iria telegrafar imediatamente para o primo.

Agnes era prima de Willian e morava com eles desde que ficara viúva, e foi preceptora das meninas. Deveriam providenciar tudo para elas partirem o mais rápido possível.

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Quando Catarina soube que iria para Buenos Aires ficou bem contente. Ela gostava muito de Agnes e viajar com ela seria ótimo. E com entusiasmo disse:

-- Agnes nós vamos nos divertir. Podes ter certeza. Ellen é uma boa companheira. Eu me lembro de quando éramos crianças, nós vivíamos aprontando. O único problema é aquele chato do irmão dela. Simon sempre foi insuportável.

-- Tu deves ter em mente que vocês agora são umas moças, e devem ter um comportamento exemplar. Não acredito de Felipe e Edith não tenham corrigido as falhas de Ellen. E é o que o teu pai está tentando fazer contigo. Fique certa de que não vamos a passeio.

-- Veremos prima... Veremos.

Enquanto que Catarina, inconsequente como era, estava se preparando para sua viagem, Elisa se consumia em tristeza. Só agora ela se deu conta que essa situação a afastaria de Gonçalo, e ela estava acostumada com ele. Era com uma dor imensa, que se consolava com os poemas que ele lhe mandado. Elisa soube por que seu irmão, já de Juliana tinha contado para ele, dos encantos de Gonçalo por ela.

E agora?

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Depois da partida de Catarina e Agnes, Margareth percebeu que  deveriam ir para a chácara. Sair da cidade era a única coisa a fazer. E não seria nada de anormal na rotina da família, já que seguidamente elas iam para lá. O verão se aproximava e neste ano elas passariam o Natal e Ano Novo fora da cidade.

A aflição de Elisa preocupava sua mãe. Aquela menina alegre não existia mais. Ela ficava horas sentada quieta, no jardim, olhando o horizonte. Nem seus livros a interessavam mais. Os dias passavam e Elisa não reagia. E sua mãe estava com receio de que ela pudesse adoecer.

Enquanto isso, Gonçalo trabalhava com afinco, para não pensar em Elisa. Mas a noite, mesmo com seu corpo cansado, ele não deixava de pensar e seguidamente sonhava bons sonhos com ela. A preocupação dele era saber quando seria o momento ideal, de conversar com o pai dela e pedir permissão para namorá-la. Gonçalo tinha certeza que havia a conquistado. O brilho no olhar dela, quando se encontravam na praia, era verdadeiro e isso bastava para ele.

Fazia quase dois meses que ele estava na estância, o serviço tinha findado e ele no outro dia iria para cidade, e veria a sua amada. Ele estava feliz e esperava ansioso pelo momento de encontrar com Elisa.

Gonçalo entrou na casa de sua avó e percebeu que tinha alguma coisa errada. O ambiente estava tenso, ele beijou sua avó e sua irmã. Sentou diante delas e perguntou:

-- O que aconteceu?

-- Aqui em casa está tudo certo. – disse dona Amália.

-- Então onde está o problema?

-- Bem o problema aconteceu na casa dos Blair, disse Juliana e seguiu contando tudo para ele.

A medida que ela falava as feições do irmão iam se alterando. Ele estava ficando vermelho de fúria. Depois que Juliana terminou seu relato, ele não fez perguntas. Simplesmente saiu e foi para o jardim. Ele precisava analisar a situação.

Seu pensamento fazia muitas indagações... Como ficaria a situação? Elas eram irmãs e ele estava entre elas. Conhecendo a sensibilidade de Elisa, ele sabia que ela não aceitaria namorá-lo. Isso o deixou desolado.

Sua avó foi consolá-lo, e disse:

-- Meu querido, não te atormentes, deixe o tempo correr e tudo se resolverá. Elisa é uma boa moça, não é volúvel e ela deve estar sofrendo tanto quanto tu estás.

-- Eu sei. Mas Catarina não podia ter agredido a irmã, ela é uma criatura má.

-- Sim. Ela é egoísta e sempre teve ciúme de Elisa, que com seu jeito doce, sempre foi a mais querida. Não pensa que ela gosta de ti, o que ela queria era ser aquela que atraiu a atenção de alguém de fora. Ser aquela que conquistou a novidade da cidade.

-- Concordo. Mas eu queria falar com Elisa...

-- Conversa com Alberto. Talvez se tu escreveres uma carta, ele possa enviar para ela.

-- É o que vou fazer.

Mais tarde, após o jantar, Alberto e Gonçalo conversaram, e se prontificou a entregar a carta para a irmã, mas ressaltou:

-- Eu não sei o que dizes aqui nesta carta, mas só posso te adiantar que Elisa é muito criteriosa, ela é capaz de se sacrificar pela unidade da família.

-- Eu sei, eu já tinha percebido... E o teu pai aceitaria o nosso namoro?

-- Elisa é a preferida dele, e eu penso que tudo vai depender dos acontecimentos em Buenos Aires. Ele tem esperança que Catarina amadureça e volte transformada. Coisa que pessoalmente não espero, pois não acredito na regeneração dela. Catarina foi muito mimada, egoísta e volúvel, sempre foi assim... em tudo. Portanto não sei se essa temporada em casa de nossos primos vai resolver a situação.

-- E o rapaz que ela havia dado esperanças, já está na cidade? Será que ele ainda a quer?

-- Ele chega semana que vem, mas creio que ele já foi avisado por seu pai, que é muito amigo de nossa família, para piorar tudo. Eu não iria querer...

-- Nem eu.

A carta de Gonçalo foi um balsamo para o coração de Elisa. Ali ele declarava seu amor e prometia esperar “poeira baixar”. Ele escrevia de modo simples e direto e junto ele havia enviado mais um lindo poema de amor.

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Catarina quando chegou a casa dos parentes, e se surpreendeu com Ellen. Aquela garota traquina, tinha se transformado em uma moça bonita, elegante, educada e gentil. E estava noiva, e  de casamento marcado. Simon estava na Europa e só chegaria para o Natal.

Como Ellen estava fazendo seu enxoval, ela visitava muitas lojas de alta qualidade, com um atendimento diferenciado para Ellen, que por sua vez tratava a todos com delicadeza.

Ao acompanhar a prima, Catarina se deu conta que ela precisava mudar, e começou a se espelhar em Ellen. Agnes estava percebendo a sutil mudança nos modos de Catarina, mas não falou nada, apenas a incentivava silenciosamente.

Catarina ficou grata a Agnes, por não ressaltar diante dos parentes suas atitudes infantis e, sobretudo, em não contar a briga que tivera com sua irmã. Ela estava envergonhada por ter sido tão criança. E se propôs a mudar de fato. Queria que essa viagem fosse um marco em sua vida.

Conforme Willian havia pedido, Agnes semanalmente escrevia para ele contando os progressos de Catarina, e as notícias eram alvissareiras, que o deixou cheio de orgulho. Segundo Agnes, Catarina sob influência positiva de Ellen, estava se tornando uma moça sofisticada.

Anexo a carta de Agnes chegou o convite para o casamento de Ellen, que seria no dia 10 de janeiro de 1922.

Elisa declarou que não iria, Alberto disse que ficaria com sua irmã, enquanto os pais viajavam. Margareth na verdade não estava com vontade de ir, era uma viagem extenuante e ela não estava bem de saúde, pois sentia muitas vertigens ultimamente. Willian decidiu ir sozinho.

O Natal daquele ano seria atípico para duas famílias da cidade. Amália decidiu ir para estância, seria melhor passarem esse tempo na intimidade. Gonçalo estava abatido e não queria festas. Alberto foi convidado para ir com eles, o que ele aceitou prontamente.

