A DECISÃO
Nina e Sandra era as melhores
amigas desde os tempos de escola. A casa de Sandra era o ponto de encontro da
turma de amigos, pois era uma casa enorme e tinha uma sala que D. Rute, mãe de Sandra, havia destinado para
eles. Tinha uma entrada lateral e uma lareira bem no meio da peça, que dividia
em dois ambientes, além de um lavabo e as portas-janelas se abriam para a
piscina. Ali aos fins de semana a turma se reunia. Havia muito tempo que se
conheciam, alguns cresceram juntos e hoje já adultos e mantinham a amizade, eles
eram um grupo de quinze amigos.
D. Rute viúva e professora
aposentada transformou sua casa em uma pensão para moças, e gostava muito do
movimento e da algazarra dos jovens. Jéssica, Beatriz, Priscila, Mônica, Roberta,
Laís e Cátia moravam na pensão. Com exceção de Cátia que era mais velha, todas
as outras eram estudantes e faziam parte do grupo de amigos.
Naquele sábado, Marcelo chegou
com um amigo. Ele era seu colega de faculdade e muito “boa praça”. Todos
acolheram Eduardo com alegria. Jéssica olhou o recém-chegado e disse para Nina:
-- Bah, ele é um pedaço de mau
caminho. É muito bonito...
-- É, mas tem um tipo arrogante.
-- Tu achas?
-- Sim, observa o jeito de olhar
para as gurias. Ele se acha.
Enquanto Nina dizia essas
palavras, o olhar de Eduardo se encontrou com os olhos dela e ela sentiu algo
que não gostou. Mas ficou quieta. Sandra entrou com uma bandeja de cachorro
quente colocou sobre a mesa onde já havia bebida e pediu que se servissem
enquanto estava quente.
Nina esperou um pouco e depois
foi se servir. Mas antes de ela chegar à mesa Eduardo se adiantou e a serviu.
Ela sem jeito agradeceu a gentileza. Ele puxou assunto e ela foi obrigada a
conversar um pouco com ele. Jéssica que viu a cena e estava atrás dele ria
dela. E isso deixou Nina arisca. E ela tratou de se afastar dele.
Sandra pediu a palavra. Tinha
tido uma ideia para o feriadão. Seu tio tinha um sitio a beira do rio, e a
sugestão era de eles acamparem para uma pescaria. Houve discussão, mas por fim
a sugestão foi acolhida.
Nina tentou cair fora da tal
pescaria, mas como houve muitos protestos ela teve que concordar em ir. Teriam
que providenciar muitas coisas. Cada um se propondo a assumir uma tarefa.
Já depois de tudo acertado,
Eduardo perguntou:
-- E eu estou incluído?
-- Mas claro que sim. – Foi a
resposta de quase todos.
Nina saiu dali e foi ajudar d.
Rute que estava providenciando uma nova rodada de cachorro quente. Enquanto ela
estava na cozinha, eles decidiram se dividir em duplas para melhor cumprirem a
missão de organizar a pescaria. Como havia no grupo casais de namorados não
tinha muito que escolher. Jéssica estava ficando com Marcelo e sobrava Nina,
Sandra e Laís. Mas Eduardo logo pediu para Nina ser a sua parceira, pois eles
moravam próximos, essa foi a desculpa que ele deu.
Quando Nina chegou com a bandeja
todos a rodearam. E Eduardo ficou para trás, tirou a bandeja da mão dela,
colocou sobre a mesa, e preparou dois cachorros para eles. Sentaram para comer
e então ela soube das duplas. Nina não seria grosseira a ponto de protestar,
afinal era só até o feriadão, dali a alguns dias.
Era início da noite quando soprou
um vento forte, que os deixou apreensivos e logo faltou luz. Eles queriam jogar
cartas, mas tiveram que fazer outro tipo de jogo. E Bia sugeriu que cada um
contasse uma mentira que poderia ser cômica ou dramática.
Foi Vinicius quem iniciou e contou um caso de
assombração. Depois foi Sandra que contou uma situação engraçada e assim foram
até que as últimas mentiras eram de assombração e pânico. Nina não gostava de estar no escuro, e se
achegou inconscientemente para mais perto de Eduardo, que sentiu sua presença e
pegou sua mão que estava gelada.
E do céu caia uma chuvarada tocada
a vento. A luz voltou e já era bem tarde e Eduardo ofereceu carona para Nina e
Marcelo que tinha vindo com ele. Eduardo deixou primeiro Marcelo em casa e Nina ficou para o fim, porque realmente eles
moravam muito próximos, no mesmo quarteirão.
Depois de tomar um banho Nina
deitou tentando dormi, mas em seu pensamento estava Eduardo que a tinha
perturbado muito. Ela achava que ele tinha um ar de arrogância, no jeito de
andar e olhar para as pessoas. Ele era alto, forte, cabelos castanhos claros e
olhos azuis, um rosto com feições bem marcadas. Era bonito! Ela não entendia
porque ela tinha ficado tão mexida, e nervosa ao saber que teria que estar em
dupla com ele.
Eduardo já conhecia Nina de
vista, a via sempre passar em frente a sua loja. Ele se interessara por ela, e
já tinha algumas informações. Sabia que ela era solteira, morava sozinha, sem família,
tinha vinte e dois anos, estudava Nutrição e trabalhava meio turno em uma
escola infantil.
Nina era uma moça de estatura
mediana, era gordinha e tinha um rosto lindo, um par de olhos castanhos escuros
com feições delicadas emolduradas por um cabelo castanho caídos até os ombros.
Para Eduardo ela era muito linda. Ele pensava nela todos os dias e agora que a
tinha conhecido com certeza, sonharia acordado com ela e teria dificuldade para
dormir. Ainda bem que outro dia era domingo.
O domingo amanheceu chovendo.
Nina decidiu não sair. Ia aproveitar e arrumar seu armário. Mas Jéssica ligou
dizendo que todos estavam convocados para almoçar, pois d. Rute estava fazendo
lasanha para todos. Por fim Nina concordou, não queria fazer desfeita para D.
Rute que era tão legal com todo o mundo. E além do mais era um almoço muito
gostoso e barato. Eles costumavam dividir o valor gasto com os ingredientes.
Nina se arrumou e ficou esperando
por Marcelo, mas quem apareceu foi Eduardo para levá-la para almoçar. Ele tocou
o interfone e disse:
--Oi estou te aguardando aqui
embaixo.
-- Ok, estou descendo.
Mas quando ela chegou diante dele
ela se mostrou surpreendida:
-- Tudo bem? Pensei que fosse
Marcelo.
-- Decepcionada?
-- Não... Só pensei...
-- Vamos, o carro está ali.
Eles correram até o carro, pois a
chuva estava mais forte. Quando ele estava dando partida no carro, Nina
perguntou:
-- Onde tu moras?
-- Em cima a Papelaria.
-- Ali? Somos vizinhos?
-- Sim, e a loja é minha.
-- Hum... Eu nunca te vi... E já
comprei muitas coisas lá.
-- Eu sei...
-- Mas como? Tu ficas escondido?
-- No escritório atrás da porta
de vidro.
-- Bah, eu nunca notei que tinha
um escritório ali. Mas não dá para ver da loja, não é?
-- Na verdade eu vejo a rua e a
loja de onde trabalho. Realmente é para ser uma porta discreta.
Quando chegaram à casa de d.
Rute, Nina se afastou de Eduardo. A proximidade dele a deixava muito inquieta.
Sentou junto de Sandra e entrou no assunto que rolava: a pescaria. Agora só
falavam nisso.
Sandra anunciou que tinha avisado
o seu tio, que ficou muito contente e disse que iria participar com a turma. As
moças poderiam se ajeitar na casa e os rapazes no galpão. Mas precisavam levar
saco de dormir ou rede. Porque cama só tinha uma, e seria dele.
E dentro de casa tinha duas camas
de casal e um beliche e um sofá. Então algumas das gurias teriam que levar saco
de dormir ou colchonete e roupa de cama. Banheiro na casa tinha dois e no galpão
tinha mais um.
Havia um lugar para churrasco, e
a cozinha era grande. A casa tinha um avarandado que rodeava a casa, e uma
piscina. Havia uma trilha no mato que subia o morro e outra que descia para o
rio. Poderiam fazer boas caminhadas.
Todos ficaram muito entusiasmados
com o passeio que estavam programando.
D. Rute chamou para o almoço, e
quando Nina se deu conta, ele estava sentado ao seu lado. Sandra e Jéssica
olharam para ela e começaram a rir. Ela olhou para elas muito séria e Eduardo
percebeu os olhares e perguntou:
-- Alguma coisa errada?
-- Não, nada. Elas são umas
crianças grandes, ficam falando bobagens o tempo todo.
-- Hum. Tu não gostas de falar
coisas bobas e dar boas risadas?
-- Eu gosto, mas...
Ela foi salva por D. Rute que
iniciou uma oração antes da refeição iniciar. E o assunto na mesa foi o
temporal da noite anterior que tinha feito muitos estragos na cidade e no interior
do estado. E ainda chovia, às vezes, pancadas bem fortes.
Depois do almoço os rapazes foram
para a sala e a algumas das gurias foram ajudar a limpar a cozinha e Laís e
Priscila foram tirar uma soneca.
Nina voltou para a sala, e por
mais incrível que fosse o único lugar que tinha para sentar era ao lado de
Eduardo. Ela olhou e pensou: “isso é armação, só pode ser.” Ela deu meia volta
e foi buscar os almofadões para sentar no chão.
Acomodou-se próximo a lareira.
Eduardo levantou, foi a cozinha, demorou um pouco para retornar à sala e sentou
perto dela também nos almofadões, pois as gurias tinham ocupado o sofá.
E Nina teve que se render e
aceitar a proximidade e a conversa dele. Resolveram jogar Banco Imobiliário.
Todos sentaram no chão, arredaram a mesa de centro e no meio deles colocaram a
tabuleiro.
Era fim da tarde quando uma nesga
de sol surgiu no céu, e era hora de ir para casa. Terminou o jogo e Nina se
levantou e anuciou que ia embora. Sandra
pediu que ficasse para jantar, ia sair uns sanduíches. Mas ela agradeceu e
disse que precisava ir. E de repente ela vê Eduardo junto dela se despedindo
também.
Quando já estavam na rua, ela
disse:
-- Não precisa me levar. A chuva
parou, eu vou andando. Obrigada.
-- Deixa de bobagem. Entra aí, eu
te levo.
-- Ok.
Já com o carro em movimento
Eduardo comentou que estava com vontade de comer uma pizza. E ela sem pensar
falou:
-- Bah... seria uma boa...
-- Então vamos comer. O que
preferes ir à pizzaria ou pedir para trazer em casa?
-- Acho que pedir é melhor,
concordas?
-- Sim, aonde, no meu ou no teu
apartamento?
-- No meu é claro.
-- Certo. Te deixo na porta, e
vou deixar o carro na minha garagem e volto a pé. Ok?
E naquela noite eles conversaram
sobre vários assuntos e ela pode ver que ele era um cara legal, que tinha a mesma linha de pensamento que ela, e
que foi obrigada a concordar com ele em muitos pontos, quando a vontade era só
discordar. Era perto de meia noite quando Eduardo foi embora.
A semana passou e eles não se
viram e tão pouco se falaram. Ela, tinha resolvido pegar a condução no outro
ponto, mesmo sendo mais longe. No fim de semana Nina ficou em casa estudando.
Só uma semana antes do feriadão
foi que eles se encontraram. Precisavam conversar e ver o que cada dupla já
tinha cumprido de suas tarefas. Eles não tinham feito nada. Mas como ele ia
levar uma rede para dormir e ela um colchonete, e mais roupa de cama, e o que
era de comer era só passar no super mercado. Tudo tranquilo.
Enfim chegou o feriadão.
Eduardo passou bem cedinho para
pegar Nina e foram para a pensão. De lá sairiam juntos. A última hora Laís
avisou que não ia, pois Cátia estava com febre e ela ficaria com ela. E então
os dois foram sozinhos no carro. Conversaram bastante na viagem. O local não
era muito longe, cerca de oitenta quilômetros de estrada boa e cinco de estrada
de chão.
O lugar era magnífico, era na
encosta de um cerro e tinha uma parte baixa que se estendia até o rio. Era um
vale muito bonito, uma vegetação exuberante e da casa se tinha uma vista muito bonita e se enxergava
longe.
