O PRIMEIRO
BEIJO
Letícia
estava completando dezoito anos. Estava feliz.
Sonhava com essa data. Era verão estava na praia, e resolveu sair para
comemorar em um barzinho. Aline e Juliana estavam com ela. Seu irmão, Leonardo,
que era dois anos mais velho do que ela, estava de flerte com Juliana e iria ao
encontro delas mais tarde.
Logo
que elas chegaram Letícia pôs os olhos em Bernardo que estava encostado no
balcão tomando uma cerveja. Ela o conhecia ha muito tempo, ele era amigo de seu
irmão. Ele também olhou para ela e a cumprimentou com sorriso lindo.
Aline notou Bernardo e se colocou em posição de
“ataque”. Letícia viu, mas não disse nada. Porém Juliana falou:
--
Que é isso Aline. Ele não tira o olho da Letícia. E tu ai te exibindo toda.
--
Ah. Eu não sabia que eles estão neste ponto.
Letícia
retrucou:
--
Não tem ponto nenhum. Ele é amigo de meu irmão e nos conhecemos há muito tempo.
Ele mora duas casas depois da minha aqui na praia.
Elas
escolheram uma mesa e pediram bebidas. Pela primeira vez ela poderia tomar uma
cerveja num bar. Agora era maior. E brindou a isso. Elas conversaram e riram.
Bernardo
olhava para Letícia e pensava que ela tinha crescido e se tornado uma moça
muito bonita, e que corpo! Ele tinha reparado mais cedo na praia. Ele achava que ela era muito legal, nas vezes que tinham
conversado, mas isso no ano anterior. Precisa se aproximar dela, mas com aquele
pai que ela tinha era meio perigoso.
Então
Leonardo chegou. E Bernardo foi falar com o amigo com quem não que nada, e Leo
o chamou para vir sentar junto na mesa, era o aniversário de sua irmã, ela
estava comemorando.
Quando
os rapazes chegaram à mesa, Leo apresentou amigo para a Aline e Juliana.
Leonardo abriu espaço para eles e Bernardo acabou do lado de Aline de frente
para Letícia, que o olhou com um sorriso como que de deboche. Ele revidou com
um olhar sarcástico.
Mas
ele gostou da reação dela. Era sinal que ela também queria estar ao lado dele.
Ele queria conversar com ela, mas não se lembrava de nada interessante para
dizer. Só respondia as perguntas da chata da Aline com monossílabos.
Letícia
também não sabia o que falar. Só sorria para ele. Estava nervosa. Mas Leonardo resolveu fazer um brinde para
irmã e todos ergueram os copos. Então ele notou que ela estava tomando cerveja.
Olhou para a irmã com uma cara feia, mas ela se adiantou e disse:
--
Maioridade, meu caro irmão. Fica na tua.
Bernardo
olhou para ela e piscou o olho e a saudou com o copo. Aline viu e achou que ela
estava sobrando no grupo. E levantou e disse que iria se juntar as amigas que
estavam lá na frente.
Imediatamente
Bernardo trocou de cadeira e sentou perto de Letícia. Agora sim poderia
conversar melhor com ela. Leonardo estava entretido com Juliana. Ainda sem
saber o que falar Letícia perguntou:
--
Desde quando estás aqui na praia?
--
Cheguei ontem. E tu?
--
Viemos na quinta feira e agora eu fico até o fim da temporada.
--
Que bom! Eu vou ficar até o fim do mês..
Depois volto para o carnaval.
--
Pois é, lá em casa estamos brigando por causa do carnaval. Claro que eu quero
ficar, mas meu pai quer ir para um lugar tranqüilo. Não agüento...
--
E ele continua o mesmo?
--
Sim, cada vez mais aprimorado. Hoje estou fazendo dezoito anos, espero ter um
pouco mais de autonomia. Quero aprender a dirigir...
--
Eu posso te ensinar aqui na praia durante a semana, quando ele não está.
--
Seria uma boa, mas já estou inscrita curso.
--
Eu vi teu nome na lista de aprovados da PUC. Parabéns!
--
Obrigada. Foi difícil...
--
As provas?
--
Não! Ir para o curso que eu queria que, é Publicidade. Ele queria que eu fosse
para Farmácia, assim continuaria a tradição familiar... Blá, blá ,blá...
--
Eu também estou tirando publicidade na
PUC. Qual teu horário?
--
A noite...
--
Então vamos nos encontrar seguidamente.
E
Bernardo colocou sua mão sobre a dela e a olhou com sorriso de derreter
corações. Ele era lindo! Alto, forte, bronzeado, olhos e cabelos castanhos e
uns dentes brancos e lindos que deixava seu sorriso encantador. Dava vontade de
apertar as bochechas.
Ficaram
assim se olhando por um bom tempo, até que Leonardo os tirou do encantamento
quando disse:
--
Maninha eu e a Ju vamos dar uma volta.
--
Sim, vai.
--
Como voltas para casa?
--
Eu a levo para casa, pode ficar tranqüilo. – disse Bernardo.
Depois
que Leo e Ju saíram, eles ficaram ainda ali. Pediram mais uma bebida e agora
estavam mais a vontade e o assunto surgiu e conversaram bastante. Já era
passava da meia noite quando Letícia
falou:
--
Preciso ir. O velho controla meu horário, não dorme enquanto não chego.
--
Então vamos pelo caminho mais longo.
--
Pela praia?
--
Sim, hoje tem lua. O mar deve estar lindo, não queres ver?
--
Quero.
Ao
sair do bar tomaram a direção da praia e Bernado pegou em sua mão, e a
entrelaçou com a dele. Olhou para ela como que pedindo permissão e ela deu.
Realmente
a noite estava linda. E a praia não estava deserta. Havia muita gente passeando
a beira mar. Eles caminharam um pouco mais e Bernardo se aproximou mais dela.
