quinta-feira, 11 de maio de 2017

O CASARÃO

                                                             

O CASARÃO



                                                                 
Alana quando chegou a casa bufava de raiva. Nunca tinha visto tanta prepotência.. Não iria ceder, de forma alguma. Subiu e foi tomar uma ducha para se refrescar, o dia estava muito quente, e os ânimos também.
Vestiu um short  e uma regata, sandálias rasteiras e foi para cozinha fazer uma lanche. Célia chegou e logo viu que sua amiga estava irritada. Era melhor nem falar, conhecia muito bem o humor dela. Tomou um copo de água gelada e foi para seu quarto. Alana terminou seu lanche e foi para jardim, no caramanchão, ali corria um vento agradável. Deitou na rede e ficou pensando em sua vida, tudo para ela sempre foi muito difícil.
Ela tinha apenas 9 anos quando sua mãe fugiu com o amante. Seu pai pareceu  não se importar com a fuga da mulher. Juarez, seu pai, que sempre foi irresponsável, deixou-a por conta própria. Foram as empregadas quem cuidaram dela. Verônica foi quem sempre esteve com ela. Nas vezes que esteve doente foi Verônica que a cuidou , nas reuniões de pais na escola foi Verônica que compareceu. Alana a amava  como se fosse sua mãe.
Seu pai era de família muito rica e conceituada, mas ele devia ser a “ovelha negra”, pois gostava de beber, jogar e nunca assumiu os negócios da família. Os primos de seu pai não só tomaram conta DE tudo, como compraram toda a sua parte, por um valor significativo. Seu pai era um fanfarrão. Passava dias sem aparecer em casa, sem dar noticias. Quando chegava estava sempre bêbado e desgrenhado.
Agora Alana entendia porque sua mãe havia escolhido fugir. Só não entendia porque a deixara para trás. Nunca mais tinha visto sua mãe, que morava  na Alemanha.
Seu pai faleceu já fazia cinco anos. E só depois de sua morte, foi  ela soube que uma fortuna fora gasta em noitadas e jogatinas. Só restara a casa que morava. Era uma casarão dos 1960, construído em meio a um lindo e imenso jardim., num bairro nobre e tradicional da cidade.
Nessa época Alana estava cursando arquitetura. Precisou trancar a matricula, para poder resolver todos os problemas que surgiram após a morte de seu pai.  Mas da casa ela não abriu mão, era um bem de família.
Para resolver as questões financeiras, Alana decidiu alugar quartos para moças que estudavam na cidade. A casa era enorme, muito bem e finamente mobiliada. Eram duas suítes composta de quarto de dormir, banheiro, closed e saleta de estar,  e os outros seis quartos que eram servidos por três banheiros, tudo isso no piso superior.
No térreo eram quatro salas, mais escritório, duas suítes de hospedes, copa, cozinha, despensa, lavanderia e três quartos para empregados. Junto à garagem tinha mais um apartamento composto de dois quartos, um banheiro, sala/cozinha conjugada. Onde resolveu se instalar. Assim ficaria independente da casa.

Conseguiu 10 moças como moradoras. Contratou duas empregadas para manter tudo sempre limpo e ordenado. Como eram acomodações de luxo, o preço era alto. Dessa forma ela tinha um bom rendimento, que cobria todas as despesas. E ela retomou os estudos. Formou-se e logo foi convidada para ser projetista em uma construtora, onde recebia um bom salário.
Parecia que a vida ia tomar seu curso, tudo seria tranqüilo.
Mas certa manhã ela foi chamada a sala da diretoria. Lá Alana conheceu Gustavo, irmão de Ivan, seu chefe e donos da empresa. Ela estava sendo promovida, iria trabalhar diretamente com Gustavo, que era engenheiro civil.
Gustavo estava retornando ao país após um período de estudos e de pesquisas de mercado, matérias e técnicas de construção. Alana foi escolhida entre os seus colegas por sua competência e suas idéias inovadoras.
Gustavo quando olhou a primeira vez para Alana a achou bonita, muito bonita, mas antipatizou com ela. Mas teria que superar essa questão porque realmente a moça era boa naquilo que fazia.
Alana tinha uma estatura média, tinha uma elegância natural nos movimentos. Sua pele era clara, os olhos castanhos e os cabelos cor de mel. Tinha o rosto de boneca, delicado e perfeito. Era lindíssima!
Alana  quando pôs os olhos nele viu arrogância e dificuldades pela frente. Mas também notou que era alto, forte, cabelos castanhos claros e os olhos num tom indefinido. Entre o verde e o azul acinzentado. Ele era muito bonito.