Estava um dia lindo, quente e a
previsão era que iria continuar assim todo o feriado. Eles descarregaram os carros,
as moças se encarregaram de organizar as camas e a despensa, enquanto que os
rapazes estavam conhecendo a propriedade, com o tio Carlos.
Também organizaram o material de
pesca, e logo mais à tardinha iriam pescar. Para o almoço eles tinham trazido uma
carne que iriam assar. Marcelo e Pablo iam se encarregar do almoço.
Sentaram todos no gramado em
frente à casa curtindo o dia e o lugar. Nina disse que queria subir pela trilha
do cerro para ver a vista lá de cima. Tudo o mundo disse que era se cansar à
toa, pois dali já tinha uma bela vista. Mas ela disse que iria sozinha. E foi.
Eduardo tinha ido com o tio
Carlos no galpão ajeitar umas coisas. Quando retornou não viu Nina no jardim,
procurou na casa e não a encontrou. Então perguntou por ela.
-- A louca da Nina resolveu subir
o cerro. E foi sozinha. – Disse Priscila.
-- Seu Carlos tem mais de uma
trilha?
-- Principal é só uma, mas têm
sim outras que circundam o cerro.
-- Eu vou atrás dela.
E Eduardo subiu preocupado com
ela. Andava rápido, mas era uma subida íngreme e ele já estava sem fôlego.
Parou e olhou para cima e a avistou encostada em uma árvore. Ela devia estar
cansada. Ele chegou até ela e ralhou com ela:
-- Precisava subir sozinha. Por
que não me esperou?
-- Ué, qual o mal de eu subir
aqui sozinha?
-- Podes cair, podes escorregar,
podes te machucar, pode aparecer uma cobra...
-- Ah! E por que esses cuidados
todos comigo?
-- Porque eu me preocupo contigo,
só por isso. Vem, me dá a mão, vamos subir juntos e devagar é muito abrupto. E o
chão está úmido. Vamos com cuidado.
E alcançaram o pico. Realmente a
vista era lindíssima. Ela estava com a máquina fotográfica e tirou belas fotos,
inclusive dele. A descida foi mais difícil do que a subida, pois estava
escorregadia. Em um momento ela deslizou, e
ele a segurou, e eles ficaram muito próximos, ela pensou que ele fosse
beijá-la, pois até o hálito dele ela sentiu. Suas pernas tremeram e ela se
agarrou nele, e Eduardo a olhou com intensidade a abraçou. O resto da baixada
eles desceram devagar de mãos dadas.
Quando chegaram ao jardim eles
estavam suados, e Nina realizada. Ficou tão contente que disse:
-- Obrigada. Sem ti eu não teria
conseguido e foi maravilhoso.
-- Valeu, também gostei.
-- Acho que vou tomar uma ducha,
estou muito suja para sentar à mesa.
-- Eu também.
Nina voltou com os cabelos
molhados, tinha posto uma bermuda e uma
regata verde claro que realçava seus cabelos. Estava de cara lavada, sem
nem um batom para dar uma corzinha.
Mas quando ele a viu ficou
fascinado, ela tinha uma beleza natural, não precisava de artifícios para
chamar sua atenção. E ele quase a beijou... A proximidade dela, o cheiro o
deixou cheio de desejo.
Ela havia sentado na cozinha e
estava mostrando as fotos que tinham tirado. E ele estava encostado no pilar do
avarandado olhando para ela com cara de apaixonado. Marcelo percebeu e disse
baixinho:
-- Cara! Tu estás dando bandeira.
Cuidado...
-- Sério!
Então foi para a roda do
chimarrão.
Depois do almoço ele pegou a sua
rede e pendurou debaixo das árvores. Ali corria um vento e o sombreado deixava
uma temperatura agradável. Nina viu quando ele foi para debaixo das árvores,
queria ir ficar lá com ele, mas precisava de uma desculpa. Procurou um livro e
pegou uma toalha e foi para a sombra. Ficou a uma pequena distancia dele.
Deitou-se de bruços e abriu o livro.
Eduardo não estava dormindo e
percebeu a manobra dela. Sorriu, e ficou quieto e de onde estava podia olhar
para ela sem que ela percebesse. Mas de repente pensou que deveria se
manifestar. Então falou:
-- As formigas não vão te pegar?
-- Tu achas que tem formigas
aqui?
-- Com toda certeza.
-- Bah, então vou ter que sair
daqui...
-- Não! Fica. Queres vir para
rede? Ela é bem larga dá para duas pessoas, é só deitar atravessado. Vem.
Eduardo levantou-se e trocou de
posição e esperou por ela que aceitou o convite. Ela sentou ao lado dele. Ele
deu um impulso e os dois ficaram ali quietos aproveitando o balanço da rede.
Ela sorriu e disse:
-- Eu adoro uma rede. Quando eu
era pequena, na praia eu dormia na rede. Coisa bem boa. Uma vez cai e machuquei
meu pulso. E meu pai guardou a rede, disse que eu me embalava forte demais.
-- Bah, eu nem sei quantos tombos
levei da rede. Na praia eu e meu primo fazíamos disputa de quem voava mais alto
com a rede. Minha avó também tirou a rede de nós.
-- É... Eu tenho vontade de
colocar uma em meu apartamento, mas acho que não tem lugar...
-- Eu tenho uma em frente a
janela, e quando estou deitado nela enxergo a rua.
-- Legal.
-- Vou lá no teu apartamento
achar um lugar pra ti.
-- Vai mesmo.
Depois silenciaram. Ela estava
com o quadril encostado conta o dele e isso a estava deixando nervosa. Ela fez
menção de levantar, mas ele a segurou e pediu:
-- Fica...
E ela ficou. Ele passou o braço
por sobre os ombros dela e a abraçou. Ela deitou a cabeça no peito dele e
escutava o coração dele que batia forte, assim como o dela. E dormiram
abraçados na rede.
Foi Jessica que os acordou,
quando gritou para eles:
-- Hei, vocês não vão pescar?
Estamos descendo para o rio. Nina coloca roupa de banho, tem uma prainha.
-- Ok, já vou;
Eduardo pegou a rede e Nina a
toalha e o livro. Ela entrou em casa e voltou dentro de um biquíni verde esmeralda, com uma canga que
estava amarrando na altura do busto. Mas ele teve oportunidade de ver aquele
corpo apetitoso.
Enquanto iam ele a pegou pela
mão. Ela olhou para ele e sorriu e ele devolveu o sorriso com uma piscadela de
olho.
O rio era largo e tinha um areal
que formava uma praia. Segundo tio Carlos dava para tomar banho, mas com cuidado,
tinha uma marcação de onde não se podia passar. Um poste enterrado bem visível.
Os homens começaram a procurar
lugar para pescar. Não queriam ficar perto das “meninas” por causa do barulho
que faziam e eles caminharam rio abaixo. Nina sentou na areia e ficou olhando
Eduardo se afastar. Jessica sentou junto dela e perguntou baixinho:
-- E aí? O que está rolando?
-- Não sei. Só uma aproximação.
-- Deixa de ser boba, ele está
caidinho por ti.
-- Tu achas?
-- E tu? Também está com o
coração palpitando? E onde ficou o cara arrogante?
-- Pára! E deixa de ser chata...
Nina nunca tivera um namorado.
Nenhum dos rapazes que ela conhecia havia se interessado por ela. Quando tinha
dezesseis anos teve um namoradinho. Mas nada sério, e não durou muito tempo.
Depois tanta coisa aconteceu em sua vida, que ela se esqueceu de tentar namorar
alguém.
Mas agora era diferente, parecia
que ele estava afim dela e ela estava muito mexida com ele, para não dizer
apaixonadíssima. E isso a assustava...
Elas resolveram entrar na água,
que estava com uma temperatura boa. E ficaram “de molho” conversando. Deram
muitas gargalhadas. Até que Fernando veio dizer que elas estavam perturbando os
peixes, que tinham se afastado. Eles não estavam pescando nada. Foi uma
gargalhada só. E Sandra gritou:
-- Vocês não sabem pescar e a culpa
é nossa.
Fernando entrou na água também,
depois Marcelo e Eduardo e de repente todos estavam ali aproveitando a fim de
tarde. Estava escurecendo e. D. Rute estava esperando por eles com um bolo
recém tirado do forno.
Nina ficou pra trás e Eduardo ficou
com ela. Vinham devagar conversando. Ela agora estava só de biquíni e ele
sentiu ciúmes dos olhares dos outros e disse:
-- Tu és muito linda. Atrai os
olhares de todos com esse biquíni.
-- Eu linda?
-- Sim. Homens gostam de curvas e
de carne, não sabia?
Ela ficou vermelha e se enrolou
na canga. Ele sorriu e se achegou a ela. E disse baixinho:
-- Minha linda...
Fizeram fila para o banho. Nina
pegou um pedaço de bolo e sentou no banco de madeira que havia no avarandado.
D. Rute tinha dado senha para banho e Nina era a última. Eduardo foi tomar
banho e quando voltou ela ainda estava esperando.
Enquanto Nina tomava banho, ficou
pensando que ele havia dito que ela era linda, ele a achava linda. Sorriu ao lembrar
as palavras dele. Ela estava querendo ser beijada. Será que haveria
oportunidade para isso. Bem havia outros casais de namorados que iriam ficar um
pouco sozinhos e podia rolar uma chance de eles trocarem um beijo. Ela nunca
tinha sido beijada.
Por isso ela se arrumou um pouco.
Ela apareceu na sala com uma bermuda jeans e uma regata na cor Pink. Colocou
brincos e colar e passou um batom e muito perfume. Quando ela chegou a sala
todo mundo olhou para ela e alguns assoviaram. Ela ficou encabulada, deu meia
volta e foi ajudar a Sandra arrumar a mesa para o jantar. Eduardo estava
sentado próximo a porta levantou-se e foi até ela e disse:
-- Em que eu posso ajudar?
A noite estava quente e
enluarada. A turma resolveu ficar no jardim. No primeiro momento todos sentados
em uma roda conversando, mas aos poucos a roda se desfez. E ficaram alguns
casais apreciando o romantismo da lua.
Eduardo pendurou sua rede no
avarandado e Nina sentou com ele, que dali eles apreciavam a lua. Eduardo abraçado a ela a puxou para perto e a
beijou. Um beijo suave que foi se aprofundando, e ele percebeu que ela nunca
tinha sido beijada. Aconchegou-se a ela com carinho.
Os dias que se seguiram foram de
encantamento para Nina e Eduardo. Eles curtiram cada momento. O feriadão
terminou. Nina e Eduardo estavam comprometidos.
O final de ano se aproximava e
todos eles estavam com muitas coisas para fazer, e a turma estava se reunindo
só de vez em quando. Todos estavam namorando, pois Jéssica e Marcelo firmaram
compromisso, assim como Sandra tinha reatado o namoro com Sérgio. E Laís estava
voltando para sua terra, seu curso havia terminado. Mas programaram alguns
encontros.
Nina ficava mais em casa, Eduardo havia
estendido o horário de atendimento na papelaria, por causa do Natal, uma vez que
tinha um nicho de presentes e brinquedos.
Eles estavam a cada dia, mais
apaixonados, descobriram que eram muito parecidos, gostavam das mesmas coisas,
até na comida. Entendiam-se muito bem e o namoro fluía. E Nina gostava de lembrar
o primeiro beijo que eles trocaram e das caricias que trocavam, e da primeira relação
amorosa. Como ele tinha sido carinhoso e gentil com ela. A tratava como se
fosse uma princesa, e a chamava de minha linda. Nina estava feliz.
Fazia muito tempo que ela não se
sentia tão leve e feliz. Desde a morte de sua mãe sua vida tinha virado de
cabeça para baixo. Ela tinha dezesseis anos, quando sua mãe adoeceu um câncer
de fígado que em três meses a matou. Ela era filha única e seu pai pouco tempo
depois trouxe sua amante para morar com ele, na casa que era de sua mãe. Ela
não aceitou tal situação, e foi morar sozinha. Era muito jovem, mas teve que
assumir sua vida. Ela jamais perdoou seu pai.
Ele fez o inventario e ela ficou
com três apartamentos, inclusive o que ela morava para não ter parte na casa.
Ela se afastou completamente de seu pai e do resto da família. Sua mãe tinha
apenas uma prima que morava na Espanha. Portanto ela era muito só.
