E agora???
O casal recentemente havia festejado as Bodas
de Pérolas, e a curiosidade de Jaciana, a fez pesquisar o significado do nome,
e ficou sabendo que as pérolas estão fortemente conectadas ao amor, pois elas
representam o comprometimento eterno, sabedoria, pureza e beleza.
A festa foi uma reunião de famílias, já
que ambos tinham uma família numerosa, e com alguns amigos mais íntimos
incluídos. Muitos brindes foram feitos
ao casal, que era considerado um exemplo de boa convivência, pois de fato,
nunca nesse tempo de casados, tinham tido uma briga significativa.
Os gêmeos, Juarez e Júlio estavam
acompanhados de suas esposas, Andreia e Leticia, que admiravam a sogra, por
sempre ter sido uma pessoa abnegada à família.
Enfim, o casal Domenico e Jaciana tinha
uma família linda, uma boa casa para morar, e o suficiente para viver bem, e
ainda era muito estimado por todos.
***
Contudo, ultimamente, a vida do casal não
era mais tão harmoniosa. Havia algumas discussões e omissões que estavam os
afastando. Domenico estava já estava aposentado, mas continuava trabalhando
como motorista de Uber.
Com a saída dos filhos de casa, Jaciana,
com a desculpa de que a casa estava vazia sem os filhos, foi trabalhar fora.
Ela não tinha muito estudo, no entanto, conseguiu um emprego como balconista,
numa loja de materiais de construção.
Agora ela estava mais satisfeita, pois não
estava mais presa a lida da casa, e saia e conversava com outras pessoas. Foi
nesse período, que o filho mais velho, o Juarez que trabalhava no Banco do
Brasil, foi transferido para capital, e o Júlio, que trabalhava com o sogro,
foi morar no campo, pois foi designado o responsável pela lavoura de trigo.
O tempo passava.
Logo, iriam completar mais um ano de
casados.
Domenico não estava satisfeito com a
situação. Pois a sua mulher estava a cada dia mais distante de tudo, não se
importava mais com o cuidado da casa, com a sua alimentação, e até fazia
algumas coisas que ele considerava maldade, como por exemplo, esconder as
palmilhas do seu sapato. E obrigá-lo a ficar o dia inteiro com desconforto nos
pés.
Domenico, incomodado com a sua vida atual,
estava mais afastado dos irmãos, sentia-se envergonhado com o procedimento de
Jaciana. Tinha receio de que suas irmãs descobrissem o quanto ele estava
infeliz no casamento.
Domenico havia emagrecido muito, tanto que
a Daniela, a sua irmã mais nova disse brincando:
-- Não te dão mais comida em casa? Estás
muito magro...
-- Estou bem, não te preocupas comigo. –
Respondeu ele humilhado, já que na verdade, Jaciana não cozinhava mais para
ele. Às vezes, ele chegava em casa e não encontrava nada na geladeira. Então
comia um pedaço de pão velho.
-- Não, não estás bem. Eu te conheço –
Insistiu Daniela. – Tens uma preocupação no olhar. Os guris estão bem?
-- Sim, ontem o Juarez telefonou, eles
estão bem. E o Júlio, esteve lá em casa no domingo. A Leticia parece que está
grávida.
-- Isso é uma boa notícia. Vamos ter que
nos reunir para brindar.
-- Não, ainda não. Não está confirmada. E
como ela já falhou uma vez, ele me pediu sigilo, por enquanto.
-- Sim. Foi muito difícil para eles. Vamos
esperar a confirmação. – Anui a irmã.
-- Bem, eu vou indo... Tenho umas voltas
para dar. Um abraço para o Zeca.
Domenico entrou no carro e foi embora. Ele
sabia que dessa irmã, ele não conseguia esconder nada, eles sempre foram muito
ligados.
Ao chegar em casa, naquele fim tarde, ele
encontrou a casa vazia. Jaciana ainda não tinha chegado. Aliás, ela
seguidamente chegava muito tarde em casa. Após o trabalho ela ia visitar a sua
irmã, que havia se separado do marido. Uma separação escandalosa, da parte dos
dois, que gerou comentários por todos os cantos de Lagoa Vermelha.
