sábado, 26 de agosto de 2017

O PRIMEIRO BEIJO


                                                 O PRIMEIRO BEIJO

Letícia estava completando dezoito anos. Estava feliz.  Sonhava com essa data. Era verão estava na praia, e resolveu sair para comemorar em um barzinho. Aline e Juliana estavam com ela. Seu irmão, Leonardo, que era dois anos mais velho do que ela, estava de flerte com Juliana e iria ao encontro delas mais tarde.
Logo que elas chegaram Letícia pôs os olhos em Bernardo que estava encostado no balcão tomando uma cerveja. Ela o conhecia ha muito tempo, ele era amigo de seu irmão. Ele também olhou para ela e a cumprimentou com sorriso lindo.
Aline  notou Bernardo e se colocou em posição de “ataque”. Letícia viu, mas não disse nada. Porém Juliana falou:
-- Que é isso Aline. Ele não tira o olho da Letícia. E tu ai te exibindo toda.
-- Ah. Eu não sabia que eles estão neste ponto.
Letícia retrucou:
-- Não tem ponto nenhum. Ele é amigo de meu irmão e nos conhecemos há muito tempo. Ele mora duas casas depois da minha aqui na praia.
Elas escolheram uma mesa e pediram bebidas. Pela primeira vez ela poderia tomar uma cerveja num bar. Agora era maior. E brindou a isso. Elas conversaram e riram.
Bernardo olhava para Letícia e pensava que ela tinha crescido e se tornado uma moça muito bonita, e que corpo! Ele tinha reparado mais cedo na praia. Ele achava  que ela era muito legal, nas vezes que tinham conversado, mas isso no ano anterior. Precisa se aproximar dela, mas com aquele pai que ela tinha era meio perigoso.
Então Leonardo chegou. E Bernardo foi falar com o amigo com quem não que nada, e Leo o chamou para vir sentar junto na mesa, era o aniversário de sua irmã, ela estava comemorando.
Quando os rapazes chegaram à mesa, Leo  apresentou amigo para a Aline e Juliana. Leonardo abriu espaço para eles e Bernardo acabou do lado de Aline de frente para Letícia, que o olhou com um sorriso como que de deboche. Ele revidou com um olhar sarcástico.
Mas ele gostou da reação dela. Era sinal que ela também queria estar ao lado dele. Ele queria conversar com ela, mas não se lembrava de nada interessante para dizer. Só respondia as perguntas da chata da Aline com monossílabos.
Letícia também não sabia o que falar. Só sorria para ele. Estava nervosa.  Mas Leonardo resolveu fazer um brinde para irmã e todos ergueram os copos. Então ele notou que ela estava tomando cerveja. Olhou para a irmã com uma cara feia, mas ela se adiantou e disse:
-- Maioridade, meu caro irmão. Fica na tua.
Bernardo olhou para ela e piscou o olho e a saudou com o copo. Aline viu e achou que ela estava sobrando no grupo. E levantou e disse que iria se juntar as amigas que estavam lá na frente.
Imediatamente Bernardo trocou de cadeira e sentou perto de Letícia. Agora sim poderia conversar melhor com ela. Leonardo estava entretido com Juliana. Ainda sem saber o que falar Letícia perguntou:
-- Desde quando estás aqui na praia?
-- Cheguei ontem. E tu?
-- Viemos na quinta feira e agora eu fico até o fim da temporada.
-- Que bom! Eu  vou ficar até o fim do mês.. Depois volto para o carnaval.
-- Pois é, lá em casa estamos brigando por causa do carnaval. Claro que eu quero ficar, mas meu pai quer ir para um lugar tranqüilo. Não agüento...
-- E ele continua o mesmo?
-- Sim, cada vez mais aprimorado. Hoje estou fazendo dezoito anos, espero ter um pouco mais de autonomia. Quero aprender a dirigir...
-- Eu posso te ensinar aqui na praia durante a semana, quando ele não está.
-- Seria uma boa, mas já estou inscrita curso.
-- Eu vi teu nome na lista de aprovados da PUC. Parabéns!
-- Obrigada. Foi difícil...
-- As provas?
-- Não! Ir para o curso que eu queria que, é Publicidade. Ele queria que eu fosse para Farmácia, assim continuaria a tradição familiar... Blá, blá ,blá...
-- Eu também estou  tirando publicidade na PUC. Qual teu horário?
-- A noite...
-- Então vamos nos encontrar seguidamente.
E Bernardo colocou sua mão sobre a dela e a olhou com sorriso de derreter corações. Ele era lindo! Alto, forte, bronzeado, olhos e cabelos castanhos e uns dentes brancos e lindos que deixava seu sorriso encantador. Dava vontade de apertar as bochechas.
Ficaram assim se olhando por um bom tempo, até que Leonardo os tirou do encantamento quando disse:
-- Maninha eu e a Ju vamos dar uma volta.
-- Sim, vai.
-- Como voltas para casa?
-- Eu a levo para casa, pode ficar tranqüilo. – disse Bernardo.
Depois que Leo e Ju saíram, eles ficaram ainda ali. Pediram mais uma bebida e agora estavam mais a vontade e o assunto surgiu e conversaram bastante. Já era passava da meia noite quando Letícia  falou:
-- Preciso ir. O velho controla meu horário, não dorme enquanto não chego.
-- Então vamos pelo caminho mais longo.
-- Pela praia?
-- Sim, hoje tem lua. O mar deve estar lindo, não queres ver?
-- Quero.
Ao sair do bar tomaram a direção da praia e Bernado pegou em sua mão, e a entrelaçou com a dele. Olhou para ela como que pedindo permissão e ela deu.
