quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

AMOR CONTIDO

                                                   AMOR CONTIDO

Claudio tinha retornado ao seu país, depois de ficar, quase três  anos, trabalhando na África, engajado na equipe de Médicos Voluntários. Tinha sido uma experiência única.
Desde que iniciou seu curso de medicina ele tinha a intenção de dedicar parte de sua vida para ajudar os mais necessitados, e achou que deveria ser logo após receber seu diploma.
Ele tinha chegado há poucos dias e ainda não tinha procurado seus amigos, sobretudo Jonas, seu grande amigo desde os tempos da infância.
Claudio dedicou os primeiros dias a si mesmo. Precisa se organizar. Seus pais haviam falecido antes dele ir embora. Ele era filho único e tinha ainda muita coisa que resolver com o advogado da família.
Ele já tinha conseguido trabalho no hospital, onde teria o seu consultório. Ele era Clinico Geral e dedicaria um dia da semana para atendimento aos carentes em uma comunidade pobre da cidade.
Seu conhecimento deveria estar a serviço do próximo, e ele conhecia a miséria humana, e a necessidade de ajuda destas pessoas.
Enquanto estava trabalhando na ajuda humanitária, na África,  ele tinha pouco tempo livre, e sempre aproveitava para descansar e refazer suas energias. Portanto o contato com os amigos era muito restrito, mesmo com Jonas. Ele sabia que seu amigo estava noivo, mas não conhecia a sua historia de amor e nem imaginava quem era a moça.
Depois de tudo estabelecido, ele foi procurar seu amigo, que  Jonas o recebeu com muita alegria, eram como irmãos, e “tia” Áurea também veio abraçá-lo. Neste período em que ele estivera fora, o pai de Jonas havia falecido. E Jonas agora era o chefe  da casa, pois agora era apenas ele.
Os amigos passaram parte do tempo relembrando a juventude, e a época da escola e deram muitas risadas, e depois Claudio contou sobre a sua temporada na África e por fim Jonas falou ao amigo sobre  Michele, que era linda, que era luz de sua vida. E acrescentou que ele estava perdidamente apaixonado por ela.
E Claudio não se admirou quando Jonas lhe disse que estaria casando em dois dias. Ele estava feliz e ansioso.
A família de Jonas tinha tido muitas dificuldades, sua irmã mais nova havia morrido aos treze anos, vitima de leucemia. Depois seu pai foi mal nos negócios e eles perderam tudo o que tinham, ficando apenas com a casa em que moravam. Em decorrência disso Jonas não pode cursar a faculdade de medicina e optou por jornalismo.
Jonas conseguiu um emprego e pode então custear seus estudos, como conseqüência de todas essas perdas, seu pai adoeceu e nunca mais se refez. E morreu. Tia Áurea ajudava no orçamento doméstico vendendo doces.
Mas tanto Jonas como a mãe tinham uma força extraordinária, que não os deixava esmorecer, e por isso eles sempre tinham um sorriso no rosto.
 Mas foi só na hora da cerimônia que Claudio viu pela primeira vez a Michele, quando ela entrava na igreja. E seu coração ficou descompassado. Nunca tinha acontecido isso com ele. Seria por causa da beleza da noiva? Ou emoção? Afinal era seu melhor amigo que estava casando...
No decorrer as festa Claudio ele pode conversar com Michele, que era muito afável. Jonas estava feliz e a noiva radiante. Formavam um belo casal. E Claudio queria do fundo do seu ser a felicidade deles.
A cerimônia tinha sido simples, na igreja do bairro, às 11h de sábado. O almoço comemorativo foi num restaurante próximo. Michele não tinha família. Apenas os noivos, tia Áurea, Cristiane, uma colega do trabalho de Michele, o pai de Michele e ele.
 Os pais de Michele eram divorciados   e haviam formado novas famílias e Michele que era adolescente, tinha ficado sem chão. Por isso ela foi morar com sua avó paterna até ter idade suficiente para conduzir sua própria vida. Ela trabalhava como gerente de uma loja de departamentos.  E para o seu casamento veio apenas seu pai, que residia na Irlanda. Sua mãe morava em Portugal e não veio.
E por tudo isso Jonas e Michele eram muito unidos. E resolveram que depois de casados iriam morar junto com a mãe de Jonas. Assim seria uma só família.
Havia carência em Michele, ela precisava se sentir amada, e Jonas a amava profundamente. Isso Claudio logo percebeu, e Michele se deixava amar.
Quando Claudio soube que a lua de mel de Jonas seria de somente dois dias, por falta de recursos, ele entregou ao amigo um cheque como presente, para  que a lua de mel não fosse tão breve. Jonas aceitou o presente e emocionado abraçou seu amigo agradecendo.
Depois de uma semana o jovem casal retornou a rotina. E Jonas queria o seu bom amigo por perto. E a cada dia que passava Claudio estava mais próximo do casal, e seu amor por Michele cada vez mais intenso.
O convívio com Michele só fez o amor de Claudio aumentar. Ela era uma pessoa extraordinária. E ela costumava conversar muito com ele, pois Jonas tinha se tornado mais quieto. E sempre estava na frente do computador para se manter atualizado com os últimos acontecimentos do mundo. Sua profissão exigia.
E em conseqüência desse comportamento de Jonas, era Claudio que freqüentemente saia com Michele. Ele a levava as compras, ao cinema e estavam muito ligados. Conheciam-se tão profundamente, que tinham a capacidade de adivinhar  o pensamento do outro.
Quando saiam se divertiam muito. Michele tinha o riso fácil e qualquer coisa a fazia gargalhar. E Claudio adorava sua gargalhada.
Claudio aprendeu a controlar seu sentimento e seus impulsos. Recriminava-se a si próprio por esse amor à esposa de seu amigo. Mas amor era um sentimento incontrolável. Aconteceu...