O aniversário dele estava se aproximando,
e Domenico não queria reunir a família, precisava pensar em uma desculpa.
Talvez um serviço de viagem... fosse uma boa solução.
E inesperadamente uma viagem surgiu. Levar
um senhor para visitar os irmãos em Santa Catarina, na cidade de Joaçaba. Ele
precisaria ficar à disposição, e havia hospedagem e alimentação garantida.
Domenico aceitou e pediu um valor alto, pelo trabalho. E o homem aceitou o
preço sem regatear.
O dia do aniversário do Domenico foi muito
agradável, ele passou entre pessoas estranhas, mas que o trataram com afabilidade.
Até um bolo a dona Flora fez para ele.
***
A vida continuava e os problemas se agravavam.
Chegou o dia do aniversário de Jaciana, e
ela declarou em alto e bom som, que não faria nada. Iria sair com os colegas de
trabalho, iriam comer uma pizza. E ao marido disse:
-- Tu podes ir trabalhar como sempre. Eu
vou estar bem. Não preciso da tua presença.
Domenico escutou a recomendação e pensou
que alguma coisa estava muito errada. Ele circulou pela cidade, e viu em qual pizzaria
o grupo estava.
Naquela noite ele chegou mais tarde, era
véspera de feriado, e sempre tinha mais movimento. Quando ele entrou na sala, a
encontrou completamente bêbada no sofá.
Domenico, a levou para cama e depois
voltou e pegou o telefone dela que estava aberto, e ele viu a mensagem de um
tal Belo, dizendo que não iria, pois, a sua filha estava doente e ele ficaria
com a esposa, cuidando da filha.
Ele foi para o outro quarto.
Era óbvio que ela estava tendo um caso com
o seu colega de trabalho, o Belo, que também era casado. Em vista das evidências
ele iria pedir a separação litigiosa. Ora, já tinha acontecido com a cunhada,
Janine, por que agora seria diferente?
Naquela noite ele dormiu no quarto dos
guris.
Na manhã seguinte ela acordou muito mal.
Ele tentou conversar, e ela não entendia o que ele falava, ou se fazia de desentendida.
Então ele resolveu sair de casa.
Era feriado, iria pegar a estrada e
almoçar em algum lugar, caminhar e pensar. Sua família era muito conservadora,
uma separação seria um choque para seus irmãos e irmãs.
Como faria? Talvez depois desse desengano
ela sossegasse. Afinal, já não era mais uma jovem, já tinha completado 52 anos.
Sim, daria um tempo. Talvez tudo se
acomodasse, embora não tinha mais pretensão de dormir na mesma cama com ela.
Ele sabia que intencionalmente, ele havia sido traído, se de fato aconteceu,
ele não tinha certeza. Iria só manter as aparências do casamento.
Dias depois, Jaciana deixou o emprego. Domenico
não sabia se ela tinha sido despedida, ou se tinha pedido a demissão. Eles
quase não se falavam, apenas o essencial, e ele não iria perguntar nada! Mais
adiante descobriria.
Jaciana, sem alternativa ficou em casa,
cuidou da casa, até cozinhou para o marido, parecia que tudo tinha voltado ao
normal. Ela tentou seduzi-lo com uma lingerie sensual, e levá-lo para cama
dela, mas Domenico resistiu, não cairia no jogo dela, não confiava mais.
Até que um dia ela conseguiu um novo emprego. Agora mais
longe de casa, também em uma loja de matérias de construção. E tudo voltou a
ser como antes. Desleixo com a casa, com a alimentação, sem horário para
chegar... Enfim, Jaciana, mais uma vez estava levando uma vida desregrada.
Ela estava muito magra, sem brilho, e suas
roupas não eram mais de uma senhora de meia idade casada. Ela estava
vestindo-se como se fosse uma jovem de 20 anos. Saias curtíssimas, blusas burlescas,
cabelos longos e mal tratados, unhas pintadas em cores estranhas... Era a
decadência que tinha chegado.
***
Naquele dia, Júlio e a esposa o convidaram
para almoçar. Eles tinham vindo a cidade para o acompanhamento da gravidez da
Leticia. O jovem casal estava feliz,
dessa vez tudo estava dando certo, e o exame anunciou que uma menina estava a
caminho.