Realmente a noite estava linda. E a praia não estava deserta. Havia muita gente passeando a beira mar. Eles caminharam um pouco mais e Bernardo se aproximou mais dela. Tinha um ar frio e ele passou o braço e abraçou por sobre os ombros dela.
Letícia não reagia. Era tudo que queria. Seu sonho sempre foi estar com ele, beijar aquela boca linda, olhar em seus olhos e entregar-se toda a ele. Mas sabia que ele tinha fama de namorador, que trocava da namorada a cada mês. Mas ela queria arriscar. Seu irmão não iria ser contra, mas seu pai...
Caminharam assim abraçados em silêncio, curtindo o momento. Bernardo também estava com os pensamentos em desordem. Desde a manhã, quando a viu na praia, ela ficou em seu pensamento, e agora estava ali abraçada a ele. E ele estava gostando de estar assim, sentindo o perfume dela e sabendo que com ela teria que ser diferente, teria que ser coisa séria.
Quando chegaram perto da casa dela Bernardo parou junto a uma árvore, e olhou para ela e disse:
-- Eu não te cumprimentei pelo teu aniversário.
-- Não...
-- Feliz Aniversário minha linda! Tudo de muito bom para ti.
-- Obrigada.
Ele a abraçou e beijou. E ele percebeu que ela nunca tinha sido beijada. E isso o deixou bem entusiasmado e aprofundou o beijo, com sua língua a explorando e a deixando sem ar. Afastou um pouco, olhou para ela e tornou a beijar e ela agora retribuindo com certa timidez. Mais uma vez ele interrompeu o beijo e pediu que ela fizesse o mesmo que ele. Então sim o beijo os deixou sem fôlego. Ficaram se olhando e ele sussurrou:
-- Tu és especial... Amanhã te pego para irmos juntos a praia. Vamos vou te levar até a porta de casa.
-- Meu pai..
-- Vou ter que enfrentá-lo se quero ficar contigo.

Ela bateu a porta de sua casa e Bernardo ficou ali junto esperando que abrissem. Foi , Ivo, o pai dela quem abriu. E Bernardo disse logo:
-- Boa noite seu Ivo. A aniversariante está entregue.
-- Obrigada por trazê-la. Mas onde está teu irmão?
-- Ele foi levar Juliana em casa.
-- Tchau, até amanhã.
-- Tchau.
Ela ainda ficou olhando Bernardo e quando ele chegou ao portão virou-se e atirou um beijo pra ela. Ela retribuiu e entrou sorrindo. Seu pai estava ali olhando para ela com uma cara de quem não gostou do que viu. E falou:
-- Esse rapaz não serve para ti. Não te ilude. E tu ainda és uma criança...
-- Mas pai, eu fiz dezoito anos, e tu continua achando que sou criança. Até quando... Será que aos trinta tu ainda vai me achar sem idade para namorar?
-- Vai te deitar é tarde.
E Letícia foi para seu quarto, não para dormir, mas para sonhar acordada. Ela ria sozinha de tanta felicidade, ele a tinha beijado e que beijo. Ela tão boba não sabia corresponder ao beijo dele, foi preciso ele pedir. Que vergonha!
Bernardo foi para casa. Ainda era cedo e sua mãe se admirou dele já estar em casa aquela hora. E queria saber o tinha acontecido. Um sábado e ele em casa? Mas ele desconversou a mãe e foi para seu quarto.
Ele ficou pensando no beijo que tinham trocado. Nunca um beijo tinha mexido tanto com ele, e ela nem sabia beijar. Mas foi demais. Essa era para casar, ele sabia. Tão jovem tão pura e tão gostosa... Ele a queria com paixão. Algo queimou dentro dele quando sentiu o sabor do beijo de Letícia.
No outro dia cedo Bernardo estava pronto para ir a praia, sua irmã mais nova, Aline, gritou para sua mãe:
-- Mãe o Bernardo está bem? Ele já acordou e está pronto para ir a praia, e hoje é domingo...
Augusta veio rindo e caçoou dele:
-- Pois é desde ontem eu percebo algo errado com ele, mas ainda não descobri o que é...
Bernardo ficou zangado e saiu dizendo:
-- Não dá para agüentar vocês... Tchau.
E saiu. Foi para o outro lado e deu a volta no quarteirão para enganar sua irmã que estava espiando para saber onde ele ia. Chegou a casa de Letícia pelo outro lado e ela que o esperava sentada na frente da casa perguntou:
-- Está fugindo de quem?
-- Da pirralha da minha irmã.
Letícia avisou a mãe e saiu com Bernardo, lado a lado sem se darem as mãos. Ele sabia que a noite anterior tinha sido especial, até porque ela havia bebido cerveja, coisa que não estava acostumada, e estava levemente “alta”. Mas isso não anulava as sensações que tiveram com aquele beijo.
Em vez de sentaram junto com a turma ele propôs que fossem caminhar ao longo da praia. E Letícia achou ótimo, assim podiam conversar. E Bernardo disse:
-- Não vou me desculpar por ontem a noite, porque foi sensacional aquele nosso beijo. Eu quis muito te beijar, desde a hora em que entraste no bar.
-- E eu também.
-- Eu posso te considerar minha namorada?
-- Pode, mas não quero te dividir com ninguém...
-- Eu sei. E eu quero ser só teu...
Abraçaram-se e seguiram de mãos dadas. E quando eles chegaram junto aos amigos, Leonardo os olhou de cara atravessada e perguntou:
-- Desde quando?
E Bernardo disse ao amigo:
-- Desde hoje.
-- Cuidado cara. Ela é a minha irmã.
-- Eu sei...