Ele fazia de tudo para que Jonas nunca desconfiasse e ele estava ficando muito bom nisso. Apesar da paixão que tinha por Michele, ele nunca deixou de agir como um bom amigo do casal. Jamais trairia seu melhor amigo, seu irmão.
 O tempo passava e Michele estava mais bonita, mais sedutora e ele conhecia perfeitamente cada modo dela olhar. Sabia quando ela estava bem, ou quando algo a incomodava. Não precisava perguntar, porque ele sabia interpretar muito bem aquele casal.
Era difícil... Mas Jonas era seu melhor amigo desde a infância. Eles eram como irmãos. E o sentimento que existia entre Jonas e ele era de lealdade, de verdadeira amizade.
Claudio achou que deveria desviar sua atenção para outra pessoa e procurou entre as suas colegas de trabalho, alguém que pudesse despertar dentro dele um sentimento mais forte, alguém que fosse uma boa companhia... E descobriu que Bianca era uma moça legal.
Ela era médica pediatra e tinha se engajado com ele na ajuda a comunidade carente, dedicando, também, parte de seu tempo aos mais pobres.
E a convidou para sair.
Ela aceitou, e ele viu que ela era uma mulher bonita, agradável que o ajudava a desviar a atenção de Michele. Então ele a levou para conhecer seus amigos. Formaram um quarteto e se divertiam muito quando estavam juntos.
Mas o amor que estava no coração de Claudio não se modificou, estava ali bem guardado e era muito vivo. Ele tinha amizade por Bianca. E chegou o dia em que foi preciso ser sincero e  dizer  para ela que não tivesse esperanças, era apenas amizade. E Bianca não quis apenas amizade.
E Claudio estava novamente só, com seu amor proibido guardado a sete chaves em seu coração.
Veio a noticia de que Michele estava grávida. Foi uma alegria geral. E Jonas logo disse que Claudio seria o padrinho. E ele se alegrou com a sua nove responsabilidade, a de ser padrinho.
Era difícil para Claudio tudo isso. Ele ficava louco de ciúmes de seu amigo. Quantas noites ele ficou imaginando que Michele estava nos braços de Jonas, e ele queria tanto que ela estivesse em seus braços, que ela fosse sua, tinha ânsia em beijar aqueles lábios sedutores, de tocar aquele corpo provocante. Isso o enlouquecia.
E aos poucos ele tentava se afastar do casal. Mas Jonas o chamava, o queria perto. E ele atendia ao chamado do amigo...
Naquela noite era a comemoração de dois anos de casamento. Tia Áurea fez um jantar especial e Claudio estava convidado. Claudio chegou  no horário marcado e  foi Michele que abriu a porta. Ele a abraçou com carinho e logo foi à cozinha dar um beijo em tia Áurea.
Ele estranhou a ausência de Jonas, e perguntou por ele. Foi Michele quem disse que ele tinha sido chamado para fazer uma reportagem. Mas que já deveria ter chegado. Então sentaram para esperar por Jonas.
Tinha sido um dia muito quente, e um temporal estava se formando. O ar estava pesado e nuvens pretas cobriam o céu. O vento estava começando a soprar.
O telefone da casa tocou e foi tia Áurea quem atendeu. Claudio só viu a mulher empalidecer e cair. Correu para pegar o telefone e ouviu um policial avisando que Jonas tinha sido baleado durante um tiroteio. Ele cruzava de carro e foi atingido em plena avenida por uma bala perdida. Jonas estava morto.
Claudio desligou o telefone e foi reanimar tia Áurea enquanto  Michele assustada não conseguia sair do lugar. Depois que a tia estava restabelecida, ele a levou para o sofá. Então Áurea desatou a chorar.
Claudio pegou Michele pela mão e a fez sentar na poltrona. Ele precisava dizer a ela, era uma missão terrível. Ele se ajoelhou ao lado dela, pegou sua mão e acariciou e então contou que Jonas estava morto.
Ela ficou quieta, parecia que não tinha assimilado o que ele tinha falado.  Mas grossas lágrimas corriam de seus olhos, ela apertou a mão de Claudio e encostou a cabeça em seu ombro e ali ficou em um choro silencioso.
Ele ficou quieto, deixou que ela chorasse... Tia Áurea estava mais calma, agora, e como uma criança, ainda soluçava. Mas se levantou e disse para Claudio que precisavam providenciar  o velório.
Claudio assentiu e disse que ela ficasse com Michele, porque ele tomaria conta de tudo. Depois vinha buscá-las. Que seria bom que Michele se deitasse um pouco. Ela estava grávida e todo o cuidado seria pouco. Áurea concordou e abraçou a nora e a levou para o quarto.
Claudio saiu. Em seu peito havia uma dor muito forte. Amava seu amigo como um irmão. E ele estava morto.
O  velório e o enterro de Jonas foi bem tumultuado, pois a sua morte foi noticia com destaque nos meios jornalísticos e muito debatido a nível de internet, sobretudo Facebook.
Muitas pessoas estranhas foram ao velório, pessoas que se sensibilizaram com o fato divulgado pela TV, e foram ser solidarias. Mas tudo isso cansou muito as duas mulheres, mãe e esposa do falecido.
Claudio estava preocupado com Michele, ela estava muito abatida, sem se alimentar e nem dormir direito. Tia Áurea mais uma vez mostrou sua bravura, enfrentou tudo com serenidade.
Quando estavam saindo do cemitério Claudio abraçou Michele e a ajudou a subir a escadaria que dava acesso ao estacionamento. Ela estava  tonta. Ele a colocou no carro e foi ajudar tia Áurea.
Já em casa ele aconselhou a Michele, e também a tia, para tomar um banho, comer algo leve e procurar dormir.   Ele ia ficar por ali mais um  tempo para se certificar de que elas estavam bem. Só depois iria para sua casa.
Foi para a cozinha para ver o que tinham para comer. Havia frutas e saladas verdes. Ele ajeitou um misto de folhas verdes com maça, tomates, mamão, presunto e queijo. Serviu os pratos e levou para Michele e tia Áurea, e para si.
