UM CONTO DE NATAL
Uma noite encantada
Jéssica
caminhava desorientada pelo bairro comercial da cidade. Era um dia de maio, frio e chuvoso. Ela havia perdido o emprego! Mais
uma vez por assédio sexual. Ela era, de fato, muito bonita, mas preferia ser
mais comum... Pois pagava um alto preço por sua bela estampa.
Não sabia o que fazer
da vida. Ela estava completamente só no mundo, aos 22 anos de idade. Nem amigas
tinha, pois depois da morte de sua mãe, ela tinha saído de sua pequena cidade,
para um centro maior, com a esperança de mais oportunidades de trabalho.
Lágrimas escorriam em
suas faces.
Pensava no pai. Ah...
Se ele tivesse sabido da existência dela, talvez sua vida tivesse sido
diferente. Mas Paula nunca o procurou. Também fora apenas “affair” passageiro...
Como sua mãe dizia.
Sua mãe, Paula, foi uma
mulher bonita, mas um tanto volúvel. Nunca quis se prender a um compromisso
duradouro. Era uma aventureira. Jessica amava sua mãe, mas não compreendia o
tipo de vida que ela escolhera. Só reconheceu estar no caminho errado, quando
foi acometida por uma infecção violenta que a levou à morte.
Paula foi uma garota de
programa, ganhava bem, e pode sustentar Jessica com todo o conforto, mas nunca ofereceu
a filha a segurança de uma família. Foi só no último momento que revelou à
Jessica o nome do homem que era seu pai: Armando Noel.
Jessica estava
desesperada, pois não queria seguir a “carreira” de sua mãe. Ela havia trocado
de cidade para buscar outra vida, mas sua beleza atrapalhava.
E agora? Mais uma vez
sem emprego. E de onde ia tirar dinheiro
para pagar o aluguel do miniapartamento que morava? Era minúsculo, mas era o
que podia pagar...
Havia começado a chover
forte, estava ficando mais frio, e Jessica sem agasalho adequado caminha na
chuva. Era com esses pensamentos rodando em sua mente, que Jessica andava sem rumo;
atravessou a avenida sem prestar atenção ao trânsito.
Foi jogada no chão!
Uma freada brusca não
foi suficiente para evitar o atropelamento. Leandro saiu do carro assustado.
Aquela mulher surgiu de repente a frente de seu carro.
-- Moça? Responde, tu
estas bem? Vou chamar a ambulância...
-- Não! Eu estou bem.
Desculpe pela minha desatenção...
Ele a ajudou a levantar
e levou para o seu carro. Ajudou-a a sentar-se no banco da frente. Iria levá-la
ao hospital, mesmo sob protestos dela. Era seu dever. Ele conhecia as regras...
Enquanto dirigia fazia algumas perguntas a moça.
-- Como é o teu nome?
-- Sou Jessica Montes.
-- Eu sou Leandro De
Luca.
--- Sentes alguma dor?
-- Não esquenta, eu
estou bem. Pode me deixar na próxima esquina, não precisas te preocupar comigo.
Minha vida já está do avesso mesmo.
-- Estas ensopada e com
frio...Tens certeza de que estas bem?
-- Sim, tenho. No
máximo ficar roxa na perna.
-- Então, vamos tomar
um café, aceitas?
-- Sim. Um café vai ser
reconfortante.
Leandro a levou a
cafeteria Nova. Era tradicional no bairro e tinha o melhor café da cidade. Eles
entraram e escolheram uma mesa no canto perto da janela.
Antes de ocuparem a
mesa ela foi ao banheiro para secar -se um pouco, sobretudo o cabelo que
pingava. Penteada ela voltou a mesa e sentou-se diante dele.
Um rapaz veio atendê-los,
com o menu na mão.
-- O que queres comer?
-- Não quero nada,
obrigada.
-- Traga dois cafés
especiais e muffins de chocolate.
-- Quantos dois?
-- Quatro.
Depois de fazer o
pedido, Leandro começou a olhar para Jessica, e viu diante de si uma moça de
beleza ímpar. Ela era deslumbrante! A perfeição de seu rosto, a delicadeza das
feições, ela era muito bonita. Mas havia dor em seu olhar, era uma tristeza
profunda.
--- O que te aconteceu?
Estás tão triste!
Lágrimas começaram a
rolar em suas faces. Ela tentava disfarçar, mas era impossível. Ele alcançou-lhe
um lenço e esperou ela se acalmar. Então ela falou:
-- Perdi meu emprego,
mais uma vez por não ceder ao assédio do patrão. Não é a primeira vez. Estou
desesperada. Todos dizem que sou bonita e que sou provocante, que sou
irresistível... Que eu teria a vida mais fácil se eu aceitasse as propostas que
recebo..., mas não vou por esse caminho. As vezes tenho vontade de cortar meu
rosto para ficar repulsivo e assim ninguém me olhar...
-- Não! Não pense
assim. Não são todos assim! Existem homens honestos e respeitador. Esqueça isso
agora. Vamos comer os bolinhos que são deliciosos.
Ela comeu, parecia
estar com fome, e Leandro pediu mais bolinhos e outro café. Enquanto ela comia
com apetite, ele a olhava e pensava. Uma ideia louca surgiu em sua mente. Será
que ela aceitaria? Era uma loucura, mas arriscaria.
-- Eu estou tentado a
te fazer uma proposta de trabalho. Será um trabalho diferente, mas vou pagar
muito bem. Que fique claro, que será tudo impessoal, apenas representação.
-- Do que se trata?
-- Bem, eu sou
apaixonado por uma mulher que tem me esnobado. Eu quero conquistá-la, mas terá
que ser por meio do ciúme. Preciso de uma noiva de mentira. Tu és a pessoa
ideal, pois és linda, já percebi que és educada e desconhecida de todas as
pessoas que me rodeiam. Aceitas?
-- Me explica um pouco
mais, sobre a minha atuação.
-- Primeiro passo:
comprar roupas, ir ao cabeleireiro e achar um lugar descolado para tu morares,
a não ser que aceitas vir para o meu apartamento. E só então vou te apresentar
a minha família e aos meus amigos.
-- Continua...
-- Precisamos
representar, diante da plateia, alguns carinhos e troca de palavras doces e
beijinhos. Apenas representação. Teremos a meta de casar em poucos meses, mas
claro que isso não vai acontecer, porque até lá Aline já estará conquistada.
Seremos um casal moderno, relacionamento aberto, para que não sujam dúvidas em
relação ao nosso compromisso. Assim como eu estarei flertando com Aline, tu
estarás fazendo o mesmo com o Juliano, o namorado dela. Estamos no início de
maio, até o Natal, depois rompemos o compromisso, seja qual for o resultado.
-- E que vou ganhar?
-- Além de tudo que já
falei vou depositar mensalmente um bom valor em tua conta bancaria.
-- Sim, eu vou aceitar
só porque estou necessitada de algum tipo de segurança. Será meu “pé de meia”.
-- Anote aí, não nos
envolveremos emocionalmente. Combinado?
-- Combinado.
-- Então já iniciando
nosso plano, me fala sobre ti, teus gostos, teu modo de ser.
