COISAS DA VIDA
Alexandre havia se mudado há pouco tempo para
São Lourenço do Sul, e ainda não tinha muitos amigos. Ele morava perto da praia
e a tarde procurava a sombra das árvores
para sentar, apreciar a lagoa e ver as gurias, uma guria em especial, enquanto
sorvia um mate quente.
Valentina, Laura e Helena sempre voltavam da escola pelo beira da
praia. Ali na Praça da praia elas se despediam, Laura seguia em frente e
as outras dobravam na Rua Princesa Isabel. Laura já tinha notado a presença de
Alexandre, sempre sentado no mesmo banco, ali perto da Cruz da Praia. Ela
olhava “para ele de “rabo de olho” e sempre pensava: “ como ele é bem bonito, e
de onde será que ele saiu ?” E ia em
direção a sua casa que era localizada na Av. Getulio Vargas, de frente para a
lagoa, logo adiante.
Valentina era uma mocinha muito bonita, com seus
cabelos longos na cor de mel, que fazia realçar seus olhos azuis e sua pele era
na tonalidade dourado claro e seu corpo era
esguio, dando a ela elegância e desenvoltura nos movimentos, em sobretudo
no andar. Ela saiba que era bonita, e que chamava atenção, e gostava de se
sobressair em meio às amigas. Todos os rapazes olhavam para ela.
Laura era uma mocinha simpática, risonha e
encantadora. Tinha uma beleza sutil, suas feições eram delicadas, seus olhos e
cabelos castanhos e era um pouco gordinha, mas bem proporcional.
Helena, a terceira menina do “trio”, que
andavam sempre juntas, era bem loira, pele clara e olhos verdes. Era simpática
e bonitinha. Alta e magra, com jeito de manequim.
Helena estava organizando sua festa de quinze
anos. Seria no clube e seu pai já havia
contratado um conjunto musical para animar a festa. Como haveria danças, teria
que convidar rapazes também, por isso seu irmão havia prometido convidar uns
colegas de aula.
As três amigas estavam ansiosas, cada uma
tinha mandado fazer um vestido novo para a festa. Laura tinha mandado fazer um
vestido na cor azul turquesa, era um modelo reto, tipo “tubinho” que deixava
sua silueta mais alongada. Usaria sandálias prateada e uma pequena carteira
também prateada.
O vestido de Helena seria na cor branca, todo
bordado com miçangas e canutilhos na cor azul claro. E Valentina tinha
escolhido um modelo mais ousado na cor vermelha. Usaria sandálias e carteira
douradas.
Helena havia decido, meio a ultima hora,
fazer o bolo vivo, onde reuniria quinze amigas, cada uma com uma vela na mão e
a aniversariante, enquanto dançava a valsa com seu pai, ia apagando as velas e
depois todos dançavam. Todas as garotas
teriam que ter um par.
Valentina não se preocupava com esse detalhe,
com facilidade conseguiria um par, pois
sempre tinha quem a convidasse para dançar. Mas Laura era diferente.
Normalmente ela ficava apenas olhando as amigas dançarem, os rapazes a achavam
“gorda”.
Mas
Helena queria que sua querida amiga, Laura, fizesse parte do bolo. Então Luis, seu irmão,
ficou de arranjar alguém entre seus colegas.
Todos que conheciam Laura deram uma desculpa,
dizendo que não eram bons na valsa. Então Luis olhou para Alexandre que disse
que sim, e ao mesmo tempo em que pensou, essa menina não poderia ser assim tão
repulsiva.
No dia da festa, Alexandre, como não conhecia
o costume, chegou um pouco antes da hora marcada. Já havia algumas mocinhas bem
enfeitas por lá. Ele parou num canto, encostou-se a parede e ficou observando
as pessoas que estavam chegando à festa.
E ele viu Laura. A menina que passava sempre
pela praia quando vinha da escola. Aquela menina havia chamado sua atenção
desde o primeiro dia que a viu. Ele a achava linda, que com um jeito tranqüilo
sempre passava por ele na praia. Que bom, hoje ele se apresentaria a ela.
Luis se aproximou dele e disse:
-- Aquela ali de vestido azul cor de piscina
é o teu par. O nome dela é Laura. Queres que eu te apresente a ela agora?
-- Obrigada, mas eu vou lá falar com ela.
Laura estava conversando com outras meninas e
escutou alguém a suas costas a chamar:
-- Laura...
-- Sim.
-- disse ela voltando-se. Ela
paralisou. Era o cara da praia.
-- Prazer, eu sou Alexandre. Serei o teu par
no bolo vivo.
-- Oi...! Meu par? Que bom...
-- Eu te conheço de te ver passar na praia,
todos os dias quando voltas da escola.
-- Sim, eu também te conheço.
Ele riu e disse:
-- Não pensei que me vias...
Laura muito sem jeito respondeu:
-- Mas não tem como não ver.
-- Certo. Fiquei contente em saber que sou
teu par. Aceitei no escuro, mas eu gostei de te conhecer. Posso ficar junto
contigo desde agora? Sou ainda novo na cidade e conheço pouca gente. Se eu não
te atrapalhar...
-- Não imagina, Vamos ver a mesa reservada,
na verdade deves ficar comigo sim, na mesma mesa, pelo menos até a hora do
bolo, depois não precisa.
-- Mas se eu quiser ficar depois, posso?
-- Pode.
Encontraram a mesa e se acomodaram e
começaram a conversar como se conhecessem a muito tempo. Ele falou de onde
viera e como era o lugar, ela falou que nasceu ali e nunca morou em outra
cidade, que gostava muito de São Lourenço do Sul, sobretudo no verão.
Valentina chegou à mesa e disse:
-- Oi, tudo bem? Eu não te conheço, és
parente da Helena?
-- Oi, não sou colega do Luis.
-- Queres ser meu par?