Os três sentaram a mesa da cozinha e comeram em silencio, até que tia Áurea falou que ela achava que teriam que sair da casa. Só as duas ali...  Claudio concordou e disse que iria ver como poderiam resolver. Se quisessem poderiam ir para o apartamento dele que era bem espaçoso e tinha lugar para todos.
Michele só escutava a conversa, ainda não conseguia raciocinar. Mas uma coisa ela sabia, não se afastaria da sogra.
E naquela noite Claudio ficou com elas. Dormiu no sofá.
Ele custou a conciliar o sono, e ficou pensando... No outro dia ele fez uma proposta para elas. Tia Áurea aceitou...
Elas sairiam da casa, alugariam a casa e assim teriam mais um recurso, além da pensão para viver. A pensão de Jonas seria para Michele, e com mais o seu salário teria como se manter.
Elas iriam morar perto dele. Ao lado do edifício onde morava,  ele tinha um prédio de apartamentos e havia uma unidade desocupada. E elas logo poderiam se mudar.
E foi o que elas fizeram. Na outra semana estavam morando no apartamento, muito confortável para as duas. O apartamento tinha uma suíte e mais dois quartos, banheiro e uma sala de bom tamanho, com sacada e uma cozinha bem grande, e ainda uma lavandeira. Era bem ensolarado em andar baixo.
Claudio continuava preocupado com Michele. Ela queria voltar ao trabalho, mas ele achava que ela ainda tinha riscos, por causa da forte emoção que ela viveu, e a gravidez era muito recente, nem completara três meses.
Mas Michele queria trabalhar, precisava preencher seu tempo para não pensar que Jonas não estava mais com ela, que havia um vazio. E foi o que fez.
Os dias passavam...
Claudio tinha se retirado. Não queria mais tanta proximidade. Se elas precisassem dele, ele estava por perto. Elas deveriam retomar a sua vida, a sua rotina.
Era engraçado, pois, ele amava Michele com loucura, e agora que ela estava livre, ele se sentia constrangido com esse amor. Seu amigo havia morrido, e ele se sentia culpado por amar a mulher dele. Era loucura...
A vida voltou a normalidade e o tempo corria...
Michele estava no sétimo mês de gravidez e precisava montar o quarto para o bebe. E ela telefonou para o Claudio pedindo a sua ajuda na escolha da caminha. E ele não pode rejeitar o convite. Afinal ela não tinha mais ninguém, e tia Áurea apesar de querer demonstrar força, estava muito desanimada.
Ele a levou em uma grande loja de móveis modulados. Ali eles poderiam compor o quarto como quisessem. Eram muitos modelos e Michele se mostrava indecisa, então Claudio foi quem decidiu tudo.
E quando deixou a loja ele a levou para almoçar. Escolheram um lugar tranqüilo e conversaram bastante. E Michele confessou:
-- Todos nós sentimos a falta de Jonas.  Cada um de nós tem uma reação diferente. Mas eu não consigo entender por que tu te afastaste tanto. Sinto tua falta...
Claudio sentiu seu coração pulsar forte. Procurou responder com tranqüilidade:
-- Bem, eu não queria me intrometer na tua vida. Nunca imaginei que te afetaria.
-- Afetou sim. Eu desde que te conheci gostei muito de ti, de estar contigo, inclusive disse muitas vezes ao Jonas, que concordava comigo, que tu és uma pessoa especial. Todos que te conhecem te amam muito.
-- Eu?...
-- Sim. Tu me fazes bem. Eu preciso de ti... E te peço de agora em diante não me abandones, eu tenho que enfrentar um parto, tenho medo da dor. Minha sogra é muito querida, mas não posso mais contar com ela. Essa perda a deixou enfraquecida. Até quero te pedir para examiná-la. Ela tem uma tosse que não me agrada.
-- Hoje mesmo...
Claudio jamais imaginou que teria uma conversa como esta com Michele. Isso o deixou nervoso, pois não sabia como disfarçar sua alegria por ser tão importante para ela. De certa forma ela o amava...
Daquele dia em diante a relação deles mudou. Tornaram-se mais amigos, mais companheiros. E isso fez com que Claudio acalentasse uma esperança. Sabia que ainda era muito cedo para qualquer atitude, mas andava mais animado.
Era um sábado chuvoso e Claudio passou o dia em casa. Queria ler alguns artigos importantes sobre os avanços nos tratamentos médicos. E no meio da tarde o telefone tocou. Era Michele dizendo que não estava se sentindo bem, estava com náuseas. Ele foi vê-la.
Realmente ela estava muito pálida,  ele a examinou e mediu sua febre. Ela estava com febre alta. Então ele telefonou para Dr. Pinho, o ginecologista dela, informando que o quadro que ela apresentava era de infecção, provavelmente das vias urinarias.
Depois de falar com seu colega ele a medicou e ficou junto dela, até a febre ceder. Tia Áurea chegou ao quarto e o chamou pra tomar um café, Michele dormia calmamente.
Na cozinha tia Áurea disse a ele:
-- Nunca vi algo assim em toda a minha vida. Tu a ama.
-- Não sei do que falas...
-- Sabes sim. Tua ama Michele. Eu posso ver em teus olhos, no jeito que tu cuidas dela e na ternura de tua voz, quando falas com ela. E eu fico feliz por isso. E acho que devias dizer a ela...
-- Eu dizer a ela...
-- Meu filho, ela é jovem, bonita e saudável. No que ela se livrar dessa gravidez ela vai querer um namorado, ela não vai ficar só. Jonas já passou pela vida dela. Se for para ter outro homem, então que seja tu, que a ama de verdade e será um bom pai para minha neta. Pensa sobre isso.
-- Sim vou pensar...
-- Não demore demais...
Claudio se surpreendeu com perspicácia de tia Áurea. Ela era boa observadora e talvez tivesse razão. Michele iria reconstruir sua vida. Ele precisava abrir seu coração para ela. Mas ia deixar a criança nascer. Pelo menos isso em honra de seu amigo.
