ENFEITIÇADOS
Era um dia
lindo de primavera. A pequena cidade em
que morava a família de Lorenzo estava em festa. Era dia da padroeira. A praça central de Santinha estava repleta de
pessoas que acompanhavam a procissão.
Lorenzo
estava ali apenas apreciando, mas de repente, como se tivesse sido tomado por
um raio, seu coração disparou ao por olhos em uma moça que passava a sua
frente.
Era linda!
Tinha um rosto perfeito, olhos verdes e uma boca tentadora. Ela ao passar olhou
para ele e esboçou um sorriso. E ele se apaixonou por ela, naquele instante.
Uma coisa de louco...
Ele não
sabia quem era ela, nem seu nome, onde morava... Nada! E como descobrir? Ele nem
estava morando mais na cidade há cinco anos. Tinha ido para a Atalaia do Mar
por causa do curso de medicina, e agora já estava fazendo residência no
hospital universitário.
Perguntar
para o seu primo Juliano??? Com que referencia? Não tinha como saber. Só o
destino... Mas depois da procissão Lorenzo vagou pela praça e imediações com
esperança de encontrar a moça. Mas não encontrou. Já era tarde quando foi para
casa. No outro dia cedo voltaria para sua rotina.
Lorenzo foi
com o sorriso dela gravado em sua mente.
Ele realmente estava enfeitiçado. A moça não saia do seu pensamento. Até em
fotografias da festa que foram publicadas na internet ele procurou atentamente,
e ela aparecia em algumas, apenas de costas. Mas mesmo assim ele imprimiu, era
a única coisa palpável que tinha dela.
O tempo
correu e logo seria o aniversário de casamento de seus pais. Ele já tinha
acertado com seu monitor para ficar fora uma semana. E tudo com a intenção de
virar a cidade de pernas para o alto para descobrir a moça do sorriso.
Ele chegou
muito animado, abraçou seus pais e foi ver seu primo Juliano. Queria contar
para o primo, mas antes Juliano falou que tinha uma namorada, e que estava
ansioso para apresentá-la a ele. Juliano estava tão encantado com a garota que
não parava de falar de suas qualidades.
-- Tu vais
conhecê-la, e verás que eu tenho razão. Ela é fora de série. Ela linda
demais...
-- Te acalma
rapaz. Dá para notar que estas de quatro por ela.. – E Lorenzo deu uma risada
debochada do primo. Mas pensou que o primo estava em melhor condição do que
ele, que estava apaixonado por uma lembrança.
-- Um dia tu
também vais ficar assim, todo gamado como eu estou.
E Juliano
continuou a falar sobre a namorada. Lorenzo só escutando.
Juliano
trabalhava com seu pai, e ele cuidava do setor comercial da indústria de
alimentos da família. Fabricavam massa desde o tempo que seu tetra avô viera da
Itália.
Juliano
havia combinado de encontrar com Lorenzo na pizzaria. Lorenzo chegou cedo,
pediu uma água enquanto esperava pelo primo e sua namorada. Ele estava
distraído olhando as mensagens em seu telefone e não os viu chegar.
E quando
levantou os olhos, Lorenzo passou mal.
Era a moça do sorriso. Ele estava perturbado, mas tinha que se conter, não
podia deixar que percebessem. Levantou-se e cumprimentou a moça:
-- Encantado
em conhecê-la. Lorenzo ao teu dispor.
-- Prazer,
Daniela.
Juliano
estava muito feliz, animado e projetando casamento. Ela era realmente uma pessoa
simpática, acolhedora e muito bonita. Tinha uma voz doce e suave. E Lorenzo
estava com o coração em pedaços.
Naquela
semana Lorenzo saiu com os jovens namorados todos os dias, e até na festa de
seus pais ele acabou dançando com ela, já que Juliano não dançava. Foi uma
tortura para ele, sentir o perfume de Daniela,
e não poder abraçá-la e beijá-la. E enquanto dançava ela puxou assunto
com ele:
-- Se eu
entendi certo, tu estás terminando o curso de medicina. É isso?
