quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

A MAGIA DO NATAL

CONTO DE NATAL




                                      
 

                    A magia do Natal...

 

Valéria olhou em volta, havia pouca gente circulando pela rua, àquela hora. Era a noite mais especial do ano, e as pessoas costumavam comemorar com alegria, confraternizar em família.

Sentada sozinha na praça deserta, ela escutou os sinos da igreja tocar. Já era meia noite! Então é Natal... Valéria com tristeza pensou em seu pai. Sentia tantas saudades...

Lembranças vieram a sua mente. Reviveu a sua infância feliz, ao lado de seus pais, que se amavam muito. Mas essa felicidade foi interrompida abruptamente, com a morte prematura de sua mãe. Daí em diante tudo mudou. E ela tinha apenas 13 anos.

Outro momento surgiu em seu pensamento, e esse dia ela jamais esqueceria. Naquele dia, ela arrumou as suas poucas coisas, e sentou na pequena sala de sua casa, para esperar por sua tia Lilian.  Suspirou, Valéria estava com muito medo do futuro.

Seu pai não queria despedidas, por isso saiu cedo de casa. Ele não a queria por perto, depois da morte repentina da esposa. Ele afirmava que não tinha condições de educá-la adequadamente.  E a opção, era ela ir viver na casa da tia, irmã mais velha de sua mãe.

Seu pai dissera que a amava muito, por isso estava tão preocupado com o seu futuro. Ele confessara que não tinha recursos para bancar os seus estudos, pois, era o dinheiro que Albertina obtinha com a venda de doces, que sustentava a casa. Agora que ela se fora... E, ele era um fracassado!

Valéria teve um sobressalto com o soar da campainha. Sua tia havia chegado. Ela pegou a sua valise e se encaminhou para a porta. Uma lágrima insistia em escorrer em sua face. O seu coração sabia que nunca mais voltaria aquela sala, aquela casa, onde conheceu a felicidade de viver em família. Antes de abrir a porta, ela olhou em volta, tentando fixar em sua mente a imagem da casa em que nascera.

Com coragem ela abriu a porta.

Ali estava uma mulher elegante, e duas moças, bem vestidas, que a olhavam de alto a baixo, eram as suas primas. Ana Rosa e Ana Maria, a receberam com um sorriso, e a sua tia com um afetuoso abraço. O carro que a esperava era bonito.

Ela encheu-se de esperança.

Talvez não fosse tão ruim...

Tudo daria certo!

A casa, em que iria viver, era grande e bonita, tinha um jardim bem florido e Valéria se animou. Uma mesa cheia de coisas boas estava a sua espera. E ela comeu, e respondeu às perguntas de suas primas. A tia a olhava com atenção.

-- Já terminou o teu lanche? – Perguntou-lhe a tia. – Venha comigo, vou mostrar o teu quarto.

Valéria a seguiu escada acima. O quarto era grande e tinha até um banheiro, só para ela. O armário estava cheio de roupas. Eram as sobras de suas primas, mas eram bonitas. Não se importava. Ela nunca teve nada novo, mesmo! Sua mãe sempre comprava as roupas em brecho.

Valéria logo se adaptou a rotina da casa. Ela iria estudar na escola do bairro. Ana Rosa e Ana Maria estudavam em outra escola, mas elas já estavam no segundo grau.

A vida seguiu.

No entanto ela nunca mais viu seu pai.

Um dia ela recebeu uma correspondência do pai.

Era uma longa carta, onde ele explicava que mudaria de cidade, até de pais. Iria trabalhar na Argentina. Uma promessa constava no fim da missiva: Um dia virei te buscar. Te amo muito.

Valéria chorou, e não acreditou na promessa de seu pai. Dobrou a carta, e a colocou dentro do envelope e a guardou dentro de sua Bíblia.

Seis anos tinham se passado.

Durante esse período Valéria descobriu a razão de sua tia ser tão rica e sua mãe ter sido tão pobre. As duas não eram filhas do mesmo pai. Sua avó, Olinda, antes de morrer, confessou o seu pecado ao marido. José que ficou furioso com a traição da esposa, e se vingou em Albertina. Ele a expulsou de casa.

 A sua mãe, com apenas uma maleta, onde carregava algumas coisas, e sem opção, foi trabalhar em uma padaria e ali conheceu o amor de sua vida, o Jorge, seu o pai, que era padeiro. Agora ela entendia a razão do afastamento das irmãs.

A pobreza não impediu que Albertina e Jorge fossem felizes. O nascimento da filha foi uma alegria para o casal, que deu a menina muito amor. Valéria cresceu em uma família feliz. Só não esperava que a sua felicidade fosse tão breve.

Embora a sua vida tivesse mudado, e viver na casa da tia significasse segurança e conforto, para Valeria aquele ambiente era de hostilidade. Não havia paz e harmonia, e sim brigas e discussões.

E ela sonhava com um dia de paz...

O dia em que pudesse viver em outro lugar.

Valeria tinha terminado o segundo grau e parou e estudar. Trabalhava como secretária da tia. Ela recebia um pequeno salário, no entanto, a moradia e a comida eram descontadas. E praticamente não sobrava nada.