Leandro pediu mais café
e salgados e doces e a conversa foi longa. Ele pode perceber que o olhar de
Jessica estava mais calmo, aquela tristeza tinha se retirado para dar lugar a
um brilho especial, um brilho de esperança.
Mais tranquila, Jessica
olhava com atenção para Leandro e percebeu o quanto ele era bonito. Alto, tipo
esportivo, pele morena e olhos verdes. Nossa! Além do mais era charmoso! Não
era de ser jogado fora. Essa tal Aline devia ser cega e idiota...
Ela soube que ele
pertencia a uma das famílias mais importantes e ricas da região. Tinham indústrias
alimentícias, fazendas de criação de gado e plantações de oliveiras e nogueiras;
pêssegos e figos; cerejas e ameixas.
Leandro era formado em
marketing e era responsável pela divulgação das empresas e produtos da família.
Por isso era presença certa em festas e eventos.
Jessica teria que acompanhá-lo
em todos os lugares e entendeu porque ele falou em roupas e cabelereiro. Estava
pronta para enfrentar mais esse desafio que a vida colocava a sua frente.
Uma semana depois,
Jessica já estava instalada em seu novo endereço, num apart-hotel muito próximo
do prédio onde Leandro morava, com muitas roupas novas e um “new look”.
Naquela ocasião, ela usava
um vestido cor de beringela com detalhes em dourado. Era um modelo simples e
elegante, que se amoldou perfeitamente em seu belo corpo, e realçava sua pela
clara e os cabelos, agora mais claros por causa das luzes. O novo corte pelos
ombros deixava seu rosto em destaque.
Jessica estava pronta
esperando por ele, aquela noite seria a sua “estreia”, e seria apresentada a
família De Luca. Uma batida leve na porta e ela abriu.
-- Tu estás lindíssima!
– disse Leandro a olhando de cima a baixo – será um sucesso.
-- Espero.
-- Nervosa?
-- Um pouco, só te
peço, pelo menos hoje, fica ao meu lado.
-- Com certeza ficarei.
Hoje é só a família. Meus pais, Antônio e Maria Clara; meu irmão Lucio e minha
cunhada Melissa; minha irmã caçula Lais, e mais ninguém. Foi o que eu pedi para
minha mãe. Eles estão ansiosos para te conhecer, pois na verdade tu és a
primeira namorada que eu apresento a família.
-- Mesmo? Nunca
namorastes?
-- A sério? Não!
-- Vamos lá. A sorte
está lançada – disse Jessica com um sorriso nervoso.
Ele a tomou pela mão e
levou pelo corredor até o elevador. Enquanto esperavam ele a olhou e a beijou
rapidamente na face, e murmurou:
-- Obrigado! Não
imaginas o que isso significa para mim.
O elevador chegou, eles
entraram e Jessica permaneceu calada. Aquele beijo suave e fraterno a
surpreendeu.
A casa da família era
uma bela mansão a beira do rio. Era enorme e muito linda. A noite estava fria e
da sala toda envidraçada que dava para um esplendido jardim, todo iluminado, se
avistava o rio. A lareira estava acesa e deixava o ambiente aquecido e
acolhedor.
Toda a família os
esperara. Havia uma grande expectativa. E quando Leandro a apresentou, todos a
acolheram com um largo sorriso e com carinho.
Jessica suspirou
aliviada. Esta etapa estava vencida. Sentaram-se lado a lado no sofá e Leandro
tomou sua mão e entrelaçou com a dele, e assim permaneceram bem juntinhos. As
vezes ele a olhava com intensidade, sorria e beijava sua face. Pareciam um
casal de namorados apaixonados, pois ela retribuía as caricias recebidas.
A família De Luca
estava satisfeita com o novo membro, pois a moça além de linda era simpática,
educada e demonstrava ter cultura.
-- Eles formam um belo
par, não achas mãe? – disse Lais.
-- Sim, eu estou feliz,
enfim teu irmão resolveu sentar a cabeça e procurar uma moça a sua altura. Ele
tinha interesse na Aline, mas aquela é muito nojenta.
-- Eu concordo sogra,
em gênero e número. Jessica é um encanto de pessoa. Lucio também gostou muito
dela. Vamos torcer para dar certo!
Jessica no caminho de
volta para o apart-hotel fazia comentários semelhantes e Leandro estava
contente. Tinha dado tudo certo.
-- Houve uma empatia.
Minha mãe gostou muito de ti. Ela me falou na cozinha. O pai também, embora ele
seja meio caladão, conversou bastante contigo, e isso é sinal de que ele gostou
de ti. Todos ficaram encantados. Deu para perceber... ... – Gostas de dançar?
-- Sim, eu gosto muito.
-- Então vamos dar uma
esticada e dançar no piano bar do hotel.
-- Hoje? Quarta feira?
-- Sim.
Eles entraram e ela
achou o ambiente sensacional. Havia algumas pessoas apenas bebendo e
conversando e dois casais dançando. O pianista tocava músicas românticas, eles
escolheram uma mesa, pediram uma bebida e se dirigiram a pista, pois aquela
melodia era um convite a dança.
Leandro a enlaçou e a
puxou para bem perto dele, e a conduzia com suavidade, eles deslizavam... De
repente ele começou a cantar bem baixinho ao ouvido de Jessica, que estava
inebriada pela proximidade dele e pelo perfume amadeirado que ele exalava. Ela
fechou os olhos e se deixou levar.
Era madrugada quando
Leandro a deixou na porta de seu quarto. Despediram-se com um suave beijo na
face.
Jessica estava cansada,
deitou-se e logo dormiu. Mas com Leandro não foi assim, pois ele ainda sentia o
perfume dela e a queria em seus braços.
A semana foi agitada,
ela participou de jantares e reuniões, e já tinha sido apresentada a todos os
amigos de Leandro, inclusive para a “sonsa” da Aline.
Aline era bonita, tinha
o tipo esguio e era elegante, charmosa e se vestia com esmero. Mas era
arrogante e sem tempero. Não era natural, suas falas e poses pareciam
ensaiadas... Definitivamente ela não simpatizou com Aline, e reciproca era
verdadeira.
Juliano era um homem
bonito, não tanto quanto Leandro, mas era simpático e gostava de falar
bobagens. Como se diz era o “palhaço” da turma. Porém era inteligente, pois
quando falava sério dizia coisas interessantes. Jessica gostou dele.
Nas ocasiões em que
saíram os dois casais juntos, Jessica ignorava a atenção que Leandro dava para
Aline e se dedicava a conversar com Juliano. Estava nascendo entre eles uma
sincera amizade.
Jessica não compreendia
como ele aguentava a situação, e às vezes pensava que ele se encontrava em uma
situação semelhante à dela. Será? Não se animava a entrar nesta questão, pois
não se sentia muito virtuosa.
Haveria um baile de
caridade, da entidade a qual a família De Luca era patrona, e claro todos os
membros da família deveriam participar. Leandro a levou para comprar um vestido
para aquela ocasião.
Era uma festa de gala,
a mais concorrida da temporada, com número restrito de convites, portanto quem
conseguia ir, estava no seleto grupo de “os melhores” da sociedade. Então havia
uma disputa incrível. Jessica nunca imaginou uma situação tão burlesca.