-- Sim. Mais
um semestre, mas já estou trabalhando no hospital.
-- Então és
mais velho do que Juliano?
-- Quase um
ano. Por que me achas muito velho?
-- Não...
Imagina... Pelo contrário, te acho no ponto...
Ela olhou
para ele e sorriu. E ergueu a sobrancelha e olhou para ela com um meio sorriso.
E ela continuou:
-- Qual
especialidade tu escolhestes?
-- Quero fazer traumatologia e estou pleiteando
ir para o Canadá, lá o estudo da medicina está bem inserido na tecnologia de
ponta. Já me inscrevi, estou aguardando as respostas.
-- Espero
que consigas...
--
Obrigado. E tu o que estudas?
-- Estou no
primeiro ano de nutrição.
-- Que bom.
Posso perguntar tua idade?
-- Estou com
vinte anos.
-- És muito
jovem...
-- Tu achas?
Me diz muito jovem para o quê? Me explica...
-- Para
compromisso sério... Com meu primo.
-- Talvez
com ele seja, mas...
-- Mas o
quê?
-- Nada, um
sonho que eu sonhei... Apenas um sonho que eu gostaria de ver realizado...
-- Sonho
impossível? Também tenho um...
-- Quer me
contar?
-- Só se me
contares o teu..
-- Então
vamos deixar cada um com seu sonho...
A música
terminou e ele a levou para ficar com Juliano. Agradeceu e foi para a sacada
tomar um ar. Ele estava ofegante. Foi esforço demais para se conter...
A varanda
estava na penumbra, iluminada apenas pelas luzes do salão. E de repente Daniela
estava ali a seu lado, queria uma lembrança dele, e pediu que a beijasse.
Lorenzo
ficou sem ação, ele não podia fazer isso com Juliano. Mas ela insistiu:
-- Apenas um
beijo, é parte do meu sonho impossível...
E ela o
beijou, com doçura, aqueles lábios macios roçando os seus. Lorenzo não resistiu
e a beijou com sofreguidão, ela invadiu
sua boca e permitiu que ele a explorasse
com sua língua. Ela afastou-se e disse:
-- Agora sei
o que quero. E foi embora, enquanto ele ainda saboreava o gosto de sua boca. E
ele pensou, estou perdido...
A ironia da vida,
fez com que Daniela ficasse sua amiga, uma boa amiga. Ele prezava a amizade
dela embora fosse muito dolorido ver seu primo com a única mulher no mundo que
havia mexido com seu coração. Ele tinha a fama de namorador, mas jamais
entregara seu coração, e agora seu coração sangrava.
Lorenzo não
voltara mais a sua cidade, com a desculpa de muito trabalho e plantões não foi
nas festas de fim de ano. Não suportava ver os dois juntos, embora mais de uma
vez tivesse pego Daniela olhando para ele de uma forma amorosa. E aquele beijo
ainda o perturbava.
Lorenzo
queria esquecer, procurou sair com outras moças, mas algo mudara dentro dele, e
nenhuma outra o agradava. Ele
precisava urgentemente esquecer Daniela.
Daniela a
cada dia pensava mais em Lorenzo, sonhava acordado com o beijo trocado. Tinha
sido um beijo rápido, mas tinha mexido demais com ela.
E diariamente Daniela mandava mensagens para
ele, algumas muito provocativas. A maioria ele ignorava. Não podia, não queria
estar conectado a ela. E Daniele insistia. E um dia ela em uma mensagem ela
revelou: “Naquele dia da procissão eu te vi, sorri e te entreguei meu coração.”
Por isso ela
pedira o beijo, esse era o sonho dela... Tinham o mesmo sonho, foi o seu
pensamento.
Quando ele
leu aquela frase seu coração disparou. Ela o amava? Por que namorava seu primo?
E agora que ela tinha se revelado a ele, eles estavam traindo Juliano. Mas já a
tinha beijado... Que situação!
Lorenzo não
respondeu a mensagem. Achou melhor não mostrar importância, mas rogava ao
Senhor que o iluminasse. Queria fazer a coisa certa.
