quinta-feira, 10 de agosto de 2017

VERÔNICA

                                                               VERÔNICA

Ela estava ansiosa, e teria que esperar ainda um bom tempo. Tinha três pessoas a sua frente. Verônica nunca tinha feito uma entrevista para emprego. Queria, precisava daquele trabalho. Sabia que era capacitada, mas não tinha experiência.
Enquanto esperava deixou seu pensamento correr... Lembrou de como a sua vida tinha sido boa, feliz e nada monótona. Conhecia vários países e residira em alguns. Seu pai era diplomata.
Ela tinha se formado em Administração enquanto moravam na França. E logo depois aconteceu o acidente...
Ela foi chamada... Sua vez de ser entrevistada. Entregou o currículo e esperou. E logo começou uma chuva de perguntas e ela calmamente respondeu a todas, sempre com detalhes, como era seu jeito.
Deixou a sala sem ter idéia do que tinham achado dela. Iriam telefonar até o fim da semana. E uma das perguntas que mais insistiram foi sobre a disponibilidade para viagens. E também perguntaram  sobre sua vida particular, e o por que estava disputando aquela vaga.
Então resolveu ir para o apart-hotel esperar o resultado. Estava quase noite quando saiu do escritório, mas foi andando era perto. Começava cair uma chuva fina e esfriara bastante. Ela pensou: as delicias de morar no sul, um frio para curtir.
Ao chegar tomou um banho, ligou para o serviço e pediu um chocolate quente e bolo de chocolate. Acomodou-se no sofá e pegou seu livro para continuar sua leitura.
Na manhã seguinte, às nove horas o telefone tocou, era do escritório pedindo que ela voltasse, precisavam de mais algumas informações. Ela vestiu-se, pegou um agasalho e foi, agora com a esperança de conseguir o emprego.
Ao chegar à recepção foi levado por outra moça e por um corredor diferente daquele de ontem. Mas... Disseram para ela entrar em um escritório suntuoso, e pediram que esperasse. Ela sentou-se e ficou admirando a vista magnífica da cidade com o logo ao fundo. Ela não resistiu, e caminhou até a vidraça para apreciar o panorama. Estava tão distraída que não percebeu que alguém havia entrado na sala. Era Diego. Ele ficou olhando para ela e por fim disse:
-- Bom dia Verônica.
-- Bom dia!- respondeu ela virando-se para ele. -- Desculpe, mas não resisti. Que vista maravilhosa se tem daqui.
-- Sim muito bonita. Eu sou Diego. Prazer.
-- Prazer.
-- Sente, por favor, precisamos conversar. Teu currículo é muito interessante, mas tu nunca trabalhaste, posso saber por quê?
-- Sim. Eu trabalhei por um período como secretária particular de meu pai.
-- Sim. E depois...
-- Depois meu pai morreu. Ele era diplomata, e nós moramos em vários países, por isso eu tenho facilidade com tantos idiomas, alguns falo e escrevo corretamente como o senhor deve ter observado,  e os demais aprendi por contato.
-- E por que escolheu Porto Alegre para morar?
-- Eu sou brasileira, nasci em São Paulo, mas desde muito pequena morei fora daqui. E escolhi o sul por causa do clima e por a cidade não ser tão cosmopolita.
-- E sua família?
-- Sou solteira, sem compromisso algum, e não tenho mais família. Meus pais e minha irmã mais nova morreram em um acidente de carro, o carro não bateu, foi atingido por uma explosão de um carro bomba.
-- Hum... Sinto muito.
-- Então eu quis sair da Europa. Aqui penso que seja mais seguro.
-- Não conheces a cidade muito bem...
-- Não, mas tenho facilidade em me localizar e aprender a me movimentar em lugares diferentes. Estou acostumada.
-- Muito bem. Tu freqüentavas festas nas embaixadas e outros lugares?
-- Sim, muitas vezes fui representando meus pais.
-- Certo. Tu vais trabalhar comigo. Quero que tu mores em minha casa, assim facilita, pois resido fora da região urbana. Terás dias de folga, mas o horário muitas vezes pode ser  puxado, e também viajaremos algumas vezes e quero que me acompanhes em jantares, bailes e festas.
-- Não tem problema.
-- Claro que para as viagens terás  um adicional e creio que já sabes o valor do salário.
-- Sim, eu sei.
-- Então estás empregada. Parabéns!
-- Obrigada. Quando começo.
-- Amanhã pela manhã vens para assinar o contrato e depois meu motorista vai te acompanhar para pegares tuas coisas e te levar para minha casa.
-- Certo. Até amanhã, senhor.
-- Me chame de Diego. Até amanhã.
Verônica saiu radiante. O que havia conseguido era muito mais do que o esperado. E que salário! E sem despesa de transporte, moradia e alimentação. As roupas que talvez ele precisasse comprar algumas mais clássicas. Ainda teria que ver qual seria a exigência. Mas estava feliz. Tinha vontade de pular de alegria. E Diego era um cara bonito, simpático e devia ter cerca de quarenta e cinco anos. Ela havia gostado dele. Parecia ser um cara legal.
Ia caminhado pela rua e pensando. De repente se deu conta que ele deveria ter uma esposa e filhos, mas então por que queria que o acompanhasse em festas? Será que era sozinho?

Depois que Verônica saiu, Diego foi para a janela e observou que estava começando a chover. Ficou ali olhando a chuva e seu pensamento foi para a sua nova secretária. Tinha ficado impressionado com ela, com sua educação, e seu jeito de falar e pronunciar corretamente as palavras, seu modo de sentar e conversar, o tom de voz. E demonstrava também ser muito culta. Realmente havia gostado dela. Até que enfim tinha conseguido uma pessoa de alto padrão. Estava cansado de tratar com pessoas de baixo nível.
E além de todos esses predicados, ela era muito bonita. E veio a sua mente que não poderia, como de costume, hospedá-la na ala dos empregados. Ela ficaria na suíte maior, que tinha vista para o lago Guaíba.