Tinha um ar frio e ele passou o braço e abraçou por sobre os ombros dela.
Letícia
não reagia. Era tudo que queria. Seu sonho sempre foi estar com ele, beijar
aquela boca linda, olhar em seus olhos e entregar-se toda a ele. Mas sabia que
ele tinha fama de namorador, que trocava da namorada a cada mês. Mas ela queria
arriscar. Seu irmão não iria ser contra, mas seu pai...
Caminharam
assim abraçados em silêncio, curtindo o momento. Bernardo também estava com os
pensamentos em desordem. Desde a manhã, quando a viu na praia, ela ficou em seu
pensamento, e agora estava ali abraçada a ele. E ele estava gostando de estar
assim, sentindo o perfume dela e sabendo que com ela teria que ser diferente,
teria que ser coisa séria.
Quando
chegaram perto da casa dela Bernardo parou junto a uma árvore, e olhou para ela
e disse:
--
Eu não te cumprimentei pelo teu aniversário.
--
Não...
--
Feliz Aniversário minha linda! Tudo de muito bom para ti.
--
Obrigada.
Ele
a abraçou e beijou. E ele percebeu que ela nunca tinha sido beijada. E isso o
deixou bem entusiasmado e aprofundou o beijo, com sua língua a explorando e a
deixando sem ar. Afastou um pouco, olhou para ela e tornou a beijar e ela agora
retribuindo com certa timidez. Mais uma vez ele interrompeu o beijo e pediu que
ela fizesse o mesmo que ele. Então sim o beijo os deixou sem fôlego. Ficaram se
olhando e ele sussurrou:
--
Tu és especial... Amanhã te pego para irmos juntos a praia. Vamos vou te levar
até a porta de casa.
--
Meu pai..
--
Vou ter que enfrentá-lo se quero ficar contigo.
Ela
bateu a porta de sua casa e Bernardo ficou ali junto esperando que abrissem.
Foi , Ivo, o pai dela quem abriu. E Bernardo disse logo:
--
Boa noite seu Ivo. A aniversariante está entregue.
--
Obrigada por trazê-la. Mas onde está teu irmão?
--
Ele foi levar Juliana em casa.
--
Tchau, até amanhã.
--
Tchau.
Ela
ainda ficou olhando Bernardo e quando ele chegou ao portão virou-se e atirou um
beijo pra ela. Ela retribuiu e entrou sorrindo. Seu pai estava ali olhando para
ela com uma cara de quem não gostou do que viu. E falou:
--
Esse rapaz não serve para ti. Não te ilude. E tu ainda és uma criança...
--
Mas pai, eu fiz dezoito anos, e tu continua achando que sou criança. Até
quando... Será que aos trinta tu ainda vai me achar sem idade para namorar?
--
Vai te deitar é tarde.
E
Letícia foi para seu quarto, não para dormir, mas para sonhar acordada. Ela ria
sozinha de tanta felicidade, ele a tinha beijado e que beijo. Ela tão boba não
sabia corresponder ao beijo dele, foi preciso ele pedir. Que vergonha!
Bernardo
foi para casa. Ainda era cedo e sua mãe se admirou dele já estar em casa aquela
hora. E queria saber o tinha acontecido. Um sábado e ele em casa? Mas ele
desconversou a mãe e foi para seu quarto.
Ele
ficou pensando no beijo que tinham trocado. Nunca um beijo tinha mexido tanto
com ele, e ela nem sabia beijar. Mas foi demais. Essa era para casar, ele
sabia. Tão jovem tão pura e tão gostosa... Ele a queria com paixão. Algo
queimou dentro dele quando sentiu o sabor do beijo de Letícia.
No
outro dia cedo Bernardo estava pronto para ir a praia, sua irmã mais nova,
Aline, gritou para sua mãe:
--
Mãe o Bernardo está bem? Ele já acordou e está pronto para ir a praia, e hoje é
domingo...
Augusta
veio rindo e caçoou dele:
--
Pois é desde ontem eu percebo algo errado com ele, mas ainda não descobri o que
é...
Bernardo
ficou zangado e saiu dizendo:
--
Não dá para agüentar vocês... Tchau.
E
saiu. Foi para o outro lado e deu a volta no quarteirão para enganar sua irmã
que estava espiando para saber onde ele ia. Chegou a casa de Letícia pelo outro
lado e ela que o esperava sentada na frente da casa perguntou:
--
Está fugindo de quem?
--
Da pirralha da minha irmã.
Letícia
avisou a mãe e saiu com Bernardo, lado a lado sem se darem as mãos. Ele sabia
que a noite anterior tinha sido especial, até porque ela havia bebido cerveja,
coisa que não estava acostumada, e estava levemente “alta”. Mas isso não
anulava as sensações que tiveram com aquele beijo.
Em
vez de sentaram junto com a turma ele propôs que fossem caminhar ao longo da
praia. E Letícia achou ótimo, assim podiam conversar. E Bernardo disse:
--
Não vou me desculpar por ontem a noite, porque foi sensacional aquele nosso
beijo. Eu quis muito te beijar, desde a hora em que entraste no bar.
--
E eu também.
--
Eu posso te considerar minha namorada?
--
Pode, mas não quero te dividir com ninguém...
--
Eu sei. E eu quero ser só teu...
Abraçaram-se
e seguiram de mãos dadas. E quando eles chegaram junto aos amigos, Leonardo os
olhou de cara atravessada e perguntou:
--
Desde quando?
E
Bernardo disse ao amigo:
--
Desde hoje.
--
Cuidado cara. Ela é a minha irmã.
--
Eu sei...
Naquela
tarde Leonardo foi conversar com sua irmã, ele estava preocupado, pois conhecia
muito bem “os feitos” do amigo e não queria que sua irmã sofresse e muito menos
que fosse apenas mais uma conquista
dele. Mas Letícia disse que sabia o que estava fazendo e que tinha colocado uma
condição para namorarem.