Duas semanas
depois Juliano ligou para ele muito chateado, contou que Daniela tinha terminado o namoro, que
fora assim sem mais nem menos. Alegou que não o amava o suficiente, e, ele que
já tinha até comprado as alianças. Lorenzo escutou e consolou seu primo. Mas
Juliano queria falar, desabafar e todo o dia ligava para seu primo.
Lorenzo não
sabia mais o que fazer, e agora seu sofrimento era maior. Amava
desesperadamente a Daniela, que o amava também, e ele a desejava, ainda mais
depois que conhecia o sabor do beijo dela, mas havia uma questão muito forte
que os impedia... E ela tinha machucado muito seu primo, seu quase irmão.
Eles tinham
crescido juntos, eram quase da mesma idade, suas mães eram irmãs e seus pais
primos e sócios na indústria de massas, herança do “nono”. Eles eram muito
ligados, eram como irmãos. Sempre foram sinceros um com o outro, sempre tiveram
liberdade para falarem qualquer assunto, e agora... Ele estava escondendo a
verdade de seu primo.
Daniela
estava insistindo, queria saber se Lorenzo também gostava dela, e ele ainda não
dissera nada. Precisavam dar tempo ao tempo. Mas ela estava ansiosa. Contudo
Lorenzo ficou firme.
A família de
Daniela mudou-se de Santinha. Seu pai trabalhava com uma representação de
máquinas industriais e resolveu ir para um centro maior. Ela que iniciara o
curso de Nutrição estava pedindo transferência para outra universidade.
O tempo
passou...
Lorenzo
formou-se em Medicina e foi fazer sua especialização no Canadá. Ficaria fora
aproximadamente quatro anos. Ele e Daniela continuavam se comunicando, e ela
prometeu que nas férias, ela iria a
Montreal para estar com ele.
Ele morava
em uma quitinete, muito pequena, mas confortável. Era em andar alto e tinham
uma vista linda da cidade, sobretudo à noite. Daniela como dissera, de fato foi
visitá-lo e hospedara-se no apartamento dele.
Lorenzo
ficou muito feliz com a chegada dela, e a proximidade o deixou tenso. Sabia que
não teria forças para resistir. Ele foi esperá-la no aeroporto.
Quando se
viram Daniela correu e o abraçou, e ele a beijou. Ela estava linda... Seus olhos
brilhavam de felicidade, e ele a abraçou e a levou para o carro. Estava um dia
primaveril, ensolarado, no entanto ainda frio.
Lorenzo não
conseguia falar, apenas a olhava e ela embora cansada da viagem, estava muito
animada e tagarelava sobre tudo o que via, perguntando sobre a cidade e sobre
seus estudos, sua vida, sua diversão.
Quando
chegaram ao apartamento, ele rindo disse;
-- Eis a
minha morada... É tudo isso.
-- Adorei.
Muito aconchegante, e que vista linda!
-- Bacana,
não é? A noite é mais bonito, por incrível que pareça.
-- Gostei
mesmo. Preciso de um banheiro...
-- É na
única porta a esquerda.
Estavam
felizes... Ele já tinha preparado um lanche para eles, e foi aquecer. Comeram e
conversaram sobre vários assuntos. De repente ela disse:
-- O Juliano
já está com outra namorada... A Luciana me contou. Então acho que estamos
liberados. Não?
Lorenzo não
disse nada, apenas olhou para ela, e pensou que era hora dele falar e
demonstrar seus sentimentos por ela. E foi o que fez.
-- Vem cá,
precisamos conversar e para inicio de conversa, eu preciso te dizer que um raio
se abateu sobre mim, no dia em que te vi na procissão.
Sentaram no
sofá e ele lembrou o dia a procissão, que quando a viu seu coração deu pulos, e
que ele a procurou naquela tarde pela praça e arredores, e que foi embora da
cidade angustiado, porque nem o nome dela ele sabia. Procurou fotos na
internet, e mostrou a que ele tinha imprimido. E que depois quando ele a
conheceu ela estava namorando seu primo, e que ele não podia fazer nada, a não
ser procurar esquecê-la. Mas que foi
inútil... E continuou...