Telefonou para casa e pediu a sua governanta que preparasse tudo para o conforto da nova secretaria.
No outro dia, Verônica já estava com suas coisas todas arrumada. Avisou a portaria que estava deixando o hotel. Foi ao escritório, assinou o contrato, não antes de ler e ficar bem informada sobre alguns itens. Foi com o motorista pegar suas coisas no hotel, fechou a conta e foi viver aquela aventura. Esperava que desse certo.
Diego morava longe do centro, na região sul da cidade, num lugar lindíssimo, a beira do lago Guaíba, num terreno imenso, segundo João, o motorista, eram cerca de cinqüenta e cinco hectares, onde ele criava  cavalos crioulos. A casa era rodeada por um lindo jardim, com árvores centenárias, e alamedas que serpenteavam o gramado. Na beira do lago havia um ancoradouro, pois Diego gostava de passear de lancha. E a piscina era térmica!
Verônica estava deslumbrada. Mas quando viu a casa... Era linda demais. Aliás, era um casarão! Dois pisos e com uma arquitetura de linhas retas e simples, com muito vidros, sacadas, e terraços. E por dentro muito bem mobiliada, com móveis finíssimos.
Ela foi levada a uma porta lateral e foi recebida por Rosa, a governanta, que era esposa do motorista. Muito gentil, a senhora a levou para a suíte a ela designada. Verônica ficaria muito bem instalada. Mas percebeu o comentário feito por Rosa:
-- As outras secretárias ficavam sempre na casa dos empregados...
-- E onde fica a casa dos empregados, longe daqui?
-- Um pouco.
-- Não fica ninguém aqui a noite?
-- Ficam a Vera e a Miriam, cozinheira e copeira.
-- Bem, menos mal.
E Verônica encerrou o assunto. Ela havia adorado a suíte, que tinha vista para o lago e era muito confortável. Era espaçosa, tinha um closed bem grande, banheiro com banheira de hidromassagem, e uma ante sala com um sofá e uma poltrona e uma mesa tipo secretaria. Se Diego achou que ela deveria ficar bem confortável, não era ela que iria reclamar.
Ela arrumou suas roupas no closed e distribuiu alguns objetos pessoais pelo quarto. Ocupou a escrivaninha com seus pertences e colocou alguns livros no suporte acima.
Tomou um banho e ficou pronta. Não sabia o que fazer. Esperou no quarto. Alguém a chamaria... Estava frio e ela acomodou-se na poltrona com seu livro para continuar a leitura. Bateram a porta. Ela disse:
-- Entre...
Era Diego. Ela levantou rápida e disse:
-- Olá. Eu estava aqui esperando alguma ordem.
-- Eu vim saber se gostou do teu quarto?
-- Sim! Muito confortável. E que lugar aprazível que tu moras.
-- É eu gosto muito daqui... Fico mais aqui, vou pouco ao escritório. Por isso preciso que minha secretária more aqui.
-- Está certo. E num lugar assim quem não gosta de morar...
-- Já perdi muitos empregados por morar “neste fim de mundo”. Mas venha vou te mostrar o escritório e tuas tarefas.
-- Vamos...
Diego muito entusiasmado foi mostrando a casa para ela, e ela fazendo perguntas e observações sobre algumas obras de arte que ele tinha. Por fim ele perguntou:
-- Entendes de artes?
-- Muito pouco. Mas sempre gostei de ir a exposições e a leilões. Só como espectadora,  é claro.
Ambos riram.
Foram para o escritório, ele deu todas as informações iniciais para ela e depois  ofereceu a ela uma bebida. Ele iria beber, se quisesse acompanhá-lo... Ela aceitou um Martini Bianco e ele tomou um Uísque.
Logo Rosa veia avisar que o jantar dele estava servido. E ele prontamente disse, já estamos indo, coloque mais um prato a mesa, pois Verônica fará as refeições comigo. E ele automaticamente pensou, “está feita a fofoca”.
Mas após a primeira semana todos perceberam o encanto de pessoa que era Verônica, e como era educada e tratava todos com gentileza. Não se intrometia nos assuntos de ninguém, e após seu horário de trabalho se recolhia a seu quarto. Realmente o patrão tinha razão em dar um lugar especial a ela na casa. Ela não era uma secretária como as outras. Ela “era vinho de outra pipa”.
Diego anunciou que na próxima semana teriam uma reunião na Argentina. Ela assentiu e logo pensou que roupas levar, mas não queria perguntar. Na sexta feira seria a folga dela, então iria a cidade comprar alguma coisa.
Mas parecia que Diego havia lido seu pensamento. Ele levantou e saiu do escritório. Falava ao telefone. Verônica continuou fazendo seu trabalho, nem prestou atenção ao assunto dele ao telefone.
Era meio da tarde quando ela viu uma movimentação na casa, mas não deu importância, ainda não conhecia todos os costumes da casa. E Rosa veio dizer que fosse ao seu quarto.
Ela foi.
Quando chegou viu que havia uma arara cheia de roupas bem no meio da suíte. Ela ficou parada olhando... Não sabia o que dizer. Mas a vendedora foi logo dizendo:
-- Olá, seu Diego pediu que trouxéssemos aqui para que possas escolher o que precisas.
-- Mas eu..
E Diego chegou à porta e afirmou:
-- Apenas escolhe o que te agrada, experimenta, elas ajustam se precisar... Depois acertamos. Vais precisar.
E Verônica não discutiu, ainda mais ali na frente de outras pessoas. Ela era muito discreta. E ela escolheu um vestido de baile, um modelo de noite e dois terninhos de lã com duas camisas de seda. Mais uma capa para o vestido de baile. Sapato e bolsa.
Mas para surpresa dela ele escolheu para ela mais algumas peças, e de muito bom gosto. Ele riu  e disse:
-- Esse closed é muito grande... Ainda podemos comprar muitas outras peças.