Eles
se viam sempre. Passavam o dia na praia e a noite eles saiam com a turma.
Leonardo tinha engatado o namoro com Juliana e Aline estava saindo com
Mauricio. Mas Letícia voltava para casa sozinha com Bernardo. E árvore servia
de abrigo para se despedirem com muitos beijos, que acalentava não só os sonhos românticos dela, mas os dele
também. Ele tinha sonhos eróticos com ela.
Chegou
o fim do mês e Bernardo iria voltar para a cidade onde estava começando a
trabalhar na agencia de publicidade de seu pai. Ele viria só aos fins de
semana.
Letícia
sentia-se só. Ela só ia a praia e durante a noite não saia mais. Só quando
Bernardo estava com ela. Para os dias passarem mais rápidos ela lia romances
que a deixava mais ansiosa pela presença dele. E também curiosa. Ela estava
decidida a perder sua virgindade com ele. Porque ela queria muito viver essas
emoções, sentir essas sensações. E acima de tudo ela estava apaixonadíssima por
ele.
Depois
de muita discussão seu pai resolveu que passariam o carnaval na praia. Ela
havia protestado e seu irmão havia dito que não iria para um lugar “sossegado”
nem atado. E a mãe havia ficado do lado deles. Que depois da decisão recebeu
muitos beijos dos filhos.
A
praia ficava muito cheia na semana do carnaval, era um verdadeiro sufoco querer
chegar a algum lugar. Mas os jovens adoravam. Eles faziam carnaval em bloco.
Reuniam-se na casa de Paulo que tinha uma garagem muito grande e enfeitavam
tudo, compravam bebida e comida e preparavam o som. Era legal. E faziam baile
de máscaras. Deviam ir todos de preto e mascarados. Assim se divertiam, podiam
até trocar de par.
Mas
Bernardo nesse ano não queria participar dessa brincadeira. Então preveniu a
Letícia, que eles tinham que ficar juntos o tempo todo para não dar problema.
Ela
riu dele e disse:
--
Eu não vou te confundir com ninguém, conheço teu cheiro.
--
Mas depois que todo mundo já bebeu o cheiro fica igual, não quero correr o
risco. Vamos usar algo que nos identifique e que só nos saibamos. O que poderia
ser?
--
Um anel ou um colar...
--
Os dois. Vamos comprar material e fazer. Deixa que eu compro em Porto Alegre.
Perto do escritório tem uma lojinha dessas coisas, vou mandar fazer para nós.
--
Legal. Segredo nosso.
Leonardo
e Juliana não iriam participar do bloco, eles iriam para casa da tia dela em
Tramandaí.
E
na semana seguinte Bernardo chegou com os colares e anéis para eles. Era um
tipo de aliança que ele pediu para fazer. Letícia quando viu adorou. A fantasia
para as moças era um shortinho preto e uma mini blusa de alcinha, tudo preto. E
os rapazes short e uma regata também preta.
Letícia
era muito bem feita de corpo e tudo que ela vestia ficava muito bem e chamava
atenção. E ele ficava com ciúme de ver os outros olhando para ela. Ela não
usava biquíni, pois seu pai não deixava, mas mesmo de maiô ela despertava
olhare. Também não usava bustiê ou outro tipo de blusa que deixava a barriga à
mostra. Mas teria que usar a fantasia escondida do pai.
Ela
saiu de casa com uma bermuda e uma camiseta por cima da fantasia. Quando eles
chegaram ao local ela tirou e Bernardo ficou louco de ciúme, e viu os outros
rapazes olhando para ela com olhos de quem quer provar. Ela a levou para um
canto e sentaram em um bando. Assim ficava mais protegida da visão alheia.
Logo
a festa deles iniciou, ligaram o som, diminuíram a luz e a brincadeira começou.
Bernardo não quis beber nada alcoólico, precisa estar sóbrio para preservar sua
namorada das mãos alheias.
Ela
estava demais, com aquela roupinha, sem sutiã com os seios roçando em seu peito
e ele estava ficando excitado. Letícia também sentia o volume dele e estava
cheia de desejos.
O
ambiente estava ficando pesado demais, o pessoal já estava sob a influência da
bebida e estavam acontecendo muitas coisas que ele não queria que Letícia
presenciasse. Assim como também entre eles a situação estava no limite.
Eles
resolveram sair da garagem. Ele sabia que ela era virgem. Ele não pretendia
abusar dela, ainda não era hora. Ela era uma menina bem criada, seus pais
sempre muito rigorosos e embora ele sentisse que Letícia estava querendo se
entregar, ele não iria proceder como um cafajeste.
Ele
a levou para casa.
No
outro dia não deu praia, amanheceu chovendo e Letícia aproveitou para dormir.
Quando ela acordou encontrou Bernardo tomando chimarrão com seu pai. O velho
enchendo o coitado de perguntas. Ela olhou do corredor, deu um abano e voltou
para trocar o pijama.
Bernardo
foi convidado para almoçar e depois da refeição eles foram deitar na rede, onde
passaram a tarde toda, juntos, abraços, conversando e cochilando. Ainda chovia.
A
noite o céu abriu e eles saíram para dar uma caminhada, foram até a praça
tomaram um sorvete e Bernardo sugeriu que não fossem para o bloco. Aquilo não
era ambiente para ela. Ela concordou. Nunca tinha ido e só foi parque estaria
com ele.
E
Letícia perguntou:
--
O que faremos?
--
Para mim basta estar contigo. Vamos ficar na tua casa, teu pai vai ficar mais
sossegado e criar confiança em mim. Bah... ele me colocou na parede...
--
É? Me conta...
--
Ele foi muito claro comigo. Se for para diversão, que eu caia fora já, ou se
for ao contrário, ele quer um namoro dentro dos parâmetros dele.
--
E...