Embora havia uma antipatia visível entre eles, ela teria que deixar de lado essa implicância porque precisava trabalhar. Num esforço mútuo, dividiam a sala, falavam educadamente um com o outro, aceitavam sugestões, enfim estavam conseguindo ter um bom ambiente de trabalho.
Alana não se preocupava muito com a sua aparência, usava roupa casual, basicamente jeans  com blusinhas. Mas não sabia bem por que, agora parecia que suas roupas estavam “casuais” demais.
Saiu do escritório e foi para o Shopping. Foi olhando as vitrines para saber o que estava na moda. Comprou algumas peças, foi ao cabeleireiro  para modernizar o corte de seu cabelo. Saiu renovada.
No outro dia foi para o escritório com roupas novas. Quando saiu de casa “se achou um pouco ridícula,” ora roupas novas para trabalhar? Mas quando entrou notou que estava chamando atenção. Até gostou, embora sentisse um pouco de vergonha. Foi firme. Cruzou por Ivan que disse para ela:
-- Hoje resolveu arrasar!
Ela apenas sorriu e foi para sua sala. Entrou, deu bom dia e foi para sua mesa. Gustavo respondeu ao cumprimento, mas não fez comentário algum. Apenas ficou olhando. Ela sentou-se e ele continuava olhando para ela. Até que ele disse:
-- Aceitas almoçar comigo? Devíamos ser amigos.
-- Sim, aceito. Vamos ser amigos.
Trabalharam juntos, discutiram alterações no projeto. Na hora do intervalo do almoço saíram juntos. Foram a uma pequena cantina próxima do prédio onde trabalhavam. Era um lugar sossegado, com uma clientela seleta.
Conversaram sobre vários assuntos, ele contou fatos engraçados e o que viu em sua viagem. Pareciam velhos amigos. Ele soube cativar a atenção dela o tempo todo. Ela procurou ser simpática. Quando estavam retornando Gustavo sugeriu que saíssem mais vezes juntos. Ela tinha sido uma boa companhia.
Naquela tarde foi difícil para Alana se concentrar no trabalho. Lembrava constantemente das historias que ele tinha contado e até sorria. Ele também mais olhava para ela do que trabalhava. Tanto que perguntou:
-- Por que estas sorrindo tantas vezes?
Ela ruborizou, e respondeu:
-- Estava lembrando coisas engraçadas.
Ele riu de disse:
-- Vamos ao trabalho.
Gustavo pensou que precisava rever seu conceito sobre ela. Tinha ficado seduzido por ela. A antipatia aparente nada mais era do que certa timidez. Ela conversava qualquer assunto, era inteligente e sabia dar boas respostas. Ela era incrível! E como era bonita, que olhos fascinantes,  com um brilho de alegria. Seus cabelos estavam diferentes, não sabia o que ela tinha feito, mas estavam muito bem, e ela estava muito elegante. Ela também era delicada, feminina, era uma graça. E Alana ficou nos pensamentos de Gustavo por muito tempo.
Alana saiu do trabalho contente, pensando em Gustavo. Como ela tinha se enganado, rotulando ele de arrogante. Ao contrário, ele era simpático, divertido, gentil e bonito. Aqueles olhos azuis eram lindos demais. O sorriso era cativante. Ele era bem interessante...
E os dias foram passando, eles saindo para almoçar, e jantar também. Foram ao cinema, passearam, foram ao teatro, e se divertiam juntos. Mas sempre no plano de amigos.
Ela sabia pouco da vida pessoal dele. Ele não falava, e ela não perguntava.  Ela era mais aberta, tinha contado muito de sua vida para ele.
Alana convidou Gustavo para almoçar no domingo em sua casa. Ele não conhecia a casa, que ficava em meio a um jardim, pois ele sempre a deixava no portão quando saiam a noite. Ela com muito orgulho mostrou o jardim e a parte térrea da casa para ele, que ficou admirado com o tamanho, com as dimensões do jardim. Eram doze mil metros quadrados que jardim, ali naquela região. Valia uma fortuna!
Sim, valia uma fortuna, mas era um ótimo local para construir prédios de apartamentos,  lojas e escritórios. Que renderia muito mais. Precisava pensar. Fazer uns cálculos e esboços para poder conversar com seu irmão.
Gustavo estava tão concentrado em seu pensamento que nem viu que Alana estava chamando por ele, já na porta da casa. Saiu apressado para alcançá-la. Almoçaram praticamente em silêncio, pois tinha muitos números girando na cabeça dele. Alana estranhou o comportamento dele. Será que ele não estava gostando do assado que ela tinha preparado? Ou o que seria?