Jessica jamais tinha
estado em um lugar tão luxuoso. O salão de baile tinha as paredes cobertas por
espelhos e adornadas com lindos candelabros dourados, pendurados no teto, havia
imensos lustres de cristal que iluminavam o salão. As mesas com toalhas na cor
dourada davam destaque a louça e aos cristais.
Era magnifico!
Os homens de smoking
contrastavam com o colorido dos vestidos femininos. Um mais lindo do que o
outro. Havia ali também uma disputa entre as mulheres para ser a mais notada
por sua elegância e beleza.
Mas Jessica não se
sentiu fora do contexto, pois estava ao lado de Leandro De Luca e ela estava
usando um vestido de corte simples, na cor verde malva, que a deixava
esplendida. Leandro quando a viu deu um assobio e disse:
-- Estás bela! Serás a
mais notada do baile. Pode ter certeza. Vou até sentir ciúmes...
-- Ciúmes? Mas tua querida também estará presente!
-- Eu sei, mas vou te
contar um segredo: tu és mais linda do que ela.
-- Deixa de
brincadeira.
-- Estou falando sério.
Recém percebi essa realidade.
Ela sorriu ao receber as
palavras elogiosas de Leandro.
Leandro naquela noite
permaneceu ao lado dela na mesa principal reservada para a família De Luca.
Eles eram divertidos, e Jessica sentia-se bem entre eles.
Leandro a convidou para
dançar. Jessica gostava de dançar, e
especialmente com ele. Ela se sentia bem em seus braços, segura e acolhida,
gostava de sentir o perfume que exalava da pele dele; ela estava a um passo de
se apaixonar por Leandro, mesmo sabendo que ele amava outra, e sentia que Leandro
não era totalmente indiferente a ela.
Jessica aproveitou todos
os momentos daquele baile. Era oportunidade única em sua vida, e ela não iria
estragar aquela noite, colocando Aline entre eles.
Eles agiam como um
casal apaixonado. Ele cantava canções românticas ao seu ouvido, era carinhoso e
a beijava quando o ambiente estava a meia luz.
Jessica nunca tinha
sido beijada, mas entendia que aquele modo como ele a beijava, enquanto
dançavam, não eram beijos apaixonados, era mais carinho que que paixão. Ela os
aceitava, até porque beijos estavam incluídos no “acerto” entre eles.
Jessica foi à toalete.
Lá estava Aline retocando o batom, quando a viu pelo espelho, sua expressão
endureceu, e virando-se disse:
-- Ora quem eu vejo!
Jessica a nova namoradinha de Leandro...
-- Olá! – Respondeu
educadamente Jessica, se dirigindo ao reservado.
-- Quem pensas que é
para me responder displicentemente?
-- Eu sou um ninguém,
não devias te preocupar comigo. Com licença.
Jessica fechou a porta
e ficou escutando. Outras pessoas entraram no recinto e parecia que a megera
havia saído. Então calmamente Jessica saiu, e foi diretamente ao encontro de
Leandro que a esperava.
De longe Aline a
controlava, e Jessica sorriu e acenou, a provocando para a deixar furiosa.
Jessica percebeu que a “finesse” de Aline era só uma fina camada de verniz,
porque ela era uma verdadeira “barraqueira”. E decidiu provocá-las ao máximo,
para quebrar a sua máscara de boa moça.
Leandro a beijou no
rosto e voltaram para pista de dança, ele a enlaçou mais uma vez, e dançaram
bem coladinhos, até amanhecer.
A noite foi perfeita!
Leandro a deixou no
apart-hotel e foi para casa. Estava cansado, mas não conseguia conciliar o
sono. Jessica ocupava seus pensamentos. Ela era uma garota surpreendente, mesmo
sozinha no mundo, era cheia de princípios, e moralidade. Ela não gostava do que
estava fazendo, mas cumpria a sua parte. Ela era incomparável.
Aline estava
inconformada com a situação. Leandro não estava mais aos seus pés. Agora aquela
outra recebia toda a atenção dele, e ela estava em segundo plano.
Para Aline ter Leandro
De Luca aos seus pés sempre foi motivo de orgulho. Ela sempre o deixara na
berlinda para ser notada na sociedade. Então resolveu perturbar a “noite” dele.
Ligava o telefone constantemente, mas Leandro desligou o celular.
Naquela semana Jessica
recebeu uma finíssima caixa de bombons com uma mensagem romântica anônima.
Ficou desconfiada e ligou para Leandro.
-- Oi, tudo bem?
-- Sim. Aconteceu
alguma coisa, tu nunca ligas.
-- Só queria agradecer
os bombons que me mandastes, mas esquecestes de assinar o cartão.
-- Meu anjo, não fui
eu. Me desculpe, devia ter tido essa ideia, depois da excelente companhia que
fostes no baile. Mas vou me redimir...
-- Imagina. Então quem mandou?
Não tenho ideia. É chocolate suíço.
-- Bah... Tenho um
rival. Não gostei dessa ideia. Te arruma que logo passo por aí para te pegar.
Vamos jantar juntos.
-- Ok. Te espero.
Jessica olhou para os
chocolates e ficou tentada a comer, mas resistiu e foi tomar banho. Ela vestiu
uma calça de couro preta e uma blusa de malha branca com detalhes em preto e
vermelho. Calçou um par de botas de pelica preta.
Leandro chegou de banho
tomado, estava lindo demais, ela ficou com vontade de se atirar em seus braços.
Ah! Como era bom ser abraçada por ele. Ele a beijou com carinho e fez um afago
em sua face.
Olhou a caixa de
bombons e perguntou:
-- Tu não comeste
nenhum?
-- Não! Não sei se são
meus.
-- Aonde está o cartão?
-- Aqui.
-- São teus. Está
endereçada a ti. Essa letra me parece conhecida...
Ele a levou para o seu
apartamento e pediu uma pizza. Conversaram, riram, falaram de suas infâncias,
adolescência e Jessica contou sobre a sua mãe. A vergonha que ela tinha da
profissão de sua mãe... E sobre a tristeza de crescer sem pai e a vontade que
tinha de conhecer o pai.
Leandro se comoveu com
a sinceridade dela, a abraçou e sentiu seu coração pulsar mais forte com a
proximidade. Ela era linda demais, era só desejo. A beijou com carinho e se
afastou dela. Era tarde quando a deixou no apart-hotel.
Aquela noite ele a
queria perto dele. Lastimou ter que leva-la para o hotel. Iria conversar com
ela sobre a possibilidade de ela vir morar com ele. O apartamento dele era
grande, tinha espaço suficiente para os dois.
Era sábado e Leandro
ainda estava deitado, quando atendeu uma chamada do apart-hotel, avisando que
Jessica tinha passado mal, e tinha sido levada para um hospital.
Vestiu-se às pressas e
pegou seu carro e correu para o hospital. Deixou o carro mal estacionada e foi
a recepção saber informações sobre Jessica. Ela estava ainda emergência. Ele
precisava aguardar.
Leandro andava de um
lado para o outro, estava inquieto, porque demorava tanto? Viu um antigo colega
de escola, que era médico, e pediu para ser levado até ela. Não queria deixa-la
só. Renato o levou.
