domingo, 17 de setembro de 2017

OBSTINADO

                                                              OBSTINADO

Laerte e Osmar eram muito amigos, haviam se conhecido na faculdade. A família de Laerte morava no interior e por isso aos domingos ele sempre  era convidado para o almoço.
Mas esse domingo era um dia especial. Osmar estava comemorando vinte e um anos e sua família resolveu fazer um churrasco comemorativo. Além da família, alguns amigos e amigas também fariam parte do grupo, inclusive a os pais de Suzana.
Suzana e Olivia, que era irmã de Osmar, eram muito amigas desde crianças. Cresceram juntas e hoje com dezessete  anos elas trocavam confidências, mas não contavam todos os seus segredos.
A festa seria no jardim, havia sido montado um gazebo enorme, com muitas mesas cobertas com toalhas azuis e guardanapos brancos, que  estavam decoradas com pequenos vasos de violetas brancas.
Já havia um grande numero de convidados quando Suzana chegou  festa, acompanhada de seus pais. Ela havia escolhido para a ocasião um vestido leve de verão, na cor branca, usava acessórios  na cor verde esmeralda.
Laerte estava conversando com alguns amigos e quando ele a viu chegar, parou de falar e seu olhar pousou nos olhos de Suzana que também o olhava de um modo especial.
Suzana quando olhou para ele sentiu seu coração disparar, parecia que ia saltar pela boca. E Suzana ficou parada, como que presa ao chão. Foi sua mãe quem a puxou e a levou para sentar a mesa.
Ela não o conhecia pessoalmente, apenas de nome, pois Olivia sempre falava muito nele. Aquele era o  amigo de seu irmão que aos domingos almoçava em sua casa. Devia ser ele.
Laerte se afastou do grupo e ficou parado olhando para ela como se tivesse hipnotizado e com seu coração aos pulos. Foi Oliva que o despertou.
-= Ei, o que houve contigo? Estás com uma cara...
-- Nada. Estava distraído...
-- Hum... Distraído...
Estas olhando para Suzana como se tivesse visto uma miragem, foi o que pensou Olivia.
-- Vem, estamos planejando sentarmos todos juntos, estão juntando as mesas ali, vem...
E Laerte foi com Olivia para junto da turma. E escolheu um lugar do qual poderia continuar a olhar para a recém chegada,  Suzana, era esse o nome que Olivia dissera, quando ela chegou. Essa é a guria que Osmar tanto falava, realmente ele tem razão, ela é linda de mais.
Então Osmar que era apaixonado por Suzana foi convidá-la para sentar junto com o grupo, mas ela desculpou-se e ficou junto dos pais. Ela tinha discutido com Olivia e ainda estava muito zangada com a amiga.
Os pais de Suzana gostavam muito de Osmar e faziam gosto no namoro deles. Mas ela via Osmar apenas como um bom amigo, embora ele já tivesse falado em namoro mais de uma vez. Ele não se convencia de que ela não era apaixonada por ele.
Durante a festa Suzana ficou sentada quieta só observando e Laerte procedeu da mesma forma. Ele estava com vontade de ir lá falar com ela, mas achou que não era uma boa idéia, pois ela não saiu de perto dos pais.
Olivia havia comentado na mesa, que ela e Suzana tinham brigado por causa de uma foto que Olivia tinha postado no Face, que Suzana não gostava que postasse sobre sua pessoa. Que Suzana estava ficando, a cada dia, mais chata, sempre cheia de não-me-toques.
Laerte resolveu ir embora, já tinha feito a sua obrigação e ele tinha que estudar para as provas.
Suzana avisou para os pais que ia embora, estava com dor de cabeça. Que eles não se preocupassem, ela iria a pé, era perto. E ela iria sair à francesa, sem se despedir de ninguém. Deu um beijo em sua mãe de foi embora.
Ela estava chegando ao portão quando viu que Laerte se aproximava. Ele olhou para ela e disse:
-- Também indo embora?
-- Sim – foi o que ela respondeu olhando para ele, que se adiantou e abriu o portão para ela. E já na calçada ele falou:
-- Sou Laerte, prazer em te conhecer.
-- Prazer, Suzana.
-- Para onde vais, posso te acompanhar?
-- Eu vou para casa, é perto. Mas se vais para o mesmo lado, podemos ir juntos sim.
E Laerte a levou até sua casa. Perguntou se poderia ligar para ela, Suzana concordou e deu o seu numero para ele. Despediram-se e Suzana entrou e foi para seu quarto. Tirou o vestido e deitou-se na cama, realmente estava com dor de cabeça. Quando seus pais chegaram a encontraram dormindo.
Era inicio da noite quando Laerte a chamou, e conversaram um bom tempo.
No outro dia, na aula, Olivia estava contando para as outras colegas sobre a festa de aniversário de seu irmão, e falou que Laerte tinha sentado junto com ela no almoço e que ele estava muito interessado nela. Que ela estava feliz, enfim tinha conquistado o coração dele.
Suzana estava sentada em sua classe e escutou toda a conversa de Olivia, só que o que ela estava contando não conferia com o que ela tinha assistido. Pois Laerte tinha passado o tempo todo quieto e olhando para ela.
Depois de alguns dias, Suzana e Laerte, que se falavam todos os dias, já eram bem amigos. E ele perguntou se ela aceitava ir ao cinema com ela. Combinaram de se encontrar no shopping.
E Suzana foi só. Não contou para ninguém que tinha um encontro marcado. Quando ela chegou, ele a estava esperando já com as entradas na mão. Compraram pipoca e se acomodaram para ver o filme, que era uma história triste.
Suzana se emocionou com o drama mostrado no filme e chorou. Laerte que estava a observado secou as lágrimas no rosto dela. Pegou sua mão, beijou e manteve a mão de Suzana entre as suas.
Quando o filme terminou ele a convidou para  irem para a praça de alimentação, comer um sorvete. Ela aceitou e encontraram uma mesa, Laerte buscou o sorvete e  enquanto comiam ele a olhava com intensidade. Por fim ele falou:
-- Naquele domingo quando te vi, não consegui desgrudar os olhos de ti. Tu és tão bonita, tão suave, tão... Nem consigo palavras para me expressar. Guria tu mexeste muito comigo.
-- Tu também mexeste comigo. – falou Suzana olhando para ele.
Ele pegou em sua mão, beijou e olhando para ela pediu:
-- Queres ser minha namorada?
-- Sim, eu quero.

Os dias passavam e Suzana e Laerte estavam muito apaixonados. Os dois passavam a maior parte do tempo deles juntos. Ela havia se afastado se seus amigos e ela de suas amigas. Os dois se bastavam.
Os pais de Suzana eram simpáticos com Laerte, mas na verdade, eles não queriam que aquele namoro continuasse. Embora eles soubessem que Laerte era um bom rapaz, eles achavam que ele não se enquadrava no circulo social de Suzana, que era uma moça rica, bonita e educada e poderia encontrar um marido rico.
Os irmãos Osmar e Olivia estavam indignados com o namoro entre Laerte e Suzana, e de todos os meios procuravam criar intriga. Sabiam que Suzana era “pavio curto”, que logo explodia e isso era o plano deles para separar os dois.
Enquanto Olivia enchia os ouvidos de Suzana, Osmar fazia o mesmo com Laerte. E como era o esperado os namorados brigaram.
Suzana deitada em sua cama chorava, e nem sabia por que eles tinham brigado. Ela só se lembrava das palavras de Laerte “eu te amo muito, e só te peço que acredites em mim”.
Laerte também estava abalado, seu coração estava partido e não entendia a razão da briga. Suzana parecia estar duvidando de tudo a respeito dele, que ele não gostava dela, só estava com ela para subir na vida. Sim foi esta a expressão usada por ela.
Ele estava se sentindo magoado. Sempre fora sincero, direto e Suzana não acreditava no que ele dizia. Ele gostava muito dela, mas ela era teimosa, era mimada, era um gênio difícil.

Laerte estava deitado em sua cama pensando em Suzana, ele a procuraria no outro dia para conversarem. Eles não podiam deixar que uma intriga os separasse. Se amavam muito  e com certeza superariam essa situação.
Mas o telefone tocou. Era o pai de Laerte avisando que sua mãe tinha tido uma isquêmica  e estava muito mal. Ele passou uma mensagem para Suzana avisando que estaria fora uns dias. Arrumou sua valise e correu para a rodoviária e embarcou no primeiro ônibus para sua terra Santa Bárbara do Sul.
Durante a viagem Laerte ia pensando em sua família, em sua gente. Eram pessoas simples e trabalhadoras.  Sua família tinha um pedaço de terra e plantavam trigo. Moravam na pequena cidade e sua mãe e sua irmã cuidavam do mercado da família. Seu irmão mais velho morava no campo e cuidava da plantação. Ele era o mais novo dos irmãos, e teve o privilégio de poder ir para a capital estudar e fazer faculdade, ele era o orgulho de todos. Logo ele seria um Engenheiro Civil, e contribuiria para o progresso de sua cidade. Pois assim que se formasse ele iria voltar para sua terra.
E Laerte se deu conta de como sua família era diferente da família de Suzana, e como ela fora criada com luxo e  como ela era mimada e cheia de manias. Embora ela fosse a dona de seu coração ele não podia deixar de enxergar a realidade. Havia um abismo entre eles. Talvez essa briga fosse um alerta da diferença que existia entre eles.
Depois de uma semana Laerte voltou a Porto Alegre para prestar as provas  na faculdade. Era fim de semestre, ele conversou com os professores e conseguiu dispensa por causa das faltas. Pois devia ajudar em casa. Com a doença, a mãe precisava de cuidados, e sua irmã cuidaria dela, mas não tinha ninguém para ficar no armazém. Então ele se ofereceu para ficar no mercado, enquanto as coisas não se normalizassem.
Passou na casa de Suzana para falar com ela, mas não conseguiu. A empregada disse que ela tinha ninguém em casa. Então ele deixou as flores para serem entregues a ela, e foi embora.
Laerte já estava em viagem quando recebeu telefonema de Suzana agradecendo pelas flores e pedindo para que ele fosse a sua casa para conversarem. Então ele contou o que tinha acontecido e que ele estava indo para Santa Barbara do Sul e não sabia quando retornaria a Porto Alegre.

