AMOR CONTIDO
Claudio
tinha retornado ao seu país, depois de ficar, quase três anos, trabalhando na África, engajado na
equipe de Médicos Voluntários. Tinha sido uma experiência única.
Desde
que iniciou seu curso de medicina ele tinha a intenção de dedicar parte de sua
vida para ajudar os mais necessitados, e achou que deveria ser logo após
receber seu diploma.
Ele
tinha chegado há poucos dias e ainda não tinha procurado seus amigos, sobretudo
Jonas, seu grande amigo desde os tempos da infância.
Claudio
dedicou os primeiros dias a si mesmo. Precisa se organizar. Seus pais haviam
falecido antes dele ir embora. Ele era filho único e tinha ainda muita coisa
que resolver com o advogado da família.
Ele
já tinha conseguido trabalho no hospital, onde teria o seu consultório. Ele era
Clinico Geral e dedicaria um dia da semana para atendimento aos carentes em uma
comunidade pobre da cidade.
Seu
conhecimento deveria estar a serviço do próximo, e ele conhecia a miséria
humana, e a necessidade de ajuda destas pessoas.
Enquanto
estava trabalhando na ajuda humanitária, na África, ele tinha pouco tempo livre, e sempre
aproveitava para descansar e refazer suas energias. Portanto o contato com os
amigos era muito restrito, mesmo com Jonas. Ele sabia que seu amigo estava
noivo, mas não conhecia a sua historia de amor e nem imaginava quem era a moça.
Depois
de tudo estabelecido, ele foi procurar seu amigo, que Jonas o recebeu com muita alegria, eram como
irmãos, e “tia” Áurea também veio abraçá-lo. Neste período em que ele estivera
fora, o pai de Jonas havia falecido. E Jonas agora era o chefe da casa, pois agora era apenas ele.
Os
amigos passaram parte do tempo relembrando a juventude, e a época da escola e
deram muitas risadas, e depois Claudio contou sobre a sua temporada na África e
por fim Jonas falou ao amigo sobre
Michele, que era linda, que era luz de sua vida. E acrescentou que ele
estava perdidamente apaixonado por ela.
E
Claudio não se admirou quando Jonas lhe disse que estaria casando em dois dias.
Ele estava feliz e ansioso.
A
família de Jonas tinha tido muitas dificuldades, sua irmã mais nova havia
morrido aos treze anos, vitima de leucemia. Depois seu pai foi mal nos negócios
e eles perderam tudo o que tinham, ficando apenas com a casa em que moravam. Em
decorrência disso Jonas não pode cursar a faculdade de medicina e optou por
jornalismo.
Jonas
conseguiu um emprego e pode então custear seus estudos, como conseqüência de
todas essas perdas, seu pai adoeceu e nunca mais se refez. E morreu. Tia Áurea
ajudava no orçamento doméstico vendendo doces.
Mas
tanto Jonas como a mãe tinham uma força extraordinária, que não os deixava
esmorecer, e por isso eles sempre tinham um sorriso no rosto.
Mas foi só na hora da cerimônia que Claudio
viu pela primeira vez a Michele, quando ela entrava na igreja. E seu coração
ficou descompassado. Nunca tinha acontecido isso com ele. Seria por causa da
beleza da noiva? Ou emoção? Afinal era seu melhor amigo que estava casando...
No
decorrer as festa Claudio ele pode conversar com Michele, que era muito afável.
Jonas estava feliz e a noiva radiante. Formavam um belo casal. E Claudio queria
do fundo do seu ser a felicidade deles.
A
cerimônia tinha sido simples, na igreja do bairro, às 11h de sábado. O almoço
comemorativo foi num restaurante próximo. Michele não tinha família. Apenas os
noivos, tia Áurea, Cristiane, uma colega do trabalho de Michele, o pai de
Michele e ele.
Os pais de Michele eram divorciados e
haviam formado novas famílias e Michele que era adolescente, tinha ficado sem
chão. Por isso ela foi morar com sua avó paterna até ter idade suficiente para
conduzir sua própria vida. Ela trabalhava como gerente de uma loja de
departamentos. E para o seu casamento
veio apenas seu pai, que residia na Irlanda. Sua mãe morava em Portugal e não
veio.
E
por tudo isso Jonas e Michele eram muito unidos. E resolveram que depois de
casados iriam morar junto com a mãe de Jonas. Assim seria uma só família.
Havia
carência em Michele, ela precisava se sentir amada, e Jonas a amava
profundamente. Isso Claudio logo percebeu, e Michele se deixava amar.
Quando
Claudio soube que a lua de mel de Jonas seria de somente dois dias, por falta
de recursos, ele entregou ao amigo um cheque como presente, para que a lua de mel não fosse tão breve. Jonas aceitou
o presente e emocionado abraçou seu amigo agradecendo.
Depois
de uma semana o jovem casal retornou a rotina. E Jonas queria o seu bom amigo
por perto. E a cada dia que passava Claudio estava mais próximo do casal, e seu
amor por Michele cada vez mais intenso.
O
convívio com Michele só fez o amor de Claudio aumentar. Ela era uma pessoa
extraordinária. E ela costumava conversar muito com ele, pois Jonas tinha se
tornado mais quieto. E sempre estava na frente do computador para se manter
atualizado com os últimos acontecimentos do mundo. Sua profissão exigia.
E
em conseqüência desse comportamento de Jonas, era Claudio que freqüentemente
saia com Michele. Ele a levava as compras, ao cinema e estavam muito ligados.
Conheciam-se tão profundamente, que tinham a capacidade de adivinhar o pensamento do outro.
Quando
saiam se divertiam muito. Michele tinha o riso fácil e qualquer coisa a fazia
gargalhar. E Claudio adorava sua gargalhada.
Claudio
aprendeu a controlar seu sentimento e seus impulsos. Recriminava-se a si
próprio por esse amor à esposa de seu amigo. Mas amor era um sentimento
incontrolável. Aconteceu...
Ele
fazia de tudo para que Jonas nunca desconfiasse e ele estava ficando muito bom nisso.