Com esse pensamento ele voltou para o quarto e Michele estava acordada e continuava enjoada. Ela a abraçou e a colocou sentada na cama depois de ajeitar os travesseiros. E ficou ali segurando a mão dela e falando sobre diferentes coisas para distraí-la.
E Michele confessou a ele:
-- Eu estou com medo do futuro... Como farei para criar minha filha e cuidar de minha sogra que envelheceu muito nos últimos tempos... Com que recursos irei sustentá-las?
-- Não deves te atormentar com isso. Eu estou aqui para ajudar.
-- Sim, sei que posso contar contigo, mas até quando? Com certeza mais adiante tu vais casar e terás a tua família para zelar...
Então ele olhou para ela e arriscou dizer;
-- Nós podemos ser uma família, não podemos?
-- Nós?!
E Michele se calou e ficou pensativa e dormiu. E Claudio ficou sem saber se ele tinha sido precipitado esse  a assustou, ou se foi rejeitado. E decidiu não tocar mais no assunto, por enquanto.
Mas Michele continuou pensando no que ele havia dito. E começou a analisar seus sentimentos. E a verdade era que ela gostava de estar com ele, desde o minuto, em que o conheceu, no dia do seu casamento, ela sabia que se não estivesse com Jonas, com certeza ele seria seu eleito. Mas agora a situação era esquisita. Ele era o melhor amigo de seu falecido marido.
Ela o admirava, ele era lindo, tinha um corpo sedutor e tinha desejos por ele, e muitas vezes se imaginou fazendo amor com ele. Mas era estranho. Não sabia o que sua sogra iria pensar.
Os dias passaram e chegou o tempo do nascimento de Ana Paula. O parto foi bem e Michele se recuperou rapidamente.
Claudio estava apaixonado pela pequena Ana, que era uma gracinha, linda e se acomodava perfeitamente em seu colo e dormia. Ele passava todos os dias por lá para ver as suas mulheres como brincava.
Mas o fato era que ele estava mais enamorado de Michele, que tinha ficado uma linda mulher depois da gravidez, com as curvas mais perfeitas, mesmo ainda amamentando.
Aos fins de semana ele sempre levava Michele para as compras, era ela quem abastecia a casa e depois iam passear ou tomar um sorvete. Eram momentos únicos, que ele desfrutava com alegria. Era como antes, eles saiam para se de divertirem.
O tempo licença maternidade passou rapidamente e Michele estava voltando ao trabalho. E queria colocar Ana em uma creche. Mas ele era contra, achava que ela era tão pequena ainda, o ideal seria uma enfermeira para tomar conta de Ana. E seria por conta dele. Afinal ele era o padrinho.
Michele aceitou com relutância, mas só depois que a sogra insistiu para que aceitasse a oferta de Claudio. E ele contratou Emily, uma enfermeira pediátrica.
Naquele dia, Claudio saiu do hospital e foi para o shopping em que Michele trabalhava. Fez suas compras e foi até a loja em que ela trabalhava, e disse que iria esperá-la para voltarem  juntos para casa. E foi para praça de alimentação esperar por Michele.
Comprou uma água e sentou em uma mesa no canto. Em seguida ela chegou e ele a convidou para jantar e ela aceitou. Ali mesmo havia um ótimo restaurante.
Claudio optou por uma mesa pequena perto da parede, o ambiente era sóbrio e requintado. Fizeram suas escolhas. E sem dizer palavra alguma eles se olharam e sustentaram o olhar por um bom tempo. Até que Claudio esticou o braço e pegou a mão de Michele que repousava sobre a mesa.
O coração de Claudio se agitou e Michele podia ver sua veia do pescoço pular forte. Mas ela também estava agitada, esse ambiente, e o contato físico inesperado a deixou emocionada e  seu coração pulsava fora do compasso. E os olhos se encontraram novamente.
Michele nem pensou em retirar a mão, o que estava sentindo era tão bom, a fez sentir-se viva novamente. Mas será que Jonas aprovaria? Talvez ela viesse a se sentir culpada depois. Mas a tentação era grande...
Claudio apenas disse:
-- Precisamos conversar... Mas vamos deixar para minha volta.
-- Aonde vais?
-- Tenho um congresso em Santiago do Chile. Fico fora uma semana. Embarco amanhã à noite. Vou para Buenos Aires e fico dois dias.
-- Hum...
-- Vai sentir saudades de mim?
-- Claro... Eu sempre sinto tua falta.
A comida chegou e eles comeram conversando sobre o tema do congresso. Depois da sobremesa ele pagou a conta e saíram. Enquanto andavam até o estacionamento ele tornou a pegar na mão de Michele.
Quando chegaram em casa ele estacionou o carro em sua garagem e depois acompanhou Michele até o seu prédio, entrou e a levou até a porta do apartamento.
Ela o convidou para um café, mas ele recusou e disse:
-- Eu quero isso...
E inesperadamente a pegou e puxou para perto dele e a beijou com ímpeto. E ela retribuiu o beijo com o mesmo ardor. Ele interrompeu o beijo sorriu e a beijou novamente num beijo longo e apaixonado. Nenhum dos dois queria parar. Queriam mais. E Michele sussurrou:
-- Vamos para tua casa...
E eles saíram apressados.
Não era assim que ele tinha ha imaginado, mas foi assim que aconteceu.
Eles chegaram ao apartamento dele e como que enlouquecidos começaram a se beijar e a arrancar suas roupas e entre carinhos e beijos chegaram à cama, e ali se entregaram a paixão que ardia em seus corações. Fizeram amor... Amaram-se verdadeiramente, mas não  declararam um para o outro, o amor que guardavam no peito. Disseram coisas um ao outro, demonstrando o desejo que tinham, o quanto eram sedutores, mas não falaram em amor.
Cansados, suados, se olharam e riram da loucura que foi o ato que eles praticaram. Foi algo fora do comum, pelo menos para Michele, que não tinha muita experiência.
