A magia do Natal...
Valéria olhou em volta, havia pouca gente circulando
pela rua, àquela hora. Era a noite mais especial do ano, e as pessoas
costumavam comemorar com alegria, confraternizar em família.
Sentada
sozinha na praça deserta, ela escutou os sinos da igreja tocar. Já era meia
noite! Então é Natal... Valéria com tristeza pensou em seu pai. Sentia tantas
saudades...
Lembranças
vieram a sua mente. Reviveu a sua infância feliz, ao lado de seus pais, que se
amavam muito. Mas essa felicidade foi interrompida abruptamente, com a morte
prematura de sua mãe. Daí em diante tudo mudou. E ela tinha apenas 13 anos.
Outro
momento surgiu em seu pensamento, e esse dia ela jamais esqueceria. Naquele dia,
ela arrumou as suas poucas coisas, e sentou na pequena sala de sua casa, para
esperar por sua tia Lilian. Suspirou, Valéria estava com muito medo do futuro.
Seu
pai não queria despedidas, por isso saiu cedo de casa. Ele não a queria por
perto, depois da morte repentina da esposa. Ele afirmava que não tinha
condições de educá-la adequadamente. E
a opção, era ela ir viver na casa da tia, irmã mais velha de sua mãe.
Seu
pai dissera que a amava muito, por isso estava tão preocupado com o seu futuro.
Ele confessara que não tinha recursos para bancar os seus estudos, pois, era o
dinheiro que Albertina obtinha com a venda de doces, que sustentava a casa.
Agora que ela se fora... E, ele era um fracassado!
Valéria
teve um sobressalto com o soar da campainha. Sua tia havia chegado. Ela pegou a
sua valise e se encaminhou para a porta. Uma lágrima insistia em escorrer em
sua face. O seu coração sabia que nunca mais voltaria aquela sala, aquela casa,
onde conheceu a felicidade de viver em família. Antes de abrir a porta, ela
olhou em volta, tentando fixar em sua mente a imagem da casa em que nascera.
Com
coragem ela abriu a porta.
Ali
estava uma mulher elegante, e duas moças, bem vestidas, que a olhavam de alto a
baixo, eram as suas primas. Ana Rosa e Ana Maria, a receberam com um sorriso, e
a sua tia com um afetuoso abraço. O carro que a esperava era bonito.
Ela
encheu-se de esperança.
Talvez
não fosse tão ruim...
Tudo
daria certo!
A
casa, em que iria viver, era grande e bonita, tinha um jardim bem florido e Valéria
se animou. Uma mesa cheia de coisas boas estava a sua espera. E ela comeu, e
respondeu às perguntas de suas primas. A tia a olhava com atenção.
--
Já terminou o teu lanche? – Perguntou-lhe a tia. – Venha comigo, vou mostrar o
teu quarto.
Valéria
a seguiu escada acima. O quarto era grande e tinha até um banheiro, só para
ela. O armário estava cheio de roupas. Eram as sobras de suas primas, mas eram
bonitas. Não se importava. Ela nunca teve nada novo, mesmo! Sua mãe sempre comprava
as roupas em brecho.
Valéria
logo se adaptou a rotina da casa. Ela iria estudar na escola do bairro. Ana
Rosa e Ana Maria estudavam em outra escola, mas elas já estavam no segundo
grau.
A
vida seguiu.
No
entanto ela nunca mais viu seu pai.
Um
dia ela recebeu uma correspondência do pai.
Era
uma longa carta, onde ele explicava que mudaria de cidade, até de pais. Iria
trabalhar na Argentina. Uma promessa constava no fim da missiva: Um dia virei
te buscar. Te amo muito.
Valéria
chorou, e não acreditou na promessa de seu pai. Dobrou a carta, e a colocou
dentro do envelope e a guardou dentro de sua Bíblia.
Seis
anos tinham se passado.
Durante
esse período Valéria descobriu a razão de sua tia ser tão rica e sua mãe ter
sido tão pobre. As duas não eram filhas do mesmo pai. Sua avó, Olinda, antes de
morrer, confessou o seu pecado ao marido. José que ficou furioso com a traição
da esposa, e se vingou em Albertina. Ele a expulsou de casa.
A sua mãe, com apenas uma maleta, onde
carregava algumas coisas, e sem opção, foi trabalhar em uma padaria e ali
conheceu o amor de sua vida, o Jorge, seu o pai, que era padeiro. Agora ela
entendia a razão do afastamento das irmãs.
A
pobreza não impediu que Albertina e Jorge fossem felizes. O nascimento da filha
foi uma alegria para o casal, que deu a menina muito amor. Valéria cresceu em
uma família feliz. Só não esperava que a sua felicidade fosse tão breve.
Embora
a sua vida tivesse mudado, e viver na casa da tia significasse segurança e
conforto, para Valeria aquele ambiente era de hostilidade. Não havia paz e
harmonia, e sim brigas e discussões.
E
ela sonhava com um dia de paz...
O
dia em que pudesse viver em outro lugar.
Valeria
tinha terminado o segundo grau e parou e estudar. Trabalhava como secretária da
tia. Ela recebia um pequeno salário, no entanto, a moradia e a comida eram descontadas.