Hoje, cinco anos depois ela
estava bem. Sentia-se segura, pois era amada
por Eduardo e o amava muito. Ela pedia a Deus que ele nunca a decepcionasse...
Porque ela tinha apostado tudo nele.
A turma tinha decido passar o dia
de Natal juntos. Cada um levaria um prato e bebida e passariam a beira da
piscina. Sandra concordou. D. Rute gostava que eles fossem para lá, eram
alegres e divertidos. Mas estava com problema de coluna e o médico havia
recomendado que ficasse sem trabalhar por uns dias.
Na noite de Natal, Nina e Eduardo
tinham combinado de ficar em casa. Só os dois. Ele sairia tarde e cansado da
loja. Eles fariam uma festa particular, e no outro dia sim, iriam participar com
a turma.
Nina preparou uma ceia para eles,
decorou a sala com motivos natalinos, montou uma árvore de Natal, e foi o
melhor natal de sua vida. E terminaram a noite fazendo amor com muita paixão.
No outro dia, por volta das onze
horas a turma foi chegando à casa de Sandra. Arrumaram umas mesas no jardim,
guarnecidas de guarda sois e na mesa cumprida da área colocaram as comidas.
A piscina foi a grande pedida.
Eles passaram um dia alegre e
descontraído. O feriado de Ano Novo, Eduardo convidou Nina para irem para a
praia. Alugaram um quarto em um pequeno hotel e curtiram muito.
Os dias passavam e Eduardo estava
feliz ao lodo de Nina, que era a mulher que sempre idealizara para si. E toda
vez que faziam amor ele sentia que ela era o seu paraíso, que ali era o seu
lugar.
Nina também estava entregue a
esse amor. Sabia que Eduardo era sincero e fiel, e que jamais procederia como
seu pai, que nem respeitou a doença e nem a memória de sua mãe. Ela desprezava
seu pai.
Nina e Eduardo não estavam
morando juntos, mas seguidamente ele dormia no apartamento dela. Eles moravam
tão próximos, a menos de trinta metros e eles curtiam ter momentos de
privacidade.
Nina estava chegando em seu
prédio quando um homem a abordou. Ela ficou com medo, mas era uma pessoa bem
vestida e educada, que se apresentou e disse que precisava conversar com ela,
assunto muito importante e privado. Que ela escolhesse o lugar e se quisesse
levar alguém de confiança, não teria problema algum.
Ela pensou e marcou para o outro dia
no shopping, na praça de alimentação. O homem agradeceu e foi embora. Ela ficou
parada pensando e observando o homem entrar num carro preto.
Nina deu volta e foi para a
papelaria, precisa contar para Eduardo. Depois de escutar o relato dela Eduardo
achou que realmente ela deveria ouvir o que essa pessoa tinha para dizer. Ele
iria junto com ela.
No outro dia Nina e Eduardo foram
para o shopping um pouco mais cedo do que o combinado. Sentaram em uma mesa,
mais ao canto. E esperaram.
No horário marcado se aproximou
deles um homem com uma pasta. Ele educadamente pediu licença e sentou.
-- Olá, obrigado Nina por ter
aceitado conversar comigo. Sei que foi outra pessoa quem falou contigo ontem, a
meu pedido.
Eduardo perguntou:
-- Por favor, quem é o senhor? O
que quer com a Nina?
-- Eu tenho muito a contar para
ela, preciso revelar um segredo de Marília, a mãe de Nina.
-- O que tem minha mãe? Quem tu
és?
-- Bem, vou começar pelo fim,
para te acalmar. Eu sou teu pai.
Nina ficou pálida, Eduardo pegou
em sua mão e disse:
-- O senhor é maluco?
-- Não... Marília e eu vivemos um
grande amor... Vou contar tudo. Mas antes vou buscar uma água para ela, que está
mais branca do que algodão.
Ele voltou com três garrafas de
água mineral. Sentou na frente e Nina e olhando para ela disse:
-- Tu és linda como tua mãe.
Estás muito parecida com ela. Eu sou um artista, amo a minha arte e casamento
nunca esteve nos meus planos. Mas quando eu conheci tua mãe, minha vida virou
de cabeça para baixo. Eu morava em Paris, estudava artes e frequentava
exposições e pintava quadros na praça, os quais eu vendia para me sustentar.
Minha família me mandava alguma ajuda. Minha mãe me apoiava, mas meu pai não.
Minha irmã tinha vergonha de mim. Bem,
nós éramos muito jovens. E aquela tare, uma bela moça parou para olhar meus
quadros e eu fiquei encantado com ela. Perguntei se ela gostaria de posar para
mim, que eu faria o retrato dela. Ela aceitou na hora. Ela era alegre e
impulsiva. E eu pintei e deu o quadro de presente para ela. Mas depois continuamos
nos encontrando, nasceu entre nós uma paixão alucinante, que nos dominava.
Vivemos dias felizes. Eu continuava meu curso na faculdade e ela estava lá para
aprimorar o idioma. Foi a melhor época de minha vida. Mas ela engravidou e tudo
se modificou. Ela ficou desnorteada com a gravidez, eu estava feliz, mas a
família dela a obrigou a voltar. Eu prometi que viria para junto dela, eu só
precisava juntar dinheiro para a passagem.
Mas quando eu cheguei aqui ela já estava casada. Para mim foi um golpe. A
família dela tinha “comprado” um marido para ela. Ele era um rapaz ambicioso
que estava se formando em direito. Teu avô propôs sociedade no escritório de
advocacia para ele, se casasse com Marília. Deu uma casa e um bom salário. E
tua mãe ficou infeliz. Eu vim para cá e enquanto ela viveu, eu a amei com
loucura. Continuamos nos encontrando até o dia que ela não pode mais sair por
causa da doença. Na verdade, segundo eu sei, ela e o marido nunca tiveram uma
vida de casal. Ele sempre teve amantes. Eu te acompanhei sempre de longe. Te vi
crescer, tornar-se essa moça linda que és, eu te amei a distância. Eu decidi te
contar esse segredo de família, porque quero estar perto de ti minha filha. Eu
sei que parece uma coisa absurda, mas tua mãe viveu uma linda história de amor
comigo. Fomos felizes do jeito que podíamos. Hoje eu estou bem de vida, tenho
uma galeria de arte, mas não foi sempre assim, houve época que eu só tinha o
meu amor a oferecer a Marília.
-- Por que ela nunca me contou?
Éramos amigas...
-- Mas tu eras muito jovem para
entender. Só quem ama pode entender o amor.
-- E as provas do que tudo isso é
verdadeiro? O retrato dela está comigo. Ela amava aquele quadro...
-- Eu proponho nós fazermos o
exame de DNA. Isso vai provar tudo. E tenho fotos e cartas, bilhetes escritos
por ela. Estão aqui na pasta. Leva, olha em casa com calma.
--E como é o teu nome?
-- Antônio Ramada, e meu nome
artístico é Ramada.
-- E de onde és?
-- Eu sou paulista da capital.
Mas vim para o sul, me estabeleci aqui para ficar perto de tua mãe. No início
foi difícil, eu mal me sustentava, mas depois as coisas foram melhorando. Eu
consegui vender quadros para o exterior e me tornei conhecido, e alguns quadros
foram bem valorizados e hoje vivo bem.
-- Por que minha mãe nunca se
separou dele?
-- Porque teu avô nunca permitiu.
Ele me odiava. Hoje eu teria condições de sustentar uma família, mas naquela
época não. Ela precisava do dinheiro da família para viver e te dar conforto. O
marido não colocava dinheiro em casa. Depois que ela adoeceu quem me dava
noticia dela era a Bá.
-- A Bá, morreu logo depois da
mãe. E eu fiquei só. Muito só. Hoje eu tenho Eduardo aqui comigo, mas após a
morte de minha mãe eu fiquei sem ninguém, aquele homem que disseram que era meu
pai, nunca se importou comigo. Meus avôs sempre foram distantes de mim, e já
estavam doentes. Ela fora “da casinha” e ele tinha problema de coração muito
grave.
Antônio se despediu e foi embora.
Pediu que ela olhasse tudo com cuidado e marcasse o exame, e o avisasse.
Eduardo que até então tinha ficado quieto agradeceu a ele. Eles entrariam em
contato.
Nina estava abalada. Eduardo a
levou para casa. Ela tomou um banho enquanto ele preparava um chá para ela. Ela
queria olhar as fotos e as cartas da mãe. Mas Eduardo achou melhor esperar um pouco,
eram muitas emoções. Ele a abraçou, beijou sua testa e perguntou:
-- Tudo foi surpresa, ou tinha
alguma coisa que tu sabias?
-- Não, em casa não se falava em
dinheiro. Tudo o que eu precisava pedia para minha mãe porque eu nunca me dei
com ele. Ele sempre foi um estranho que eu chamava de pai.
-- Como o dinheiro pode trazer
infelicidade. Se teu avô não tivesse sido tão intransigente e tivesse ajudado
ao Antônio, tudo seria diferente e eles teriam sido felizes.
-- Pois é, e quantas pessoas
foram infelizes por causa dessa decisão de meu avô. Pelo menos quatro, porque
eu me incluo. Minha infância não foi feliz. Em casa tudo sempre foi muito
quieto, não havia conversas, risadas, nada... Não se festejava nem aniversário.
Sabe, antes de tu entrares em minha vida, a melhor coisa que eu encontrei foi a
turma de amigos. Ali eu me divertia e me sentia à vontade, me sentia parte do
grupo. Ainda me sinto assim, gosto de todos eles são minha família.
-- E eu estraguei isso?
-- Deixa de ser bobo, tudo
melhorou com tua presença em minha vida. Só espero que continuemos assim. Que
nada nos afaste.
-- Eu também. Te amo muito para
ficar longe de ti.
Mais tarde eles pediram uma
pizza, sentaram no chão encostados no sofá e olharam tudo o que havia na pasta.
Algumas fotos que Nina lembrava, mas outras eram desconhecidas dela. Leu as
cartas e ficou convencida de que Antônio era seu pai. Naquela noite Eduardo
ficou com ela.
O exame de DNA deu positivo, ela
era realmente filha biológica dele.
Nina ficou feliz por não ser filha
do marido de sua mãe. Agora ela tinha um pai de verdade que queria conhecer
melhor e assim fez.
Ele a convidou para viajar com
ele, já que iria visitar várias galerias em diferentes países. Que ela
providenciasse o passaporte imediatamente e tirasse o visto para entrar nos
EUA.
Nina estava eufórica, não tinha
mais tempo para nada e Eduardo foi se sentindo em segundo plano. Aos poucos ele
foi se afastando. Ela nem percebeu.
Como iam ficar fora um bom tempo,
Nina trancou sua faculdade. E saiu com seu pai pelo mundo. Ela telefonava para
Eduardo, mandava fotos, se comunicava com ele, mais como amiga do que namorada.
Ele decidiu por um final naquela
relação que estava muito esquisita. E telefonou para ela explicando seus
sentimentos e ela aceitou sem protesto algum. Após o telefonema Eduardo se
sentiu péssimo. Mas ele precisava de definições, e agora estava livre de
qualquer compromisso.
Depois de oito meses Nina
retornou, ela foi a papelaria para ver Eduardo. Tinha trazido uns presentes
para ele, mas ele não estava. Então os deixou em cima da mesa dele com um
bilhete.
Eduardo quando chegou encontrou o
bilhete dela que dizia: “Vou mudar para o apartamento do meu pai. Se puder ir
me ver, estarei no meu apartamento arrumando minhas coisas. Te espero beijos” Ele
abriu os presentes que ela havia deixado e foi vê-la.
Ele ainda tinha a chave do
apartamento dela e entrou sem bater e a encontrou no quarto fechando a mala.
Ela parou e olhou para ele e correu para abraçá-lo. Ele retribuiu o abraço
morrendo de vontade de jogá-la na cama e fazer amor.
-- Senti muitas saudades tuas. – Foi
o que ele disse.
-- Eu também. Sinto falta dos
teus beijos e das nossas transas.
-- Achei que estavas feliz
viajando com teu pai...
-- Sim, eu estava, mas tu não
estavas lá.
E ele a beijou com intensidade e
acabaram na cama, fazendo amor como nunca antes. Ambos estavam sedentos e se
entregaram com ardor. Estavam ofegantes quando ela perguntou:
-- Por que tu quiseste desfazer
nosso compromisso?
-- Porque eu estava me sentindo
sozinho demais, me sentindo abandonado...
-- Mas agora vamos ficar juntos
novamente, eu te amo muito.