E ela disse a ele:
-- Nossa!  Nunca fiz algo parecido
-- Então tu gostaste?
-- Muito. Tu és muito bom nisso....
Claudio apenas sorriu e olhava para aquele corpo perfeito que o estava excitando novamente. E acariciou aquela pele macia e aveludada e a beijou e mais uma vez se entregaram ao amor. Mas desta vez foi Michele quem murmurou ao ouvido dele:
-- Eu te amo... Te amo muito... Há muito tempo...
-- Eu também, desde a primeira vez que te vi...
E depois dessas declarações algo mudou e o que os envolveu foi  um ato de amor  muito mais profundo, deixando seus corações mais sossegados...
Michele levantou disse que precisava ir. Estava tarde. Vestiram suas roupas e ela a acompanhou até a porta de seu apartamento. Agora se despediram com um beijo rápido.
Michele foi direto para o banheiro, precisava tirar o cheiro de homem que havia nela. Saiu embrulhada num roupão felpudo e foi ver Ana Paula que dormia tranqüila em sua caminha.
Foi para seu quarto. Deitou-se e ficou a pensar no que haviam feito. Era loucura. Ela estava traindo a memória de Jonas. Que sua sogra diria se soubesse? Estava envergonhada. Quando Claudio retornasse do congresso iria falar com ele sobre isso.
Era loucura, mas ela tinha gostado. Ele era vibrante, e a deixou louca e ela nunca tinha alcançado esse grau de excitação. Jonas agia diferente. Não tinha o mesmo ímpeto de Claudio, que era demais e sabia como deixá-la enlouquecida.  Só de pensar subiu um calor em seu corpo.

Claudio também ao chegar de volta foi tomar um banho. Estava suado e cansado. Tentou dormir, mas não conseguiu. Ela era demais. Não tinha muita experiência, e foi casada com seu amigo... Será que Jonas não era mestre no riscado? Ele sempre foi muito tradicional.
Na volta de sua viagem iriam acertar a vida. Iriam morar juntos. Por ele deveriam  casar. Mas se ela quisesse esperar um pouco mais, tudo bem. Ele aceitaria. Mas depois desta noite não poderiam mais ficar separados.
No dia seguinte não se viram, ele saiu direto do hospital para o aeroporto. Ela ligou para ele no fim da tarde para dizer que estava bem e desejava uma boa viagem a ele.
E quando Michele chegou em casa, após o trabalho, Áurea perguntou o que tinha acontecido, ela tinha um brilho no olhar, algo de bom a tinha animado. Ela não podia contar a razão de sua alegria, então mentiu, dizendo que estava assim porque tinha recebido um elogio do chefe.
Áurea não acreditou muito, mas não retrucou. Ela só esperava que  esse ânimo dela se chamasse Claudio. E arriscou dizer:
-- E o Claudio, não tem vindo ver sua afilhada, sabe por quê?
-- Não. O que sei que hoje ele embarcava para  Argentina e depois vai ao Chile para participar de um congresso. Deve ter estado muito ocupado, se preparando para viagem. Nós nos vimos ontem no shopping.
-- Hum...  Então ele está bem.
-- Sim.
-- Eu gosto muito dele. É como um filho para mim. Vi esses meninos crescerem, Jonas e o Claudio, sempre foram unidos, leais e parceiros. Nunca brigaram, tinham suas diferenças, mas aceitavam as opiniões diferentes. E quando Claudio foi fazer o trabalho humanitário lá na África, Jonas confessou que gostaria de ter ido com ele, para ajudar aquela pobre gente.
-- Mas ele não era da área médica.
-- Sim...Ele não era. Mas tinha um bom coração, assim como o Claudio.  Minha filha eu vou te dizer uma coisa. Tu podes achar estranho, mas como mãe e avó, eu quero o melhor para vocês.
-- Diga dona Áurea.
-- Vai chegar a hora em que tu vais sair em busca de um novo amor, mas antes de procurar longe, olhe por perto, pois ele pode estar bem junto de ti.
-- Esta bem, prometo que farei. Mas não estou entendendo a seqüência do nosso assunto.... Nós estávamos falando de Jonas e de Claudio.
-- Então... Não está obvio?
-- Sim. Bem vou tomar um banho, estou cansada...
Michele queria encerrar aquela conversa esquisita com sua sogra, que parecia desconfiar  de que havia alguma coisa entre ela e Claudio.
Michele precisava pensar. Ela sabia que desde que conheceu Claudio ela gostou muito dele, mas como havia Jonas, nunca parou para pensar sobre isso. Mas agora ela tinha certeza de que o amou desde o primeiro momento.
Depois da intimidade que tiveram as coisas mudaram. Ele era incrível, muito mais do que ela imaginava. Ele era sedutor e desempenhava suas funções com maestria. Tinha sido maravilhoso estar com ele.
Não queria fazer comparações, mas seu falecido marido não tinha uma pegada ousada. Ele era muito conservador, em tudo...
Mas precisava se decidir. Claudio, quando chegasse iria exigir uma decisão. O que ela faria?  Fazia um ano que Jonas tinha morrido. Era muito recente. Ela devia zelar pela memória de Jonas.
E como faria para resistir aos encantos de Claudio?
Realmente era uma decisão difícil. Precisava desesperadamente conversar com alguém, mas quem? Não iria confiar seu segredo a estranhos. Apenas dona Áurea.
Mas  ela era muito esperta. Mesmo que ela contasse o fato colocando como vida de outra pessoa, sua sogra ia saber. Então restava conversar com Claudio quando ele chegasse. E ela estava morrendo de saudades dele.
Aqueles dias passaram muito devagar. Michele estava ansiosa...
Ela chegou em casa e estava animada, no outro dia Claudio estaria chegando. Até cantarolando Michele estava. E Áurea perguntou:
-- Está feliz, minha querida. Recebeste outro elogio?
-- Elogio?
-- Sim, outro dia também estavas com os olhos brilhando e tu me disseste que teu chefe tinha te feito um elogio...