Ana Rosa havia se casado, Ana Maria foi estudar no Canadá, o tio Carlos havia saído de casa, e tia Lilian tinha se tornado uma pessoa insuportável.

Então Valéria decidiu ir embora. Arrumou suas poucas coisas, e abandonou o conforto e a segurança da casa da tia, para se aventurar na vida.

Naquela noite, Valéria saiu sorrateiramente pelos fundos. Caminhou devagar pela rua deserta. As casas estavam iluminadas, as famílias reunidas, a alegria imperava nos lares.

E era uma noite de dezembro, início do verão. Porém, uma noite atípica, para a época. A noite estava fria e chuviscava.

A praça estava toda decorada com lâmpadas coloridas e uma enorme árvore enfeitada com laços vermelhos, lembrava que era a véspera do Natal.

Ela sentou-se em um banco próximo a árvore. Apesar de todos os percalços de sua vida, Valéria acreditava na magia do Natal. Era a época mais bonita do ano!

Um sino badalava, anunciando o Natal.

Valéria levantou-se e encaminhou-se para a igreja. Entrou e sentou no ultimo banco. Fazia tanto tempo que não entrava em uma igreja. Lembrou-se dos bons tempos, quando a mãe e o pai a levavam, todos os domingos, à missa.

Isso tinha ficado no passado... Sua tia era agnóstica.

Atenta, ela escutou cada palavra que o padre proferiu, e sentiu-se bem. Ficou animada... Era Natal e tudo iria ficar bem. Seu coração encheu-se de esperança.

Esperou que as pessoas saíssem, só então levantou-se para ir embora. Mas ir para onde? Ela não tinha onde dormir. E se ficasse ali ... Era uma boa ideia.  Escondeu-se atrás de uma coluna.

-- Olá! Estamos fechando, moça. – Falou uma senhora bondosa.

-- Eu sei. Pensei que talvez eu pudesse dormir aqui, afinal é a casa de Deus. – Respondeu Valéria com sinceridade.

-- Sim, é a casa de Deus, mas esses bancos são desconfortáveis. Venha comigo, vou te arranjar uma cama para esta noite. – Disse a mulher com doçura na voz. – É Natal, uma noite especial. Teremos uma ceia que poderás partilhar conosco. Venha. Eu sou a irmã Adele.

-- Eu sou a Valeria. Obrigada, irmã.

Depois de fechar e trancar as portas a irmã caminhou pela lateral do templo, e entrou numa porta que ficava à esquerda do presbitério. Seguiram por um corredor e alcançaram o pátio. Andaram por um caminho ladeado por flores e chegaram a uma casa. Ali residiam as irmãs franciscanas. Valeria foi acolhida com carinho pela madre Josefa.

A refeição foi deliciosa. A cama era limpa e ela dormiu tranquilamente. Sonhou bons sonhos. Acordou revigorada. Na manhã seguinte a madre a chamou para conversar. E Valéria narrou as suas desventuras, sem esconder nada.

-- E o que pretendes fazer? – Perguntou a madre.

-- Eu preciso conseguir um trabalho, e um lugar para morar. Não tenho nenhuma formação. Mas gosto de fazer doces. A minha mãe era doceira e quando eu era menina, eu a ajudava. E tomei gosto pela cozinha. Mas minha tia nunca permitiu que eu desenvolvesse qualquer habilidade. Em sua casa havia profissionais para desempenhar as tarefas.

-- Gostaria de morar conosco e trabalhar na escola? Há diferentes tarefas...

-- Seria ótimo, irmã. Mas eu não tenho religiosidade, perdi o contato com Deus, já faz muito tempo.

-- Não vou te obrigar a nada, peço apenas que respeite a casa que te acolhe, e sobretudo a casa de Deus. Mais tarde se quiser ir em busca de outro trabalho, não vou te impedir.

-- Eu aceito, irmã, não estou em condições de rejeitar a sua oferta. Fico muito agradecida. Espero estar apta para as tarefas que farei. E lhe prometo que vou me aproximar de Jesus Cristo. Quero retomar a fé de meus pais.

-- Muito bem. Agora vamos tomar o nosso café. Depois vamos a missa.

Valéria tomou um banho e vestiu-se rapidamente. Não queria se atrasar para a mesa do desjejum. Ela sentia-se feliz naquela manhã de Natal.

O almoço de Natal na casa das irmãs teve um convidado especial, o sobrinho da madre Josefa. Giovani Dambróz, era um rapaz alegre e muito simpático.

Ele estava, temporariamente, em Porto Alegre para estudar, faltava pouco para terminar o seu curso. Logo voltaria ao convívio da sua família, no interior.

Enquanto comiam ele conversou animadamente, contando fatos engraçados que fez com que todos se divertissem. Uma troca discreta de pequenas lembranças encerrou a visita do rapaz.

Valéria pouco falou, mas ficou encantada com Giovani. Embora não fosse bonito, ele era gentil e tinha um sorriso cativante. Será que o encontraria novamente?