E praticamente não sobrava nada.
Ana
Rosa havia se casado, Ana Maria foi estudar no Canadá, o tio Carlos havia saído
de casa, e tia Lilian tinha se tornado uma pessoa insuportável.
Então
Valéria decidiu ir embora. Arrumou suas poucas coisas, e abandonou o conforto e
a segurança da casa da tia, para se aventurar na vida.
Naquela
noite, Valéria saiu sorrateiramente pelos fundos. Caminhou devagar pela rua
deserta. As casas estavam iluminadas, as famílias reunidas, a alegria imperava
nos lares.
E
era uma noite de dezembro, início do verão. Porém, uma noite atípica, para a
época. A noite estava fria e chuviscava.
A
praça estava toda decorada com lâmpadas coloridas e uma enorme árvore enfeitada
com laços vermelhos, lembrava que era a véspera do Natal.
Ela
sentou-se em um banco próximo a árvore. Apesar de todos os percalços de sua
vida, Valéria acreditava na magia do Natal. Era a época mais bonita do ano!
Um
sino badalava, anunciando o Natal.
Valéria
levantou-se e encaminhou-se para a igreja. Entrou e sentou no ultimo banco.
Fazia tanto tempo que não entrava em uma igreja. Lembrou-se dos bons tempos,
quando a mãe e o pai a levavam, todos os domingos, à missa.
Isso
tinha ficado no passado... Sua tia era agnóstica.
Atenta,
ela escutou cada palavra que o padre proferiu, e sentiu-se bem. Ficou
animada... Era Natal e tudo iria ficar bem. Seu coração encheu-se de esperança.
Esperou
que as pessoas saíssem, só então levantou-se para ir embora. Mas ir para onde?
Ela não tinha onde dormir. E se ficasse ali ... Era uma boa ideia. Escondeu-se atrás de uma coluna.
--
Olá! Estamos fechando, moça. – Falou uma senhora bondosa.
--
Eu sei. Pensei que talvez eu pudesse dormir aqui, afinal é a casa de Deus. –
Respondeu Valéria com sinceridade.
--
Sim, é a casa de Deus, mas esses bancos são desconfortáveis. Venha comigo, vou
te arranjar uma cama para esta noite. – Disse a mulher com doçura na voz. – É
Natal, uma noite especial. Teremos uma ceia que poderás partilhar conosco.
Venha. Eu sou a irmã Adele.
--
Eu sou a Valeria. Obrigada, irmã.
Depois
de fechar e trancar as portas a irmã caminhou pela lateral do templo, e entrou
numa porta que ficava à esquerda do presbitério. Seguiram por um corredor e
alcançaram o pátio. Andaram por um caminho ladeado por flores e chegaram a uma
casa. Ali residiam as irmãs franciscanas. Valeria foi acolhida com carinho pela
madre Josefa.
A
refeição foi deliciosa. A cama era limpa e ela dormiu tranquilamente. Sonhou
bons sonhos. Acordou revigorada. Na manhã seguinte a madre a chamou para
conversar. E Valéria narrou as suas desventuras, sem esconder nada.
--
E o que pretendes fazer? – Perguntou a madre.
--
Eu preciso conseguir um trabalho, e um lugar para morar. Não tenho nenhuma
formação. Mas gosto de fazer doces. A minha mãe era doceira e quando eu era menina,
eu a ajudava. E tomei gosto pela cozinha. Mas minha tia nunca permitiu que eu
desenvolvesse qualquer habilidade. Em sua casa havia profissionais para
desempenhar as tarefas.
--
Gostaria de morar conosco e trabalhar na escola? Há diferentes tarefas...
--
Seria ótimo, irmã. Mas eu não tenho religiosidade, perdi o contato com Deus, já
faz muito tempo.
--
Não vou te obrigar a nada, peço apenas que respeite a casa que te acolhe, e
sobretudo a casa de Deus. Mais tarde se quiser ir em busca de outro trabalho,
não vou te impedir.
--
Eu aceito, irmã, não estou em condições de rejeitar a sua oferta. Fico muito
agradecida. Espero estar apta para as tarefas que farei. E lhe prometo que vou
me aproximar de Jesus Cristo. Quero retomar a fé de meus pais.
--
Muito bem. Agora vamos tomar o nosso café. Depois vamos a missa.
Valéria
tomou um banho e vestiu-se rapidamente. Não queria se atrasar para a mesa do
desjejum. Ela sentia-se feliz naquela manhã de Natal.
O
almoço de Natal na casa das irmãs teve um convidado especial, o sobrinho da
madre Josefa. Giovani Dambróz, era um rapaz alegre e muito simpático.
Ele
estava, temporariamente, em Porto Alegre para estudar, faltava pouco para
terminar o seu curso. Logo voltaria ao convívio da sua família, no interior.
Enquanto
comiam ele conversou animadamente, contando fatos engraçados que fez com que
todos se divertissem. Uma troca discreta de pequenas lembranças encerrou a
visita do rapaz.
Valéria
pouco falou, mas ficou encantada com Giovani. Embora não fosse bonito, ele era
gentil e tinha um sorriso cativante. Será que o encontraria novamente?