Alana achou que ele iria gostar do estilo da casa, já que era de um tempo em que a arquitetura tinha ganhado formas mais audaciosas. Ela como arquiteta achava que sua casa era um tesouro. Mas ele ficou tão impressionado com o terreno que não observou a casa.
Alana começou a perceber que Gustavo estava se tornando muito importante para ela. Preocupava-se em agradá-lo, gostava de estar com ele, e se entristecia quando não podiam estar juntos. Seria amor? Ou apenas uma grande amizade? Ela não sabia definir o que sentia por ele.
Já não saiam mais tantas vezes juntos. Nem para almoçarem durante a semana. Sempre surgia um empecilho, ou pequena viagem que os impediam. Gustavo estava muito envolvido na construção do projeto que tinham elaborado juntos e que ficava distante cerca de 40 km da cidade.
O fim de semana para ela tinha sido muito solitário, época de férias e as moças estavam visitando suas famílias. Ela dormiu muito para o tempo passar mais rápido. Estava ansiosa pela segunda feira.
Alana chegou ao escritório só no fim da manhã, e encontrou Gustavo já de saída com Marcela, uma amiga italiana que veio visitá-lo. Disse a Alana que ele não voltaria a tarde, levaria a amiga para conhecer a cidade. E   saíram conversando alegremente.
Alana sentiu ciúmes de Marcela.
Os dias transcorreram e ela estava com o coração apertado, Gustavo ficava pouco no escritório. E ela agora tinha uma certeza, que estava apaixonada por ele. Ela resolveu se concentrar no seu trabalho.
Gustavo estava muito atarefado, mas sentia falta das conversas com Alana, da sua companhia e de seu jeito meigo de sorrir e falar. Teria que convidá-la para sair. E estava percebendo que ela era muito mais que uma amiga para ele. Estava gostando dela.
Naquela tarde ligou para ela. Disse que precisavam se encontrar, tinham assuntos a tratar. Ele estava na obra, e a noite passaria em sua casa para irem jantar. Ela aceitou, ficou feliz  mas não tinha noção do que ele queria falar. De trabalho tinha certeza que não.
Ao sair do trabalho ela foi depressa para casa, queria se arrumar com calma, ficar bem bonita. Escolheu um vestido vermelho escuro, prendeu os cabelos em um coque meio caído, que ficou diferente e muito legal. Experimentou as bijuterias e escolheu  um conjunto de brincos, pulseira e anel em dourado com uma pedrinha vermelha, quase na tonalidade do vestido. Estava chique. Sabia que Gustavo  iria elogiar.
Desceu e ficou esperando por ele na sala, conversando com   Verônica. Gustavo ligou no interfone e ela logo saiu. Quando ele olhou para ela, disse:
-- Deixa eu te olhar, estas linda! Mereces um beijo.
E deu um beijo em sua face. Alana apenas sorriu e reparou que ele também estava bem elegante, com uma calça preta e uma camisa preta, muito bonita  e além disso ele estava muito cheiroso. Mas não disse nada.
Gustavo escolheu um restaurante da moda. Apesar de o restaurante estar cheio, eles conseguiram uma mesa com uma linda vista para a cidade toda iluminada. Fizeram o pedido e enquanto esperavam tomaram um aperitivo. Ela pediu um Martini Bianco e ele uma caipirinha.
Ambos estavam nervosos, afinal eles estavam tendo um encontro pela primeira vez. Era como começar de novo. E tanto ele com ela estavam cientes disso.
A bebida relaxava a tensão.
Só depois que jantaram, enquanto ainda tomavam vinho, Gustavo pegou a mão dela deu um beijo  e disse:
-- Alana! Eu quero mais que amizade, tu não sai do meu pensamento, eu  me apaixonei por ti.
A medida que ele ia falando o coração dela ia acelerando, parecia que ia saltar fora do peito. Tentou falar sem demonstrar toda a emoção que estava sentindo, mas seu tom de voz revelou, quando disse:
-- Sim...eu também quero ser mais que uma simples amiga.
Ficaram se olhando por um longo tempo e depois Gustavo acarinhou sua mão e beijou novamente e disse:
--Vamos pedir a conta. Depois vamos a algum lugar que possamos dançar. Afinal hoje é sexta feira, merecemos dar uma esticada.
-- Sim, vamos disse sorrindo.
Gustavo a levou a um piano bar. Um lugar agradável, com música boa, e com pista para danças. Ocuparam uma mesa mais ao fundo e de mãos dadas ficaram escutando o pianista tocando jazz. Logo que mudou o ritmo para músicas românticas, ele a levou para pista e começaram a dançar. Ele disse ao ouvido de Alana:
-- Sabe o nome desta música?