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Catarina, agora, passava as horas na biblioteca. Havia se tornado uma leitora ávida de conhecimentos. E recorria a Agnes, para indicar a ela, os livros que deveriam ser lidos, para ela ser considerada uma pessoa de conhecimento razoável. Agnes estava boquiaberta com a mudança operada em sua pupila.

Era uma tarde chuvosa de fim de novembro, e Catarina estava sentada na poltrona próxima da janela, de costas para a porta. Estava tão absorvida na leitura que não percebeu que alguém tinha entrada na sala.

Simon não morava com os pais. Ele tinha um apartamento de solteiro, ali perto. Ele havia chegado à noite anterior, e depois de descansar na parte da manhã, resolveu ir ver seus familiares.

Ele queria fazer uma surpresa, e foi enquanto era hora do descanso. Dirigiu-se a biblioteca. Ele abriu a porta devagar e sentiu um perfume de mulher e a viu ali concentrada na leitura. Ele não sabia quem era, mas ela era linda. Ficou parado a observando.

Mas não resistiu muito tempo:

-- Olá!

Ela ergueu os olhos e viu ali diante de si, um homem de aspecto forte e feições marcantes. E respondeu;

-- Olá.

-- Posso saber quem és? – Perguntou ele curioso.

-- Como ousas? Primeiro quero que te identifiques, já que eu resido na casa. – Falou Catarina com autoridade.

-- Reside aqui? – Disse ele incrédulo.

-- Sim. Qual o problema? – Falou ela, olhando para ele com firmeza.

-- Tem alguma coisa errada... – Resmungou para si mesmo.

-- Não tem nada errado, eu estava aqui, quieta lendo e tu viestes me perturbar. Por favor, retire-se ou vou chamar o James... – Replicou zangada.

-- O James!? Pois...

A porta se abriu e Ellen entrou e foi direto abraçar o irmão.

-- Quando tu chegaste, meu querido. Quanta saudade... Vejo que já encontraste a prima Catarina... – Disse Ellen sorrindo.

-- Catarina! Aquela garota insuportável? -- Comentou Simon olhando para ela, com ar de desdém.

-- Simon? -- Catarina arregalou os olhos. Como podia um garoto tão horroroso ter se transformado em um homem tão interessante, foi o seu pensamento. Mas ela se manteve quieta.

-- Vocês vão continuar se implicando? Até parece que se amam...—disse Ellen rindo.

Simon se aproximou da prima para um cumprimento mais familiar. Ela levantou e ele a abraçou e a beijou na face. Mas o perfume que ela usava ficou em sua memória.

Logo todos estavam reunidos na sala escutando as novas que Simon ia aos poucos contando, sobre alguns parentes afastados e sobre os acontecimentos do mundo inglês.

Mas depois de muito falar, ele encerrou dizendo:

-- Eu estou feliz de estar em casa. O melhor de uma viagem é chegar em casa e rever as pessoas amadas. E também estar nesta cidade apaixonante. Eu tenho Buenos Aires como a melhor cidade do mundo para se viver.

-- Tu sempre foste um apaixonado por esta cidade, meu filho. -- Disse Edith com carinho.

-Eu e o Diego vamos jantar em um restaurante recém inaugurado. Segundo dizem, tem um ambiente muito agradável, tem música ao vivo e uma pista de dança. Por que vocês dois não vêm conosco?

Simon olhou para Catarina e perguntou:

-- Aceitas a minha companhia? – Indagou ele com receio de ser rejeitado pela prima.

-- Sim, respondeu ela educadamente. --E ela logo pensou que nem tinha vestido apropriado para ocasião. Tinha se precipitado em responder...

-- Que bom! Diego vai vir me pegar às 20h. E vocês nos dão licença, temos que começar a nos arrumar. Vem comigo Catarina.

E as duas subiram as escadas apressadamente. Simon ficou observando as duas, e sua mãe olhando para ele para se certificar de que ele estava mesmo impressionado com a prima. Que realmente tinha se tornado uma moça muito bonita e delicada.

Então Simon se virou para os pais e perguntou:

-- Por que ela está aqui? – Precisava satisfazer a sua curiosidade.

-- Foi Willian que pediu para hospedarmos ela por um tempo. Agnes veio com ela, mas segundo sei as duas irmãs, Catarina e Elisa, tiveram uma briga feia. Não sei a razão..., mas ela tem alegrado a nossa casa. – falou Edith.

-- Eu estou achando-a muito cordata. Ela sempre foi uma pimenta... – Observou Simon.

-- Concordo contigo -- Disse seu pai.

Simon foi embora para se preparar para sair com a prima.

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Catarina estava em seu quarto, desesperada, olhava suas roupas e nenhuma era adequada, e Agnes tinha tirado o dia para visitar a uma velha amiga. O que ela faria?

Ellen entrou de mansinho, trazendo dois vestidos para ela escolher.

-- Eu tenho esses vestidos, nunca usei, porque eu engordei um pouco, e acho que em ti vai ficar um primor. Inclusive pode ficar com os dois. Experimente!

-- Que lindos! – Exclamou Catarina sentindo um alivio.

-- Bem vou me arrumar... – Ellen saiu fechando a porta.

-- Obrigada. – Falou Catarina em tom mais alto.

Catarina estava pronta, mas resolveu descer a última hora. Ellen iria receber seu noivo e ela não queria estar ali presenciando as palavras bobas que eles trocavam.

Na hora exata ela apareceu no topo da escada e Simon engoliu em seco. Céus! Ela estava deslumbrante naquele vestido azul noite. Criava um contraste com sua pele clara e combinava com o tom dos cabelos. Ela tinha prendido os cabelos de um jeito que caiam em cascata na parte de trás da cabeça.

Ele se aproximou do pé da escada para esperá-la. Quando ela chegou ao último degrau ele tomou sua mão e a colocou em seu braço e disse num sussurro:

-- Estás linda!

E os dois casais despediram-se dos mais velhos e saíram.

O restaurante era muito agradável. Um local seleto e requintado. O jantar foi servido elegantemente e eles beberam vinho. Catarina não era acostumada a beber, e por isso tomaria apenas um cálice.

Simon a convidou para dançar e Catarina se viu envolvida pela proximidade dele. Sua pele exalava um perfume de sândalo e isso a estava perturbando. Voltaram à mesa, enquanto Ellen e Diego estavam dançando e Simon perguntou:

-- Eu estou intrigado com uma coisa. Acho que tu podes me ajudar a esclarecer... – Disse ele com cautela.

-- Será? Mas diga o que é?

-- Quando eu te encontrei na biblioteca, tu não me trataste com nenhuma mansidão, ao contrário e isso é característico de ti. Tu sempre foste um pavio curto. Certo?  -- Disse ele.

-- Sim... – Murmurou Catarina olhando para o primo com curiosidade, e um tanto receosa.

-- E por que depois tu foste tão gentil, falando de maneira afável? Não é uma crítica, é só curiosidade. – Falou Simon a olhando nos olhos.

-- Ora porque eu sou uma moça educada, requintada e agradável. – Respondeu ela com naturalidade.

-- Entendo – Disse ele segurando uma gargalhada, que não seria de bom tom naquele lugar. Mordeu a bochecha para não rir. Ela continuava a mesma...

Catarina percebeu que ele estava se segurando para não rir, então perguntou:

-- Eu falei alguma coisa errada?