Ela estava pálida
demais, credo! Parecia morta. Em seu braço estava uma agulha espetada por onde
ela recebia soro. O médico permitiu que ele ficasse junto dela.
-- O que aconteceu
doutor?
-- Uma reação alérgica
muito forte. Ela deve ter comido um alimento que para seu organismo é veneno.
-- O que poderá ter
sido?
-- Tanta coisa. Estamos
fazendo os testes. Ainda não sabemos.
Conversando com a
enfermeira, soube que Jessica chegou em choque e que foi uma funcionária do
hotel que percebeu que ela estava passando mal, e acionou a ambulância. Ela
tinha comido dois bombons recheados com morango, a moça tinha mandado junto a
caixa de chocolates.
Jessica era
alérgica morangos...
Quando Jessica foi liberada
pelo hospital ela a levou para o seu apartamento. Pediu para Lais, sua irmã,
ficar com ela e foi até o apart-hotel buscar as coisas dela, encerrar a estadia
e gratificar a senhora que a socorreu.
De agora em diante,
Jessica moraria com ele. Ele queria cuidar dela.
O tempo passava e
Jessica estava a cada dia mais apaixonada por Leandro, que agora encontrava-se
frequentemente com Aline. E alguns dias da semana ele saia sozinho para estar
com Aline, que traia o noivo, abertamente, assim como ela também era “traída”
por Leandro. Ela não suportava mais a situação, e arrependia-se de ter aceito a
proposta dele, pois não contava com o sentimento que nasceu em seu peito. Mas
na ocasião ela estava desesperada...
Não sabia mais como aguentar. Viver com ele
era muito bom. Ele era atencioso, alegre, divertido, mas amava outra. Jessica
chorava quando ele saia para “transar” com a outra.
Nunca mais Jessica e
Aline haviam se encontrado. Leandro evitava colocar as duas frente a frente,
pois sabia que Aline não aceitava que Jessica morasse com ele.
O aniversário de Maria
Clara se aproximava e ela queria reunir apenas a família, e seria na casa de
campo, onde cada filho tinha uma suíte independente.
Jessica gostava de
estar junto da família de Leandro, mas a proximidade dele a deixava abalada.
Teriam que dormir na mesma cama! Ela não podia admitir intimidades, não mesmo! Tentou
dar um jeito de não ir, mas Leandro não aceitou nenhuma das suas desculpas.
O jantar comemorativo
teve muitos brindes, e Jessica não era acostumada a beber, e ficou tonta, não
bêbada, mas alegre e amorosa. O casal Leandro e Jessica, trocavam muitos afagos
diante da família.
Maria Clara estava
feliz em saber que seu filho havia se livrado de Aline, que era uma pessoa
enjoativa e falsa. Uma verdadeira cobra! Ela gostava de Jessica, que era
educada e estava completamente apaixonado por seu filho. E hoje ela demonstrava
seu amor de modo sincero.
Aos poucos a família
foi tomando o rumo dos quartos. Leandro e Jessica permaneceram ainda na sala,
ela sentou-se diante da lareira para atiçar o fogo. Juntou os joelhos e
abraçou, olhando a pequena chama que ardia. Leandro foi juntar-se a ela, ele a
abraçou e Jessica deitou a cabeça em seu ombro. Permaneceram ali até o fogo
baixar. Então subiram abraçados para o quarto.
-- Jessica tu estás
adorável! – Disse Leandro abrindo o zíper do vestido dela.
-- Só hoje, porque
estou tonta? – Perguntou ela rindo.
-- Não! Tu és sempre
incrível. – Disse Leandro a beijando.
Aquele beijo fez
explodir o desejo que ardia em seus corpos. Jessica se entregou totalmente a
ele, que a fez mulher, e que também descobriu que ela era fogosa. Dormiram
abraçados.
Na manhã seguinte
Jessica estava envergonhada, mas não arrependida. Ela queria ter uma lembrança
significativa de Leandro, e ser desvirginada por ele seria a melhor recordação
de sua vida.
O dia correu tranquilo,
Leandro a olhava de um modo diferente, mas não fez referência nenhuma aos
acontecimentos da noite. Ele apenas a olhava com intensidade.
Na semana seguinte, a
conversa que surgiu fazia menção ao rompimento do compromisso entre Juliano e
Aline. Ele estava se mudando para Dubai, aonde iria trabalhar. Era uma
experiência nova em sua história, e ele não queria a participação de Aline. Não
havia mais espaço para Aline, em sua vida.
Nada mais justo, pensou
Jessica, ao saber da novidade. E chegara também a sua hora de cair fora. Missão
cumprida! Agora Aline e Leandro poderiam viver o amor que os unia, livremente.
Em razão de trabalho,
Leandro precisou viajar. Decisão tomada e Jessica começou a organizar a sua
vida. Aproveitou a ausência dele.
Depois de uns dias Leandro
chegou cheio de saudades de Jessica. Como aquela garota estava inserida em sua
vida. Devagar ela foi tomando um espaço especial em seu coração. Ela era
quieta, sempre na dela, mas era uma garota extraordinária. Ele não se imaginava
mais, viver sem tê-la por perto. Iria sempre cuidar dela...
Entrou em casa, tudo
quieto, as janelas fechadas. Andou por todo o apartamento e nem sinal de
Jessica. Ela poderia ter ido ao mercado. Claro! Era isso!
Tomou um banho,
deitou-se para um cochilo. Acordou e nem sinal dela. Olhou o relógio. Credo! Já
era fim de tarde. Aonde Jessica estava. Ligou. Caixa postal.
Leandro foi a cozinha
tomar água, e então viu preso por imã na porta da geladeira um bilhete.
Bilhete, não! Uma carta para ele. Que teria acontecido? Uma preocupação tomou
conta dele. Pegou o papel para ler. Acendeu a luz, e se encostou na bancada.
“Leandro
não te preocupa, eu vou ficar bem. Eu já cumpri minha parte. Sei que o nosso
prazo era até o Natal, mas já tens a mulher que amas. Espero que com essa
loucura eu tenha contribuído para a tua felicidade.
Tu
és um cara especial. Aprendi a te querer bem, e está se tornando difícil para
mim conviver contigo, não por culpa tua, mas por razões que não quero revelar.
Eu
estou bem, consegui um trabalho e não sei como agradecer tudo o que fizestes
por mim. Talvez o melhor agradecimento seja sendo feliz ao lado de Aline. Faça
isso, seja feliz!
Não
me procure, e nem vou contar aonde moro e trabalho. Melhor assim. Deixemos que
as boas lembranças dos momentos que vivemos, permaneçam em nossos corações. Não
gosto de despedidas. Não deposite mais nada em minha conta. Me perdoe!”
Com amor
Jessica.
Ele releu o bilhete
mais de mil vezes. Não conseguia entender a razão que levou Jessica a se
afastar dele. E agora? Onde procurar? Leandro chorou a ausência de sua querida
amiga.
No dia seguinte ele foi
trabalhar. Estava abatido, não tinha pregado o olho, só pensando em um jeito de
ir busca-la. Quando entrou na empresa todos o olharam, incrédulos. Aquela
pessoa não era o Leandro que todos conheciam.