Naquela tarde Leonardo foi conversar com sua irmã, ele estava preocupado, pois conhecia muito bem “os feitos” do amigo e não queria que sua irmã sofresse e muito menos que  fosse apenas mais uma conquista dele. Mas Letícia disse que sabia o que estava fazendo e que tinha colocado uma condição para namorarem.
Eles se viam sempre. Passavam o dia na praia e a noite eles saiam com a turma. Leonardo tinha engatado o namoro com Juliana e Aline estava saindo com Mauricio. Mas Letícia voltava para casa sozinha com Bernardo. E árvore servia de abrigo para se despedirem com muitos beijos, que acalentava não só  os sonhos românticos dela, mas os dele também. Ele tinha sonhos eróticos com ela.
Chegou o fim do mês e Bernardo iria voltar para a cidade onde estava começando a trabalhar na agencia de publicidade de seu pai. Ele viria só aos fins de semana.
Letícia sentia-se só. Ela só ia a praia e durante a noite não saia mais. Só quando Bernardo estava com ela. Para os dias passarem mais rápidos ela lia romances que a deixava mais ansiosa pela presença dele. E também curiosa. Ela estava decidida a perder sua virgindade com ele. Porque ela queria muito viver essas emoções, sentir essas sensações. E acima de tudo ela estava apaixonadíssima por ele.
Depois de muita discussão seu pai resolveu que passariam o carnaval na praia. Ela havia protestado e seu irmão havia dito que não iria para um lugar “sossegado” nem atado. E a mãe havia ficado do lado deles. Que depois da decisão recebeu muitos beijos dos filhos.
A praia ficava muito cheia na semana do carnaval, era um verdadeiro sufoco querer chegar a algum lugar. Mas os jovens adoravam. Eles faziam carnaval em bloco. Reuniam-se na casa de Paulo que tinha uma garagem muito grande e enfeitavam tudo, compravam bebida e comida e preparavam o som. Era legal. E faziam baile de máscaras. Deviam ir todos de preto e mascarados. Assim se divertiam, podiam até trocar de par.
Mas Bernardo nesse ano não queria participar dessa brincadeira. Então preveniu a Letícia, que eles tinham que ficar juntos o tempo todo para não dar problema.
Ela riu dele e disse:
-- Eu não vou te confundir com ninguém, conheço teu cheiro.
-- Mas depois que todo mundo já bebeu o cheiro fica igual, não quero correr o risco. Vamos usar algo que nos identifique e que só nos saibamos. O que poderia ser?
-- Um anel ou um colar...
-- Os dois. Vamos comprar material e fazer. Deixa que eu compro em Porto Alegre. Perto do escritório tem uma lojinha dessas coisas, vou mandar fazer para nós.
-- Legal. Segredo nosso.
Leonardo e Juliana não iriam participar do bloco, eles iriam para casa da tia dela em Tramandaí.
E na semana seguinte Bernardo chegou com os colares e anéis para eles. Era um tipo de aliança que ele pediu para fazer. Letícia quando viu adorou. A fantasia para as moças era um shortinho preto e uma mini blusa de alcinha, tudo preto. E os rapazes short e uma regata também preta.
Letícia era muito bem feita de corpo e tudo que ela vestia ficava muito bem e chamava atenção. E ele ficava com ciúme de ver os outros olhando para ela. Ela não usava biquíni, pois seu pai não deixava, mas mesmo de maiô ela despertava olhare. Também não usava bustiê ou outro tipo de blusa que deixava a barriga à mostra. Mas teria que usar a fantasia escondida do pai.
Ela saiu de casa com uma bermuda e uma camiseta por cima da fantasia. Quando eles chegaram ao local ela tirou e Bernardo ficou louco de ciúme, e viu os outros rapazes olhando para ela com olhos de quem quer provar. Ela a levou para um canto e sentaram em um bando. Assim ficava mais protegida da visão alheia.
Logo a festa deles iniciou, ligaram o som, diminuíram a luz e a brincadeira começou. Bernardo não quis beber nada alcoólico, precisa estar sóbrio para preservar sua namorada das mãos alheias.
Ela estava demais, com aquela roupinha, sem sutiã com os seios roçando em seu peito e ele estava ficando excitado. Letícia também sentia o volume dele e estava cheia de desejos.
O ambiente estava ficando pesado demais, o pessoal já estava sob a influência da bebida e estavam acontecendo muitas coisas que ele não queria que Letícia presenciasse. Assim como também entre eles a situação estava no limite.
Eles resolveram sair da garagem. Ele sabia que ela era virgem. Ele não pretendia abusar dela, ainda não era hora. Ela era uma menina bem criada, seus pais sempre muito rigorosos e embora ele sentisse que Letícia estava querendo se entregar, ele não iria proceder como um cafajeste.
Ele a levou para casa.
No outro dia não deu praia, amanheceu chovendo e Letícia aproveitou para dormir. Quando ela acordou encontrou Bernardo tomando chimarrão com seu pai. O velho enchendo o coitado de perguntas. Ela olhou do corredor, deu um abano e voltou para trocar o pijama.
Bernardo foi convidado para almoçar e depois da refeição eles foram deitar na rede, onde passaram a tarde toda, juntos, abraços, conversando e cochilando. Ainda chovia.
A noite o céu abriu e eles saíram para dar uma caminhada, foram até a praça tomaram um sorvete e Bernardo sugeriu que não fossem para o bloco. Aquilo não era ambiente para ela. Ela concordou. Nunca tinha ido e só foi parque estaria com ele.
E Letícia perguntou:
-- O que faremos?
-- Para mim basta estar contigo. Vamos ficar na tua casa, teu pai vai ficar mais sossegado e criar confiança em mim. Bah... ele me colocou na parede...
-- É? Me conta...
-- Ele foi muito claro comigo. Se for para diversão, que eu caia fora já, ou se for ao contrário, ele quer um namoro dentro dos parâmetros dele.
