O aniversário de 15 anos de Silvana era o
assunto da família. Estava sendo preparada uma grande festa. Seria no próximo
sábado. Silvia que tinha apenas 13 anos estava eufórica, sua primeira festa.
Mas não poderia dançar seu pai não permitia. Só depois dos 15 anos. Sua irmã
estava, há muito tempo, ensaiando os passos da valsa que dançaria com seu pai.
Silvia acordou e foi no calendário verificar
a data. Era hoje, dia 15 de setembro de 1960. Estava mais feliz do que Silvana,
que nem acordar queria.
Abriu o armário e mais vez olhou seu vestido
novo, era em organdi bordado na cor azul claro, com uma faixa de cetim azul num tom mais forte com um
laço de pontas caídas. Pela primeira vez iria vestir meias de seda e usaria um
sapato forrado do mesmo tecido do vestido com um saltinho de 2 cm. Estava
ansiosa para que chegasse a hora de se vestir para festa.
Já tinha pensado como ajeitar seu cabelo, que
era comprido com as pontas levemente onduladas. Tinha comprado uma tiara e
forrado com fita da mesma cor do cinto.
Tudo combinando. Ia ficar lindo demais.
O vestido de sua irmã também era muito
bonito. Era na cor branca com bordados em azul e rosa e na cintura uma faixa na cor rosa, sem o laço, e sim com
um raminho de flores. Silvana tinha decidido que deixaria os cabelos soltos. E
usaria pela primeira vez um sapato de salto alto. Imagina com 5 cm! Agora ela
era uma moça, podia dançar nas festas e namorar.
Silvia trocou o pijama e desceu para tomar
café. Nossa! Estava um corre, corre. Estavam abrindo espaço na sala de visitas
para dar lugar para as danças. Tinham colocado as poltronas e mesinhas na sala
de jantar. Ainda bem que as peças eram grandes. Ainda bem que a casa era
grande!
Na cozinha também havia agitação. Sentou a
mesa da copa para tomar seu café. E ficou pensando, quantas pessoas viriam? Eram muitas! Toda família, tios, primos e
primas, os avós, amigos da familia e mais todas as amigas e os amigos da aula
de Silvana.
O dia passava ligeiro! A tarde ela tinha
ajudado Silvana separar os discos que
mais gostavam, e, apenas esses seriam tocados na vitrola. Mariana, sua prima,
tinha prometido trazer mais discos. Ela ficaria encarregada de cuidar disso,
Silvana tinha pedido. Que bom! Assim poderia ficar todo tempo na sala.
Silvia foi a primeira ficar pronta. Olhou-se
no espelho do hall de entrada e se achou muito bonita. Não era pretensiosa, mas
hoje com esse vestido lindo, ela se gostou. Ficou por ali para receber os
primeiros convidados, seu pai estava com ela. Sua mãe estava ajudando a Silvana
nos últimos detalhes. Logo desceriam.
As amigas de Silvana chegaram praticamente
todas juntas. Fizeram uma algazarra, todas rindo e conversando ao mesmo tempo.
Depois os rapazes chegaram, todos de terno e gravata, entraram um pouco
acanhados. Mas seu pai puxou assunto com eles e logo estavam todos falando de
futebol.
A festa começou!
Só depois de cantarem os parabéns e cada um
comer um pedaço do bolo, que as danças iniciaram. Silvana dançou a valsa, divinamente
com seu pai, parecia que flutuava. Agora outros pares começaram a dançar. Ela
estava atenta, cuidando para que a ordem das músicas fosse observada, como
tinha prometido a sua irmã.
Felipe, que era bem mais velho, devia ter uns
17 anos, aproximou-se dela e a convidou para dançar, mas ela recusou. Seu pai
não permitia, era ainda muito jovem. Felipe então ficou conversando com ela e
ajudando com os discos.
Felipe sempre achou Silvana muito bonita,
tinha a pele morena e os olhos e os cabelos castanhos escuros. Mas quando viu
Silvia, ficou fascinado, ela era muito mais bonita que sua irmã. Embora a pele
e os olhos fossem da mesma tonalidade de Silvana, os cabelos de Silvia eram mais claro e tinham um brilho extraordinário. Ela
era ainda uma menina, que com certeza se tornaria uma linda mulher.