-- Não sei se devemos. Teu pai
está te oferecendo uma vida diferente, em outra esfera social, a qual eu não
faço parte, e tu vais conhecer pessoas diferentes e interessantes. E eu posso
me tornar um estorvo para ti. Melhor assim, sem compromisso.
-- Sem compromisso, mas vamos
seguir nos encontrando, certo?
-- Não sei, não posso prometer.
E ela foi morar com o pai. Agora
ela era citada nas crônicas sociais, era fotografada e estava sempre
acompanhada por herdeiros ricos. Ela parecia deslumbrada com seu novo mundo.
Eduardo havia terminado seu curso
de Administração de Empresas e se dedicava ao seu trabalho a sua loja. Quase
não saia, e seus amigos uns estavam casados e outros noivos. Ele preferia uma
boa leitura a andar pela rua caçando, uma qualquer. Fazia mais de ano que não falava
com a Nina.
Eduardo ainda pensava muito nela,
e sempre soube, desde o instante que a viu, pela primeira vez, que ela era a
mulher de sua vida. E por ironia da vida ela se afastou dele por causa do pai.
Um pai que a seduziu com o fascínio da vida. Eduardo não tinha mais esperança
em ter uma vida junto de Nina.
Certo dia ele estava almoçando em
um dos restaurantes do bairro, que estava lotado, quando uma moça se aproximou
e perguntou:
-- Posso compartilhar de sua
mesa.
-- Sim. Sinta-se à vontade.
-- Eu tenho pressa. Não posso
esperar.
-- Eu sou Eduardo.
-- Eu sou Bianca. Eu te conheço,
tu não és o cara da papelaria?
-- Sim. Mas não me lembro de ti. Já nos conhecíamos?
-- Não. É que geralmente eu desço
do ônibus ali na frente e já te vi ali.
-- Bem, na próxima vez que descer
ali, entra pra me dar um oi.
-- Com certeza... Vou aparecer
por lá.
-- Está na minha hora, eu preciso
ir ao banco. Até qualquer hora.
-- Tchau...
Eduardo saiu do restaurante e se
dirigiu ao banco que era um quarteirão dali, e foi pensando em Bianca. Ela era
simpática e bonitinha. E bem novinha,
devia ter uns vinte anos.
E naquela semana um fim de tarde,
Bianca cumpriu o prometido, apareceu na papelaria e ficou conversando e
esperando a hora de fechar a loja. Já haviam combinado de sair para fazer um
lanche com ele.
E a amizade dele com Bianca foi
se fortalecendo. Para ele era só amizade, mas para ela não, pois ela pressentia
boas oportunidades com ele. Bianca era uma guria bem solta, bem moderninha e
gostava de tomar iniciativas. E ela já tinha feito algumas propostas para ele.
E, é claro que ele aceitou, mas deixando, sempre, bem explícito que não havia
compromisso entre eles.
E foi num sábado a noitinha,
quando ele saia de seu apartamento abraçado com Bianca que ele se deparou com
Nina a sua porta, que estava indo procurá-lo. Quando eles se olharam Eduardo
quis correr para Nina, que ficou parada ali a sua frente sem ação, tão surpresa
de vê-lo abraçado a outra, quanto ele de vê-la.
-- Oi tudo bem? Eu estava
passando por aqui e resolvi entrar ... – foi o que Nina falou.
-- Tudo bem. Essa é Bianca, uma
amiga.
-- Prazer – falou Bianca.
-- Prazer. Bem estas de saída com
tua amiga, outra hora falamos. Tchau.
E Nina saiu rapidamente porque
não suportou ver Eduardo abraçado com outra moça, que bem novinha e bonita.
Enquanto caminhava, as lágrimas rolavam em suas faces. Apesar da vida maravilhosa,
que seu pai lhe oferecera, ela nunca deixou de pensar em Eduardo, era o seu
amor, seu amigo, seu companheiro. Ela se lembrava dos momentos de intimidade
que tiveram, como ele a tratava com carinho, como ele cuidava dela, como ele
era maravilhoso. E agora... Tudo perdido... Será que teria chance?
Seu pai estava viajando e ela
ficou em seu antigo apartamento, que ela conservava com uma pessoa indo limpar
uma vez por semana. Tinha imaginado que Eduardo ficaria ali com ela e seria
como os velhos tempos. E tinha ido lá para buscá-lo. Mas agora ele tinha a
Bianca.
Nina abriu as janelas e sentou no
sofá pensando. Ela precisava tomar uma atitude, decidir sua vida. Ela estava
com saudades de sua vida simples, de trabalhar, estudar e namorar Eduardo. Era
isso o que ela queria. Mas, e se ficasse sem Eduardo? Ela iria querer essa vida
de novo?
Eduardo quis sair atrás de Nina,
mas Bianca estava ali. Que hora errada! Ele tratou de despachar Bianca para ir
procurar Nina, eles precisavam, pelo menos, conversar. Se ela veio até ele, era
porque alguma coisa tinha mudado, não importava o quê, mas ele precisava saber.
Então decidiu ir ao apartamento
antigo dela. Se ela estava por ali... Ele carregava a chave em seu chaveiro.
Ele chegou a frente do prédio e viu as janelas abertas, e a luz acesa, ela
estava lá, com certeza. Subiu e abriu a porta devagar e a encontrou no sofá
chorando.
Ele entrou não disse nada. Sentou
ao lado dela e a abraçou e o choro se tornou mais copioso e ele beijava suas
faces para secar suas lágrimas. Depois de um tempo Nina se acalmou e Eduardo
perguntou a ela:
-- Aconteceu alguma coisa? Tu
estavas indo me procurar, o que houve?
-- Sim, eu estava indo lá para te
ver, estava com muitas saudades de ti, de nossa vida juntos, até desse
apartamento, eu sinto falta. Meu pai me ofereceu coisas demais, ele quer me
compensar de alguma forma. Mas eu não gosto daquela vida, daquelas pessoas. Não
me adapto. Mas...
-- Mas? Continua.
-- Não foi fácil te ver abraçado
àquela garota. Me deu um aperto no peito. Eu sei que te perdi... E é difícil aceitar.
-- Eu não estou comprometido com
ninguém. Bianca é uma amiga.
-- Amiga? Vocês estavam saindo de
uma transa, a fisionomia dela demonstrava isso. Estou errada?
-- Eu a conheci há pouco tempo,
uns dois meses atrás, não temos nada.
-- Tu não respondeste a minha
pergunta. Não estavam transando?
-- Sim estávamos.
-- Eu sabia aquele risinho de
superioridade, não me enganou...
-- Mas que não significou nada,
será que não entendes? Ela é nada para mim.
-- Nada!
-- Foste tu quem saiu da minha vida,
se afastou de mim deslumbrada pela nova vida. Tu podias muito bem ter uma
relação com teu pai sem me deixar para trás. Mas não foi o que tu fizeste.
Simplesmente foi, sem se importar...
-- Eu sei, eu errei.
-- Então, o que queres?
-- Eu queria voltar no tempo, ter
aquele namorado que era só meu...
-- Algumas coisas não dão para
mudar. Precisamos recomeçar...
-- Eu vou voltar para cá. Tomei
essa decisão hoje. Meu pai está viajando, quando ele voltar vou contar para
ele.
-- E vais ficar aqui já a partir
de agora?
-- Sim, eu vim para isso, trouxe
uma valise com o que preciso.
-- Eu fico contigo. Não vamos
mais discutir, vamos curtir essa noite, vamos pedir uma pizza, beber um vinho
que eu vou buscar lá em casa. Ou queres ir para lá?
-- Bem capaz! Aquilo deve estar
contaminado...
Eduardo deu uma gargalhada e
levantou para sair e ir buscar o vinho. Foi em casa e aproveitou para tomar um
banho. Precisava tirar do corpo o cheiro da Bianca.
Quando ele voltou, ela também
tinha tomado um banho, estava de cabelos molhados e estava muito sensual. Ele
ficou com vontade de a levar para cama, mas se conteve. Ele não queria estragar
tudo. Ele estava “pisando em ovos”, tinha que ter cautela para ela voltar a
confiar nele.
--Duas garrafas? Estás com más
intenções?
-- Não, estou com boas intenções.
E riram e sentaram para
conversar. Ela estava com o perfume que ele gostava e se achegou a ela para
sentir o cheiro:
--Esse perfume me inebria...
E Eduardo aproveitou e fez um
carinho em sua face e a beijou com suavidade nos lábios. Ele tinha que ir
devagar, estava consciente disso. E passou o braço sobre os ombros dela e a
puxou para perto dele.
Assim ficaram enquanto o assunto
brotava. Era tanta coisa para contar.
A noite foi maravilhosa,
saborearam uma pizza, beberam um bom vinho e se amaram com voracidade, com
paixão, com loucura. Passaram o domingo juntos como antes. Eduardo saiu do
apartamento só na segunda feira de manhã porque precisava abrir a loja.
Nina foi esperar seu pai e dizer
que voltaria a morar em seu antigo apartamento. Mas seu pai chegou com uma
novidade. Iriam se mudar para São Paulo. Agora ele poderia ter a galeria de
seus sonhos...
E surgiu o impasse. Antônio
queria que a filha fosse com ele para São Paulo.
Nina não queria magoar seu pai e
foi falar com Eduardo. Foi até a loja e ele não estava, mas Bianca estava lá
esperando por ele. Nina se recusou a ficar. Deixou um bilhete sobre sua mesa e
foi para seu apartamento. Dessa vez queria decidir com ele.
Era fim da tarde quando Eduardo
ligou:
-- Oi minha linda, recebi teu
bilhete, mas só posso ir depois que eu fechar a loja. Se queres vir para cá,
seria muito bom.
-- Aquela bisca ainda está por aí?
-- Quem?
-- Não te faz de desentendido, a
Bianca.
-- Ela? Não sei, ela esteve aqui?
-- Sim, eu a vi.
-- Ninguém me falou nada, não
sabia. Vens?
-- Não vou te esperar aqui.
-- Ok. Tchau...
Nina enquanto esperava por
Eduardo havia decidido o que fazer, mas queria ver a reação dele, saber a
opinião dele sobre o pedido de seu pai. Então ele chegou e ela contou a
novidade, que imediatamente estampou uma tristeza nos olhos, então ela perguntou:
-- O que eu faço?
-- Ontem tu tinhas uma firme
decisão e agora já tens dúvidas. Eu não vou opinar, não vou competir com teu
pai. A escolha é tua.
Nisso toca o telefone de Eduardo:
-- Oi Bianca, tudo bem? ....
Nina ficou furiosa, aquela vadia estava
marcando território e ela dando margem. E tomou sua decisão. Depois de desligar
o telefone Eduardo continuou:
-- Nina eu não posso interferir,
ele é teu pai, que tu conheceste há pouco tempo, é uma situação “sui generis “.
Por mais que eu queira, não posso te pedir nada. Consegues entender?
E agora foi o telefone de Nina
que tocou. Era seu pai a estava esperando. Ela ia jantar com ele, e convidou
Eduardo:
-- Vem jantar conosco. Vamos
decidir juntos...
-- Não obrigado. Vou para casa.
-- A Bianca vai estar lá contigo?
-- Não sejas assim. Não estrague
as coisas. Ela não vai estar lá, se queres conferir depois do jantar com teu
pai vai lá. Ela só me disse que esteve na loja hoje à tarde. Eu não dei
conversa para ela tu ouviste, não foi?
-- Sim, mas não gosto dela, e não
quero ela perto de ti.
-- Primeiro toma a tua decisão, e
depois opina sobre quem pode ficar comigo.
Eduardo estava chateado, e Nina
percebeu. Desceram quietos. Ele a levou até o carro, cumprimentou Antônio,
fechou a porta e os viu sair. Foi para seu apartamento. Tomou um banho, ligou a
TV e esperou as horas passarem. Não queria pensar. Se Nina fosse com o pai para
São Paulo, eles ficariam definitivamente, longe um do outro. Era o fim do
romance.
Ele estava cochilando quando
sentiu um beijo em sua boca, era um beijo com o gosto de Nina, e isto ou deixou
feliz e cheio de desejos, mas ele não sabia se estava sonhando ou se ela estava
ali. Precisava abrir os olhos, mas tinha medo de ser só um sonho.
Mas era realidade, ela estava ali
em seus braços e iria ficar com ele para sempre.
Maria Ronety Canibal
Setembro de 2017.