Seu trabalho não
rendeu. Cancelou as reuniões e foi a casa de sua mãe, Precisava conversar sobre
Jessica e a pessoa indicada era Maria Clara.
-- Meu filho me
explica, por que Jessica foi embora? Vocês brigaram?
-- Mãe, eu estava
viajando. Quando voltei ontem, não a encontrei, apenas um bilhete na porta da
geladeira. Não há explicação. Ela não explicou, apenas disse que nossa
convivência está a prejudicando.
-- Ela é apaixonada por
ti. Tu andaste aprontando, com certeza com a megera da Aline que não te dá paz.
Essa daí não presta.
-- Nossa relação sempre
foi aberta...
-- Aberta? Só de um
lado. Quando ela saiu com outro? E com quem? Nunca! Estou errada?
-- Não! Ela nunca saiu com ninguém.
-- Jogastes fora uma
joia rara, meu filho, para ficar com uma pedra falsa. Pensa nisso.
Aline ficou sabendo que
Jessica tinha ido embora. Ela vibrava! Tinha se livrado daquela “coisa
irritante” sem fazer esforço. Agora Leandro seria só dela, e absolutamente livre.
Precisa comemorar.
Telefonou para Leandro,
mas ele não atendeu. Ela insistia, mas só dava na caixa postal. Ele a estava
evitando?
Leandro estava
inconformado com o sumiço de Jessica. Ela era muito mais importante para ele do
que jamais imaginou. Aline ligava a cada cinco minutos, mas ele não estava
disposto a aturar a superficialidade dela. Como não percebeu isso antes? Aline
era uma mulher ser conteúdo, era só uma casca envernizada. Apenas isso! Ela era
um saco de idiotice. E ele um completo idiota...
Jessica era diferente,
tinha conteúdo. Era uma mulher completa... Ah! E que corpo! Ainda sentia o
calor de sua pele, a vibração que sentiu ao tê-la em seus braços... Sua mãe
tinha razão. Jessica era uma joia rara, e ele a deixou escapar.
Aonde ela estava? Era
sozinha, sem amigas e perdida em uma cidade grande e perigosa. Precisava
encontrá-la. Leandro foi buscar um especialista.
O tempo passava e
Jessica continuava sumida.
Jessica estava bem.
Sentia muitas saudades da família De Luca, sobretudo de Leandro. Mas a sua
decisão de sair da vida deles foi a mais acertada. Ela o amava com paixão, e
conviver com ele sabendo que ele amava outra mulher, não era fácil. Era um
sofrimento constante. Ainda sofria por causa do amor que transbordava em seu
peito, mas um dia iria passar.
Ela tinha conseguido um
quarto em uma pensão familiar, era barato, limpo e tinha duas refeições, café
da manhã e janta. Havia conseguido um trabalho de secretária de consultório
dentário. Ganhava um bom salário e dava para viver com simplicidade. Ela estava
economizando para comprar um pequeno apartamento. O valor que tinha ganhado
pelo “trabalho” prestado a Leandro era substancial, mas não suficiente.
Jessica tinha recebido autorização para sair
mais cedo, pois a dra. Bianca tinha uma reunião com amigas no fim da tarde,
naquela sexta-feira. Ela ajeitava suas coisas para sair, quando se surpreendeu
ao ver Maria Clara e Lais adentrarem o consultório. Estava perdida. Mas
precisava colocar um sorriso no rosto e saudá-las com alegria. Enfim eram amigas
da doutora.
-- Jessica! – Disse
Lais com um imenso sorriso.
-- Minha querida... –
Falou Maria Clara a abraçando. – Tu estas aqui. Leandro anda desesperado te
procurando.
-- Idiota tem que
passar trabalho, e meu irmão é um perfeito idiota, não concordas?
Jessica as abraçou
sorrindo. Estava emocionada e não conseguia falar. Por fim falou:
-- Fico feliz em
vê-las. Eu confesso que sinto muita falta dessa querida família.
-- Não vou perguntar
por que fugistes, tens tuas razões, mas não devias ter feito isso. Entregá-lo
facilmente para Aline... Isso foi um erro! – comentou Maria Clara.
Essas palavras cravaram
no coração de Jessica: “entrega-lo para Aline”. Eles estavam juntos e
felizes... Uma imensa vontade de chorar tomou conta dela, e foi com um enorme
esforço que Jessica segurou as lágrimas. Mas seus olhos estavam embaçados.
A dra. Bianca, abriu a
porta do consultório, dispensando a última cliente, as viu e disse:
-- Lais, querida! Maria
Clara! Que bom vê-las! Vamos passar... Jessica por favor providencie um cafezinho...
-- Sim senhora.
Jessica ainda tremia.
Um ótimo emprego e agora ela teria que deixar. Ela tinha sido descoberta...
Entrou na sala da doutora com preocupação. De Maria Clara, que tudo percebia,
ela não conseguia esconder seu nervosismo.
Enquanto Aline e Bianca
conversavam sobre o casamento de Emily, uma amiga comum, Maria Clara foi
conversar com Jessica.
-- Querida, não ficas
preocupada. Mas eu preciso te contar que meu filho está desesperado te
procurando. Se pensas que Aline tinha alguma importância para ele, estás
completamente enganada. Vou respeitar a tua opção e sem tua autorização não vou
revelar a ele o teu paradeiro. Aqui tens um bom emprego e não faça a bobagem de
abandoná-lo. Bianca e Lais são amigas desde os tempos da escola. Te descobrir aqui,
foi obra da providência divina.
-- Obrigada.
-- Só me explica por
que o deixastes?
-- Uma longa história.
Mas era preciso, eu não suportava mais aquela situação. Foi melhor assim. Cada
um para o seu lado.
-- Não concordo. Vocês
se amam e devem superar juntos as pedras do caminho. Considero a tua fuga como uma
fraqueza.
-- Talvez eu tenha sido
fraca ao aceitá-lo em minha vida.
-- Minha querida,
repensa essa tua decisão. Fico muito triste em ver duas pessoas que se amam
afastadas por coisas mal resolvidas. Pelo menos dê uma chance ao amor.
Conversem e depois decidam. Fica com o meu cartão, e não hesite em pedir ajuda
se precisar. Nós gostamos muito de ti.
-- Vou pensar sobre
isso. Eu sei que sou bem-quista na família De Luca. Obrigada.
Maria Clara não
conhecia todos os fatos, pensou Jessica, sobre o acerto que eles tinham feito,
e tão pouco, que o envolvimento de Leandro com Aline era muita mais forte do
que ela pudesse imaginar. Eles estavam juntos há muito tempo...
Naquele instante um
senhor bem-apessoado entrou na sala e se dirigiu a recepção e Jessica foi atende-lo.
-- Em que posso ajudar,
senhor?
-- Estou procurando por
Jessica Montes.
-- Sou eu. – Respondeu
apreensiva e olhou para Maria Clara, que também franziu a testa.
-- Tenho essa
correspondência para a senhorita. – Entregando um envelope grande de papel pardo.
-- Obrigada.
Depois que assinou o
recebimento do documento, Jessica olhou para Maria Clara com um jeito de
interrogação.