-- Não! Só que eu prefiro o teu lado “pimenta”! – Explicou ele -- Venha vamos dançar.

Eram cerca de meia noite quando eles deixaram o restaurante. Diego deu uma volta de carro pela cidade, e pela primeira vez Catarina viu Buenos Aires a noite, com suas luzes brilhando e ela ficou fascinada. Simon só a observava e estava gostando da reação da prima.

Catarina tinha ficado mexida com a presença do primo. Era tudo tão confuso. Ela por princípio nunca suportou ele... E agora estava maravilhada por Simon. Isso não podia ser normal!

Ela teve uma noite agitada. Estava preocupada que após o casamento de Ellen, ela teria que retornar com seu pai. Ela queria mesmo, era permanecer em Buenos Aires, ainda mais agora...

Mas a noite de insônia não foi privilégio dela, Simon também teve uma noite mal dormida. Catarina povoou seus sonhos.

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Na manhã seguinte Catarina conversou com Agnes, sobre a possibilidade de elas permanecerem na cidade por mais um tempo.

-- Agnes eu acho que a prima Edith está contente com a nossa presença. O que te parece? – Disse ela, querendo convencer a prima ficar.

-- Acho que sim. Mas para ficarmos mais um tempo deverias ter um forte argumento, para convencer teu pai. Fazer um curso talvez?

-- Sim! Ótima ideia. Mas qual?

-- Sobre arte ou literatura.

-- Já sei. História da Arte.

-- Muito bom. Mas antes devias escrever para tua irmã, pedindo desculpas. Tu sabes como ela é sensível, e ela deve estar sofrendo com tudo isso, inclusive com a tua ausência. Ela te ama, sempre foi conciliadora... Talvez tu não consigas perceber, porque és diferente dela. Faça isso!

-- Ok. Vou escrever hoje mesmo para chegar antes do Natal. Acho que vou precisar da tua ajuda...

-- Eu ajudo... – Disse Agnes sentindo-se mais tranquila.

Naquela tarde Agnes e Catarina saíram juntas para colocar a carta no correio e ir procurar informações sobre cursos de artes. Elas estavam saindo de uma galeria quando encontraram com Simon que trabalhava nas redondezas.

-- Olá! – disse ele com um lindo sorriso.

-- Simon! Que bom te ver... Disse Agnes.

-- Olá! -- Disse Catarina—Tu trabalhas por aqui?

-- Sim. No prédio da esquina. Vocês estavam visitando a galeria? –Perguntou ele olhando para Catarina.

-- Não exatamente... –Respondeu ela.

-- É que Catarina quer fazer um curso de História da Arte e viemos obter informações – explicou Agnes.

-- E não disseram nada concreto. ---Comentou Simon.

-- Isso mesmo – Confirmou Catarina.

-- Venham, ali tem uma ótima confeitaria. Vamos tomar um chá enquanto conversamos. – Sugeriu Simon.

A Confeitaria tinha um ambiente acolhedor, e exalava um aroma de baunilha. Sentaram em uma mesa junto a janela e Simon pediu chá e doces diversos.

Ele era muito conhecido por ali, pois foram várias as moças que vergonhosamente se aproximaram da mesa para saudá-lo e dar “as boas vindas”, o que deixou Catarina furiosa. Ela tentou se domar, mas não houve jeito. E perguntou:

-- Simon tu tens certeza de que esse ambiente é bem frequentado? Ou, aqui, é costume as mulheres bajularem publicamente os homens? – Disse ele irritada.

-- Catarina! – disse Agnes.

-- Deixa. A pimenta está de volta. – Respondeu Simon encarando-a de modo desafiador. E perguntou – Isso te incomoda?

-- Imagina! Só é constrangedor para uma moça de família como eu... – Respondeu com dor-de-cotovelo.

Dessa vez ele não se conteve, deu uma gargalhada tão contagiante que Agnes riu também. Catarina colocou um doce na boca e olhou para rua através da janela.

Agnes foi quem deu rumo à conversa. E após o chá, ele as acompanhou até outro galeria, onde era oferecido diferentes cursos sobre arte.

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Os planos para as festas de fim de ano tiveram que ser alterados. Alberto desistiu de ir para estância de d. Amália, pois sua mãe havia retornado da chácara por causa de Elisa, que apresentava desmaios. E depois de examinada ela foi diagnosticada com severa anemia.

Ao saber que Elisa estava doente, Amália desistiu de ir para a estância, mandou avisar seu neto, e foi até a casa dos Blair dar o seu apoio. E pediu para Margareth permitir que Gonçalo a visse, para que  os dois pudessem sentar no jardim e conversar. Havia uma ligação muito forte entre eles, e isso poderia ajudar.

Quando Gonçalo retornou à cidade, assustado com o bilhete que avó havia enviado, ele ficou sabendo dos fatos e ficou chocado com a situação de Elisa. Ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudá-la a se recuperar.

E na manhã seguinte foi vê-la.

Ele foi recebido por Alberto, que o convidou para conversarem um pouco no escritório. O receio da família era que o rapaz pudesse pensar que Elisa tivesse alguma deficiência mental, pois o abatimento era grande.

Mas Gonçalo foi muito firme quando afiançou que não havia possibilidade de aventar tal condição. Tanto que ele disse ao amigo:

-- Eu conversei várias vezes com ela e sempre deu para saber que ela é uma pessoa muito inteligente, porém muito sensível e delicada. A sensibilidade dela é que foi afetada, no meu entender. Mas vim aqui disposto a ajudar. Inclusive trouxe um livro de poesias para nós lermos juntos. Espero que seja uma boa ideia. Podemos ficar no jardim, a sombra das árvores? Acho o melhor do que na sala.

-- Sim. Vou chamá-la. Espera no caramanchão. – Pediu Alberto.

Gonçalo se dirigiu para o jardim. Ele estava nervoso e preocupado. Não sabia como seria a sua reação diante dela. Ele sentou no banco e pegou o livro e o abriu e ficou olhando sem ler.

Ergueu os olhos e Elisa estava diante dele, sorrindo para ele. Alberto havia deixado os dois sozinhos. Ele levantou-se e a abraçou com carinho, disse baixinho ao ouvido dela: “estou cheio de saudades de ti, é muito bom poder estar aqui contigo...”

Lágrimas vieram aos olhos de Elisa que disse:

-- Eu achei que nós não nos veríamos mais. Fiquei com muito medo.

-- Mas eu estou aqui, e vou vir te ver todos os dias. Vou te ajudar a recuperar a saúde. O que queres fazer? Ler poesia ou conversar?

-- Quero conversar, quero me fales sobre ti...

E Gonçalo começou a falar de sua infância, contando situações engraçadas que a fez rir. E ela também falou de situações similares. Margareth que os espiava de longe estava surpreendida com a expressão de alegria que havia no rosto a filha. Eles realmente se gostavam. Ela iria falar com o marido sobre isso.

Os dias passavam e Elisa aos poucos estava recuperando a vontade de viver. Até o médico ficou admirado do aspecto renovado de Elisa, que agora tinha um novo brilho no olhar.

Margareth estava tão entusiasmada que convidou Amália, Juliana e Gonçalo para se reunir com eles para celebrarem juntos o Natal.

Com autorização dos pais, os jovens namorados caminhavam a beira do rio, e Elisa voltou a desenhar coisa que amava fazer. Até uma pescaria foi permitida, o que foi muito divertido.