Os dias iam passando e Valéria estava se esforçando para fazer bem, o trabalho na secretaria de escola. As matriculas estavam abertas para os novos alunos e havia muito o que fazer.

Certa manhã o computador não funcionou, e um técnico veio resolver o problema. Entrando na sala ele falou.

-- Bom dia! Como vais Valéria?  -- Giovani ficou contente em revê-la.

-- Olá! Eu vou bem, obrigada, e tu como estás?

-- Bem, muito bem. O que aconteceu com a máquina?

-- Simplesmente não ligou...

Giovani sentou-se e concentrou-se em seu trabalho. Em outra escrivaninha, Valéria sentou-se e o observou trabalhar. Ela não conseguia desviar os olhos dele, que vez e outra a olhava de viés e sorria. Parecia que um magnetismo a envolvia.

-- Tu vais ser freira? – Perguntou ele.

-- Não! Eu estou morando temporariamente com as irmãs. Passei por uma dificuldade e elas me acolheram e me deram trabalho.  – Respondeu ela.

-- Hum... És do interior?

-- Não. Sou daqui. Mas é uma longa história.

-- Hoje é sábado. – Disse ele a encarando. – Aceitas passear comigo, à tarde?

-- Eu? Não sei... 

-- Acho que devias aceitar. É uma oportunidade para me contares a tua história. Fiquei curioso. Não te preocupa, sou de confiança. Sou sobrinho da madre Josefa.

-- Eu sei que és sobrinho da madre. – O interrompeu sorrindo.

-- A minha mãe e ela são irmãs. Vou pedir licença a tia para te levar para tomar um sorvete. Aceitas?

-- Eu que sempre pensei que as freiras ficavam distantes da família. – Disse Valeria pensativa.

-- Normalmente ficam. Minha família mora no interior, eu que vim para cá para trabalhar e estudar. Estou cursando a faculdade de tecnologia.

-- Sim, eu sei. – Disse Valéria.

-- Bom dia! – Disse a madre Josefa entrando na sala. – Como estás, meu querido?  -- Se aproximando de Giovani e o abraçando. – O que tem o PC.?

-- Estou fazendo uma limpeza. Pode ser vírus. – Respondeu ele retribuindo o abraço.

-- Vejo que a Valéria está te atendendo. Ela é nossa nova secretária. – Falou a madre sorrindo.

-- Tia, eu a convidei para tomar um sorvete... Ainda não obtive resposta. – Falou ele rindo.

-- Aceite o convite. – Disse a madre alegremente. -- Ele é um bom rapaz, também é sozinho nesta grande cidade. Será bom sair um pouco.

-- Está bem. Eu aceito.

A tarde foi especial. Eles conversaram como se fossem velhos amigos. Giovani gostou de estar com Valeria. Seu coração balançou, coisa que a sua razão não queria admitir.

Valéria também gostou muito da tarde que estiveram juntos. Embora nunca tivesse sentindo algo semelhante, ela sabia que estava apaixonada.

Para a alegria deles, aquele foi primeiro de muitos encontros. Eles formavam um belo casal, olhavam a vida sob o mesmo ângulo e tinham o mesmo ideal.

 

Uma ordem superior, transferiu a madre Josefa, assim como outras freiras para outras casas da congregação. A troca na casa das irmãs, fez com que Valéria se desacomodasse. Ela já tinha algumas economias, e isso a deixava mais segura. Era hora de mudança. Hora de procurar outro trabalho, e lugar para morar.

Com indicação da professora de português, a dona Mariel, ela conseguiu o lugar de auxiliar de confeiteira no supermercado do bairro. Agora com um salário regular, Valéria mudou-se para um minúsculo apartamento, que ficava bem próximo do mercado.

Ela estava realizada, pois estava fazendo o que tanto gostava. E conseguindo a sua independência financeira.

Sua vida fluía. O namoro com Giovani estava se firmando. Todavia a ausência do pai, não permitia que ela fosse completamente feliz.

Através da internet ela começou a procurar o senhor: Jorge Luís Silva Alves.

Giovani tinha terminado o seu curso, e iria visitar os seus pais, em Tenente Portela, na região noroeste do estado. Mas a sua intenção era ir para a sua cidade, definitivamente. Queria trabalhar na empresa da família.

A família Dambróz tinha uma pequena pousada, que ele desejava ampliar. Já a sua irmã Marcela e o marido Lucas, trabalhavam com turismo.

-- Valéria, eu quero que conheças a minha família. – Disse ele implorando. –  Eu vou voltar para o meu rincão.... E te quero ao meu lado.

-- Tu sabes que não dá. Não posso me arriscar a perder esse emprego, do qual eu tanto gosto. – Respondeu ela já irritada. – Além do mais, estou tentando encontrar o meu pai. Preciso permanecer por aqui.

-- Emprego terás por lá, isso eu te garanto. E quanto ao teu pai, de qualquer lugar poderás receber as informações. Acho que tu não estás querendo ir. – Falou Giovani chateado.