--
E eu concordei com ele. Tu não és para diversão. Tu és uma guria muito legal e
quero casar contigo.
--
Casar? Mas não é muito cedo para falar sobre isso.
--
Não! E eu falei para o teu pai isso, que a minha intenção é séria. Passou o
tempo de diversão. Agora é namoro para casar.
Letícia
ficou olhando para ele. Não estava acreditando no que ele dizia. Ele que tinha
uma fama de conquistador, estava assim nocauteado diante dela? Não podia ser
real.
Bernardo
imaginou o que se passava pelo pensamento dela. Sorriu e disse:
--
Verdade. Estou gostando muito de ti.
E
voltaram para casa abraçados e felizes. Os dias de carnaval eles passaram tranqüilos,
iam a praia, almoçavam e ficavam a tarde toda por ali. Os pais de Letícia
estavam satisfeitos com o procedimento dele.
Terminou
o carnaval e o veraneio. As aulas iniciavam. Eles moravam relativamente perto e
Bernardo sempre passava para pegar Letícia e iam e voltavam juntos da PUC.
O
tempo passando e o namoro firmando. Até Leonardo deu a mão a palmatória, e
confiava na boa intenção do amigo. Ele também estava namorando firme com
Juliana. E seguidamente os dois casais saiam juntos, sobretudo sábado a noite.
Fazia
três meses de namoro quando estourou a bomba.
Bernardo
foi procurado por Anita que disse estar grávida dele e seu pai estava exigindo
casamento.
A
noticia se espalhou na faculdade. E Letícia estava assustada. Se isso chegasse aos
ouvidos de seus pais, adeus namoro.
Bernardo
conversou com Letícia e disse que ele tinha andado com ela sim, mas ele não era
o único. Anita era bem popular e dava fácil para quem quisesse. E agora vinha
com essa de casar. Ele tinha certeza que o filho não era dele, pois sempre
usava camisinha. Ele estava exigindo exame de DNA. E que isso não podia
intervir no namoro deles. Pois depois que eles estavam namorando ele não pegou
mais ninguém.
Havia
muita fofoca sobre o caso, e Letícia havia
dito que não iria dividi-lo com ninguém. E Letícia afastou-se dele. Ela trocou o horário
de seu curso para manhã. Agora não se viam mais.
Como
Bernardo não a encontrava mais na faculdade, ele resolveu ir a casa de Letícia.
Ele estava com resultado do exame e queria mostrar para ela o resultado
negativo. Ele não tinha nada que ver com a gravidez de Anita.
Quando
ele a viu, notou que ela estava pálida e abatida. Ela o recebeu com frieza. Não
era aquela jovem que ele gostava tanto. Algo tinha se quebrado na relação deles
e parecia que não tinha conserto.
Bernardo saiu da casa dela de cabeça erguida,
provou que ele tinha falado a verdade.
Mas seu coração estava arrasado. Ainda mais que ela tinha contado que
seu pai conseguira uma bolsa de estudos na Universidade da Califórnia e ela
estava deixando a PUC, para tirar o
curso todo nos EUA.
Ele
sentiu que ela não estava entusiasmada com a idéia, que havia sido imposta por seu pai. Pensando que
dessa maneira os afastaria definitivamente.
Ela
o levou até a porta. Ao se despedirem ela o olhou com tristeza no olhar e ele
teve vontade de tomá-la nos braços e beijar aquela boca de lábios macios.. Mas
se conteve. Apenas perguntou se poderiam se encontrar mais uma vez. E ela
concordou. Então marcaram para sábado. Na outra semana ela já viajaria. Ela
pediu que ele não viesse pega-la em casa, e sim, que eles se encontrassem no
shopping.
O
sábado amanheceu chovendo muito. Ela ficou ansiosa, se a chuva não parasse, ela
teria dificuldade de sair de casa. Seu pai não deixaria. Mas no inicio da tarde
a chuva parou e o sol apareceu. Ela se arrumou e disse que iria se encontrar
com as amigas, era uma despedida. Talvez ela voltasse tarde. Que eles não se
preocupassem, pois a trariam em casa.
Ela
havia se arrumado com cuidado, queria estar bonita para ele, queria que ele a
beijasse novamente e queria acima de tudo se entregar para ele. Se for para
perder a virgindade que fosse com ele, a paixão de sua vida.
Quando
ela chegou ao lugar combinado, ele já estava lá esperando por ela. Ele estava
lindo. Ela não queria pensar que ficaria
longe dele. Por isso ela colocou um sorriso no rosto e se aproximou dele e o
cumprimentou com um beijo leve em sua boca.
Ele
aproveitou a deixa e a abraçou e a beijou na face junto a orelha. Ela
estremeceu, e ele percebeu. Afastou-se dela e perguntou:
--
Onde queres ir?
--
Eu quero ficar contigo. Apenas isso. Tu escolhes o lugar.
--
Sejas um pouco mais clara... Queres estar a sós comigo...
--
Sim. Só nos dois!
--
Eu estou morando sozinho, queres ir para o meu apartamento?
--
Sim.
Ele
a pegou pela mão e levou para o carro. Ele não estava acreditando que ela
estava ali. Durante o trajeto quase não
falaram, apenas comentários sobre a chuva, e o trânsito. Mas ela o olhava com
intensidade, parecia que queria gravar a imagem dele em sua memória.
O
apartamento era legal, perto da casa dos pais dele. Ele disse que agora podia
se manter. Trabalhava com o pai e estava buscando sua independência. Ela
concordou com ele. O dia que ela pudesse ser dona de sua vontade ela seria
muito feliz.
O
apartamento ainda não estava todo mobiliado, tinha só o essencial. Ele ofereceu
um café e ela aceitou. Sentaram nos bancos da bancada da cozinha para saborear
o café. De repente Letícia disse:
--
Estar aqui contigo é um desafio para mim...
--
Eu sei, por isso fiquei confuso...