-- E aquela
mensagem que me mandaste sobre tu também ter ficado mexida quando olhou para
mim, me fez enlouquecer. Como entender se estavas com Juliano? E aquele beijo
que trocamos...
E Daniela
comentou:
-- Eu também
estava desvairada. Até hoje eu não sei por que não terminei antes com Juliano,
acho por ele ser daquele jeito, simpático, humilde, sincero... Me sentia muito
mal, sentia que estava traindo aos dois. A ti e a ele. E ele falando em
casamento... Me apavorei... Não queria
casar... Ainda sou muito jovem... E aquele beijo... Ah me deu forças para
terminar com Juliano.
-- Vou ter
que falar com ele... Mesmo que ele esteja namorando outra moça, eu não posso
continuar sem dar uma satisfação a ele. Sei que hoje as coisas são diferentes,
são vocês, as mulheres, que escolhem os homens, são vocês que decidem... Mas
mesmo assim... Nós fomos criados como irmãos, e, sempre fomos leais um ao
outro... Preciso do sim dele.
-- Então?...
-- Então vamos
aproveitar tua estada aqui, vamos passear muito, pois estou sem aula. Tenho um mês de férias. Não
queres tomar um banho?
-- Sim. E
qual a programação para a noite?
-- O que
queres fazer?
-- Por mim
podemos ficar em casa, estou cansada...
-- Então ficaremos
em casa, conversando... Namorando...
-- Isso!
Vamos ao banho?
-- Vamos...
Após
jantarem, Daniela foi para a janela apreciar as luzes da cidade. Era muito
lindo. Lorenzo ficou a observando. Ela estava muito linda enfiada naquele
pijama com estampa bichinhos... Ela estava sensual...
Ele
aproximou-se dela e a abraçou e ficou mostrando alguns pontos da cidade, que
iriam visitar. Mas o perfume dos cabelos dela estava o deixando embriagado, ele
a queria em seus braços, ele a queria demais.
Começou a
acariciar e a beijar seus cabelos, e ela virou para ele e retribuiu seus
carinhos. E as caricias ficaram mais ousadas. Ele a levou para a cama... Ela
estava nervosa, nunca havia chegado a esse ponto, precisava informá-lo. E meio
envergonhada ela falou:
-- Eu nunca
fiz...
-- Não!
Ela sacudiu
a cabeça, e Lorenzo a abraçou e beijou com suavidade.
-- Que
surpresa maravilhosa! Só minha... Serás só minha.
-- Eu vim
aqui para isso, ser só tua...
E com muito
carinho ele a fez mulher. Estavam felizes... Ficaram longo tempo em silêncio,
abraçados querendo permanecer um só.
A semana
passou rapidamente, e Lorenzo resolveu vir com ela para falar com Juliano e
rever seus pais. Assim que chegou rumou
para Santinha, enquanto que Daniela foi para casa de seus pais em Portinho.
Foi uma bela
surpresa que Lorenzo fez para seus familiares, sobretudo seus pais, que
reuniram toda a família para festejar a presença dele. Mas ele queria apenas
conversar com os pais. Ele estava preocupado, precisava se livrar dessa
situação o mais rápido possível.
No outro dia
cedo pediu para que os pais lhe dessem atenção, ele precisava resolver um
problema sério. E queria que se reunissem as portas fechadas. Sua mãe ficou
assustada, e pediu que ele falasse logo. E Lorenzo contou tudo para eles.
Sua mãe,
Cássia, ficou triste com a história e disse:
-- Nada mais
será como antes...
-- Sim,
filho, essa moça perturbou a tua amizade com teu primo, completou seu pai.
-- Mas eu
não tive culpa... As coisas aconteceram independentes da minha vontade... Eu
até fugi... Mas ela também gostou de mim desde o momento que me viu... Será
destino? Será obra de Deus? Mas eu não vou abrir mão desse amor.
-- Vamos
esperar para ver no que vai dar tudo isso. Agora vai e fala com teu primo. Deus
queira que ele entenda. Disse seu Antonio.