-- Tens razão. Não quero ir mesmo! A tua cidade é muito pequena, deve ser um buraco, e eu gosto daqui. Afinal foi aqui que sempre vivi. Se meu pai voltar, é aqui que ele vai me procurar. – Afirmou Valéria.

-- Então estamos terminando? É isso? – Perguntou Giovani contrariado. Ele tinha um amor enorme por ela, porém, agora estava percebendo que não era correspondido. O namoro deles se sustentava numa via de mão única. E o amor era uma via de mão dupla. Dar e receber. E com tristeza ele concluiu que nada recebia em troca de tudo que entregava.

Eles ficaram amuados. A despedida não foi seca. Apenas um tchau da parte dele. Valéria nem respondeu, na verdade, ela não esperava que o namoro fosse rompido. Mas foi...

Ainda era possível mudar de ideia e ir com ele.

No entanto, Valeria não quis ferir o seu orgulho. Viu ele se afastar, e nada disse para suavizar a tensão entre eles. Estava tudo acabado. Era o fim. Pronto!

 

Giovani chegou em casa, estava contente de ter retornado, mas seu coração continuava muito machucado.

Os dias passavam.

Depois uns dias, Giovani disse aos pais:

-- Eu vou ficar, estou cheio de ideias para o melhorar o nosso negócio.

-- Que bom! – Respondeu o pai o abraçando. – Eu estou ficando velho, e sei que tu farás a nossa hospedaria prosperar. Mas e a tua namorada?

-- Nós terminamos! – Falou com resignação. Tinha decidido tocar a vida para frente. Não iria insistir em alguém que não lhe tinha amor. – Ela tem lá os seus problemas. Depois que a mãe morreu, ela foi morar com a tia, e distanciou-se do pai. E agora está a procura dele. É isso. Então, que cada um siga o seu caminho.

-- Que pena. Estavas tão entusiasmado. A Josefa elogiou a moça. Eu tinha ficado bem contente. Mas se não deu certo, paciência! – Disse, Cristina, a sua mãe. – Será que essa moça é o que vocês estão pensando?

-- Mãe, a Valéria é uma pessoa direita, bem educada e trabalhadora. Só que é muito sozinha, e com uma trajetória de vida bem complicada. Ela precisou morar com a tia, e não foi nada fácil. E agora ela está tentando reencontrar o pai.

-- Mas não precisava ter terminado o namoro. Isso que eu acho estranho. Me desculpe, vou te dizer o que penso. Ela não te ama. Se te amasse não abriria mão do amor por causa de um pai, que ela nem sabe se ainda vive. – Falou Cristina.

-- Eu sei, mãe. Eu até já fiz essa mesma reflexão. Mas ela tem as suas razões, não vivi o que ela viveu, por isso não a culpo. Eu me conformei, ainda que, eu a ame demais. Está sendo difícil para mim, muito difícil. Encerramos o assunto. Não se fala mais sobre a Valeria.

-- Está bem. Não vou mais falar. – Confirmou Cristina pesarosa pelo filho.

Giovani se entregou ao trabalho. Elaborou o projeto, que tinha em mente. O apresentou aos pais, que logo aceitaram a proposta do filho, e imediatamente, concordaram em investir na pousada. O fim de ano estava se aproximando, e era uma boa época para o turismo na região.

O tempo passava rapidamente.

Faltavam poucos dias para o Natal. 

A pousada estava reestruturada, alguns detalhes nos quartos para deixar mais acolhedor e confortável.  No setor de internet a mudança foi mais significativa.  O site tinha ficado muito bom, e as reservas para o verão estavam bombando.

Embora o projeto de Giovani se mostrasse eficaz, Cristina, não percebia a alegria no filho. Ele continuava sofrendo por amor.

 

Era uma segunda feira, cedo da manhã, quando um homem se apresentou procurando trabalho. Ele era muito humilde no modo de falar e vestir, e tinha um olhar sofrido.

-- Eu preciso trabalhar. Estou sem documentos, eu os perdi. Não tenho como provar quem eu sou. Faço qualquer serviço. Trabalho pela a cama e a comida.

-- O que sabe fazer? – Perguntou Catulino Dambróz.

-- Sou padeiro de profissão, mas pego qualquer trabalho. – Falou o homem.

-- Vou confiar no senhor, eu não sei nem o seu nome, e vou lhe pagar um salário e vou lhe empregar como padeiro, fará pão e bolos para a nossa hospedaria.

-- Obrigado, senhor! Sou muito grato. Me chamo Jorge Luís Silva Alves.

-- Terás um quartinho para dormir. Fica ali nos fundos, atrás de garagem.

-- Deus lhe pague. – Falou o homem com lágrimas nos olhos. – O senhor não vai se arrepender.

 

Valéria sentia muita falta de Giovani, aquela separação provou que ela não conseguia viver longe dele. Ela deu-se conta de que o amava, e precisava ir até ele. Pretendia fazer uma surpresa no Natal.

Foi conversar com o gerente do mercado, para pedir uma folga no Natal, mas o que arrumou foi uma demissão. Agora estava mais uma vez sozinha, sem trabalho e com o dinheiro escasso.