--Ah... Mas hoje não foi elogio. Eu acordei muito bem hoje. Só isso.
-- Que bom...
Áurea deu um sorriso maroto, como quem diz: “me engana que eu gosto”. Michele percebeu, mas não retrucou. Era melhor deixar. E pegou sua filha no colo para acarinhar.
No dia seguinte Claudio apareceu e tinha trazido uma lembrancinha para elas. Tia Áurea ficou feliz com a presença dele e o convidou  para jantar. Ela preparou uma lasanha do jeito que ele gostava. Foi uma refeição alegre, com ele contando sobre sua viagem.
Depois do jantar ele deu atenção à pequena Ana, que estava, a cada dia, mais linda e crescia saudável. Ela era muito parecida com Michele. Por fim ele a fez dormir. Tia Áurea discretamente saiu da sala. Deixando Michele e Claudio a sós.
Claudio estava louco de saudades, estava cheio de desejos, mas ali não podiam fazer nada, e como era folga de Emily, não poderiam sair. Mas um bom “amasso” não estava fora de cogitação.
Foi Michele quem iniciou o assunto, dizendo que  tinha pensado muito e que não via solução para eles. Não poderiam continuar. Fazia pouco tempo que estava viúva e não seria descente logo ter outro homem.
Claudio escutou o que ela falou, e foi como se tivesse tomado um banho frio. Ficou pasmo e sem reação diante do argumento dela. Ele estava cansado e não queria discutir.
Levantou-se e foi embora.
Ao chegar em casa, ele serviu-se de uma dose de conhaque e ficou pensando em tudo. Ele não tirava a razão dela, fazia pouco tempo que Jonas tinha morrido, um ano apenas. Mas, por outro lado, se eles casassem a pequena Ana teria um pai, uma família estruturada para crescer saudável. E tia Áurea, não era problema, ela já havia sinalizado. Então o problema era a própria Michele.
Passou uma semana e Claudio se entregou ao trabalho, e não falou mais com Michele e nem foi ver sua afilhada. E tia Áurea sentindo a falta dele perguntou:
-- Michele por que o Claudio não apareceu mais? Vocês brigaram?
-- Não! Não brigamos e por que brigaríamos?
-- Não sei... Nem a Ana ele veio ver... Ele estava tão bem... Esse rapaz me preocupa. Ele é muito sozinho. Eu o quero como um filho.
-- Eu sei que a senhora o ama muito.
-- Pois é, então vá atrás dele. Descobre o que está havendo.
Michele sabia por que ele tinha sumido. Ele não tinha gostado da decisão dela. E agora ela teria que ir até seu apartamento. Levantou-se e foi.
Como ela tinha a chave do apartamento dele, ela não bateu, simplesmente entrou e o encontrou saindo banho. Estava se aprontando para sair.
-- Vais sair? – perguntou Michele com o coração apertado.
-- Sim, vou jantar com uma colega.
-- Hum. Entendo—disse Michele se moendo de ciúmes. – Eu só vim aqui porque minha sogra pediu. Queria saber se estavas bem...
-- Como tu podes ver eu estou muito bem. Agradeço pela atenção.
-- Então eu já vou...
-- Ok. Tchau...
E Michele saiu quase chorando. Ele estava diferente, estava distante, indiferente a ela e ainda iria sair com outra mulher.
-- Que ódio! -- murmurou ela.
Michele chegou em casa e disse para Áurea:
-- Ele está muito bem, está saindo para jantar com uma amiga, e agradeceu seu interesse.
-- Que bom que ele arranjou uma namorada... – disse Áurea para provocar sua nora.
-- É que bom! Vou me deitar estou com dor de cabeça e a Ana está dormindo.
Mas o que ela queria era ficar só. Estava com uma dor no peito, estava com muito medo de que ele não a quisesse mais. Ela tinha sido sincera com ele, tinha demonstrado seu amor e falado de seus sentimentos em relação ao falecido marido. Será que ele não a entendia? E naquele dia, Claudio não tinha nem discutido o assunto. Apenas ouviu o que ela disse e foi embora. Era mais do que certo que ele não concordava com ela.
Claudio recebeu de sua colega a Dra. Alessandra a oferta para fazer  uma especialização nos EUA.  Ela tinha interesse porque o queria como sócio na clinica que estava sendo planejada, para tratamento de câncer de pele. E ele  deveria ficar aproximadamente menos de ano fora. Ele precisava decidir...
E decidiu.
Na manhã seguinte, era cedo quando Claudio procurou tia Áurea para contar a novidade. Ele iria para a Califórnia e ficaria cerca de oito meses por lá fazendo doutorado em dermatologia. Seria um curso intensivo, com aulas na parte da manha, tarde e noite.
Ele iria dentro de um mês, e tinha muita coisa para resolver antes de ir. Portanto não tinha tempo a perder.
Naquela noite, quando chegou do trabalho, Michele ficou sabendo da nova. E isso a deixou triste. Definitivamente ele estava se afastando dela. Ela tinha sido muito boba. Agora não tinha volta.
Áurea disse a sua nora que queria fazer um jantar de despedida para ele. Pois não sabia se o veria mais uma vez. Estava velha e se sentia muito fraca. E ele era muito amado por ela.
E dois dias antes de embarcar o jantar se realizou. Embora todos quisessem parecer alegres, eles estavam com o coração apertado e durante a sobremesa tia Áurea não resistiu e chorou.
Disse que estava emocionada, seu querido menino ia se afastar mais uma vez e isso para o coração dela era demais. E Michele também ficou com os olhos marejados. Por fim ele ficou contaminado e abraçou tia Áurea:
-- Minha querida, o tempo passa ligeiro. Mais uns dias eu estarei de volta para saborear essa tua deliciosa comida. Eu te amo, tu sabes disse.
-- Eu sei meu rapaz, meu filho querido, eu sei, mas eu estou velha e o tempo se tornou precioso para mim. Não posso desperdiçar. Michele e Ana também vão sentir tua ausência.