Ela sorriu e concordou com a cabeça. E pensou que homem é esse? Tão lindo, tão gentil, tão generoso, tão rico e sozinho. Qual era o mistério? Teria que descobrir...
No sábado ele a chamou para ir ver sua criação de cavalos crioulos. Seu haras tinha matrizes importadas da Argentina e seu garanhão era considerado um dos melhores da raça.
E ele explicou a ela, que iria a Argentina para participar de uma reunião da Confraria do Crioulo, a qual ele era membro. Que se reuniam duas vezes por ano, e havia troca de informações, visita a alguns haras e confraternização, com jantares e sempre encerravam com um baile de gala. E isso tudo durava sete dias.
Verônica gostava de cavalos, era acostumada a cavalgar e admirou muito os animais dele e deu opiniões (leigas, é claro) que o entusiasmou muito e o fez perguntar:
-- Tu sabes montar?
-- Sim, na minha adolescência moramos na Inglaterra, e nos fins  de semana meu  pai sempre nos levava, a família toda,  ao campo de um amigo, e lá saímos todos cavalgando. Era muito bom, um lugar belíssimo.
-- Então está combinado. Amanhã de manhã vamos sair... Vou mandar preparar uma égua para ti.
-- Obrigada... Vai ser ótimo... Mas estou fora de forma.
-- Terei paciência...
E voltaram para casa rindo e conversando sobre os animais. E ela percebeu que os cavalos eram a paixão dele.
Depois do almoço ela foi para seu quarto, abriu o computador e foi procurar informações sobre a criação de cavalos crioulos na America do Sul. Pois envolvia os países do sul: Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, sobretudo o Rio Grande do Sul. Leu, pesquisou e teria muitas perguntas a fazer ao Diego para poder conversar e acompanhar os assuntos, neste encontro que iriam participar na próxima semana.
Conforme o combinado, no domingo cedo foram cavalgar. Ela aproveitou e tirou todas as sua duvidas sobre a criação. Ele ficou admirado com o interesse dela no haras. E encantado com a sua companhia,e sobretudo por ela gostar de cavalo, ela de fato era uma pessoa extraordinária. Que postura e que leveza ela tinha ao cavalgar!
A cada dia ela se surpreendia com Diego. Fizeram a viagem no “jatinho” dele. Foi uma viagem tranqüila. Quando chegaram a Buenos Aires eles foram para um hotel onde estavam reservadas duas suítes contínuas com comunicação interna. Ela estava desarrumando sua mala quando ele bateu a porta de comunicação e disse:
-- Daqui a uma hora teremos compromisso. Vamos nos encontrar para jantar. Coloque um terninho e estará bem. O ambiente é simples.
-- Certo. Vou me arrumar.
Verônica separou o que queria vestir e foi tomar banho. Usou um sabonete especial que ela havia comprado e o perfume do sabonete se difundiu pelo ambiente. Vestiu um terninho de lã na cor caramelo escuro, com uma blusa de seda branca e uma echarpe em tons de caramelo. Prendeu o cabelo num coque na nuca e estava parecendo uma espanhola. Ela olhou-se no espelho e riu.
Ela bateu a porta e ele veio abrir e a olhou com admiração e disse:
-- Muito elegante. Linda mesmo. Vou muito bem acompanhado... E esse perfume que vem de ti é inebriante. Um perigo!
Ela apenas sorriu, e viu que ele também estava muito bem vestido, em tons de marrom e casaco de couro sobre a camisa de lã. E pensou um perigo mesmo. Acho que estou me apaixonando por esse homem, e é tudo o que eu não quero. Não posso misturar trabalho com romance, não dá certo.
Ele a conduziu ao elevador, e fizeram a descida em silêncio. Ficaram no saguão do hotel aguardando o carro que viria buscá-los. Quando ele viu o carro, a tomou pela mão e saíram. Sentaram juntos no banco de trás do carro.
Verônica ia olhando tudo fazia muitos anos que vinha a Buenos Aires e estava notando  que muita coisa mudara. Chegaram ao bairro La Boca. Desceram e entraram em uma Cantina. E alguns confrades já estavam ali, e Diego muito orgulhoso apresentava Verônica, como se fosse sua namorada.
Ela olhou para ele com um olhar inquiridor e ele sorriu e disse ao seu ouvido:
-- Se não disser assim, eles não vão te dar sossego. Eu conheço bem.
-- Entendo...
A noite foi divertida, havia gente de todo o lugar, e a conversa girou sobre cavalos é lógico, e até as senhoras participavam do assunto com interesse. Todos tomaram vinho, e o riso era fácil. Mas ela cuidou para não se empolgar com o delicioso vinho. Não queria fazer feio.
Quando voltaram para o hotel, era bem tarde. Diego estava ligeiramente embriagado, e dizia muita bobagem. Ela ria muito dele. Ao chegarem na suíte ele abriu a porta do quarto dele, sentou-se no sofá e pediu que ela ficasse ainda ali com ele. Pois se deitasse o mundo iria girar em sua volta.
Verônica muito atenciosa, ajudou ele a tirar o casaco, os sapatos e pediu que trouxessem um café bem forte. Quando chegou ela o fez beber, e ele bebeu.
Ela sentou-se na poltrona a sua frente. E ele olhando para ela dizia:
-- Disse que és minha namorada de ciúme dos outros. Eu quero que sejas minha... Só minha.
Ela sorriu e não disse nada. Apenas ficou escutando o que ele continuava a dizer:
-- Não é porque eu bebi, mas eu gosto de ti, gosto muito, te quero sempre a meu lado...
Depois ele calou e só olhava para ela. Então ela o ajudou ir para cama, o ajudou a tirar a roupa e vestir o pijama. E nesta tarefa teve algumas surpresas... Por fim ele dormiu e ela foi para seu quarto. Mas seu pensamento estava dando muitas voltas.

No outro dia, no café da manhã, Diego desculpou-se por ter passado da conta. Não era o seu costume fazer isso. Há muito tempo deixara os hábitos da juventude. Não sabia dizer o que houve com ele.