Os
dias iam passando e Valéria estava se esforçando para fazer bem, o trabalho na
secretaria de escola. As matriculas estavam abertas para os novos alunos e
havia muito o que fazer.
Certa
manhã o computador não funcionou, e um técnico veio resolver o problema. Entrando
na sala ele falou.
--
Bom dia! Como vais Valéria? -- Giovani
ficou contente em revê-la.
--
Olá! Eu vou bem, obrigada, e tu como estás?
--
Bem, muito bem. O que aconteceu com a máquina?
--
Simplesmente não ligou...
Giovani
sentou-se e concentrou-se em seu trabalho. Em outra escrivaninha, Valéria
sentou-se e o observou trabalhar. Ela não conseguia desviar os olhos dele, que
vez e outra a olhava de viés e sorria. Parecia que um magnetismo a envolvia.
--
Tu vais ser freira? – Perguntou ele.
--
Não! Eu estou morando temporariamente com as irmãs. Passei por uma dificuldade
e elas me acolheram e me deram trabalho. – Respondeu ela.
--
Hum... És do interior?
--
Não. Sou daqui. Mas é uma longa história.
--
Hoje é sábado. – Disse ele a encarando. – Aceitas passear comigo, à tarde?
--
Eu? Não sei...
--
Acho que devias aceitar. É uma oportunidade para me contares a tua história.
Fiquei curioso. Não te preocupa, sou de confiança. Sou sobrinho da madre
Josefa.
--
Eu sei que és sobrinho da madre. – O interrompeu sorrindo.
--
A minha mãe e ela são irmãs. Vou pedir licença a tia para te levar para tomar
um sorvete. Aceitas?
--
Eu que sempre pensei que as freiras ficavam distantes da família. – Disse
Valeria pensativa.
--
Normalmente ficam. Minha família mora no interior, eu que vim para cá para trabalhar
e estudar. Estou cursando a faculdade de tecnologia.
--
Sim, eu sei. – Disse Valéria.
--
Bom dia! – Disse a madre Josefa entrando na sala. – Como estás, meu
querido? -- Se aproximando de Giovani e
o abraçando. – O que tem o PC.?
--
Estou fazendo uma limpeza. Pode ser vírus. – Respondeu ele retribuindo o
abraço.
--
Vejo que a Valéria está te atendendo. Ela é nossa nova secretária. – Falou a
madre sorrindo.
--
Tia, eu a convidei para tomar um sorvete... Ainda não obtive resposta. – Falou
ele rindo.
--
Aceite o convite. – Disse a madre alegremente. -- Ele é um bom rapaz, também é sozinho
nesta grande cidade. Será bom sair um pouco.
--
Está bem. Eu aceito.
A
tarde foi especial. Eles conversaram como se fossem velhos amigos. Giovani
gostou de estar com Valeria. Seu coração balançou, coisa que a sua razão não
queria admitir.
Valéria
também gostou muito da tarde que estiveram juntos. Embora nunca tivesse
sentindo algo semelhante, ela sabia que estava apaixonada.
Para
a alegria deles, aquele foi primeiro de muitos encontros. Eles formavam um belo
casal, olhavam a vida sob o mesmo ângulo e tinham o mesmo ideal.
Uma
ordem superior, transferiu a madre Josefa, assim como outras freiras para
outras casas da congregação. A troca na casa das irmãs, fez com que Valéria se
desacomodasse. Ela já tinha algumas economias, e isso a deixava mais segura. Era
hora de mudança. Hora de procurar outro trabalho, e lugar para morar.
Com
indicação da professora de português, a dona Mariel, ela conseguiu o lugar de
auxiliar de confeiteira no supermercado do bairro. Agora com um salário
regular, Valéria mudou-se para um minúsculo apartamento, que ficava bem próximo
do mercado.
Ela
estava realizada, pois estava fazendo o que tanto gostava. E conseguindo a sua
independência financeira.
Sua
vida fluía. O namoro com Giovani estava se firmando. Todavia a ausência do pai,
não permitia que ela fosse completamente feliz.
Através
da internet ela começou a procurar o senhor: Jorge Luís Silva Alves.
Giovani
tinha terminado o seu curso, e iria visitar os seus pais, em Tenente Portela,
na região noroeste do estado. Mas a sua intenção era ir para a sua cidade,
definitivamente. Queria trabalhar na empresa da família.
A família
Dambróz tinha uma pequena pousada, que ele desejava ampliar. Já a sua irmã
Marcela e o marido Lucas, trabalhavam com turismo.
--
Valéria, eu quero que conheças a minha família. – Disse ele implorando. – Eu vou voltar para o meu rincão.... E te
quero ao meu lado.
--
Tu sabes que não dá. Não posso me arriscar a perder esse emprego, do qual eu
tanto gosto. – Respondeu ela já irritada. – Além do mais, estou tentando
encontrar o meu pai. Preciso permanecer por aqui.
--
Emprego terás por lá, isso eu te garanto. E quanto ao teu pai, de qualquer
lugar poderás receber as informações. Acho que tu não estás querendo ir. –
Falou Giovani chateado.
--
Tens razão. Não quero ir mesmo! A tua cidade é muito pequena, deve ser um
buraco, e eu gosto daqui. Afinal foi aqui que sempre vivi. Se meu pai voltar, é
aqui que ele vai me procurar. – Afirmou Valéria.