Ela
riu e disse:
--
Estou sendo mandada para Califórnia porque meu pai exigiu que eu me afastasse
de ti, alegando que és amoral. Ele não perguntou o que sinto, o que penso, ou o
que eu quero. Agiu por conta própria, só me avisou depois que já estava tudo
certo. E tenho para mim que de qualquer forma ele me mandaria para lá. Ele te
amigos influentes, ele estudou lá. Leo não aceitou ir, inclusive está saindo de
casa. Não suporta mais a rigidez de meus pais, que agora estão contra a
Juliana.
--
Por quê?
--
Porque eles estão juntos, quero dizer dormindo juntos.
--
E porque tu resolveste desafiar teu pai?
--
Por que eu te quero e quero levar uma boa lembrança de nós.
--
É o que mais anseio, desde o nosso primeiro beijo eu tenho imaginado estar
contigo, te fazer minha.
Letícia estava um pouco encabulada. Queria tanto, mas
agora uma timidez tomou conta dela. Bernardo percebeu e a abraçou, e eles
ficaram assim um bom tempo. Apenas abraçados. Ela precisava de tempo. Ele
beijava sua cabeça.
Depois
ele a levou para o quarto. Ela estava corada, sem ação, mas não deixava de
olhar nos olhos dele. Sentaram a beira da cama e ele insistiu:
--
Minha linda... Podemos ir adiante?
Ela
sacudiu afirmativamente a cabeça. Ele a apertou em seu braços e sussurrou ao
ouvido dela:
--
Eu vou fazer tudo o que quiseres. É só me dizer. E se queres parar, tudo bem.
--
Me beija.
E
ele a deitou na cama e a beijou com amor, com carinho e sua mão foi deslizando
pelo corpo dela. E ele aos poucos foi aprofundando o beijo e fazendo com ela
correspondesse aos seus carinhos. Ele com delicadeza conduziu as caricias, e
aos pouco foi a despindo. A cada peça de roupa que tirava dela ele ficava
extasiado com tamanha beleza. E ele beijava cada pedacinho de pele que
desnudava. Ela estava se sentindo uma diva com tanta reverencia que ele
prestava a sua beleza. Por fim ele pediu que ela tirasse a roupa dele. E ela tirou. Agora foi ela quem ficou
arrebatada por ele. Ele era magnífico! E Letícia o beijou todinho.
Amaram-se
com ardor. O amor que os unia era imenso. E eles puderam comprovar isso ao se
tornarem um só.
Ficaram
ali deitados, abraçados, cansados. Eles tinham em suas mentes que depois do que
aconteceu entre eles, a distância os faria sofrer. Letícia deixou as lágrimas
escorrerem. Bernardo as secava com beijos, mas seu coração estava em pedaços.
Bernardo
sussurrou:
--Por
quê?
--
Por que eu me sujeito à vontade de meu pai?
--
Sim!
--
Eu não tenho alternativa. Se eu me rebelar o que vou fazer na vida. Sem
dinheiro, sem diploma. Preciso me formar. E vou aproveitar ao máximo o curso. É
o caminho da minha independência. O Leo ta saindo de casa, mas não sei se ele
vai poder continuar a faculdade. Vai ter que trabalhar para se sustentar e de
onde virá o dinheiro para pagar o curso? Meu pai cortou a verba dele. E minha mãe
só chora e não reage.
--
Ele precisa de um psiquiatra.
--
Com urgência.
Bernardo
vestiu a cueca e Letícia sua roupa
interior.. Eles estavam famintos. Foram para cozinha fazer um omelete. Bernardo
abriu um vinho.
Letícia
foi até a janela e ficou encantada com a parte da cidade que se avistava dali.
Já era noite e a iluminação realçava a paisagem noturna. Ele foi até ela e
abraçados voltaram para cama. Precisavam se amar novamente, precisavam se
esgotar.
Era
quase duas horas da madrugada quando Bernardo deixou Letícia em casa com a
promessa de se encontraram no outro dia. Ela iria para o apartamento dele.
Quando
ela entrou em casa seu pai estava esperando por ela e estava furioso. Ela tinha
mentido para ele, com quem ela estava, com as amigas não era. E ela cansada
disse:
--
Não te interessa. Não vais me mandar para o outro hemisfério e quer continuar
me controlando? Não é incoerência?
E
ela foi para seu quarto. Queria ficar só, queria relembrar cada sensação, cada
instante que estava com Bernardo. Queria guardar essa tarde como a mais bela de
sua vida.
Bernardo
voltou para seu apartamento, deitou-se na cama e sentia o cheiro dela que
estava impregnado no ar. Tinha sido maravilhoso. Ela era esplendida, e mesmo
sendo sua primeira vez, ela soubera responder as caricias. Ela era ousada e ele
gostou muito desse predicado dela. Não conseguia dormir... Mas precisava
recobrar as energias, dali a poucas horas ela estaria ali com ele outra vez.
Leticia
acordou, tomou um banho e disse que ia sair. Sua mãe ficou abismada com a
atitude da filha, que saiu sem dar satisfação de onde ia. Só agora Letícia se
deu conta que ficou muito tempo atada as convenções de seus pais.
Chegou
ao apartamento de Bernardo cedo. Ele estava saindo do banho e a recebeu
enrolado em uma toalha. Ela olhou e riu. E disse:
--
Já estás pronto?
Ele
riu e anuiu. E não perdeu tempo. A levou para a cama, tinham muito o que fazer.
E eles passaram o domingo todo na cama, com pequenos intervalos para se
alimentarem. Riram, conversaram e se amaram muito. Ela ia embarcar na terça
feira. E ele prometeu que iria despedir-se dela no aeroporto. Ela pediu que não
fosse, seria muito difícil.
Quando
ele a levava para casa uma idéia surgiu e ele muito animado disse:
--
Eu vou te visitar.