Domenico ficou feliz, ele iria ser avô de
uma menina. Enquanto almoçavam a conversa girava sobre diferentes assuntos, até
que o filho perguntou:
-- A mãe está na crise da meia idade? Ela
está usando uma roupa ridícula, a convidei para vir almoçar conosco e ela
recusou, afirmando que estava comprometida com uma colega. Ela está tão
estranha, o que está acontecendo, pai?
-- Não sei. E concordo contigo, ela está
muito diferente. Agora, que trabalha, que conseguiu a independência, como ela
mesma diz, ela mudou da água para o vinho. Não é mais a mesma, até parece que
está perturbada das ideias.
-- Pai, eu vou te confessar que fiquei
envergonhado ao vê-la vestida como se fosse uma guria de 15 anos.
-- O que queres que eu faça? Também acho
errado, mas... Se eu disser ou fazer alguma coisa serei acusado de machista, e tem
essa tal lei que protege a insensatez feminina... Nada posso fazer!
-- Desculpe eu me meter... – disse a
Leticia – mas eu acho que a dona Jaciana está com algum problema existencial.
Talvez devesse procurar ajuda de um profissional. Um psicólogo...
-- E quem vai dizer isso a ela? – Inquiriu
o Domenico
-- É o pai tem razão. Ela vira bicho
quando é contrariada. – Afirmou o Júlio. – Talvez o Juarez que sempre foi
queridinho dela...
Após o almoço o casal pegou a estrada para
voltar para a fazenda. E Domenico ficou pensando no que a sua nora havia
sugerido. Uma ajuda profissional, talvez fosse necessária.
***
Uma viagem a Porto Alegre, foi a
oportunidade de Domenico ir conhecer o lugar onde o filho morava. Era um
apartamento pequeno, aconchegante e bem cuidado. E Andreia logo preparou um
lugar para o sogro dormir.
Como o pai da Andreia estava em tratamento,
o Juarez havia pedido uns dias de folga para tratar de problemas particulares.
E naquele dia tinha sido concedido.
E ao ver o pai chegar em sua casa foi logo
dizendo:
-- Descansa bem e amanhã tomamos rumo da
nossa querência. Consegui uns dias de folga. A Andreia que ir ver o pai, que não
está respondendo bem ao tratamento, vamos a Nova Prata, a deixou lá e vou até
Lagoa Vermelha ver a mãe.
-- Bah, eu fico ainda mais dois dias, eu
acho. Então retorno com o sr. Vanin. Vão vocês.
-- Nós vamos amanhã, mas o senhor fica
hospedado aqui. A geladeira está abastecida. E fique à vontade. – Disse
Andreia.
-- Obrigado. Eu vou aceitar.
-- Eu não vou avisar a mãe, vou fazer uma
boa surpresa a ela.
-- Sim, vais fazer uma bela surpresa! –
Repetiu Domenico pensativo.
Logo a Andreia serviu um lanche a conversa
ficou animada.
***
Conforme havia planejado, Juarez chegou a
Nova Prata no meio da tarde, visitou o sogro que estava hospitalizado, e depois
rumou para a sua cidade natal.
Já era noite quando chegou. Estava
faminto, e antes de ir para a casa, parou numa lancheria e comeu uma ala
minuta. Enquanto bebia uma cerveja, viu pela TV os comentários sobre a dupla
gre-nal. Só então pagou a conta e foi ao encontro da mãe.
A casa estava com a luz dos fundos ligada,
a televisão também estava ligada, pois dava para ouvir do lado de fora. Como
fazia nos tempos de guri, ele usava uma técnica para abrir a porta sem fazer
barulho.
Juarez sorria, lembrava do seu tempo de
noitadas, quando chegava de madrugada e não queria que os pais o ouvissem
entrar. Ele abriu a porta vagarosamente e quando entrou na sala, ele se deparou
com a pior visão que poderia ter. Jamais em sua vida iria esquecer o que os
seus olhos viram, ali na casa onde nasceu e cresceu, uma cena nojenta e degradante.