--
Então estamos terminando? É isso? – Perguntou Giovani contrariado. Ele tinha um
amor enorme por ela, porém, agora estava percebendo que não era correspondido.
O namoro deles se sustentava numa via de mão única. E o amor era uma via de mão
dupla. Dar e receber. E com tristeza ele concluiu que nada recebia em troca de
tudo que entregava.
Eles
ficaram amuados. A despedida não foi seca. Apenas um tchau da parte dele.
Valéria nem respondeu, na verdade, ela não esperava que o namoro fosse rompido.
Mas foi...
Ainda
era possível mudar de ideia e ir com ele.
No
entanto, Valeria não quis ferir o seu orgulho. Viu ele se afastar, e nada disse
para suavizar a tensão entre eles. Estava tudo acabado. Era o fim. Pronto!
Giovani
chegou em casa, estava contente de ter retornado, mas seu coração continuava muito
machucado.
Os
dias passavam.
Depois
uns dias, Giovani disse aos pais:
--
Eu vou ficar, estou cheio de ideias para o melhorar o nosso negócio.
--
Que bom! – Respondeu o pai o abraçando. – Eu estou ficando velho, e sei que tu
farás a nossa hospedaria prosperar. Mas e a tua namorada?
--
Nós terminamos! – Falou com resignação. Tinha decidido tocar a vida para
frente. Não iria insistir em alguém que não lhe tinha amor. – Ela tem lá os
seus problemas. Depois que a mãe morreu, ela foi morar com a tia, e
distanciou-se do pai. E agora está a procura dele. É isso. Então, que cada um
siga o seu caminho.
--
Que pena. Estavas tão entusiasmado. A Josefa elogiou a moça. Eu tinha ficado bem
contente. Mas se não deu certo, paciência! – Disse, Cristina, a sua mãe. – Será
que essa moça é o que vocês estão pensando?
--
Mãe, a Valéria é uma pessoa direita, bem educada e trabalhadora. Só que é muito
sozinha, e com uma trajetória de vida bem complicada. Ela precisou morar com a
tia, e não foi nada fácil. E agora ela está tentando reencontrar o pai.
--
Mas não precisava ter terminado o namoro. Isso que eu acho estranho. Me
desculpe, vou te dizer o que penso. Ela não te ama. Se te amasse não abriria
mão do amor por causa de um pai, que ela nem sabe se ainda vive. – Falou
Cristina.
--
Eu sei, mãe. Eu até já fiz essa mesma reflexão. Mas ela tem as suas razões, não
vivi o que ela viveu, por isso não a culpo. Eu me conformei, ainda que, eu a ame
demais. Está sendo difícil para mim, muito difícil. Encerramos o assunto. Não
se fala mais sobre a Valeria.
--
Está bem. Não vou mais falar. – Confirmou Cristina pesarosa pelo filho.
Giovani
se entregou ao trabalho. Elaborou o projeto, que tinha em mente. O apresentou
aos pais, que logo aceitaram a proposta do filho, e imediatamente, concordaram
em investir na pousada. O fim de ano estava se aproximando, e era uma boa época
para o turismo na região.
O
tempo passava rapidamente.
Faltavam
poucos dias para o Natal.
A
pousada estava reestruturada, alguns detalhes nos quartos para deixar mais
acolhedor e confortável. No setor de
internet a mudança foi mais significativa. O site tinha ficado muito bom, e as reservas
para o verão estavam bombando.
Embora
o projeto de Giovani se mostrasse eficaz, Cristina, não percebia a alegria no
filho. Ele continuava sofrendo por amor.
Era
uma segunda feira, cedo da manhã, quando um homem se apresentou procurando
trabalho. Ele era muito humilde no modo de falar e vestir, e tinha um olhar
sofrido.
--
Eu preciso trabalhar. Estou sem documentos, eu os perdi. Não tenho como provar
quem eu sou. Faço qualquer serviço. Trabalho pela a cama e a comida.
--
O que sabe fazer? – Perguntou Catulino Dambróz.
--
Sou padeiro de profissão, mas pego qualquer trabalho. – Falou o homem.
--
Vou confiar no senhor, eu não sei nem o seu nome, e vou lhe pagar um salário e
vou lhe empregar como padeiro, fará pão e bolos para a nossa hospedaria.
--
Obrigado, senhor! Sou muito grato. Me chamo Jorge Luís Silva Alves.
--
Terás um quartinho para dormir. Fica ali nos fundos, atrás de garagem.
--
Deus lhe pague. – Falou o homem com lágrimas nos olhos. – O senhor não vai se
arrepender.
Valéria
sentia muita falta de Giovani, aquela separação provou que ela não conseguia
viver longe dele. Ela deu-se conta de que o amava, e precisava ir até ele.
Pretendia fazer uma surpresa no Natal.
Foi
conversar com o gerente do mercado, para pedir uma folga no Natal, mas o que
arrumou foi uma demissão. Agora estava mais uma vez sozinha, sem trabalho e com
o dinheiro escasso.