-- Eu sei... – respondeu ele olhando para Michele que enxugava uma lágrima. E continuou—Tia hoje a tecnologia nos aproxima, vamos nos ver, manter contato. Desta vez será diferente. Antes eu estive em lugares ermos, onde não havia uma boa comunicação, eram lugares pobres, com pessoas muito carentes e nossa dedicação a essas pessoas  tomava todo nosso tempo. Agora não será assim. Eu te prometo. – e beijou o rosto da tia com carinho.
Ele levantou-se e foi até o quarto onde Ana dormia. Ali diante do berço chorou, e Michele que tinha ido atrás viu, e o abraçou. E eles ficaram ali abraçados sentindo os corações pulsarem forte.
Michele disse baixinho:
-- Eu não queria que fosse assim...
-- A escolha foi tua...
-- Eu sei... E teremos um futuro juntos?
-- Não sei... Não sei mesmo. Teremos que pagar para ver.
Claudio ficou mais um pouco e depois foi para casa. Estava triste. Estava se afastando das pessoas que ele mais amava, sobretudo a pequena Ana, que era tão agarrada a ele.
Mas precisava pensar em sua profissão.  E foi com esse pensamento que tomou o avião.
Claudio logo se acomodou, era um pequeno apartamento perto da universidade. Foi ao mercado e abasteceu seu refrigerador e sua despensa. As aulas começavam na semana seguinte e ele aproveitou para conhecer o bairro onde estava morando.
Ele tirou fotos e mandou para Michele. Eles estavam se falando todos os dias desde que ele chegara. Mas por enquanto ele tinha tempo livre.
Os dias passavam...
O fim de ano se aproximava e ele estava planejando passar  as festas de fim de ano com as suas mulheres. Não queria perder o primeiro Natal de Ana. Queria fazer uma surpresa. Comprou presentes e as passagens.
Chegou dois dias antes do Natal. E foi direto ver tia Áurea e Ana. Michele estava com horário estendido, só chegava mais tarde. Foi uma alegria, a pequena Ana batia palminhas quando viu seu padrinho. Ela ria. Não tinha se esquecido dele. E tia Áurea riu dizendo:
-- Ela é do sexo feminino e jamais vai esquecer um cara bonitão como tu...
Claudio riu. Embalou a menina até ela dormir. E depois deu um beijo na tia e saiu. Ele queria ir até o shopping e ver Michele.
Ele entrou na loja e logo a avistou. Ela estava ocupada e ele ficou um pouco atrás olhando para ela. E quando ela levantou os olhos seu rosto se iluminou. Correu até ele e o abraçou sem se importar com o ambiente de trabalho.
-- Tu vieste... Eu te amo...Amo... Amo muito.
-- Calma. Eu também te amo. Vou te esperar...
-- Tenho mais meia hora, depois posso sair.
Ele sentou no banco em que sempre ficava, ficou apreciando o movimento. Pessoas passavam carregadas de pacotes. Realmente esta época do ano era a melhor, pois despertava, nas pessoas, bons sentimentos, oxalá que durasse o ano todo.
Ele e Michele saíram de mãos dadas. Estavam felizes por estarem juntos. Foram comer uma pizza e conversaram bastante. Era tarde e ambos cansados, e ele a deixou em casa e foi para seu apartamento.
Tia Áurea estava preparando doces e outras delícias para a Ceia. Ele foi para lá e ficou o dia inteiro cuidando de Ana. Áurea olhava e pensava que sua nora era muito boba. Onde ela encontraria um homem como ele, e que tinha um amor de pai pela pequena.
Era noite e ele fez Ana dormir. E depois foi buscar Michele no serviço. Mas desta vez ele tinha comprado comida e eles poderiam ir para o apartamento dele. Ele estava sedento, precisa dela...
E eles tiveram uma noite maravilhosa. Se entregaram  ao amor, se deram um ao outro totalmente. Ambos estavam necessitados desse envolvimento. E isso revigorou o amor.
A noite de Natal foi linda, alegre e eles brindaram o amor. Ana Paula foi o centro das atenções, ela estava deslumbrada com arvore enfeitada. Esticava seu braçinho, queria pegar os enfeites. Claudio com ela no colo se divertia muito.
Michele estava em férias, tinha tirado dez dias para aproveitar a semana do fim de ano com sua filha. Ela estava crescendo muito rápido e ela quase não a via. Quando chegava do trabalho ela já estava dormindo.
E então resolveram tirar uns dias na praia. Conseguiram um hotel em uma pequena praia. Tia Áurea disse que não queria ir. Eles eram jovens, que aproveitassem o período de férias. Eles prometeram estar com ela na noite da virada.
Eles tiveram uma semana de verdadeira lua de mel. Tinham conseguido uma suíte espaçosa e colocaram uma caminha para Ana e foram dias maravilhosos. Eles formavam uma linda família. Ele  as amava demais, e estava empenhado em não perdê-las.
No segundo dia do ano ele voltou para Califórnia. Agora faltava menos da metade e logo poderia voltar e retomar sua vida, e desta vez ele pretendia oficializar o amor deles.
Claudio retornou com o titulo de doutor na valise. Ele e Alessandra iriam  inaugurar a clinica dali alguns dias. Seria uma cerimônia com a presença de ilustres convidados e da imprensa. Alessandra gostava de badalação. E também tinha projetos para conquistar o doutor Claudio, que era um belo exemplar do sexo masculino.
E Alessandra sempre conseguia o queria. A meta era  envolver o Claudio em muitas reuniões, para ele ficar sedento da presença dela, que se vestia de modo sensual, querendo atrair sobre si todos os olhares masculinos.
Foram dias de reuniões e jantares para resolverem todos os finalmentes da clinica e Michele estava louca de ciúmes. Sabia que Alessandra era uma mulher bonita e cheia de charme.