Sem saber como agir, Valéria foi até a igreja. Talvez na casa de Deus, diante de Jesus ela conseguisse tomar a decisão certa. Ela encontrou a porta lateral da igreja aberta. Entrou, e ajoelhou-se para orar. Terminou a sua oração e permaneceu quieta tentando escutar o seu coração.

Depois de um tempo ela saiu decidida.

Naquela mesma tarde ela tomou todas as providências, conversou com o seu senhorio e combinou a entrega do apartamento que morava. Arrumou as suas coisas, que continuavam sendo poucas, e foi para a rodoviária. Comprou a sua passagem.

Ao entrar no ônibus, ela pensou: está será a maior aventura de minha vida. Ela pouco dormiu durante o percurso. Eram muitas horas de viagem, o dia amanhecia quando ela viu o pórtico da cidade. Suspirou aliviada, estavam chegando! Olhou a paisagens e amou aqueles campos ondulados.

Valéria caminhou devagar pela rua, conforme a indicação que recebeu de uma mulher. A cidade era pequena, mas bem cuidada, e estava toda enfeitada para o Natal.

Ela gostou da cidadezinha.

A Pousada Dambróz tinha um pinheiro na frente, bem no meio do jardim, e ainda  estava com as luzes acesas. O dia já estava claro, no entanto, os habitantes da casa deviam estar dormindo.

Valéria sentou-se no banco que havia no jardim. Ainda não sabia o que ia dizer para o Giovani. Ficou apavorada ao pensar que ele não a quisesse mais. Talvez, até já tivesse uma outra namorada.

Se isso acontecesse, seria uma tragédia em sua vida; pois além de perder o amor de sua vida, ela não tinha para onde voltar! E o que seria dela, com poucos recursos num lugar estranho?

Em sua história de vida, Deus já a tinha enviado um anjo, na pessoa da irmã Adele. Outro milagre não aconteceria... Uma lágrima brotou em seus olhos, mas Valéria não se deixou dominar pelo desespero. Respirou fundo, levantou-se e tocou a campainha.

A porta se abriu, e uma mulher lhe sorriu ao dizer:

-- Bom dia! Seja bem-vinda a nossa pousada. Tem reserva?

-- Bom dia! Não, eu não tenho reserva. Na verdade, eu estou procurando pelo Giovani. Ele está? – Falou Valéria sentindo seu coração em disparada e as pernas bambas.

-- Ah! O Giovani não está. Ele saiu bem cedo. Foi  num encontro de agentes de turismo em Três Passos.  -- Explicou a mulher, a olhando com interesse.

-- Bah! -- Valéria ficou decepcionada. Não sabia o que fazer. – E ele demora?

-- Ele volta hoje, acho que na parte da tarde. – Respondeu a senhora olhando para a valise que Valéria carregava. – Estás chegando de viagem. Aceitas tomar um café comigo? Depois vemos o que fazer.

-- Obrigada. Eu não sei se devo...

-- Eu sou a Cristina, a mãe do Giovani. E tu quem és?

-- A Valéria.

-- És amiga do meu filho. Ele já me falou sobre ti. Venha vamos tomar o café juntas. – Falou Cristina conduzindo a moça para a sala do café.

Valéria observou que o lugar era muito acolhedor. Bem limpo e arrumado. Ela gostou muito ambiente. Também simpatizou com a dona Cristina.

A mesa estava arrumada com uma variedade de pães e bolos; frutas e cereais; queijos e salames; além de geleias e mel. O cheiro a fez lembrar a sua infância, pois em sua casa sempre havia o odor adocicado dos bolos que sua mãe fazia. Ao sentir o cheiro de pão fresquinho, o estomago de Valeria roncou. Envergonhada, ela olhou para Cristina e sorriu.

Depois da refeição, Cristina disponibilizou um quarto para a moça, que parecia abatida.

-- Muito obrigada. A senhora é muito gentil. – Agradeceu a moça sorrindo, e louca de vontade de se atirar na cama e dormir um pouco.

-- Imagina, tu és amiga do meu filho. Ele ficaria desapontado comigo, se eu agisse de outra forma. E dá para perceber que estás cansada. Descanse um pouco. Quando o Giovani chegar, eu te aviso. – Disse Cristina, a deixando sozinha.

Valéria tomou um banho rápido de deitou-se na cama. Dormiu, e acordou assustada com a batida na porta. Credo! Não sabia aonde estava... Ela demorou a se situar. Olhou o relógio, eram 10h30. Vestiu-se apressada e abriu a porta.

-- Desculpe. Eu dormi profundamente e tive dificuldade em acordar. O Giovani já chegou...

-- Não, ele ligou. Eu disse que tu estavas aqui. E ele pediu para que o esperasse. Ele retorna no fim da tarde. Portanto, se queres passear pela nossa pequenina cidade, me acompanhe. – Falou Cristina entusiasmada. Ela amava a sua cidade, e sempre que podia, mostrava os pontos altos de Tenente Portela.