Nina e Sandra era as melhores
amigas desde os tempos de escola. A casa de Sandra era o ponto de encontro da
turma de amigos, pois era uma casa enorme e tinha uma sala que D. Rute, mãe de Sandra, havia destinado para
eles. Tinha uma entrada lateral e uma lareira bem no meio da peça, que dividia
em dois ambientes, além de um lavabo e as portas-janelas se abriam para a
piscina. Ali aos fins de semana a turma se reunia. Havia muito tempo que se
conheciam, alguns cresceram juntos e hoje já adultos e mantinham a amizade, eles
eram um grupo de quinze amigos.
D. Rute viúva e professora
aposentada transformou sua casa em uma pensão para moças, e gostava muito do
movimento e da algazarra dos jovens. Jéssica, Beatriz, Priscila, Mônica, Roberta,
Laís e Cátia moravam na pensão. Com exceção de Cátia que era mais velha, todas
as outras eram estudantes e faziam parte do grupo de amigos.
Naquele sábado, Marcelo chegou
com um amigo. Ele era seu colega de faculdade e muito “boa praça”. Todos
acolheram Eduardo com alegria. Jéssica olhou o recém-chegado e disse para Nina:
-- Bah, ele é um pedaço de mau
caminho. É muito bonito...
-- É, mas tem um tipo arrogante.
-- Tu achas?
-- Sim, observa o jeito de olhar
para as gurias. Ele se acha.
Enquanto Nina dizia essas
palavras, o olhar de Eduardo se encontrou com os olhos dela e ela sentiu algo
que não gostou. Mas ficou quieta. Sandra entrou com uma bandeja de cachorro
quente colocou sobre a mesa onde já havia bebida e pediu que se servissem
enquanto estava quente.
Nina esperou um pouco e depois
foi se servir. Mas antes de ela chegar à mesa Eduardo se adiantou e a serviu.
Ela sem jeito agradeceu a gentileza. Ele puxou assunto e ela foi obrigada a
conversar um pouco com ele. Jéssica que viu a cena e estava atrás dele ria
dela. E isso deixou Nina arisca. E ela tratou de se afastar dele.
Sandra pediu a palavra. Tinha
tido uma ideia para o feriadão. Seu tio tinha um sitio a beira do rio, e a
sugestão era de eles acamparem para uma pescaria. Houve discussão, mas por fim
a sugestão foi acolhida.
Nina tentou cair fora da tal
pescaria, mas como houve muitos protestos ela teve que concordar em ir. Teriam
que providenciar muitas coisas. Cada um se propondo a assumir uma tarefa.
Já depois de tudo acertado,
Eduardo perguntou:
-- E eu estou incluído?
-- Mas claro que sim. – Foi a
resposta de quase todos.
Nina saiu dali e foi ajudar d.
Rute que estava providenciando uma nova rodada de cachorro quente. Enquanto ela
estava na cozinha, eles decidiram se dividir em duplas para melhor cumprirem a
missão de organizar a pescaria. Como havia no grupo casais de namorados não
tinha muito que escolher. Jéssica estava ficando com Marcelo e sobrava Nina,
Sandra e Laís. Mas Eduardo logo pediu para Nina ser a sua parceira, pois eles
moravam próximos, essa foi a desculpa que ele deu.
Quando Nina chegou com a bandeja
todos a rodearam. E Eduardo ficou para trás, tirou a bandeja da mão dela,
colocou sobre a mesa, e preparou dois cachorros para eles. Sentaram para comer
e então ela soube das duplas. Nina não seria grosseira a ponto de protestar,
afinal era só até o feriadão, dali a alguns dias.
Era início da noite quando soprou
um vento forte, que os deixou apreensivos e logo faltou luz. Eles queriam jogar
cartas, mas tiveram que fazer outro tipo de jogo. E Bia sugeriu que cada um
contasse uma mentira que poderia ser cômica ou dramática.
Foi Vinicius quem iniciou e contou um caso de
assombração. Depois foi Sandra que contou uma situação engraçada e assim foram
até que as últimas mentiras eram de assombração e pânico. Nina não gostava de estar no escuro, e se
achegou inconscientemente para mais perto de Eduardo, que sentiu sua presença e
pegou sua mão que estava gelada.
E do céu caia uma chuvarada tocada
a vento. A luz voltou e já era bem tarde e Eduardo ofereceu carona para Nina e
Marcelo que tinha vindo com ele. Eduardo deixou primeiro Marcelo em casa e Nina ficou para o fim, porque realmente eles
moravam muito próximos, no mesmo quarteirão.
Depois de tomar um banho Nina
deitou tentando dormi, mas em seu pensamento estava Eduardo que a tinha
perturbado muito. Ela achava que ele tinha um ar de arrogância, no jeito de
andar e olhar para as pessoas. Ele era alto, forte, cabelos castanhos claros e
olhos azuis, um rosto com feições bem marcadas. Era bonito! Ela não entendia
porque ela tinha ficado tão mexida, e nervosa ao saber que teria que estar em
dupla com ele.
Eduardo já conhecia Nina de
vista, a via sempre passar em frente a sua loja. Ele se interessara por ela, e
já tinha algumas informações. Sabia que ela era solteira, morava sozinha, sem família,
tinha vinte e dois anos, estudava Nutrição e trabalhava meio turno em uma
escola infantil.
Nina era uma moça de estatura
mediana, era gordinha e tinha um rosto lindo, um par de olhos castanhos escuros
com feições delicadas emolduradas por um cabelo castanho caídos até os ombros.
Para Eduardo ela era muito linda. Ele pensava nela todos os dias e agora que a
tinha conhecido com certeza, sonharia acordado com ela e teria dificuldade para
dormir. Ainda bem que outro dia era domingo.
O domingo amanheceu chovendo.
Nina decidiu não sair. Ia aproveitar e arrumar seu armário. Mas Jéssica ligou
dizendo que todos estavam convocados para almoçar, pois d. Rute estava fazendo
lasanha para todos. Por fim Nina concordou, não queria fazer desfeita para D.
Rute que era tão legal com todo o mundo. E além do mais era um almoço muito
gostoso e barato. Eles costumavam dividir o valor gasto com os ingredientes.
Nina se arrumou e ficou esperando
por Marcelo, mas quem apareceu foi Eduardo para levá-la para almoçar. Ele tocou
o interfone e disse:
--Oi estou te aguardando aqui
embaixo.
-- Ok, estou descendo.
Mas quando ela chegou diante dele
ela se mostrou surpreendida:
-- Tudo bem? Pensei que fosse
Marcelo.
-- Decepcionada?
-- Não... Só pensei...
-- Vamos, o carro está ali.
Eles correram até o carro, pois a
chuva estava mais forte. Quando ele estava dando partida no carro, Nina
perguntou:
-- Onde tu moras?
-- Em cima a Papelaria.
-- Ali? Somos vizinhos?
-- Sim, e a loja é minha.
-- Hum... Eu nunca te vi... E já
comprei muitas coisas lá.
-- Eu sei...
-- Mas como? Tu ficas escondido?
-- No escritório atrás da porta
de vidro.
-- Bah, eu nunca notei que tinha
um escritório ali. Mas não dá para ver da loja, não é?
-- Na verdade eu vejo a rua e a
loja de onde trabalho. Realmente é para ser uma porta discreta.
Quando chegaram à casa de d.
Rute, Nina se afastou de Eduardo. A proximidade dele a deixava muito inquieta.
Sentou junto de Sandra e entrou no assunto que rolava: a pescaria. Agora só
falavam nisso.
Sandra anunciou que tinha avisado
o seu tio, que ficou muito contente e disse que iria participar com a turma. As
moças poderiam se ajeitar na casa e os rapazes no galpão. Mas precisavam levar
saco de dormir ou rede. Porque cama só tinha uma, e seria dele.
E dentro de casa tinha duas camas
de casal e um beliche e um sofá. Então algumas das gurias teriam que levar saco
de dormir ou colchonete e roupa de cama. Banheiro na casa tinha dois e no galpão
tinha mais um.
Havia um lugar para churrasco, e
a cozinha era grande. A casa tinha um avarandado que rodeava a casa, e uma
piscina. Havia uma trilha no mato que subia o morro e outra que descia para o
rio. Poderiam fazer boas caminhadas.
Todos ficaram muito entusiasmados
com o passeio que estavam programando.
D. Rute chamou para o almoço, e
quando Nina se deu conta, ele estava sentado ao seu lado. Sandra e Jéssica
olharam para ela e começaram a rir. Ela olhou para elas muito séria e Eduardo
percebeu os olhares e perguntou:
-- Alguma coisa errada?
-- Não, nada. Elas são umas
crianças grandes, ficam falando bobagens o tempo todo.
-- Hum. Tu não gostas de falar
coisas bobas e dar boas risadas?
-- Eu gosto, mas...
Ela foi salva por D. Rute que
iniciou uma oração antes da refeição iniciar. E o assunto na mesa foi o
temporal da noite anterior que tinha feito muitos estragos na cidade e no interior
do estado. E ainda chovia, às vezes, pancadas bem fortes.
Depois do almoço os rapazes foram
para a sala e a algumas das gurias foram ajudar a limpar a cozinha e Laís e
Priscila foram tirar uma soneca.
Nina voltou para a sala, e por
mais incrível que fosse o único lugar que tinha para sentar era ao lado de
Eduardo. Ela olhou e pensou: “isso é armação, só pode ser.” Ela deu meia volta
e foi buscar os almofadões para sentar no chão.
Acomodou-se próximo a lareira.
Eduardo levantou, foi a cozinha, demorou um pouco para retornar à sala e sentou
perto dela também nos almofadões, pois as gurias tinham ocupado o sofá.
E Nina teve que se render e
aceitar a proximidade e a conversa dele. Resolveram jogar Banco Imobiliário.
Todos sentaram no chão, arredaram a mesa de centro e no meio deles colocaram a
tabuleiro.
Era fim da tarde quando uma nesga
de sol surgiu no céu, e era hora de ir para casa. Terminou o jogo e Nina se
levantou e anuciou que ia embora. Sandra
pediu que ficasse para jantar, ia sair uns sanduíches. Mas ela agradeceu e
disse que precisava ir. E de repente ela vê Eduardo junto dela se despedindo
também.
Quando já estavam na rua, ela
disse:
-- Não precisa me levar. A chuva
parou, eu vou andando. Obrigada.
-- Deixa de bobagem. Entra aí, eu
te levo.
-- Ok.
Já com o carro em movimento
Eduardo comentou que estava com vontade de comer uma pizza. E ela sem pensar
falou:
-- Bah... seria uma boa...
-- Então vamos comer. O que
preferes ir à pizzaria ou pedir para trazer em casa?
-- Acho que pedir é melhor,
concordas?
-- Sim, aonde, no meu ou no teu
apartamento?
-- No meu é claro.
-- Certo. Te deixo na porta, e
vou deixar o carro na minha garagem e volto a pé. Ok?
E naquela noite eles conversaram
sobre vários assuntos e ela pode ver que ele era um cara legal, que tinha a mesma linha de pensamento que ela, e
que foi obrigada a concordar com ele em muitos pontos, quando a vontade era só
discordar. Era perto de meia noite quando Eduardo foi embora.
A semana passou e eles não se
viram e tão pouco se falaram. Ela, tinha resolvido pegar a condução no outro
ponto, mesmo sendo mais longe. No fim de semana Nina ficou em casa estudando.
Só uma semana antes do feriadão
foi que eles se encontraram. Precisavam conversar e ver o que cada dupla já
tinha cumprido de suas tarefas. Eles não tinham feito nada. Mas como ele ia
levar uma rede para dormir e ela um colchonete, e mais roupa de cama, e o que
era de comer era só passar no super mercado. Tudo tranquilo.
Enfim chegou o feriadão.
Eduardo passou bem cedinho para
pegar Nina e foram para a pensão. De lá sairiam juntos. A última hora Laís
avisou que não ia, pois Cátia estava com febre e ela ficaria com ela. E então
os dois foram sozinhos no carro. Conversaram bastante na viagem. O local não
era muito longe, cerca de oitenta quilômetros de estrada boa e cinco de estrada
de chão.
O lugar era magnífico, era na
encosta de um cerro e tinha uma parte baixa que se estendia até o rio. Era um
vale muito bonito, uma vegetação exuberante e da casa se tinha uma vista muito bonita e se enxergava
longe.