-- Sim, chama-se She. Foi fundo musical daquele filme Um lugar chamado Notting Hill, com a Julia Roberts e Huhg Grant, que aliás acho muito parecido contigo.
-- Então esta será a nossa música, pois é a primeira que dançamos juntos. Assim abraçadinho, bem gostoso, sentido esse teu perfume provocante.
Dançaram enquanto a seqüência de músicas era lenta. Voltaram outras vezes a pista. Já era tarde e resolveram ir embora. Ele não queria largar dela, com muita relutância a levou  para casa.  Ela convidou se ele não queria entrar.
-- Bem que eu queria, mas como? Com toda essa gente que mora ai?
-- É nossa primeira noite, nem que seja para tomar um cafezinho, disse ela rindo.
-- Se é assim, vou por o carro para dentro.
-- Sim, e vamos direto a garagem.
-- Garagem?
-- Tenho uma surpresa para ti. Vamos.
Ao sair do carro ela tomou a direção do pequeno apartamento atrás da garagem. Fazia pouco tempo que ela decorara aquele espaço para ela. Assim tinha total privacidade, e era um pequeno apartamento.
Gustavo gostou muito do jeito que ela deu no lugar, era acolhedor, simples e confortável, com uma pequena cozinha bem moderna. Riu e abraçou dizendo:
-- Vamos inaugurar a cafeteira?
-- Ué, se queres um café agora eu faço. Disse rindo.
-- Não pode ser depois?
-- Depois?
E ambos riram.
Gustavo sentou no sofá e a puxou para junto dele e a beijou suavemente. Ela havia subido até as nuvens, retribuiu ao beijo que foi ficando mais intenso. Trocavam carícias. Gustavo perguntou se ela queria seguir adiante, ela respondeu que sim. Então foram para o quarto e ali provaram o amor que sentiam numa entrega recíproca. Foram momentos sublimes para Alana, e Gustavo continuava abraçado a ela como se fosse parte dele.
Resolveram que passariam o fim de semana na serra. Conseguiram lugar numa hospedaria e saíram cedo da manhã. Alana arrumou umas roupas em uma valise e deixou um bilhete para Verônica não ficar preocupada com ela. Passaram pelo apartamento de Gustavo para pegar roupas de frio.
O lugar era lindo, a cabana que ficaram, era muito romântica e eles estavam felizes. Caminharam de mãos dadas apreciando a natureza, as flores, as árvores. Desceram até a beira do rio de onde se apreciava a queda d’água. Foi um final de semana espetacular.
Segunda feira voltaram ao ritmo do trabalho e pouco se viam. Os fins de semana passavam juntos em uma felicidade crescente. Entendiam-se perfeitamente, nunca discutiam e não sabiam o que era brigar.. Havia harmonia entre eles.
As obras que Gustavo supervisionava estavam no fim. Agora ele ficava mais no escritório, e Alana estaca contente, passavam o dia juntos, no trabalho e a noite ele ia para casa dela. Mais de uma vez ela já tinha falado para ela sobre o valor da casa com o terreno. Seria um ótimo negócio para ela, que poderia investir em outros imóveis. Mas ela sempre dizia que não iria vender.
Estavam completando um ano juntos, e saíram para comemorar. Ela se arrumou com esmero, havia comprado um vestido novo. Ela gostava de ser admirada por ele, que sempre tecia muitos elogios.
Era uma data especial e foram a um lugar especial. Depois do jantar Gustavo a levou para o seu apartamento. (Ela raramente ia lá). Ele colocou uma música suave e serviu um espumante e brindaram, então a convidou para dançar. Enquanto dançavam ele sussurrava ao seu ouvido:
-- Eu te amo....Eu te quero...Vamos casar...
Ela escutava enlevada, e repetia a ele as mesmas palavras.
Pararam de dançar e ele (a moda antiga) ajoelhou-se diante dela, tirou uma caixinha do bolso e perguntou:
-- Casa comigo?
Ela abriu a caixinha e tinha um lindo anel de brilhante circundado de pequenas safiras. Era lindíssimo! Ela ficou sem palavras.
-- Eu... é lindo demais...eu... eu...caso.
Abraçaram-se felizes com decisão, beijaram-se e amaram-se.
Passados uns dias Gustavo propôs que casassem logo. Ela podia arrumar o apartamento do jeito dela. Tinha carta branca.
Mas ela queria ficar na casa dela. Ela já tinha um bom projeto para melhorar o espaço atrás da garagem, também para o jardim, ela colocaria uma piscina só para uso deles. Teriam um jardim privativo. Gustavo não queria discutir, mas não concordava. Sua idéia sempre fora vender aquela área.