Apesar da paixão que tinha por Michele, ele nunca deixou de agir como um bom
amigo do casal. Jamais trairia seu melhor amigo, seu irmão.
O tempo passava e Michele estava mais bonita,
mais sedutora e ele conhecia perfeitamente cada modo dela olhar. Sabia quando
ela estava bem, ou quando algo a incomodava. Não precisava perguntar, porque
ele sabia interpretar muito bem aquele casal.
Era
difícil... Mas Jonas era seu melhor amigo desde a infância. Eles eram como
irmãos. E o sentimento que existia entre Jonas e ele era de lealdade, de
verdadeira amizade.
Claudio
achou que deveria desviar sua atenção para outra pessoa e procurou entre as
suas colegas de trabalho, alguém que pudesse despertar dentro dele um
sentimento mais forte, alguém que fosse uma boa companhia... E descobriu que
Bianca era uma moça legal.
Ela
era médica pediatra e tinha se engajado com ele na ajuda a comunidade carente,
dedicando, também, parte de seu tempo aos mais pobres.
E
a convidou para sair.
Ela
aceitou, e ele viu que ela era uma mulher bonita, agradável que o ajudava a
desviar a atenção de Michele. Então ele a levou para conhecer seus amigos.
Formaram um quarteto e se divertiam muito quando estavam juntos.
Mas
o amor que estava no coração de Claudio não se modificou, estava ali bem
guardado e era muito vivo. Ele tinha amizade por Bianca. E chegou o dia em que
foi preciso ser sincero e dizer para ela que não tivesse esperanças, era apenas
amizade. E Bianca não quis apenas amizade.
E
Claudio estava novamente só, com seu amor proibido guardado a sete chaves em
seu coração.
Veio
a noticia de que Michele estava grávida. Foi uma alegria geral. E Jonas logo
disse que Claudio seria o padrinho. E ele se alegrou com a sua nove
responsabilidade, a de ser padrinho.
Era
difícil para Claudio tudo isso. Ele ficava louco de ciúmes de seu amigo.
Quantas noites ele ficou imaginando que Michele estava nos braços de Jonas, e
ele queria tanto que ela estivesse em seus braços, que ela fosse sua, tinha
ânsia em beijar aqueles lábios sedutores, de tocar aquele corpo provocante.
Isso o enlouquecia.
E
aos poucos ele tentava se afastar do casal. Mas Jonas o chamava, o queria
perto. E ele atendia ao chamado do amigo...
Naquela
noite era a comemoração de dois anos de casamento. Tia Áurea fez um jantar
especial e Claudio estava convidado. Claudio chegou no horário marcado e foi Michele que abriu a porta. Ele a abraçou com
carinho e logo foi à cozinha dar um beijo em tia Áurea.
Ele
estranhou a ausência de Jonas, e perguntou por ele. Foi Michele quem disse que
ele tinha sido chamado para fazer uma reportagem. Mas que já deveria ter
chegado. Então sentaram para esperar por Jonas.
Tinha
sido um dia muito quente, e um temporal estava se formando. O ar estava pesado
e nuvens pretas cobriam o céu. O vento estava começando a soprar.
O
telefone da casa tocou e foi tia Áurea quem atendeu. Claudio só viu a mulher
empalidecer e cair. Correu para pegar o telefone e ouviu um policial avisando
que Jonas tinha sido baleado durante um tiroteio. Ele cruzava de carro e foi
atingido em plena avenida por uma bala perdida. Jonas estava morto.
Claudio
desligou o telefone e foi reanimar tia Áurea enquanto Michele assustada não conseguia sair do
lugar. Depois que a tia estava restabelecida, ele a levou para o sofá. Então
Áurea desatou a chorar.
Claudio
pegou Michele pela mão e a fez sentar na poltrona. Ele precisava dizer a ela,
era uma missão terrível. Ele se ajoelhou ao lado dela, pegou sua mão e
acariciou e então contou que Jonas estava morto.
Ela
ficou quieta, parecia que não tinha assimilado o que ele tinha falado. Mas grossas lágrimas corriam de seus olhos,
ela apertou a mão de Claudio e encostou a cabeça em seu ombro e ali ficou em um
choro silencioso.
Ele
ficou quieto, deixou que ela chorasse... Tia Áurea estava mais calma, agora, e
como uma criança, ainda soluçava. Mas se levantou e disse para Claudio que precisavam
providenciar o velório.
Claudio
assentiu e disse que ela ficasse com Michele, porque ele tomaria conta de tudo.
Depois vinha buscá-las. Que seria bom que Michele se deitasse um pouco. Ela
estava grávida e todo o cuidado seria pouco. Áurea concordou e abraçou a nora e
a levou para o quarto.
Claudio
saiu. Em seu peito havia uma dor muito forte. Amava seu amigo como um irmão. E
ele estava morto.
O velório e o enterro de Jonas foi bem
tumultuado, pois a sua morte foi noticia com destaque nos meios jornalísticos e
muito debatido a nível de internet, sobretudo Facebook.
Muitas
pessoas estranhas foram ao velório, pessoas que se sensibilizaram com o fato
divulgado pela TV, e foram ser solidarias. Mas tudo isso cansou muito as duas
mulheres, mãe e esposa do falecido.
Claudio
estava preocupado com Michele, ela estava muito abatida, sem se alimentar e nem
dormir direito. Tia Áurea mais uma vez mostrou sua bravura, enfrentou tudo com
serenidade.
Quando
estavam saindo do cemitério Claudio abraçou Michele e a ajudou a subir a
escadaria que dava acesso ao estacionamento. Ela estava tonta. Ele a colocou no carro e foi ajudar
tia Áurea.
Já
em casa ele aconselhou a Michele, e também a tia, para tomar um banho, comer
algo leve e procurar dormir. Ele ia ficar por ali mais um tempo para se certificar de que elas estavam
bem. Só depois iria para sua casa.
Foi
para a cozinha para ver o que tinham para comer. Havia frutas e saladas verdes.
Ele ajeitou um misto de folhas verdes com maça, tomates, mamão, presunto e
queijo. Serviu os pratos e levou para Michele e tia Áurea, e para si.