-- E...
-- E eu concordei com ele. Tu não és para diversão. Tu és uma guria muito legal e quero casar contigo.
-- Casar? Mas não é muito cedo para falar sobre isso.
-- Não! E eu falei para o teu pai isso, que a minha intenção é séria. Passou o tempo de diversão. Agora é namoro para casar.
Letícia ficou olhando para ele. Não estava acreditando no que ele dizia. Ele que tinha uma fama de conquistador, estava assim nocauteado diante dela? Não podia ser real.
Bernardo imaginou o que se passava pelo pensamento dela. Sorriu e disse:
-- Verdade. Estou gostando muito de ti.
E voltaram para casa abraçados e  felizes.  Os dias de carnaval eles passaram tranqüilos, iam a praia, almoçavam e ficavam a tarde toda por ali. Os pais de Letícia estavam satisfeitos com o procedimento dele.
Terminou o carnaval e o veraneio. As aulas iniciavam. Eles moravam relativamente perto e Bernardo sempre passava para pegar Letícia e iam e voltavam juntos da PUC.
O tempo passando e o namoro firmando. Até Leonardo deu a mão a palmatória, e confiava na boa intenção do amigo. Ele também estava namorando firme com Juliana. E seguidamente os dois casais saiam juntos, sobretudo sábado a noite.
Fazia três meses de namoro quando estourou a bomba.
Bernardo foi procurado por Anita que disse estar grávida dele e seu pai estava exigindo casamento.
A noticia se espalhou na faculdade. E Letícia estava assustada. Se isso chegasse aos ouvidos de seus pais, adeus namoro.
Bernardo conversou com Letícia e disse que ele tinha andado com ela sim, mas ele não era o único. Anita era bem popular e dava fácil para quem quisesse. E agora vinha com essa de casar. Ele tinha certeza que o filho não era dele, pois sempre usava camisinha. Ele estava exigindo exame de DNA. E que isso não podia intervir no namoro deles. Pois depois que eles estavam namorando ele não pegou mais ninguém.
Havia muita fofoca sobre o caso, e Letícia havia  dito que não iria dividi-lo com ninguém. E  Letícia afastou-se dele. Ela trocou o horário de seu curso para manhã. Agora não se viam mais.
Como Bernardo não a encontrava mais na faculdade, ele resolveu ir a casa de Letícia. Ele estava com resultado do exame e queria mostrar para ela o resultado negativo. Ele não tinha nada que ver com a gravidez de Anita.
Quando ele a viu, notou que ela estava pálida e abatida. Ela o recebeu com frieza. Não era aquela jovem que ele gostava tanto. Algo tinha se quebrado na relação deles e parecia que não tinha conserto.
 Bernardo saiu da casa dela de cabeça erguida, provou que ele tinha falado a verdade.  Mas seu coração estava arrasado. Ainda mais que ela tinha contado que seu pai conseguira uma bolsa de estudos na Universidade da Califórnia e ela estava  deixando a PUC, para tirar o curso todo nos EUA.
Ele sentiu que ela não estava entusiasmada com a idéia, que  havia sido imposta por seu pai. Pensando que dessa maneira os afastaria definitivamente.
Ela o levou até a porta. Ao se despedirem ela o olhou com tristeza no olhar e ele teve vontade de tomá-la nos braços e beijar aquela boca de lábios macios.. Mas se conteve. Apenas perguntou se poderiam se encontrar mais uma vez. E ela concordou. Então marcaram para sábado. Na outra semana ela já viajaria. Ela pediu que ele não viesse pega-la em casa, e sim, que eles se encontrassem no shopping.
O sábado amanheceu chovendo muito. Ela ficou ansiosa, se a chuva não parasse, ela teria dificuldade de sair de casa. Seu pai não deixaria. Mas no inicio da tarde a chuva parou e o sol apareceu. Ela se arrumou e disse que iria se encontrar com as amigas, era uma despedida. Talvez ela voltasse tarde. Que eles não se preocupassem, pois a trariam em casa.
Ela havia se arrumado com cuidado, queria estar bonita para ele, queria que ele a beijasse novamente e queria acima de tudo se entregar para ele. Se for para perder a virgindade que fosse com ele, a paixão de sua vida.
Quando ela chegou ao lugar combinado, ele já estava lá esperando por ela. Ele estava lindo. Ela não queria pensar que  ficaria longe dele. Por isso ela colocou um sorriso no rosto e se aproximou dele e o cumprimentou com um beijo leve em sua boca.
Ele aproveitou a deixa e a abraçou e a beijou na face junto a orelha. Ela estremeceu, e ele percebeu. Afastou-se dela e perguntou:
-- Onde queres ir?
-- Eu quero ficar contigo. Apenas isso. Tu escolhes o lugar.
-- Sejas um pouco mais clara... Queres estar a sós comigo...
-- Sim. Só nos dois!
-- Eu estou morando sozinho, queres ir para o meu apartamento?
-- Sim.
Ele a pegou pela mão e levou para o carro. Ele não estava acreditando que ela estava ali.  Durante o trajeto quase não falaram, apenas comentários sobre a chuva, e o trânsito. Mas ela o olhava com intensidade, parecia que queria gravar a imagem dele em sua memória.
O apartamento era legal, perto da casa dos pais dele. Ele disse que agora podia se manter. Trabalhava com o pai e estava buscando sua independência. Ela concordou com ele. O dia que ela pudesse ser dona de sua vontade ela seria muito feliz.
O apartamento ainda não estava todo mobiliado, tinha só o essencial. Ele ofereceu um café e ela aceitou. Sentaram nos bancos da bancada da cozinha para saborear o café. De repente Letícia disse:
-- Estar aqui contigo é um desafio para mim...