Estava um dia lindo, quente e a
previsão era que iria continuar assim todo o feriado. Eles descarregaram os carros,
as moças se encarregaram de organizar as camas e a despensa, enquanto que os
rapazes estavam conhecendo a propriedade, com o tio Carlos.
Também organizaram o material de
pesca, e logo mais à tardinha iriam pescar. Para o almoço eles tinham trazido uma
carne que iriam assar. Marcelo e Pablo iam se encarregar do almoço.
Sentaram todos no gramado em
frente à casa curtindo o dia e o lugar. Nina disse que queria subir pela trilha
do cerro para ver a vista lá de cima. Tudo o mundo disse que era se cansar à
toa, pois dali já tinha uma bela vista. Mas ela disse que iria sozinha. E foi.
Eduardo tinha ido com o tio
Carlos no galpão ajeitar umas coisas. Quando retornou não viu Nina no jardim,
procurou na casa e não a encontrou. Então perguntou por ela.
-- A louca da Nina resolveu subir
o cerro. E foi sozinha. – Disse Priscila.
-- Seu Carlos tem mais de uma
trilha?
-- Principal é só uma, mas têm
sim outras que circundam o cerro.
-- Eu vou atrás dela.
E Eduardo subiu preocupado com
ela. Andava rápido, mas era uma subida íngreme e ele já estava sem fôlego.
Parou e olhou para cima e a avistou encostada em uma árvore. Ela devia estar
cansada. Ele chegou até ela e ralhou com ela:
-- Precisava subir sozinha. Por
que não me esperou?
-- Ué, qual o mal de eu subir
aqui sozinha?
-- Podes cair, podes escorregar,
podes te machucar, pode aparecer uma cobra...
-- Ah! E por que esses cuidados
todos comigo?
-- Porque eu me preocupo contigo,
só por isso. Vem, me dá a mão, vamos subir juntos e devagar é muito abrupto. E o
chão está úmido. Vamos com cuidado.
E alcançaram o pico. Realmente a
vista era lindíssima. Ela estava com a máquina fotográfica e tirou belas fotos,
inclusive dele. A descida foi mais difícil do que a subida, pois estava
escorregadia. Em um momento ela deslizou, e
ele a segurou, e eles ficaram muito próximos, ela pensou que ele fosse
beijá-la, pois até o hálito dele ela sentiu. Suas pernas tremeram e ela se
agarrou nele, e Eduardo a olhou com intensidade a abraçou. O resto da baixada
eles desceram devagar de mãos dadas.
Quando chegaram ao jardim eles
estavam suados, e Nina realizada. Ficou tão contente que disse:
-- Obrigada. Sem ti eu não teria
conseguido e foi maravilhoso.
-- Valeu, também gostei.
-- Acho que vou tomar uma ducha,
estou muito suja para sentar à mesa.
-- Eu também.
Nina voltou com os cabelos
molhados, tinha posto uma bermuda e uma
regata verde claro que realçava seus cabelos. Estava de cara lavada, sem
nem um batom para dar uma corzinha.
Mas quando ele a viu ficou
fascinado, ela tinha uma beleza natural, não precisava de artifícios para
chamar sua atenção. E ele quase a beijou... A proximidade dela, o cheiro o
deixou cheio de desejo.
Ela havia sentado na cozinha e
estava mostrando as fotos que tinham tirado. E ele estava encostado no pilar do
avarandado olhando para ela com cara de apaixonado. Marcelo percebeu e disse
baixinho:
-- Cara! Tu estás dando bandeira.
Cuidado...
-- Sério!
Então foi para a roda do
chimarrão.
Depois do almoço ele pegou a sua
rede e pendurou debaixo das árvores. Ali corria um vento e o sombreado deixava
uma temperatura agradável. Nina viu quando ele foi para debaixo das árvores,
queria ir ficar lá com ele, mas precisava de uma desculpa. Procurou um livro e
pegou uma toalha e foi para a sombra. Ficou a uma pequena distancia dele.
Deitou-se de bruços e abriu o livro.
Eduardo não estava dormindo e
percebeu a manobra dela. Sorriu, e ficou quieto e de onde estava podia olhar
para ela sem que ela percebesse. Mas de repente pensou que deveria se
manifestar. Então falou:
-- As formigas não vão te pegar?
-- Tu achas que tem formigas
aqui?
-- Com toda certeza.
-- Bah, então vou ter que sair
daqui...
-- Não! Fica. Queres vir para
rede? Ela é bem larga dá para duas pessoas, é só deitar atravessado. Vem.
Eduardo levantou-se e trocou de
posição e esperou por ela que aceitou o convite. Ela sentou ao lado dele. Ele
deu um impulso e os dois ficaram ali quietos aproveitando o balanço da rede.
Ela sorriu e disse:
-- Eu adoro uma rede. Quando eu
era pequena, na praia eu dormia na rede. Coisa bem boa. Uma vez cai e machuquei
meu pulso. E meu pai guardou a rede, disse que eu me embalava forte demais.
-- Bah, eu nem sei quantos tombos
levei da rede. Na praia eu e meu primo fazíamos disputa de quem voava mais alto
com a rede. Minha avó também tirou a rede de nós.
-- É... Eu tenho vontade de
colocar uma em meu apartamento, mas acho que não tem lugar...
-- Eu tenho uma em frente a
janela, e quando estou deitado nela enxergo a rua.
-- Legal.
-- Vou lá no teu apartamento
achar um lugar pra ti.
-- Vai mesmo.
Depois silenciaram. Ela estava
com o quadril encostado conta o dele e isso a estava deixando nervosa. Ela fez
menção de levantar, mas ele a segurou e pediu:
-- Fica...
E ela ficou. Ele passou o braço
por sobre os ombros dela e a abraçou. Ela deitou a cabeça no peito dele e
escutava o coração dele que batia forte, assim como o dela. E dormiram
abraçados na rede.
Foi Jessica que os acordou,
quando gritou para eles:
-- Hei, vocês não vão pescar?
Estamos descendo para o rio. Nina coloca roupa de banho, tem uma prainha.
-- Ok, já vou;
Eduardo pegou a rede e Nina a
toalha e o livro. Ela entrou em casa e voltou dentro de um biquíni verde esmeralda, com uma canga que
estava amarrando na altura do busto. Mas ele teve oportunidade de ver aquele
corpo apetitoso.
Enquanto iam ele a pegou pela
mão. Ela olhou para ele e sorriu e ele devolveu o sorriso com uma piscadela de
olho.
O rio era largo e tinha um areal
que formava uma praia. Segundo tio Carlos dava para tomar banho, mas com cuidado,
tinha uma marcação de onde não se podia passar. Um poste enterrado bem visível.
Os homens começaram a procurar
lugar para pescar. Não queriam ficar perto das “meninas” por causa do barulho
que faziam e eles caminharam rio abaixo. Nina sentou na areia e ficou olhando
Eduardo se afastar. Jessica sentou junto dela e perguntou baixinho:
-- E aí? O que está rolando?
-- Não sei. Só uma aproximação.
-- Deixa de ser boba, ele está
caidinho por ti.
-- Tu achas?
-- E tu? Também está com o
coração palpitando? E onde ficou o cara arrogante?
-- Pára! E deixa de ser chata...
Nina nunca tivera um namorado.
Nenhum dos rapazes que ela conhecia havia se interessado por ela. Quando tinha
dezesseis anos teve um namoradinho. Mas nada sério, e não durou muito tempo.
Depois tanta coisa aconteceu em sua vida, que ela se esqueceu de tentar namorar
alguém.
Mas agora era diferente, parecia
que ele estava afim dela e ela estava muito mexida com ele, para não dizer
apaixonadíssima. E isso a assustava...
Elas resolveram entrar na água,
que estava com uma temperatura boa. E ficaram “de molho” conversando. Deram
muitas gargalhadas. Até que Fernando veio dizer que elas estavam perturbando os
peixes, que tinham se afastado. Eles não estavam pescando nada. Foi uma
gargalhada só. E Sandra gritou:
-- Vocês não sabem pescar e a culpa
é nossa.
Fernando entrou na água também,
depois Marcelo e Eduardo e de repente todos estavam ali aproveitando a fim de
tarde. Estava escurecendo e. D. Rute estava esperando por eles com um bolo
recém tirado do forno.
Nina ficou pra trás e Eduardo ficou
com ela. Vinham devagar conversando. Ela agora estava só de biquíni e ele
sentiu ciúmes dos olhares dos outros e disse:
-- Tu és muito linda. Atrai os
olhares de todos com esse biquíni.
-- Eu linda?
-- Sim. Homens gostam de curvas e
de carne, não sabia?
Ela ficou vermelha e se enrolou
na canga. Ele sorriu e se achegou a ela. E disse baixinho:
-- Minha linda...
Fizeram fila para o banho. Nina
pegou um pedaço de bolo e sentou no banco de madeira que havia no avarandado.
D. Rute tinha dado senha para banho e Nina era a última. Eduardo foi tomar
banho e quando voltou ela ainda estava esperando.
Enquanto Nina tomava banho, ficou
pensando que ele havia dito que ela era linda, ele a achava linda. Sorriu ao lembrar
as palavras dele. Ela estava querendo ser beijada. Será que haveria
oportunidade para isso. Bem havia outros casais de namorados que iriam ficar um
pouco sozinhos e podia rolar uma chance de eles trocarem um beijo. Ela nunca
tinha sido beijada.
Por isso ela se arrumou um pouco.
Ela apareceu na sala com uma bermuda jeans e uma regata na cor Pink. Colocou
brincos e colar e passou um batom e muito perfume. Quando ela chegou a sala
todo mundo olhou para ela e alguns assoviaram. Ela ficou encabulada, deu meia
volta e foi ajudar a Sandra arrumar a mesa para o jantar. Eduardo estava
sentado próximo a porta levantou-se e foi até ela e disse:
-- Em que eu posso ajudar?
A noite estava quente e
enluarada. A turma resolveu ficar no jardim. No primeiro momento todos sentados
em uma roda conversando, mas aos poucos a roda se desfez. E ficaram alguns
casais apreciando o romantismo da lua.
Eduardo pendurou sua rede no
avarandado e Nina sentou com ele, que dali eles apreciavam a lua. Eduardo abraçado a ela a puxou para perto e a
beijou. Um beijo suave que foi se aprofundando, e ele percebeu que ela nunca
tinha sido beijada. Aconchegou-se a ela com carinho.
Os dias que se seguiram foram de
encantamento para Nina e Eduardo. Eles curtiram cada momento. O feriadão
terminou. Nina e Eduardo estavam comprometidos.
O final de ano se aproximava e
todos eles estavam com muitas coisas para fazer, e a turma estava se reunindo
só de vez em quando. Todos estavam namorando, pois Jéssica e Marcelo firmaram
compromisso, assim como Sandra tinha reatado o namoro com Sérgio. E Laís estava
voltando para sua terra, seu curso havia terminado. Mas programaram alguns
encontros.
Nina ficava mais em casa, Eduardo havia
estendido o horário de atendimento na papelaria, por causa do Natal, uma vez que
tinha um nicho de presentes e brinquedos.
Eles estavam a cada dia, mais
apaixonados, descobriram que eram muito parecidos, gostavam das mesmas coisas,
até na comida. Entendiam-se muito bem e o namoro fluía. E Nina gostava de lembrar
o primeiro beijo que eles trocaram e das caricias que trocavam, e da primeira relação
amorosa. Como ele tinha sido carinhoso e gentil com ela. A tratava como se
fosse uma princesa, e a chamava de minha linda. Nina estava feliz.
Fazia muito tempo que ela não se
sentia tão leve e feliz. Desde a morte de sua mãe sua vida tinha virado de
cabeça para baixo. Ela tinha dezesseis anos, quando sua mãe adoeceu um câncer
de fígado que em três meses a matou. Ela era filha única e seu pai pouco tempo
depois trouxe sua amante para morar com ele, na casa que era de sua mãe. Ela
não aceitou tal situação, e foi morar sozinha. Era muito jovem, mas teve que
assumir sua vida. Ela jamais perdoou seu pai.
Ele fez o inventario e ela ficou
com três apartamentos, inclusive o que ela morava para não ter parte na casa.
Ela se afastou completamente de seu pai e do resto da família. Sua mãe tinha
apenas uma prima que morava na Espanha. Portanto ela era muito só.
Hoje, cinco anos depois ela
estava bem. Sentia-se segura, pois era amada
por Eduardo e o amava muito. Ela pedia a Deus que ele nunca a decepcionasse...