Os
três sentaram a mesa da cozinha e comeram em silencio, até que tia Áurea falou
que ela achava que teriam que sair da casa. Só as duas ali... Claudio concordou e disse que iria ver como
poderiam resolver. Se quisessem poderiam ir para o apartamento dele que era bem
espaçoso e tinha lugar para todos.
Michele
só escutava a conversa, ainda não conseguia raciocinar. Mas uma coisa ela
sabia, não se afastaria da sogra.
E
naquela noite Claudio ficou com elas. Dormiu no sofá.
Ele
custou a conciliar o sono, e ficou pensando... No outro dia ele fez uma
proposta para elas. Tia Áurea aceitou...
Elas
sairiam da casa, alugariam a casa e assim teriam mais um recurso, além da
pensão para viver. A pensão de Jonas seria para Michele, e com mais o seu
salário teria como se manter.
Elas
iriam morar perto dele. Ao lado do edifício onde morava, ele tinha um prédio de apartamentos e havia
uma unidade desocupada. E elas logo poderiam se mudar.
E
foi o que elas fizeram. Na outra semana estavam morando no apartamento, muito confortável
para as duas. O apartamento tinha uma suíte e mais dois quartos, banheiro e uma
sala de bom tamanho, com sacada e uma cozinha bem grande, e ainda uma
lavandeira. Era bem ensolarado em andar baixo.
Claudio
continuava preocupado com Michele. Ela queria voltar ao trabalho, mas ele
achava que ela ainda tinha riscos, por causa da forte emoção que ela viveu, e a
gravidez era muito recente, nem completara três meses.
Mas
Michele queria trabalhar, precisava preencher seu tempo para não pensar que
Jonas não estava mais com ela, que havia um vazio. E foi o que fez.
Os
dias passavam...
Claudio
tinha se retirado. Não queria mais tanta proximidade. Se elas precisassem dele,
ele estava por perto. Elas deveriam retomar a sua vida, a sua rotina.
Era
engraçado, pois, ele amava Michele com loucura, e agora que ela estava livre,
ele se sentia constrangido com esse amor. Seu amigo havia morrido, e ele se
sentia culpado por amar a mulher dele. Era loucura...
A
vida voltou a normalidade e o tempo corria...
Michele
estava no sétimo mês de gravidez e precisava montar o quarto para o bebe. E ela
telefonou para o Claudio pedindo a sua ajuda na escolha da caminha. E ele não
pode rejeitar o convite. Afinal ela não tinha mais ninguém, e tia Áurea apesar
de querer demonstrar força, estava muito desanimada.
Ele
a levou em uma grande loja de móveis modulados. Ali eles poderiam compor o
quarto como quisessem. Eram muitos modelos e Michele se mostrava indecisa,
então Claudio foi quem decidiu tudo.
E
quando deixou a loja ele a levou para almoçar. Escolheram um lugar tranqüilo e
conversaram bastante. E Michele confessou:
--
Todos nós sentimos a falta de Jonas.
Cada um de nós tem uma reação diferente. Mas eu não consigo entender por
que tu te afastaste tanto. Sinto tua falta...
Claudio
sentiu seu coração pulsar forte. Procurou responder com tranqüilidade:
--
Bem, eu não queria me intrometer na tua vida. Nunca imaginei que te afetaria.
--
Afetou sim. Eu desde que te conheci gostei muito de ti, de estar contigo,
inclusive disse muitas vezes ao Jonas, que concordava comigo, que tu és uma
pessoa especial. Todos que te conhecem te amam muito.
--
Eu?...
--
Sim. Tu me fazes bem. Eu preciso de ti... E te peço de agora em diante não me
abandones, eu tenho que enfrentar um parto, tenho medo da dor. Minha sogra é
muito querida, mas não posso mais contar com ela. Essa perda a deixou
enfraquecida. Até quero te pedir para examiná-la. Ela tem uma tosse que não me
agrada.
--
Hoje mesmo...
Claudio
jamais imaginou que teria uma conversa como esta com Michele. Isso o deixou
nervoso, pois não sabia como disfarçar sua alegria por ser tão importante para
ela. De certa forma ela o amava...
Daquele
dia em diante a relação deles mudou. Tornaram-se mais amigos, mais
companheiros. E isso fez com que Claudio acalentasse uma esperança. Sabia que
ainda era muito cedo para qualquer atitude, mas andava mais animado.
Era
um sábado chuvoso e Claudio passou o dia em casa. Queria ler alguns artigos
importantes sobre os avanços nos tratamentos médicos. E no meio da tarde o
telefone tocou. Era Michele dizendo que não estava se sentindo bem, estava com
náuseas. Ele foi vê-la.
Realmente
ela estava muito pálida, ele a examinou
e mediu sua febre. Ela estava com febre alta. Então ele telefonou para Dr. Pinho,
o ginecologista dela, informando que o quadro que ela apresentava era de
infecção, provavelmente das vias urinarias.
Depois
de falar com seu colega ele a medicou e ficou junto dela, até a febre ceder.
Tia Áurea chegou ao quarto e o chamou pra tomar um café, Michele dormia
calmamente.
Na
cozinha tia Áurea disse a ele:
--
Nunca vi algo assim em toda a minha vida. Tu a ama.
--
Não sei do que falas...
--
Sabes sim. Tua ama Michele. Eu posso ver em teus olhos, no jeito que tu cuidas
dela e na ternura de tua voz, quando falas com ela. E eu fico feliz por isso. E
acho que devias dizer a ela...
--
Eu dizer a ela...
--
Meu filho, ela é jovem, bonita e saudável. No que ela se livrar dessa gravidez
ela vai querer um namorado, ela não vai ficar só. Jonas já passou pela vida
dela. Se for para ter outro homem, então que seja tu, que a ama de verdade e
será um bom pai para minha neta. Pensa sobre isso.
--
Sim vou pensar...
--
Não demore demais...
Claudio
se surpreendeu com perspicácia de tia Áurea. Ela era boa observadora e talvez
tivesse razão. Michele iria reconstruir sua vida. Ele precisava abrir seu
coração para ela. Mas ia deixar a criança nascer. Pelo menos isso em honra de
seu amigo.