Verônica sorriu e o desculpou. E trocou de assunto, perguntando sobre a programação do dia. Visitariam um haras e a noite teria um jantar no clube.
E no decorrer do dias eles pouco se falaram. Ela juntou-se ao grupo de senhoras. E nessa noite seria o baile de gala, que  era sempre o momento de encerramento do encontro. Era realizado na mansão  de um confrade, que morava aos arredores da cidade.
Ela escolheu usar o vestido que ele havia escolhido, e que era muito bonito e se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Era um modelo especial, mangas longas, e com um decote quadrado bem acentuado, que valorizava os seios, sem ser indecente. Era em veludo, na tonalidade de verde esmeralda e tinha pedras bordadas por todo ele em intervalos de dez centímetros. E quando ela se movia o vestido todo brilhava. Era lindo demais.
Diego bateu a porta para saber se ela já estava pronta, e ela abriu e se mostrou a ele, que ficou literalmente de boca aberta, sem fala, apenas olhando aquela mulher que estava deslumbrante naquele vestido. Ele sabia que seria esse o resultado, por isso o comprou. Ele ficou sem palavras. Depois de algum tempo conseguiu dizer:
-- Estás muito linda... Um belo vestido numa bela mulher, e eis o resultado, estou sem adjetivos.
Ela achou engraçado e riu. Mas  pensou que ele em seu smoking também estava lindo.
Entraram no carro, e ele pegou sua mão e disse bem baixinho:
-- Vê se essa noite não me deixa sozinho.
-- Sim...
E ele deu um beijo em sua mão e a  soltou.
Enquanto o carro seguia pelas avenidas da cidade, ela ia pensando em como faria para resistir a ele. Ela estava totalmente apaixonada por ele. Não sabia o que ele sentia por ela, mas sabia que ele a olhava com intensidade, sempre cuidando onde ela estava. Deu para sentir, e quando algum homem se aproximava dela, logo ele estava a seu lado. Talvez ele também estivesse apaixonado por ela. Não sabia...
Ele também estava pensando na situação que estavam criando. Ele estava louco por ela, não podia dizer que era amor, mas essa mulher mexia com ele. Perto dela ele ficava perturbado. Como seria...  Ela era linda, cativante, divertida, inteligente, culta, do seu nível. Ela poderia ser sua esposa. Sua mulher...
Ele tivera uma desilusão tão grande, anos atrás, não quisera mais compromisso com ninguém. Quando precisava de uma mulher, ele pagava. Pronto. Resolvido. Mas agora ele não queria outra mulher, ele queria apenas ela. Ela era a mulher que sempre desejara para si. Mas tudo  teria que acontecer na hora exata, senão corria o risco de perde-la.
Enfim chegaram ao baile.
Antes das danças seria servido o jantar a francesa. Tudo muito chique. A mansão era um prédio antigo, com estilo inglês e a decoração no mesmo estilo. Muito bonito!
Foram recebidos pelos anfitriões no hall de entrada. E logo foram para a sala onde os demais convidados estavam. Quando ela entrou todos os olhares se voltaram para ela, e Diego percebeu cobiça nos olhares masculinos. E nos femininos certa inveja. Ele tomou sua mão e a segurou e a apertou. Ela olhou para ele e sorriu.
O jantar foi alegre, todos falando amenidades, contando histórias engraçadas. Por fim todos passaram para o salão de baile onde seria servido  champanha. O grupo musical já estava tocando   e os donos da casa  começaram a dançar convidando os demais.
Diego logo a levou para o meio do salão para dançar, com receio que alguém viesse convidá-la. Eram musicas suaves e românticas. Ele a enlaçou em seus braços e rodaram pelo salão.
Enquanto dançavam Diego murmurava palavras doces ao ouvido de Verônica, que se deixava levar pelo clima que estava surgindo entre eles. Dançaram um bom tempo, e Diego a convidou para irem tomar uma bebida. Ela aceitou. Enquanto bebiam eles não se misturaram aos outros convidados, ficaram mais isolados conversando. Diego estava perguntando a ela se podiam ir embora. E ela concordou.
Despediram-se de todos com a promessa de se encontrarem em breve. No caminho de volta, ele a envolveu com um abraço. Fazia muito frio, e ela não estava muito agasalhada. Ela aconchegou-se a ele, e decidiu que esta noite seria única. Eles estavam realmente bem envolvidos, a cidade, a festa tudo contribuía para essa aproximação. Depois quando eles retornassem a rotina, tudo voltaria a ser como antes. Era o que ela esperava.
Quando entraram na suíte do hotel, Diego voltou-se para ela e a beijou com muito ardor. Ele estava segurando aquela vontade de beijá-la a muito tempo. Ela retribuiu o beijo com o mesmo ardor. Ele a afastou e disse:
-- Vamos abrir um champanhe, essa noite é nossa, só nossa...
E brindaram, se beijaram, beberam e se amaram...
Dormiram abraçados. Ao acordar Diego a observou dormindo por um longo tempo, deu um beijo em sua testa e disse ao seu ouvido, ”És muito gostosa.”. Ela abriu os olhos e ele sorriu:
-- Pensei que estavas dormindo...
-- Eu estava. Mas acordei...
Ele se levantou da cama, foi ao banheiro e voltou com um pacote para ela. Entregou para ela dizendo:
-- Comprei para ti, vê se gosta.
Verônica abriu e ficou encantada com o presente. Era uma pequena tela retratando o teatro Collon.
-- Lindo, adorei. Obrigada.
Ele disse:
-- Precisamos conversar...
-- Sim, mas deixa-me tomar um banho e me vestir, que horas vamos sair?
-- Não precisamos ir hoje. Já falei com o meu piloto. Vamos amanhã. Vamos curtir a cidade. Foram tantos compromissos que não passeamos pelo mercado das pulgas. É muito bom.
-- Eu sei, em Paris eu costumava ir.