Ficaram nesse impasse. Até Verônica, que era muito discreta, se envolveu no assunto. Para ela, Gustavo tinha razão. Aquele jardim era muito grande, tanto que parte dele estava abandonado.
E em vista disto, não marcaram a data do casamento.
Ivan convocou uma reunião. Todos os que faziam parte da cúpula da empresa estava presente, inclusive Alana.
Discutiram vários assuntos, projetos, custos. Antes de encerrar a reunião Ivan disse que um grupo importante queria uma área grande para construção de um complexo com sete torres. Que seriam cinco residenciais e duas para escritórios.  Área verde e um centro de cultura. E teria que ser no bairro mais tradicional e nobre da cidade.
Ivan disse também que era um contrato muito importante, que eles deviam sair a procura de uma área como a solicitada. O tempo urge, disse ele. Então, Gustavo olhou para Alana e disse:
-- Alana tem essa área, é onde ela mora. Tem uma casa linda e muito grande, que poderia ser o centro de cultura. É uma construção dos anos 1960, com todas as características da arquitetura da época. Tem um jardim imenso. Só depende dela.
Alana olhou para ele furiosa. Apenas disse:
-- Não está a venda! Posso me retirar?
Levantou-se se saiu sem esperar resposta.
Gustavo não se mexeu, sabia que teria que esperar ela se acalmar. Depois iria procurá-la.
Chegou em casa irritada. Resmungava:
-- Arrogante! Eu sempre soube que ele é muito arrogante.
Verônica a viu deitada na rede e foi até ela. Perguntou por Gustavo que não tinha vindo com ela. Alana só disse:
-- Nem me fale dele. Aquele arrogante. Bem que eu percebi no dia que fui apresentada a ele.
Verônica não estava entendendo, então perguntou?
O que foi que aconteceu? Por que estás tão braba?
Então Alana falou sobre a reunião, e de como ele sem consultá-la, simplesmente disse que ela morava no lugar que estavam procurando. Ela não aceitava esse procedimento dele.
Verônica resolveu dizer qual era o seu parecer sobre a venda da casa.
-- Minha querida, não fica assim. Ele não fez por mal. Ele te ama de verdade, eu vejo isso quando vocês estão juntos. Pensa. Tu não tens ninguém, não despreze esse amor tão lindo.
-- Eu sei...
-- Minha filha, vou te dizer que eu concordo com Gustavo. Devias sair dessa casa, fazer tua vida junto dele. Ir morar no apartamento dele.  E vender tudo isso, que tem muito valor e um custo muito alto para ser mantido, tu sabes disso.
-- É, foi o que sobrou para mim.
-- Mas se tu vender, poderás comprar outras coisas. Será ainda a tua herança.
-- Mas aqui eu vivi minha infância feliz.
-- É, me desculpe, mas foi aqui que fostes abandonada por tua mãe, e de certa maneira, por teu pai também. Eu estou ficando velha, não podes contar muito comigo. Pensa, menina...Não sejas assim...
-- Mas ele foi presunçoso.
-- Vai descansar. Está tarde. Dorme. Amanhã conversa com ele.
Alana não conseguiu dormir. Levantou, tomou um banho, e resolveu que não iria para o escritório. Não queria ver ninguém. Ela estava abatida, com os olhos fundos. Tomou apenas um café puro e deitou na rede e ficou quieta. Não queria pensar, conversar e queria sumir. E essa idéia começou a mexer com seu pensamento.
No fim da manhã Gustavo chegou. Verônica se adiantou em  recebê-lo. Disse onde ela estava e foi fazer uma oração, pedindo a Nossa Senhora que os iluminasse.
Gustavo também estava abatido, mal dormido e com uma tristeza  estampada em sua face. Ele aproximou-se dela, não disse nada, apenas ficaram se olhando. Mas foi ele que quebrou o silêncio.
-- Oi, como estas?
-- Não estas vendo?
-- Precisamos conversar.
-- Fale...
-- Ontem, eu não quis te obrigar a vender a casa. Só quis dizer que ela existia e era tua.
-- Olha, estive pensando. Não dá mais. Tu não me entendes, não sabe qual é o meu sentimento por isso aqui. Essa casa é a minha vida.
-- Alana, tu estas cansada, dizendo coisas que não queres dizer. Vamos tirar uma semana na praia, e não falamos mais sobre isso, até que tu queiras. Que achas?
-- Não, já decidi. Eu vou deixar o escritório, vou pedir demissão. Vou tirar férias sozinha!
-- Meu  amor... Não diga isso... Tira férias, mas não deixe o escritório, não me afaste de ti.
-- Por favor, eu quero ficar sozinha.