Silvia era muito tagarela e tinha muita
vivacidade e adorou conversar com Felipe, que não dançou com ninguém, e ficou
todo o tempo junto dela.
As amigas de Silvana perceberam, e, logo
começaram a comentar entre elas, por que ele tanto falava com aquela pirralha?
Foram dizer para D. Lourdes, mãe de Silvana, que a Silvia estava atrapalhando
as danças. E Silvia foi tirada da sala.
Felipe percebeu a maldade das outras, e
resolveu ir embora. Foi despedir-se de D. Lourdes e Sr. José e aproveitou para
dar mais uma palavrinha com Silvia, e combinaram se encontrarem no outro dia,
no cinema do bairro. Silvia sempre ia ao cinema aos domingos de tarde.
Encontrava com suas amigas sempre na fila para comprar os ingressos. Não tinha
erro.
A festa foi até tarde, era quase 1h quando os
últimos convidados foram embora. Sua mãe mandou que fosse dormir, porque senão
teria dificuldade para acordar, para ir à missa. Ela obedeceu, mas sua irmã
ainda ficou.
Silvia deitou-se e ficou quieta pensando em
Felipe. Como era lindo! Era um “pão” como costumava dizer. Ele era alto, tinha
os olhos verdes e os cabelos castanhos claro, e sua pele era bem clara. Ela estava apaixonada. Ficou pensando em tudo que tinham conversado.
Acordou cedo para ir a missa, só sua mãe
estava acordada, e disse que não iria a missa, que ela fosse só. E ela foi.
Sentou num banco mais atrás na igreja e de repente Felipe sentou ao seu lado.
Ela ficou nervosa, mas sorriu para ele. No fim da missa Felipe acompanhou
Silvia até a esquina de sua casa. Ela não deixou, o pai poderia ver. E
recomendou que no cinema a tarde, não sentasse ao seu lado, mas atrás, assim
poderiam falar.
Silvana disse que não queria ir ao cinema,
estava cansada e iria ver seus presentes. Então Silvia telefonou para Alice,
sua melhor amiga, e foram juntas.
Mas Felipe não atendeu a seu pedido, deixou
apagar as luzes o foi sentar ao lado dela. Tentou até pegar sua mão. Ela ficou
apavorada. Ele percebeu o nervosismo dela, achou engraçado, então deu um beijo
na palma da mão e largou.
Silvia foi “as nuvens”. Alice olhou de rabo
de olho e sorriu. Ele era muito pão, e Silvia era uma sortuda. Quando saíram do
cinema, Felipe ofereceu pipoca e os três foram pela rua conversando e se
deliciando com as pipocas.
Felipe pediu o numero de telefone de sal
casa, iria ligar para ela. Ela disse qual era o numero e o horário que ela
estava em casa, porque, pela parte da manhã ia a escola, a tarde nas segundas e
quinta tinha aula de piano, terças e sextas
aulas de inglês, e na quarta violão. Só estaria em casa às 17h. Ele
então perguntou onde ficava cada lugar, porque assim poderia esperá-la e
acompanhar até sua casa.
E assim foi todos os dias se encontravam. Aos
domingos iam ao cinema. Depois de duas semanas, Felipe disse que queria namorar
com ela. E ela disse que seu pai não permitia. Felipe disse que falaria com ele
e pediria permissão. Ela não deixou, propôs namorarem escondidos.
O tempo passou, e já era quase dezembro
quando Rosa, uma amiga de Silvana foi contar para D. Lourdes do escândalo que
Silvia estava provocando, ela estava namorando escondida, um rapaz bem mais
velho.
Seu José ficou muito brabo, proibiu Silvia de
sair sozinha, de ir ao cinema e atender telefone. De agora em diante estaria sempre
acompanhada de sua mãe, que levaria e buscaria em todos os lugares. D. Lourdes não contrariou
o marido, mas pensou que ele estava sendo severo demais.