Suzana adoeceu, tinha uma tristeza em seu peito que machucava muito, ela não tinha mais vontade de estudar, de sair, de  se arrumar, de comer e não dormia só pensando em Laerte.
Os pais de Suzana, Luis e Vera, ficaram assustados com a reação dela. Eles sempre pensaram que aquele namoro era algo passageiro, inclusive quando eles brigaram acharam  muito bom, mas agora estavam percebendo o sofrimento da filha.
Dona Vera resolveu conversar com ela, para saber um pouco mais sobre o namoro e a razão da briga. E se surpreendeu com a armação que prepararam para os dois.
Então d. Vera disse que a levaria até a cidade dele para os dois conversarem. Pois Suzana havia acreditado em fofocas sem fundamento, e tudo isso por causa do seu jeito de primeiro brigar, para depois ver os fatos e analisar a situação.
Seu Luis concordou com a idéia de sua esposa, mas afirmou que não iria. Era melhor elas irem só. E no sábado bem cedinho, elas saíram em direção a Santa Barbara do Sul.
Depois de quatro horas de viagem elas avistaram a pequena cidade de Santa Barbara do Sul, que era bem acolhedora. Pararam para pedir informações e logo acharam o local, e estacionaram em frente ao Armazém.
Suzana entrou no mercado e logo viu Laerte sentado em uma mesa, numa sala envidraçada,  fazendo anotações. Ela foi em direção a porta, mas parou. Achou melhor perguntar a moça do caixa se poderia falar com Laerte.
Então conforme indicação da jovem ela deu uma batidinha na porta e entrou, e parou diante da mesa, e esperou. Ele não levantou a cabeça e disse:
-- Sim, qual o problema?
Mas ela não disse nada, apenas colocou um sorriso nos lábios. Então ele levantou os olhos e a viu. Levantou-se tão rápido que derrubou a cadeira. Levantou a cadeira e contornou a mesa para chegar até ela, a abraçou e sussurrou ao seu ouvido:
-- Tu aqui? O que houve?
-- Não houve nada, vim te ver... Precisamos conversar.
-- Sim, mas não aqui. Como chegaste aqui?
-- Minha mãe me trouxe, ela está no carro.
--  Me aguarda aqui, já volto.
Ela esperou e ele logo voltou com uma sacola cheia coisas. Vamos lá pra casa.
A casa em que a família de Laerte morava era grande, tinha um lindo gramado na frente com canteiros de flores. Era bem próximo ao mercado. Ele entrou e foi gritando para sua irmã que tinham visita para o almoço. E aparece uma jovem muito parecida com ele com os olhos arregalados perguntando:
-- Quem?
E Laerte rindo dela diz:
-- Gente importante, vindos da capital.
E ainda rindo apresentou Ana Luiza sua irmã para D. Vera e Suzana, a qual ele colocou a mão por sobre os ombros dela e ressaltou:
-- Suzana, minha namorada.
Ana Luiza muito simpática foi logo acolhendo e abraçando as recém chegadas. E Laerte disse
-- Não sei o que fizestes para o almoço, mas eu trouxe alguma coisa para complementar. Está aqui. – E entregou a sacola a ela.
E Ana Luiza ofereceu um cafezinho. Pediu que sentassem na sala que ela logo traria o café.  Laerte indicou o banheiro para as recém chegadas.
Tomaram o café, conversaram um pouco sobre a viagem e outras banalidades. Então Laerte levantou-se e as convidou para ir ao quarto ver sua mãe, que estava curiosa, pois tinha percebido alteração na rotina da casa.
Depois do AVC  d. Rosa tinha ficado com um lado todo paralisado e sua fala era difícil. Mas entendeu o que o filho explicou e acenou com a mão boa para que Suzana se aproximasse, e quando a jovem estava perto dela ela fez um carinho em seu rosto, e uma lágrima escorreu de olhos de d. Rosa. Suzana retribuiu o carinho com um beijo na mão de D. Rosa.
Quando voltaram para a sala a mesa já estava arrumada, com uma toalha branca impecável, louça de porcelana com pequenos ramos de trigo e Ana Luiza, ajudada por uma mulher trazia o almoço.
Laerte convidou para que sentassem a mesa, e Ana Luiza fez uma oração e começou a tagarelar sobre várias coisas. Eles tiveram uma refeição agradável e farta e para sobremesa havia uma torta que Laerte trouxera.
Depois do almoço Laerte pediu licença e levou Suzana para sala, precisavam conversar, precisavam namorar.
Sentaram lado a lado no sofá. Ele pegou a mão dela e disse:
-- Vamos recomeçar a partir de hoje. Vamos deixar para trás esse nosso desentendimento que foi provocado por fofocas. Mas, mais uma vez eu te peço. Acredita em mim. Eu não minto. Eu sou uma pessoa simples, aberta que só quer te amar, e ter o teu amor. Me promete?
-- Sim. Tens razão. Precisamos confiar um no outro. Eu te prometo, mas só não admito traição. Nunca!
-- Tens a minha palavra. Eu te amo demais para procurar outra. Tu és a única.
Então se abraçaram e  se beijaram e o olhar de Suzana brilhou outra vez, e Laerte estava feliz. Nada e nem ninguém iria separá-los.
Eram quase quatro da tarde quando d. Vera resolveu ir embora. Laerte queria que elas ficassem, tinha lugar para elas dormirem, mas com a desculpa de que o marido estava só, elas foram embora.
Foi tão rápida a visita delas. Mas foi muito boa. Ele estava com muitas saudades de Suzana, e além do mais eles puderam conversar e retomar o namoro.
D. Vera voltou para casa com uma boa visão da família de Laerte. Comentou com o marido que eles moravam bem, eram todos simpáticos e educados. Embora elas tivessem chegado de surpresa, o almoço foi farto e variado. E além da torta que Laerte tinha trazido do mercado, havia sobremesas de compota. A casa era grande, nova e bem mobiliada e muito asseada.
Enquanto afastados Laerte pensava muito em Suzana, lembrava os momentos de intimidade que tiveram, sobretudo da primeira vez que transaram, que  foi num fim de semana que estiveram na praia. Ela era uma mulher fabulosa, quente e sensivel e correspondia com audácia aos carinhos dele. Era deliciosa...
Os dias passavam e Laerte estava feliz,  ele iria retomar a faculdade. As coisas tinham se ajeitado, sua mãe estava melhor dentro do possível e Ana Luiza havia encontrado uma enfermeira para cuidar da mãe e sua irmã estava retornando a administração do mercado.
Quando ele desceu do ônibus na rodoviária de Porto Alegre, Suzana estava lá esperando por com um sorrido lindo. E ela foi logo dizendo.
-- Estava morrendo se saudades de ti.
-- Eu também, minha flor...
-- Bem, eu planejei algo para nós...
-- Que bom, pra onde vais me levar?
-- Ora para teu apartamento. Espera até chegar lá.
-- Está bem.
E saíram abraçados, rindo, estavam felizes.
Suzana estacionou o carro em frente ao prédio e tirou umas sacolas do carro. Subiram, e enquanto ele tomava um banho ela preparou um saboroso lanche para eles, comeram, conversaram e se amaram. Ela passou a noite com ele, embora fosse em uma cama de solteiro.
Esse tempo em que Laerte e Suzana tinham ficado distantes, serviu para ela aprender a valorizar a presença dele. Agora ela o tratava diferente, sempre atenciosa, alegre e sem ser tão manhosa.  Ela realmente tinha crescido. Tomara!
Houve entre ele e a família de Suzana uma integração, que ajudou muito na relação dos jovens namorados.
Enquanto Laerte cursava a faculdade de engenharia, Suzana cursava a faculdade de farmácia.  Ambos andavam muito atarefados e viam-se pouco durante a semana. E quando chegava sexta a noite eles estavam com saudades um do outro.
Naquela tarde de sabado, os namorados saíram para  dar um passeio no parque, estava um dia agradável de outono. De mãos dadas caminhavam devagar apreciando a beleza das flores.  Sentaram em um banco a meia sombra e Laerte começou falar de seus planos para o futuro deles.
“ Mais dois anos ele estaria formado e eles casariam e  iriam morar em Santa Bárbara do Sul. Lá ele abriria uma empresa de engenharia e faria muitas construções na cidade. E ela poderia ter uma farmácia. Seriam felizes e veriam os filhos crescerem tranqüilos naquele lugar maravilhoso de morar. Um lugar onde todos se conheciam, uma cidade pequena mas com muita vontade de crescer....”
Suzana escutou tudo o que ele falou sem interromper, deixou ele contar seu sonho. E ao final disse:
-- Mas esse não é o meu sonho!
-- Não? Qual é o teu sonho para o nosso futuro, então?
-- Bem, eu sonho em me formar, e ir trabalhar em um laboratório de cosméticos. Se for para sair daqui de Porto Alegre, eu quero morar em uma cidade com praia e pode ser Floripa que é tão charmosa. Não quero filhos. Tu sabes que eu gosto de festas e movimento, jamais vou morar em uma cidade minúscula.
-- Mas tu nunca me falaste sobre isso?
-- Agora estou falando.
-- Parece que não partilhamos das mesmas idéias. Como não quer filhos? Eu quero ter filhos.
-- Dá muito trabalho e estraga o corpo, não quero.
-- Então acho que devemos rever algumas coisas, pois não poderemos seguir juntos se não dividimos do mesmo futuro.
Laerte ficou sério e preocupado. Aquilo não era brincadeira. Jamais ele imaginou que ela se oporia a seus planos para o futuro. Mas ele voltaria para a sua cidade natal. Disso ele não abriria mão e nem de sua profissão e tão pouco de sua descendência.
Laerte levantou e a convidou para irem embora. Ele não falou nada no caminho de volta. Ela também estava calada. Quando chegaram ao portão da casa dela, Laerte despediu-se dela e foi embora.
Suzana ficou parada olhando ele se afastar. Ela não esperava isso dele. Era um sábado, e nem eram cinco da tarde e ele já tinha ido embora. Ela entrou e foi para seu quarto. Seus pais não estavam, e ela estava sozinha em casa. Tinha planejado tanta coisa para essa noite. Faria ele dormir com ela. Laerte era tão certinho, tão respeitador, que ela tinha ânsias de mexer um pouco com ele. Queria provocá-lo para ele possuí-la. Mas agora...
Laerte foi para seu apartamento. Ele tinha ficado preocupado. Jamais imaginou tanta diferença de pensamento. Embora ele a amasse demais, um futuro junto dela seria uma amputação de parte de sua vida. Ele precisa pensar.
Mais tarde ele ligou para ela e ela não atendeu. Passou uns quinze minutos e o interfone tocou. Ele atendeu e era Suzana. Laerte abriu a porta do apartamento para esperá-la.
-- Oi, vim passar a noite contigo.
-- Como assim? E teus pais? E a Maria?
-- Eles foram para praia e avisaram que vão ficar lá, porque o conserto da piscina não ficou pronto. Então vim para cá para não ficar só. A Maria eu dispensei.