Enquanto caminhavam pela rua, dona Cristina ia falando com entusiasmo. Então Valéria soube que a cidade tem um forte comercio local, que os campos produzem: soja, trigo, milho e fumo; leite, suinocultura, avicultura e psicultura, além do ramo madeireiro e moveleiro, e do turismo na região. Que são cerca de 14 mil habitantes, sendo que quase 9 mil vivem na cidade.

Na praça ela admirou o Monumento do Índio. Todo feito de sucata de metal e com 5 metros de altura.  O monumento presta uma homenagem aos primeiros habitantes do lugar: os Kaigang e Guaranis. A força desse povo está evidente na robustez da estrutura, que foi feita pelo artista Paulo de Siqueira, em 1985. E que por lei municipal, a estátua foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural do Município, em tributo ao primeiro cacique Kaigang, da Terra Indígena Guarita.

Cristina também falou sobre o Parque do Turvo que ficava em Derrubadas, município vizinho. E do Salto do Yucumã, no rio Uruguai, que ali forma uma grande queda d’água longitudinal sendo a maior do mundo em agua doce, com 1.700 metros de cumprimento. Esse é um turismo regional, e a nossa cidade está bem estruturada para receber os turistas. Aqui nós temos uma bacia hidrográfica que nos dá muitas possibilidades. Acrescentou Cristina.

Valéria prestava atenção em tudo que a sua companheira falava, e contagiada pelo entusiasmo de Cristina, ela estava encantada pela pequena cidade, que enfeitada com guirlandas, anjinhos, arvores e luzes, dava a tudo um clima de magia.

Naquele passeio pela cidade, Cristina falou sobre a sua cidade, explicou algumas coisas a moça, mas também fez perguntas. Uma forma de conhecer a jovem, um pouquinho mais.

Cristina gostou de Valéria. Estava torcendo para que o seu filho a aceitasse novamente, porque era óbvio que a moça veio para reatar o namoro. E se tomou esta atitude, era porque gostava do Giovani.

Depois do almoço, Valéria se ofereceu para ajudar a na montagem da árvore de Natal. Era um pinheiro natural enorme. Embora estivesse se espinhando ao colocar os enfeites, ela estava feliz. Ela amava o Natal, e fazia muitos anos que ela não vivia essa emoção.

Giovani entrou na sala e ficou admirado ao ver Valeria em cima da escada ajeitando as correntes de festão vermelho em volta da árvore. Ela falseou o pé e ele correu para ampará-la.

-- Oi... Eu não te vi chegar – Falou Valéria descendo da escada. – Estou ajudando um pouco a tua mãe, que foi tão gentil...

-- Oi... – Respondeu ele a olhando com intensidade. – Eu recém cheguei.

-- O que achas da árvore? Está bem? Ainda falta o presépio.

-- Sim, está muito bonita. Olha de longe e veja com os teus próprios olhos. O presépio é sempre a mãe que arruma.

-- Bah...foi tão bom. Eu me lembrei do meu tempo de criança, quando eu, a mãe e o pai enfeitávamos a árvore de Natal juntos. Era tão divertido...

-- Vamos tomar um sorvete? – Convidou Giovani, com a intenção de conversar a sós. Sabia que se ficasse ali, a sua mãe ficaria tentando escutar a conversa.

-- Só me deixa juntar essas caixas. E podemos ir.

-- Eu te ajudo...

Ao passar pela portaria da pousada, Giovani avisou ao pai que estavam saindo. Estava nublado e bastante quente. Eles caminharam alguns passos e chegaram à sorveteria. Escolheram os sabores e sentaram em uma mesa junto a parede.

Enquanto saboreavam o gelado, a conversa foi sobre a cidade, sobre o passeio que ela fizera com Cristina. Giovani a escutou, sorria do jeito dela falar, e a olhava muito.

-- O que aconteceu para vires até aqui? – Indagou ele com seriedade. – Achou o teu pai?

-- Não, e nem sei se vou voltar a vê-lo. Não obtive nenhuma resposta. Percebi que tu tinhas razão, não é fácil, e as informações podem até serem falsas.

-- Então? – Insistiu ele.

-- Eu senti a tua falta. A minha vida ficou vazia, perdeu a alegria. Eu precisava vir te ver. Então, pedi uma folga para vir passar o Natal contigo, e acabei despedida. Entreguei o apartamento, juntei minhas coisas e vim para cá. Espero conseguir um trabalho por aqui. Eu gostei da tua cidade...

-- Voltastes à estaca zero. – Falou ele com sentimento de vitória.

-- É. E outra irmã Adele, não vai passar pela minha vida para me dar abrigo. Sei que eu fui grosseira contigo. Sei que fiz tudo errado, não agi conforme o meu coração. E depois me arrependi.

-- E o que tu queres que eu faça? – Ele sabia que estava a maltratando, mas ele também tinha sido maltratado.

-- Eu não sei... Vim por impulso. E confesso que quando aqui cheguei, fiquei com muito medo de ter agido precipitadamente. Talvez, tu nem me queiras mais, e até já tenhas outra namorada. – Valéria o olhava com o coração aflito. Suas mãos tremiam, e ela estava a ponto de chorar. Ela sabia que ele era um cara legal... Deveria ter outras moças o querendo.