-- Já estou comprometido com a Laura.
E Alexandre olhou sorrindo para Laura, que
assistia a conversa como se não estivesse ali.
-- Verdade? Obrigaram-te a isso?
-- Como? Ninguém me obrigada a nada, estou
aqui porque eu quero ser o par de Laura, que alias é uma guria simpática e
muito linda.
Valentina olhou espantada para ele e deu uma
risada. E comentou:
-- A Laura é linda?
Alexandre não deu mais atenção a Valentina e
virou-se para Laura e seguiu conversando com ela como se Valentina não
estivesse ali. Laura estava encantada com ele, que tinha dito que ela era
linda. Era bem verdade que Valentina sempre se achava a mais bonita, e gostava
de dizer que Laura não era bonita, que era gorda e que por isso ninguém se
interessava por ela.
O jantar foi servido. Laura e Alexandre se olvidaram
do mundo ao seu redor, estavam tão envolvidos que se esqueceram de dar atenção a Valentina que continuava sem um
par. Depois do jantar Helena levou seu
primo, Igor, que viera de Pelotas para ser o par de Valentina.
Igor era mais velho, já estava cursando a
faculdade de Direito, era um rapaz alto, simpático, mas sem beleza alguma.
Valentina tentou disfarçar, mas todos perceberam que ela não gostara de Igor,
que educadamente ficou junto dela esperando o momento de entraram para pista de
dança.
Helena estava radiante, seu aniversário
estava sendo com ela havia sonhado. Depois de apagar todas as velas ela seguiu
dançando com seu pai a valsa dos quinze anos e seu bolo vivo também. Quando
terminou a valsa, seu Armindo, levou sua filha até Guilherme, para que ficasse
junto de seu namorado.
Laura estava feliz, Alexandre pediu para
seguir dançando com ela, Dançaram juntos a festa inteira. Os pais de Laura
queriam saber quem era o rapaz que estava com sua filha.
Chamaram Luis que informou que ele era um
colega novo, que chegara a cidade fazia pouco e que seu pai era gerente do
Banco do Brasil. Com essa informação seu Clovis e d. Dulce ficaram mais
sossegados. Dulce olhava para filha e via com ela estava deslumbrada com o
rapaz, que também parecia estar interessado nela.
No fim da festa, na hora de ir embora, Alexandre
acompanhou Laura até o carro, se apresentou aos pais dela e perguntou se podia
visitá-la. Clovis e Dulce se olharam e deram o consentimento ao rapaz. Que se
despediu de Laura dizendo:
-- Às quatro horas.
Ela sorriu e assentiu com a cabeça, entrou no
carro e Alexandre fechou a porta e ficou parado na calçada vendo o carro se
afastar.
Dulce começou a indagar da filha sobre o
rapaz, Mas Laura não estava disposta a responder, só queria pensar em como ele
era maravilhoso. Estava apaixonada, disso não tinha duvidas. Chegando a casa
ela foi direto para seu quarto. Laura custou a dormir. E quando dormiu sonhou o
com ele, seu príncipe encantado.
Alexandre voltou a pé para sua casa, vinha
distraído pensando em Laura. Essa era a garota dos seus sonhos, ela tinha
mexido com ele, aquele sorriso meigo, aquele jeitinho de olhar, seu perfume.
Com certeza ele estava completamente seduzido por ela.
Alexandre sabia que jamais esqueceria essa
data, esse dia de 23 de março de 1968 ficaria gravado em sua memória, pois era
o dia que conhecera o amor de sua vida.
Pontualmente, às 16h Alexandre tocou a
campainha da casa de Laura. Ela abriu a porta com um sorriso lindo e estava
linda! Usava um jeans escuro com uma camisa verde. Calçava mocassim azul marinho. E seu
cabelo estava solto.
Ela o convidou para entrar, mas como estava
uma tarde de muito sol ele a convidou para passearem pela praia. Ela aceitou e
avisou seus pais e saíram. Ela estava tão feliz de estar com ele, que não
precisava nem conversar, bastava estar perto dele.
Andaram em silêncio um bom tempo, apenas
curtindo a presença um do outro, até que Alexandre pegou sua mão e disse:
-- Desde que te vi passar a primeira vez aqui
na praça, eu gostei do teu jeito, e todo o dia eu ficava esperando para te ver
passar. Ontem eu tive a felicidade de te conhecer, e quero te conhecer melhor.
Por isso eu queria ser teu namorado, Tu me aceitas?
-- Eu também desde o dia que te vi aqui
tomando mate, ficava esperando a saída da escola para ter novamente. E eu quero
sim ser tua namorada, eu aceito.
-- Bem, então depois vou falar com teu pai,
pedir o consentimento dele para namorarmos.
-- Precisa? Acho que ninguém faz isso.
-- Mas eu faço, tu és uma guria que merece
todo o respeito. E por isso quero conversar com teu pai.
-- Tudo bem. E queres conversar hoje?
-- Sim.
Eles estavam sentados no banco onde ele
costumava sentar, só que virados para a
lagoa, que estava calma com alguns veleiros deslizando suavemente pela água. No
fim da tarde voltaram de mãos dadas para a casa dela. Ela o convidou para
jantar, e foi ajudar a mãe a preparar o lanche da noite enquanto Alexandre
conversava com seu pai.
Seu Clovis ficou muito satisfeito com a atitude
do rapaz, sabia que eles eram muito jovens, mas ele tinha demonstrado retidão
de caráter. E esperava que eles tivessem perseverança para poderem superar as
dificuldades que a vida colocaria diante deles.
O namoro foi seguindo e eles a cada dia mais
apaixonados, viviam em harmonia sem nunca terem brigado.
Valentina começou a namorar com José Paulo, e
era um namoro bem arrojado, e Alexandre não gostava quando saiam juntos.