-- Eu sei, por isso fiquei confuso...
Ela riu e disse:
-- Estou sendo mandada para Califórnia porque meu pai exigiu que eu me afastasse de ti, alegando que és amoral. Ele não perguntou o que sinto, o que penso, ou o que eu quero. Agiu por conta própria, só me avisou depois que já estava tudo certo. E tenho para mim que de qualquer forma ele me mandaria para lá. Ele te amigos influentes, ele estudou lá. Leo não aceitou ir, inclusive está saindo de casa. Não suporta mais a rigidez de meus pais, que agora estão contra a Juliana.
-- Por quê?
-- Porque eles estão juntos, quero dizer dormindo juntos.
-- E porque tu resolveste desafiar teu pai?
-- Por que eu te quero e quero levar uma boa lembrança de nós.
-- É o que mais anseio, desde o nosso primeiro beijo eu tenho imaginado estar contigo, te fazer minha.
Letícia  estava um pouco encabulada. Queria tanto, mas agora uma timidez tomou conta dela. Bernardo percebeu e a abraçou, e eles ficaram assim um bom tempo. Apenas abraçados. Ela precisava de tempo. Ele beijava sua cabeça.
Depois ele a levou para o quarto. Ela estava corada, sem ação, mas não deixava de olhar nos olhos dele. Sentaram a beira da cama e ele insistiu:
-- Minha linda... Podemos ir adiante?
Ela sacudiu afirmativamente a cabeça. Ele a apertou em seu braços e sussurrou ao ouvido dela:
-- Eu vou fazer tudo o que quiseres. É só me dizer. E se queres parar, tudo bem.
-- Me beija.
E ele a deitou na cama e a beijou com amor, com carinho e sua mão foi deslizando pelo corpo dela. E ele aos poucos foi aprofundando o beijo e fazendo com ela correspondesse aos seus carinhos. Ele com delicadeza conduziu as caricias, e aos pouco foi a despindo. A cada peça de roupa que tirava dela ele ficava extasiado com tamanha beleza. E ele beijava cada pedacinho de pele que desnudava. Ela estava se sentindo uma diva com tanta reverencia que ele prestava a sua beleza. Por fim ele pediu que ela tirasse a roupa  dele. E ela tirou. Agora foi ela quem ficou arrebatada por ele. Ele era magnífico! E Letícia o beijou todinho.
Amaram-se com ardor. O amor que os unia era imenso. E eles puderam comprovar isso ao se tornarem um só.
Ficaram ali deitados, abraçados, cansados. Eles tinham em suas mentes que depois do que aconteceu entre eles, a distância os faria sofrer. Letícia deixou as lágrimas escorrerem. Bernardo as secava com beijos, mas seu coração estava em pedaços.
Bernardo sussurrou:
--Por quê? 
-- Por que eu me sujeito à vontade de meu pai?
-- Sim!
-- Eu não tenho alternativa. Se eu me rebelar o que vou fazer na vida. Sem dinheiro, sem diploma. Preciso me formar. E vou aproveitar ao máximo o curso. É o caminho da minha independência. O Leo ta saindo de casa, mas não sei se ele vai poder continuar a faculdade. Vai ter que trabalhar para se sustentar e de onde virá o dinheiro para pagar o curso? Meu pai cortou a verba dele. E minha mãe só chora e não reage.
-- Ele precisa de um psiquiatra.
-- Com urgência.
Bernardo  vestiu a cueca e Letícia sua roupa interior.. Eles estavam famintos. Foram para cozinha fazer um omelete. Bernardo abriu um vinho.
Letícia foi até a janela e ficou encantada com a parte da cidade que se avistava dali. Já era noite e a iluminação realçava a paisagem noturna. Ele foi até ela e abraçados voltaram para cama. Precisavam se amar novamente, precisavam se esgotar.
Era quase duas horas da madrugada quando Bernardo deixou Letícia em casa com a promessa de se encontraram no outro dia. Ela iria para o apartamento dele.
Quando ela entrou em casa seu pai estava esperando por ela e estava furioso. Ela tinha mentido para ele, com quem ela estava, com as amigas não era. E ela cansada disse:
-- Não te interessa. Não vais me mandar para o outro hemisfério e quer continuar me controlando? Não é incoerência?
E ela foi para seu quarto. Queria ficar só, queria relembrar cada sensação, cada instante que estava com Bernardo. Queria guardar essa tarde como a mais bela de sua vida.
Bernardo voltou para seu apartamento, deitou-se na cama e sentia o cheiro dela que estava impregnado no ar. Tinha sido maravilhoso. Ela era esplendida, e mesmo sendo sua primeira vez, ela soubera responder as caricias. Ela era ousada e ele gostou muito desse predicado dela. Não conseguia dormir... Mas precisava recobrar as energias, dali a poucas horas ela estaria ali com ele outra vez.
Leticia acordou, tomou um banho e disse que ia sair. Sua mãe ficou abismada com a atitude da filha, que saiu sem dar satisfação de onde ia. Só agora Letícia se deu conta que ficou muito tempo atada as convenções de seus pais.
Chegou ao apartamento de Bernardo cedo. Ele estava saindo do banho e a recebeu enrolado em uma toalha. Ela olhou e riu. E disse:
-- Já estás pronto?
Ele riu e anuiu. E não perdeu tempo. A levou para a cama, tinham muito o que fazer. E eles passaram o domingo todo na cama, com pequenos intervalos para se alimentarem. Riram, conversaram e se amaram muito. Ela ia embarcar na terça feira. E ele prometeu que iria despedir-se dela no aeroporto. Ela pediu que não fosse, seria muito difícil.
Quando ele a levava para casa uma idéia surgiu e ele muito animado disse:
-- Eu vou te visitar.