-- Bem então eu vou pra lá contigo. Aqui não tem conforto para ti. Sabes que tudo aqui é muito simples. Vamos, disse ele pegando as chaves e a jaqueta.
Voltaram no carro dela. Aliás, ele não tinha carro.
Ao chegar a casa dela, entraram e foram para a cozinha. Ela tinha comprado uns petiscos e um vinho para eles. Sentados no sofá da sala estavam comendo, bebendo e conversando. Não falaram mais sobre a desavença da tarde. Mais tarde transaram e Suzana achou que tinha ficado tudo bem outra vez. Ela não conseguia perceber a diferença que havia entre eles.
Mas agora Laerte estava em estado de alerta. Ele precisava ficar mais atento as coisas que ela dizia, fazia e pensava. Ele queria noivar, mas teria que esperar para ter certeza de que estava com a mulher certa para ele.
Ele sabia que ela o amava de verdade, mas muitas vezes só amor não basta, é preciso os dois olharem na mesma direção, terem os mesmos objetivos, caminharem na mesma estrada. Pois se não é  assim, o amor se desfaz, e o casamento se acaba. E vida vira um inferno.
 Já era de manhã quando Laerte saiu. Chegou em seu apartamento e ligou a TV para se distrair. Ele estava sem sono. Fez um café e ficou mais uma vez pensando na vida que queria para si.  Não conseguia absorver a reação de Suzana, ela continuava fútil.
Os dias passaram e Laerte estava a cada dia mais decepcionado com Suzana, que não crescia, voltara a ser a garota mimada, e agora havia renovado sua amizade com Olivia, que era uma má influencia. Ele já tinha falado para ela sobre isso. Não ia dizer mais nada. Na verdade ele estava ficando cansado das infantilidades de Suzana.
As férias chegaram e ele foi para casa. Esse ano iria passar as festas de fim de ano com sua família, tinha convidado Suzana para vir com ele, mas ela recusou, dizendo que não deixaria de ir para a praia com sua família. Ela gostava de movimento, de badalação.
Na praia, e como as famílias eram muito amigas, Osmar passava o tempo todo com Suzana, que se queixava de Laerte. E Osmar aproveitava para consolá-la. A levava para jantar, dançar, passear de lancha, não saia do lado dela. Fazia todas as vontades dela, sem se importar com o custo, e como dizia: ele mostrava para ela o lado” bom da vida”.
Em meados de janeiro Laerte foi a Porto Alegre para renovar seu aluguel do apartamento. E foi ver Suzana, queria entregar o lindo presente que tinha comprado para ela. Ela não estava, tinha saído com Osmar.
A família de Suzana, agora morava em uma bela cobertura no bairro mais nobre da cidade.
Laerte ficou furioso! Lá estava Suzana dando ouvidos outra vez para aquele aproveitador. Laerte sentou no hall do edifício e esperou  por ela. Ela chegou dando risada das coisas que Osmar falava muito intimamente ao ouvido dela.
Quando eles chegaram, levaram um susto, ao verem que Laerte os observava. Laerte se levantou e muito sério disse:
-- Oi, eu só vim te trazer isso aqui, eu comprei para ti.
-- Obrigada. Quando chegastes?
-- Hoje cedo. E já estou voltando. Vim te dizer que nós precisamos rever nosso compromisso. Vamos nos dar um tempo, No fim das férias conversamos, pois do jeito que está não dá. Precisamos pensar se é isso mesmo que queremos.
-- Mas...
-- É isso. Tchau...
E Laerte saiu furioso, não aceitava esse comportamento dela, que longe dele se dava ao desfrute com outro rapaz, amigo?Nem tanto. Por isso “deu um tempo” no namoro.
Suzana ficou atônita com as palavras de Laerte e mais uma vez Osmar aproveitou para desfazer a imagem de Laerte.
-- Ele é assim. Não serve para ti, quando vais entender isso.
-- Mas eu o amo...
-- Vou te ajudar a superar tudo isso. Vou cuidar de ti. Vem...
E Osmar a abraçou e a levou em direção ao elevador. Quando Suzana entrou na sala se deparou com sua mãe que queria saber o que tinha acontecido. Mas Suzana correu para o quarto.
Suzana abriu o presente que Laerte havia dado para ela. E quando ela viu a linda corrente com um coração de ouro com o nome deles gravado. E ela chorou muito, com uma dor no coração. Por quê? Por que era tão difícil para eles? Amavam-se, mas não combinavam. E ela não conseguia ser a pessoa que ele gostaria que ela fosse.
No outro dia Suzana ligou para Laerte, agradecendo o presente, mas não conseguiram conversar e acabaram os dois chorando ao telefone.
O tempo passou, e Laerte retornou para seu último semestre na faculdade. Ele havia pensado muito, e havia decidido o que queria para sua vida. E Suzana não se encaixava na vida simples e familiar que ele sonhava, com filhos e netos para alegrar sua velhice.
Mas iria tentar mais uma vez. Daria essa chance ao amor que eles tinham.
Retomaram o namoro e tudo estava fluindo bem, a esperanças nasceu no coração de Laerte, até que um dia  no corredor da faculdade ele escutou Osmar falando de Suzana, contando que eles tinham passado o verão juntos, e que além de bonita ela era muito “caliente”.
Laerte foi até Osmar e deu um soco nele, sem dizer uma palavra. Pegou suas coisas e foi embora. Foi procurar Suzana e pedir satisfação dela, sobre o que o idiota do Osmar estava falando dela. E ela não teve como negar, e apenas se defendeu:
-- Nós estávamos dando um tempo... Então ele era o meu braço amigo, nos envolvemos e transamos.
-- Transamos! Simples assim... Eu estou fora. Para mim não dá, não sei dividir minha mulher com outros. O que tu falas não dá para acreditar, juras amor por mim e se deita com o primeiro idiota que aparece. Chega. Não faço parte disso.
-- Mas... Nós estávamos dando um tempo...
-- Dando um tempo para refletir e não para sair dando por ai. Agora é definitivo. Não quero mais, por mais que eu te ame, não quero, não me serve, não suporto.
-- Me deixa explicar...
-- O quê? Explicar o que não tem explicação. E quem foi que falou que “não queria traição” ? Não foste tu? E agora me aplica uma? Não! Chega!
E Laerte foi embora sem olhar para trás. Ela não merecia confiança e sempre foi supérflua... Mais uma vez com o coração aos pedaços Laerte se afastou dela.
Chegou em seu apartamento chorou feito criança, tomou um porre quando as lembranças tomaram conta de seu pensamento.
Aquele semestre foi o mais difícil para Laerte. Dedicou-se aos estudos e começou a planejar a sua empresa de construção. 
Eram os primeiros dias de agosto quando se realizou a formatura. E Suzana estava lá, era a madrinha de Osmar. Ela estava linda, seu coração deu pulos quando ela a viu, e seus olhos não se desviavam dela.
Ele tinha convidado para madrinha, Aline, uma conterrânea que também estudava em Porto Alegre, e estava terminando o curso de arquitetura e como ele,  planejava retornar para sua terra.
Era uma moça muito bonita, alta, elegante, simpática, tinha os cabelos cor de mel, os olhos castanhos e um sorriso encantador. Vinha de uma família bem conceituada e tivera uma educação rígida e era discreta e sensata.
Eles haviam se encontrado por acaso no shopping, e depois disso passaram a se encontrar mais seguido. Ainda não havia compromisso entre eles, mas estavam a caminho disso.
Na semana seguinte a formatura, Laerte estava empacotando seus pertences, quando recebeu a visita de Suzana. Ela entrou e olhou para ele e o beijou, um beijo de desespero, como que querendo deter o que não dava mais para reter. Laerte retribuiu o beijo e depois a afastou.
Suzana chorava e Laerte a abraçou, fez um carinho em sua face, secou as lágrimas dela e a beijou. Suzana enroscou-se toda nele, o provocando deliberadamente. Mas Laerte tinha princípios, não faria isso com ela, embora ele estivesse cheio de desejos.
Mas ela sussurrou ao ouvido dele.
-- Eu quero, eu vim me despedir. Sei que não tem volta, mas quero essa última lembrança nossa.
E Laerte cedeu, e se amaram com loucura, uma, duas, três vezes até ficaram sem fôlego. Ficaram abraçados e ela perguntou:
-- Quando vais?
-- Amanhã despacho as minhas coisas, entrego o apartamento e vou.
-- Vamos nos ver de novo?
-- Não sei...
-- Eu sei que fiz tudo errado, mas eu continuo te amando.
-- Eu também continuo te amando, mas tem coisas que não dá para mudar...
-- Eu pisei na bola quando transei com Osmar, eu sei...
-- Bem eu preciso terminar de arrumar.
-- Eu vou embora. Só vim me despedir, e eu queria uma despedida especial, e isso eu consegui. Vai ficar na nossa lembrança para sempre.
Laerte foi para Santa Barbara do Sul para começar uma vida nova queria deixar as lembranças de Suzana para trás. Ainda era muito forte a presença dela em sua vida. Ainda dominava seus pensamentos e machucava seu coração.
Suzana voltou a sua rotina e agora estava namorando Osmar para alegria das famílias. Eles formavam um belo par, era o que todos comentavam. Mas seu coração pertencia a Laerte.
O tempo passou e Aline estava se formando. Laerte foi a Porto Alegre para acompanhá-la como seu par no baile. Aline estava linda, ele era muito sensual e ele dançou com ela toda a noite.
E naquela noite eles selaram um compromisso. Ele  via nela sua futura esposa. Sabia que não poderia amá-la, pois seu coração ainda estava aos pedaços, mas poderia respeitá-la e  se deixar amar.
Aline estava apaixonada por ele, que era um homem bonito, moreno alto com olhos azuis e com um corpo forte, e dono de um abraço muito acolhedor. Ela gostava de estar com ele, que era gentil e carinhoso e muito envolvente.
Ele a convidou para trabalhar com ele na empresa de construção. Já tinha um projeto encaminhado e ela como arquiteta contribuiria muito para a beleza dos prédios que iriam construir.
Passado um ano Aline e Laerte casaram.  Estavam felizes, sobretudo Laerte que tinha uma esposa que gostava das mesmas coisas que ele, que tinha vontade ser mãe e  que queria trilhar o caminho com ele. E aos poucos ele começou  amar. Não mais aquele amor louco, mas um amor tranqüilo que ocasionava paz.
Agora casado prestes a ser pai, Laerte sabia que tinha tomada a decisão certa. Era essa a vida que queria para si.
                                                   Maria Ronety Canibal
                                                      Setembro de 2017.