A sua mãe se esfregando num homem e ambos
estavam nus. Eles estavam tão entretidos não perceberam a presença dele.
-- O que está acontecendo aqui? – Gritou
Juarez indignado.
Ele empurrou o homem de cima de sua mãe. O
homem assustado pegou as calças e correu.
Jaciana se cobriu com as almofadas, e
olhou horrorizada para o filho. E agora??? Pensou ela, o que será de mim. O
Domenico é sonso e eu manobro, mas esse aí... Ele jamais vai me perdoar.
Juarez estava tão transtornado que não
conseguia pensar e tão pouco falar. Simplesmente virou as costas e foi embora.
Não precisava de explicações, não havia o que explicar. Ele a pegou em fragrante.
O seu pensamento correu para o pai. Ele
estava sendo traído por aquela mulher, que infelizmente era a sua mãe. Há
quanto tempo? E será que ele sabia? E não se importava?!
Céus!
Ele tinha visto aquela cena, ninguém
contou!
Precisava falar com o irmão. Ligou para o Júlio
avisando que estava indo para a fazenda. Eles tinham muito o que conversar.
***
Jaciana não sabia o que fazer.
Agora seria o seu fim.
No trabalho as coisas não estavam dando
certo. Já tinha perdido o outro emprego por falta de decoro, e agora que ela
estava conseguindo a atenção do patrão, aconteceu esse desastre.
A cidade não era muito grande, e logo
todos saberiam da sua falta de sorte. O filho a tinha pego na hora H. O divórcio
era certo. Como ela viveria? Esse arranjo estava tão bom. O Caio vinha todas as
noites, e saia antes do Domenico chegar. Ninguém desconfiava...
A primeira reação dela foi chorar, mas
logo secou as lágrimas. Ela precisava pensar. A bobagem já estava feita. E ela
precisava consertar. Rapidamente ela jogou umas roupas na sacola, chamou um
taxi e foi para a casa de sua irmã, Janine.
Olhou a hora, faltavam 15 minutos para
meia noite.
A porta do prédio ela chamou pelo
interfone.
-- Quem é? – Era a voz de sua sobrinha Niele.
-- Sou a tua tia, abre.
-- O que faz aqui a essa hora?
-- Eu preciso falar com a tua mãe, vamos
abre essa porta.
-- Calma. Já vou abrir.
Jaciana entrou apressada no prédio, não
queria ser vista. Talvez pudesse criar a álibi, diante do marido. Janine a
recebeu na porta.
-- O que aconteceu, criatura. Tu estás
transtornada!
-- Fui pega em fragrante pelo Juarez.
-- O Juarez?! Credo, que azar. Me conta
tudo.
Janine relatou tudo a irmã, e a Niele
escondida, escutou cada palavra. Que enrascada a sua tia estava metida. A sua
mãe também não era santa, e como o sangue é forte, ela também já tinha as suas
aventuras com homens casados. Assim era mais tranquilo, não corria risco de se
ver comprometida. Que família! Ela sorriu ao pensar nas mulheres da família Aquiles.
Elas gostavam de viver perigosamente.
***
Juarez contou tudo ao irmão, que se negava
a acreditar.
-- Não pode ser! A nossa mãe, não!
-- Eu fotografei. Olha aqui, e vê que não
estou imaginando coisas.
-- Como tu pensastes em fotografar?
-- Ora, o que estava diante dos meus olhos
era demais, e eu tinha que fazer uma prova do fato, se não seria a minha
palavra contra dela.
-- E agora o que faremos?
-- Eu vou esperar o pai chegar e vou
contar a ele. Não quero que ele permaneça casado com uma mulher que não o
respeita, nem a casa e tão pouco os filhos. É muito sério tudo isso. E vou te
dizer, para mim a dona Jaciana morreu essa noite. Não quero mais saber dela.
-- Mas ela é nossa mãe...
-- Mas não nos levou em consideração.
Lembra da tia Janine, o escândalo que ela causou. O Marcio e Mateus não
perdoaram. Foram para o Paranã com o tio. É vergonhoso aceitar uma situação
dessas.