A noite de Natal foi esplendida, Elisa usou um vestido novo, e ela irradiava felicidade. Depois do jantar, Gonçalo a levou para um passeio no jardim, era lua cheia e a noite estava perfeita. O casal andou por meio as rosas e se aproximaram do pomar. Ali era o local perfeito para o que ele queria. Ele parou de andar, voltou-se para Elisa e disse:

-- O amor que sinto é tão grande que não cabe mais em meu peito. Eu preciso de ti em minha vida. Tu aceitas casar comigo? – Disse ele amorosamente.

-- Eu me sinto assim também. Eu quero casar contigo. – Respondeu Elisa com sinceridade.

Gonçalo a abraçou e beijou com paixão. Então colocou um lindo anel de brilhante em seu dedo. Elisa ficou sem palavras. Ergueu os olhos para ele com um lindo sorriso iluminando seu rosto.

Calmamente eles retornaram...

Elisa pensava em seu pai. Será que ele iria permitir? Mas o que ela não sabia era que Gonçalo já tinha acertado tudo.

Não só ela recebeu um lindo anel de presente, Alberto também aproveitou a ocasião e entregou a Juliana um lindo anel de esmeralda, joia antiga de família.

Depois de muitos abraços e votos de felicidade as duas famílias se dirigiram para Missa do Galo.

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Willian foi quem recebeu a carta de Catarina, endereçada a irmã, há dois dias. Ele a entregou a Elisa e pediu que a lesse em particular, mas ali mesmo no escritório. Ele que queria ver qual será a reação da filha às palavras da irmã.

Elisa escolheu uma poltrona perto da janela, abriu vagarosamente o envelope e se pôs a ler. Willian que a observava viu que a filha lia tranquilamente, e até sorria em certos pontos. Ele ficou intrigado.

Depois de terminar a leitura ela virou-se para o pai e disse:

-- Nada de novo. A Cati pedindo desculpas. Essa é a minha irmã, faz as coisas e depois se arrepende. Ela é assim, o que podemos fazer? Não acha pai?

-- Sim. Mas me diga filha, eu estou com algumas dúvidas aqui. Eu pensei que tinha sido a briga entre vocês que tinha te abalado, mas parece que não. Então o que foi? – Perguntou o pai intrigado.

-- Minha irmã e eu sempre brigamos e algumas brigas foram muito feias, e nem o senhor e nem a mãe tomaram conhecimento da maioria delas. Não foi a primeira e nem será a última briga.  O que me abalou foi perspectiva de ficar afastada de Gonçalo. Eu tive medo que ele desistisse de mim ao saber que ela também pudesse gostar dele. – Explicou Elisa ao pai.

-- Tu amas sinceramente esse rapaz? – Inquiriu o pai.

-- Sim. – Respondeu ela.

-- E ele te ama? – Perguntou ele, só para confirmar a sua opinião.

-- Acredito que sim. – Murmurou Elisa envergonhada.

-- Quando ele chegar, por favor, diga a ele que eu quero conversar com ele. – Ordenou ele.

Willian havia permitido o noivado visando a saúde da filha, e acreditando que levaria ainda dois ou três anos para o enlace matrimonial. Mas vendo a reação da filha, ele pensou melhor.

E naquele dia quando Gonçalo expôs suas pretensões em relação a Elisa, Willian foi obrigado a abandonar alguns critérios antigos e permitir que os jovens traçassem seu futuro.  Afinal Elisa já completara dezoito anos. Chamou Alberto e o liberou. Ele só queria ver seus filhos felizes, e cada um tinha a sua vida, e todos já estavam crescidos o suficiente para tomar as próprias decisões.

Tudo  foi reflexo de todo o liberalismo de Willian e Margareth Blair.

Apenas Catarina o preocupava... E como!

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Catarina com seu gênio forte, não se deixava vencer e a cada dia ela lançava olhares mais atrevidos para Simon. Ela sabia que ambos estavam jogando, mas não imaginava o quanto ele estava interessado em ganhar.

Ele, agora, jantava todas as noites na casa dos pais, e ao redor da mesa é que eram travadas as maiores batalhas entre ele e Catarina E ela era uma boa jogadora. Simon ficava admirado com a desenvoltura dela, e como ela sabia disfarçar para ninguém perceber que algo se passava entre eles.

Naquela noite ela ousou. Disse que gostaria de ir ao cinema. E ele a convidou. E ninguém interferiu. E os dois foram sozinhos.

Já acomodados no cinema, as luzes se apagaram e o filme começou. Simon passou seu braço por sobre os ombros de Catarina e a puxou para perto dele. Ela não reagiu. Ele gostou.

Simon sussurrou ao seu ouvido:

-- Tu estás linda demais! E eu vou te beijar... Tu já foste beijada? Seja sincera... Não vai responder? Vou ter que descobrir...

E sem pressa ele a beijou na boca. Ele forçou passagem e sentiu o sabor daquele beijo ardente que trocavam.  Soube que esse era o seu primeiro beijo. E num sussurro pediu para que ela fizesse como ele e ela obediente fez. E o beijo foi longo e profundo e mexeu com ele. Céus! Ele estava perdido!

Depois do primeiro, os demais acontecem... E agora não teria mais paradeiro. Como fariam? Ela era provocante, queria ver o circo pegar fogo... E ele adorava isso nela.

O filme terminou e as luzes acenderam e as pessoas começaram a se movimentar para sair. Eles estavam sentados bem atrás e ficaram esperando... Simon olhou para Catarina e viu que ela estava um tanto assustada, pois suas pernas tremiam ainda e ela não sabia se conseguiria ficar em pé.

-- O que foi?

-- Nada...

-- Meu anjo... Foi o nosso beijo?

-- Sim... Tenho dúvidas...

-- Tu és um encanto. Vamos... No carro conversamos.

Ele a tomou pela mão, calmamente deixaram o cinema. Já dentro do carro, ele disse:

-- Eu achei que tu estavas gostando dos meus beijos. Mas vi que não foi bem assim.

-- Eu gostei..., mas e agora como eu fico?

-- Fica feliz... Como eu estou.

-- Parece que não entendes. Eu sou uma garota e a parte mais fraca e esses beijos podem ter maculado a minha virgindade...

-- Ah!... É isso. Não te causei problema algum, é preciso muito mais...

-- Mesmo? Mas a Agnes me disse...

-- A Agnes?  Explica o que ela te falou.

-- Eu tenho vergonha.

-- Não diz isso! Tu és a garota mais corajosa que eu conheço. Eu preciso saber para te orientar de forma correta. Fui eu que expliquei para a Ellen como as coisas funcionam. As nossas mães fazem um bicho de sete cabeças sobre uma coisa tão simples de entender. Tão natural.

-- Mas Ellen é tua irmã... Eu sou...

-- Tu és a minha namorada.

-- Namorada!

-- Sim. Fecha os olhos e fala, eu prometo não vou rir.

-- A Agnes me disse que o beijo faz parte do ato sexual. Por isso eu não devo beijar ninguém. Só aquele com o qual eu vou casar por que...

-- Meu anjo, até certo ponto ela está certa. Não é para sair beijando. Uma moça correta procede com recato. O beijo pode ser considerado parte do ato. Mas não é o ato em si. Acho por hora é o que basta.

-- Se uma moça correta não beija, por que tu me beijaste?

-- Por que eu estou louco por ti... Fui imprudente. Perdoa-me. Não vou mais fazer isso. Pode ficar sossegada. – Disse Simon querendo tranquiliza-la.

-- Não vai mais me beijar... – Quis saber Catarina muito decepcionada.

-- Só se tu quiseres. Está bem assim? – Disse ele sorrindo.