Ela foi para seu quarto se arrumar, enquanto ele fazia o mesmo. Ele pediu  café para dois no quarto. Poderiam conversar sossegados enquanto tomavam café.
Sentou esperando por ela. E lembrou a noite deles. Tinha sido maravilhosa, ela era tudo o que ele queria. Estava disposto a casar, mas se ela não quisesse casar, ele não abriria mão dela de jeito nenhum, não sabia como fariam, mas teriam que continuar o que recém havia começado.
Ela surgiu na porta, mais uma vez linda demais. Estava com um conjunto azul marinho com detalhes em vermelho e branco, elegantíssima.
O café chegou e eles serviram-se, em silencio. Então Diego falou:
-- A nossa noite foi demais, e não vai ficar por aqui, vai?
-- Deveria.
Ele sorriu e continuou:
-- Não foi nada avulso, nós nos envolvemos e acho que realmente fizemos amor. Essa semana nós nos conhecemos melhor, tivemos oportunidade de expressar nossos sentimentos, que, a meu ver, vem crescendo. Acredito que tu também sentes algo por mim, porque te entregastes com paixão.
Ela sentiu seu rosto aquecer, mas era verdade o que ele dizia, ficou calada e deixou ele continuar:
-- Eu gostaria de poder anunciar a todos que estamos namorando.
-- Mas eu trabalho para ti. Será meio estranho, não achas? E em tão pouco tempo. Teus empregados não vão me respeitar, vão falar mal de mim. Isso eu não quero.
-- Então, queres casar?
-- Casar? Para me chamarem de oportunista. Eu preciso desse emprego, estou feliz com o que faço, não quero perder tudo isso.
-- Seremos amantes? É isso que queres?
-- Não sei. Essa noite era para ser única. Ficar na recordação...
-- Na recordação? De que jeito? Estando contigo todo o dia, não agüento.
-- Precisamos decidir agora? Não podemos deixar para mais adiante?
-- Sim, podemos. Mas lembra de que eu coloquei a possibilidade de nos casarmos, pois percebo que  te preocupas com tua reputação.
-- Me dá um tempo...
-- Te dou o tempo que precisares, mas vamos continuar dormindo juntos.
-- Não! Todos vão saber...
-- Não! Há uma porta de comunicação entre os nossos quartos. O espelho do closed é uma porta. Ninguém sabe, é só termos o cuidado de não deixá-la nunca destrancada. Está resolvido, agora vamos passear que a cidade nos espera, está um sol lindo lá fora, mas frio, pega um agasalho.
 Passearam pela cidade, foram ao mercado de pulgas e passaram o dia ali olhando e comprando coisas interessantes. A noite jantaram no hotel e logo subiram para a suíte, e foi mais uma noite de amor. Amor no sentido mais profundo da palavra.
Ao chegaram em casa, Verônica percebeu que nascera uma intimidade entre eles que era difícil disfarçar. Mas mesmo assim ela tentava. E porta do espelho todas as noites era aberta,
O tempo passou e Verônica ainda não dera a resposta a ele, que seguidamente a questionava. Na verdade ele queria casar com ela. Ele era um homem responsável, integro e não gostava de se aproveitar de situações delicadas, sobretudo envolvendo uma mulher. Ela era só no mundo, e precisava de proteção, e ele queria ser seu porto seguro. E além do mais ela era a mulher de seus sonhos em todos os sentidos. Nunca vira alguém com as qualidades dela, e já se conheciam bastante, tinham afinidade na cama, por que ela não aceitava sua proposta?
Era outubro, e fazia calor. Diego a convidou para sair de lancha, tinha uma pequena ilha logo adiante que era dele, e era um lugar bonito e agradável. Levaram bebida gelada e sanduíches.
Ao chegarem, acomodaram as cadeiras e a caixa de bebidas e lanche a sombra, embaixo de uma figueira centenária. Verônica não resistiu e entrou na água, que era rasa até certo ponto, depois tinha um desnível grande, e era um lugar muito perigoso para quem não conhecia.
Diego pediu que ela saísse da água, já tinha se refrescado. Ela atendeu o seu pedido e sentou perto dele. De repente ela disse:
-- Estou pensando em deixar o emprego...
-- O quê?
-- Vou embora...
-- Enlouquecestes? Tu não tens ninguém e nem para onde ir, e tu gostas ...
Diego parou de falar, algo muito dolorido veio em seu pensamento e sem rodeios perguntou a ela:
-- Preciso esclarecer uma coisa.
-- Fale.
Disse Verônica agora olhando para ele com os olhos arregalados.
-- Tu transas comigo só porque sou teu patrão?
Havia uma expectativa na voz e no olhar de Diego. A resposta dela era muito importante para ele, que agora estava se dando conta que a amava de verdade, e a menção de ela ir embora o apavorou.
-- Não! Desde a primeira vez foi porque eu quis também. Eu gosto...
-- Gosta? Complete a frase.
-- Eu gosto do teu jeito de fazer amor. Acho que nos entendemos bem.
-- Eu também acho, e desde a primeira vez tu foste ótima, tu és incrível.
Os dois se olharam, mas Verônica desviou o olhar. E Diego continuou:
-- Eu não te entendo, não quero ser chato, mas nós não precisamos fazer nada escondido, não devemos explicação a ninguém, gostamos de estarmos juntos e por que todo esse segredo. Mais uns dias meus amigos uruguaios estarão aqui e eles sabem que estamos juntos, já viajaram conosco, e aqui esse teatro. Por quê?
-- Eu tenho medo.
-- Medo!
-- De sofrer... Outra vez.
-- Eu também já sofri, fui traído. Mas agora é diferente. Pelo menos para mim. Eu te conheço bem, te acho fora de série, e tu és uma boa companheira, no trabalho, nas viagens e, sobretudo na cama. Se não queres casar, tudo bem. Mas vamos pelo menos abrir o jogo, porque corremos o risco de sermos ridículos.