Preferia estar com Guilherme e Helena que mantinham um namoro sério dentro do
decoro. Aos poucos Valentina foi sendo deixada de lado.
Mas na escola ela contava para as amigas, o
que já tinha feito com o namorado, e ficava admirada que Laura nem tivesse sido
beijada ainda. E completava dizendo a Laura:
-- Tu não desperta desejo nele, senão ele já
tinha te dado uns amasso. Tu não achas Helena?
E Helena muito constrangida com o assunto
apenas respondia:
-- Não sei...
E aos poucos Helena e Laura se afastaram de
Valentina, que tinha a cada dia um comportamento mais arrojado.
Era um dia de inverno, estava muito frio e
ventava forte. Era sábado, e eles resolveram que não iam sair. Laura programou
para eles ficarem escutando disco, e tomando quentão. Ela tinha convidado
Helena e Guilherme, mas Helena tinha telefonado dizendo que estava com dor de
garganta e seu pai não a deixou sair.
Alexandre sorriu e disse a Laura:
-- Minha flor, tu me basta. Vamos curtir o
fogo da lareira, tomar o quentão e comer pipoca. É um ótimo programa. Estar
junto de ti é que importa.
-- Então vem selecionar os discos, que eu vou
buscar o quentão.
Alexandre escolheu umas musicas calmas,
românticas e sentou no chão perto da lareira. Laura chegou e sentou ao lado
dele, puxou a mesinha para mais perto para descansar as canecas.
Alexandre a cada dia estava mais louco por
Laura, e hoje eles estavam sós. E ela estava encantadora. Com as bochechas
vermelhas por causa do quentão e com os olhos brilhantes e ele ficou fascinado.
E a beijou.
Um beijo que brotou do coração, cheio de amor
e desejo. Laura nunca tinha sido beijada, e foi dócil, deixando que ele a
ensinasse como beijar. Ela tremia de emoção e ele sentia todo seu corpo pulsar
de desejo.
Abraçado a ela, Alexandre declarava seu amor
a ela. E sussurrava:
-- Eu te amo demais. Tu és a minha vida, tu
és a minha linda, a minha amada.
-- Eu também te amo... Te amo muito.
E foram muitos beijos. Trocaram juras de
amor. Ter Laura assim em seus braços era magnífico. Mas precisava se dominar...
Então se levantou para ir embora, estava tarde.
A beijou mais uma vez antes de sair. E o ar frio da noite foi benéfico, acalmou
seus ímpetos.
O tempo passou...
O namoro cada dia mais firme. Todos os amigos
sabiam que ele era fiel a sua namorada. Enquanto outros faziam programas com
garotas em Pelotas, ele nunca quis ir.
Alexandre levou Laura para conhecer sua
família. Eles se encantaram com ela, que era bonita, gentil, educada e
apaixonada por Alexandre.
Com dezessete anos, Laura estava uma linda
moça, tinha perdido aquele ar infantil e suas medidas estavam perfeitas.
Alexandre sempre conheceu a beleza de Laura, pois desde o primeiro olhar viu que ela seria uma
linda mulher.
Onde ela passava despertava olhares de
cobiça, e isso incomodava a Alexandre. Ela tinha olhos apenas para ele, o amava
de verdade, e ele confiava nela, mas ela era ainda muito jovem. Alexandre sabia
que teriam que se separar, ele queria estudar medicina e iria para Porto
Alegre.
Alexandre vinha se preparando para esse
momento. Já tinha conversado com ela sobre todos os problemas de namorarem a
distância. E agora havia uma proposta para seu pai ir para São Paulo, e se sua
família decidisse ir, ele iria também, e faria o vestibular na faculdade de
Campinas.
E veio a transferência de seu pai para São
Paulo, mais precisamente para Campinas. Para Alexandre era ótimo, pois cursaria a faculdade de
Medicina em uma conceituada Universidade. Mas ficaria muito distante de Laura.
Ele contou para ela da novidade. Ela chorou,
porque ficariam separados. Ela tinha sonhado com os dois estudando em Pelotas.
Seria tão bom, seria tudo tão fácil. Mas a realidade se apresentou diferente.
Alexandre com o coração apertado, pediu que
Laura decidisse se continuariam comprometidos ou se dariam um tempo para
absorver a mudança; Ele também falou com os pais dela, explicando seu ponto de
vista.
Ele sabia que Laura era mulher de sua vida.
Mas tinha receio que deixar Laura, ainda tão nova, comprometida com ele, que
não podia prometer nada, tinha muito estudo pela frente para eles que pudessem
casar. Mas ao mesmo tempo não queria perdê-la. Então deixou tudo a critério
dela.
Seu Clovis e d. Dulce aceitaram as colocações
dele, realmente ele tinha razão. Eram jovens demais e ainda precisavam estudar.
Pois Laura também queria cursar a faculdade de Letras, pois gostava muito de
literastura.
Os últimos dois meses, antes de Alexandre ir
embora, foi um tempo de promessas e muitos beijos. Passavam junto, e Laura
tinha decidido que continuariam comprometidos, que escreveriam cartas, e aos
domingos falariam por telefone.
A despedida foi de muito choro.
Laura estava inconsolável com a partida de
Alexandre. Ficou muito abatida e acabou adoecendo, pois não dormia direito e
nem se alimentava convenientemente. Era período de férias de verão, e seus pais
resolveram viajar. Iam tiram uma temporada em Punta del Este, no Uruguai.
Com essa mudança de cenário, Laura melhorou,
saiu daquele estado de nostalgia, e recuperou a saúde, o ânimo, mas em seus
olhos havia tristeza. Por mais que seus pais quisessem, eles não conseguiam
fazer Laura voltar a ser mesma de antes, ter aquele brilho no olhar, ter aquele
sorriso fácil.