-- Eu não tenho outra namorada, mas também não sei se quero voltar contigo. Tu me deste um fora, do nada, sem motivo. Simples assim, um fora bem dado! E agora me pedes para voltar?  Não sei, eu preciso pensar. – Ele foi sincero, disse o que realmente sentia. Seu coração ainda estava machucado.

-- E o eu faço? – Com os olhos lacrimejando, ela não conseguia esconder a decepção. Em sua imaginação, Giovani a receberia de braços abertos.

-- Falta pouco para o Natal. Eu te consigo um lugar para trabalhar temporariamente. É como atendente de loja de brinquedos. Vamos até lá, eu vou te apresentar para o seu Dino.

-- Eu não tenho como pagar a pousada. Paguei a multa do cancelamento do aluguel e a passagem para cá, e não sobrou quase nada.

-- Ficas hospedada na pousada por minha conta.  Serás a minha convidada. – Disse ele levantando-se. – Vamos.

Os dias passaram rapidamente. Valéria trabalhava com horário estendido, claro que receberia mais, e por esta razão ela não se queixava. Ela saia cedo e voltava tarde e cansada, e quase não via ninguém na pousada. Valéria só tomava o café matinal na pousada. Seu Dino fornecia um almoço e um lanche no fim da tarde. Assim quando chegava do trabalho, ia direto para o seu quarto, e não precisava mais sair. Ela estava evitando encontrar-se com o Giovani.

Giovani procedia como se Valéria não estivesse ali. Cristina não se intrometeu no acerto deles. Não perguntou nada ao filho, mas era evidente que não tinham se acertado. O aborrecimento dele demonstrava que Giovani continuava infeliz.

 

Catulino estava satisfeito com o trabalho do novo padeiro. A variedade de pães, biscoitos e bolos, que ele apresentava todas as manhãs no café, agradava aos hospedes e a sua pousada estava tornando-se famosa pelo café da manhã que apresentava.

Decidido a ajudar o seu novo empregado e regularizar a sua situação, Catulino procurou o seu amigo Bruno Nunes, que era advogado, para providenciar a documentação de Jorge Luís. E assim contratar legalmente o padeiro.

 

O povo de Tenente Portela era bastante festeiro. Em seu calendário anual havia várias festas e bailes programados. Inclusive as festas de fim de ano.

A representação do Presépio Vivo na praça central estava marcada para o dia 23 as 21h. Como era uma apresentação beneficente, e os lugares eram limitados, Giovani logo comprou os ingressos.

No domingo, Valéria trabalharia até as 13h. Estava um sol escaldante, e Giovani resolveu ir buscá-la de carro. Estacionou o carro, entrou na loja como cliente. Queria um brinquedo para a sua sobrinha, Camila que tinha apenas 3 anos. Foi a Valéria que o atendeu. Ela mostrou as opções que tinham para a idade da menina. E aconselhou que ele levasse uma boneca de pano, que além de ser leve, tinha o tamanho apropriado e era muito bonitinha.

-- Já está na tua hora. Vou te esperar e voltamos juntos para casa – Disse ele.

-- Não precisa... – Respondeu ela, sentindo-se revigorada.

-- Tu não fazes ideia do calor que está na rua. Eu não me animei a vir a pé. Vou levar um papo com o seu Dino.

-- Está bem.

Valéria ficou nervosa com a presença dele na loja. Fazia dias que eles não se viam. Seu coração estava saltando pela boca. Suspirou, devolveu as prateleiras os brinquedos que havia mostrado, e foi pegar a sua bolsa. Seu Dino já havia sinalizado que estavam fechando.

Giovani abriu a porta do carro para ela, esperou que ela sentasse e a fechou, deu a volta no veículo e sentou-se a direção, colocou o cinto, a olhou e perguntou:

-- Tenho uma proposta. Passamos em casa, almoçamos, vestimos uma bermuda e vamos a Derrubadas. Quero te mostrar o rio Uruguai. Vais amar. – Ele estava animado com o passeio. – É bem pertinho daqui.

-- Sim, vamos passear – Respondeu Valéria sentindo-se feliz. Talvez esse fosse um recomeço para eles... Não podia negar a si mesma, essa oportunidade.

Foi um passeio maravilhoso. Eles conversaram e divertiram-se como antes, mas Giovani não a tocou e tão pouco falou qualquer coisa que se relacionasse ao namoro. Haviam voltado aos tempos de amizade, só amizade.

Já estavam chegando de volta a pousada, quando Giovani falou:

-- Vai ter a apresentação do Presépio Vivo, eu já comprei os ingressos. Gostaria que fosses comigo. Sei que gostas dessas coisas. E como nossos dias são cheios, pouco nos vemos... já quero deixar combinado.

-- Sim. Eu gosto muito. É a noite?

-- Sim. Na quarta-feira. Eu te pego na saída do trabalho.

-- Está bem. Obrigada!

-- Não tens o que agradecer. Eu também gosto e não quero ir sozinho. Então estamos combinados.