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domingo, 10 de setembro de 2017

COISAS DA VIDA

                                                                COISAS DA VIDA

Alexandre havia se mudado há pouco tempo para São Lourenço do Sul, e ainda não tinha muitos amigos. Ele morava perto da praia e  a tarde procurava a sombra das árvores para sentar, apreciar a lagoa e ver as gurias, uma guria em especial, enquanto sorvia um mate quente.
Valentina, Laura e Helena  sempre voltavam da escola pelo beira da praia.  Ali na Praça da praia  elas se despediam, Laura seguia em frente e as outras dobravam na Rua Princesa Isabel. Laura já tinha notado a presença de Alexandre, sempre sentado no mesmo banco, ali perto da Cruz da Praia. Ela olhava “para ele de “rabo de olho” e sempre pensava: “ como ele é bem bonito, e de onde será que ele saiu ?”  E ia em direção a sua casa que era localizada na Av. Getulio Vargas, de frente para a lagoa, logo adiante.
Valentina era uma mocinha muito bonita, com seus cabelos longos na cor de mel, que fazia realçar seus olhos azuis e sua pele era na tonalidade dourado claro e seu corpo era  esguio, dando a ela elegância e desenvoltura nos movimentos, em sobretudo no andar. Ela saiba que era bonita, e que chamava atenção, e gostava de se sobressair em meio às amigas. Todos os rapazes olhavam para ela.
Laura era uma mocinha simpática, risonha e encantadora. Tinha uma beleza sutil, suas feições eram delicadas, seus olhos e cabelos castanhos e era um pouco gordinha, mas bem proporcional.
Helena, a terceira menina do “trio”, que andavam sempre juntas, era bem loira, pele clara e olhos verdes. Era simpática e bonitinha. Alta e magra, com jeito de manequim.
Helena estava organizando sua festa de quinze anos. Seria no clube e  seu pai já havia contratado um conjunto musical para animar a festa. Como haveria danças, teria que convidar rapazes também, por isso seu irmão havia prometido convidar uns colegas de aula.
As três amigas estavam ansiosas, cada uma tinha mandado fazer um vestido novo para a festa. Laura tinha mandado fazer um vestido na cor azul turquesa, era um modelo reto, tipo “tubinho” que deixava sua silueta mais alongada. Usaria sandálias prateada e uma pequena carteira também prateada. 
O vestido de Helena seria na cor branca, todo bordado com miçangas e canutilhos na cor azul claro. E Valentina tinha escolhido um modelo mais ousado na cor vermelha. Usaria sandálias e carteira douradas.
Helena havia decido, meio a ultima hora, fazer o bolo vivo, onde reuniria quinze amigas, cada uma com uma vela na mão e a aniversariante, enquanto dançava a valsa com seu pai, ia apagando as velas e depois todos dançavam.  Todas as garotas teriam que ter um par.
 Valentina não se preocupava com esse detalhe, com facilidade conseguiria um par, pois  sempre tinha quem a convidasse para dançar. Mas Laura era diferente. Normalmente ela ficava apenas olhando as amigas dançarem, os rapazes a achavam “gorda”.
Mas  Helena queria que sua querida amiga, Laura,  fizesse parte do bolo. Então Luis, seu irmão, ficou de arranjar alguém entre seus colegas.
Todos que conheciam Laura deram uma desculpa, dizendo que não eram bons na valsa. Então Luis olhou para Alexandre que disse que sim, e ao mesmo tempo em que pensou, essa menina não poderia ser assim tão repulsiva.
No dia da festa, Alexandre, como não conhecia o costume,  chegou um pouco antes  da hora marcada. Já havia algumas mocinhas bem enfeitas por lá. Ele parou num canto, encostou-se a parede e ficou observando as pessoas que estavam chegando à festa.
E ele viu Laura. A menina que passava sempre pela praia quando vinha da escola. Aquela menina havia chamado sua atenção desde o primeiro dia que a viu. Ele a achava linda, que com um jeito tranqüilo sempre passava por ele na praia. Que bom, hoje ele se apresentaria a ela.
Luis se aproximou dele e disse:
-- Aquela ali de vestido azul cor de piscina é o teu par. O nome dela é Laura. Queres que eu te apresente a ela agora?
-- Obrigada, mas eu vou lá falar com ela.
Laura estava conversando com outras meninas e escutou alguém a suas costas a chamar:
-- Laura...
-- Sim.  -- disse ela voltando-se. Ela  paralisou. Era o cara da praia.
-- Prazer, eu sou Alexandre. Serei o teu par no bolo vivo.
-- Oi...! Meu par? Que bom...
-- Eu te conheço de te ver passar na praia, todos os dias quando voltas da escola.
-- Sim, eu também te conheço.
Ele riu e disse:
-- Não pensei que me vias...
Laura muito sem jeito respondeu:
-- Mas não tem como não ver.
-- Certo. Fiquei contente em saber que sou teu par. Aceitei no escuro, mas eu gostei de te conhecer. Posso ficar junto contigo desde agora? Sou ainda novo na cidade e conheço pouca gente. Se eu não te atrapalhar...
-- Não imagina, Vamos ver a mesa reservada, na verdade deves ficar comigo sim, na mesma mesa, pelo menos até a hora do bolo, depois não precisa.
-- Mas se eu quiser ficar depois, posso?
-- Pode.
Encontraram a mesa e se acomodaram e começaram a conversar como se conhecessem a muito tempo. Ele falou de onde viera e como era o lugar, ela falou que nasceu ali e nunca morou em outra cidade, que gostava muito de São Lourenço do Sul, sobretudo no verão.
Valentina chegou à mesa e disse:
-- Oi, tudo bem? Eu não te conheço, és parente da Helena?
-- Oi, não sou colega do Luis.
-- Queres ser meu par?
-- Já estou comprometido com a Laura.
E Alexandre olhou sorrindo para Laura, que assistia a conversa como se não estivesse ali.
-- Verdade? Obrigaram-te a isso?
-- Como? Ninguém me obrigada a nada, estou aqui porque eu quero ser o par de Laura, que alias é uma guria simpática e muito linda.
Valentina olhou espantada para ele e deu uma risada. E comentou:
-- A Laura é linda?
Alexandre não deu mais atenção a Valentina e virou-se para Laura e seguiu conversando com ela como se Valentina não estivesse ali. Laura estava encantada com ele, que tinha dito que ela era linda. Era bem verdade que Valentina sempre se achava a mais bonita, e gostava de dizer que Laura não era bonita, que era gorda e que por isso ninguém se interessava por ela.
O jantar foi servido. Laura e Alexandre se olvidaram do mundo ao seu redor, estavam tão envolvidos que se esqueceram de  dar atenção a Valentina que continuava sem um par.  Depois do jantar Helena levou seu primo, Igor, que viera de Pelotas para ser o par de Valentina.
Igor era mais velho, já estava cursando a faculdade de Direito, era um rapaz alto, simpático, mas sem beleza alguma. Valentina tentou disfarçar, mas todos perceberam que ela não gostara de Igor, que educadamente ficou junto dela esperando o momento de entraram para pista de dança.
Helena estava radiante, seu aniversário estava sendo com ela havia sonhado. Depois de apagar todas as velas ela seguiu dançando com seu pai a valsa dos quinze anos e seu bolo vivo também. Quando terminou a valsa, seu Armindo, levou sua filha até Guilherme, para que ficasse junto de seu namorado.
Laura estava feliz, Alexandre pediu para seguir dançando com ela, Dançaram juntos a festa inteira. Os pais de Laura queriam saber quem era o rapaz que estava com sua filha.
 Chamaram Luis que informou que ele era um colega novo, que chegara a cidade fazia pouco e que seu pai era gerente do Banco do Brasil. Com essa informação seu Clovis e d. Dulce ficaram mais sossegados. Dulce olhava para filha e via com ela estava deslumbrada com o rapaz, que também parecia estar interessado nela.
No fim da festa, na hora de ir embora, Alexandre acompanhou Laura até o carro, se apresentou aos pais dela e perguntou se podia visitá-la. Clovis e Dulce se olharam e deram o consentimento ao rapaz. Que se despediu de Laura dizendo:
-- Às quatro horas.
Ela sorriu e assentiu com a cabeça, entrou no carro e Alexandre fechou a porta e ficou parado na calçada vendo o carro se afastar.
Dulce começou a indagar da filha sobre o rapaz, Mas Laura não estava disposta a responder, só queria pensar em como ele era maravilhoso. Estava apaixonada, disso não tinha duvidas. Chegando a casa ela foi direto para seu quarto. Laura custou a dormir. E quando dormiu sonhou o com ele, seu príncipe encantado.
Alexandre voltou a pé para sua casa, vinha distraído pensando em Laura. Essa era a garota dos seus sonhos, ela tinha mexido com ele, aquele sorriso meigo, aquele jeitinho de olhar, seu perfume. Com certeza ele estava completamente seduzido por ela.
Alexandre sabia que jamais esqueceria essa data, esse dia de 23 de março de 1968 ficaria gravado em sua memória, pois era o dia que conhecera o amor de sua vida.
Pontualmente, às 16h Alexandre tocou a campainha da casa de Laura. Ela abriu a porta com um sorriso lindo e estava linda! Usava um jeans escuro com uma camisa  verde. Calçava mocassim azul marinho. E seu cabelo estava solto.
Ela o convidou para entrar, mas como estava uma tarde de muito sol ele a convidou para passearem pela praia. Ela aceitou e avisou seus pais e saíram. Ela estava tão feliz de estar com ele, que não precisava nem conversar, bastava estar perto dele.
Andaram em silêncio um bom tempo, apenas curtindo a presença um do outro, até que Alexandre pegou sua mão e disse:
-- Desde que te vi passar a primeira vez aqui na praça, eu gostei do teu jeito, e todo o dia eu ficava esperando para te ver passar. Ontem eu tive a felicidade de te conhecer, e quero te conhecer melhor. Por isso eu queria ser teu namorado, Tu me aceitas?
-- Eu também desde o dia que te vi aqui tomando mate, ficava esperando a saída da escola para ter novamente. E eu quero sim ser tua namorada, eu aceito.
-- Bem, então depois vou falar com teu pai, pedir o consentimento dele para namorarmos.
-- Precisa? Acho que ninguém faz isso.
-- Mas eu faço, tu és uma guria que merece todo o respeito. E por isso quero conversar com teu pai.
-- Tudo bem. E queres conversar hoje?
-- Sim.
Eles estavam sentados no banco onde ele costumava sentar,  só que virados para a lagoa, que estava calma com alguns veleiros deslizando suavemente pela água. No fim da tarde voltaram de mãos dadas para a casa dela. Ela o convidou para jantar, e foi ajudar a mãe a preparar o lanche da noite enquanto Alexandre conversava com seu pai.
Seu Clovis ficou muito satisfeito com a atitude do rapaz, sabia que eles eram muito jovens, mas ele tinha demonstrado retidão de caráter. E esperava que eles tivessem perseverança para poderem superar as dificuldades que a vida colocaria diante deles.
O namoro foi seguindo e eles a cada dia mais apaixonados, viviam em harmonia sem nunca terem brigado.