Clovis e Dulce decidiram que Laura precisava
trocar de ambiente, em São Lourenço do Sul todos os lugares lembravam
Alexandre, então conseguiram transferência na escola e ela cursaria o ultimo ano em Pelotas, ficaria na casa dos tios.
Tio Getulio e tia Rosa eram muito bons,
aceitaram com alegria a presença de
Laura entre eles. Tiago, primo de Laura também ficou contente. Ele já estava na
faculdade, cursava Arquitetura.
Alexandre e Laura, nos primeiros tempos de
separação, conseguiam escrever longas cartas e aos domingos a tarde falavam por
telefone. Mas com a mudança de Laura
para a casa dos tios em Pelotas as coisas ficaram mais difíceis. E a
comunicação foi ficando escassa. E um dia, Laura escreveu uma carta para
Alexandre desfazendo o compromisso deles, assim como ele havia sugerido.
Alexandre realmente sabia que esse era a
melhor solução, mas seu coração sangrava, e sabia que Laura seria o seu amor
pela vida toda. Então resolveu se dedicar com afinco aos estudos. Já estava
cursando medicina e vinha se destacando sendo considerado pelos professores como
um excelente aluno.
Passou um ano e Laura prestou vestibular e
conseguiu entrar para o curso de Letras. Também se dedicava aos estudos e quase
não saia para se divertir. Ainda não tinha ânimo e Alexandre ocupava seus
pensamentos.
Mas era aniversário de Tiago. Ele estava
completando vinte e um anos e seus pais resolveram fazer um churrasco para seus
amigos. E a turma era grande, pois alguns trariam suas namoradas. E somou um
grupo de quarenta pessoas. Mas a casa era grande e na garagem tinha espaço para
acomodar todo o mundo. Laura se
prontificou a ajudar a tia com as saladas, Os doces foram encomendados e a
carne era por conta dos homens.
E naquele dia Laura conheceu Inácio, um
colega de Tiago que quando a viu ficou interessado nela. Sua tia a dispensou da cozinha e disse que
fosse sentar com os jovens. E ela sentou-se um pouco afastada e Inácio foi conversar
com ela.
Ele era um rapaz simpático, educado e de boa
família, segundo sua tia. E no outro dia ele foi visitá-la. E Inácio foi aos
poucos a conquistando, até que, depois de muito tempo, ela aceitou namorar com ele.
Ela gostava dele, ele era muito atencioso e a
tratava como uma princesa. Mas o que ela sentia por ele, não se comparava ao
que ela ainda sentia por Alexandre.
Porém tinha que tocar a vida para frente.
E o tempo foi passando e o namoro foi ficando
firme. E Inácio queria noivar, colocar as alianças para selar o compromisso. E
casariam em dois anos, assim que ela se
formasse. Ele já tinha terminado seu curso e já estava trabalhando.
Na noite de Natal Laura e Inácio colocaram as
alianças. Bem ali em frente a lareira onde Alexandre a beijou pela primeira vez.
Ela ainda se lembrava dele e muitas noites sonhava com Alexandre. Seu coração
estava pequeno de tanta dor. Mas colocou um sorriso nos lábios e olhou com
ternura para Inácio, agora seu noivo.
O tempo corria. Logo seria a casamento de
Laura com Inácio.
Todos estavam felizes, sobretudo os pais de
Laura, que achavam que Inácio era um ótimo rapaz, já apto a manter a esposa e
vinha de uma família tradicional da região e muito rica.
A data se aproximava e Laura continuava a
lembrar de Alexandre, recordava todos os momentos que tiveram, sobretudo dos
beijos que trocaram. Isso a deixava mal, sentia-se como se estivesse traindo
seu noivo, mas era involuntário, era seu coração que não a deixava esquecer de Alexandre. E ela não sabia o que
fazer e tinha receio que viesse a se arrepender mais tarde.
E tocada pela euforia de sua família e amigos
Laura e Inácio casaram em uma cerimônia na Catedral de São Francisco de Paula
em Pelotas. Foi um lindo casamento, com uma festa magnífica.
Os recém casados foram para Buenos Aires em
lua de mel, e depois do retorno se estabeleceram em Porto Alegre, onde Inácio e
Tiago eram sócios em um escritório de arquitetura.
Inácio era gentil e carinhoso, amava
profundamente sua esposa e fazia de tudo para que ela fosse feliz. Ela
retribuía aos carinhos do marido, como uma boa esposa deveria ser, mas não
sentia paixão, não sentia um algo mais por ele. Mas estava feliz, tinha uma
vida boa, e queria um filho, assim seu coração teria um novo amor.
E Laura engravidou, ficou radiante! Nasceu um
lindo menino que foi batizado com o nome de Pedro Henrique. A vida corria feliz
para Laura e Inácio, que viam seu filho crescer rápido. Era um menino sadio e
inteligente, que estaria completando oito anos em setembro.
Até que numa tarde de quarta feira. Laura foi
surpreendida por um telefonema que mudaria toda a sua vida.
Inácio tinha sofrido um acidente quando
visitava uma de suas obras. Ele havia
pisado em falso quando subia uma escada, se desequilibrou e caiu no vão de
espera do elevador. Embora estivesse com
os equipamentos necessários, ele caiu de um jeito que não sobreviveu.
Foi choque para Laura, que agora estava só com
um filho para criar. Ela havia se acostumado com a presença do
marido, que sempre a tratou com muito amor. Ela sempre foi muito mimada por
ele. Com seus pais não podia mais contar, pois o pai tinha amputado parte da
perna por conseqüência da diabete, e sua mãe precisa cuidar de seu pai.
A família de Inácio tinha fazendas e Laura não precisava se preocupar com a
parte financeira. A irmã de Inácio também morava em Porto Alegre e prometeu que
a ajudaria com Pedro Henrique.
Laura custou muito a superar a morte do
marido. Ela tinha uma profunda amizade por ele, e sentia muita a sua falta.