-- É verdade, A Niele está trilhando esse
caminho também. É chamada de vadia. É especialista em homens casados.
-- Bah, ainda bem que eu sai dessa cidade.
É a minha terra natal, mas não quero mais nem voltar aqui, depois dessa noite,
eu me sinto muito envergonhado.
De repente a Leticia entrou na sala, ainda
fechando o chambre e perguntou:
-- O que aconteceu?
Os dois irmãos se olharam, e Júlio disse a
esposa.
-- Volta a dormir. Amanhã eu te conto. Não
te preocupa, está tudo mundo vivo. É outro assunto.
-- Está bem, o Juarez pode dormir no
quarto dos fundos. No armário tem cobertas e lençol.
-- Obrigada. – Falou o Juarez – Não te
preocupa comigo. Eu estou bem. Vai descansar.
-- Boa noite. – Leticia voltou para a cama
estava muito cansada para ficar de conversa fiada com aqueles dois.
***
Na manhã seguinte, Juarez saiu cedo, e foi
direto para Nova Prata. Tinha necessidade de abraçar a sua esposa, ela era
parte dele, a melhor parte de sua vida.
Depois da decepção que tivera, estava
difícil de encarar a vida, as pessoas, os amigos. E até os parentes. O que
diria a dona Angelina, a sua sogra, que era toda certinha. O que seria de sua
família. Ainda bem que não tinha filhos.
Quando ele estacionou o carro, a Andreia
correu até ele. Ele a abraçou e chorou. Ela não sabia o que tinha acontecido, mas
o acolheu e o consolou. Aos poucos ele se acalmou. Abraçados eles entraram na
casa.
-- Estamos sozinhos. Me conta o que
aconteceu. – Pediu a esposa com carinho. – Eu vou preparar um café para ti.
-- Depois. Senta aqui no meu lado. É muito
triste o que tenho para te dizer.
Andreia escutou calada. Aquilo não podia
ser verdade. A sogra que ela tanto admirava... agir como uma vagabunda! Não! Era
tudo um pesadelo. Logo tudo isso iria passar.
***
Uma mudança de planos, fez com Domenico retornasse
a Lagoa Vermelha antes do previsto. Júlio foi para cidade, assim como o irmão,
pois eles queriam contar, antes que alguma conversa atravessada se espalhasse
pela cidade. Um lugar onde todos se conheciam. A cidade tinha crescido e se
desenvolvido, mas continuava uma aldeia, onde todos, sabiam da vida dos outros.
Domenico chegou em casa e viu o carro dos
filhos estacionados, logo pensou que alguma coisa grave tinha acontecido com a
Jaciana. Ele entrou e viu os filhos sentados na sala com cara de enterro.
-- O que aconteceu? Onde está a mãe de
vocês?
-- Só Deus sabe. – Respondeu Juarez em tom
de indignação.
-- Ela está lá com a tia Janine. – Disse o
Júlio.
-- Pai, tu estas bem. Fizeste uma
refeição, na viagem? – Quis saber o Júlio.
-- Sim, eu estou bem. Vocês não vão me
dizer o que está acontecendo? – Inquiriu o Domenico angustiado. – Estão com
muito rodeio. Eu sei que a coisa é grave.
-- Sim, e muito grave. O Juarez é que sabe
dos detalhes, ele vai te contar. – Completou o Júlio, querendo sossegar o pai.
-- Naquele dia eu deixei a Andreia em Nova
Prata e vim para cá...
Domenico escutou o relato do filho sem
mexer um musculo. Ele já estava adivinhando que a mulher tinha aprontado, só
não esperava que fosse na própria casa, e muito menos que o filho tivesse
presenciado uma cena tão grotesca.
-- Eu lamento, meu filho. Eu já estava
desconfiado dela. Alguns fatos aconteceram e eu pensei que ela estivesse se
acalmado. Mas esse sangue que ela carrega é muito forte. As mulheres dessa
família são libertinas demais. Tem histórias da avó delas, sempre achei que
eram lorotas, mas hoje acredito que seja tudo verdade. Vou providenciar o divórcio,
mas como provar?
-- Pai, eu não sei por que, mas eu
fotografei a cena. Se queres ver, está aqui.
