sexta-feira, 7 de julho de 2023

COMO CRISTAL


 

COMO CRISTAL

 

Vanusa estava radiante de felicidade.

Era o dia do seu casamento, e seus pais haviam organizado uma grande festa, para comemorar o enlace.

Já vestida de noiva ela se olhava no espelho, onde sua bela imagem estava refletida. Sorriu feliz ao pensar no noivo.

Tobias...

Riu ao lembrar a forma como se conheceram. Tudo aconteceu tão rápido, e Vanusa só lembrava de ter escorregado e ter caído sentada no chão, em pleno calçadão da Rua da Praia. Estava pagando o maior mico. Lisette, a sua amiga, em vez de acudir, desatou a rir, com sonoras gargalhadas, como se fosse uma adolescente.

Então um rapaz, muito gentil, parou e estendeu a mão para ajudá-la a levantar. Muito preocupado ele perguntou:

-- Tu estás bem?

-- Sim, obrigada. – Respondeu a Vanusa muito envergonhada.

-- Eu sou o Tobias e tu como te chamas?

-- Vanusa, e a minha amiga é a Lisette.

-- Vamos tomar um café? – Disse o Tobias indicando a cafeteria que ficava logo adiante. – Assim tens tempo para te recompor e a tua amiga parar de rir.

-- Eu aceito, obrigada. – Disse Vanusa.

-- Eu não posso, tenho hora no dentista, já estou atrasada. – Disse Lisette, tentando sufocar o riso, e se afastando deles.

Tobias a conduziu até a cafeteria, escolheu uma mesa e a ajudou a sentar. Preocupado ele perguntou:

-- Tens certeza de que estás bem?

-- Sim, obrigada. Foi apenas um escorregão.

Aquele café serviu para deixar Vanusa fascinada pelo rapaz. Ele era gentil, educado e muito simpático. E até bonito! Na conversa, que fluiu como se fossem velhos conhecidos, ela descobriu que o Tobias era Formado Ciências da Computação e trabalhava na programação de drones. E que eles moravam bem próximos um do outro.

Sem reservas ela aceitou sair com ele no fim de semana. E assim eles começaram a namorar. E hoje, pouco mais de um ano, eles estavam se casando.

Vanusa reconhecia que tudo tinha sido muito rápido. Mas o amor que os envolveu era intenso, e eles não queriam protelar o namoro. Iriam casar direto.

Dona Ângela, a vó de Vanusa, achava que a neta estava se precipitando, que o casamento era coisa séria, e que ela precisava ter absoluta certeza de que estava se casando com a pessoa certa. O amor, muitas vezes, dizia a dona Ângela, nos conduz ao erro. Pois amamos a pessoa errada. E isso faz sofrer.

-- Vó, não te aflijas, nós estamos apaixonados, e eu não sou mais uma guriazinha. Já tenho 24 anos e sei o que quero. Ele é tudo o que eu preciso para ser feliz. – Disse Vanusa para a avó, e também para o pai, que concordava com a sogra, dizendo que eles estavam muito apressados.

-- Minha filha, se tu estivesses grávida, eu até concordaria com um casamento, agora, mas não é o teu caso. Espera mais um pouco. A paixão cega, e não te deixa enxergar a pessoa como ela realmente é.

-- Pai, tens alguma coisa contra o Tobias, ou a família dele?

-- Não, minha querida. Não tenho nada a dizer, mas também não os conheço bem.

-- Não perturbe a nossa filha... – Falou Beatriz ao marido. – Eles se gostam, e não há como prever o futuro. O casamento é construído no dia a dia, nas escolhas que fizemos a cada manhã. E se existe amor, as coisas se ajeitam. Quantas brigas sérias nós tivemos, e, no entanto, continuamos juntos, porque o amor nos mantém unidos. Esse é o segredo do bem viver. E a nossa filha sabe bem disso. Esse é o dia dela. Devias ter a convencido antes. Hoje nada conseguirás.

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Era o seu grande dia!

Mas era também o grande dia para Tobias.

Parado a porta da igreja, ele relembrava o início do namoro, o modo como se conheceram, e como Vanusa mexeu com o seu íntimo, naquele primeiro instante, quando a ajudou levantar-se, no calçadão da Ru da Praia. Tobias estava convicto de que estava fazendo o que era certo. Eles se amavam e o casamento era o único caminho. Logo eles estariam unidos para sempre, na Lei de Deus e dos homens.