Pedro também chorava a morte do pai. Foram dias difíceis.
Enfim as coisas se acomodaram e a vida de
Laura seguiu ser curso. Laura tinha trocado de apartamento, foi para um menor,
na Rua Vieira de Castro, e próximo a
escola do filho, o Colégio Militar.
O tempo passou e já fazia três anos que ela
estava viúva. Pedro, que era muito parecido com o pai, estava com doze anos.
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Alexandre terminou seu curso de medicina, fez
sua especialização em Endocrinologia, fez mestrado e foi convidado para trabalhar no Hospital de Clinicas de Porto
Alegre. E ele aceitou.
Alexandre mudou-se para Porto Alegre e alugou
um apartamento na Rua Ramiro Barcelos em frente ao hospital. Seu pai tinha se
aposentado e estava morando em Florianópolis, sua irmã tinha casado e também
morava na ilha.
Mas Alexandre não casou. Depois de Laura
nunca mais se interessou por outra mulher. Dedicou-se a medicina. E agora
estava recebendo os “louros” de sua dedicação, ele era o chefe da Equipe de
Endocrinologia do Hospital de Clinicas de Porto Alegre, onde também havia
montado um consultório.
A rotina do hospital era severa, noites de
plantão, além das visitas diárias aos enfermos e o atendimento ao consultório.
Mas Alexandre não se importava, essa era a sua vida.
Era uma quinta feira e Pedro amanheceu se
queixando de dores na barriga, com náuseas e já havia vomitado, e dizia coisas
sem nexo e aparentava dificuldade para respirar. Laura, sem perda te tempo o
levou para o plantão do Clinicas, que era o mais próximo.
Ela estava nervosa e o médico residente que
atendeu indicou a internação imediata dele, ele precisava de alguns exames para
determinar com certeza o diagnóstico, e
se fosse o que ele estava pensando, não deviam perder tempo, pois poderia
haver complicações. O médico havia feito
muitas perguntas sobre o histórico familiar e demonstrou preocupação quando ela
contou que seu pai tinha a perna amputada por causa da diabete. E o médico
disse:
-- Vamos interná-lo para exames. Vou
telefonar pelo médico responsável por essa ala, que é um especialista para ir
vê-lo.
Laura estava apavorada. Depois de Pedro já
estar baixado e fazendo exames, ela ligou para sua cunhada e para sua mãe. Não
queria preocupá-las, apenas avisar. Ela ficaria com Pedro no hospital. Avisou
sua emprega e pediu que fechasse tudo quando saísse e levasse a chave, para na
segunda feira poder entrar sem problemas.
Depois dos exames, Pedro voltou para o quarto
e estava dormindo. Ela sentou perto dele , segurou sua mão e rezou. Lágrimas
silenciosas corriam em suas faces. Ela estava de olhos fechados e não viu o
médico entrar.
O doutro Marcelo, que havia atendido no
plantão tinha entrado no quarto, e pediu que ela saísse, precisava examinar
melhor o jovem, e seu colega especialista já estava no hospital e estava
analisando os resultados dos exames. Ela poderia ir para a saleta do corredor.
Depois ele iria ter com ela.
Alexandre estava com os exames na mão. Com
certeza era Cetoacidose Diabética, e
teriam que entrar com insulina. Ele então foi olhar os dados do paciente e
quando viu aquele nome, um frio passou em sua espinha. Precisava se certificar,
não era um nome comum, mas...
Alexandre examinou Pedro com cuidado, e
confirmou seu diagnóstico. Ele precisava ficar internado e corria risco de
vida. Precisavam falar com os pais. Pediu que os levasse em seu consultório e
destacou uma enfermeira para permanecer com o paciente enquanto seus familiares
não retornassem ao quarto. Pedro seria removido para UTI.
Alexandre estava nervoso, era uma noticia
desagradável para dar aos familiares de um paciente tão jovem, mas ele estava ,
também, muito ansioso para saber que era mãe de Pedro.
Marcelo bateu levemente e abriu a porta e
Alexandre se levantou, e quem ele vê a sua frente completamente desolada é
Laura. A sua Laura, o amor de sua vida. Teve vontade de abraçar e beijar aquela
mulher, mas não podia.
Ela olhou para ele e se sobressaltou e
perguntou:
-- Alexandre?
-- Sim, sou eu.
Laura chorava, ele não sabia se por causa do
filho ou por terem se reencontrado, não sabia... Ficou tenso. Precisava falar
sobre o Pedro. Era urgente.
-- Laura... Senta... Precisamos conversar. O
pai?
-- Ele morreu, estou viúva há três anos.
-- Sinto muito! Bem, teu filho vai para UTI,
ele precisa de tratamento intensivo, porque é grave o que ele tem. Vou te
explicar tudo.
E Alexandre explicou a ela o que Pedro tinha
e sobre o tratamento que seria feito. Alertou sobre os riscos da doença, mas
apontou para o sucesso do tratamento. Laura chorava e Alexandre não resistiu e
a abraçou
Laura se aconchegou a ele e percebeu que o
coração de Alexandre estava em disparada. Mas ela também ficou perturbada com
aquela proximidade. Aquele abraço foi um bem para ela, que aos poucos se
acalmou e teve certeza de que Alexandre faria tudo para reverter o quadro
clinico de Pedro. Depois de um tempo ela afastou-se dele e:
-- Obrigado... Estava precisando de um
abraço, pois me sinto muito só. E desde que Pedro passou mal, eu estou em
pânico. Mas agora, contigo aqui, sei que tudo vai melhorar, eu confio em ti.
-- Eu sei... Mas depois dessa fase ele terá
que mudar seus hábitos alimentares. Isso depois
nós falaremos. Vem, vou te levar até ele.