Sem
saber como agir, Valéria foi até a igreja. Talvez na casa de Deus, diante de
Jesus ela conseguisse tomar a decisão certa. Ela encontrou a porta lateral da
igreja aberta. Entrou, e ajoelhou-se para orar. Terminou a sua oração e
permaneceu quieta tentando escutar o seu coração.
Depois
de um tempo ela saiu decidida.
Naquela
mesma tarde ela tomou todas as providências, conversou com o seu senhorio e
combinou a entrega do apartamento que morava. Arrumou as suas coisas, que
continuavam sendo poucas, e foi para a rodoviária. Comprou a sua passagem.
Ao
entrar no ônibus, ela pensou: está será a maior aventura de minha vida. Ela pouco
dormiu durante o percurso. Eram muitas horas de viagem, o dia amanhecia quando
ela viu o pórtico da cidade. Suspirou aliviada, estavam chegando! Olhou a
paisagens e amou aqueles campos ondulados.
Valéria
caminhou devagar pela rua, conforme a indicação que recebeu de uma mulher. A
cidade era pequena, mas bem cuidada, e estava toda enfeitada para o Natal.
Ela
gostou da cidadezinha.
A
Pousada Dambróz tinha um pinheiro na frente, bem no meio do jardim, e ainda estava com as luzes acesas. O dia já estava
claro, no entanto, os habitantes da casa deviam estar dormindo.
Valéria
sentou-se no banco que havia no jardim. Ainda não sabia o que ia dizer para o
Giovani. Ficou apavorada ao pensar que ele não a quisesse mais. Talvez, até já
tivesse uma outra namorada.
Se
isso acontecesse, seria uma tragédia em sua vida; pois além de perder o amor de
sua vida, ela não tinha para onde voltar! E o que seria dela, com poucos
recursos num lugar estranho?
Em
sua história de vida, Deus já a tinha enviado um anjo, na pessoa da irmã Adele.
Outro milagre não aconteceria... Uma lágrima brotou em seus olhos, mas Valéria
não se deixou dominar pelo desespero. Respirou fundo, levantou-se e tocou a
campainha.
A
porta se abriu, e uma mulher lhe sorriu ao dizer:
--
Bom dia! Seja bem-vinda a nossa pousada. Tem reserva?
--
Bom dia! Não, eu não tenho reserva. Na verdade, eu estou procurando pelo
Giovani. Ele está? – Falou Valéria sentindo seu coração em disparada e as
pernas bambas.
--
Ah! O Giovani não está. Ele saiu bem cedo. Foi
num encontro de agentes de turismo em Três Passos. -- Explicou a mulher, a olhando com
interesse.
--
Bah! -- Valéria ficou decepcionada. Não sabia o que fazer. – E ele demora?
--
Ele volta hoje, acho que na parte da tarde. – Respondeu a senhora olhando para
a valise que Valéria carregava. – Estás chegando de viagem. Aceitas tomar um
café comigo? Depois vemos o que fazer.
--
Obrigada. Eu não sei se devo...
--
Eu sou a Cristina, a mãe do Giovani. E tu quem és?
--
A Valéria.
--
És amiga do meu filho. Ele já me falou sobre ti. Venha vamos tomar o café
juntas. – Falou Cristina conduzindo a moça para a sala do café.
Valéria
observou que o lugar era muito acolhedor. Bem limpo e arrumado. Ela gostou
muito ambiente. Também simpatizou com a dona Cristina.
A
mesa estava arrumada com uma variedade de pães e bolos; frutas e cereais;
queijos e salames; além de geleias e mel. O cheiro a fez lembrar a sua
infância, pois em sua casa sempre havia o odor adocicado dos bolos que sua mãe
fazia. Ao sentir o cheiro de pão fresquinho, o estomago de Valeria roncou.
Envergonhada, ela olhou para Cristina e sorriu.
Depois
da refeição, Cristina disponibilizou um quarto para a moça, que parecia abatida.
--
Muito obrigada. A senhora é muito gentil. – Agradeceu a moça sorrindo, e louca
de vontade de se atirar na cama e dormir um pouco.
--
Imagina, tu és amiga do meu filho. Ele ficaria desapontado comigo, se eu agisse
de outra forma. E dá para perceber que estás cansada. Descanse um pouco. Quando
o Giovani chegar, eu te aviso. – Disse Cristina, a deixando sozinha.
Valéria
tomou um banho rápido de deitou-se na cama. Dormiu, e acordou assustada com a
batida na porta. Credo! Não sabia aonde estava... Ela demorou a se situar.
Olhou o relógio, eram 10h30. Vestiu-se apressada e abriu a porta.
--
Desculpe. Eu dormi profundamente e tive dificuldade em acordar. O Giovani já
chegou...
--
Não, ele ligou. Eu disse que tu estavas aqui. E ele pediu para que o esperasse.
Ele retorna no fim da tarde. Portanto, se queres passear pela nossa pequenina
cidade, me acompanhe. – Falou Cristina entusiasmada. Ela amava a sua cidade, e
sempre que podia, mostrava os pontos altos de Tenente Portela.
Enquanto
caminhavam pela rua, dona Cristina ia falando com entusiasmo. Então Valéria
soube que a cidade tem um forte comercio local, que os campos produzem: soja,
trigo, milho e fumo; leite, suinocultura, avicultura e psicultura, além do ramo
madeireiro e moveleiro, e do turismo na região. Que são cerca de 14 mil
habitantes, sendo que quase 9 mil vivem na cidade.