E Lorenzo
foi procurar por Juliano no escritório. Estava tenso. Preocupado e Juliano
percebeu:
-- O que há
contigo? Estás estranho...
--
Precisamos conversar primo...
E Lorenzo
relatou tudo desde o inicio, sem deixar nada de fora, até as mensagens dela ele
tinha para mostrar, a foto que ele imprimira... Tudo.
Juliano
escutou em silencio, mas a medida que Lorenzo ia contando, seu sangue ia
fervendo, estava se sentindo traído. Quando enfim seu primo terminou e ele
disse:
-- Não
aceito. Tu me traíste. Devias ter me falado na hora. Mas não tivestes
coragem... Não perdôo.
Lorenzo
levantou-se e foi embora. Passou em casa e despediu-se de seus pais. Não sabia
quando voltaria, e, se voltaria.
Sua mãe
desesperou-se, conhecia seu filho, ele era uma boa pessoa, era correto e
sincero. Estava apaixonado e magoado com a situação. Ele não voltaria... Iria
se estabelecer no Canadá... Muito longe dela... Talvez não o visse mais... E
chorou ao despedir-se do filho amado, seu filho...
Seu Antonio
tinha os mesmos sentimentos, sabia que seu filho era honesto e seu coração era
reto de intenções. E tinha procurado fazer a coisa certa. Se Juliano não
acreditava na intenção sincera de Lorenzo, então não merecia sua amizade. E
abençoou o seu filho.
-- Vá em
paz! Que o senhor te guie e te proteja. Seja feliz!
E depois de
abraçar os velhos, com lágrimas nos olhos e foi embora.
Lorenzo foi à
casa de Daniela para conhecer os pais dela. Queria pedir a eles que quando ela
tivesse terminado o seu curso, que ela fosse para lá para viver com ele. Casar
com ele.
Os pais de
Daniela foram muito cordiais com Lorenzo, sabiam que sua filha Daniela morria
de amores por ele. E embora preferissem que a filha ficasse mais perto,
concordaram com o noivado deles.
Fariam uma
pequena reunião com apenas a família. Os pais e a irmã de Lorenzo vieram para
juntos festejarem o noivado dos jovens.
Lorenzo
tinha mais um fim de semana antes de ir embora. E convidou Daniela para
passarem aqueles dias em uma pousada na subida da serra.
Eles
aproveitaram ao máximo aqueles dias, passearam, conversaram, deram risadas e se
amaram muito. A cada dia eles percebiam que tinham nascido um para o outro.
E na terça
feira bem cedo Lorenzo tomou o avião. Daniela foi levá-lo no aeroporto. Ela não
queria chorar, queria que ele saísse com a lembrança do sorriso dela, mas não
agüentou. Abraçados os dois choraram a separação. Teriam ainda dois anos pela
frente.
O tempo
correu e Lorenzo estava terminando seu
doutorado. Recebera convite para trabalhar no Centro Médico de Traumatologia da
Universidade. E ele aceitou.
Agora tinha
se tornado mais escasso o seu tempo livre. Mas ele estava feliz, com muitas
saudades de Daniela, contudo logo ela estaria lá com ele. Talvez ele pudesse
buscá-la.
Daniela
também estava feliz, se preparando para ir. Era muito papel que a embaixada
pedia, e ela estava ansiosa para receber seu visto de permanência. Estava
cogitando tirar um curso, assim facilitaria.
No fim do
ano ela estaria formada, e então poderia ir para junto de seu amado. A viagem
estava marcada para inicio de fevereiro. Seus pais programaram uma temporada na
praia, ela adorava praia. Foram dias ensolarados, quentes e com um mar
convidativo. Ela aproveitou muito junto de seus pais.
Faltavam só
dois dias para a viagem. Daniela saiu, iria ao salão de beleza, queria mudar o
corte do cabelo, fazer as unhas... Enfim tudo o que tinha direito. Queria
chegar linda para ele.