Com
esse pensamento ele voltou para o quarto e Michele estava acordada e continuava
enjoada. Ela a abraçou e a colocou sentada na cama depois de ajeitar os
travesseiros. E ficou ali segurando a mão dela e falando sobre diferentes
coisas para distraí-la.
E
Michele confessou a ele:
--
Eu estou com medo do futuro... Como farei para criar minha filha e cuidar de
minha sogra que envelheceu muito nos últimos tempos... Com que recursos irei
sustentá-las?
--
Não deves te atormentar com isso. Eu estou aqui para ajudar.
--
Sim, sei que posso contar contigo, mas até quando? Com certeza mais adiante tu
vais casar e terás a tua família para zelar...
Então
ele olhou para ela e arriscou dizer;
--
Nós podemos ser uma família, não podemos?
--
Nós?!
E
Michele se calou e ficou pensativa e dormiu. E Claudio ficou sem saber se ele
tinha sido precipitado esse a assustou,
ou se foi rejeitado. E decidiu não tocar mais no assunto, por enquanto.
Mas
Michele continuou pensando no que ele havia dito. E começou a analisar seus
sentimentos. E a verdade era que ela gostava de estar com ele, desde o minuto,
em que o conheceu, no dia do seu casamento, ela sabia que se não estivesse com
Jonas, com certeza ele seria seu eleito. Mas agora a situação era esquisita.
Ele era o melhor amigo de seu falecido marido.
Ela
o admirava, ele era lindo, tinha um corpo sedutor e tinha desejos por ele, e
muitas vezes se imaginou fazendo amor com ele. Mas era estranho. Não sabia o
que sua sogra iria pensar.
Os
dias passaram e chegou o tempo do nascimento de Ana Paula. O parto foi bem e
Michele se recuperou rapidamente.
Claudio
estava apaixonado pela pequena Ana, que era uma gracinha, linda e se acomodava perfeitamente
em seu colo e dormia. Ele passava todos os dias por lá para ver as suas
mulheres como brincava.
Mas
o fato era que ele estava mais enamorado de Michele, que tinha ficado uma linda
mulher depois da gravidez, com as curvas mais perfeitas, mesmo ainda
amamentando.
Aos
fins de semana ele sempre levava Michele para as compras, era ela quem
abastecia a casa e depois iam passear ou tomar um sorvete. Eram momentos
únicos, que ele desfrutava com alegria. Era como antes, eles saiam para se de
divertirem.
O
tempo licença maternidade passou rapidamente e Michele estava voltando ao
trabalho. E queria colocar Ana em uma creche. Mas ele era contra, achava que
ela era tão pequena ainda, o ideal seria uma enfermeira para tomar conta de
Ana. E seria por conta dele. Afinal ele era o padrinho.
Michele
aceitou com relutância, mas só depois que a sogra insistiu para que aceitasse a
oferta de Claudio. E ele contratou Emily, uma enfermeira pediátrica.
Naquele
dia, Claudio saiu do hospital e foi para o shopping em que Michele trabalhava. Fez
suas compras e foi até a loja em que ela trabalhava, e disse que iria esperá-la
para voltarem juntos para casa. E foi
para praça de alimentação esperar por Michele.
Comprou
uma água e sentou em uma mesa no canto. Em seguida ela chegou e ele a convidou
para jantar e ela aceitou. Ali mesmo havia um ótimo restaurante.
Claudio
optou por uma mesa pequena perto da parede, o ambiente era sóbrio e requintado.
Fizeram suas escolhas. E sem dizer palavra alguma eles se olharam e sustentaram
o olhar por um bom tempo. Até que Claudio esticou o braço e pegou a mão de
Michele que repousava sobre a mesa.
O
coração de Claudio se agitou e Michele podia ver sua veia do pescoço pular
forte. Mas ela também estava agitada, esse ambiente, e o contato físico
inesperado a deixou emocionada e seu
coração pulsava fora do compasso. E os olhos se encontraram novamente.
Michele
nem pensou em retirar a mão, o que estava sentindo era tão bom, a fez sentir-se
viva novamente. Mas será que Jonas aprovaria? Talvez ela viesse a se sentir
culpada depois. Mas a tentação era grande...
Claudio
apenas disse:
--
Precisamos conversar... Mas vamos deixar para minha volta.
--
Aonde vais?
--
Tenho um congresso em Santiago do Chile. Fico fora uma semana. Embarco amanhã à
noite. Vou para Buenos Aires e fico dois dias.
--
Hum...
--
Vai sentir saudades de mim?
--
Claro... Eu sempre sinto tua falta.
A
comida chegou e eles comeram conversando sobre o tema do congresso. Depois da
sobremesa ele pagou a conta e saíram. Enquanto andavam até o estacionamento ele
tornou a pegar na mão de Michele.
Quando
chegaram em casa ele estacionou o carro em sua garagem e depois acompanhou
Michele até o seu prédio, entrou e a levou até a porta do apartamento.
Ela
o convidou para um café, mas ele recusou e disse:
--
Eu quero isso...
E
inesperadamente a pegou e puxou para perto dele e a beijou com ímpeto. E ela
retribuiu o beijo com o mesmo ardor. Ele interrompeu o beijo sorriu e a beijou
novamente num beijo longo e apaixonado. Nenhum dos dois queria parar. Queriam
mais. E Michele sussurrou:
--
Vamos para tua casa...
E
eles saíram apressados.
Não
era assim que ele tinha ha imaginado, mas foi assim que aconteceu.
Eles
chegaram ao apartamento dele e como que enlouquecidos começaram a se beijar e a
arrancar suas roupas e entre carinhos e beijos chegaram à cama, e ali se
entregaram a paixão que ardia em seus corações. Fizeram amor... Amaram-se
verdadeiramente, mas não declararam um
para o outro, o amor que guardavam no peito. Disseram coisas um ao outro,
demonstrando o desejo que tinham, o quanto eram sedutores, mas não falaram em
amor.
Cansados,
suados, se olharam e riram da loucura que foi o ato que eles praticaram. Foi
algo fora do comum, pelo menos para Michele, que não tinha muita experiência.