--
Ah... Seria muito bom.
--
Vou fazer uma programação, talvez eu possa ir a cada dois meses e tu vens nas
férias. Que achas?
--
Maravilhoso. E o custo disso, já pensou? Não importa o dinheiro a gente
trabalha e ganha de novo, mas a saudade dilacera o coração.
Ele
parou o carro em frente a casa dela e não a deixava sair, a envolveu com seus
braços e ambos choraram. Depois de um beijo longo ela desceu e correu para
porta. Abriu e entrou sem olhar para trás.
Na
terça ela embarcou e foi chorando. Seu coração havia ficado com ele. Nunca mais
resgataria. Mas tinha esperança que logo estariam juntos, Ele ia vê-la.
Mas
os planos deles não deram certo.
Bernardo
não conseguiu renovar seu visto, pois a embaixada não estava liberando por
tempo indeterminado. Eles se comunicavam diariamente pelo Skype.
Letícia
estava se adaptando facilmente a vida de universitária. Sem o controle de pai
se sentia livre. Já tinha feito amigos e estava gostando do curso. Ela tinha
conseguido um trabalho após a aula, como bibliotecária, o que dava ela algum
dinheiro para guardar para seu futuro.
Ela
propôs para Bernardo preitear a sua
transferência para lá. Seria maravilhoso!
Ela
sonhava com a presença de Bernardo. Sentia uma saudade imensa dele. Mas ela
sentiu ele estava estranho, diferente, calado, na ultima vez que falaram. Porém
ele não disse o que era, apenas falou que estavam com problemas familiares. E
suas ligações estavam cada vez mais espaçadas e ele sempre muito triste.
Letícia
todos os dias envia e-mail para ele, contando sobre tudo que fizera, e ele não
estava respondendo. Ela não iria desistir...
O
fato é que Bernardo não queria preocupar Letícia, que estava tão feliz, com as aflições
que sua família estava enfrentando. De
repente o mundo desabou sobre ele. Sua namorada estava distante, sua mãe foi
diagnosticada com câncer e seu pai sofrera um AVC.
E
agora ele precisava cuidar de tudo. Da agencia do pai, dos estudos dele e da
irmã, enfim, da família toda. Sua irmã mais nova, não conseguia aceitar essa
mudança repentina em sua vida. Não se conformava com a doença da mãe e a
situação do pai.
E
o tempo passava e Leticia decidiu dar um ultimato em Bernardo. Ela enviou um
e-mail para ele onde dizia:
“
Bernardo! Eu não sei o que está
acontecendo contigo. Eu tenho te enviado
todos os dias um e-mail contando sobre mim, e tu não me respondes, não sei nem
se foram lidos por ti. Sinto-me magoada, pois tu não confiastes em mim o
suficiente para dividir comigo as tuas tristezas e as tuas dificuldades. Eu te
amo e sempre vou te amar. Mas não vou mais esperar por ti. Portanto a partir
desse instante estamos rompidos. Pode cuidar da tua vida sossegado que eu
cuidarei da minha sozinha. Peço a Deus que te ajude. Letícia.”
Ela
tinha esperança que ele respondesse e não aceitasse a o rompimento do namoro.
Mas ele não deu retorno.
Apesar
da amargura que tomou conta de seu coração, Bernardo queria que Letícia ficasse
fora de tudo isso que estava acontecendo em sua vida. Ela era linda, jovem e
logo estaria com um novo namorado. Ele estava muito enrolado.
A
situação familiar de Bernardo estava a cada dia mais complicada. Seu pai havia
ficado com seqüelas graves depois do AVC. Tinha dificuldade para falar, engolir
e caminhar. Sua mãe não reagiu
positivamente ao tratamento de
quimioterapia, e estava definhando. A cada dia ficava mais fraca. E sua irmã em
depressão.
Mas
Bernardo não se lastimava. Amava seus familiares e estava procurando dar o
melhor para eles. Tinha sua consciência tranqüila, estava cumprindo seu dever
de filho.
Depois
de um ano sua mãe faleceu e seu pai havia piorado muito, porém sua irmã estava
bem. Agora estava o ajudando no cuidado do pai.
O
tempo passou e Bernardo após poucos pode reorganizar sua vida. E voltou a morar
sozinho. Agora pretendia ir atrás de Letícia. Ela deveria estar terminando o
curso.
Ele
ligou para ela e deu numero inexistente. Mandou e-mail e retornou. Vasculhou as
redes sociais e não a encontrou. Ele resolveu ir até a casa dos pais dela.
Parou em frente a casa e o que viu foi um prédio em demolição. Ele entrou em
pânico. Procurou por Leonardo e ele havia se mudado para São Paulo. Como iria
encontrá-la?
Então
Bernardo decidiu ir a Califórnia. Renovou seu visto, acertou tudo na agencia e
com sua irmã. Embarcou confiante que a encontraria. Nem que fosse a direção da
universidade buscar informações sobre seu paradeiro.
Bernardo
chegou, procurou sua hospedagem e foi para o campus. Ao chegar ficou
impressionado com o conjunto, com seus prédios antigos e os mais modernos,
fazendo do lugar um ambiente acolhedor.
Pediu
informações e foi até o prédio de Curso de Publicidade. Andou por ali, era
horário de aula. Sentou em um banco perto da porta e ficou aguardando. Seu coração
estava agitado, essa expectativa o estava deixando cheio de adrenalina. Levou e
caminhou um pouco, talvez se acalmasse. E ele nem tinha certeza se a
encontraria assim logo de chegada. E o mais inquietante, era que ela poderia
estar comprometida com outro, apaixonada por outra pessoa. E isso o estava
deixando louco. Precisava saber.