Verônica não disse nada. Ficou quieta olhando o horizonte. Diego levantou e foi dar uma caminhada pela ilha. Ele estava inconformado com a teimosia dela. E decidiu que não transaria maiss com ela, a não ser que ela sinalizasse que queria.
Quinze dias se passaram e a porta do espelho não foi aberta por ele, embora Verônica a destrancava todas as noites. Neste período algumas noites ele não viera dormir em casa. Simplesmente no meio da tarde pegava o carro e saia sem dizer nada. E ela  estava angustiada, pois achava que ele estava com outra. Diego a tratava bem, mas conversava com ela apenas assuntos de trabalho. Ele passava muito tempo cavalgando, ou simplesmente olhando o trabalho no haras.
A casa de hóspedes tinha sido preparada por ela, que deixou pequenos mimos para cada um dos amigos. Enfeitou com flores e abasteceu o frigobar de cada suíte.
Os amigos chegaram, Verônica organizou um churrasco para receber o grupo. Tudo correu bem, mas em nem um momento Diego chegou perto dela.
Ela foi muito elogiada por ser uma ótima anfitriã. Diego apenas sorriu de longe para ela.
No outro dia iriam para serra gaúcha. As reservas já estavam feitas há bastante tempo, e ela sabia que ficariam juntos. Mas deixou para se preocupar quando chegasse a hora.
Foram em dois carros, e eles foram sós. Não conversaram muito na viagem, apenas algumas observações. Diego a olhava de rabo de olho, ela estava inquieta, olhava muito para ele e não falava nada. Chegaram ao hotel e logo os amigos estavam com eles. Foram cada um para seus quartos e combinaram de sair em uma hora.
Era um hotel romântico, cada suíte tinha o nome de uma flor. A  o nome da flor deles era amor-perfeito. Diego quando viu o nome da flor teve que rir, pois era uma ironia. Ela olhou para ele e não disse nada. A essas alturas ele já estava se divertindo.
Verônica dependurou algumas peças de roupa deles, foi ao banheiro e estava pronta para sair. Ele estava sentado lendo o cardápio. Ela se aproximou e disse:
-- Vamos...
-- Se queres...
Desceram as escadas e foram esperar os amigos no jardim, que estava lindo, todo florido. Ela tirou fotos, self, e pediu para ele ficar junto dela, para terem uma lembrança do lugar. E ele foi, mas comentou baixinho:
-- Lembrança se leva no coração, de que adianta foto se não há calor humano.
-- Existe calor sim. E muito calor...
Ele riu e descobriu que ela estava a mil. Seria muito fácil, era só dar umas cutucadas. No decorrer do dia ela foi aos poucos se aproximando dele, que por sua vez, estava de braços abertos para recebê-la de volta.
Caminhavam pela rua central olhando as vitrines e entrando em quase todas as lojinhas, as mulheres comprando tudo que viam. Ela não havia comprado nada.
Então ele tomou pela mão e levou a uma loja do outro lado da rua, que tinha objetos antigos, bem conservados e por preços absurdos. Entraram e ela ficou encantada com a delicadeza das peças que ali estavam expostas. Ele disse:
--  Vamos escolher. Qual te agrada mais? É um presente para ti.
-- Não sei, são tão lindas... Mas essa aqui é muito delicada, acho que é um conjunto... Tu gostas?
-- Sim. Queres essa?
-- Sim.
E Diego comprou para ela um conjunto de toucador bem antigo, em porcelana todo pintado com pequenas rosas cor de rosa e todo patinado com dourado.
Estavam perto do hotel e Diego foi levar no hotel com medo que pudesse quebrar. Era muito delicado. E Verônica disse que o esperava ali, e aproveitou e escolheu para ele um entalhe de cavalo. Muito bonito e não muito grande. Colocou na bolsa e ficou na frente da loja o esperando, e nisso os amigos chegaram.
Estavam cansados de caminhar, queriam sentar em um bar e tomar cerveja ou chopp gelado. Acharam um lugar ali perto, bem pitoresco, com ambiente alegre e festivo. Todos pediram chopp. Diego e Verônica sentaram no banco junto a parede e os outros ao redor da mesa.
Descobriram que tinha deliciosos petiscos da cozinha alemã e experimentaram todos. Logo o lugar esta lotado, e  uma bandinha começou a tocar musicas alemãs. Quem sabia cantava e todos se divertiam muito, agora já com o chopp fazendo efeito. Eles resolveram  ficar ali, pediram a repetição dos petiscos. Diego aproveitou e descontração do ambiente e se aproximou de Verônica, pegou sua mão e deu um beijo em sua face.
No fim da noite quando voltaram para o hotel já estavam abraçados. E tiveram uma noite de amor. Mas Diego não sabia como seria o dia seguinte, pois eles estavam embalados pelo chopp.
Mas no outro dia assim que acordou, Verônica foi para o chuveiro, e Diego que não estava dormindo como ela pensara foi atrás, e entrou no banho com ela. Ele estava a testando. A beijou e acarinhou, e ela retribui sem contestar. Ele se tranqüilizou.
Foram dias especiais, os amigos também eram especiais, e todos gostaram do passeio. O grupo separou-se, pois os uruguaios iam seguir para Santa Catarina pelo caminho da serra.
Eles retornaram e retomaram a rotina. Passaram os dias, era inicio de dezembro e Verônica deixou sobre a mesa dele o presente que tinha comprado em Gramado. Ela havia pensado e decidiu que teria que ir embora. Ele a queria, mas não falava em amor. E ela o amava demais para depois ser colocada de lado, como já tinha acontecido uma vez. Deixou junto com o presente uma carta. Era seu dia de folga, Diego tinha ido para fazenda, só voltaria dali a dois dias.
Arrumou suas coisas e, no outro dia cedo, ela pediria ao motorista para levá-la ao ponto de taxi na vila. Mas deu tudo errado.
Diego chegou de surpresa e a encontrou gemendo de dor na perna. Então ele a levou ao pronto atendimento. O médico a deixou em observação. Deveria ficar em repouso por três dias.