E
ela disse a ele:
--
Nossa! Nunca fiz algo parecido
--
Então tu gostaste?
--
Muito. Tu és muito bom nisso....
Claudio
apenas sorriu e olhava para aquele corpo perfeito que o estava excitando novamente.
E acariciou aquela pele macia e aveludada e a beijou e mais uma vez se
entregaram ao amor. Mas desta vez foi Michele quem murmurou ao ouvido dele:
--
Eu te amo... Te amo muito... Há muito tempo...
--
Eu também, desde a primeira vez que te vi...
E
depois dessas declarações algo mudou e o que os envolveu foi um ato de amor muito mais profundo, deixando seus corações
mais sossegados...
Michele
levantou disse que precisava ir. Estava tarde. Vestiram suas roupas e ela a
acompanhou até a porta de seu apartamento. Agora se despediram com um beijo
rápido.
Michele
foi direto para o banheiro, precisava tirar o cheiro de homem que havia nela.
Saiu embrulhada num roupão felpudo e foi ver Ana Paula que dormia tranqüila em
sua caminha.
Foi
para seu quarto. Deitou-se e ficou a pensar no que haviam feito. Era loucura.
Ela estava traindo a memória de Jonas. Que sua sogra diria se soubesse? Estava
envergonhada. Quando Claudio retornasse do congresso iria falar com ele sobre
isso.
Era
loucura, mas ela tinha gostado. Ele era vibrante, e a deixou louca e ela nunca
tinha alcançado esse grau de excitação. Jonas agia diferente. Não tinha o mesmo
ímpeto de Claudio, que era demais e sabia como deixá-la enlouquecida. Só de pensar subiu um calor em seu corpo.
Claudio
também ao chegar de volta foi tomar um banho. Estava suado e cansado. Tentou
dormir, mas não conseguiu. Ela era demais. Não tinha muita experiência, e foi
casada com seu amigo... Será que Jonas não era mestre no riscado? Ele sempre
foi muito tradicional.
Na
volta de sua viagem iriam acertar a vida. Iriam morar juntos. Por ele deveriam casar. Mas se ela quisesse esperar um pouco
mais, tudo bem. Ele aceitaria. Mas depois desta noite não poderiam mais ficar
separados.
No
dia seguinte não se viram, ele saiu direto do hospital para o aeroporto. Ela
ligou para ele no fim da tarde para dizer que estava bem e desejava uma boa
viagem a ele.
E
quando Michele chegou em casa, após o trabalho, Áurea perguntou o que tinha
acontecido, ela tinha um brilho no olhar, algo de bom a tinha animado. Ela não
podia contar a razão de sua alegria, então mentiu, dizendo que estava assim
porque tinha recebido um elogio do chefe.
Áurea
não acreditou muito, mas não retrucou. Ela só esperava que esse ânimo dela se chamasse Claudio. E
arriscou dizer:
--
E o Claudio, não tem vindo ver sua afilhada, sabe por quê?
--
Não. O que sei que hoje ele embarcava para
Argentina e depois vai ao Chile para participar de um congresso. Deve
ter estado muito ocupado, se preparando para viagem. Nós nos vimos ontem no
shopping.
--
Hum... Então ele está bem.
--
Sim.
--
Eu gosto muito dele. É como um filho para mim. Vi esses meninos crescerem,
Jonas e o Claudio, sempre foram unidos, leais e parceiros. Nunca brigaram,
tinham suas diferenças, mas aceitavam as opiniões diferentes. E quando Claudio
foi fazer o trabalho humanitário lá na África, Jonas confessou que gostaria de
ter ido com ele, para ajudar aquela pobre gente.
--
Mas ele não era da área médica.
--
Sim...Ele não era. Mas tinha um bom coração, assim como o Claudio. Minha filha eu vou te dizer uma coisa. Tu
podes achar estranho, mas como mãe e avó, eu quero o melhor para vocês.
--
Diga dona Áurea.
--
Vai chegar a hora em que tu vais sair em busca de um novo amor, mas antes de
procurar longe, olhe por perto, pois ele pode estar bem junto de ti.
--
Esta bem, prometo que farei. Mas não estou entendendo a seqüência do nosso
assunto.... Nós estávamos falando de Jonas e de Claudio.
--
Então... Não está obvio?
--
Sim. Bem vou tomar um banho, estou cansada...
Michele
queria encerrar aquela conversa esquisita com sua sogra, que parecia
desconfiar de que havia alguma coisa
entre ela e Claudio.
Michele
precisava pensar. Ela sabia que desde que conheceu Claudio ela gostou muito
dele, mas como havia Jonas, nunca parou para pensar sobre isso. Mas agora ela
tinha certeza de que o amou desde o primeiro momento.
Depois
da intimidade que tiveram as coisas mudaram. Ele era incrível, muito mais do
que ela imaginava. Ele era sedutor e desempenhava suas funções com maestria.
Tinha sido maravilhoso estar com ele.
Não
queria fazer comparações, mas seu falecido marido não tinha uma pegada ousada.
Ele era muito conservador, em tudo...
Mas
precisava se decidir. Claudio, quando chegasse iria exigir uma decisão. O que
ela faria? Fazia um ano que Jonas tinha
morrido. Era muito recente. Ela devia zelar pela memória de Jonas.
E
como faria para resistir aos encantos de Claudio?
Realmente
era uma decisão difícil. Precisava desesperadamente conversar com alguém, mas
quem? Não iria confiar seu segredo a estranhos. Apenas dona Áurea.
Mas ela era muito esperta. Mesmo que ela contasse
o fato colocando como vida de outra pessoa, sua sogra ia saber. Então restava
conversar com Claudio quando ele chegasse. E ela estava morrendo de saudades
dele.
Aqueles
dias passaram muito devagar. Michele estava ansiosa...
Ela
chegou em casa e estava animada, no outro dia Claudio estaria chegando. Até cantarolando
Michele estava. E Áurea perguntou:
--
Está feliz, minha querida. Recebeste outro elogio?
--
Elogio?