Michele não queria forçar nada entre os dois, mas estava ansiosa, e resolveu tomar a frente. Era sábado e ela saiu mais cedo do trabalho e telefonou para o Claudio pedindo para se encontrarem no shopping. Ela precisava conversar com ele.
Ela o esperava no banco em frente da loja e viu ele se aproximar acompanhado por Alessandra. Michele ficou tensa, não sabia o que poderia acontecer.  Tentou disfarçar seu nervosismo. Quando Claudio de aproximou ele a beijou como sempre fazia e apresentou a doutora a ela.
-- Alessandra, essa Michele uma velha amiga.
-- Prazer em conhecê-la. – disse Alessandra.
-- Prazer – murmurou Michele.
-- Meu querido, vou seguir em frente, depois nos falamos. Tchau... – disse Alessandra.
-- Tchau – respondeu Claudio. E virando-se para Michele disse com um largo sorriso—Pronto. Sou todo teu.
-- Todo meu? Tem certeza?—retrucou Michele.
-- Sim, meu amor, todo teu. Tu sabes disso... —falou Claudio.
-- Sei... –disse ironicamente Michele.
-- Aonde vamos – perguntou Claudio, ignorando a ironia dela.
-- Eu queria te levar para jantar num restaurante novo que abriu aqui. Todos falam muito bem do lugar.
-- Então vamos experimentar.
Era um lugar agradável, com uma decoração romântica e um cardápio variado. Depois de olharem o menu e conversarem a respeito de cada prato, eles fizeram o pedido. E caiu um silêncio entre eles.
Michele estava nervosa e não sabia como iniciar a conversa. Apenas olhava para ele com um olhar triste. Ele percebeu que havia alguma coisa e pegou a mão dela e segurou entre as suas fazendo um carinho com o polegar enquanto a olhava, esperando que ela falasse.
Ele ficou com receio porque ela estava tão esquisita e enfim perguntou:
-- O que está acontecendo?
-- Eu perdi a coragem... Não consigo falar... Estou envergonhada.
-- Estás com vergonha de mim? O que há de tão grave?
-- Não é nada grave. É que eu andei pensando...
-- Pensando em que?
-- Em nós...
-- Em nós, e a que conclusão tu chegaste?
-- Que precisamos ficar juntos... Só isso.
Claudio riu. Era engraçado ver a dificuldade dela para dizer que queria ficar com ele.
-- Não ria de mim. É muito difícil para mim, ter que  falar sobre isso.
-- Não estou te entendendo, nós sempre falamos sobre tudo abertamente, desde o tempo de Jonas, não guardávamos segredos...
-- É, mas agora tem a doutora Alessandra no meio...
-- No meio de que? Explica-me...
-- Ela está entre nós. Está sim. Sempre te solicitando e te paquerando, eu vi.
-- Linda! Tu estás com ciúmes de mim. Que maravilha!
-- Não é ciúme é só a capacidade de enxergar a realidade.
-- Então me responda e eu como estou nisso tudo?
-- Eu não sei.
-- Mas deveria saber. Faz muito tempo que eu te pedi para ficarmos juntos. Foste tu que cheia de coisas, não quis. E eu continuei ao teu lado, do jeito que podia e tu permitias e tu vens me dizer que não sabe a minha posição? Assim eu fico decepcionado...
A comida chegou e eles interromperam a conversa. Falaram apenas o que era relativo ao prato que saboreavam. Depois que terminaram houve silêncio.
Claudio tinha vontade de pegá-la e sacudi-la. Não era possível que aquilo estava acontecendo. Então resolveu assumir o assunto. E com um sorriso maroto perguntou a ela.
-- Michele olha para mim, e me responde com sinceridade...
-- Sim, respondo...
-- Aceita casar comigo?
Michele ficou olhando para ele. Foi tomada pela surpresa e gaguejou ao falar:
-- Eeeu aaaceito... Sim eu aceito.
Seus olhos brilharam de felicidade. E um lindo sorriso estampou seu rosto e Claudio a beijou na mão e a olhava com ternura. Deixaram o restaurante e foram para o apartamento dele. Precisavam comemorar a decisão.
Na manhã seguinte eles  foram juntos dar a noticia a tia Áurea. Que ficou feliz. E disse;
-- Eu sabia. Sempre vi nos olhares que vocês trocavam que havia amor. Com certeza Jonas também aprova. Pois ele sabe que tu vais ser um ótimo pai para Ana Paula. Parabéns! Vocês merecem ser feliz.
-- Obrigada.
-- E quando será o casamento? – perguntou Áurea.
-- O tempo de correr os papeis.—disse Claudio.
-- Eu já me casei uma vez. E agora penso que deve ser uma cerimônia intima, sem vestido de noiva. Casamos no cartório. O que acham?
-- Por mim... Tu é quem decide. Eu só quero casar...
-- Eu acho que tens razão minha querida, uma coisa simples, mas lembra que o noivo nunca casou e ele precisa ter o dia de ele ser o noivo. Então um vestido de noiva para um ser um dia especial. Um almoço e vocês têm uma bela lembrança. – opinou tia Áurea.
-- A tia está certa. Vamos ser noivos de verdade.
-- Mas quero pedir uma coisa para ti meu filho.
-- Diga...
-- Eu quero continuar morando aqui, se eu puder. Não quero morar junto com vocês. Um casal deve ter a sua privacidade. Aqui fico bem pertinho.
-- Sim, e vou ver se Emily quer morar aqui contigo. Pelo menos a noite terá uma pessoa junto, alguém para te contar as novidades.
-- Ótimo.
Um tempo depois,  eles estavam casados e muito felizes. Michele tinha escolhido um vestido de noiva simples, mas que a deixou deslumbrante e quando Claudio a viu  entrar na igreja ele se emocionou. Sem duvida alguma ela era mulher de seus sonhos.
Agora Claudio estava com o coração sossegado. A mulher que ele amava estava a seu lado, e a pequena Ana logo teria um irmãozinho.
                                     Maria Ronety Canibal
                                       Dezembro de 2017.
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