Diego resolveu chamar seu amigo Denis que era Clinico. Ele a examinou e não achou nada. Realmente deveria ficar de repouso e em observação. Se viesse febre ou dor intensa que procurasse um atendimento, pois poderia ser algo grave.
Diego falou para a cozinheira fazer canja para ela, bem leve. E levou a poltrona para junto da cama e ali ficou o tempo inteiro ao lado dela. E ela só pensava na carta que tinha deixado para ele. Será que ele não tinha visto? Como saber...
Entre dormir e acordar ela percebeu que Diego estava com sua carta na mão. Ela fingiu dormir, estava com medo da reação dele. E se arrependeu. Ela estava louca, onde iria encontrar um homem como ele, que se importava com ela, que cuidava dela com carinho. Tinha que tomar a carta dele. Mas como?
Então acordou e disse que estava com sede. Ele foi servir água para ela, mas tinha acabado. Então foi buscar. E ela passou a mão na carta. Colocou debaixo do travesseiro.
Ela tomou a água, agradeceu e se recostou na cama. Perguntou se poderia levantar e  sentar no sofá. Ele disse que sim que a ajudaria. Então a levou até o sofá e foi buscar o travesseiro para apoiar a cabeça e ao retornar ele vem com a carta  abanado na mão e olhando para ela. Ele estava furioso. Ele deixou o quarto e mandou que Rosa cuidasse dela. Diego foi para o haras.
Passou todo o dia e ele não apareceu. Agora ela sentia uma dor no peito, sentia a ausência dele, e percebia que era uma tola. A noite a  febre veio muito alta. Rosa se assustou e chamou por Diego, que providenciou para que ela fosse para Clinica que Denis havia recomendado. Telefonou para o amigo dizendo que ela tinha febre muito alta e dores no abdômen, muitas dores. E o médico recomendara que fosse logo para a clinica, não devia perder tempo.
Ele a levou no carro, com todo o cuidado, reclinou o banco e a acomodou com travesseiros para que não sentisse dor pelo sacolejo do carro. Ela estava desfigurada, com os olhos fundos. Antes de ele ligar o carro, ela segurou a mão dele e disse:
-- Me perdoa, eu sou muito tola.
Ele apenas olhou para ela e deu partida no carro.
Antes de ela entrar para a sala de cirurgia ele beijou sua face e disse bem baixinho, “eu te perdôo porque te amo”.            Ela sorriu para ele e foi levada.
A  cirurgia foi demorada, ele estava nervoso, pois não sabia o que ela tinha, nos exames de imagem os médicos não conseguiram identificar o motivo da dor e da febre tão alta. Resolveram abrir para ver o que era.
Duas horas depois o cirurgião foi até ele e explicou que ela estava na sala de recuperação e que ela estava com uma das trompas de Falópio rompida por uma inflamação, e que a situação era delicada porque precisavam esperar para saber como o  organismo dela se recuperaria. Tinham lavado todo o abdômen para limpar o pus que se espalhara pela cavidade.
Diego agradeceu a atenção do médico e sentou pensando em tudo o que ele havia dito. Verônica ainda corria perigo de vida, segundo ele tinha entendido. Ele não era muito religioso, mas voltou-se para Deus e pediu por ela.
Na tarde seguinte Verônica foi para o quarto. Ele se assustou ao vê-la tão abatida, tão frágil e sentiu um aperto no peito. Aproximou-se da cama, pegou sua mão e ficou ali fazendo um carinho. Ela  dormia, pois a medicação  a deixava muito sonolenta.
Ele esperou que ela acordasse, queria falar com ela, testar para saber se ela realmente estava bem. E então foi embora, dizendo que Rosaa ficaria com ela. Diego ia todos os dias vê-la, ficava um pouco, perguntava como ela estava se sentindo e procurava falar com e médico e ia embora.
Ela ficou uma semana hospitalizada, e quando chegou a casa ele fez com ela permanecesse em repouso por mais uns dias. E eles pouco se falaram. Rosa continuava cuidando dela, e ele apenas chegava a porta do quarto para saber noticias.
Ela estava com saudades dele, gostava de estar com ele, de conversar e estava sentindo muita falta disso. Mas entendia o procedimento dele, que estava interessado na saúde dela sem exageros. Assim não dava margem para fofocas dos empregados, E com Rosa cuidando dela evitava qualquer proximidade dele.
Mas na verdade ele estava magoado. Aquela carta de demissão tinha chocado ele. Jamais esperava essa atitude dela. Precisariam conversar sobre isso.
Então ele decidiu ficar afastado dela. Estava inseguro em relação a ela. Não entendia o que ela queria. Talvez estivesse se sentindo oprimida... Ela nunca dissera a ele que o amava. Seus olhos tinham um olhar fervoroso, mas...
Quando ela se restabelecesse iria colocar “as cartas na mesa”. Se ela quisesse ir embora, que fosse... Não ia mais impedir.
Ele estava entristecido, ele a amava, queria casar com ela... Preocupava-se com a vida dela. E chegou ficar sobressaltado ao pensar que se ela tivesse conseguido sair como planejara, ela podia ter morrido com essa inflamação que se rompeu dentro dela. Não gostava nem de imaginar...
Enquanto estava com Verônica, Rosa conversava bastante com ela, sempre perguntando sobre a vida dela, e dizia com todas as letras que todos os empregados tinham muita curiosidade , porque a achavam muito zelosa com todos. Gostavam dela.
Mas Verônica não queria  de falar de si, e respondia as perguntas sem revelar nada. E quando Rosa se referiu a Diego, ela respondeu com monossílabos e mudou de assunto.
Verônica sabia, que estavam todos intrigados com o comportamento deles, estavam sempre juntos, mas nunca deixaram ninguém perceber nada sobre a relação que havia entre eles. Demonstravam ser o que na verdade eram, o senhor e a secretária.