-- Não olhe para mim.
Não sei o que é isso.
Jessica guardou o
envelope em sua bolsa. Iria ler sozinha. Era a letra de Leandro.
Bianca e Lais saíram do
consultório abraçadas, despediram-se e Maria Clara e a filha foram embora. Já
era tarde. E Bianca a dispensou.
-- Pode ir. Eu fecho
tudo. Já passou da tua hora. Até amanhã.
-- Até amanhã. – Disse
Jessica pegando sua bolsa e saindo.
Foi a pé para a pensão.
Ela precisava colocar seu pensamento em ordem. O inesperado encontro com Maria
Clara e Lais tinha a deixado tensa. Aquela carta entregue pessoalmente, a qual
ainda não conhecia o conteúdo era também imprevista. O que mais falava
acontecer naquele dia?
Parou em uma cafeteria,
pediu uma água e abriu o envelope que queimava em suas mãos. Ela era só
curiosidade. Começou a ler...
“Minha
querida Jessica.
Eu
fiz tudo errado, por causa de um sonho juvenil, eu perdi a pessoa mais importante
de minha vida. Não vou te forçar a nada, mas preciso te revelar os meus
sentimentos. Eu te amo, amo, amo muito.
Só
descobri depois que partistes. Aline não representa nada para mim, era um sonho
bobo, reminiscências da adolescência. Minha irmã diz que sou idiota. Ela tem
razão.
Graças
ao Senhor eu consegui descobrir aonde vives, sei que estás trabalhando, e posso
te assegurar que Bianca é uma ótima pessoa, amiga de Lais desde os tempos de criança.
Saber
isso, sossega um pouco o meu coração, mas não é o suficiente para acalmá-lo
completamente. Prometi a mim mesmo cuidar de ti, e vou continuar cuidando, mesmo
à distância.
Sei
que cumpristes tudo o que combinamos, não posso te pedir mais nada, mas ainda
arrisco mais um pouquinho. Talvez tenhas saudades do tempo que passamos juntos,
e talvez tenhas vontade de voltar...
Então
me diga, meu amor, que eu vou te buscar, e nunca mais vou sair do teu lado,
porque és a mulher da minha vida, a minha joia preciosa, a minha razão de viver.
Espero
em breve poder te dar um belo presente, mas ainda não está em tempo. Não vou
desistir de ti, porque te amo. Não fujas mais de mim.
Sempre teu
Leandro”
Jessica chorava. Dobrou
a carta e colocou novamente no envelope. Precisava pensar. Já era noite quando
chegou a pensão. Dona Marina a aguardava com o seu jantar aquecido no forno.
-- Chegastes! Eu estava
preocupada. Nunca vens tão tarde. Chegou um pacote para ti, mas antes venha
jantar.
-- Um pacote? Meu dia
está cheio de surpresas...
Jessica comeu para
contentar dona Marina, que cuidava dela como se fosse sua mãe. Lavou seu prato,
deixou no escorredor e foi para o quarto. Logo viu o pacote em cima de sua
cama. O que seria? Abriu. Eram seus livros e mais alguns novos. Leandro os
tinha enviado... Agora mais nada os ligava!
Uma tristeza imensa
tomou conta de todo o seu ser, e ela chorou. Chorou pelo vazio de sua vida sem
Leandro, pela morte da mãe e por seu pai, que nem sabia de sua existência.
Na manhã seguinte ela
não levantou no horário habitual, e como era sábado, dona Marina não deu
importância. Mas já passavam das 10h e Jessica ainda não tinha levantado. Isso
era incomum. Bateu a porta do quarto, e não obteve resposta.
Dona Marina pegou em
seu chaveiro a chave mestra e abriu a porta. Jessica estava deitada, muito
pálida e ardia em febre. Procurou refrescá-la com uma toalha embebida em
vinagre, e foi fazer um chá.
Mas a febre não cedia.
Na segunda feira foi Marina quem avisou a doutora Bianca que Jessica continuava
com uma febre que não cedia e forte dor de cabeça.
Um médico foi chamado,
e não justificou a febre por sintomas de gripe, infecção ou problema pulmonar.
Os exames não acusavam nada. Então só poderia ser estresse. Atestou 15 dias de
repouso, e dispensa temporária do trabalho.
Passado o período
recomendado pelo médico, e houve mais um episódio de febre alta. Dona Marina
estava assustada, não queria ser responsável pelo “passamento” da moça. Que
estava ficando muito abatida. Devia ter emagrecido uns cinco quilos nos últimos
dias, não comia, não dormia e só chorava e queixava-se de dor de cabeça. Não
ficava mais em pé de tanta fraqueza.
Mas ela não tinha
ninguém no mundo. Procurou nas coisas da moça o nome de alguma amiga que
pudesse socorrê-la. Encontrou um cartão com um número de celular. Ligou
imediatamente.
-- Alo, é Maria Clara?
-- Sim, sou eu. Quem
fala?
-- Aqui é Marina, sou
dona da pensão onde mora a Jessica.
-- Sim o que aconteceu?
-- Ela está bem doente.
O médico falou que é doença emocional, mas eu estou com medo de que ela não
resista. Achei seu cartão na bolsa dela e liguei. A senhora me desculpa, mas
estou muito receosa.
-- Me dê o endereço.
Logo estarei aí.
Maria Clara chegou a
humilde pensão. Observou que era tudo muito simples, porém limpo. Foi recebida
com amabilidade pela dona, que logo a levou até o quarto de Jessica.
Maria Clara se assustou
ao ver a moça. Realmente ela estava muito descaída, precisava de um tratamento
para recuperar-se. Iria levá-la para sua casa.
-- Dona Marina, eu vou
levar Jessica para minha casa, até ela recuperar perfeitamente a saúde. Mas não
vou cancelar o quarto, porque não quero interferir nas decisões dela. Mas neste
momento ela precisa de ajuda. Vou pagar todas as despesas que a senhora teve
até aqui com medico, exames e medicações e mais a reserva do quarto. A senhora
veja quanto é.
-- Eu não sei se posso
deixá-la ir assim. Sei que ela não tem ninguém nessa vida. Mas liguei para
senhora num momento de pânico.
-- Entendo a sua
preocupação, e fico grata por ter esse apreço por Jessica, que uma pessoa
excelente, e merece toda a consideração. Talvez ela não queira ir comigo, mas é
para o bem dela. Vou deixar meu endereço e senhora pode ir a minha casa
verificar como ela está sendo tratada. Eu gosto muito dessa garota, aliás, não
só eu, mas toda a minha família. Ela foi noiva do meu filho.
-- Hum... Está
explicada a tristeza dela. Mal de amor... Coitada!
-- Sim. São dois
teimosos...
Nesse instante Jessica
acordou e espantada sussurrou:
-- Maria Clara? Como me
encontrou?
-- É uma longa história
que depois te conto. Eu estou aqui para te levar comigo. Vou cuidar de ti até
recuperares perfeitamente a saúde. Sem protesto, minha querida. Já conversei e
acertei tudo com a dona Marina.
-- Está bem.
-- Tu conheces essa
senhora? – Perguntou Marina ainda em dúvida.
-- Sim, ela é minha ex
sogra.