Laura se emocionou ao ver o filho, ele estava tão frágil. Alexandre
ficou junto dela, mas não a tocou. Fez sinal a ela, para saírem. Alexandre a
levou até a portaria do hospital e despediu-se dela. Recomendou que ela fosse
para a casa e descansasse e que ficasse tranqüila, ele estava lá cuidando de
Pedro.
Ela chegou em casa, tomou um banho, deitou-se
e dormiu. Sonhou com Alexandre, um sonho diferente dos que ela costumava ter
com ele. Esse não era no passado, deles jovens, esse era atual, que eles
estavam juntos e felizes.
Laura levantou e foi preparar um café e ficou
pensando nas voltas da vida. A coincidência de ele ser o especialista que trata
da doença do filho. E ela viúva... Obra de Deus, coisas da vida, são os que as
pessoas dizem de fatos assim. Mas ela acreditava em destino, e sorriu ao
imaginar que eles estavam destinados um ao outro.
Quando Alexandre chegou ao seu consultório,
depois de se despedir de Laura, suava
muito. Toda a tensão que teve ao revê-la e toda a situação da doença de Pedro,
e a fragilidade dela, o deixou sobrecarregado. E quando a abraçou teve que fazer
um esforço enorme para se conter, pois sua vontade era beijá-la e possuí-la.
Ficou ali um bom tempo pensando, então,
lavou-se e trocou de camisa. Precisava de um café, chamou sua secretária pelo
interfone e pediu que fizesse um café bem forte para ele. E que só começaria
atender um pouco mais tarde.
No outro dia bem cedo Laura foi para o
hospital. Sabia que Pedro estava fora de perigo, que ia para o quarto, pois
Alexandre havia ligado para ela. E ela
teve o cuidado de se arrumar melhor, prender o cabelo, passou pó compacto no
rosto, um rímel nos cílios e um batom rosa claro. Colocou um par de brincos de
pérolas e vestiu um terninho azul, a cor de preferência de Alexandre.
Antes de sair olhou-se no espelho para ver se
estava bem, e até sorriu, e se lembrou dos tempos em que namoravam, de como ele sempre a observava e elogiava, fosse sua roupa, seu
penteado e até a cor do batom ou do esmalte. Ele notava tudo nela, ele sempre foi muito atencioso... Meu Deus!
Estou empolgada com a presença de Alexandre, e nem sei se ele está casado ou
comprometido, se tem família? E eu aqui me arrumando para ele...
Laura, surpresa com sua atitude, censurou a
si própria, seu filho estava doente, hospitalizado e ela se arrumando para o
médico como se fosse uma adolescente.
Ela chegou ao hospital e foi direto para a
sala de espera da UTI. A enfermeira a viu, e foi dar o recado que Alexandre
tinha deixado para ela. Ele tinha providenciado o quarto para Pedro e ela
poderia esperar pelo filho no quarto, que já estava pronto.
Laura agradeceu e foi para o quarto. Estava
contente, Pedro estava melhorando. Mas era só por isso que estava tão contente?
E ela ficou ali pensando nos últimos acontecimentos enquanto esperava pelo
filho. Ela tinha um sorriso no rosto, estava calma e cheia de vida.
Alexandre entrou bem devagar e a viu com
aquela expressão linda no rosto. Ficou parado olhando para ela. Era um devaneio
e tanto foi o que ele pensou. E tinha muita vontade de saber se ele fazia parte
do pensamento dela.
Claro, ela tinha se emocionado ao revê-lo,
mas ela tinha se casado com outro... Portanto ele não podia ter ilusões. Se ela
casou era porque amava o homem que foi seu marido. Ah... Como ele queria que
tivesse sido tudo diferente... Mas a vida sempre apronta situações adversas a
nossa vontade.
Por fim ele pigarreou e Laura pulou na
poltrona. Sorriu ao vê-lo e disse:
-- Eu estava longe... Bom dia!
-- Sim, eu percebi... Bom dia.
Alexandre a olhou e viu que ela estava linda,
aquela tonalidade de azul a deixava linda demais. Que vontade de dizer para ela
tudo isso. Mas não devia. Agora eram apenas velhos conhecidos, ele era o médico
do filho dela e devia haver respeito. E ele continuou:
-- Pedro está vindo. Tenho que ir para o
consultório, mas depois no fim da manhã volto aqui.
-- Tudo bem. Te espero.
Logo Pedro chegou, estava muito sonolento por
causa da medicação, Laura sentou perto do filho, segurou sua mão e continuou
sonhando acordada.
Os dias passaram, Pedro teve alta. E Laura
sentia falta da presença de Alexandre, de vê-lo todos os dias. Agora só na
consulta de Pedro, que seria em uma semana. E ela não se afastaria mais dele,
só se Alexandre tivesse algum impedimento.
Resolveu telefonar para Alexandre e
convidá-lo para jantar em sua casa. Ele aceitou, e só no sábado ele poderia. Então ficou
combinado. Avisou para Pedro que comentou:
-- Acho que vocês eram mais que amigos, pelo
jeito que se olham...
-- Filho! O que tem o nosso olhar?
-- Ora mãe, já não sou mais criança e vejo
algumas coisas nos olhos de
vocês... Me conta tiveste que escolher
entre ele e meu pai, e o pai venceu, foi assim?
-- Não. Foram circunstâncias que nos separam.
-- Então meu pai foi teu consolo?
-- Não.
E Pedro começou a rir. Laura saiu da sala,
sentiu-se envergonhada. Será que era tão evidente o desejo dela por Alexandre?
E dele por ela! Ele a desejava... Ele a
queria... Pedro podia estar enganado. Mas ele não tinha compromisso, senão não
teria aceitado o convite.
Laura suspirava... Eram tantas duvidas...
Eram tantos sentimentos...
Ela queria fazer um jantar saboroso, e
lembrava que Alexandre gostava muito de
peixe ensopado. É o que ela faria para ele. E a sobremesa preferida dele
era ambrosia. Ela faria também. Fez a lista e saiu para o mercado.