Valentina começou a namorar com José Paulo, e era um namoro bem arrojado, e Alexandre não gostava quando saiam juntos. Preferia estar com Guilherme e Helena que mantinham um namoro sério dentro do decoro. Aos poucos Valentina foi sendo deixada de lado.
Mas na escola ela contava para as amigas, o que já tinha feito com o namorado, e ficava admirada que Laura nem tivesse sido beijada ainda. E completava dizendo a Laura:
-- Tu não desperta desejo nele, senão ele já tinha te dado uns amasso. Tu não achas Helena?
E Helena muito constrangida com o assunto apenas respondia:
-- Não sei...
E aos poucos Helena e Laura se afastaram de Valentina, que tinha a cada dia um comportamento mais arrojado.
Era um dia de inverno, estava muito frio e ventava forte. Era sábado, e eles resolveram que não iam sair. Laura programou para eles ficarem escutando disco, e tomando quentão. Ela tinha convidado Helena e Guilherme, mas Helena tinha telefonado dizendo que estava com dor de garganta e seu pai não a deixou sair.
Alexandre sorriu e disse a Laura:
-- Minha flor, tu me basta. Vamos curtir o fogo da lareira, tomar o quentão e comer pipoca. É um ótimo programa. Estar junto de ti é que importa.
-- Então vem selecionar os discos, que eu vou buscar o quentão.
Alexandre escolheu umas musicas calmas, românticas e sentou no chão perto da lareira. Laura chegou e sentou ao lado dele, puxou a mesinha para mais perto para descansar as canecas.
 Alexandre a cada dia estava mais louco por Laura, e hoje eles estavam sós. E ela estava encantadora. Com as bochechas vermelhas por causa do quentão e com os olhos brilhantes e ele ficou fascinado.
E a beijou.
Um beijo que brotou do coração, cheio de amor e desejo. Laura nunca tinha sido beijada, e foi dócil, deixando que ele a ensinasse como beijar. Ela tremia de emoção e ele sentia todo seu corpo pulsar de desejo.
Abraçado a ela, Alexandre declarava seu amor a ela. E sussurrava:
-- Eu te amo demais. Tu és a minha vida, tu és a minha linda, a minha amada.
-- Eu também te amo... Te amo muito.
E foram muitos beijos. Trocaram juras de amor. Ter Laura assim em seus braços era magnífico. Mas precisava se dominar...
Então se levantou para ir embora, estava tarde. A beijou mais uma vez antes de sair. E o ar frio da noite foi benéfico, acalmou seus ímpetos.
O tempo passou...
O namoro cada dia mais firme. Todos os amigos sabiam que ele era fiel a sua namorada. Enquanto outros faziam programas com garotas em Pelotas, ele nunca quis ir. 
Alexandre levou Laura para conhecer sua família. Eles se encantaram com ela, que era bonita, gentil, educada e apaixonada por Alexandre.
Com dezessete anos, Laura estava uma linda moça, tinha perdido aquele ar infantil e suas medidas estavam perfeitas. Alexandre sempre conheceu a beleza de Laura, pois  desde o primeiro olhar viu que ela seria uma linda mulher.
Onde ela passava despertava olhares de cobiça, e isso incomodava a Alexandre. Ela tinha olhos apenas para ele, o amava de verdade, e ele confiava nela, mas ela era ainda muito jovem. Alexandre sabia que teriam que se separar, ele queria estudar medicina e iria para Porto Alegre.
Alexandre vinha se preparando para esse momento. Já tinha conversado com ela sobre todos os problemas de namorarem a distância. E agora havia uma proposta para seu pai ir para São Paulo, e se sua família decidisse ir, ele iria também, e faria o vestibular na faculdade de Campinas.
E veio a transferência de seu pai para São Paulo, mais precisamente para Campinas. Para Alexandre  era ótimo, pois cursaria a faculdade de Medicina em uma conceituada Universidade. Mas ficaria muito distante de Laura.
Ele contou para ela da novidade. Ela chorou, porque ficariam separados. Ela tinha sonhado com os dois estudando em Pelotas. Seria tão bom, seria tudo tão fácil. Mas a realidade se apresentou diferente.
Alexandre com o coração apertado, pediu que Laura decidisse se continuariam comprometidos ou se dariam um tempo para absorver a mudança; Ele também falou com os pais dela, explicando seu ponto de vista.
Ele sabia que Laura era mulher de sua vida. Mas tinha receio que deixar Laura, ainda tão nova, comprometida com ele, que não podia prometer nada, tinha muito estudo pela frente para eles que pudessem casar. Mas ao mesmo tempo não queria perdê-la. Então deixou tudo a critério dela.
Seu Clovis e d. Dulce aceitaram as colocações dele, realmente ele tinha razão. Eram jovens demais e ainda precisavam estudar. Pois Laura também queria cursar a faculdade de Letras, pois gostava muito de literastura.
Os últimos dois meses, antes de Alexandre ir embora, foi um tempo de promessas e muitos beijos. Passavam junto, e Laura tinha decidido que continuariam comprometidos, que escreveriam cartas, e aos domingos falariam por telefone.         
A despedida foi de muito choro.
Laura estava inconsolável com a partida de Alexandre. Ficou muito abatida e acabou adoecendo, pois não dormia direito e nem se alimentava convenientemente. Era período de férias de verão, e seus pais resolveram viajar. Iam tiram uma temporada em Punta del Este, no Uruguai.
Com essa mudança de cenário, Laura melhorou, saiu daquele estado de nostalgia, e recuperou a saúde, o ânimo, mas em seus olhos havia tristeza. Por mais que seus pais quisessem, eles não conseguiam fazer Laura voltar a ser mesma de antes, ter aquele brilho no olhar, ter aquele sorriso fácil.
Clovis e Dulce decidiram que Laura precisava trocar de ambiente, em São Lourenço do Sul todos os lugares lembravam Alexandre, então conseguiram transferência na escola e ela cursaria  o ultimo ano  em Pelotas, ficaria na casa dos tios.
Tio Getulio e tia Rosa eram muito bons, aceitaram com alegria  a presença de Laura entre eles. Tiago, primo de Laura também ficou contente. Ele já estava na faculdade, cursava Arquitetura.
Alexandre e Laura, nos primeiros tempos de separação, conseguiam escrever longas cartas e aos domingos a tarde falavam por telefone.  Mas com a mudança de Laura para a casa dos tios em Pelotas as coisas ficaram mais difíceis. E a comunicação foi ficando escassa. E um dia, Laura escreveu uma carta para Alexandre desfazendo o compromisso deles, assim como ele havia sugerido.
Alexandre realmente sabia que esse era a melhor solução, mas seu coração sangrava, e sabia que Laura seria o seu amor pela vida toda. Então resolveu se dedicar com afinco aos estudos. Já estava cursando medicina e vinha se destacando sendo considerado pelos professores como um excelente aluno.
Passou um ano e Laura prestou vestibular e conseguiu entrar para o curso de Letras. Também se dedicava aos estudos e quase não saia para se divertir. Ainda não tinha ânimo e Alexandre ocupava seus pensamentos.
Mas era aniversário de Tiago. Ele estava completando vinte e um anos e seus pais resolveram fazer um churrasco para seus amigos. E a turma era grande, pois alguns trariam suas namoradas. E somou um grupo de quarenta pessoas. Mas a casa era grande e na garagem tinha espaço para acomodar todo o mundo.  Laura se prontificou a ajudar a tia com as saladas, Os doces foram encomendados e a carne era por conta dos homens.
E naquele dia Laura conheceu Inácio, um colega de Tiago que quando a viu ficou interessado nela.  Sua tia a dispensou da cozinha e disse que fosse sentar com os jovens. E ela sentou-se um pouco afastada e Inácio foi conversar com ela.
Ele era um rapaz simpático, educado e de boa família, segundo sua tia. E no outro dia ele foi visitá-la. E Inácio foi aos poucos a conquistando, até que, depois de muito tempo,  ela aceitou namorar com ele.
Ela gostava dele, ele era muito atencioso e a tratava como uma princesa. Mas o que ela sentia por ele, não se comparava ao que ela ainda sentia por Alexandre.  Porém tinha que tocar a vida para frente.
E o tempo foi passando e o namoro foi ficando firme. E Inácio queria noivar, colocar as alianças para selar o compromisso. E casariam em dois anos, assim  que ela se formasse. Ele já tinha terminado seu curso e já estava trabalhando.
Na noite de Natal Laura e Inácio colocaram as alianças. Bem ali em frente a lareira onde Alexandre a beijou pela primeira vez. Ela ainda se lembrava dele e muitas noites sonhava com Alexandre. Seu coração estava pequeno de tanta dor. Mas colocou um sorriso nos lábios e olhou com ternura para Inácio, agora seu noivo.
O tempo corria. Logo seria a casamento de Laura com Inácio.
Todos estavam felizes, sobretudo os pais de Laura, que achavam que Inácio era um ótimo rapaz, já apto a manter a esposa e vinha de uma família tradicional da região e muito rica.
A data se aproximava e Laura continuava a lembrar de Alexandre, recordava todos os momentos que tiveram, sobretudo dos beijos que trocaram. Isso a deixava mal, sentia-se como se estivesse traindo seu noivo, mas era involuntário, era seu coração que não a deixava  esquecer de Alexandre. E ela não sabia o que fazer e tinha receio que viesse a se arrepender mais tarde.
E tocada pela euforia de sua família e amigos Laura e Inácio casaram em uma cerimônia na Catedral de São Francisco de Paula em Pelotas. Foi um lindo casamento, com uma festa magnífica.
Os recém casados foram para Buenos Aires em lua de mel, e depois do retorno se estabeleceram em Porto Alegre, onde Inácio e Tiago eram sócios em um escritório de arquitetura.
Inácio era gentil e carinhoso, amava profundamente sua esposa e fazia de tudo para que ela fosse feliz. Ela retribuía aos carinhos do marido, como uma boa esposa deveria ser, mas não sentia paixão, não sentia um algo mais por ele. Mas estava feliz, tinha uma vida boa, e queria um filho, assim seu coração teria um novo amor.
E Laura engravidou, ficou radiante! Nasceu um lindo menino que foi batizado com o nome de Pedro Henrique. A vida corria feliz para Laura e Inácio, que viam seu filho crescer rápido. Era um menino sadio e inteligente, que estaria completando oito anos em setembro.
Até que numa tarde de quarta feira. Laura foi surpreendida por um telefonema que mudaria toda a sua vida.
Inácio tinha sofrido um acidente quando visitava uma de suas obras.  Ele havia pisado em falso quando subia uma escada, se desequilibrou e caiu no vão de espera  do elevador. Embora estivesse com os equipamentos necessários, ele caiu de um jeito que não sobreviveu.
Foi choque para Laura, que agora estava só com um filho  para criar.  Ela havia se acostumado com a presença do marido, que sempre a tratou com muito amor. Ela sempre foi muito mimada por ele. Com seus pais não podia mais contar, pois o pai tinha amputado parte da perna por conseqüência da diabete, e sua mãe precisa cuidar de seu pai.