Ele reconhecia que sempre foi um“galinha”, contudo desde que Vanusa surgiu em sua vida, ele havia mudado, tinha amadurecido e o amor tinha tomado conta do seu coração.

Jorge, o seu primo, tinha perguntado:

-- Tens certeza do que estás fazendo? Sabes que o matrimônio é um laço que só a morte desfaz?

-- Eu sei disso. Já pensei a respeito.  Vanusa é a mulher da minha vida. – Afirmou Tobias.

Sentiu uma forte emoção ao pensar o quanto a amava.

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O carro que trazia a noiva dobrou e esquina.

Tobias acompanhado de sua mãe, entrou na igreja, pela nave principal, sob os olhares dos convidados, que lotavam o templo.

O som suave do órgão tocando a Ave Maria acompanhou a entrada de Vanusa na igreja. Ela estava encantadora vestida de noiva. Trazia um sorriso deslumbrante e seus olhos brilhavam de emoção.

Tobias tremeu ao recebê-la diante do altar.

De mãos dadas eles se aproximaram do celebrante. O padre fez uma breve reflexão sobre o sacramento de matrimonio, e deu início ao rito.

Tobias e Vanusa saíram da igreja felizes. Estavam casados!

A festa foi animadíssima, assim como os noivos que fizeram uma exibição de dança, ao ritmo alucinante do rock roll. Foram aplaudidos pelos convidados.

Então, os noivos deixaram a festa e rumaram para a lua de mel.

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Apesar da rotina estabelecida, o jovem casal vivia em plena felicidade. Tobias era um bom marido. Estava sempre preocupado com a esposa. Suas noites eram intensas, e o amor explodia em seus corações, os deixando cheios de júbilo.

Vanusa decidiu que se era para engravidar, que fosse logo, pois assim ficaria livre da tal incumbência. E seria uma única vez. 

E de brincadeira disse ao marido:

-- Eu quero apenas um filho, se achas que precisas de mais de um, vai procurar outra mulher.

-- Não quero outra mulher. Tu já preenches os meus dias. – Respondeu ele rindo.

Os dias passavam, e eram dias de intensa felicidade.

Mas aquele amor ardente tinha perdido o ardor. Já não era mais como antes. Tinham entrado na rotina. Mas felicidade reinava.

Enfim, ela engravidou. Foi uma gravidez tranquila, e Vanusa trabalhou até o último mês, já que seu trabalho era em casa. Ela fazia, sob encomenda, pães especiais. E ela era uma ótima padeira.

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Era madrugada de sábado, e chovia torrencialmente, quando a Vanusa despertou com fortes dores abdominais. Acordou o Tobias, e disse:

-- Acho que chegou a hora. Precisamos ir para o hospital.

-- Tens certeza. Escuta o barulho da chuva. É muita chuva para sair assim. – Protestou o marido.

-- As minhas contrações estão mais fortes e mais seguidas. – Explicou ela. – Se não queres me levar, vou chamar o meu pai.

-- Não! Eu sou o teu marido. Eu te levo. – Falou Tobias levantando-se rapidamente.

Minutos depois eles estavam no carro rumo ao hospital. Ruas alagadas dificultou o trajeto, mas enfim conseguiram chegar. Vanusa com fortes dores, logo foi colocada numa cadeira de rodas e levada para a ala da maternidade.

Tobias olhou o relógio e caminhou até a máquina de café. Pegou mais um capuccino e bebeu vagorosamente. Voltou e sentou no banco. Ele estava inquieto. Já amanhecia e fazia quase duas horas que eles tinham levado a sua mulher e ele estava sem nenhuma informação.

Ele teria que ligar para os pais da Vanusa. Mas ainda era muito cedo. Resolveu acordá-los. Estava preocupado e com receio de que as coisas não estivessem correndo bem. Precisava dividir a responsabilidade com a família dela.

Tão logo receberam o aviso, Beatriz e Guilhermo se apressaram em ir para o hospital. Quando lá chegaram encontraram Tobias, que muito nervoso, andava de um lado para o outro.

Tobias explicou que ainda não tinham avisado nada e fazia bastante tempo que Vanusa tinha entrado para ala da maternidade sentindo fortes dores. Beatriz, bem angustiada, saiu à cata de informações, porém não conseguiu. O remédio era esperar. E eles esperaram.