Diego a levou para tirar os pontos, e para mais uma consulta ao médico. Ela tinha um corte na barriga e não devia fazer esforço, foi a recomendação médica. Podia trabalhar em coisas leves.
E depois de muitos dias eles jantaram juntos. Conversaram, riram, mas Verônica o sentiu diferente, atencioso, mas distante. Logo após o jantar, ela fez alusão de ir para o quarto, e ele a ajudou a subir a escada. Despediu-se com o desejo de uma boa noite, e só. Nem um carinho ou beijo. Nada!
Era sexta feira e ela viu que ele tinha saído de carro, escutou quando ele falou para o guarda que só voltaria no domingo a tarde. E Verônica percebeu que ele de fato a estava evitando... Naquela noite ela não conseguiu dormir, estava arrasada.
Diego foi para um hotel na praia. Não podia ficar perto dela, ela o perturbava muito, precisa pensar. Na segunda feira iria conversar com ela sobre a carta de demissão. Ela pedira perdão, mas aquilo não era o suficiente, e precisava saber mais, precisava saber o que ela sentia por ele. E o que ela queria de verdade, ir embora ou ficar com ele.
Era domingo fim de tarde e Verônica sentou em sua sacada, com um livro na mão. Estava um dia agradável, ela queria ver quando ele chegasse. Fingiu ler, fingiu estar absorvida pela leitura, mas na verdade ela estava atenta a tudo e viu quando ele estacionou o carro  longe da casa, Vinha caminhando pelo jardim de cabeça baixa. E Verônica não soube se era para não a enxergar, ou estava distraído mesmo.
Verônica deixou a sacada e foi tomar um banho quente, havia esfriado um pouco e ela tinha ficado gelada. Não podia se resfriar. Colocou a banheira para encher e olhou-se no espelho. Sentiu-se feia, seu corpo ainda estava inchado e aquele corte era terrivelmente feio. Como poderia querer que Diego a desejasse se estava daquele jeito. Entrou na banheira infeliz e desolada.
Vera foi chamá-la para jantar e a encontrou já deitada... Ficou preocupada e perguntou se ela estava sentindo alguma coisa, mas ela a sossegou dizendo que estava apenas cansada.
Vera saiu do quarto dela e encontrou com Diego no corredor, então contou que ela estava deitada se sentindo cansada. Ele se preocupou mas não foi vê-la. Disse a Vera que levasse o jantar para ela no quarto.
Diego jantou e foi para o escritório onde ficou até muito tarde.
Segunda feira, Diego levantou-se muito cedo, tomou um café e foi para o haras olhar o trabalho com os cavalos. Ali sorveu um mate. Já era meio da manhã quando voltou para casa e foi direto para o escritório. E Verônica lá estava trabalhando na correspondência.
Ele parou a porta e disse:
-- Bom dia! Como estás? Melhorastes?
-- Bom dia! Sim obrigada.
-- O que estás fazendo?
-- Colocando em dia a correspondência, achei que era o mais urgente.
-- Sim, mas algumas eu já respondi.
-- Bem, então, por favor, me diga quais.
-- Depois... Antes  temos um assunto para resolver.
Ela parou imediatamente e arregalou os olhos para ele. O quê seria? Foi o seu pensamento. Diego pediu que ela sentasse na poltrona a frente dele. Tirou do bolso a carta de demissão que ela deixara sobre a mesa dele, algumas semanas atrás.
-- Vamos esclarecer os fatos. Queres mesmo ir embora? E por quê?
Ela olhou para ele com um olhar de suplica, pedindo para não responder aquela pergunta, mas ele foi firme:
-- Por quê?
-- Porque eu tenho muito medo de sofrer. Eu gosto do meu trabalho, sou muito bem tratada por todos e em especial por ti, mas...
-- Não confias em mim? Por quem me tomas? Ainda não me conheceso suficiente para me comparar a um infame?
-- Não é isso, eu confio em ti, tu  és bom, mas quando esse nosso enlevo passar, eu vou sofrer.
-- Qual parte tu não entendeste?... Eu te pedi em casamento e tu nem me respondestes... Se nosso caso terminar será porque tu desististe de mim. E então quem vai sofrer serei eu. Mas eu quero arriscar, quem sabe... Pode até dar certo e sermos felizes.
-- Mas agora eu estou feia, com um corte horrível na barriga...
-- Meu Deus! Onde está a mulher inteligente que eu conheci e admirei, onde está? Deixa de bobagem. Parece que tu não sabes que o amor é muito mais do que um corte na barriga. Até porque se não tivesse sido cortada, estarias morta. E eu te quero viva e saudável. Ainda não percebeste que eu te amo...
-- Me amas?
-- Sim te amo muito, demais. Tu que não dá mostras de amor por mim.
-- Mas eu te amo, por isso eu escrevi a carta.
Ele se levantou e foi até ela, ajoelhou-se diante dela e pediu:
-- Vamos casar. Diga sim e nossos problemas terminarão.
-- Sim, vamos ser felizes.
Diego suspirou e murmurou:
-- Até que enfim...
Ele a beijou com carinho. Não podia ainda da vazão a sua paixão, pois  ela ainda estava convalescente. E combinaram casar o mais breve possível e seria um casamento sem festa. Apenas com os bons amigos uruguaios  que seriam seus padrinhos. E alguns do grupo dos cavalos crioulos.
Depois de dois meses estavam casados, felizes voltando da lua de mel.
Estavam caminhado pelo jardim de mãos dadas quando Diego falou:
-- Eu quero um filho...
-- Um filho? Será que posso depois de perder uma trompa?
-- Tens a outra. Vamos tentar.
-- Vamos tentar sim meu amor.
E depois de um tempo ela estava grávida de um casal de gêmeos. Diego era só felicidade. E sempre pensava que Verônica era uma mulher esplêndida!
                                               Maria Ronety Canibal
                                                      Agosto de 2017.

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Um comentário:

Unknown disse...

Simplesmente maravilhoso. Parabéns pela escrita cativante e brilhante!