A família de Inácio tinha fazendas  e Laura não precisava se preocupar com a parte financeira. A irmã de Inácio também morava em Porto Alegre e prometeu que a ajudaria com Pedro Henrique.
Laura custou muito a superar a morte do marido. Ela tinha uma profunda amizade por ele, e sentia muita a sua falta. Pedro também chorava a morte do pai. Foram dias difíceis.
Enfim as coisas se acomodaram e a vida de Laura seguiu ser curso. Laura tinha trocado de apartamento, foi para um menor, na Rua Vieira de Castro, e  próximo a escola do filho, o Colégio Militar.
O tempo passou e já fazia três anos que ela estava viúva. Pedro, que era muito parecido com o pai, estava com doze anos.
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Alexandre terminou seu curso de medicina, fez sua especialização em Endocrinologia, fez mestrado e foi convidado para  trabalhar no Hospital de Clinicas de Porto Alegre. E ele aceitou.
Alexandre mudou-se para Porto Alegre e alugou um apartamento na Rua Ramiro Barcelos em frente ao hospital. Seu pai tinha se aposentado e estava morando em Florianópolis, sua irmã tinha casado e também morava na ilha.
Mas Alexandre não casou. Depois de Laura nunca mais se interessou por outra mulher. Dedicou-se a medicina. E agora estava recebendo os “louros” de sua dedicação, ele era o chefe da Equipe de Endocrinologia do Hospital de Clinicas de Porto Alegre, onde também havia montado um consultório.
A rotina do hospital era severa, noites de plantão, além das visitas diárias aos enfermos e o atendimento ao consultório. Mas Alexandre não se importava, essa era a sua vida.
Era uma quinta feira e Pedro amanheceu se queixando de dores na barriga, com náuseas e já havia vomitado, e dizia coisas sem nexo e aparentava dificuldade para respirar. Laura, sem perda te tempo o levou para o plantão do Clinicas, que era o mais próximo.
Ela estava nervosa e o médico residente que atendeu indicou a internação imediata dele, ele precisava de alguns exames para determinar com certeza o diagnóstico, e  se fosse o que ele estava pensando, não deviam perder tempo, pois poderia haver complicações.  O médico havia feito muitas perguntas sobre o histórico familiar e demonstrou preocupação quando ela contou que seu pai tinha a perna amputada por causa da diabete. E o médico disse:
-- Vamos interná-lo para exames. Vou telefonar pelo médico responsável por essa ala, que é um especialista para ir vê-lo.
Laura estava apavorada. Depois de Pedro já estar baixado e fazendo exames, ela ligou para sua cunhada e para sua mãe. Não queria preocupá-las, apenas avisar. Ela ficaria com Pedro no hospital. Avisou sua emprega e pediu que fechasse tudo quando saísse e levasse a chave, para na segunda feira poder entrar sem problemas.
Depois dos exames, Pedro voltou para o quarto e estava dormindo. Ela sentou perto dele , segurou sua mão e rezou. Lágrimas silenciosas corriam em suas faces. Ela estava de olhos fechados e não viu o médico entrar.
O doutro Marcelo, que havia atendido no plantão tinha entrado no quarto, e pediu que ela saísse, precisava examinar melhor o jovem, e seu colega especialista já estava no hospital e estava analisando os resultados dos exames. Ela poderia ir para a saleta do corredor. Depois  ele iria ter com ela.
Alexandre estava com os exames na mão. Com certeza era  Cetoacidose Diabética, e teriam que entrar com insulina. Ele então foi olhar os dados do paciente e quando viu aquele nome, um frio passou em sua espinha. Precisava se certificar, não era um nome comum, mas...
Alexandre examinou Pedro com cuidado, e confirmou seu diagnóstico. Ele precisava ficar internado e corria risco de vida. Precisavam falar com os pais. Pediu que os levasse em seu consultório e destacou uma enfermeira para permanecer com o paciente enquanto seus familiares não retornassem ao quarto. Pedro seria removido para UTI.
Alexandre estava nervoso, era uma noticia desagradável para dar aos familiares de um paciente tão jovem, mas ele estava , também, muito ansioso para saber que era mãe de Pedro.
Marcelo bateu levemente e abriu a porta e Alexandre se levantou, e quem ele vê a sua frente completamente desolada é Laura. A sua Laura, o amor de sua vida. Teve vontade de abraçar e beijar aquela mulher, mas não podia.
Ela olhou para ele e se sobressaltou e perguntou:
-- Alexandre?
-- Sim, sou eu.
Laura chorava, ele não sabia se por causa do filho ou por terem se reencontrado, não sabia... Ficou tenso. Precisava falar sobre o Pedro. Era urgente.
-- Laura... Senta... Precisamos conversar. O pai?
-- Ele morreu, estou viúva há três anos.
-- Sinto muito! Bem, teu filho vai para UTI, ele precisa de tratamento intensivo, porque é grave o que ele tem. Vou te explicar tudo.
E Alexandre explicou a ela o que Pedro tinha e sobre o tratamento que seria feito. Alertou sobre os riscos da doença, mas apontou para o sucesso do tratamento. Laura chorava e Alexandre não resistiu e a abraçou