No outro dia quando Felipe foi esperar Silvia
na saída da aula de piano, encontrou com dona Lourdes, estranhou a presença
dela, mas não podia imaginar o que tinha acontecido. Foi dona Lourdes que
contou toda historia para ele,( ela era uma pessoa muito simpática e acolhedora) e ainda acrescentou, essa menina, a Rosa fez
tudo isso por despeito. Ele concordou e contou para a mãe dela que ele tinha
boas intenções, que gostava de Silvia e queria ter pedido permissão para o
namoro, mas Silvia não tinha deixado, achando que seria pior.Tinha medo do
pai, conhecia seu pai. E dona Lourdes concordou.
Na verdade nem dona Lourdes sabia qual a
saída. Talvez fosse melhor eles se afastarem e se realmente se gostassem, mais
adiante poderiam namorar, quando ela tivesse idade. Ele não tinha outra saída,
tinha que aceitar a proposta de D. Lourdes. Felipe despediu-se de Silvia, não
iriam mais se ver, nem falar por telefone.
Silvia voltou chorando para casa. Trancou-se
em seu quarto e ficar só. Chamaram para jantar e ela não foi. No outro dia não
levantou para ir a escola, sua mãe compreendeu e disse que ela estava amolada.
Mas os dias foram seguindo e Silvia não
melhorava, estava sempre triste sem
vontade de nada. Seu pai estava preocupado, mandou que fosse ao médico. Dona
Lourdes a levou, mas o doutor disse que fisicamente ela não tinha nada.
Deveriam dar tempo ao tempo.
Felipe soube por Alice do estado doentio de
Silvia. Então ele , por intermédio da amiga, lhe mandou uma carta e uma caixa
de bombons. Isso animou Silvia. Ela respondeu a carta dele e foram se
correspondendo com o auxilio da boa amiga, Alice.
Silvana, agora, tinha um namorado. Roberto
era um bom rapaz, que estudava Direito. Ela terminou o ginásio e agora ia para
a Escola de Administração do Lar. Silvia declarou que ela queria ser
professora, que depois do ginásio ela iria para o Curso Normal.
As férias chegaram. Sempre passavam uma
temporada na praia e outra na fazenda. Mas agora nenhuma das irmãs queria ir
para fazenda. Mas seu pai não aceitou e todos iriam para fazenda, como sempre.
Foram! Quando voltaram havia algumas
novidades, nem todas boas.
Alice entregou para Silvia as cartas escritas
por Felipe, no período das férias e ela por sua vez também entregou as suas e
pediu para que Alice dissesse a ele que fosse a missa no domingo para se verem,
ao menos isso.
A novidade que Alice tinha para contar, era
que seu pai tinha sido transferido, ela iria embora para outra cidade. As duas
se abraçaram e choraram. E agora? Como seria? Quem iria cuidar da
correspondência deles?
No domingo, conforme o pedido de Silvia ele
foi a missa. Sentou no banco lateral e
ela no banco de sempre. Assim podiam se olhar. Mas na saída da missa, Felipe se
atreveu e foi falar com ela. Disse que ele tinha passado no vestibular e iria fazer
medicina. Que não sabia como seria seu tempo, teria aula o dia inteiro. Sem
ninguém para ajudar. Bem então combinaram que seria na missa o encontro deles.
Mas as dificuldades não paravam por ai. Seu
pai tinha comprado um apartamento em outro bairro, iriam mudar quando o prédio
ficasse pronto. Não sabia quando...
Felipe soube que Roberto estava namorando com
Silvana. Foi falar com ele, pedindo que levasse um bilhete para Silvia. Mas ele
se recusou, dizendo que não. O ”velho” delas era muito rígido e ele não queria
se indispor com ele. Não daria nem o novo numero de telefone e tão pouco o
endereço. E a mudança seria em algumas semanas.
Silvia completou 14 anos. Dona Lourdes queria
comemorar como sempre, chamando suas amigas para um lanche, mas ela não quis.