-- Sim. E estamos mesmo namorando? – Perguntou pensativa.

-- Se tu queres, estamos. – Respondeu ele a olhando com curiosidade.

Catarina suspirou aliviada.

-- Acho que deveríamos ir para casa. – Sugeriu ela.

-- Ainda é cedo. Vamos dar uma volta de carro. – Decidiu Simon a olhando. – Quero passear com a minha namorada – Completou ele.

-- Está bem.

Enquanto dirigia, ele a olhava de esguelha e pensava que ela era uma pessoa deliciosa. Era uma verdadeira caixinha de surpresa. A cada dia ele estava mais encantado com ela.

-- Eu não vou contar para ninguém que estamos namorando, porque não vão mais nos deixar sair sozinhos. – Disse ela depois de refletir.

-- Garota esperta. Vamos fazer segredo. Assim podes continuar me desafiando durante o jantar.  Coisa que eu gosto muito, minha pequena atrevida. – Falou sorrindo.

Ele a deixou em casa e Catarina foi direto para seu quarto. Agnes a achou estranha e foi atrás. Mas ela disse que estava com dor de cabeça. Na manhã seguinte ela acordou cedo e disse para Ellen que ela queria comprar umas coisinhas.

As duas foram às compras. Chegaram ao fim da manhã cheias de pacotes. Simon a olhou com a sobrancelha erguida, como sinal de interrogação.

-- Onde as duas estiveram? – Quis saber ele.

-- Por ai... – Respondeu Catarina desafiadoramente.

Simon sorriu e deu uma piscada para ela, que sentou de frente para ele, na sala intima da família. Ellen sentou ao lado do irmão e os demais lugares estavam ocupados.

-- Bem hoje à noite teremos convidados. As primas de Diego.  Elas serão minhas aias, precisamos acertar alguns pontos ainda. – disse Ellen. E olhando para o irmão continuou— Nicole está interessada em ti, jogue todo o teu charme.

-- Muito bem. Eu e Catarina vamos ao teatro. Consegui dois ingressos. Não temos nada que fazer aqui. Prima te apronta cedo. Vou passar bem cedo para te pegar. – Falou levantando-se do sofá.

-- Certo. – Disse Catarina sem olhar para ele.

-- Filho eu acho que isso é grosseria. A moça é bonita e tem um olho cumprido para ti, e tu estás precisando pensar em casar. Está na hora de procurar uma pessoa, e essa moça é de boa família. – Disse a mãe carinhosamente.

-- Mãe, por favor, eu sei o que faço. Catarina eu vou te levar ao teatro. Te pego às 18h. – Repetiu pausadamente. -- Eu estou indo embora...

Catarina arregalou os olhos e ficou olhando para Edith.

-- Filho espera!... Almoça aqui... Esse rapaz anda estranho... Comentou ela.

Mas Simon levantou e foi embora sem nem se voltar.

O almoço transcorreu sem muita animação. Felipe reclamando a ausência do filho. Assim que pode Catarina pediu licença e foi para seu quarto onde permaneceu durante toda à tarde.  Na hora combinada ela estava pronta esperando pelo primo.

Simon foi pontual. Ele estava charmoso vestido com traje de noite. Catarina tinha escolhido o seu vestido verde esmeralda. Ela estava linda. Os dois formavam um lindo par.

Ele ainda não estava totalmente relaxado. Mas já estava melhor humorado. Catarina não se atreveu a falar. Mas ela tinha chegado à conclusão de que ele deveria ter uma amante. Senão não teria ficado tão transtornado com o que a mãe disse e não moraria sozinho. Ela precisava saber. Mas como?

Eles chegaram ao teatro e ocuparam camarote que estava reservado, só para eles. Ela achou maravilhoso. Agora ele parecia bem. Eles estavam sentados lado a lado e Simon tomou a mão de Catarina e beijava enquanto a olhava nos olhos. O momento era esse, e lançou a pergunta:

-- Simon posso te fazer uma pergunta? – Falou ela com timidez.

-- Quantas tu quiseres meu anjo. – Respondeu ele com tranquilidade.

-- Tu tens uma amante? – Disse ela de supetão.

Ele ergueu os olhos para ela, muito admirado.

-- Não! De onde tiraste essa ideia? -- Perguntou Simon curioso.

-- Pelo jeito que ficaste zangado com tua mãe hoje. Quando ela disse que precisas casar – Respondeu Catarina.

-- Não tenho não. – Confirmou ele. -- Eu fico irritado porque ela quer escolher uma mulher para mim. Quando eu era pia, toda a vez que mostrava uma menina, que eu achava bonita, ela colocava algum defeito, e me apontava a que ela queria. Por isso nunca namorei ninguém. Tu és a minha primeira namorada. E só vamos revelar quando estivermos prestes a nos casar, numa cerimônia simples. Não é? – Indagou.

-- Sim. Não sou convencional. – Afirmou com tranquilidade.

-- Por isso que eu te amo. Tu não tens ideia de como eu estou feliz em estar contigo. Se eu pudesse me casava contigo amanhã. Mas tu ainda precisas de consentimento... – Disse ele num desabafo.

-- Como faremos se meu pai não permitir que eu continue aqui? – Perguntou Catarina preocupada.

-- Já pensei nisso. Eu vou lá, para casar contigo na tua cidade. Espera porque eu vou. – Falou ele com convicção.

Eles tiveram uma noite especial. A peça foi divertida, o jantar romântico e eles conversaram como apaixonado fazendo planos para o futuro. Combinaram que no outro dia ele a levaria para conhecer o apartamento dele, já que era lá que eles iriam morar. E antes de levá-la de volta para casa ele rodou pela cidade, e só a deixou sair do carro depois de alguns beijos. Ela estava nas nuvens. Tudo tinha sido perfeito.

A família tão absorvida pela proximidade do casamento de Ellen os havia esquecido. Mesmo Agnes estava as voltas com Edith que a solicitava cada vez mais.

Era manhã de Natal.

Catarina levantou cedo, e vestiu-se para ir à missa. Ela tinha combinado com Simon de encontrá-lo a porta da igreja. Ela colocou o pequeno pacote em sua bolsa e saiu.

Depois que a celebração terminou, ele a conduziu para um café que se situava muito próximo dali. Escolheram uma mesa ao fundo para ficarem mais sossegados.

Eles sentaram e pediram um café acompanhado de bolo. Conversaram sobre a situação deles e Simon decidiu que falaria com o pai dela. E entregou a ela o seu presente de Natal, e ela fez o mesmo.

Ele abriu e se deparou com um alfinete de gravata de ouro com uma perola. Uma peça útil e muito bonita. Ele sorriu e disse:

-- Muito lindo. Tu tens bom gosto. Obrigado. Eu te amo... Estou ansioso, abra logo esse pacote... – Disse rindo.

Catarina abriu com cuidado, não queria rasgar o papel.  Seu rosto se iluminou quando ela viu a linda caixa de música, que também era uma pequena porta joia. A dançarina rodava enquanto tocava Chopin. Havia algumas repartições e ela começou a examinar até que viu um lindo anel de rubi com diamantes. Era lindo. Ela ficou boquiaberta... Olhou para ele com lagrimas de emoção.

-- Gostou? Nosso compromisso está sendo selado, minha querida. Experimenta vê se precisa de algum ajuste. –Observou ele.

Catarina enfiou no dedo e estava perfeito. Lágrimas escorriam em seu rosto e um lindo sorriso se abria. Simon nunca a tinha visto tão linda.

-- Não tire mais esse anel do dedo. Pediu ele – Eu também vou usar o meu alfinete.