Porque ela tinha apostado tudo nele.
A turma tinha decido passar o dia
de Natal juntos. Cada um levaria um prato e bebida e passariam a beira da
piscina. Sandra concordou. D. Rute gostava que eles fossem para lá, eram
alegres e divertidos. Mas estava com problema de coluna e o médico havia
recomendado que ficasse sem trabalhar por uns dias.
Na noite de Natal, Nina e Eduardo
tinham combinado de ficar em casa. Só os dois. Ele sairia tarde e cansado da
loja. Eles fariam uma festa particular, e no outro dia sim, iriam participar com
a turma.
Nina preparou uma ceia para eles,
decorou a sala com motivos natalinos, montou uma árvore de Natal, e foi o
melhor natal de sua vida. E terminaram a noite fazendo amor com muita paixão.
No outro dia, por volta das onze
horas a turma foi chegando à casa de Sandra. Arrumaram umas mesas no jardim,
guarnecidas de guarda sois e na mesa cumprida da área colocaram as comidas.
A piscina foi a grande pedida.
Eles passaram um dia alegre e
descontraído. O feriado de Ano Novo, Eduardo convidou Nina para irem para a
praia. Alugaram um quarto em um pequeno hotel e curtiram muito.
Os dias passavam e Eduardo estava
feliz ao lodo de Nina, que era a mulher que sempre idealizara para si. E toda
vez que faziam amor ele sentia que ela era o seu paraíso, que ali era o seu
lugar.
Nina também estava entregue a
esse amor. Sabia que Eduardo era sincero e fiel, e que jamais procederia como
seu pai, que nem respeitou a doença e nem a memória de sua mãe. Ela desprezava
seu pai.
Nina e Eduardo não estavam
morando juntos, mas seguidamente ele dormia no apartamento dela. Eles moravam
tão próximos, a menos de trinta metros e eles curtiam ter momentos de
privacidade.
Nina estava chegando em seu
prédio quando um homem a abordou. Ela ficou com medo, mas era uma pessoa bem
vestida e educada, que se apresentou e disse que precisava conversar com ela,
assunto muito importante e privado. Que ela escolhesse o lugar e se quisesse
levar alguém de confiança, não teria problema algum.
Ela pensou e marcou para o outro dia
no shopping, na praça de alimentação. O homem agradeceu e foi embora. Ela ficou
parada pensando e observando o homem entrar num carro preto.
Nina deu volta e foi para a
papelaria, precisa contar para Eduardo. Depois de escutar o relato dela Eduardo
achou que realmente ela deveria ouvir o que essa pessoa tinha para dizer. Ele
iria junto com ela.
No outro dia Nina e Eduardo foram
para o shopping um pouco mais cedo do que o combinado. Sentaram em uma mesa,
mais ao canto. E esperaram.
No horário marcado se aproximou
deles um homem com uma pasta. Ele educadamente pediu licença e sentou.
-- Olá, obrigado Nina por ter
aceitado conversar comigo. Sei que foi outra pessoa quem falou contigo ontem, a
meu pedido.
Eduardo perguntou:
-- Por favor, quem é o senhor? O
que quer com a Nina?
-- Eu tenho muito a contar para
ela, preciso revelar um segredo de Marília, a mãe de Nina.
-- O que tem minha mãe? Quem tu
és?
-- Bem, vou começar pelo fim,
para te acalmar. Eu sou teu pai.
Nina ficou pálida, Eduardo pegou
em sua mão e disse:
-- O senhor é maluco?
-- Não... Marília e eu vivemos um
grande amor... Vou contar tudo. Mas antes vou buscar uma água para ela, que está
mais branca do que algodão.
Ele voltou com três garrafas de
água mineral. Sentou na frente e Nina e olhando para ela disse:
-- Tu és linda como tua mãe.
Estás muito parecida com ela. Eu sou um artista, amo a minha arte e casamento
nunca esteve nos meus planos. Mas quando eu conheci tua mãe, minha vida virou
de cabeça para baixo. Eu morava em Paris, estudava artes e frequentava
exposições e pintava quadros na praça, os quais eu vendia para me sustentar.
Minha família me mandava alguma ajuda. Minha mãe me apoiava, mas meu pai não.
Minha irmã tinha vergonha de mim. Bem,
nós éramos muito jovens. E aquela tare, uma bela moça parou para olhar meus
quadros e eu fiquei encantado com ela. Perguntei se ela gostaria de posar para
mim, que eu faria o retrato dela. Ela aceitou na hora. Ela era alegre e
impulsiva. E eu pintei e deu o quadro de presente para ela. Mas depois continuamos
nos encontrando, nasceu entre nós uma paixão alucinante, que nos dominava.
Vivemos dias felizes. Eu continuava meu curso na faculdade e ela estava lá para
aprimorar o idioma. Foi a melhor época de minha vida. Mas ela engravidou e tudo
se modificou. Ela ficou desnorteada com a gravidez, eu estava feliz, mas a
família dela a obrigou a voltar. Eu prometi que viria para junto dela, eu só
precisava juntar dinheiro para a passagem.
Mas quando eu cheguei aqui ela já estava casada. Para mim foi um golpe. A
família dela tinha “comprado” um marido para ela. Ele era um rapaz ambicioso
que estava se formando em direito. Teu avô propôs sociedade no escritório de
advocacia para ele, se casasse com Marília. Deu uma casa e um bom salário. E
tua mãe ficou infeliz. Eu vim para cá e enquanto ela viveu, eu a amei com
loucura. Continuamos nos encontrando até o dia que ela não pode mais sair por
causa da doença. Na verdade, segundo eu sei, ela e o marido nunca tiveram uma
vida de casal. Ele sempre teve amantes. Eu te acompanhei sempre de longe. Te vi
crescer, tornar-se essa moça linda que és, eu te amei a distância. Eu decidi te
contar esse segredo de família, porque quero estar perto de ti minha filha. Eu
sei que parece uma coisa absurda, mas tua mãe viveu uma linda história de amor
comigo. Fomos felizes do jeito que podíamos. Hoje eu estou bem de vida, tenho
uma galeria de arte, mas não foi sempre assim, houve época que eu só tinha o
meu amor a oferecer a Marília.
-- Por que ela nunca me contou?
Éramos amigas...
-- Mas tu eras muito jovem para
entender. Só quem ama pode entender o amor.
-- E as provas do que tudo isso é
verdadeiro? O retrato dela está comigo. Ela amava aquele quadro...
-- Eu proponho nós fazermos o
exame de DNA. Isso vai provar tudo. E tenho fotos e cartas, bilhetes escritos
por ela. Estão aqui na pasta. Leva, olha em casa com calma.
--E como é o teu nome?
-- Antônio Ramada, e meu nome
artístico é Ramada.
-- E de onde és?
-- Eu sou paulista da capital.
Mas vim para o sul, me estabeleci aqui para ficar perto de tua mãe. No início
foi difícil, eu mal me sustentava, mas depois as coisas foram melhorando. Eu
consegui vender quadros para o exterior e me tornei conhecido, e alguns quadros
foram bem valorizados e hoje vivo bem.
-- Por que minha mãe nunca se
separou dele?
-- Porque teu avô nunca permitiu.
Ele me odiava. Hoje eu teria condições de sustentar uma família, mas naquela
época não. Ela precisava do dinheiro da família para viver e te dar conforto. O
marido não colocava dinheiro em casa. Depois que ela adoeceu quem me dava
noticia dela era a Bá.
-- A Bá, morreu logo depois da
mãe. E eu fiquei só. Muito só. Hoje eu tenho Eduardo aqui comigo, mas após a
morte de minha mãe eu fiquei sem ninguém, aquele homem que disseram que era meu
pai, nunca se importou comigo. Meus avôs sempre foram distantes de mim, e já
estavam doentes. Ela fora “da casinha” e ele tinha problema de coração muito
grave.
Antônio se despediu e foi embora.
Pediu que ela olhasse tudo com cuidado e marcasse o exame, e o avisasse.
Eduardo que até então tinha ficado quieto agradeceu a ele. Eles entrariam em
contato.
Nina estava abalada. Eduardo a
levou para casa. Ela tomou um banho enquanto ele preparava um chá para ela. Ela
queria olhar as fotos e as cartas da mãe. Mas Eduardo achou melhor esperar um pouco,
eram muitas emoções. Ele a abraçou, beijou sua testa e perguntou:
-- Tudo foi surpresa, ou tinha
alguma coisa que tu sabias?
-- Não, em casa não se falava em
dinheiro. Tudo o que eu precisava pedia para minha mãe porque eu nunca me dei
com ele. Ele sempre foi um estranho que eu chamava de pai.
-- Como o dinheiro pode trazer
infelicidade. Se teu avô não tivesse sido tão intransigente e tivesse ajudado
ao Antônio, tudo seria diferente e eles teriam sido felizes.
-- Pois é, e quantas pessoas
foram infelizes por causa dessa decisão de meu avô. Pelo menos quatro, porque
eu me incluo. Minha infância não foi feliz. Em casa tudo sempre foi muito
quieto, não havia conversas, risadas, nada... Não se festejava nem aniversário.
Sabe, antes de tu entrares em minha vida, a melhor coisa que eu encontrei foi a
turma de amigos. Ali eu me divertia e me sentia à vontade, me sentia parte do
grupo. Ainda me sinto assim, gosto de todos eles são minha família.
-- E eu estraguei isso?
-- Deixa de ser bobo, tudo
melhorou com tua presença em minha vida. Só espero que continuemos assim. Que
nada nos afaste.
-- Eu também. Te amo muito para
ficar longe de ti.
Mais tarde eles pediram uma
pizza, sentaram no chão encostados no sofá e olharam tudo o que havia na pasta.
Algumas fotos que Nina lembrava, mas outras eram desconhecidas dela. Leu as
cartas e ficou convencida de que Antônio era seu pai. Naquela noite Eduardo
ficou com ela.
O exame de DNA deu positivo, ela
era realmente filha biológica dele.
Nina ficou feliz por não ser filha
do marido de sua mãe. Agora ela tinha um pai de verdade que queria conhecer
melhor e assim fez.
Ele a convidou para viajar com
ele, já que iria visitar várias galerias em diferentes países. Que ela
providenciasse o passaporte imediatamente e tirasse o visto para entrar nos
EUA.
Nina estava eufórica, não tinha
mais tempo para nada e Eduardo foi se sentindo em segundo plano. Aos poucos ele
foi se afastando. Ela nem percebeu.
Como iam ficar fora um bom tempo,
Nina trancou sua faculdade. E saiu com seu pai pelo mundo. Ela telefonava para
Eduardo, mandava fotos, se comunicava com ele, mais como amiga do que namorada.
Ele decidiu por um final naquela
relação que estava muito esquisita. E telefonou para ela explicando seus
sentimentos e ela aceitou sem protesto algum. Após o telefonema Eduardo se
sentiu péssimo. Mas ele precisava de definições, e agora estava livre de
qualquer compromisso.
Depois de oito meses Nina
retornou, ela foi a papelaria para ver Eduardo. Tinha trazido uns presentes
para ele, mas ele não estava. Então os deixou em cima da mesa dele com um
bilhete.
Eduardo quando chegou encontrou o
bilhete dela que dizia: “Vou mudar para o apartamento do meu pai. Se puder ir
me ver, estarei no meu apartamento arrumando minhas coisas. Te espero beijos” Ele
abriu os presentes que ela havia deixado e foi vê-la.
Ele ainda tinha a chave do
apartamento dela e entrou sem bater e a encontrou no quarto fechando a mala.
Ela parou e olhou para ele e correu para abraçá-lo. Ele retribuiu o abraço
morrendo de vontade de jogá-la na cama e fazer amor.
-- Senti muitas saudades tuas. – Foi
o que ele disse.
-- Eu também. Sinto falta dos
teus beijos e das nossas transas.
-- Achei que estavas feliz
viajando com teu pai...
-- Sim, eu estava, mas tu não
estavas lá.
E ele a beijou com intensidade e
acabaram na cama, fazendo amor como nunca antes. Ambos estavam sedentos e se
entregaram com ardor. Estavam ofegantes quando ela perguntou:
-- Por que tu quiseste desfazer
nosso compromisso?
-- Porque eu estava me sentindo
sozinho demais, me sentindo abandonado...
-- Mas agora vamos ficar juntos
novamente, eu te amo muito.