Sentia falta de Alice, sentia falta de Felipe e sentia falta das cartas dele.
Passava relendo as cartas dele, já sabia de cor o que estava escrito. Era isso
que ela tinha. E ela realmente tinha mudado seu comportamento. Não era mais a
menina tagarela e animada. Agora era quieta e triste.
Todos estavam muito entusiasmados com o
apartamento novo, sua mãe decorando tudo. Os móveis eram todos novos, também as
cortinas e os tapetes. Seu quarto tinha ficado lindo, sua mãe caprichara, mas
nem isso a deixava melhor.
Até de escola ela ia mudar. Odiava tudo isso.
Depois que mudaram para o apartamento, que
era num bairro bem distante não tinha mais como Silvia e Felipe se verem se
falarem, e, até o numero do telefone era outro. Ela ligou para ele algumas
vezes, mas ele nunca estava em casa. E ela ficou constrangida em pedir que
anotassem o numero dela para entregar a ele.
Passou um ano e Silvia iria fazer 15 anos.
Seus pais queriam fazer uma festa como a de sua irmã. Mas ela não quis. Nem presente,
nem valsa, nada.
Agora seu José estava preocupado. Será que
tinha errado em ser tão intransigente com aquele namoro? Sua esposa havia
intercedido pelos jovens namorados, até disse que o rapaz queria falar com ele,
mas foi impedido pelo medo que Silvia tinha dele. Mas havia as regras, se
agisse de outro modo suas filhas ficariam “mal faladas”. Amava suas filhas, sua
família, queria o melhor para elas.
Mas de agora em diante seria mais brando,
especialmente com Silvia.
Silvia ainda pensava muito em Felipe. Não
culpava seus pais pelo afastamento deles. Seu pai era assim e tinha suas
razões. Só não entendia porque a Rosa tinha falado tão mal dela a sua irmã e
sua mãe. Eles namoravam, mas ele era respeitador, acompanhava ela pela rua sem
tocar nela, só no cinema ele pegava em sua mão e sempre beijava a palma da mão.
Beijinhos só de despedida. Nunca tinha beijado ela para valer, porque ele
gostava muito dela e não queria que se alguém visse e julgasse mal o
comportamento deles.
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Silvia estava com 20 anos e estava no curso
de Letras a Universidade Federal. Tinha conquistado o primeiro lugar no
vestibular. Também só o que fazia era estudar.
Ainda pensava muito em Felipe, nunca mais se
interessou por ninguém. Havia um rapaz do curso de direito que sempre a
procurava para conversar, já tinha convidado para saírem, mas ela educadamente
recusava. Sempre tinha uma boa desculpa. Definitivamente seu coração era de
Felipe. Iria ficar solteira? Essa não era a sua preocupação.
Felipe também ainda pensava em Silvia, como
tinham sidos separados por uma fofoca interesseira daquela falsa da Rosa. Ele
ficou horrorizado com a forma de agir daquela rapariga, que logo em seguida
começou a “dar em cima dele”. Queria namorar com ele de qualquer jeito,
oferecia-se escandalosamente. Ele tinha nojo dela!
Ficava imaginando como estaria Silvia hoje,
agora moça feita, deveria estar muito bonita, com aquele brilho no olhar,
conquistando muitos rapazes. Sentia ciúmes! Tinha vontade de procurá-la.
Quantas vezes tinha pedido a Roberto uma ajuda, mas o amigo, não se dispunha a
isso. Será que era seu amigo?
Felipe
tinha iniciado o namoro com uma colega de curso. Não era apaixonado pela Helena, e ela sabia,
pois conhecia sua história. Eram bons amigos. Mas ela achava ele lindo e
decidiu investir. Foi ela quem o pediu em namoro. Estavam deixando andar para
ver o que aconteceria. Helena queria
correr o risco. Contava com sua astúcia para conquistá-lo.
Felipe tinha que tocar sua vida, tentou de
vários modos chegar até Silvia, e não conseguiu. Agora passado tento tempo,
talvez ela estivesse até noiva, e ele ainda cultivando esse amor impossível.