Maria Clara estava
sozinha, seu marido e filhos estavam na fazenda, Lais tinha ido para o
casamento da amiga na Argentina, aonde iria permanecer com a família de seu
noivo, Juan Carlos Arbiz. Dezembro já avançava.
Instalou Jessica no
antigo quarto de Leandro. Era um quarto espaçoso e livre do sol da tarde. Arrumou
as poucas coisas da moça no armário e preparou a cama, enquanto Jessica
descansava sentada em uma poltrona.
Encheu a banheira e
ajudou a moça se despir. Só então reparou a magreza dela. Assustou-se. Depois
que Jessica estava acomodada na cama, ligou para o seu primo “Dinho”, que era
um excelente médico clinico geral.
Dinho a examinou e
recomendou caminhadas matinais, pelo jardim para tomar um pouco de sol,
vitaminas e uma alimentação rica em ferro. Jessica estava com anemia. Maria
Clara prometeu cumprir todas as indicações do primo, que saiu com a promessa de
voltar em dois dias.
A febre havia cedido, e
a dor de cabeça aliviou. Agora era só esperar o organismo reagir. Jessica tinha
uma curiosidade para saber aonde estava Leandro. Aquela casa estava muito
calma. Não foi preciso perguntar. Logo Maria Clara falou sobre a família,
dizendo onde estava cada um deles.
Conforme havia dito o médico
voltou para examinar novamente Jessica. Ele a olhava de um modo estranho. Ela
ficou assustada, pensando que tinha piorada...
Assim que saiu do
quarto da paciente, Dinho foi conversar com Maria Claro sobre a recuperação da
jovem. Depois fez perguntas sobre a moça.
-- Eu estou te
perguntando porque ela é muito parecida com uma pessoa que eu conheci há muitos
anos...
-- Eu não sei nada a
respeito da família dela. Só sei que é sozinha no mundo, e que Leandro a
namorou, mas não deu certo. Eu a trouxe porque a encontrei muito mal. É uma boa
moça.
-- Se souber mais a
respeito dela, me informa. Porque a semelhança é muito grande para não ter uma
ligação com a pessoa que eu conheci.
-- Vou conversar com
Leandro a respeito.
Maria Clara acompanhava
Jessica no passeio pelo jardim, e as duas conversavam sobre muitas coisas e aos
poucos Maria Clara conseguiu saber mais sobre a vida de Jessica.
A cada Maria Clara descobria
um pouco mais, e também contava sobre a infância dos filhos, sobretudo de
Leandro. Era um conforto para Jessica falar sobre ele, pois era uma fonte
alegria para seu coração.
Jessica nunca tinha
recebido tanto carinho e atenção, como
naqueles dias. Isso ajudava na recuperação, e Dinho também percebendo a
carência da moça, ia seguidamente fazer companhia a jovem, eles conversavam e
jogavam, se divertiam juntos.
Na sexta feira seu
Antônio chegou, alegre como sempre saudou Jessica com carinho, fazendo ela
sentir-se acolhida em sua casa. Claro que sua esposa já tinha contado todo o
problema de saúde vivido pela jovem.
Lucio e Melissa também
estavam de volta. Apenas Leandro tinha ficado na fazenda, mas tinha prometido
passar o Natal com a família. Lais continuava com a família do noivo em Buenos
Aires.
Jessica estava
constrangida em participar junto com a família da ceia de Natal. Ela era uma
intrusa, estava ali de favor, por causa de sua saúde e por bondade da dona da
casa. Não tinha nem roupa adequada, pois ela não tinha levado consigo, as
roupas que Leandro havia comprado para ela. Não lhe pertenciam, ela havia usado
aquelas roupas numa encenação para qual ela havia sido contratada.
Maria Clara, entrou
naquela manhã no quarto que Jessica ocupava om uma caixa enorme. A colocou
sobre a cama e disse:
-- Espero que seja do
teu gosto. Quero te ver muito linda hoje à noite. Chamei a Lídia para vir
cortar e arrumar o teu cabelo, fazer pé e mão também.
-- Mas eu acho que não
vou descer...
-- E me fazer uma
desfeita? Não!
-- Desculpe. Mas...
-- Sem, mas... Eu estou
te pedindo que comemore conosco. Seremos apenas a família e alguns amigos
íntimos.
-- Está bem. – Abrindo
a caixa ela se encantou com o vestido. Deu um abraço em Maria Clara. –
Obrigada. A senhora é um anjo em minha vida.
-- Qual nada! É só
porque eu te quero muito bem.
-- Meu passeio se
foi... Começou a chover.
Maria Clara a deixou e
foi para o escritório de conversar com Antônio. Ela havia descoberto tantas
coisas que precisava compartilhar com o marido.
A sala estava decorada
com detalhes natalinos, a mesa de jantar também refletia o espirito de Natal.
Antônio e Maria Clara já estavam na sala esperando os filhos chegarem.
Lucio e Melissa
entraram apressados. Estava chovendo mais forte. Dinho também chegou seguido de
Leandro. Seriam apenas eles, um grupo restrito para uma noite muito importante.
Antônio pediu licença e
saiu da sala, enquanto Lucio servia as bebidas. Melissa contava muitas coisas
sobre a temporada na fazenda. Ela se encantava com tudo, amava a vida no campo
e estava decidida e se transferir definitivamente para lá.
Leandro estava quieto
só escutando sem entender porque Dinho estava entre eles, pois era um primo
distante de sua mãe. Estava tudo muito estranho... Sobrava um lugar a mesa.
Quem estava faltando? Dinho era solteiro, ou tinha arrumado uma namorada depois
de velho...?
Andava pensando muito
em Jessica. Ele tinha mandado aquela carta e ela se manteve quieta, não se
manifestou de forma alguma, nem para agradecer os livros... Ela não o queria,
era evidente. Ele não devia estar ali, devia ter ficado em casa, tomar uma
bebida forte e dormir...
Colocou a mão no bolso
e tocou a pequena caixa que ele sempre carregava com ele. Será que um dia teria
oportunidade de realizar o seu propósito? Tinha dúvidas...
Eis que ele avista seu pai
descendo a escada com uma jovem, com Jessica! E ela estava tão magra..., mas
continuava linda! O que ela fazia ali? E porque ela vinha da parte intima da
casa? O que estava acontecendo que ele não sabia?
Leandro estava tão
surpreso que não saiu do lugar, apenas virou-se para ficar de frente.
Foi Dinho que se
levantou e foi até ela dizendo:
-- Como estás linda,
minha querida! Te sentes bem?
Leandro estava atônito.
Dinho estava namorando a Jessica! Que coisa mais nojenta, e sua família
apoiando. Fez menção de sair, mas sua mãe o segurou pelo braço de disse ao seu
ouvido:
-- Não julgue pela
aparência. Existe uma história por trás de tudo isso.
-- A nossa querida
Jessica está aqui em casa se recuperando de uma anemia que a deixou muito
vulnerável. Estamos felizes por ela estar vencendo mais essa dificuldade. Seja bem-vinda
ao seio de nossa família. – Disse Maria Clara abraçando a jovem. – Somos também
gratos ao primo Dinho que tem cuidado dela com dedicação. Hoje brindaremos a
saúde com muita alegria.