Na
praça ela admirou o Monumento do Índio. Todo feito de sucata de metal e com 5
metros de altura. O monumento presta uma
homenagem aos primeiros habitantes do lugar: os Kaigang e Guaranis. A força
desse povo está evidente na robustez da estrutura, que foi feita pelo artista
Paulo de Siqueira, em 1985. E que por lei municipal, a estátua foi declarada
Patrimônio Histórico e Cultural do Município, em tributo ao primeiro cacique
Kaigang, da Terra Indígena Guarita.
Cristina
também falou sobre o Parque do Turvo que ficava em Derrubadas, município
vizinho. E do Salto do Yucumã, no rio Uruguai, que ali forma uma grande queda
d’água longitudinal sendo a maior do mundo em agua doce, com 1.700 metros de
cumprimento. Esse é um turismo regional, e a nossa cidade está bem estruturada
para receber os turistas. Aqui nós temos uma bacia hidrográfica que nos dá
muitas possibilidades. Acrescentou Cristina.
Valéria
prestava atenção em tudo que a sua companheira falava, e contagiada pelo
entusiasmo de Cristina, ela estava encantada pela pequena cidade, que enfeitada
com guirlandas, anjinhos, arvores e luzes, dava a tudo um clima de magia.
Naquele
passeio pela cidade, Cristina falou sobre a sua cidade, explicou algumas coisas
a moça, mas também fez perguntas. Uma forma de conhecer a jovem, um pouquinho
mais.
Cristina
gostou de Valéria. Estava torcendo para que o seu filho a aceitasse novamente,
porque era óbvio que a moça veio para reatar o namoro. E se tomou esta atitude,
era porque gostava do Giovani.
Depois
do almoço, Valéria se ofereceu para ajudar a na montagem da árvore de Natal.
Era um pinheiro natural enorme. Embora estivesse se espinhando ao colocar os
enfeites, ela estava feliz. Ela amava o Natal, e fazia muitos anos que ela não
vivia essa emoção.
Giovani
entrou na sala e ficou admirado ao ver Valeria em cima da escada ajeitando as
correntes de festão vermelho em volta da árvore. Ela falseou o pé e ele correu
para ampará-la.
--
Oi... Eu não te vi chegar – Falou Valéria descendo da escada. – Estou ajudando
um pouco a tua mãe, que foi tão gentil...
--
Oi... – Respondeu ele a olhando com intensidade. – Eu recém cheguei.
--
O que achas da árvore? Está bem? Ainda falta o presépio.
--
Sim, está muito bonita. Olha de longe e veja com os teus próprios olhos. O
presépio é sempre a mãe que arruma.
--
Bah...foi tão bom. Eu me lembrei do meu tempo de criança, quando eu, a mãe e o
pai enfeitávamos a árvore de Natal juntos. Era tão divertido...
--
Vamos tomar um sorvete? – Convidou Giovani, com a intenção de conversar a sós.
Sabia que se ficasse ali, a sua mãe ficaria tentando escutar a conversa.
--
Só me deixa juntar essas caixas. E podemos ir.
--
Eu te ajudo...
Ao
passar pela portaria da pousada, Giovani avisou ao pai que estavam saindo.
Estava nublado e bastante quente. Eles caminharam alguns passos e chegaram à
sorveteria. Escolheram os sabores e sentaram em uma mesa junto a parede.
Enquanto
saboreavam o gelado, a conversa foi sobre a cidade, sobre o passeio que ela
fizera com Cristina. Giovani a escutou, sorria do jeito dela falar, e a olhava
muito.
--
O que aconteceu para vires até aqui? – Indagou ele com seriedade. – Achou o teu
pai?
--
Não, e nem sei se vou voltar a vê-lo. Não obtive nenhuma resposta. Percebi que
tu tinhas razão, não é fácil, e as informações podem até serem falsas.
--
Então? – Insistiu ele.
--
Eu senti a tua falta. A minha vida ficou vazia, perdeu a alegria. Eu precisava
vir te ver. Então, pedi uma folga para vir passar o Natal contigo, e acabei
despedida. Entreguei o apartamento, juntei minhas coisas e vim para cá. Espero
conseguir um trabalho por aqui. Eu gostei da tua cidade...
--
Voltastes à estaca zero. – Falou ele com sentimento de vitória.
--
É. E outra irmã Adele, não vai passar pela minha vida para me dar abrigo. Sei
que eu fui grosseira contigo. Sei que fiz tudo errado, não agi conforme o meu
coração. E depois me arrependi.
--
E o que tu queres que eu faça? – Ele sabia que estava a maltratando, mas ele
também tinha sido maltratado.
--
Eu não sei... Vim por impulso. E confesso que quando aqui cheguei, fiquei com
muito medo de ter agido precipitadamente. Talvez, tu nem me queiras mais, e até
já tenhas outra namorada. – Valéria o olhava com o coração aflito. Suas mãos
tremiam, e ela estava a ponto de chorar. Ela sabia que ele era um cara legal...
Deveria ter outras moças o querendo.