Por isso resolveu aceitar namorar Helena. Definitivamente tinha perdido as
esperanças em relação à Silvia.
Silvia às vezes acompanhava sua irmã e o
noivo, e observava como eles se amavam como eram felizes. Faziam planos para o
futuro, e estavam só esperando que Roberto terminasse seu curso e tivesse um
bom emprego, para casar.
O tempo passava rápido!
Agora sim, tinham marcado a data do
casamento, Silvana em breve casaria com Roberto. A sua mãe não parava de fazer listas de coisas
para fazer. Ainda precisava comprar algumas peças para o enxoval de
Silvana. O apartamento que eles iam
morar, já estava mobiliado, faltava ainda as cortinas, e detalhes.
Haveria uma grande festa, seria no clube.
Hoje ela iria com sua irmã e sua mãe escolher os vestidos para o grande dia.
Iriam num ateliê de um costureiro famoso.
Azul era a sua cor preferida e escolheu um
modelo simples, que seria confeccionado em renda. Sua mãe escolheu um verde
escuro e o modelo do vestido de noiva de sua irmã era demais. Lindíssimo!
Dona Lourdes perguntou a Silvana se haveria
um jeito de convidar Felipe para o casamento. Ele não tinha sido colega de aula
do Roberto? Quem sabe elas não poderiam dar uma ajuda para o destino. Ela ainda achava que aqueles dois precisavam
se encontrar para saberem se ainda se gostavam.
O trauma da separação poderia ter criado ilusões. E ela queria ver
Silvia feliz. Fosse com Felipe ou outro rapaz.
Silvana
disse que ia convidá-lo.
Chegou o dia!
Silvia era madrinha de par com Julio, o irmão
de Roberto. Entrou no cortejo, e já no altar olhou para a porta da igreja, onde
sua irmã deveria entrar. Mas ao cruzar os olhos viu Felipe. Seu coração
disparou. Deu uma tremedeira que ela não sabia o que fazer. Parecia que ele
estava acompanhado. Será que estava mesmo? Ficou mal, seu coração doeu, doeu
muito.
Ela tentou prestar atenção em sua irmã,
que vinha de braço com seu pai com um
esplêndido sorriso. Ela estava linda! Silvia queria assistir a cerimônia, mas
estava difícil. Continuou fazendo um tremendo esforço para se concentrar no
ritual que já estava acontecendo, mas não conseguia. Seus olhos corriam para
Felipe, que agora também olhava para ela fixamente. Ela estava perturbada.
Ao termino da cerimônia vou falar com ela,
foi o pensamento de Felipe. Eram muitos convidados, a igreja estava cheia, e
Felipe dirigiu-se rapidamente para porta, para poder falar com Silvia lá fora.
Mas não a viu.
Ela também estava procurando por ele. Logo
que terminou o cortejo de saída, Julio perguntou se poderia ser seu par na festa. Ela
não soube responder, e foi salva por sua prima Bibiana que a chamou para irem
no mesmo carro para o salão.
Silvia achou estranho que Roberto tivesse
convidado Felipe para o seu casamento, já que ela, mais de uma vez, havia
perguntado a ele se continuava tendo contato com Felipe e ele sempre lhe disse
que não. Com certeza foi convidado só para igreja, não estaria na festa. E quem
seria a moça que estava com Felipe? Ele tinha uma irmã, ela não conhecia,
poderia ser, já que não estavam em atitude de namorados. Será que aquela moça
estava com ele? Não enxergou mais a moça perto dele. Será que ele tinha
namorada? As idéias começaram a pipocar na mente de Silvia que não conseguia se
acalmar. Não queria que os outros percebessem sua agitação.
Quando chegou ao clube foi direto para o toalete,
retocar a maquiagem, o cabelo, e ficar um pouco só para poder voltar ao normal.
Não sabia quanto tempo ficou ali. Devia ter ficado bastante tempo, porque
quando saiu os convidados já tinham chegado. Era muita gente.