-- Seja bem-vinda
maninha, disse Lucio a beijando na face, foi seguido por Melissa que a abraçou
com carinho e cochichando ao ouvido de Jessica – Estás um arraso!
Por fim Leandro se
dirigiu a ela, a abraçou e a beijou na testa, e disse baixinho:
-- Por que não me
avisaste que estavas doente?
-- Foi tudo muito
rápido, depois te conto tudo... Agora me deixa sentar, porque ainda não estou
forte o suficiente.
Ele a levou para o sofá,
no outro lado da sala, e sentou-se ao seu lado. Tomou suas mãos e as sentiu
geladas. Ela está nervosa ou será fraqueza? Um pouco afastados do demais eles
podiam conversar em particular.
Leandro a tratou com
carinho, contou sobre os seus dias na fazenda, e como era uma região bela, com
um relevo de ondulações suaves, por onde se estendiam as plantações de
oliveiras. Disse também que assim que
ela estivesse mais fortalecida, a levaria para conhecer.
De longe Maria Clara
percebeu que os olhos de Jessica tinham adquirido um novo brilho. Esses dois se
amam, ela pensou, precisam se entender. Dinho também observava a moça e comentou
com a prima:
-- A cura dessa menina
é Leandro. Ela é muito sensível, e alguma a fez sofrer intensamente, por isso
ela teve esse abalo profundo.
-- Eu espero que eles
se entendam. Aliás essa será uma noite especial preparada pelo Senhor Jesus,
que me deu condições de reunir todos aqui.
-- O que tens
preparado?
-- Uma surpresa para
todos. Espere.
Antes da Ceia de Natal,
Leandro se encheu de coragem e falou para Jessica:
-- Sei que iniciamos o
nosso relacionamento por vias erradas, mas quero consertar. Já reconheci que
fui um tolo, porque me deixei levar por um projeto antigo e juvenil. Mas eu
cresci! A tua decisão de me deixar me fez entrar em desesperação, e usei de
todos os meios para te encontrar. Tu bem sabes, pois enviei-te uma carta e
aguardei ansiosamente um sinal teu. E esse sinal não veio...
-- Mas eu adoeci...
-- Sim, hoje eu sei o
porquê. Mas ainda não sei qual é a tua vontade, e vou arriscar fazer uma
pergunta definitiva.
-- Pergunta?
-- Sim. Eu te amo e sei
que também me amas. E por isso quero saber se aceitas casar comigo o mais breve
possível. Aceitas?
-- Casar?
-- Sim, meu amor, estou
te pedindo em casamento
-- Sim eu aceito. –
Murmurou Jessica com lágrimas nos olhos.
Leandro a beijou ali,
diante de todos e com os olhos brilhando de felicidade anunciou a família:
-- Nós vamos nos casar.
Ela aceitou meu pedido.
-- Parabéns! -- Foi o
coro que eles escutaram.
-- Ele tirou do bolso
uma pequena caixa de veludo preto e colocou no dedo de Jessica o anel que ele
havia comprado para ela, há um tempo.
-- É lindo! Obrigada.
Como tinhas esse anel?
-- Eu comprei no dia
que te enviei os livros, lembra que eu escrevi em no fim que tinha um presente
para te dar? Desde então carrego no bolso...
Abraços e lágrimas e
muita emoção.
-- Eu já sabia que essa
noite seria especial – disse Maria Clara – e vai continuar com mais emoções.
Emoções que são dadivas de Deus. Hoje nesta noite tão especial para toda a
humanidade, coube a mim descobrir e revelar “segredos” que me foram confiados.
Não vou trair a confiança de quem me segredou, mas vou abrir a porta para um
futuro melhor, mais pleno.
-- Por que tanto
discurso, mãe? – Disse Lucio.
-- Ora, meu filho,
porque este momento eu considero até um pouco solene, pois não é todo dia que
se pode promover um encontro dessa magnitude.
-- Estou ficando com
medo. – Disse Melissa. – O que será que a sogra está preparando?
-- Apenas coisas boas,
minha querida.
-- Então fala logo. –
Disse Antônio – Estou ficando ansioso.
-- Esses dias em que
Jessica está aqui em casa, nós temos conversado muito, e ela me contou
praticamente toda a sua vida. E o mais importante, de tudo, é vontade que ela
sempre teve conhecer o pai, que aliás, nem sabe que ela existe. Um pouco antes
de morrer, a mãe dela lhe disse o nome do homem que é pai dela. Pois ela é
fruto de um amor intenso, porém muito breve. E quando ela me falou o nome, que
quase desmaiei, pois é uma pessoa que eu conheço, e que me é muito querida.
Jessica tremia, Leandro
a amparava, ela estava pálida, e Dinho se aproximou e pediu que ela sentasse,
ainda estava fraca. Leandro a fez sentar e ficou junto dela. Agora ele também
estava na expectativa de saber quem era o pai dela.
Dinho se empertigou,
começou a desconfiar que tudo não passava de uma brincadeira, pois Maria Clara
estava só enrolando. Então falou:
-- Mas diga logo o nome
desse sortudo.
-- Eu não vou dizer,
Jessica que vai dizer – Disse Maria Clara com suavidade, e olhando para a jovem
acrescentou – Diga, minha querida.
Jessica secou as lágrimas
e tomou folego e falou:
-- O nome do meu pai é
Armando Noel.
-- Eu -- gritou Dinho.
-- Eu sou teu pai! Bem que eu te achei parecida com tua mãe, és igual... –
Num salto ele a abraçou
e ambos choraram, aliás todos choravam.
-- Mas como era o nome
completo de tua mãe? Porque eu a conhecia como Ana de Castro.
-- O nome dela era Ana
Paula de Castro Montes.
-- Ana foi o amor de
minha vida. Eu era residente no hospital e ela trabalhava na lancheria. Era
linda demais! Foi uma paixão louca que nos envolveu. Eu terminei meu período e
fui transferido para cá. Ela não quis deixar a mãe que estava com se
recuperando de um derrame. E nunca mais nos vimos. Eu até voltei ao hospital em
busca dela, mas ela mudou de cidade depois da morte da mãe, e ninguém sabia o
paradeiro dela. Sofri muito. Nenhuma outra mulher teve o meu amor. Mas estou
feliz como nunca. Jamais imaginei um dia,
ter uma filha tão linda.
-- Um brinde gritou
Leandro, sirvam o champanhe e suco de laranja para minha noiva.
Foi uma noite festiva.
Leandro a queria em sua casa, mas Maria Clara não permitiu.
-- Venha tu para cá, porque Jessica ainda
precisa de muitos cuidados, e aqui ela tem tudo.
-- Ela só sai daqui
casada. – Disse Antônio.
-- Ah se eu tivesse
espaço te levaria para o meu apartamento. Mas é pequeno e muito espartano. Aqui
tens mais conforto minha filha. Virei todos os dias para recuperarmos o tempo
passado.
Dois meses depois
Jessica era uma noiva muito feliz. Recuperada a saúde estava pronta para vida
de felicidade que a esperava. Ela entrou na igreja pelo braço do pai. Era uma
noiva linda e radiante de felicidade...
Fim