--
Sim, outro dia também estavas com os olhos brilhando e tu me disseste que teu
chefe tinha te feito um elogio...
--Ah...
Mas hoje não foi elogio. Eu acordei muito bem hoje. Só isso.
--
Que bom...
Áurea
deu um sorriso maroto, como quem diz: “me engana que eu gosto”. Michele
percebeu, mas não retrucou. Era melhor deixar. E pegou sua filha no colo para
acarinhar.
No
dia seguinte Claudio apareceu e tinha trazido uma lembrancinha para elas. Tia Áurea
ficou feliz com a presença dele e o convidou
para jantar. Ela preparou uma lasanha do jeito que ele gostava. Foi uma
refeição alegre, com ele contando sobre sua viagem.
Depois
do jantar ele deu atenção à pequena Ana, que estava, a cada dia, mais linda e
crescia saudável. Ela era muito parecida com Michele. Por fim ele a fez dormir.
Tia Áurea discretamente saiu da sala. Deixando Michele e Claudio a sós.
Claudio
estava louco de saudades, estava cheio de desejos, mas ali não podiam fazer
nada, e como era folga de Emily, não poderiam sair. Mas um bom “amasso” não
estava fora de cogitação.
Foi
Michele quem iniciou o assunto, dizendo que
tinha pensado muito e que não via solução para eles. Não poderiam
continuar. Fazia pouco tempo que estava viúva e não seria descente logo ter
outro homem.
Claudio
escutou o que ela falou, e foi como se tivesse tomado um banho frio. Ficou
pasmo e sem reação diante do argumento dela. Ele estava cansado e não queria
discutir.
Levantou-se
e foi embora.
Ao
chegar em casa, ele serviu-se de uma dose de conhaque e ficou pensando em tudo.
Ele não tirava a razão dela, fazia pouco tempo que Jonas tinha morrido, um ano
apenas. Mas, por outro lado, se eles casassem a pequena Ana teria um pai, uma
família estruturada para crescer saudável. E tia Áurea, não era problema, ela
já havia sinalizado. Então o problema era a própria Michele.
Passou
uma semana e Claudio se entregou ao trabalho, e não falou mais com Michele e
nem foi ver sua afilhada. E tia Áurea sentindo a falta dele perguntou:
--
Michele por que o Claudio não apareceu mais? Vocês brigaram?
--
Não! Não brigamos e por que brigaríamos?
--
Não sei... Nem a Ana ele veio ver... Ele estava tão bem... Esse rapaz me
preocupa. Ele é muito sozinho. Eu o quero como um filho.
--
Eu sei que a senhora o ama muito.
--
Pois é, então vá atrás dele. Descobre o que está havendo.
Michele
sabia por que ele tinha sumido. Ele não tinha gostado da decisão dela. E agora
ela teria que ir até seu apartamento. Levantou-se e foi.
Como
ela tinha a chave do apartamento dele, ela não bateu, simplesmente entrou e o
encontrou saindo banho. Estava se aprontando para sair.
--
Vais sair? – perguntou Michele com o coração apertado.
--
Sim, vou jantar com uma colega.
--
Hum. Entendo—disse Michele se moendo de ciúmes. – Eu só vim aqui porque minha
sogra pediu. Queria saber se estavas bem...
--
Como tu podes ver eu estou muito bem. Agradeço pela atenção.
--
Então eu já vou...
--
Ok. Tchau...
E
Michele saiu quase chorando. Ele estava diferente, estava distante, indiferente
a ela e ainda iria sair com outra mulher.
--
Que ódio! -- murmurou ela.
Michele
chegou em casa e disse para Áurea:
--
Ele está muito bem, está saindo para jantar com uma amiga, e agradeceu seu
interesse.
--
Que bom que ele arranjou uma namorada... – disse Áurea para provocar sua nora.
--
É que bom! Vou me deitar estou com dor de cabeça e a Ana está dormindo.
Mas
o que ela queria era ficar só. Estava com uma dor no peito, estava com muito
medo de que ele não a quisesse mais. Ela tinha sido sincera com ele, tinha
demonstrado seu amor e falado de seus sentimentos em relação ao falecido
marido. Será que ele não a entendia? E naquele dia, Claudio não tinha nem
discutido o assunto. Apenas ouviu o que ela disse e foi embora. Era mais do que
certo que ele não concordava com ela.
Claudio
recebeu de sua colega a Dra. Alessandra a oferta para fazer uma especialização nos EUA. Ela tinha interesse porque o queria como sócio
na clinica que estava sendo planejada, para tratamento de câncer de pele. E ele
deveria ficar aproximadamente menos de ano
fora. Ele precisava decidir...
E
decidiu.
Na
manhã seguinte, era cedo quando Claudio procurou tia Áurea para contar a
novidade. Ele iria para a Califórnia e ficaria cerca de oito meses por lá fazendo
doutorado em dermatologia. Seria um curso intensivo, com aulas na parte da
manha, tarde e noite.
Ele
iria dentro de um mês, e tinha muita coisa para resolver antes de ir. Portanto
não tinha tempo a perder.
Naquela
noite, quando chegou do trabalho, Michele ficou sabendo da nova. E isso a
deixou triste. Definitivamente ele estava se afastando dela. Ela tinha sido
muito boba. Agora não tinha volta.
Áurea
disse a sua nora que queria fazer um jantar de despedida para ele. Pois não
sabia se o veria mais uma vez. Estava velha e se sentia muito fraca. E ele era
muito amado por ela.
E
dois dias antes de embarcar o jantar se realizou. Embora todos quisessem
parecer alegres, eles estavam com o coração apertado e durante a sobremesa tia
Áurea não resistiu e chorou.
Disse
que estava emocionada, seu querido menino ia se afastar mais uma vez e isso
para o coração dela era demais. E Michele também ficou com os olhos marejados.
Por fim ele ficou contaminado e abraçou tia Áurea:
--
Minha querida, o tempo passa ligeiro. Mais uns dias eu estarei de volta para
saborear essa tua deliciosa comida. Eu te amo, tu sabes disse.
--
Eu sei meu rapaz, meu filho querido, eu sei, mas eu estou velha e o tempo se
tornou precioso para mim. Não posso desperdiçar. Michele e Ana também vão
sentir tua ausência.