-- Ah... Seria muito bom.
-- Vou fazer uma programação, talvez eu possa ir a cada dois meses e tu vens nas férias. Que achas?
-- Maravilhoso. E o custo disso, já pensou? Não importa o dinheiro a gente trabalha e ganha de novo, mas a saudade dilacera o coração.
Ele parou o carro em frente a casa dela e não a deixava sair, a envolveu com seus braços e ambos choraram. Depois de um beijo longo ela desceu e correu para porta. Abriu e entrou sem olhar para trás.
Na terça ela embarcou e foi chorando. Seu coração havia ficado com ele. Nunca mais resgataria. Mas tinha esperança que logo estariam juntos, Ele ia vê-la.
Mas os planos deles não deram certo.
Bernardo não conseguiu renovar seu visto, pois a embaixada não estava liberando por tempo indeterminado. Eles se comunicavam diariamente pelo Skype.
Letícia estava se adaptando facilmente a vida de universitária. Sem o controle de pai se sentia livre. Já tinha feito amigos e estava gostando do curso. Ela tinha conseguido um trabalho após a aula, como bibliotecária, o que dava ela algum dinheiro para guardar para seu futuro.
Ela propôs para Bernardo preitear  a sua transferência para lá. Seria maravilhoso!
Ela sonhava com a presença de Bernardo. Sentia uma saudade imensa dele. Mas ela sentiu ele estava estranho, diferente, calado, na ultima vez que falaram. Porém ele não disse o que era, apenas falou que estavam com problemas familiares. E suas ligações estavam cada vez mais espaçadas e ele sempre muito triste.
Letícia todos os dias envia e-mail para ele, contando sobre tudo que fizera, e ele não estava respondendo. Ela não iria desistir...
O fato é que Bernardo não queria preocupar Letícia, que estava tão feliz, com as aflições que sua família estava enfrentando.  De repente o mundo desabou sobre ele. Sua namorada estava distante, sua mãe foi diagnosticada com câncer e seu pai sofrera um AVC.
E agora ele precisava cuidar de tudo. Da agencia do pai, dos estudos dele e da irmã, enfim, da família toda. Sua irmã mais nova, não conseguia aceitar essa mudança repentina em sua vida. Não se conformava com a doença da mãe e a situação do pai.
E o tempo passava e Leticia decidiu dar um ultimato em Bernardo. Ela enviou um e-mail para ele onde dizia:
“ Bernardo!     Eu não sei o que está acontecendo contigo.  Eu tenho te enviado todos os dias um e-mail contando sobre mim, e tu não me respondes, não sei nem se foram lidos por ti. Sinto-me magoada, pois tu não confiastes em mim o suficiente para dividir comigo as tuas tristezas e as tuas dificuldades. Eu te amo e sempre vou te amar. Mas não vou mais esperar por ti. Portanto a partir desse instante estamos rompidos. Pode cuidar da tua vida sossegado que eu cuidarei da minha sozinha. Peço a Deus que te ajude.    Letícia.”
Ela tinha esperança que ele respondesse e não aceitasse a o rompimento do namoro. Mas ele não deu retorno.
Apesar da amargura que tomou conta de seu coração, Bernardo queria que Letícia ficasse fora de tudo isso que estava acontecendo em sua vida. Ela era linda, jovem e logo estaria com um novo namorado. Ele estava muito enrolado.
A situação familiar de Bernardo estava a cada dia mais complicada. Seu pai havia ficado com seqüelas graves depois do AVC. Tinha dificuldade para falar, engolir e caminhar. Sua mãe não  reagiu positivamente  ao tratamento de quimioterapia, e estava definhando. A cada dia ficava mais fraca. E sua irmã em depressão.
Mas Bernardo não se lastimava. Amava seus familiares e estava procurando dar o melhor para eles. Tinha sua consciência tranqüila, estava cumprindo seu dever de filho.
Depois de um ano sua mãe faleceu e seu pai havia piorado muito, porém sua irmã estava bem. Agora estava o ajudando no cuidado do pai.
O tempo passou e Bernardo após poucos pode reorganizar sua vida. E voltou a morar sozinho. Agora pretendia ir atrás de Letícia. Ela deveria estar terminando o curso.
Ele ligou para ela e deu numero inexistente. Mandou e-mail e retornou. Vasculhou as redes sociais e não a encontrou. Ele resolveu ir até a casa dos pais dela. Parou em frente a casa e o que viu foi um prédio em demolição. Ele entrou em pânico. Procurou por Leonardo e ele havia se mudado para São Paulo. Como iria encontrá-la?
Então Bernardo decidiu ir a Califórnia. Renovou seu visto, acertou tudo na agencia e com sua irmã. Embarcou confiante que a encontraria. Nem que fosse a direção da universidade buscar informações sobre seu paradeiro.
Bernardo chegou, procurou sua hospedagem e foi para o campus. Ao chegar ficou impressionado com o conjunto, com seus prédios antigos e os mais modernos, fazendo do lugar um ambiente acolhedor.
Pediu informações e foi até o prédio de Curso de Publicidade. Andou por ali, era horário de aula. Sentou em um banco perto da porta e ficou aguardando. Seu coração estava agitado, essa expectativa o estava deixando cheio de adrenalina. Levou e caminhou um pouco, talvez se acalmasse. E ele nem tinha certeza se a encontraria assim logo de chegada. E o mais inquietante, era que ela poderia estar comprometida com outro, apaixonada por outra pessoa. E isso o estava deixando louco. Precisava saber.