 

Na quarta-feira, Valéria arrumou-se melhor e foi trabalhar. Ela estava tão ansiosa, que o dia se tornou muito longo. Ao enxergar Giovani parado na frente da loja, ela sorriu e acenou. Despediu-se do seu patrão e foi ao encontro de seu amigo.

-- Oi. – Disse ela com um imenso sorriso que iluminava o seu semblante.

-- Oi – Respondeu Giovani também sorrindo e a olhando com intensidade. – Vamos a pé. E pertinho.

-- Vamos...

Caminhando lado a lado, Giovani olhou para ela, seus olhares se encontraram, e ele a pegou pela mão, entrelaçou os dedos e caminharam em silencio, como namorados. Valéria não iria perguntar, mas aquele gesto significava muito. Eles estavam reatando o namoro.

A representação do Presépio Vivo foi sensacional, além do teatro, teve também a apresentação de corais cantando músicas natalinas.

No entanto, o melhor de tudo, foi que eles permaneceram de mãos dadas o tempo inteiro. Foi uma noite cheia de emoções. Valéria não cabia em si de tanta felicidade.

 

Cristina logo percebeu a mudança de status entre o Giovani e a Valéria. Na intimidade do seu quarto, ela disse ao marido:

-- Notaste o novo brilho no olhar do teu filho? Tenho certeza de que eles voltaram. Valéria também está iluminada.

-- É... acho que sim. O Giovani me pareceu menos tenso. Então é isso. Eu ando preocupado com a situação do nosso padeiro. Ele é um bom funcionário. Acho que devíamos convidá-lo para a nossa ceia de Natal.

-- Sim. Vamos chamá-lo. Não tem cabimento deixar o homem sozinho enquanto comemoramos a vinda do Menino Jesus. Não seria cristão.

-- Eu falo com ele. Agora vamos dormir. Estou cansado. O dia hoje não foi fácil. – Disse o Catulino beijando a esposa na face.

 

Era véspera de Natal.

Na pousada já estava tudo planejado. Iriam a missa da vigília, fariam a ceia e depois seria a troca de presentes.

Valéria sabia da programação da família Dambróz, mas ficou retida no trabalho. Um movimento de última hora não permitiu que seu Dino fechasse a loja no horário previsto.

Ela saiu da loja apressada, queria tomar um bom banho, e se arrumar para a ceia de Natal. Com o dinheiro que recebeu, ela comprou alguns presentes. Soube que o padeiro tinha sido convidado a participar com a família, ela não o conhecia, mas o incluiu na lista de presentes. Na verdade, não eram presentes, eram apenas lembrancinhas. Antes de ir para o seu quarto, Valéria colocou os seus presentes embaixo de árvore de Natal.

Ela tomou um banho, e enrolada na toalha, ela secou os cabelos, e depois deitou-se um pouco para descansar. Dormiu. Acordou com uma batida na porta. Era Giovani a chamando. Numa rapidez absurda Valéria vestiu-se. Desceu sorrindo.

Mais um Natal a comemorar. Ela amava esta data.

Entrou na sala e cumprimentou a todos e viu o padeiro sentado humildemente no canto. Ela olhou para o homem e seu coração disparou. Ela um dia iria morre do coração!... Eram tantas emoções em sua vida!

-- Pai? – Disse ela timidamente, aproximando-se do homem. Giovani ficou atento. Será que ela havia encontrado o pai?

-- Valéria? És tu minha filha? – Disse o homem olhando para a moça a sua frente – Céus! Tu estás igual a tua mãe... A minha saudosa Albertina. A tua tia Lilian não te tratou bem?

-- Eu também tenho saudades da mamãe. Eu te encontrei meu pai...  – Falou Valeria chorando. --Isso é um milagre de Natal.

Pai e filha se abraçaram.

A emoção contaminou a todos. A ceia de Natal foi cheia de alegria, e histórias de vida relatadas. Após a troca de presentes, Giovani se aproximou do seu Jorge sorrindo e o abraçou.

-- O senhor me concede a mão de sua maravilhosa filha?

O homem ficou sem saber o que responder. Olhou para a filha, como que pedindo socorro, e ela sorrindo sinalizou um sim movendo a cabeça.

Então cheio de orgulho, Jorge respondeu a moço:

-- É com imensa satisfação que eu lhe concedo a mão de minha filha. Que alegria!  Eu pensei que nunca teria oportunidade de dizer estas palavras. – Disse Jorge com os olhos marejados.

Giovani abraçou o seu futuro sogro com lágrimas nos olhos. Ele tirou do bolso um par de alianças. Pegou a mão de sua amada e colocou o anel no dedo anelar direito e a seguir Valéria fez o mesmo. O casal de noivos sorriu e logo foram abraçados por seus familiares.

Na manhã do dia de Natal, todos foram a missa, na matriz Nossa Senhora Aparecida, pois era preciso agradecer a Deus por todas as graças que receberam. O resgate do amor que unia Valeria e Giovani; e pai e filha que se reencontraram na noite de Natal.

Isso era a Magia do Natal, como dizia Valéria, que não cabia em si de tanta felicidade.

                                           Maria Ronety Canibal

                                                 Dezembro 2022.


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