--
Eu sei... – respondeu ele olhando para Michele que enxugava uma lágrima. E
continuou—Tia hoje a tecnologia nos aproxima, vamos nos ver, manter contato.
Desta vez será diferente. Antes eu estive em lugares ermos, onde não havia uma
boa comunicação, eram lugares pobres, com pessoas muito carentes e nossa
dedicação a essas pessoas tomava todo
nosso tempo. Agora não será assim. Eu te prometo. – e beijou o rosto da tia com
carinho.
Ele
levantou-se e foi até o quarto onde Ana dormia. Ali diante do berço chorou, e
Michele que tinha ido atrás viu, e o abraçou. E eles ficaram ali abraçados
sentindo os corações pulsarem forte.
Michele
disse baixinho:
--
Eu não queria que fosse assim...
--
A escolha foi tua...
--
Eu sei... E teremos um futuro juntos?
--
Não sei... Não sei mesmo. Teremos que pagar para ver.
Claudio
ficou mais um pouco e depois foi para casa. Estava triste. Estava se afastando
das pessoas que ele mais amava, sobretudo a pequena Ana, que era tão agarrada a
ele.
Mas
precisava pensar em sua profissão. E foi
com esse pensamento que tomou o avião.
Claudio
logo se acomodou, era um pequeno apartamento perto da universidade. Foi ao
mercado e abasteceu seu refrigerador e sua despensa. As aulas começavam na
semana seguinte e ele aproveitou para conhecer o bairro onde estava morando.
Ele
tirou fotos e mandou para Michele. Eles estavam se falando todos os dias desde
que ele chegara. Mas por enquanto ele tinha tempo livre.
Os
dias passavam...
O
fim de ano se aproximava e ele estava planejando passar as festas de fim de ano com as suas mulheres.
Não queria perder o primeiro Natal de Ana. Queria fazer uma surpresa. Comprou
presentes e as passagens.
Chegou
dois dias antes do Natal. E foi direto ver tia Áurea e Ana. Michele estava com
horário estendido, só chegava mais tarde. Foi uma alegria, a pequena Ana batia
palminhas quando viu seu padrinho. Ela ria. Não tinha se esquecido dele. E tia
Áurea riu dizendo:
--
Ela é do sexo feminino e jamais vai esquecer um cara bonitão como tu...
Claudio
riu. Embalou a menina até ela dormir. E depois deu um beijo na tia e saiu. Ele
queria ir até o shopping e ver Michele.
Ele
entrou na loja e logo a avistou. Ela estava ocupada e ele ficou um pouco atrás
olhando para ela. E quando ela levantou os olhos seu rosto se iluminou. Correu
até ele e o abraçou sem se importar com o ambiente de trabalho.
--
Tu vieste... Eu te amo...Amo... Amo muito.
--
Calma. Eu também te amo. Vou te esperar...
--
Tenho mais meia hora, depois posso sair.
Ele
sentou no banco em que sempre ficava, ficou apreciando o movimento. Pessoas
passavam carregadas de pacotes. Realmente esta época do ano era a melhor, pois
despertava, nas pessoas, bons sentimentos, oxalá que durasse o ano todo.
Ele
e Michele saíram de mãos dadas. Estavam felizes por estarem juntos. Foram comer
uma pizza e conversaram bastante. Era tarde e ambos cansados, e ele a deixou em
casa e foi para seu apartamento.
Tia
Áurea estava preparando doces e outras delícias para a Ceia. Ele foi para lá e
ficou o dia inteiro cuidando de Ana. Áurea olhava e pensava que sua nora era
muito boba. Onde ela encontraria um homem como ele, e que tinha um amor de pai
pela pequena.
Era
noite e ele fez Ana dormir. E depois foi
buscar Michele no serviço. Mas desta vez ele tinha comprado comida e eles
poderiam ir para o apartamento dele. Ele estava sedento, precisa dela...
E
eles tiveram uma noite maravilhosa. Se entregaram ao amor, se deram um ao outro totalmente.
Ambos estavam necessitados desse envolvimento. E isso revigorou o amor.
A
noite de Natal foi linda, alegre e eles brindaram o amor. Ana Paula foi o
centro das atenções, ela estava deslumbrada com arvore enfeitada. Esticava seu
braçinho, queria pegar os enfeites. Claudio com ela no colo se divertia muito.
Michele
estava em férias, tinha tirado dez dias para aproveitar a semana do fim de ano
com sua filha. Ela estava crescendo muito rápido e ela quase não a via. Quando
chegava do trabalho ela já estava dormindo.
E
então resolveram tirar uns dias na praia. Conseguiram um hotel em uma pequena
praia. Tia Áurea disse que não queria ir. Eles eram jovens, que aproveitassem o
período de férias. Eles prometeram estar com ela na noite da virada.
Eles
tiveram uma semana de verdadeira lua de mel. Tinham conseguido uma suíte
espaçosa e colocaram uma caminha para Ana e foram dias maravilhosos. Eles
formavam uma linda família. Ele as amava
demais, e estava empenhado em não perdê-las.
No
segundo dia do ano ele voltou para Califórnia. Agora faltava menos da metade e
logo poderia voltar e retomar sua vida, e desta vez ele pretendia oficializar o
amor deles.
Claudio
retornou com o titulo de doutor na valise. Ele e Alessandra iriam inaugurar a clinica dali alguns dias. Seria
uma cerimônia com a presença de ilustres convidados e da imprensa. Alessandra
gostava de badalação. E também tinha projetos para conquistar o doutor Claudio,
que era um belo exemplar do sexo masculino.
E
Alessandra sempre conseguia o queria. A meta era envolver o Claudio em muitas reuniões, para
ele ficar sedento da presença dela, que se vestia de modo sensual, querendo
atrair sobre si todos os olhares masculinos.
Foram
dias de reuniões e jantares para resolverem todos os finalmentes da clinica e
Michele estava louca de ciúmes. Sabia que Alessandra era uma mulher bonita e
cheia de charme.