Laura estava nervosa, queria que tudo
corresse bem, que a comida estivesse boa e que Alexandre gostasse de estar ali
com ela. A mesa estava bem posta, tinha escolhido uma toalha branca e a louça
era branca com filete azul escuro e dourado. Tinha comprado umas violetas para
enfeitar a mesa. Tudo pronto. Ela foi se olhar no espelho, retocar o batom e
Pedro só olhava não dizia nada, mas de repente começou as gargalhadas.
Ela ficou encabulada, realmente parecia uma
adolescente. Para escolher o vestido que usaria, foi um sufoco, não sabia qual
escolher, mas optou por um azul escuro, um modelo simples, colocou um colar
dourado que combinava com os brincos e calçou sapatos, de salto alto, azul
marinho.
Laura estava com receio de que Pedro iria
dizer alguma coisa indevida. Já tinha feito mais de mil recomendações, mas ela
conhecia seu filho, e ele gostava de uma pilhéria.
Alexandre chegou trazendo umas flores para
ela, eram rosas cor de rosa, a sua flor preferida. Isso animou muito a Laura,
era sinal de que ele também se lembrava de alguns detalhes.
Alexandre a olhou de cima a abaixo quando
entregou as flores, e pode conferir que ela era uma linda mulher. Ele sorriu e
mais uma vez teve ímpetos de beijar aqueles lábios tão macios.
Pedro foi ao encontro de Alexandre e o
convidou para sentar e ficaram conversando sobre futebol. Laura tinha oferecido
uma bebida, mas Alexandre recusou, não bebia e ela perguntou:
-- Nem vinho?
-- Um vinho pode ser, não bebo nada
destilado.
-- Queres agora ou no jantar.
-- Pode ser no jantar.
Pedro era gremista “doente” e descobriu que
Alexandre também. Ele ficou bem animado e ficaram escalando o time para o
próximo jogo. De repente Pedro perguntou:
-- O senhor gosta de azul então?
-- Sim, muito. É a minha cor preferida, seja
qual for o matiz.
Pedro começou a rir e disse:
-- Agora entendi.
Laura vinha trazendo a salada para a mesa e
parou na porta da cozinha com um olhar de fogo para Pedro, que continuava
rindo. Alexandre olhava para os dois sem entender. Até que Pedro completou a frase.
-- Eu
entendi porque ela só anda de azul.
Alexandre deu uma gargalhada e olhou com
carinho para ela. Laura sem jeito os convidou para sentarem a mesa. Ela estava
servindo o jantar.
O jantar correu tranqüilo, Alexandre elogiou
o peixe, a sobremesa. Pedro se levantou
e disse que ia para seu quarto, ia ver uns filmes.
Alexandre tirou o casaco, arregaçou as mangas
da camisa e foi para a cozinha lavar a louça sob os protestos de Laura. Por fim
os dois deixaram a cozinha brilhando, tudo limpo no lugar.
Voltaram para a sala e Alexandre pediu para
ela sentar ao lado dele no sofá. E ela sentou. Ele pegou sua mão e beijou. E
ele pediu:
-- Me conta da tua vida...
E Laura contou que foi estudar em Pelotas, que
morava com a tia, lá conheceu Inácio,
que era colega de seu primo Tiago, e que eles começaram namorar , mas não logo,
demorou, porque ela não queria ter outro namorado. Mas todo mundo disse que ela
precisava esquecer, que tinha que tocar a vida para frente. Inácio era um cara
bom, de boa família, estava estudando arquitetura e por fim ela aceitou
namorar, noivaram e casaram. E vieram para Porto Alegre, nasceu o Pedro e ele
era um bom marido, a tratava bem, era alegre, divertido e um dia inspecionando
uma obra, ele tropeçou na escada e caiu no buraco do elevador e morreu na hora.
Isso a mais de três anos atrás. E ela tinha o Pedro, e a família de Inácio
tinha posses e então ela não precisava trabalhar, eles remetiam a parte dela
das fazendas. Os pais deles eram vivos ainda, mas passaram para ela e o filho
uma parte da herança. Inácio só tinha uma irmã, e ela e o marido haviam concordado.
Estava tudo legal.
Alexandre escutou tudo o que ela disse, e
percebeu que em nenhuma vez ela falou que o amava. Era amada pelo marido, mas
ela não ficou claro, e ele precisava saber:
-- Tu o amavas muito...
-- Eu gostava muito dele.
E ao dizer isso Laura olhou nos olhos de
Alexandre que estavam fixos nos dela. Ele apertou sua mão e beijou novamente. E
Laura estava curiosa também e falou:
-- E como foi contigo?
-- Comigo, não tenho muito a contar. Estudei,
estudei e estudei.
-- Não tiveste ninguém?
-- Não.
-- Por quê?
-- Porque eu não queria, não tinha tempo para
isso e além do mais meu coração já tinha dona. Sempre foste tu, apenas tu.
E Alexandre a envolveu num abraço e a beijou
com paixão. A paixão era tanta que deixou Laura emocionada. Depois daquele ardor, Alexandre se levantou,
precisava ir embora, precisava colocar os pensamentos em ordem.
Laura o levou até a porta. Despediram-se com
um beijo na face. Ele saiu sem dizer nada. Laura queria que ele viesse almoçar
no outro dia, mas achou que não deveria insistir. Ele estava estranho. Talvez
quisesse ficar sozinho.
No domingo a tardinha ele ligou para ela.
Agradeceu pelo jantar e disse que ficaria fora uns dias. Qualquer coisa que
precisasse que procurasse o Dr. Marcelo. E que as consultas seriam todas
remarcadas.