Uma enfermeira se aproximou dizendo que o marido estava autorizado a entrar. Beatriz indagou sobre a filha, e a moça disse:

-- Foi um parto difícil, mas agora mãe e filha passam bem. Logo o médico virá falar com vocês. – Virando-se para o Tobias, a enfermeira disse. – Vamos.

Ele a seguiu.

Vanusa estava exausta. Sua fisionomia era sofrida, mas tinha um sorriso no rosto, e olhava encantada para o pacotinho que trazia nos braços.

Tobias se aproximou e beijou a testa de esposa e olhando para a filha. Foi um momento mágico, e ele sentiu seu coração pulsar mais forte. Aquele pequeno ser era parte dele. Lágrimas afloraram em seus olhos e ele as deixou rolar. Aquela pequena criança, já era a dona do seu coração.

-- Paola... – Sussurrou ele. – Vamos chamá-la de Paola.

-- Eu tinha pensado em Estela. – Disse Vanusa sem convicção. – Mas se queres Paola, que seja.

-- Paola, minha princesinha. – Falou ele a tomando nos braços.

Vanusa observou o modo com o marido olhava para a filha. Era uma paixão avassaladora. E ela sentiu uma pontada de ciúme... não era mais o único amor na vida de Tobias. Paola tornou-se a sua rival.

Tobias foi convidado a se retirar, pois a Vanusa precisava descansar e a criança iria ser examinada pelo pediatra.

Mesmo estando em sua casa, Vanusa sentia-se uma inútil. Tobias havia tirado uns dias de folga no trabalho para dedicar-se a paternidade. Sua mãe, pai, irmã e demais parentes, tomaram conta de sua casa. Só lembravam dela na hora da Paola mamar.

Vanusa sentia-se uma vaca leiteira!

Estava revoltada por ter que permanecer de cama por causa da rotura perineal que tivera durante o parto. A parentada tinha invadido a sua casa, todos queriam conhecer a pequena Paola.

Os dias passaram, e agora Vanusa sentia-se solitária, pois sua casa tinha se tornado um deserto. Tobias tinha retornado ao trabalho, e os parentes tinham sumido. E Vanusa precisava assumir os cuidados da filha, muitas vezes sem saber o que deveria fazer, para acalmar um choro repentino.

Vanusa sentia amor por sua filha, assim como sentia ciúmes da atenção que o marido dedicava a pequenina. Tobias chegava do trabalho e mal olhava para esposa, queria apenas estar com a filha, e a mimava de todas as formas. Ela tinha consciência de que Paola merecia toda a atenção do pai, mas não era justo que ela, a mãe, ficasse em segundo plano.

O tempo foi passando, e Paola crescendo. Ela com um aninho, já dava os primeiros passos e balbuciava papa, quando via o pai se aproximara dela. Paola se tornara uma menina encantadora, porém muito travessa. Sua curiosidade fazia com que mexesse em tudo, até nas coisas de seu pai. E Tobias não gostou da teimosia da filha.

Aos poucos ele foi se distanciando da filha, assim como da esposa. Nas suas horas livres, Tobias não ficava mais em casa. Fazia academia, jogava futebol, e até mesmo alimentava seu novo passatempo: antiguidades.

Aos fins de semana Tobias saia para garimpar pequenos objetos antigos, em feiras e briques. Claro que era uma atividade que ele fazia sozinho.

Vanusa sentia-se cada dia mais apartada da vida do marido.

Ela não se queixava das atitudes de seu marido, para ninguém. Em primeiro lugar porque era orgulhosa, e seguidamente lembrava-se das palavras da avó e do pai, que eram de opinião que de ela precisava conhecer melhor o rapaz antes de casar.

A vida do casal virou uma rotina, e os momentos de intimidade, eram escassos. Mas a vida continua, pensava Vanusa, e ela dedicou-se inteiramente a filha.

Eles estavam completando 6 anos de casados. Bodas de Perfume. Seria a combinação entre dois elementos que representam a essência da vida.

-- Essência da vida?  Que piada! – Disse Vanusa para si mesma ao receber uma mensagem de sua mãe, a parabenizando pelo o aniversário de casamento.

Aquele dia passou sem que Tobias se lembrasse da data.

-- Homem é assim...  -- Comentavam as amigas, não ligam para as datas.

Mas Vanusa sentiu-se magoada. No entanto, não deixou transparecer.

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Aquele verão tinha sido maravilhoso.

Tobias programou as férias da família de modo diferente. Em vez de ficaram hospedados na casa de mãe dele, na praia, ele propôs fazerem uma viagem de carro, pelas praias de Santa Catarina.