Tocou a cigarra e os alunos começaram a sair. Ele encostou-se em uma árvore próxima a saída e fixou seus olhos no vão da porta. Ela não passou por ali. Havia umas moças paradas conversando, ele aproximou-se delas, pediu licença e perguntou se conheciam Letícia, especificou como uma brasileira que devia estar no ultimo ano. As mocas se entreolharam e responderam que não conheciam. Mas uma das moças ficou em duvida e ele insistiu com ela. Que por fim falou.
-- Eu acho que sei quem é. Ela deve estar na biblioteca.
Ele agradeceu e foi para a biblioteca. Era uma sala enorme, com mesas cumpridas com muitos estudantes realizando suas pesquisas. O ambiente era de absoluto silêncio.
Bernardo precisava ser discreto, não podia tumultuar o lugar. Então se dirigiu bem devagar para o corredor entre as estantes e dali olhava atentamente para as moças  que estavam na sala.  Ela não estava ali.
Ele ficou muito decepcionado. Mas seu coração continuava agitado, como se ele detectasse a proximidade dela. Então Bernardo começou a andar por entre as estantes, talvez ele estivesse por ali namorando. Não! Não queria pensar nesta possibilidade. Ela também não estava ali.
Então ele resolveu ir até o balcão de informações. Suas pernas estavam esquisitas, pareciam que fraquejava, ele iria cair no meio da biblioteca. Pois de repente uma fraqueza se apoderou dele. Parou e respirou fundo e seguiu bem devagar.
Encostou-se no balcão buscando apoio. Seu corpo tremia. Ele estava com dificuldade de respirar. A moça que atendia virou para atendê-lo e ela empalideceu. A sua frente estava ele,Bernardo, o amor de sua vida, mas agora, já era página virada.
Quando Bernardo pôs os olhos nela, ele paralisou. Ficou ali parado olhando para a sua Letícia e sem conseguir emitir nenhum som, e tão pouco se mexer. Só depois de alguns minutos que ele pode sorrir e dizer:
-- Letícia, quanta saudade.
Mas Letícia não disse nada, apenas olhava para ele e deixava as lágrimas rolarem. E murmurou:
-- Tu vieste... Tu vieste.    
Ele queria pular o balcão e a abraçar e beijar.  Então falou:
-- Tem um lugar onde podemos conversar?
-- Sim. Por aqui.
E Letícia avisou sua colega que iria sair um pouco. E ela o levou para uma sala, ao lado. Ela fechou a porta, e foi sentar atrás da escrivaninha, deixando ele plantado no meio da sala. Mas ela logo pediu que ele sentasse na cadeira em  frente a escrivaninha.
Bernardo que queria estar com ela em seus braços, ficou tenso. Percebeu que havia outra pessoa entre eles. Mas mesmo assim se propôs a contar para ela o porquê de seu silêncio. E assim fez. Ela escutou sem interromper. E concluiu dizendo:
-- Meus planos deram todos errados. Tudo o que eu mais queria era estar perto de ti, mas não pude. Não podia te colocar naquele turbilhão de tristeza. Eu sempre te amei. E quero saber: Tu ainda me amas? Tem outro em tua vida?
Letícia o olhou com uma consternação no olhar e não respondeu.
O silêncio tomou conta da sala. Só se escutava a respiração difícil deles. Ambos estavam emocionadas, estavam se segurando para não se agarrarem. Mas Bernardo se levantou e disse:
-- Não podemos sair para conversarmos em outro lugar?
-- Não!
-- Por quê?
-- Estou comprometida, vou casar com John.
-- E tu o amas?
-- Ele é bom para mim... Eu gosto dele...
-- Eu perguntei se tu o amas. Ama?
Ela levantou e foi até a janela, permaneceu de costas para ele e não respondeu. Bernardo estava irritado, pegou um papel em cima da escrivaninha, anotou seu numero de telefone e disse ao se dirigir a porta:
-- Eu vou ficar aqui até sábado. Se resolver conversar comigo me liga. Esta aqui meu numero. Adeus.
E saiu a passo firme. Por dentro ele estava demolido, mas ela tinha dado um novo rumo em sua vida, era preciso aceitar.
Letícia também estava arrasada. Seus pais tinham morrido em um acidente de carro na estrada para San Diego, e foi John seu colega  que a ajudou, deu todo o apoio. E ela estava muito vulnerável e aceitou sua proposta. Seu irmão tinha pedido a ela que não se comprometesse com John, deveria dar mais uma chance a Bernardo, que ele sabia que estava enfrentando problemas de doenças com sua família. Mas ela estava com raiva dele, mas hoje ao vê-lo ali tão perto dela, teve vontade de pular no colo dele e de beijar e fazer amor... Seu coração estava descompassado... O que iria fazer? Hoje era segunda feira... E ele cumpriu sua promessa, veio até ela. E John? Precisava colocar seus pensamentos em ordem. Pegou o numero dele e registrou em seu telefone.
Bernardo chegou ao albergue e atirou-se na cama. Precisava chorar... Chorar como criança. Ele perdeu a mulher de sua vida. E adormeceu. Acordou com o som do telefone que estava chamando. Ainda meio desorientado, ele atendeu a chamada, e era Letícia, querendo saber onde ele estava hospedado.
Bernardo deu o nome do lugar e foi tomar um banho. Ela não disse nada mais. Só queria saber onde ele estava. Será que viria até ele? Ou era só curiosidade?
Estava quente, e enrolado na toalha ele começou a tirar suas roupas da mala e ajeitar no armário. Ligou  a TV. Foi até a janela afastou a blackout e espiou a rua. Era fim de tarde. Pensou em dar uma volta, mas mais tarde, estava ainda muito quente.
Bateram  a porta. Ele foi abrir.