E Laura perguntou para onde ele ia, e
Alexandre respondeu que tinha uma reunião em São Paulo e de lá iria para a
Alemanha defender sua tese de doutorado. Eles adiantaram em um mês a
apresentação dele. Por isso esse transtorno todo. Despediram-se com a promessa
de jantarem juntos quando ele retornasse.
Laura estava na expectativa. Alexandre não
definira a data de seu retorno. Ela resolveu contar para o filho a história
deles, porque depois daquele beijo, com certeza eles voltariam.
Pedro escutou toda a história de amor de sua
mãe, que ao narrar enfatizou o amor de Inácio por ela. Deixou bem claro que ela
e o marido tinham sido muito felizes, que sempre viveram em paz e harmonia.
Então Pedro disse:
-- Mãe tu achas que ele que casar contigo?
-- Não sei, ele não falou nada. Apenas
lembramos o que vivemos, e como foi nossa vida depois que nos separamos... Mas
resolvi te contar, para tu não ter nenhuma surpresa.
-- Obrigado. Eu gosto dele, acho ele um cara
legal. Se queres casar eu dou minha permissão.
-- Esta bem. Mas não sei mesmo. Agora ele foi
chamado em São Paulo e vai para a Alemanha, talvez tenha até alguma proposta de
trabalho no exterior. Não sei. Vamos esperar. Apenas quis te contar.
Aqueles dias foram longos para Laura,
custavam a passar. Ela estava ansiosa, alegre e ao mesmo tempo ansiosa e
triste, porque ela poderia estar imaginando coisas.
Eram dez horas da manhã de sábado quando o
telefone tocou e era Alexandre, pedindo:
-- Tu podes me pegar no aeroporto ao meio
dia. Já estou em São Paulo e estou embarcando para Porto Alegre e vamos almoçar
juntos. Ok?
-- Sim. Vou estar lá.
Ela estava sozinha. Pedro tinha ido para
Pelotas para passar o fim de semana com os avós. Tinha ido com a tia. Chegaria
no domingo a tardinha.
Laura tomou um banho, colocou uma calça preta
e vestiu uma blusa de malha branca com detalhes em preto. Mocassim pretos e
bolsa vermelha. Penteou os cabelos deixando soltos, caídos nos ombros, passou
batom e saiu. Não queria se atrasar. Ela chegou a tempo de ver o avião
aterrissar. Logo ela o avistou e foi para o terminal esperar.
Ele chegou e a abraçou e beijou e saíram
abraçados. Almoçaram numa churrascaria, e ele falou o tempo todo contando sobre
sua apresentação. Ela escuta e ria. Estava encantada de estar com ele.
Ela perguntou para onde ele queria ir, e ele
muito rápido respondeu:
-- Para onde tu fores.
-- Então vamos lá pra casa. Pedro está em
Pelotas, só volta amanhã à tarde.
-- Mas que boa noticia...
Laura fez um café para eles. Estava começando
a chover. Eles ficaram sentados no sofá,
de mão dadas conversando, como nos tempos de namoro. A noite caiu e
Laura foi para cozinha preparar algo para eles comerem. Alexandre a ajudou.
Depois mais tarde Alexandre perguntou a ela:
-- Queres que eu vá para o meu apartamento,
ou posso ficar aqui contigo?
Ela olhou para ele e sorriu, quando respondeu:
-- És tu quem decide.
-- Eu fico, estou morrendo de saudades de ti.
Como vamos fazer? E o Pedro?
-- Eu já contei para ele a nossa história,
enfatizei a importância do pai dele, e ele aceitou, diz que dá permissão para
nós casarmos.
-- Casar?
-- Não queres casar? Ou não podes?
-- Ora, deixa de bobagens, já te disse que
não tem ninguém. Estou brincando. Claro que quero casar contigo, sempre quis.
Se Pedro não é problema vamos providenciar.
E naquela noite ele provou o sabor do corpo
de Laura. Amaram-se com paixão, fazendo despertar todo a amor que sempre
tiveram um pelo outro. Era mais que amor, era loucura.
Alexandre estava no paraíso. Fazer amor com
Laura foi tudo o que sempre desejou e que sempre sonhou. Agora estava feliz e
realizado. Enfim eles estavam juntos e ela era sua.
E Laura pode perceber que foi com Alexandre
que ela conseguiu se realizar como mulher. Deu-se conta que ela sempre permitiu
que Inácio a tocasse, mas nunca sentiu o fogo do amor em suas entranhas.
Alexandre a fez vibrar, a fez mulher. Ele era o amor de sua vida.
Alexandre sabia que não poderiam dormir
juntos sem estarem casados. Precisavam respeitar a Pedro. Então ele tratou de
“agilizar” e em dois meses estariam casando.
No outro fim de semana foram a São Lourenço
do Sul, para visitar os pais de Laura, que ficaram muito felizes com a boa
noticia.
Aproveitaram e passearam a beira da lagoa,
sentaram no banco “dele” e recordaram os momentos alegres e felizes que viveram
ali quando eram jovens.
Só em Pelotas que a família de Inácio não
aplaudiu a idéia. Queriam que ela cultivasse para sempre a memória do marido.
Também foram a Florianópolis levar a noticia
a família de Alexandre que a receberam com uma verdadeira festa. Lá eles
puderam fazer um ensaio da lua de mel.
Enfim casaram em uma cerimônia simples na
manhã de sábado na Igreja Santa Terezinha. Depois fizeram um almoço no salão de
festas do prédio onde Laura morava. E saíram em lua de mel para Treze Tílias em
Santa Catarina. Um lugar lindo e sossegado, onde puderam curtir a paisagem e,
sobretudo se amarem.
Quando voltaram à rotina de suas vidas, Laura
passava com um sorriso no rosto e Alexandre estava sempre cantarolando. O amor
trouxe a eles a alegria de viver.
Maria
Ronety Canibal
Setembro
de 2017.
IMAGEM VIA INTERNET
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