-- Não sei se devemos. Teu pai
está te oferecendo uma vida diferente, em outra esfera social, a qual eu não
faço parte, e tu vais conhecer pessoas diferentes e interessantes. E eu posso
me tornar um estorvo para ti. Melhor assim, sem compromisso.
-- Sem compromisso, mas vamos
seguir nos encontrando, certo?
-- Não sei, não posso prometer.
E ela foi morar com o pai. Agora
ela era citada nas crônicas sociais, era fotografada e estava sempre
acompanhada por herdeiros ricos. Ela parecia deslumbrada com seu novo mundo.
Eduardo havia terminado seu curso
de Administração de Empresas e se dedicava ao seu trabalho a sua loja. Quase
não saia, e seus amigos uns estavam casados e outros noivos. Ele preferia uma
boa leitura a andar pela rua caçando, uma qualquer. Fazia mais de ano que não falava
com a Nina.
Eduardo ainda pensava muito nela,
e sempre soube, desde o instante que a viu, pela primeira vez, que ela era a
mulher de sua vida. E por ironia da vida ela se afastou dele por causa do pai.
Um pai que a seduziu com o fascínio da vida. Eduardo não tinha mais esperança
em ter uma vida junto de Nina.
Certo dia ele estava almoçando em
um dos restaurantes do bairro, que estava lotado, quando uma moça se aproximou
e perguntou:
-- Posso compartilhar de sua
mesa.
-- Sim. Sinta-se à vontade.
-- Eu tenho pressa. Não posso
esperar.
-- Eu sou Eduardo.
-- Eu sou Bianca. Eu te conheço,
tu não és o cara da papelaria?
-- Sim. Mas não me lembro de ti. Já nos conhecíamos?
-- Não. É que geralmente eu desço
do ônibus ali na frente e já te vi ali.
-- Bem, na próxima vez que descer
ali, entra pra me dar um oi.
-- Com certeza... Vou aparecer
por lá.
-- Está na minha hora, eu preciso
ir ao banco. Até qualquer hora.
-- Tchau...
Eduardo saiu do restaurante e se
dirigiu ao banco que era um quarteirão dali, e foi pensando em Bianca. Ela era
simpática e bonitinha. E bem novinha,
devia ter uns vinte anos.
E naquela semana um fim de tarde,
Bianca cumpriu o prometido, apareceu na papelaria e ficou conversando e
esperando a hora de fechar a loja. Já haviam combinado de sair para fazer um
lanche com ele.
E a amizade dele com Bianca foi
se fortalecendo. Para ele era só amizade, mas para ela não, pois ela pressentia
boas oportunidades com ele. Bianca era uma guria bem solta, bem moderninha e
gostava de tomar iniciativas. E ela já tinha feito algumas propostas para ele.
E, é claro que ele aceitou, mas deixando, sempre, bem explícito que não havia
compromisso entre eles.
E foi num sábado a noitinha,
quando ele saia de seu apartamento abraçado com Bianca que ele se deparou com
Nina a sua porta, que estava indo procurá-lo. Quando eles se olharam Eduardo
quis correr para Nina, que ficou parada ali a sua frente sem ação, tão surpresa
de vê-lo abraçado a outra, quanto ele de vê-la.
-- Oi tudo bem? Eu estava
passando por aqui e resolvi entrar ... – foi o que Nina falou.
-- Tudo bem. Essa é Bianca, uma
amiga.
-- Prazer – falou Bianca.
-- Prazer. Bem estas de saída com
tua amiga, outra hora falamos. Tchau.
E Nina saiu rapidamente porque
não suportou ver Eduardo abraçado com outra moça, que bem novinha e bonita.
Enquanto caminhava, as lágrimas rolavam em suas faces. Apesar da vida maravilhosa,
que seu pai lhe oferecera, ela nunca deixou de pensar em Eduardo, era o seu
amor, seu amigo, seu companheiro. Ela se lembrava dos momentos de intimidade
que tiveram, como ele a tratava com carinho, como ele cuidava dela, como ele
era maravilhoso. E agora... Tudo perdido... Será que teria chance?
Seu pai estava viajando e ela
ficou em seu antigo apartamento, que ela conservava com uma pessoa indo limpar
uma vez por semana. Tinha imaginado que Eduardo ficaria ali com ela e seria
como os velhos tempos. E tinha ido lá para buscá-lo. Mas agora ele tinha a
Bianca.
Nina abriu as janelas e sentou no
sofá pensando. Ela precisava tomar uma atitude, decidir sua vida. Ela estava
com saudades de sua vida simples, de trabalhar, estudar e namorar Eduardo. Era
isso o que ela queria. Mas, e se ficasse sem Eduardo? Ela iria querer essa vida
de novo?
Eduardo quis sair atrás de Nina,
mas Bianca estava ali. Que hora errada! Ele tratou de despachar Bianca para ir
procurar Nina, eles precisavam, pelo menos, conversar. Se ela veio até ele, era
porque alguma coisa tinha mudado, não importava o quê, mas ele precisava saber.
Então decidiu ir ao apartamento
antigo dela. Se ela estava por ali... Ele carregava a chave em seu chaveiro.
Ele chegou a frente do prédio e viu as janelas abertas, e a luz acesa, ela
estava lá, com certeza. Subiu e abriu a porta devagar e a encontrou no sofá
chorando.
Ele entrou não disse nada. Sentou
ao lado dela e a abraçou e o choro se tornou mais copioso e ele beijava suas
faces para secar suas lágrimas. Depois de um tempo Nina se acalmou e Eduardo
perguntou a ela:
-- Aconteceu alguma coisa? Tu
estavas indo me procurar, o que houve?
-- Sim, eu estava indo lá para te
ver, estava com muitas saudades de ti, de nossa vida juntos, até desse
apartamento, eu sinto falta. Meu pai me ofereceu coisas demais, ele quer me
compensar de alguma forma. Mas eu não gosto daquela vida, daquelas pessoas. Não
me adapto. Mas...
-- Mas? Continua.
-- Não foi fácil te ver abraçado
àquela garota. Me deu um aperto no peito. Eu sei que te perdi... E é difícil aceitar.
-- Eu não estou comprometido com
ninguém. Bianca é uma amiga.
-- Amiga? Vocês estavam saindo de
uma transa, a fisionomia dela demonstrava isso. Estou errada?
-- Eu a conheci há pouco tempo,
uns dois meses atrás, não temos nada.
-- Tu não respondeste a minha
pergunta. Não estavam transando?
-- Sim estávamos.
-- Eu sabia aquele risinho de
superioridade, não me enganou...
-- Mas que não significou nada,
será que não entendes? Ela é nada para mim.
-- Nada!
-- Foste tu quem saiu da minha vida,
se afastou de mim deslumbrada pela nova vida. Tu podias muito bem ter uma
relação com teu pai sem me deixar para trás. Mas não foi o que tu fizeste.
Simplesmente foi, sem se importar...
-- Eu sei, eu errei.
-- Então, o que queres?
-- Eu queria voltar no tempo, ter
aquele namorado que era só meu...
-- Algumas coisas não dão para
mudar. Precisamos recomeçar...
-- Eu vou voltar para cá. Tomei
essa decisão hoje. Meu pai está viajando, quando ele voltar vou contar para
ele.
-- E vais ficar aqui já a partir
de agora?
-- Sim, eu vim para isso, trouxe
uma valise com o que preciso.
-- Eu fico contigo. Não vamos
mais discutir, vamos curtir essa noite, vamos pedir uma pizza, beber um vinho
que eu vou buscar lá em casa. Ou queres ir para lá?
-- Bem capaz! Aquilo deve estar
contaminado...
Eduardo deu uma gargalhada e
levantou para sair e ir buscar o vinho. Foi em casa e aproveitou para tomar um
banho. Precisava tirar do corpo o cheiro da Bianca.
Quando ele voltou, ela também
tinha tomado um banho, estava de cabelos molhados e estava muito sensual. Ele
ficou com vontade de a levar para cama, mas se conteve. Ele não queria estragar
tudo. Ele estava “pisando em ovos”, tinha que ter cautela para ela voltar a
confiar nele.
--Duas garrafas? Estás com más
intenções?
-- Não, estou com boas intenções.
E riram e sentaram para
conversar. Ela estava com o perfume que ele gostava e se achegou a ela para
sentir o cheiro:
--Esse perfume me inebria...
E Eduardo aproveitou e fez um
carinho em sua face e a beijou com suavidade nos lábios. Ele tinha que ir
devagar, estava consciente disso. E passou o braço sobre os ombros dela e a
puxou para perto dele.
Assim ficaram enquanto o assunto
brotava. Era tanta coisa para contar.
A noite foi maravilhosa,
saborearam uma pizza, beberam um bom vinho e se amaram com voracidade, com
paixão, com loucura. Passaram o domingo juntos como antes. Eduardo saiu do
apartamento só na segunda feira de manhã porque precisava abrir a loja.
Nina foi esperar seu pai e dizer
que voltaria a morar em seu antigo apartamento. Mas seu pai chegou com uma
novidade. Iriam se mudar para São Paulo. Agora ele poderia ter a galeria de
seus sonhos...
E surgiu o impasse. Antônio
queria que a filha fosse com ele para São Paulo.
Nina não queria magoar seu pai e
foi falar com Eduardo. Foi até a loja e ele não estava, mas Bianca estava lá
esperando por ele. Nina se recusou a ficar. Deixou um bilhete sobre sua mesa e
foi para seu apartamento. Dessa vez queria decidir com ele.
Era fim da tarde quando Eduardo
ligou:
-- Oi minha linda, recebi teu
bilhete, mas só posso ir depois que eu fechar a loja. Se queres vir para cá,
seria muito bom.
-- Aquela bisca ainda está por aí?
-- Quem?
-- Não te faz de desentendido, a
Bianca.
-- Ela? Não sei, ela esteve aqui?
-- Sim, eu a vi.
-- Ninguém me falou nada, não
sabia. Vens?
-- Não vou te esperar aqui.
-- Ok. Tchau...
Nina enquanto esperava por
Eduardo havia decidido o que fazer, mas queria ver a reação dele, saber a
opinião dele sobre o pedido de seu pai. Então ele chegou e ela contou a
novidade, que imediatamente estampou uma tristeza nos olhos, então ela perguntou:
-- O que eu faço?
-- Ontem tu tinhas uma firme
decisão e agora já tens dúvidas. Eu não vou opinar, não vou competir com teu
pai. A escolha é tua.
Nisso toca o telefone de Eduardo:
-- Oi Bianca, tudo bem? ....
Nina ficou furiosa, aquela vadia estava
marcando território e ela dando margem. E tomou sua decisão. Depois de desligar
o telefone Eduardo continuou:
-- Nina eu não posso interferir,
ele é teu pai, que tu conheceste há pouco tempo, é uma situação “sui generis “.
Por mais que eu queira, não posso te pedir nada. Consegues entender?
E agora foi o telefone de Nina
que tocou. Era seu pai a estava esperando. Ela ia jantar com ele, e convidou
Eduardo:
-- Vem jantar conosco. Vamos
decidir juntos...
-- Não obrigado. Vou para casa.
-- A Bianca vai estar lá contigo?
-- Não sejas assim. Não estrague
as coisas. Ela não vai estar lá, se queres conferir depois do jantar com teu
pai vai lá. Ela só me disse que esteve na loja hoje à tarde. Eu não dei
conversa para ela tu ouviste, não foi?
-- Sim, mas não gosto dela, e não
quero ela perto de ti.
-- Primeiro toma a tua decisão, e
depois opina sobre quem pode ficar comigo.
Eduardo estava chateado, e Nina
percebeu. Desceram quietos. Ele a levou até o carro, cumprimentou Antônio,
fechou a porta e os viu sair. Foi para seu apartamento. Tomou um banho, ligou a
TV e esperou as horas passarem. Não queria pensar. Se Nina fosse com o pai para
São Paulo, eles ficariam definitivamente, longe um do outro. Era o fim do
romance.
Ele estava cochilando quando
sentiu um beijo em sua boca, era um beijo com o gosto de Nina, e isto ou deixou
feliz e cheio de desejos, mas ele não sabia se estava sonhando ou se ela estava
ali. Precisava abrir os olhos, mas tinha medo de ser só um sonho.
Mas era realidade, ela estava ali
em seus braços e iria ficar com ele para sempre.
Maria Ronety Canibal
Setembro de 2017.
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