Foram dias de convivência familiar como nunca tiveram. A relação do casal retornou ao que era no início do casamento. E eles transaram muito. Tudo estava perfeito!

Paola também aproveitou a presença do pai. Os dois caminhavam pela praia, apostavam corridas e entravam no mar e divertiam-se. Vanusa observava a interação entre pai e filha. E perguntava-se:

-- O que aconteceu?  Claro que tudo estava fantástico, mas qual era a razão de uma mudança repentina e tão significativa?

Vanusa não encontrou uma resposta.

No entanto ela não iria desperdiçar esses momentos de felicidade familiar pensando... Iria curtir!

A família retornou das férias e voltou a rotina, porém com uma pequena diferença, Tobias estava mais presente. E isso, fazia toda a diferença, não só para ela, como também para a Paola que era apaixonada pelo pai.

Os dias foram de felicidade.

Tempo passou.

Paola estava na escola e numa tarde sombria, Vanusa decidiu arrumar os armários. Era uma tarefa que ela detestava, mas como ele tinha tempo naquela semana, resolveu se livrar dessa incumbência.

Começou pela parte do marido. Tirou todas as roupas, limpou o armário por dentro, se pôs a revisar as roupas dele. No bolso de um blazer de lã, ele encontrou uma folha de papel dobrada. Abriu e leu.

-- Não é possível! – murmurou.

“Te espero no lugar de sempre as 17h. Sempre tua M.”

Foi o que ela releu.

Sem saber como agir, ela colocou o bilhete de volta no bolso do casaco. Recolou as roupas no armário.

Foi para o chuveiro e chorou.

Se arrumou muito bem e antes de sair pediu para a dona Beatriz, a sua mãe, pegar a Paola na escola.

Resolveu ir de Uber. Estava muito agitada para dirigir.

Foi até o prédio da empresa onde seu marido trabalhava.

Sentou-se no saguão e esperou. Faltava pouco para o fim do expediente. Não demorou muito e ela viu o Tobias entrar no prédio acompanhado por uma mulher. Uma colega de trabalho bastante intima dele.

Ela a conhecia, e chamava-se Marina. Então era M de Marina.

Credo! Essa mulher havia estado na sua casa mais de uma vez... Ela era casada!

Será que eles eram tão descarados, a ponto de não se importarem com o que os colegas poderiam pensar, ou mesmo os seus superiores?

Ali diante dos fatos, ela agiu com frieza. Era assim que iria proceder. Ele não podia desconfiar que ela sabia que ele tinha um caso.

Vanusa não voltou para casa. Desligou o telefone e foi para o shopping fazer compras. E comprou muitas coisas. Ela chegou em casa muito tarde, com muitas sacolas.

Tobias a esperava bem preocupado.

-- Aonde estavas? Por que estas com o telefone desligado? Liguei mil vezes...

-- Eu precisava sair um pouco. Fui passear...

-- E gastou uma fortuna... – Disse ele olhando a quantidade de sacolas. – Deves ter estourado o cartão de credito.

-- É... Talvez... – Disse ela indo em direção ao quarto e anunciando. – Eu vou dormir sozinha. Hoje eu não te quero na minha cama. Amanhã não sei, mas hoje não! – Vanusa fechou a porta e trancou a chave.

Tobias estava espantado.

Não entendia a atitude de Vanusa. Ela sempre foi tão calma, tão fácil de manobrar, e agora se apresentava desse jeito... Algo tinha acontecido. Mas ele era tão cuidadoso... Nunca deixou nenhum rastro.

Tobias dormiu no sofá.

Na manhã seguinte ele saiu muito cedo de casa.

Ainda bem que ele sempre tinha uma muda de roupa no escritório. Tomou uma chuveirada e vestiu-se, só então pediu uma entrega de café com bolinho.

Ele não ligou para casa, e tão pouco recebeu algum telefonema de Vanusa ou algum familiar. Uma situação muito estranha.

Ao fim do dia ele voltou sem saber o que encontrar. Estava curioso e ao mesmo tempo receoso.

Tobias entrou em casa e sentiu o cheiro de carne de porco assada. Era o seu prato favorito. Respirou aliviado, a Vanusa tinha voltado ao normal. Bem, nem tanto, pois a Paola não estava em casa.

-- Olá! – Disse a porta da cozinha. – Tudo bem por aqui? Onde está a minha filha?

-- A nossa filha está na casa da minha mãe. E tudo muito bem por aqui. Como passastes o dia?