-- Mas vão perguntar... – Comentou ela.

-- Não vão nem reparar pode ter certeza. – Afirmou Simon.

Eles retornaram para casa, era Natal, haveria troca de presentes e um almoço especial. Sentaram de frente um para o outro e ficaram conversando sobre coisas sérias enquanto esperavam alguém aparecer.

Foi Felipe que primeiro se aproximou deles.  Olhou para os dois, e sentou perto do filho.  Felipe era uma pessoa muito simpática, alegre e divertida. Sempre tinha uma novidade para contar e um gesto de carinho para seus familiares. Inclusive para Catarina.

Então muito calmo  ele disse:
-- Bonito esse teu alfinete. Tu compraste em Londres? – Disse o pai.

-- Eu ganhei.

-- Belo presente. De muito bom gosto.

-- Sim pai. Um belo presente.

-- Falar em beleza, essa menina que está, a cada dia mais linda, tu não achas? Disse Felipe olhando para Catarina.

-- Sim, ela está muito bonita e, além disso, está muito requintada, o senhor não acha? – Provocou Simon.

-- Sim. Eu me lembro dela de quando era menor. Ela era uma pimenta e brigava contigo o tempo inteiro. – Disse ele rindo.

-- Sim tempo bom aquele. Hoje ela não briga mais comigo. Nem me olha...  – Falou Simon em tom de deboche.

Catarina tinha se levantado e olhava pela janela. Ela não estava aguentando de vontade de rir. Não sabia como Simon conseguia permanecer sério.

Ellen entrou seguida de Diego, Edith e Agnes também. Pronto! Estavam todos reunidos. E o assunto versou sobre o casamento. Quase esqueceram dos presentes, que esperavam sossegados embaixo da árvore natalina.

Foi Agnes quem tomou a iniciativa e foi entregando um a um. Catarina tinha colocado um pacote para cada um, e o presente de Simon era um peso para papel feito em pedra Rodocrosita, sem dúvida uma peça muito elegante em diferentes tons de rosa se elevando ao rubro. O que ele tinha reservado para ela era uma coleção de três livros sobre a História da Arte. E ela adorou.

Catarina não queria nem olhar para Simon, por que sua vontade era poder dizer o quanto ela tinha amado o presente que ele escolheu.

O almoço foi servido, e Simon a acompanhou até a mesa e como sempre a fez sentar perto dele. Os noivos eram o centro do assunto e enquanto os outros falavam Simon pegava a mão de Catarina por baixo da mesa.

O dia estava abafado. Enfim o almoço terminou. Todos se retiram para descansar. E Simon foi para o seu apartamento. Ele não queria arriscar mais. Se permanecesse na casa e utilizasse seu antigo quarto ele não resistiria, pois teria apenas uma porta o separando de Catarina. Uma porta interna...

Os dias passaram e Simon e Catarina aproveitando para passearem pela cidade. Ele estava fazendo expediente direto e no meio da tarde saia do escritório.

Ele a levava, no fim da tarde, para passear, e a noite sempre jantavam e depois iam ao teatro ou cinema. Em casa havia um verdadeiro caos e ela entrava em saia e ninguém se importava. Catarina estava com total liberdade.

Ellen havia anunciado que passaria o fim de ano com a família de Diego em um balneário. Agnes também tinha sido convidada por sua amiga, de infância, Stefani para irem juntas a uma festa; e Edith pediu para Simon levar Catarina para ver os fogos, assim ela e o marido ficariam sossegados em casa.

A noite de Ano Novo foi muito glamorosa. Eles foram ao restaurante dançante, que tanto apreciavam, e se divertiram muito. Dali do terraço, onde estava a mesa deles, era possível ver a cidade festejando o novo ano. E o beijo da meia noite foi uma promessa de felicidade permanente. Eles estavam convictos de que o amor que os unia era eterno.

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A semana seguia cheia de compromissos. Simon seria padrinho e Catarina acompanhava os ensaios, onde a tal Nicole se atirava vergonhosamente para Simon. Catarina fechava os olhos para não ver, pois tinha receio de avançar sobre a outra.

Um outro dia, ela saiu para comprar um vestido para o casamento. Ela não iria com o que ela havia trazido, até porque já tinha usado. Depois de muito procurar ela experimentou um modelo simples, em renda cor de prata, com um decote bem feito, e discreto. Ela não queria nada muito chamativo, queria estar bem vestida. Queria chamar atenção pela simplicidade. E aquele vestido era perfeito. Comprou também os sapatos, as luvas e o chapéu.

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Willian pensou muito em sua amada filha Catarina, durante o trajeto.  Ela era uma criatura adorável quando queria e se transformava em detestável em um passe de mágica. Mas ele a amava mais do que a si mesmo. E doía em seu peito ter que tomar atitudes contra ela. Por que ela não era suave como sua irmã? Seria tão mais fácil.

Mas Margareth a queria de volta em casa. Havia um rapaz que o tinha procurado com uma proposta de casamento, a qual ele aceitou. Mas agora estava cheio de dúvidas. Obrigar sua filha casar não seria como mandá-la para o inferno?

Agnes tinha insinuado que ela queria estudar, tinha até escolhido alguns cursos para discutir com o pai. Seria uma boa solução. Assim adiaria o tal compromisso com o médico, que ao ser  parecia um pouco ingênuo demais para lidar com Catarina.

O pai de Catarina era esperado, ele havia telegrafado que chegaria no fim da tarde. Ela e Simon foram esperá-lo na estação.

Catarina o avistou e correu para abraçar o pai. Ela estava com saudades dele, de sua família, afinal ela amava profundamente cada um deles.

-- Minha querida. Tu estás linda! Há um brilho em teu olhar. – Disse o pai emocionado.

-- Pai, que saudade. Foi boa a viagem.? Simon está comigo. Não vai se assustar, mas a casa dos primos está um verdadeiro caos, com os preparativos  do tal casamento.

Simon se aproximou e cumprimentou seu parente com cortesia. Pegou a mala e foi abrindo caminho, enquanto Catarina andava ao lado do pai.

Apesar da bagunça reinante o jantar de acolhida ao primo Willian foi calmo e os homens puderam conversar bastante. Os homens passaram para o escritório e Catarina ficou fora da conversa. Ela pegou um livro e ficou lendo, na tentativa de se despedir de Simon.

Felipe e Willian sempre foram muito unidos. Se queriam como irmãos. Simon estava satisfeito de ver alegria e confiança que reinava entre eles. E ele estava ali para conhecer o pensamento do primo.                                                          

Os mais velhos se recolheram. E ele foi namorar. Encontrou Catarina dormindo na poltrona com o livro caído. Ele ficou parado olhando. Era uma cena digna de um quadro. Ele queria reter em sua memória. Aquela conversa de homens não revelou nada, mas o deixou preocupado. Willian já tinha um plano pré estabelecido, e seria difícil mudá-lo.

Simon abaixou-se e a beijou no rosto e disse baixinho:

-- Acorda meu anjo. Está tarde. Eu vou embora.

-- Então... Descobriu alguma coisa?

-- Não. Vai descansar. Amanhã será um longo dia.

Catarina se colocou de pé e disse ao ouvido dele:

-- Eu queria poder ficar contigo...

-- Ah... Eu também.

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Ellen era uma noiva linda. Seu jeito meigo a tornava encantadora. A igreja estava cheia. Era um casamento notável; e a melhor sociedade estava ali reunida.