Gustavo saiu dali. Foi procurar Verônica. Encontrou-a sentada na copa orando. Sentou e ficou esperando ela terminar. Depois disse:
-- Ela não está bem.
-- Não. Eu sei. Já conversei com ela. Está irredutível. Temos que dar um tempo a ela.
-- Não virei mais aqui, até que ela me chame. Mas quero noticias dela, todos os dias. Ela quer deixar o escritório. Então sugeri férias. Mesmo que ela vá para algum lugar, peço que a acompanhe.
-- Sim.
-- Nunca imaginei uma reação assim.
-- Eu também acho que ela devia vender essa casa. Se libertar de tudo isso aqui. Ela não foi feliz aqui. Não sei o que fazer.
-- Talvez  seja apenas estresse.
-- Mas pode deixar Gustavo, eu não vou tirar o olho dela. Vou te ligar todos os dias.
Gustavo saiu com o coração aos pedaços.
Verônica como havia prometido, ligava todos os dias dando noticias da Alana, que continuava abatida. Ele não conseguia ver razão para tudo isso. Talvez ela realmente precisasse de ajuda. Ele sabia de sua história e chegou a conclusão que a casa era a segurança que ela não tivera dos pais. Por isso esse comportamento. Precisava conversar com Verônica.
Gustavo teria que viajar, talvez ficasse fora uns quarenta dias ou mais. Ele iria telefonar para ela para saber de Alana. E pediu que Verônica a convencesse a consultar uma psicóloga.
As férias de Alana tinham terminado, ela teria que voltar ao trabalho. Foi com medo de encontrar com Gustavo. Ele nunca mais a tinha procurado, desde aquela ultima conversa. Ela estava arrependida da forma que tinha tratado ele, seca e agressiva demais.
Quando chegou ao escritório soube que Gustavo estava fora, trabalhando em um projeto grande, e que ele não tinha data para retornar.
Alana foi para sua sala de trabalho e procurou se concentrar na sua tarefa. No fim da tarde, Ivan bateu a porta e pediu para falar com ela. Sentou diante dela e disse:
-- Alana sinto muito pelo que houve na ultima reunião. Mas gostaria de falar contigo sobre esse novo projeto. Eu sobrevoei a área onde moras, e realmente é o que precisamos, e o valor que querem pagar por ela é surpreendente. Devias pensar melhor.
-- Sim, vou pensar.
-- E tu farias o projeto para o casarão ser transformado em um Centro de Cultura. Tu melhor do que ninguém para valorizar o casarão. Confio em ti.
-- Obrigada.
Alana saiu do escritório e foi para casa andando. Precisava pensar e rever conceitos... Vieram em seu pensamento os bons momentos que teve com Gustavo, ela nunca tinha sido tão feliz. E as moças da pensão todas de olho no bonitão, ainda diziam se não queres, nós pegamos com as duas mãos.
E as coisas que Verônica não se cansava de repetir, que ele era bom, amava ela de verdade e que ela estava o deixandoele escapar por causa de uma casa velha. Que só dava despesas e que ela não tinha recursos para fazer uma boa reforma.  Que ela saísse do sonho e viesse para a realidade da vida.
Chegou em casa e foi ao encontro de Verônica, que a recebeu cheia de preocupação com um problema que surgiu no encanamento da água quente. E o orçamento do reparo era alto.
Alana sentou-se desanimada. Estava sentindo muita falta de Gustavo. Ele era seu esteio. E agora estava longe. Será que estava sozinho? Só em pensar nisso ficou com o coração doendo, um aperto no peito, um nó na garganta.
Saiu sem dizer nada e foi para seu quarto. Deitou-se no sofá e chorou feito uma criança. Ela fez tudo errado. A arrogante era ela mesma. Esperou se acalmar e pegou o telefone e discou o numero dele.
-- Alo, quem fala?
-- Aqui é Marcela, quem fala?
-- Oi, é Alana, queria falar com Gustavo.
-- Ele está ocupado neste momento. Quer deixar recado?
-- Obrigado, ligo outra hora.
As lágrimas escorriam em sua face. Ele estava com sua “amiga” Marcela. Ficou muito tempo ali, parada, esperando o retorno que não veio.
Verônica  foi até ela. Ela estava tomando um banho. Verônica ficou esperando, tinha preparado para lanche leve para ela. Ela apareceu de cabelo ainda pingando, com uma roupa bem caseira.
Alana disse a Verônica:
-- Liguei para ele e quem atendeu ao telefone foi Marcela, ele já me esqueceu.
-- Não! Ele te ama muito para te esquecer.
-- Como tu sabes? Agora é vidente?
-- Não, apenas sou sensata. Coisa que tu não tem sido.