-- Bem, e com muito trabalho. Reuniões e reuniões. – Queixou-se.

-- Tudo normal, então. – Disse Vanusa em tom de deboche.

-- O que está acontecendo contigo?

-- Nada. Vamos jantar depois conversamos. Aliás fiz esse prato especial para celebrar.

-- Celebrar o quê?

-- Come, logos saberás.

Tobias começou a comer e se surpreendeu com o sabor, não se conteve e comentou:

-- Humm... Está muito bom! Hoje tu te superaste. Parabéns!

-- Obrigada! Essa era a intenção. – Respondeu Vanusa sorrindo.

Quando ele terminou de comer a sobremesa, ela falou:

-- Eu quero um tempo.

-- Como assim, queres um tempo? – Indagou ele surpreso.

-- Eu preciso pensar, rever a minha escolha. – Explicou ela calmamente.

-- Tu estás me traindo. – Afirmou ele a olhando com raiva.

-- Não sou dessa laia. Sou leal e honesta. Por isso estou te pedindo para sair desta casa agora. As tuas coisas já estão arrumadas. É só pegar a mala e te mandar.

-- Se estás pensando que...

-- Vai embora agora – Disse Vanusa com firmeza -- Eu não vou discutir contigo. E essa casa é minha, não esquece. Aqui mando eu.

Indignado, Tobias pegou a maleta e foi embora.

Ele não estava preparado para essa situação. Teria que ir para um hotel. Não iria para a casa de seus pais. Era ridículo!

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Paola sentia saudades do pai.

Já se passara um mês e Tobias não tinha ido visitar a filha. Ele continuava indignado com a esposa. Ele mandou investigar, colocou um detetive para vigiá-la e a esposa seguia com a sua vida normal. Nem de casa saia. Só saia para cumprir a rotina, ou seja, fazer as compras da casa, levar e buscar a filha na escola, uma vez por semana ir ver mãe.

O que tinha acontecido? A Vanusa sempre foi apaixonada por ele, por isso ele andava com a Marina, pois tinha certeza que a esposa seria sempre submissa, pois o amava muito.

A Marina não era compromisso. Era uma mulher bonita, sensual e fácil. Ela tinha marido, que era 35 anos mais velho, e não se importava com as folias da esposa. Por isso Marina era a amante ideal.

Então, ele se perguntou:

-- Por que eu tenho uma amante? A minha esposa não é bonita, carinhosa e sincera? Por que eu fiz essa loucura? E será que a Vanusa me quer de volta?

Passado o tempo que Vanusa tinha pedido, Tobias a procurou. Eles marcaram um encontro no shopping.

-- Aceitas mais um café? – Perguntou o Tobias, tentando esticar a tarde.

-- Não, obrigada. Só preciso te dizer que eu pensei muito e não quero mais me sujeitar a vida que eu tinha. Ser tua esposa não é para mim. Vamos providenciar a nossa separação legal.

-- Tens certeza? O que eu te fiz de tão grave?

-- Se tu não tens a capacidade de reconhecer os teus erros, procura ajuda profissional. Eu não vou me rebaixar, jamais. Meu advogado vai entrar em contato contigo.

-- Não estou te entendendo. – Disse Tobias.

-- A relação de um casal é como cristal. Depois que se quebra não fica mais igual. Não adiante tentar colar. Se quebrou!

Tobias entrou numa crise existencial.

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Um ano depois, após tratamento psicológico, Tobias procurou por Vanusa. Ele a queria de volta. Reconhecia que tinha feito tudo errado, que ele a amava, amava a filha e sentia muita falta da vida que eles tiveram. Ele queria ter uma chance de recomeçar.

Vanusa estava segura de si. Estava em paz. Mesmo sendo assediada por um antigo namorado, que estava divorciado, ela inda não queria envolvimento.

Não estava pronta para um novo amor. Seu coração ainda estava se refazendo do terrível golpe que sofrera.

Ainda estava convalescente!

Vanusa escutou tudo o que Tobias tinha para lhe dizer. Ela até sentiu pena dele, no entanto foi firme em sua decisão. Paola estava bem, também estava tendo acompanhamento psicológico, e ela não queria estragar a vida da filha mais uma vez.

Vanusa foi muito clara ao repetir:

-- O amor é como cristal... Depois que quebrou não tem como restaurar.

                                                                             

                                                                      Maria Ronety Canibal

                                                                                     Julho 2023.