Felipe muito orgulhoso entrou de braço com a filha. Todos os olhos se viraram para a noiva que adentrava pela nave da catedral. Apenas Simon tinha seu olhar depositado em Catarina que estava deslumbrante com aquele vestido de renda prateado.

Como ele queria estar ao lado dela... Porém para seu pesar ele fazia par com Nicole que era um porre de tão chata. Mas assim que terminasse a cerimônia ele iria se colocar ao lado de Catarina. Ela estava muito bonita para passar despercebida.

Céus! Ele a amava do fundo de suas entranhas. Nunca imaginou que sentiria algo tão forte em relação a uma mulher. Ele a queria... Sentia ciúme dos olhares que os outros homens dirigiam a ela.

Simon tinha tentado conversar com Willian, mas não conseguiu. Ela precisava ficar em Buenos Aires. Poderiam casar imediatamente. Esta era a solução. Ele tentava se concentrar na cerimônia que acontecia ali a sua frente, mas seus pensamentos estavam inquietos.

Logo que os noivos deixaram o altar, Simon foi para perto de Catarina. Sentir aquele perfume alegrava seus sentidos.

Willian estava tão eufórico por encontrar velhos amigos, que simplesmente disse para Simon:

-- Cuida de Catarina. Fica junto dela. Ok?

-- Ok. Será um prazer.

Catarina que escutou o pedido do pai, ficou rindo.

A festa foi no clube. Estava ricamente decorado. Tudo muito bonito. Havia muitos convidados. Os dois escolheram uma mesa pequena no terraço. Assim não seriam perturbados. Eles tinham muito o que conversar.

Simon e Catarina tinham planos elaborados, tinham imaginado saídas alternativas, mas nunca aventaram uma recusa. Eles jantaram, dançaram, se beijaram.

Era uma noite muito quente, ao longe havia relâmpagos e encostados na balaústre, Simon a mantinha junto dele com seu braço por sobre os ombros dela. Ela estava com a cabeça encostada no peito dele e de repente ela se virou e disse:

-- E se nada der certo? O que faremos? – Perguntou ansiosa.

-- Eu vou atrás de ti. Isso é certo. Ele vai te levar para casa, talvez te trancar no quarto, mas o que mais ele pode fazer? – Argumentou Simon.

-- Não sei. Eu estou com medo de ficar longe de ti. Não quero! – Falou chorosa.

-- Nem eu. Se for preciso eu vou te raptar... Será que Elisa ficará do nosso lado? – Quis saber ele.

-- Sim. Elisa é muito boa. A coisa ruim sou eu.

-- Não diga isso. Tu és a melhor parte... Amanhã vamos revelar nosso amor para família inteira. E vai dar tudo certo. Venha vamos dançar...

Mas Catarina não estava mais confiante. Uma tristeza tomou conta de seu olhar e Simon percebeu. Enquanto dançava ele tentava animá-la falando ao seu ouvido coisas de amor.

Deixaram a pista de dança e caminharam pelo jardim. E na penumbra em meio às árvores eles trocaram profundos beijos de amor. A sorte estava lançada....

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Simon não dormiu aquela noite. Ele estava preocupado. Precisava conversar com Willian antes do café. Talvez a presença de seu pai o ajudasse. Por isso, era ainda muito cedo quando ele entrou no escritório do pai.

E como imaginou Felipe e Willian estavam ali reunidos. Ele entrou e foi direto ao ponto, sem nenhum rodeio disse:

-- Eu e Catarina estamos apaixonados e queremos nos casar.

Seu pai arregalou os olhos e Willian apenas disse:

-- Entre na fila rapaz. Eu já dei minha palavra ao que chegou primeiro. – Disse calmamente.

-- E ela sabe? Ela quer? – Perguntou Simon horrorizado.

-- Ela mesma deu esperanças ao rapaz. – Explicou Willian.

-- Quando? – Indagou Simon furioso.

-- Antes de ele sair para estudar. Agora ele retornou formado e quer que seja cumprida a promessa. – Disse Willian irritado com o primo.

-- Mas ela era apenas uma criança... Vai obrigá-la casar com ele? – Insistiu.

-- Elisa não me causa problemas. Mas Catarina sempre se mete em encrenca. Eu não aguento mais. Se ela recusar o Marco eu vou colocá-la em um convento. – Afirmou com raiva.

-- Eu vou cuidar dela, primo. Dá o seu consentimento e nós nos casamos aqui, uma cerimônia simples. Ela abre mão de tudo para nós podermos ficar juntos. – Disse Simon tentando convencer o primo.

-- Willian, esses dois se gostam...—Interferiu Felipe. -- Eu tenho reparado neles. Meu filho é ideal para ela. Ele é um bom partido. A nossa fortuna se mantém entre nós. Pense nisso.

-- Já pensei, mas empenhei minha palavra. E Margareth acha que Marco é um bom rapaz. E ele quer ter a noiva mais bonita da cidade. – Continuou ele.

Simon saiu do escritório e voltou acompanhado por Catarina, que vinha com expressão chorosa e diante do pai, ela parou e perguntou:

-- Pai, o senhor vai me obrigar a casar com o Marco. Ele sempre foi um tonto. Pergunta para o Alberto. – Argumentou ela.

-- Mas tu ofereceste esperança para ele...  Segundo eu soube. – Falou Willian encarnado a filha.

-- Pai. Eu não tinha nem quinze anos e foi uma brincadeira que fizemos. E meu irmão estava junto, foi bobagem, não tem valor algum...  Eu não vou me casar com ele. Prefiro morrer. – Disse Catarina aos prantos.

Catarina desatou num choro forte. Simon a abraçou e a deixou colocar para fora toda angustia. Ele acarinhava seus cabelos tentando acalmá-la.

-- Catarina arruma tuas coisas, nós vamos para casa.

Um silêncio caiu sobre a sala.

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Catarina estava de castigo, trancada em seu quarto. Elisa e Alberto estavam consternados com a atitude dos pais. Realmente eles estavam levando muito sério uma conversa entre adolescentes. E sem dúvida nenhuma, Catarina tinha razão quando acusava Marco de imbecil. Ele era! 

Alberto já tinha intercedido pela irmã, mas não obteve sucesso. Elisa tinha conversado com a mãe, porém ela estava irredutível. Parecia que seus pais queriam se livrar de Catarina.

Os irmãos sempre tiveram chaves reservas de seus quartos, pois a prática do castigo dos pais, era mantê-los fechados no quarto. E Alberto e Elisa se revezavam para não deixar a irmã tão só, que já havia contado para eles sobre o seu namoro com Simon.

Eles já haviam decidido que a ajudariam a fugir se fosse necessário. Catarina aguardava a chegada de Simon que havia prometido vir atrás dela. Até Gonçalo estava empenhado em ajudar sua futura cunhada.

Simon havia chegado.

Ele estava aguardando na sala de visitas. Willian e Margareth não estavam em casa e foi Alberto que o recebeu com bastante empolgação. Os dois conversavam quando de repente Simon que olhava pela janela ficou branco como uma cera.

Simon estava enxergando a sua Catarina dependurada na janela do segundo andar, e balançava os pés procurando o apoio que ele não via. Seu coração pulava tanto que parecia que ia sair pela boca.

Alberto foi para perto do primo para ver o que estava acontecendo e disse:

-- Não te afliges. Ela nunca caiu. Sai pela janela desde que tinha sete anos. Aliás, aqui em casa ela é que mais tem habilidades para isso. Elisa deve ter avisado a ela que tu estás aqui, e ela  quer te ver. Ela vai ficar sentada na arvore. Se descer o pai descobre, na arvore ela está mais segura.