Andou devagar, saudando as pessoas amigas e
foi tomando o rumo da mesa principal onde deveria ficar. Mas ao sentar-se sua
mãe lhe disse que sua avó queria ficar ali. Ela concordava? Silvia disse que não
tinha problema, mas onde sentaria, não eram lugares marcados? Sua mãe disse que eram, e já tinha
providenciado um lugar para ela. Seria na mesa 51.
Ela saiu a procura da mesa e quando encontrou
viu que era uma mesa pequena para apenas duas pessoas. Quem seria a outra
pessoa? Sentou-se. Ficou quieta olhando para suas mãos, ainda não estava bem,
não queria conversar com ninguém. Tomara que não sentassem ali.
Estava distraída, e quando alguém disse boa
noite, mais uma vez ela tremeu, era Felipe. Será que sua mãe tinha alguma coisa
a ver com essa coincidência.
Foi um momento tenso para os dois. Estavam
tímidos, sem saber como agir. Fazia tanto tempo que não se viam e que não se
falavam. Foi Felipe quem primeiro superou a tensão.
Abriu o seu lindo sorriso e sentou. Ela
retribui o sorriso e se olharam por longo tempo. Depois foi Felipe quem disse
que ela estava linda, mais do que ele pudesse imaginar. Que azul era sua cor
preferida e ficava perfeita nela. Por uns momentos segurou sua mão. Firmou sua
mão na dela e olhou para ela, que tremia dos pés a cabeça. Mas ele também
estava com o coração em disparada. E assim foram se acalmando, ele ainda
segurando sua mão. Depois de um tempo começaram a falar, e foram aos poucos, revelando
um para o outro como estavam suas vidas.
Por fim conversaram animadamente, voltando todo
o entusiasmo que tinham um pelo outro, os olhos de Silvia, mais uma vez
brilhando, refletindo a sua felicidade de estar ali com ele.
Felipe a convidou para dançar, observou que
nunca tinham dançado juntos, e ela disse que não sabia dançar, nunca mais foi a
festas. Ele levantou, pegou sua mão e disse, eu te ensino. Vamos.
Dona Lourdes quando viu os dois dançando, ficou radiante. Cutucou seu
José. Ele olhou para o lindo par dançando, e sorriu. Pediu a Deus naquele
momento para que fossem felizes.
Os noivos já tinham deixado o salão. Os
convidados começaram a ir embora. A festa estava terminando.
Felipe disse que eles precisavam conversar,
tinham assuntos sérios a tratar. Quando poderia ser? Amanhã? Ela perguntou, com
um sorriso, segunda feira? Ele deu-se conta e riu, hoje à tarde. Te pego em
casa às 12 h e vamos para algum lugar tranqüilo. Ok?
Claro que nem Silvia e nem Felipe conseguiram
dormir direito. Os sentimentos tinham aflorado, não eram mais jovens, e na
verdade pouco se conheciam. Mas definitivamente, continuavam apaixonados um
pelo outro.
Silvia acordou mais tarde naquele domingo.
Levantou-se tomou um café puro e foi se
arrumar. Estava ansiosa, queria estar bonita. Vestiu um vestido tubinho branco
com detalhes azul marinho. Calçou os sapatos na cor azul marinho combinando com
a bolsa.
Avisou sua mãe que ia sair. Não deu
explicações. Desceu e foi esperar por Felipe no hall de entrada do edifício.
Ele foi pontual.
Silvia percebeu que Felipe a olhava com
enlevo. Ela por sua vez admirava o belo rapaz que ele tinha se tornado. Agora o
seu físico estava mais vigoroso.
Foram a um restaurante e escolheram uma mesa
mais afastada para poderem conversar com mais privacidade. Fizeram o pedido e
enquanto esperavam o almoço tomaram um aperitivo.
Conversaram sobre amenidades. Almoçaram e
depois da sobremesa Felipe revelou a ela que tinha uma namorada, já algum
tempo. Que ele tinha pensado muito durante a noite, aliás, quase nem dormira. E
chegou a conclusão que eles deveriam ter
uma chance de se conhecerem melhor. O que houve entre eles foi apenas um
namorico juvenil, mas que tinha mexido muito com suas vidas. Ele a amava, mas não
conhecia seus pensamentos, seus ideais, e sobretudo, não sabia o sabor do seu
beijo.