Michele
não queria forçar nada entre os dois, mas estava ansiosa, e resolveu tomar a
frente. Era sábado e ela saiu mais cedo do trabalho e telefonou para o Claudio
pedindo para se encontrarem no shopping. Ela precisava conversar com ele.
Ela
o esperava no banco em frente da loja e viu ele se aproximar acompanhado por
Alessandra. Michele ficou tensa, não sabia o que poderia acontecer. Tentou disfarçar seu nervosismo. Quando
Claudio de aproximou ele a beijou como sempre fazia e apresentou a doutora a
ela.
--
Alessandra, essa Michele uma velha amiga.
--
Prazer em conhecê-la. – disse Alessandra.
--
Prazer – murmurou Michele.
--
Meu querido, vou seguir em frente, depois nos falamos. Tchau... – disse
Alessandra.
--
Tchau – respondeu Claudio. E virando-se para Michele disse com um largo
sorriso—Pronto. Sou todo teu.
--
Todo meu? Tem certeza?—retrucou Michele.
--
Sim, meu amor, todo teu. Tu sabes disso... —falou Claudio.
--
Sei... –disse ironicamente Michele.
--
Aonde vamos – perguntou Claudio, ignorando a ironia dela.
--
Eu queria te levar para jantar num restaurante novo que abriu aqui. Todos falam
muito bem do lugar.
--
Então vamos experimentar.
Era
um lugar agradável, com uma decoração romântica e um cardápio variado. Depois
de olharem o menu e conversarem a respeito de cada prato, eles fizeram o
pedido. E caiu um silêncio entre eles.
Michele
estava nervosa e não sabia como iniciar a conversa. Apenas olhava para ele com
um olhar triste. Ele percebeu que havia alguma coisa e pegou a mão dela e
segurou entre as suas fazendo um carinho com o polegar enquanto a olhava,
esperando que ela falasse.
Ele
ficou com receio porque ela estava tão esquisita e enfim perguntou:
--
O que está acontecendo?
--
Eu perdi a coragem... Não consigo falar... Estou envergonhada.
--
Estás com vergonha de mim? O que há de tão grave?
--
Não é nada grave. É que eu andei pensando...
--
Pensando em que?
--
Em nós...
--
Em nós, e a que conclusão tu chegaste?
--
Que precisamos ficar juntos... Só isso.
Claudio
riu. Era engraçado ver a dificuldade dela para dizer que queria ficar com ele.
--
Não ria de mim. É muito difícil para mim, ter que falar sobre isso.
--
Não estou te entendendo, nós sempre falamos sobre tudo abertamente, desde o
tempo de Jonas, não guardávamos segredos...
--
É, mas agora tem a doutora Alessandra no meio...
--
No meio de que? Explica-me...
--
Ela está entre nós. Está sim. Sempre te solicitando e te paquerando, eu vi.
--
Linda! Tu estás com ciúmes de mim. Que maravilha!
--
Não é ciúme é só a capacidade de enxergar a realidade.
--
Então me responda e eu como estou nisso tudo?
--
Eu não sei.
--
Mas deveria saber. Faz muito tempo que eu te pedi para ficarmos juntos. Foste
tu que cheia de coisas, não quis. E eu continuei ao teu lado, do jeito que
podia e tu permitias e tu vens me dizer que não sabe a minha posição? Assim eu
fico decepcionado...
A
comida chegou e eles interromperam a conversa. Falaram apenas o que era
relativo ao prato que saboreavam. Depois que terminaram houve silêncio.
Claudio
tinha vontade de pegá-la e sacudi-la. Não era possível que aquilo estava
acontecendo. Então resolveu assumir o assunto. E com um sorriso maroto perguntou
a ela.
--
Michele olha para mim, e me responde com sinceridade...
--
Sim, respondo...
--
Aceita casar comigo?
Michele
ficou olhando para ele. Foi tomada pela surpresa e gaguejou ao falar:
--
Eeeu aaaceito... Sim eu aceito.
Seus
olhos brilharam de felicidade. E um lindo sorriso estampou seu rosto e Claudio
a beijou na mão e a olhava com ternura. Deixaram o restaurante e foram para o
apartamento dele. Precisavam comemorar a decisão.
Na
manhã seguinte eles foram juntos dar a
noticia a tia Áurea. Que ficou feliz. E disse;
--
Eu sabia. Sempre vi nos olhares que vocês trocavam que havia amor. Com certeza
Jonas também aprova. Pois ele sabe que tu vais ser um ótimo pai para Ana Paula.
Parabéns! Vocês merecem ser feliz.
--
Obrigada.
--
E quando será o casamento? – perguntou Áurea.
--
O tempo de correr os papeis.—disse Claudio.
--
Eu já me casei uma vez. E agora penso que deve ser uma cerimônia intima, sem
vestido de noiva. Casamos no cartório. O que acham?
--
Por mim... Tu é quem decide. Eu só quero casar...
--
Eu acho que tens razão minha querida, uma coisa simples, mas lembra que o noivo
nunca casou e ele precisa ter o dia de ele ser o noivo. Então um vestido de
noiva para um ser um dia especial. Um almoço e vocês têm uma bela lembrança. –
opinou tia Áurea.
--
A tia está certa. Vamos ser noivos de verdade.
--
Mas quero pedir uma coisa para ti meu filho.
--
Diga...
--
Eu quero continuar morando aqui, se eu puder. Não quero morar junto com vocês.
Um casal deve ter a sua privacidade. Aqui fico bem pertinho.
--
Sim, e vou ver se Emily quer morar aqui contigo. Pelo menos a noite terá uma
pessoa junto, alguém para te contar as novidades.
--
Ótimo.
Um
tempo depois, eles estavam casados e
muito felizes. Michele tinha escolhido um vestido de noiva simples, mas que a deixou
deslumbrante e quando Claudio a viu
entrar na igreja ele se emocionou. Sem duvida alguma ela era mulher de
seus sonhos.
Agora
Claudio estava com o coração sossegado. A mulher que ele amava estava a seu lado,
e a pequena Ana logo teria um irmãozinho.
Maria
Ronety Canibal
Dezembro
de 2017.
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