-- Eu preciso ver, para poder afirmar a
sua traição.
***
Domenico conversou com seus irmãos,
relatou os fatos e pediu ajuda de sua cunhada, a Lorena que era advogada. O
encaminhamento estava sendo feito, ela seria notificada.
-- Vocês só têm a casa, ou tem mais algum
bem imóvel? – Indagou a advogada.
-- A casa foi vendida para os filhos.
Naquela época em que adoeci, para não precisar fazer um empréstimo e hipotecar
a casa, os guris me deram o valor que eu precisava e eu passei para o nome
deles. Ela também assinou. Já está até passada no registro de imóveis.
-- Não tem bens, não filho menor, logo
estarás livre. – Disse a Lorena.
Jaciana não esperava que tudo fosse tão
rápido. Tinha esperanças de que o Domenico adiasse o andamento do divórcio. Mas
enganou-se.
-- O que tu esperavas? – Perguntou a
Janine. – Não esquece que foi o Juarez que te pegou... Se tivesse sido o Júlio
poderia ter sido diferente.
-- Eu não sei o que vai ser de mim. Não
tenho nem lugar para morar. – Lamentou-se a Jaciana.
-- Já vou te avisando. Aqui não vais
ficar. – Disse a Niele.
-- Vais ter que pedir abrigo na casa do
pai. Ele vai te acolher, mas terás que obedecer às regras da casa... Tu bem
sabes como é. Nós casamos cedo para nos livrar das rédeas do velho. – Falou a
Janine.
-- Que inferno! Deu tudo errado na minha
vida. – Disse Jaciana sem saber para onde ir, e sem dinheiro para se sustentar.
-- Também, tu foste burra. Trazer homem
para dentro da tua casa. Era óbvio que em algum momento iria dar errado. Tu
tinhas casa, comida, e um trouxa para te sustentar. E agora??? Tu não tens
nada.
-- Eu sei. O que eu ganho é uma merreca...
Ou eu pago aluguel ou eu me alimento. Não é bastante para eu me sustentar...
Não sei o que fazer. Que fria!
***
Os tramites foram rápidos e dias depois
Domenico e Jaciana estavam diante do juiz assinando o divórcio. Ela voltou a
ter o nome de solteira, para o alivio de todos.
Juarez voltou para sua rotina de vida,
assim como o Júlio.
Domenico pensou que tinha se livrado
daquele fardo, mas a cada dia chegava aos seus ouvidos o relato de um feito das
aventuras sua ex esposa.
Ela foi despedida, no primeiro emprego,
por assediar um cliente. No segundo emprego ela foi despedida por ter sido pega
na mesa do escritório do patrão em situação comprometedora, pela esposa dele.
Agora que ele estava separado dela as pessoas contavam o que sabiam ou que tinham
escutado sobre as peripécias dela.
Em vista disso, Domenico resolveu mudar-se
dali. Iria viver em Porto Alegre, onde poderia continuar trabalhando com Uber
de viagem.
Os seus irmãos e irmã, não ficaram
satisfeitos, mas se era o melhor para ele, eles aceitavam. E ele estaria perto
do filho.
Júlio sentiu a mudança do pai, mas sua
família estava aumentando e mais uma criança estava a caminho. Aconselhado pela
esposa, ele foi visitar a mãe. Todavia, foi uma situação tão estranha, uma
conversa tão artificial, que ele nunca mais a procurou.
Jaciana voltou a morar com o pai. E era
tratada como se fosse uma débil mental. Ele a sustentava, mas ela não podia
sair sozinha para nada. Ele pagava um salário de doméstica, para que ela
fizesse companhia para mãe, que estava doente.
Jaciana pensava muito em tudo o que tinha
feito. Como tinha sido leviana em jogar fora um casamento de mais de trinta
anos, se distanciado dos filhos e dos netos. Pensava que por uma louca aventura
tinha colocado em risco a sua velhice. Quem cuidaria dela?
Arrependia-se profundamente de ter sido
tão inconsequente.
E agora???
Ela estava sozinha...
Maria Ronety
Canibal
Março
2024
Nota da autora: O texto é baseado em fatos reais.
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