Tocou
a cigarra e os alunos começaram a sair. Ele encostou-se em uma árvore próxima a
saída e fixou seus olhos no vão da porta. Ela não passou por ali. Havia umas
moças paradas conversando, ele aproximou-se delas, pediu licença e perguntou se
conheciam Letícia, especificou como uma brasileira que devia estar no ultimo
ano. As mocas se entreolharam e responderam que não conheciam. Mas uma das
moças ficou em duvida e ele insistiu com ela. Que por fim falou.
--
Eu acho que sei quem é. Ela deve estar na biblioteca.
Ele
agradeceu e foi para a biblioteca. Era uma sala enorme, com mesas cumpridas com
muitos estudantes realizando suas pesquisas. O ambiente era de absoluto silêncio.
Bernardo
precisava ser discreto, não podia tumultuar o lugar. Então se dirigiu bem
devagar para o corredor entre as estantes e dali olhava atentamente para as
moças que estavam na sala. Ela não estava ali.
Ele
ficou muito decepcionado. Mas seu coração continuava agitado, como se ele
detectasse a proximidade dela. Então Bernardo começou a andar por entre as
estantes, talvez ele estivesse por ali namorando. Não! Não queria pensar nesta
possibilidade. Ela também não estava ali.
Então
ele resolveu ir até o balcão de informações. Suas pernas estavam esquisitas,
pareciam que fraquejava, ele iria cair no meio da biblioteca. Pois de repente
uma fraqueza se apoderou dele. Parou e respirou fundo e seguiu bem devagar.
Encostou-se
no balcão buscando apoio. Seu corpo tremia. Ele estava com dificuldade de
respirar. A moça que atendia virou para atendê-lo e ela empalideceu. A sua
frente estava ele,Bernardo, o amor de sua vida, mas agora, já era página
virada.
Quando
Bernardo pôs os olhos nela, ele paralisou. Ficou ali parado olhando para a sua
Letícia e sem conseguir emitir nenhum som, e tão pouco se mexer. Só depois de
alguns minutos que ele pode sorrir e dizer:
--
Letícia, quanta saudade.
Mas
Letícia não disse nada, apenas olhava para ele e deixava as lágrimas rolarem. E
murmurou:
--
Tu vieste... Tu vieste.
Ele
queria pular o balcão e a abraçar e beijar.
Então falou:
--
Tem um lugar onde podemos conversar?
--
Sim. Por aqui.
E
Letícia avisou sua colega que iria sair um pouco. E ela o levou para uma sala,
ao lado. Ela fechou a porta, e foi sentar atrás da escrivaninha, deixando ele
plantado no meio da sala. Mas ela logo pediu que ele sentasse na cadeira
em frente a escrivaninha.
Bernardo
que queria estar com ela em seus braços, ficou tenso. Percebeu que havia outra pessoa
entre eles. Mas mesmo assim se propôs a contar para ela o porquê de seu
silêncio. E assim fez. Ela escutou sem interromper. E concluiu dizendo:
--
Meus planos deram todos errados. Tudo o que eu mais queria era estar perto de
ti, mas não pude. Não podia te colocar naquele turbilhão de tristeza. Eu sempre
te amei. E quero saber: Tu ainda me amas? Tem outro em tua vida?
Letícia
o olhou com uma consternação no olhar e não respondeu.
O
silêncio tomou conta da sala. Só se escutava a respiração difícil deles. Ambos
estavam emocionadas, estavam se segurando para não se agarrarem. Mas Bernardo
se levantou e disse:
--
Não podemos sair para conversarmos em outro lugar?
--
Não!
--
Por quê?
--
Estou comprometida, vou casar com John.
--
E tu o amas?
--
Ele é bom para mim... Eu gosto dele...
--
Eu perguntei se tu o amas. Ama?
Ela
levantou e foi até a janela, permaneceu de costas para ele e não respondeu.
Bernardo estava irritado, pegou um papel em cima da escrivaninha, anotou seu
numero de telefone e disse ao se dirigir a porta:
--
Eu vou ficar aqui até sábado. Se resolver conversar comigo me liga. Esta aqui
meu numero. Adeus.
E
saiu a passo firme. Por dentro ele estava demolido, mas ela tinha dado um novo
rumo em sua vida, era preciso aceitar.
Letícia
também estava arrasada. Seus pais tinham morrido em um acidente de carro na
estrada para San Diego, e foi John seu colega que a ajudou, deu todo o apoio. E ela estava
muito vulnerável e aceitou sua proposta. Seu irmão tinha pedido a ela que não
se comprometesse com John, deveria dar mais uma chance a Bernardo, que ele
sabia que estava enfrentando problemas de doenças com sua família. Mas ela
estava com raiva dele, mas hoje ao vê-lo ali tão perto dela, teve vontade de
pular no colo dele e de beijar e fazer amor... Seu coração estava
descompassado... O que iria fazer? Hoje era segunda feira... E ele cumpriu sua
promessa, veio até ela. E John? Precisava colocar seus pensamentos em ordem.
Pegou o numero dele e registrou em seu telefone.
Bernardo
chegou ao albergue e atirou-se na cama. Precisava chorar... Chorar como
criança. Ele perdeu a mulher de sua vida. E adormeceu. Acordou com o som do
telefone que estava chamando. Ainda meio desorientado, ele atendeu a chamada, e
era Letícia, querendo saber onde ele estava hospedado.
Bernardo
deu o nome do lugar e foi tomar um banho. Ela não disse nada mais. Só queria
saber onde ele estava. Será que viria até ele? Ou era só curiosidade?
Estava
quente, e enrolado na toalha ele começou a tirar suas roupas da mala e ajeitar
no armário. Ligou a TV. Foi até a janela
afastou a blackout e espiou a rua. Era fim de tarde. Pensou em dar uma volta,
mas mais tarde, estava ainda muito quente.
Bateram
a porta. Ele foi abrir.