--
Eu não tenho outra namorada, mas também não sei se quero voltar contigo. Tu me
deste um fora, do nada, sem motivo. Simples assim, um fora bem dado! E agora me
pedes para voltar? Não sei, eu preciso
pensar. – Ele foi sincero, disse o que realmente sentia. Seu coração ainda
estava machucado.
--
E o eu faço? – Com os olhos lacrimejando, ela não conseguia esconder a
decepção. Em sua imaginação, Giovani a receberia de braços abertos.
--
Falta pouco para o Natal. Eu te consigo um lugar para trabalhar temporariamente.
É como atendente de loja de brinquedos. Vamos até lá, eu vou te apresentar para
o seu Dino.
--
Eu não tenho como pagar a pousada. Paguei a multa do cancelamento do aluguel e
a passagem para cá, e não sobrou quase nada.
--
Ficas hospedada na pousada por minha conta.
Serás a minha convidada. – Disse ele levantando-se. – Vamos.
Os
dias passaram rapidamente. Valéria trabalhava com horário estendido, claro que
receberia mais, e por esta razão ela não se queixava. Ela saia cedo e voltava
tarde e cansada, e quase não via ninguém na pousada. Valéria só tomava o café
matinal na pousada. Seu Dino fornecia um almoço e um lanche no fim da tarde.
Assim quando chegava do trabalho, ia direto para o seu quarto, e não precisava
mais sair. Ela estava evitando encontrar-se com o Giovani.
Giovani
procedia como se Valéria não estivesse ali. Cristina não se intrometeu no
acerto deles. Não perguntou nada ao filho, mas era evidente que não tinham se
acertado. O aborrecimento dele demonstrava que Giovani continuava infeliz.
Catulino
estava satisfeito com o trabalho do novo padeiro. A variedade de pães,
biscoitos e bolos, que ele apresentava todas as manhãs no café, agradava aos
hospedes e a sua pousada estava tornando-se famosa pelo café da manhã que apresentava.
Decidido
a ajudar o seu novo empregado e regularizar a sua situação, Catulino procurou o
seu amigo Bruno Nunes, que era advogado, para providenciar a documentação de
Jorge Luís. E assim contratar legalmente o padeiro.
O
povo de Tenente Portela era bastante festeiro. Em seu calendário anual havia
várias festas e bailes programados. Inclusive as festas de fim de ano.
A representação
do Presépio Vivo na praça central estava marcada para o dia 23 as 21h. Como era
uma apresentação beneficente, e os lugares eram limitados, Giovani logo comprou
os ingressos.
No
domingo, Valéria trabalharia até as 13h. Estava um sol escaldante, e Giovani
resolveu ir buscá-la de carro. Estacionou o carro, entrou na loja como cliente.
Queria um brinquedo para a sua sobrinha, Camila que tinha apenas 3 anos. Foi a
Valéria que o atendeu. Ela mostrou as opções que tinham para a idade da menina.
E aconselhou que ele levasse uma boneca de pano, que além de ser leve, tinha o
tamanho apropriado e era muito bonitinha.
--
Já está na tua hora. Vou te esperar e voltamos juntos para casa – Disse ele.
--
Não precisa... – Respondeu ela, sentindo-se revigorada.
--
Tu não fazes ideia do calor que está na rua. Eu não me animei a vir a pé. Vou
levar um papo com o seu Dino.
--
Está bem.
Valéria
ficou nervosa com a presença dele na loja. Fazia dias que eles não se viam. Seu
coração estava saltando pela boca. Suspirou, devolveu as prateleiras os
brinquedos que havia mostrado, e foi pegar a sua bolsa. Seu Dino já havia
sinalizado que estavam fechando.
Giovani
abriu a porta do carro para ela, esperou que ela sentasse e a fechou, deu a
volta no veículo e sentou-se a direção, colocou o cinto, a olhou e perguntou:
--
Tenho uma proposta. Passamos em casa, almoçamos, vestimos uma bermuda e vamos a
Derrubadas. Quero te mostrar o rio Uruguai. Vais amar. – Ele estava animado com
o passeio. – É bem pertinho daqui.
--
Sim, vamos passear – Respondeu Valéria sentindo-se feliz. Talvez esse fosse um
recomeço para eles... Não podia negar a si mesma, essa oportunidade.
Foi
um passeio maravilhoso. Eles conversaram e divertiram-se como antes, mas
Giovani não a tocou e tão pouco falou qualquer coisa que se relacionasse ao
namoro. Haviam voltado aos tempos de amizade, só amizade.
Já
estavam chegando de volta a pousada, quando Giovani falou:
--
Vai ter a apresentação do Presépio Vivo, eu já comprei os ingressos. Gostaria
que fosses comigo. Sei que gostas dessas coisas. E como nossos dias são cheios,
pouco nos vemos... já quero deixar combinado.
--
Sim. Eu gosto muito. É a noite?
--
Sim. Na quarta-feira. Eu te pego na saída do trabalho.
--
Está bem. Obrigada!
--
Não tens o que agradecer. Eu também gosto e não quero ir sozinho. Então estamos
combinados.