Laura se aconchegou a ele e percebeu que o coração de Alexandre estava em disparada. Mas ela também ficou perturbada com aquela proximidade. Aquele abraço foi um bem para ela, que aos poucos se acalmou e teve certeza de que Alexandre faria tudo para reverter o quadro clinico de Pedro. Depois de um tempo ela afastou-se dele e:
-- Obrigado... Estava precisando de um abraço, pois me sinto muito só. E desde que Pedro passou mal, eu estou em pânico. Mas agora, contigo aqui, sei que tudo vai melhorar, eu confio em ti.
-- Eu sei... Mas depois dessa fase ele terá que mudar seus hábitos alimentares. Isso depois  nós falaremos. Vem, vou te levar até ele.
Laura se emocionou ao ver  o filho, ele estava tão frágil. Alexandre ficou junto dela, mas não a tocou. Fez sinal a ela, para saírem. Alexandre a levou até a portaria do hospital e despediu-se dela. Recomendou que ela fosse para a casa e descansasse e que ficasse tranqüila, ele estava lá cuidando de Pedro.
Ela chegou em casa, tomou um banho, deitou-se e dormiu. Sonhou com Alexandre, um sonho diferente dos que ela costumava ter com ele. Esse não era no passado, deles jovens, esse era atual, que eles estavam juntos e felizes.
Laura levantou e foi preparar um café e ficou pensando nas voltas da vida. A coincidência de ele ser o especialista que trata da doença do filho. E ela viúva... Obra de Deus, coisas da vida, são os que as pessoas dizem de fatos assim. Mas ela acreditava em destino, e sorriu ao imaginar que eles estavam destinados um ao outro.
Quando Alexandre chegou ao seu consultório, depois de se despedir de Laura,  suava muito. Toda a tensão que teve ao revê-la e toda a situação da doença de Pedro, e a fragilidade dela, o deixou sobrecarregado. E quando a abraçou teve que fazer um esforço enorme para se conter, pois sua vontade era beijá-la e possuí-la.
Ficou ali um bom tempo pensando, então, lavou-se e trocou de camisa. Precisava de um café, chamou sua secretária pelo interfone e pediu que fizesse um café bem forte para ele. E que só começaria atender um pouco mais tarde.
No outro dia bem cedo Laura foi para o hospital. Sabia que Pedro estava fora de perigo, que ia para o quarto, pois Alexandre havia ligado para ela.  E ela teve o cuidado de se arrumar melhor, prender o cabelo, passou pó compacto no rosto, um rímel nos cílios e um batom rosa claro. Colocou um par de brincos de pérolas e vestiu um terninho azul, a cor de preferência de Alexandre.
Antes de sair olhou-se no espelho para ver se estava bem, e até sorriu, e se lembrou dos tempos em que namoravam,  de como ele sempre  a observava e elogiava, fosse sua roupa, seu penteado e até a cor do batom ou do esmalte. Ele notava tudo nela, ele   sempre foi muito atencioso... Meu Deus! Estou empolgada com a presença de Alexandre, e nem sei se ele está casado ou comprometido, se tem família? E eu aqui me arrumando para ele...
Laura, surpresa com sua atitude, censurou a si própria, seu filho estava doente, hospitalizado e ela se arrumando para o médico como se fosse uma adolescente.
Ela chegou ao hospital e foi direto para a sala de espera da UTI. A enfermeira a viu, e foi dar o recado que Alexandre tinha deixado para ela. Ele tinha providenciado o quarto para Pedro e ela poderia esperar pelo filho no quarto, que já estava pronto.
Laura agradeceu e foi para o quarto. Estava contente, Pedro estava melhorando. Mas era só por isso que estava tão contente? E ela ficou ali pensando nos últimos acontecimentos enquanto esperava pelo filho. Ela tinha um sorriso no rosto, estava calma e cheia de vida.
Alexandre entrou bem devagar e a viu com aquela expressão linda no rosto. Ficou parado olhando para ela. Era um devaneio e tanto foi o que ele pensou. E tinha muita vontade de saber se ele fazia parte do pensamento dela.
Claro, ela tinha se emocionado ao revê-lo, mas ela tinha se casado com outro... Portanto ele não podia ter ilusões. Se ela casou era porque amava o homem que foi seu marido. Ah... Como ele queria que tivesse sido tudo diferente... Mas a vida sempre apronta situações adversas a nossa vontade.
Por fim ele pigarreou e Laura pulou na poltrona. Sorriu ao vê-lo e disse:
-- Eu estava longe... Bom dia!
-- Sim, eu percebi... Bom dia.
Alexandre a olhou e viu que ela estava linda, aquela tonalidade de azul a deixava linda demais. Que vontade de dizer para ela tudo isso. Mas não devia. Agora eram apenas velhos conhecidos, ele era o médico do filho dela e devia haver respeito. E ele continuou:
-- Pedro está vindo. Tenho que ir para o consultório, mas depois no fim da manhã volto aqui.
-- Tudo bem. Te espero.
Logo Pedro chegou, estava muito sonolento por causa da medicação, Laura sentou perto do filho, segurou sua mão e continuou sonhando acordada.
Os dias passaram, Pedro teve alta. E Laura sentia falta da presença de Alexandre, de vê-lo todos os dias. Agora só na consulta de Pedro, que seria em uma semana. E ela não se afastaria mais dele, só se Alexandre tivesse algum impedimento.
Resolveu telefonar para Alexandre e convidá-lo para jantar em sua casa. Ele aceitou, e  só no sábado ele poderia. Então ficou combinado. Avisou para Pedro que comentou:
-- Acho que vocês eram mais que amigos, pelo jeito que se olham...
-- Filho! O que tem o  nosso olhar?
-- Ora mãe, já não sou mais criança e vejo algumas  coisas nos olhos de vocês...  Me conta tiveste que escolher entre ele e meu pai, e o pai venceu, foi assim?
-- Não. Foram circunstâncias que nos separam.
-- Então meu pai foi teu consolo?
-- Não.
E Pedro começou a rir. Laura saiu da sala, sentiu-se envergonhada. Será que era tão evidente o desejo dela por Alexandre? E dele por ela! Ele a  desejava... Ele a queria... Pedro podia estar enganado. Mas ele não tinha compromisso, senão não teria aceitado o convite.
Laura suspirava... Eram tantas duvidas... Eram tantos sentimentos...
Ela queria fazer um jantar saboroso, e lembrava que Alexandre gostava muito de  peixe ensopado. É o que ela faria para ele. E a sobremesa preferida dele era ambrosia. Ela faria também. Fez a lista e saiu para o mercado.
Laura estava nervosa, queria que tudo corresse bem, que a comida estivesse boa e que Alexandre gostasse de estar ali com ela. A mesa estava bem posta, tinha escolhido uma toalha branca e a louça era branca com filete azul escuro e dourado. Tinha comprado umas violetas para enfeitar a mesa. Tudo pronto. Ela foi se olhar no espelho, retocar o batom e Pedro só olhava não dizia nada, mas de repente começou as gargalhadas.
Ela ficou encabulada, realmente parecia uma adolescente. Para escolher o vestido que usaria, foi um sufoco, não sabia qual escolher, mas optou por um azul escuro, um modelo simples, colocou um colar dourado que combinava com os brincos e calçou sapatos, de salto alto, azul marinho.
Laura estava com receio de que Pedro iria dizer alguma coisa indevida. Já tinha feito mais de mil recomendações, mas ela conhecia seu filho, e ele gostava de uma pilhéria.
Alexandre chegou trazendo umas flores para ela, eram rosas cor de rosa, a sua flor preferida. Isso animou muito a Laura, era sinal de que ele também se lembrava de alguns detalhes.
Alexandre a olhou de cima a abaixo quando entregou as flores, e pode conferir que ela era uma linda mulher. Ele sorriu e mais uma vez teve ímpetos de beijar aqueles lábios tão macios.
Pedro foi ao encontro de Alexandre e o convidou para sentar e ficaram conversando sobre futebol. Laura tinha oferecido uma bebida, mas Alexandre recusou, não bebia e ela perguntou:
-- Nem vinho?
-- Um vinho pode ser, não bebo nada destilado.
-- Queres agora ou no jantar.
-- Pode ser no jantar.
Pedro era gremista “doente” e descobriu que Alexandre também. Ele ficou bem animado e ficaram escalando o time para o próximo jogo. De repente Pedro perguntou:
-- O senhor gosta de azul então?
-- Sim, muito. É a minha cor preferida, seja qual for o matiz.
Pedro começou a rir e disse:
-- Agora entendi.
Laura vinha trazendo a salada para a mesa e parou na porta da cozinha com um olhar de fogo para Pedro, que continuava rindo. Alexandre olhava para os dois sem entender. Até  que Pedro completou a frase.
--  Eu entendi porque ela só anda de azul.
Alexandre deu uma gargalhada e olhou com carinho para ela. Laura sem jeito os convidou para sentarem a mesa. Ela estava servindo o jantar.
O jantar correu tranqüilo, Alexandre elogiou o peixe, a sobremesa.   Pedro se levantou e disse que ia para seu quarto, ia ver uns filmes.
Alexandre tirou o casaco, arregaçou as mangas da camisa e foi para a cozinha lavar a louça sob os protestos de Laura. Por fim os dois deixaram a cozinha brilhando, tudo limpo no lugar.
Voltaram para a sala e Alexandre pediu para ela sentar ao lado dele no sofá. E ela sentou. Ele pegou sua mão e beijou. E ele pediu:
-- Me conta da tua vida...
E Laura contou que foi estudar em Pelotas, que morava com a tia,  lá conheceu Inácio, que era colega de seu primo Tiago, e que eles começaram namorar , mas não logo, demorou, porque ela não queria ter outro namorado. Mas todo mundo disse que ela precisava esquecer, que tinha que tocar a vida para frente. Inácio era um cara bom, de boa família, estava estudando arquitetura e por fim ela aceitou namorar, noivaram e casaram. E vieram para Porto Alegre, nasceu o Pedro e ele era um bom marido, a tratava bem, era alegre, divertido e um dia inspecionando uma obra, ele tropeçou na escada e caiu no buraco do elevador e morreu na hora. Isso a mais de três anos atrás. E ela tinha o Pedro, e a família de Inácio tinha posses e então ela não precisava trabalhar, eles remetiam a parte dela das fazendas. Os pais deles eram vivos ainda, mas passaram para ela e o filho uma parte da herança. Inácio só tinha uma irmã, e ela e o marido haviam concordado. Estava tudo legal.
Alexandre escutou tudo o que ela disse, e percebeu que em nenhuma vez ela falou que o amava. Era amada pelo marido, mas ela não ficou claro, e ele precisava saber:
-- Tu o amavas muito...
-- Eu gostava muito dele.
E ao dizer isso Laura olhou nos olhos de Alexandre que estavam fixos nos dela. Ele apertou sua mão e beijou novamente. E Laura estava curiosa também e falou:
-- E como foi contigo?
-- Comigo, não tenho muito a contar. Estudei, estudei e estudei.
-- Não tiveste ninguém?
-- Não.
-- Por quê?
-- Porque eu não queria, não tinha tempo para isso e além do mais meu coração já tinha dona. Sempre foste tu, apenas tu.
E Alexandre a envolveu num abraço e a beijou com paixão. A paixão era tanta que deixou Laura emocionada.  Depois daquele ardor, Alexandre se levantou, precisava ir embora, precisava colocar os pensamentos em ordem.
Laura o levou até a porta. Despediram-se com um beijo na face. Ele saiu sem dizer nada. Laura queria que ele viesse almoçar no outro dia, mas achou que não deveria insistir. Ele estava estranho. Talvez quisesse ficar sozinho.