-- Eu sei. Extrapolei.
-- Pois é então conserta.
-- Como?
-- Telefona outra vez, mais tarde.
-- Mas eu já liguei!
-- E ele sabe que tu ligaste? Será que a moça deu o recado? Ela pode muito bem está aproveitando a oportunidade de pegá-lo.
-- É tens razão. Mas ele todo esse tempo não me procurou. Nem um telefonema para saber se eu estava viva ou morta.
-- Ele liga todo o dia, se queres saber. Não fala contigo porque  ele está esperando que tu o procure. Ele te disse, lembra?
-- Sim. Então ele sempre liga. Por que nunca me disseste?
-- Porque ele me pediu para não dizer.
-- Tu estás do lado dele?
-- Não, estou do lado de vocês, quero  ver vocês juntos e felizes.. Vamos, chega de conversa, coma o lanche e depois torna ligar para ele. Ele sempre liga por volta das 22.30h.
Mas ela não ligou mais naquela noite. Verônica foi quem ligou, e de fato Marcela não tinha dito a ele que Alana havia ligado.
Gustavo, que estava terminando seu trabalho, resolveu antecipar sua volta. Chegou ao  inicio da manhã de sábado. E a tarde ele foi procurá-la. Seria uma surpresa para ela. Comprou um lindo buque de flores do campo e foi.
Entrou e foi diretamente para o apartamento atrás da garagem. A porta estava apenas encostada. Ele espiou e viu Alana deitada no sofá olhando o teto. Gustavo entrou sem fazer barulho, aproximou-se com cuidado, e ficou olhando para ela, que tomou um susto ao vê-lo ali. Sentou-se espantada. Ele riu dela, entregou as flores e deu um beijo na sua face. Sentou ao lado dela e pegou sua mão. Não disse nada, apenas olhava para ela. Ele estava com muita saudade, queria contemplar aquele rosto tão querido. Foi ela que falou primeiro:
-- Que bom te ver. Senti muito a tua falta.
-- Eu também senti a tua falta.
-- Eu te liguei, mas foi a Marcela quem atendeu ao telefone. Por quê? Vocês estão juntos?
-- Não! Se eu estou contigo....  Ela sempre foi e sempre será apenas uma amiga. Nós estávamos em uma cafeteria e eu tinha ido ao banheiro, e deixei o telefone sobre a mesa. Ela atendeu, mas não devia ter atendido. Eu vi que era o teu numero, mas ali eu não ia retornar a ligação. Mais tarde houve um temporal muito forte e o sistema caiu. Só bem mais tarde eu falei com a Verônica.
-- Por que não ligou para mim?
-- Quer a verdade?
-- Sim...
-- Eu queria falar pessoalmente, já  estava pronto para voltar. Mais dois dias...
Ele passou o braço por seus ombros e a puxou para perto dele, tomou seu rosto e a beijou suavemente, carinhosamente. Ela aconchegou-se a ele e começou a chorar. Numa explosão e de emoções. Ela esperou e depois a acalmou. Ficaram assim abraçados e quietos um bom tempo.
Alana se refez e começou a contar a ele  tudo que se passou. E que realmente ela queria, mas não tinha condições de conservar a casa e todo o jardim. Ela aceitaria a proposta da empresa, mas queria que ele a ajudasse com os valores. E ela faria a projeto do Centro de Cultura.
Gustavo suspirou aliviado. Foi preciso esse afastamento para ela perceber que estava errada, que estava desperdiçando um bom negocia, que daria uma boa renda.
Passaram o fim de semana juntos. Caia uma chuvinha fria e eles nem saíram do apartamento da garagem. Ele falou do projeto que esteve trabalhando, e que agora trabalhariam junto novamente, e eles fariam o projeto total para o terreno dela.
Já era domingo a noite, quando ele disse:
-- Eu te trouxe alguns presentes, mas ainda estão na mala. Amanhã quando sairmos do escritório vamos para minha casa  e tu poderes ver. Acho até que devias ficar por lá. Que dizes?
-- Sim, posso ficar por lá. Eu vou ter que avisar as minhas inquilinas para procurarem outro lugar, aqui está sem água quente. Instalamos alguns chuveiros elétricos, porque não vou mexer em mais nada.
-- Concordo. E a Verônica?
-- Já falei com ela, eu a quero por perto. Ela quer ir para uma casa de idosos, Mas eu não quero que ela vá.
-- Está certo. Ela pode ir para um apart-hotel que eu tenho. Está desocupado, e é cinco quarteirões do prédio onde moro.
-- Amanhã vamos falar com Ivan?
-- Sim. Quanto antes melhor.