Na
quarta-feira, Valéria arrumou-se melhor e foi trabalhar. Ela estava tão
ansiosa, que o dia se tornou muito longo. Ao enxergar Giovani parado na frente
da loja, ela sorriu e acenou. Despediu-se do seu patrão e foi ao encontro de
seu amigo.
--
Oi. – Disse ela com um imenso sorriso que iluminava o seu semblante.
--
Oi – Respondeu Giovani também sorrindo e a olhando com intensidade. – Vamos a
pé. E pertinho.
--
Vamos...
Caminhando
lado a lado, Giovani olhou para ela, seus olhares se encontraram, e ele a pegou
pela mão, entrelaçou os dedos e caminharam em silencio, como namorados. Valéria
não iria perguntar, mas aquele gesto significava muito. Eles estavam reatando o
namoro.
A
representação do Presépio Vivo foi sensacional, além do teatro, teve também a
apresentação de corais cantando músicas natalinas.
No
entanto, o melhor de tudo, foi que eles permaneceram de mãos dadas o tempo
inteiro. Foi uma noite cheia de emoções. Valéria não cabia em si de tanta
felicidade.
Cristina
logo percebeu a mudança de status entre o Giovani e a Valéria. Na intimidade do
seu quarto, ela disse ao marido:
--
Notaste o novo brilho no olhar do teu filho? Tenho certeza de que eles
voltaram. Valéria também está iluminada.
--
É... acho que sim. O Giovani me pareceu menos tenso. Então é isso. Eu ando
preocupado com a situação do nosso padeiro. Ele é um bom funcionário. Acho que
devíamos convidá-lo para a nossa ceia de Natal.
--
Sim. Vamos chamá-lo. Não tem cabimento deixar o homem sozinho enquanto
comemoramos a vinda do Menino Jesus. Não seria cristão.
--
Eu falo com ele. Agora vamos dormir. Estou cansado. O dia hoje não foi fácil. –
Disse o Catulino beijando a esposa na face.
Era
véspera de Natal.
Na
pousada já estava tudo planejado. Iriam a missa da vigília, fariam a ceia e
depois seria a troca de presentes.
Valéria
sabia da programação da família Dambróz, mas ficou retida no trabalho. Um
movimento de última hora não permitiu que seu Dino fechasse a loja no horário
previsto.
Ela
saiu da loja apressada, queria tomar um bom banho, e se arrumar para a ceia de
Natal. Com o dinheiro que recebeu, ela comprou alguns presentes. Soube que o
padeiro tinha sido convidado a participar com a família, ela não o conhecia,
mas o incluiu na lista de presentes. Na verdade, não eram presentes, eram
apenas lembrancinhas. Antes de ir para o seu quarto, Valéria colocou os seus
presentes embaixo de árvore de Natal.
Ela
tomou um banho, e enrolada na toalha, ela secou os cabelos, e depois deitou-se
um pouco para descansar. Dormiu. Acordou com uma batida na porta. Era Giovani a
chamando. Numa rapidez absurda Valéria vestiu-se. Desceu sorrindo.
Mais
um Natal a comemorar. Ela amava esta data.
Entrou
na sala e cumprimentou a todos e viu o padeiro sentado humildemente no canto.
Ela olhou para o homem e seu coração disparou. Ela um dia iria morre do coração!...
Eram tantas emoções em sua vida!
--
Pai? – Disse ela timidamente, aproximando-se do homem. Giovani ficou atento.
Será que ela havia encontrado o pai?
--
Valéria? És tu minha filha? – Disse o homem olhando para a moça a sua frente –
Céus! Tu estás igual a tua mãe... A minha saudosa Albertina. A tua tia Lilian
não te tratou bem?
--
Eu também tenho saudades da mamãe. Eu te encontrei meu pai... – Falou Valeria chorando. --Isso é um milagre
de Natal.
Pai
e filha se abraçaram.
A
emoção contaminou a todos. A ceia de Natal foi cheia de alegria, e histórias de
vida relatadas. Após a troca de presentes, Giovani se aproximou do seu Jorge
sorrindo e o abraçou.
--
O senhor me concede a mão de sua maravilhosa filha?
O
homem ficou sem saber o que responder. Olhou para a filha, como que pedindo
socorro, e ela sorrindo sinalizou um sim movendo a cabeça.
Então
cheio de orgulho, Jorge respondeu a moço:
--
É com imensa satisfação que eu lhe concedo a mão de minha filha. Que alegria! Eu pensei que nunca teria oportunidade de
dizer estas palavras. – Disse Jorge com os olhos marejados.
Giovani
abraçou o seu futuro sogro com lágrimas nos olhos. Ele tirou do bolso um par de
alianças. Pegou a mão de sua amada e colocou o anel no dedo anelar direito e a
seguir Valéria fez o mesmo. O casal de noivos sorriu e logo foram abraçados por
seus familiares.
Na
manhã do dia de Natal, todos foram a missa, na matriz Nossa Senhora Aparecida, pois
era preciso agradecer a Deus por todas as graças que receberam. O resgate do
amor que unia Valeria e Giovani; e pai e filha que se reencontraram na noite de
Natal.
Isso
era a Magia do Natal, como dizia Valéria, que não cabia em si de tanta
felicidade.
Maria Ronety Canibal
Dezembro 2022.
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