No domingo a tardinha ele ligou para ela. Agradeceu pelo jantar e disse que ficaria fora uns dias. Qualquer coisa que precisasse que procurasse o Dr. Marcelo. E que as consultas seriam todas remarcadas. 
E Laura perguntou para onde ele ia, e Alexandre respondeu que tinha uma reunião em São Paulo e de lá iria para a Alemanha defender sua tese de doutorado. Eles adiantaram em um mês a apresentação dele. Por isso esse transtorno todo. Despediram-se com a promessa de jantarem juntos quando ele retornasse.
Laura estava na expectativa. Alexandre não definira a data de seu retorno. Ela resolveu contar para o filho a história deles, porque depois daquele beijo, com certeza eles voltariam.
Pedro escutou toda a história de amor de sua mãe, que ao narrar enfatizou o amor de Inácio por ela. Deixou bem claro que ela e o marido tinham sido muito felizes, que sempre viveram em paz e harmonia.
Então Pedro disse:
-- Mãe tu achas que ele que casar contigo?
-- Não sei, ele não falou nada. Apenas lembramos o que vivemos, e como foi nossa vida depois que nos separamos... Mas resolvi te contar, para tu não ter nenhuma surpresa.
-- Obrigado. Eu gosto dele, acho ele um cara legal. Se queres casar eu dou minha permissão.
-- Esta bem. Mas não sei mesmo. Agora ele foi chamado em São Paulo e vai para a Alemanha, talvez tenha até alguma proposta de trabalho no exterior. Não sei. Vamos esperar. Apenas quis te contar.
Aqueles dias foram longos para Laura, custavam a passar. Ela estava ansiosa, alegre e ao mesmo tempo ansiosa e triste, porque ela poderia estar imaginando coisas.
Eram dez horas da manhã de sábado quando o telefone tocou e era Alexandre, pedindo:
-- Tu podes me pegar no aeroporto ao meio dia. Já estou em São Paulo e estou embarcando para Porto Alegre e vamos almoçar juntos. Ok?
-- Sim. Vou estar lá.
Ela estava sozinha. Pedro tinha ido para Pelotas para passar o fim de semana com os avós. Tinha ido com a tia. Chegaria no domingo a tardinha.
Laura tomou um banho, colocou uma calça preta e vestiu uma blusa de malha branca com detalhes em preto. Mocassim pretos e bolsa vermelha. Penteou os cabelos deixando soltos, caídos nos ombros, passou batom e saiu. Não queria se atrasar. Ela chegou a tempo de ver o avião aterrissar. Logo ela o avistou e foi para o terminal esperar.
Ele chegou e a abraçou e beijou e saíram abraçados. Almoçaram numa churrascaria, e ele falou o tempo todo contando sobre sua apresentação. Ela escuta e ria. Estava encantada de estar com ele.
Ela perguntou para onde ele queria ir, e ele muito rápido respondeu:
-- Para onde tu fores.
-- Então vamos lá pra casa. Pedro está em Pelotas, só volta amanhã à tarde.
-- Mas que boa noticia...
Laura fez um café para eles. Estava começando a chover. Eles ficaram sentados no sofá,  de mão dadas conversando, como nos tempos de namoro. A noite caiu e Laura foi para cozinha preparar algo para eles comerem.  Alexandre a ajudou.
Depois mais tarde Alexandre perguntou a ela:
-- Queres que eu vá para o meu apartamento, ou posso ficar aqui contigo?
Ela olhou para ele e sorriu, quando respondeu:
-- És tu quem decide.
-- Eu fico, estou morrendo de saudades de ti. Como vamos fazer? E o Pedro?
-- Eu já contei para ele a nossa história, enfatizei a importância do pai dele, e ele aceitou, diz que dá permissão para nós casarmos.
-- Casar?
-- Não queres casar? Ou não podes?
-- Ora, deixa de bobagens, já te disse que não tem ninguém. Estou brincando. Claro que quero casar contigo, sempre quis. Se Pedro não é problema vamos providenciar.
E naquela noite ele provou o sabor do corpo de Laura. Amaram-se com paixão, fazendo despertar todo a amor que sempre tiveram um pelo outro. Era mais que amor, era loucura.
Alexandre estava no paraíso. Fazer amor com Laura foi tudo o que sempre desejou e que sempre sonhou. Agora estava feliz e realizado. Enfim eles estavam juntos e ela era sua.
E Laura pode perceber que foi com Alexandre que ela conseguiu se realizar como mulher. Deu-se conta que ela sempre permitiu que Inácio a tocasse, mas nunca sentiu o fogo do amor em suas entranhas. Alexandre a fez vibrar, a fez mulher. Ele era o amor de sua vida.
Alexandre sabia que não poderiam dormir juntos sem estarem casados. Precisavam respeitar a Pedro. Então ele tratou de “agilizar” e em dois meses estariam casando.
No outro fim de semana foram a São Lourenço do Sul, para visitar os pais de Laura, que ficaram muito felizes com a boa noticia.
Aproveitaram e passearam a beira da lagoa, sentaram no banco “dele” e recordaram os momentos alegres e felizes que viveram ali quando eram jovens.
Só em Pelotas que a família de Inácio não aplaudiu a idéia. Queriam que ela cultivasse para sempre a memória do marido.
Também foram a Florianópolis levar a noticia a família de Alexandre que a receberam com uma verdadeira festa. Lá eles puderam fazer um ensaio da lua de mel.
Enfim casaram em uma cerimônia simples na manhã de sábado na Igreja Santa Terezinha. Depois fizeram um almoço no salão de festas do prédio onde Laura morava. E saíram em lua de mel para Treze Tílias em Santa Catarina. Um lugar lindo e sossegado, onde puderam curtir a paisagem e, sobretudo se amarem.
Quando voltaram à rotina de suas vidas, Laura passava com um sorriso no rosto e Alexandre estava sempre cantarolando. O amor trouxe a eles a alegria de viver.

                                         Maria Ronety Canibal
                                             Setembro de 2017.

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