-- Qual o prazo devo dar para elas saírem daqui? Trinta dias?
-- Sim, pelo menos trinta dias, mas não estende muito.
Na manhã seguinte, na primeira hora, foram falar com Ivan, que já tinha elaborado o esboço da proposta e as diretrizes para o projeto. O resto seria com eles. Não precisavam se preocupar com o orçamento.
Gustavo e Alana gostaram da proposta. Ela ficaria com apartamentos, escritórios e receberia outra parte em dinheiro. Ela assustou-se com o valor do casarão. Era uma fortuna. Ficou nervosa, não sabia como administrar todo esse dinheiro.
Ivan a convidou para entrar de sócia na construtora. Ela aceitou e agora os três eram os donos.
Os dias corriam tranqüilos. Gustavo mais uma vez falou em casamento. Ela concordou em marcar a data. A exigência dele era que fosse ao regime de separação total de bens, porque agora ela era uma moça muito rica e ele não queria ser chamado de caçador de dotes, mas, sim de marido apaixonado. Eles riram.
Trabalharam com afinco na elaboração do projeto do casarão. Ela dedicou-se mais o Centro de Cultura. Quando apresentaram a maquete foi um sucesso. Todos gostaram da disposição das torres, dos acessos e do aproveitamento do jardim original e, sobretudo do recanto que daria acesso ao Centro de Cultura. Foram muito elogiados.
Agora que o projeto estava pronto , agora era preciso organizar o casamento. Seria uma cerimônia simples e intima. Apenas os amigos mais chegados. A recepção seria no salão do condomínio.
A capela estava toda enfeitada de lírios brancos. Nada exagerado. Alana primava pela simplicidade. Seu vestido era um modelo de noiva tradicional. Ivan iria acompanhá-la ao altar.
Gustavo estava nervoso. Mas brincava com os amigos dizendo:
-- Estou nervoso, mas também nunca casei.
E todos riram.
Quando Alana entrou no templo ela estava deslumbrante, Gustavo sentiu todo seu ser vibrar com a visão da mulher amada. No altar, ele a recebeu com um beijo carinhoso. Eles demonstravam no olhar o grande amor que havia entre eles. Na saída  os amigos saudou o casal com uma chuva de arroz. A comemoração foi alegre e cedo o casal abandonou a festa. Foram para um hotel e no outro dia saíram em lua de mel.
O casal ficou uma semana, em viagem, e quando retornaram as obras do casarão iriam começar. Alana preparou um leilão dos objetos de arte e móveis dos anos 60 que havia na casa. Escolhera apenas algumas peças para ela. Os quadros e mais alguns objetos selecionados, ficariam  no Centro de Cultura.

Ao mesmo tempo Alana decorava o apartamento de Gustavo. Usou alguns moveis pequenos e vasos e tapetes do casarão. Depois de alguns dias o apartamento estava irreconhecível, agora tinha um toque feminino.
O tempo passou rapidamente, ambos envolvidos na execução do projeto. Faltava um nome para o Centro de Cultura. Gustavo sugeriu o nome do arquiteto que tinha construído o casarão, o que Ivan concordou. Alana disse então será o nome do meu avô. Será Policarpo Quatros.
Chegou o dia da inauguração do complexo. Fizeram uma grande recepção no casarão e foram Alana e Gustavo que descerraram a fita inaugural. O casal estava emocionado.  O casarão tinha  o espaço ideal para o Centro de Cultura, com muitas e amplas peças para o uso em diferentes setores da arte. Sala de exposição,  sala de saraus, sala de concerto, sala para palestras...
Ao saírem da festa de inauguração do casarão, Alana disse a Gustavo:
-- Ficou realmente muito bem. Não porque eu fiz o projeto, mas porque a casa tem  estrutura e ambiente para isso. Agora o casarão tem um bom uso.
-- Sim, tens razão, querida.
-- Muito obrigada!
-- Ué, por que?
-- Porque foste tu que me abriu os olhos, aliás precisou dar uma boa pancada para eu poder enxergar.
Ambos riram, e foram para o seu lar.
Chegaram e ele foi buscar uma água para beberem, ela tirou os sapatos, seu pés estavam doendo, tinha ficado muito tempo em pé.  Gustavo perguntou a Alana se ela queria mudar-se para o apartamento de uma das torres, Ela disse que não. Vamos ficar aqui. Esse apartamento me deu bons momentos. Abraçaram-se e ficaram  olhando através da janela as torres que dali se avistava.
Alana e Gustavo eram o reflexo do amor profundo e verdadeiro que os ligava e que  levava a felicidade.
                                                                           Maria Ronety Canibal
                                                                                      Maio de 2017




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