E Letícia se atirou em seus braços chorando. Ele fechou a porta e a abraçou. Ela olhou para ele e foi se aproximando até suas bocas se tocarem e se beijaram com paixão, lembrando o primeiro beijo quando um desejo inundou seus corações. Letícia se colou ao corpo dele, acariciou suas costas nuas e  Bernardo retribui o afago por baixo da blusa dela. E como que enlouquecidos eles se despiram e foram para cama numa ânsia de se dar, de descontar o tempo perdido. Ela se entregou a ele como na primeira vez. Eles faizeram amor com frenesi.
Depois, eles cansados se deitaram de costas de mãos dadas. Ele não disse nada, esperou,  que fosse ela que quebrasse o encantamento. Só após algum tempo é que Letícia começou a falar e contou tudo para ele. E justificou o seu compromisso com John. Mas em nenhum momento ela falou em amor, dando entender que ela tinha gratidão a John, apenas reconhecimento pelo amparo que deu a ela.
Bernardo levantou-se da cama, foi para o banheiro tomar uma ducha fria. Precisava pensar, porque deveria haver um jeito de a fazer entender que eles precisavam ficar juntos, que eles tinham uma química muito forte e um amor profundo.
Voltou ao quarto e começou a se vestir, ela ainda estava deitada nua na cama, o seguindo com os olhos.  Ele sentou na borda da cama, beijou sua barriga e disse:
-- Minha linda, vai tmar uma chuveirada, tem toalha limpa no banheiro e vamos sair para comer alguma coisa. Estou com fome, não almocei hoje.
Ela sorriu, deu um beijo nele e foi para o banheiro. Voltou enrolada na toalha, ele a olhou e se excitou. Ela deu um risinho e vestiu suas roupas.          Sairam de mãos dadas como namorados.
Ela o levou em um lugar ali perto, num lugar bem acolhedor, com uma boa comida portuguesa. Eles pediram bacalhau acompanhado de vinho. Beberam enquanto esperam o prato. Jantaram tranqüilos, e depois  andam pela cidade.
Letícia disse que morava ali perto, a três quarteirões dali. E o convidou para conhecer o lugar onde ela morava. Então ele perguntou:
-- Conhecer o lugar onde vocês moram?Não quero.
-- O lugar onde eu moro. Não moramos juntos.
-- Não! Não por falta de vontade dele, mas eu disse que só depois de casados.
-- Hum... E onde ele mora?
-- Ele não está mais aqui. Já terminou o curso e  trabalha e mora em San Bernardino. Na vinícola da família dele.
-- Hum. Então vamos ver o teu refúgio como é.
E ela o levou. Era um lugar bem pequeno, mas limpo e arrumado. A cara dela. Ela fez um café e ficaram conversando. Ela sempre morou ali, desde que chegou. E ela bem entusiasmada perguntou:
-- Não queres ficar hospedado aqui?
-- Acho melhor não. Vai que o John chegue...
-- Não tem perigo. Ele não virá por esses dias.
-- Não. Fico onde estou.
-- Mas por quê?
-- Porque não posso ficar aqui, aonde tu  dormes com ele.
Ela olhou para ele e ficou pensativa. Ele estava para perguntar mais sobre a relação dela com esse homem, mas não queria estragar a semana que tinham pela frente. Ele resolveu ir para seu albergue. Despediram-se com o compromisso de se encontrarem no fim da tarde. Ele iria esperá-la na saída da faculdade. Ele deu um beijo nela e saiu.
Bernardo decidiu não forçar o assunto sobre eles. Passearam e visitaram lugares interessantes, ela indicou museus para ele ir enquanto ela estava na aula.
Letícia estava alegre com a presença dele, matando a saudades dele, daquele jeito especial dele, que a tratava como uma princesa. Ela sentia falta desse química que rolava entre eles, desse entendimento em que apenas um olhar bastava, não precisavam de palavras, eles combinavam perfeitamente e sobretudo na cama. Eles não tinham feito mais amor. Claro, ele não ia forçar nada, respeitava a compromisso dela. Aquela noite foi um acontecimento inesperado, força da saudade, força do desejo.
E Letícia sabia que não tinha nada disso entre ela e John. Ele era muito cerimonioso em tudo. Sua família era muito rica e importante em todo o estado da Califórnia. Para ser bem sincera, eles eram muito pedantes.
Ela não amava John. O amor de sua vida era Bernardo. Tinha que resolver isso, antes dele ir embora e faltavam só dois dias. Teria que resolver tudo hoje. Para depois poder curtir os dois inteiros com Bernardo. Faltava pouco para ela terminar o curso, mais dois meses e eles ficariam juntos.
E ela telefonou para o John.
John era um cara bom. Sabia da historia dela e aceitou tudo numa boa. Ele a amava, mas sabia que eram muito diferentes, em tudo. Ela nunca se adaptaria a sua família.
No outro dia Letícia chegou cedo ao albergue em que Bernardo estava hospedado. Bateu a porta e  esperou. Bernardo abriu e ela se dependurou em seu pescoço dizendo:
-- Eu te amo, te amo, te amo.
Bernardo a abraçou e estava surpreso com a atitude dela, que assim de repente apareceu como se não tivesse compromisso algum. Mas ela logo esclareceu tudo para ele. Que a pegou no colo, e a beijou e a levou para cama. E fizeram amor com verdadeira loucura. Passaram toda a manhã na cama e pediram um lanche, fizeram uma sestea, se amaram novamente e só à tardinha saíram  para passear e curtir a cidade.
Despediram-se no aeroporto com a promessa de logo estarem juntos.
Um ano depois.
Letícia chega ao escritório com um largo sorriso em seu rosto. Bernardo vai ao seu encontro, e a abraça. Sabe qual é a boa noticia, logo ele será pai.
                                                        Maria Ronety Canibal
                                                             Agosto de 2017

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