-- Tu não tens ideia de como ela é uma garota refinada em Buenos Aires... Eu não me lembrava dos castigos de vocês...

Simon atirou um beijo para ela que o retribuiu com um imenso sorriso. Essa era a sua garota. Uma lutadora... E ele apreciava isso nela.

Willian e Margareth chegaram e todos se reuniram no escritório.  E Willian disse ao filho e a esposa:

-- A conversa será particular. Simon e eu vamos ter conversa reservada, por isso peço que saiam.

Margareth saiu a contragosto, e Alberto já imaginava que seu pai não queria opiniões. Ele havia se tornado um tirano em relação a Catarina e influenciado por sua esposa.

De onde Simon estava ele não avistava mais árvore de Catarina, mas via Elisa e Alberto que estavam pedindo para ela voltar para o quarto, já que a mãe estava em casa. Era melhor evitar mais encrenca.

Simon olhou para Willian e disse:

-- Eu vim aqui negociar. Eu quero Catarina e estou disposto a tudo por ela. – Disse Simon com coragem.

-- Negociar? Faça a proposta então meu rapaz. – Retrucou Willian.

-- Não! A proposta é sua. – Afirmou Simon.

-- Minha filha não está à venda. – Disse ele.

-- Eu amo sua filha, e quero me casar com ela com a sua permissão. E quanto vale essa permissão? – Instigou Simon.

-- Assim me sinto ofendido... – Disse Willian.

-- Qual é o problema? Por que quer entregar Catarina para outro homem que pelo que soube nem a conhece direito. Alguém que imagina que ela seja um ser que não pensa, que não tem vontade e sentimentos. Que vai fazê-la infeliz... – Falou Simon com convicção.

-- Margareth não quer que ela case contigo, te acusa de mulherengo... – Revelou o pai.

-- Eu tive uma juventude um pouco agita, reconheço, mas todo homem precisa de mulheres para se tornar, no devido tempo, um bom marido, não assim primo? Como foi sua juventude? Foi pudica? Não é isso que meu pai conta... – Disse ele com atrevimento.

Willian baixou a cabeça. Tinha sido atingido em seu calcanhar de Aquiles. Ele e Felipe tinham sido companheiros de farra. E hoje eram homens respeitáveis.

-- Simon eu empenhei minha palavra e não vou voltar atrás. Mas se tu tens algum plano, vá em frente... – Falou ele querendo “lavar as mãos”.

Simon saiu com a certeza de que Willian havia sugerido que ele roubasse sua filha. E era o que ele faria nessa noite.

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Elisa já estava com tudo organizado. Até as roupas de Catarina ela já havia tirado de casa. Gonçalo tinha conseguido uma canoa para eles cruzarem o rio ao entardecer.

Juliana tinha preparado uma cesta com uma garrafa de vinho, pães e linguiça. Tudo já estava na praia. Era só esperar.

Naquela noite Willian e Margareth tinham convidados para o jantar, os pais de Marco, as famílias queriam se reunir para conversarem sobre o futuro de seus filhos. Marco não estaria presente. Ele estava cuidando de um paciente que estava muito mal.

Catarina havia sido chamada para jantar com eles, assim como Elisa e Alberto, que na mesma hora disse que tinha combinado jantar com Juliana. Catarina alegou dor de cabeça, e apenas Elisa, obediente como era, jantou com os convidados.

Enquanto os pais recebiam seus convidados, Catarina desceu pela arvore e foi em direção ao portão de serviço, onde Simon a esperava. E dali os dois tomaram o caminho do futuro que os esperava.

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Na manhã seguinte Elisa acordou cedo e saiu. Ela queria estar longe de casa quando a bomba estourasse. Gonçalo havia pedido permissão para os dois irem pescar e eles foram bem cedo.

Alberto tinha ido para o trabalho com seu pai como sempre. E Margareth estava pensando em seu futuro genro tão simpático e atencioso. Ele era realmente muito educado. Catarina estava louca, em recusar um rapaz como aquele. Ele era quase uma moça. E médico.

Foi quando resolveu ter uma conversa com a filha. Entrou no quarto, abriu a janela para acordá-la quando viu que ela não estava na cama e sim uma boneca feita de panos. Ela gritou e mandou chamar o marido na Casa Bancaria. Catarina tinha fugido!

Willian chegou em casa consciente de que ele havia dado oportunidade para que Catarina tivesse essa opção. E eles aproveitaram!

Era perto do meio dia quando Elisa e Gonçalo chegaram trazendo dois peixes bem carnudos. Pediu que todos fossem ao seu escritório. Haveria uma reunião de família, incluindo também Juliana que acompanhava o irmão.

Margareth chorava! Por onde andava sua filhinha?

Willian a deixou de fora da reunião e disse aos jovens:

-- Bem o assunto é entre nós. Eu quero saber qual foi a parte de cada um de vocês na fuga de Catarina.

Eles se entreolharam, mas ninguém falou.

-- Eu só quero saber se minha filha está com Simon ou ela está sozinha por aí?

-- Com Simon respondeu Elisa

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Já em Buenos Aires, Simon deixou Catarina na casa dos pais, aos cuidados de Agnes. Ela estava exausta, precisava de um banho e repouso. Mais tarde ele voltaria para resolverem como fazer.

Simon em seu apartamento tentou dormir um pouco, mas não conseguiu. Ele queria o melhor para Catarina, e achava que ela merecia um casamento como toda moça sempre sonhava. Mas eles não tinham tempo para isso. Se Willian viesse atrás da filha, tudo estaria perdido.

Quando, mais tarde, entrou na casa da mãe, encontrou a sala na mais completa desordem. Eram muitas caixas por todo o lado. Eram presentes e o vestido de noiva...

Foi para o escritório conversar com seu pai. Que o recebeu dizendo:

-- Precisamos agilizar o casamento de vocês. Uma cerimônia simples. Tua mãe já falou com arcebispo. Será no fim da tarde, na catedral. Vai te vestir...

-- Que bom que mãe tem uma boa relação com a cúpula da Igreja. Já estou indo me arrumar.

As dezoito horas Catarina entrou na catedral pelo braço de seu sogro. Ela estava radiante, a noiva mais linda que Simon já tinha visto.  Ela era a aquela jovem rebelde que havia conquistado seu coração.

A celebração do casamento foi  dentro da missa do fim da tarde e havia muitas pessoas no templo para testemunhar o amor que unia aquele casal.

Na saída os noivos receberam uma chuva de arroz, como manda a tradição, e após reuniram-se no restaurante privado do hotel, para comemorarem o enlace matrimonial.

Felipe mandou um telegrama ao primo avisando que Catarina já era sua nora.

Simon pegou sua mulher pela mão e levou para suíte nupcial. Eles precisavam validar o casamento urgentemente. Os demais que ficassem festejando.

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Catarina era a mulher mais feliz do planeta. Seu marido a mimava  muito. Eles tinham uma linda família, Arthur com cinco anos era a miniatura do pai, e Elizabeth aos três anos já demonstrava ser muito parecida com mãe. E Simon sabia que não seria fácil, pois ela desde já sabia impor sua vontade.

Era um domingo de outono e a grande família estava reunida. Simon e Catarina souberam perdoar seus pais e pelo menos uma vez por ano, eles organizavam nos jardins de sua morada, o encontro da família Blair, que era a oportunidade firmar os laços de sangue e renovar o amor que os unia.

                                                                    Fim

                                                                                      Maria Ronety Canibal

                                                                                             Junho 2018.

 

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