Indagou dela sobre seus namorados e ficou
orgulhoso quando ela disse que não tinha tido outro namorado. Apenas ele. Ela
aproveitou e perguntou se ele gostava da namorada dele. Ele explicou que Helena
sabia de tudo, e que mesmo assim queria ele.
Como fariam? Essa era a pergunta que se
faziam.
Felipe disse que a primeira atitude seria
falar com Helena. Terminar o namoro com ela. Mas o problema é que Helena estava lidando com
doença na família, doença grave. Teriam que esperar. Silvia concordou, mas não
gostou. Agora que tinham se achado outra vez, tinha necessidade de estar próxima
dele.
Mas o Universo esta a favor deles.
Segunda feira Helena telefonou para Felipe
dizendo que sua irmã estava fora de perigo, mas que teria que fazer transplante
de rim. Iriam fazer exames todos familiares para saber quem era compatível. E
ela queria encontrar com ele, precisavam conversar.
Quando Felipe viu Helena ficou preocupado,
ela estava muito abatida. Realmente a doença de Heloisa foi desgastante. Embora
Helena estivesse sorrindo, dava para perceber que estava muito nervosa. Fazia
muitos dias que ela tinha ido para a casa dos pais, em sua cidade.
Helena iniciou a conversa relatando os fatos
da doença de sua irmã, eram estudantes de medicina, do ultimo ano, e isso era
um assunto de interesse. Por fim ela começa a falar que mais de uma ocasião ela
saiu com o Raul, também colega deles, e que rolou sexo. E ela já devia ter
contado para ele, mas com problema de sua irmã, deixou para depois. Ela pedia
perdão, gostava dele, mas....tinha sido estúpida.
Felipe não ficou surpreso, entre eles já
havia rolado sexo fácil. Mas aproveitou para terminar o compromisso. Felipe era
muito integro, não aceitava certos comportamentos.
Felipe estava aliviado. Fora uma conversa
franca. Bem, agora estava livre para Silvia.
Silvia atendeu ao telefone e era Felipe
dizendo que tinha uma ótima novidade, onde se encontrariam? Ela ficou curiosíssima,
mas ele não deu nenhuma dica. Arrumou-se, e foi ao encontro dele.
Felipe estava esperando por ela. Tinha uma
expressão de felicidade. Um sorriso largo em seu rosto e Silvia ficou tentando
adivinhar o quê era ?
Ela
quase não acreditou naquilo que Felipe contou. Por um lado e moça havia sido
infiel a ele, mas por outro lado estavam prontos para namorar.
Felipe a levou para jantar , dando inicio ao
noivado deles. Não iriam namorar, ficariam noivos, se amavam, sabiam disso e as
arestas deveriam ser tiradas com conversas
sinceras, algumas talvez doloridas, mas precisavam confiar um no outro, no amor
que havia entre eles e a paciência e o carinho seriam indispensáveis neste
processo.
Já era bem tarde quando Felipe a deixou em
casa, e na despedida trocaram o primeiro
beijo, foi tão especial que as lágrimas rolaram não só nas faces de Silvia, mas
igualmente nas de Felipe.
Felipe se formaria no fim do ano. Em sua família
havia muitos médicos, seu avô, pai, tio e prima. Iria trabalhar com eles.
Tinham uma clinica. Então, já podia marcar a data do casamento. Seria em maio.
Silvia e Felipe estavam radiantes, enfim
tinham encontrado a felicidade.
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Era uma tarde chuvosa e Silvia estava olhando
seus filhos brincando no tapete da sala , eram lindos! Eduardo com 5 anos, Elisa com 3 anos e
Eliane com 1 ano. Felipe se aproximou
dela, abraçou sua cintura e disse ao seu ouvido, que linda família formamos. Eu
te amo.
Maria Ronety Canibal
Abril
2017
IMAGEM VIA INTERNET
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