E
Letícia se atirou em seus braços chorando. Ele fechou a porta e a abraçou. Ela
olhou para ele e foi se aproximando até suas bocas se tocarem e se beijaram com
paixão, lembrando o primeiro beijo quando um desejo inundou seus corações. Letícia
se colou ao corpo dele, acariciou suas costas nuas e Bernardo retribui o afago por baixo da blusa
dela. E como que enlouquecidos eles se despiram e foram para cama numa ânsia de
se dar, de descontar o tempo perdido. Ela se entregou a ele como na primeira vez.
Eles faizeram amor com frenesi.
Depois,
eles cansados se deitaram de costas de mãos dadas. Ele não disse nada,
esperou, que fosse ela que quebrasse o
encantamento. Só após algum tempo é que Letícia começou a falar e contou tudo
para ele. E justificou o seu compromisso com John. Mas em nenhum momento ela
falou em amor, dando entender que ela tinha gratidão a John, apenas
reconhecimento pelo amparo que deu a ela.
Bernardo
levantou-se da cama, foi para o banheiro tomar uma ducha fria. Precisava
pensar, porque deveria haver um jeito de a fazer entender que eles precisavam
ficar juntos, que eles tinham uma química muito forte e um amor profundo.
Voltou
ao quarto e começou a se vestir, ela ainda estava deitada nua na cama, o seguindo
com os olhos. Ele sentou na borda da
cama, beijou sua barriga e disse:
--
Minha linda, vai tmar uma chuveirada, tem toalha limpa no banheiro e vamos sair
para comer alguma coisa. Estou com fome, não almocei hoje.
Ela
sorriu, deu um beijo nele e foi para o banheiro. Voltou enrolada na toalha, ele
a olhou e se excitou. Ela deu um risinho e vestiu suas roupas. Sairam de mãos dadas como namorados.
Ela
o levou em um lugar ali perto, num lugar bem acolhedor, com uma boa comida
portuguesa. Eles pediram bacalhau acompanhado de vinho. Beberam enquanto
esperam o prato. Jantaram tranqüilos, e depois
andam pela cidade.
Letícia
disse que morava ali perto, a três quarteirões dali. E o convidou para conhecer
o lugar onde ela morava. Então ele perguntou:
--
Conhecer o lugar onde vocês moram?Não quero.
--
O lugar onde eu moro. Não moramos juntos.
--
Não! Não por falta de vontade dele, mas eu disse que só depois de casados.
--
Hum... E onde ele mora?
--
Ele não está mais aqui. Já terminou o curso e
trabalha e mora em San Bernardino. Na vinícola da família dele.
--
Hum. Então vamos ver o teu refúgio como é.
E
ela o levou. Era um lugar bem pequeno, mas limpo e arrumado. A cara dela. Ela
fez um café e ficaram conversando. Ela sempre morou ali, desde que chegou. E
ela bem entusiasmada perguntou:
--
Não queres ficar hospedado aqui?
--
Acho melhor não. Vai que o John chegue...
--
Não tem perigo. Ele não virá por esses dias.
--
Não. Fico onde estou.
--
Mas por quê?
--
Porque não posso ficar aqui, aonde tu
dormes com ele.
Ela
olhou para ele e ficou pensativa. Ele estava para perguntar mais sobre a
relação dela com esse homem, mas não queria estragar a semana que tinham pela
frente. Ele resolveu ir para seu albergue. Despediram-se com o compromisso de
se encontrarem no fim da tarde. Ele iria esperá-la na saída da faculdade. Ele
deu um beijo nela e saiu.
Bernardo
decidiu não forçar o assunto sobre eles. Passearam e visitaram lugares
interessantes, ela indicou museus para ele ir enquanto ela estava na aula.
Letícia
estava alegre com a presença dele, matando a saudades dele, daquele jeito especial
dele, que a tratava como uma princesa. Ela sentia falta desse química que
rolava entre eles, desse entendimento em que apenas um olhar bastava, não
precisavam de palavras, eles combinavam perfeitamente e sobretudo na cama. Eles
não tinham feito mais amor. Claro, ele não ia forçar nada, respeitava a
compromisso dela. Aquela noite foi um acontecimento inesperado, força da
saudade, força do desejo.
E
Letícia sabia que não tinha nada disso entre ela e John. Ele era muito
cerimonioso em tudo. Sua família era muito rica e importante em todo o estado
da Califórnia. Para ser bem sincera, eles eram muito pedantes.
Ela
não amava John. O amor de sua vida era Bernardo. Tinha que resolver isso, antes
dele ir embora e faltavam só dois dias. Teria que resolver tudo hoje. Para
depois poder curtir os dois inteiros com Bernardo. Faltava pouco para ela
terminar o curso, mais dois meses e eles ficariam juntos.
E
ela telefonou para o John.
John
era um cara bom. Sabia da historia dela e aceitou tudo numa boa. Ele a amava,
mas sabia que eram muito diferentes, em tudo. Ela nunca se adaptaria a sua
família.
No
outro dia Letícia chegou cedo ao albergue em que Bernardo estava hospedado.
Bateu a porta e esperou. Bernardo abriu
e ela se dependurou em seu pescoço dizendo:
--
Eu te amo, te amo, te amo.
Bernardo
a abraçou e estava surpreso com a atitude dela, que assim de repente apareceu
como se não tivesse compromisso algum. Mas ela logo esclareceu tudo para ele.
Que a pegou no colo, e a beijou e a levou para cama. E fizeram amor com
verdadeira loucura. Passaram toda a manhã na cama e pediram um lanche, fizeram
uma sestea, se amaram novamente e só à tardinha saíram para passear e curtir a cidade.
Despediram-se
no aeroporto com a promessa de logo estarem juntos.
Um
ano depois.
Letícia
chega ao escritório com um largo sorriso em seu rosto. Bernardo vai ao seu
encontro, e a abraça. Sabe qual é a boa noticia, logo ele será pai.
Maria Ronety Canibal
Agosto de 2017
IMAGEM VIA INTERNET
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