Ao retornar
para casa, já quase chegando seu carro foi atingido por uma moto em alta
velocidade. Daniela perdeu os sentidos, foi socorrida e levada para emergência
do hospital com fraturas expostas na perna e no braço esquerdo. Tinha batido
com a cabeça, embora estivesse usando o cinto de segurança. Ela estava muito
ferida.
Seus pais
foram avisados, saíram correndo para o hospital
e se assustaram com as noticias que receberam na recepção do hospital.
Teriam que aguardar o médico, ela estava em cirurgia.
Depois de
duas horas de espera o médico veio falar com eles. A cirurgia de emergência
tinha sido feita, mas pelo estado da perna... Ela ainda estava desacorda, e
teriam que aguardar para fazer exames neurológicos. Luis e Helena estavam
apreensivos com o que o médico havia falado. Foram à capela do hospital para
rezar.
Enquanto
isso Lorenzo estava feliz preparando a chegada de Daniela, agora ele estava
morando em um lugar melhor. Era fora do centro da cidade, num bairro muito
aconchegante com casas de madeira pintadas em cores fortes. A dele era amarela
com janelas e portas branca, com um pequeno jardim na frente.
Era inverno,
mas no verão teriam um recanto lindo para apreciar. A casa era de dois pisos,
embaixo tinha hall, escritório, lavabo, sala de estar e jantar e uma ampla
cozinha que dava para uma aérea envidraçada nos fundos, com vista para o pátio.
Em cima havia duas suítes e um closed. Estava toda mobiliada. Era muito linda e
com certeza Daniela iria gostar.
Ele tentou
falar com ela e não tinha conseguido, deixou recado, e não houve resposta. Bem
depois ela ligaria. Foi ao mercado fazer compras, queria abastecer a despensa e
refrigerador, com aquele frio, Daniela não precisaria sair.
Ele estranhou que Daniela não tivesse respondido
as suas mensagens. Tentou novamente e seu numero dava como fora de área. Ligou
então para a casa e também não obteve resposta.
Esquisito!
Foi o que ele pensou.
Tinha que
voltar ao hospital. Ficaria de plantão e tinha muito que fazer. No outro dia
Daniela estaria com ele. Não iria esquentar a cabeça.
Lorenzo saiu
do plantão, foi em casa, tomou um banho, fez um café e foi para o aeroporto
para esperá-la. Não tinha certeza do horário de chegada, tinha conexão e podia
atrasar. Mas queria estar lá cedo.
E ele
esperou... O avião aterrissou... E ela não chegou!
Lorenzo
ficou atordoado, algo tinha acontecido. Por que Daniela não estava naquele
avião? Por que não tinha avisado? Por que não atendia as suas ligações? Por que
esse silêncio? Por quê? Tinha vontade de gritar...
Ele ficou ali
no aeroporto sem saber o quê fazer, o quê pensar. Depois de muito tempo ele
levantou-se e foi embora. Dirigiu atônito, só se deu conta que chegou em casa.
Sentou no sofá e ali permaneceu com o telefone na mão tentando falar com ela.
De repente
veio em seu pensamento que ela havia desistido dele. Por isso ninguém atendia
ao telefone. Ela o havia trocado por outro. Afinal ela já tinha feito isso com
seu primo...
E algo
dentro dele incendiou, o choro brotou e soluçou como criança. O amor de sua
vida o havia deixado. Teria que ser forte. Iria se dedicar ao trabalho e em
suas horas livres iria estudar mais para aprofundar seus conhecimentos. Teria
que se manter ocupado, com sua mente ativa e seu corpo cansado, para a noite
poder dormir e sobreviver a esse desengano.
Nessas horas
sentia falta de seus pais, que sempre eram tão amorosos e tão consoladores. Ele
lembrou quando sua irmã Giovana, e de seu cunhado Marcelo, que antes de
noivarem tiveram uma briga séria. Ele mesmo tinha achado não nunca mais se
olhariam outra vez. Mas sua mãe que com carinho conversou com sua irmã e a fez
perceber que tinha sido muito intransigente com o namorado, e que ao mesmo
tempo seu pai falou com Marcelo colocando a mesma questão. Então os namorados
se derem conta que eles estavam jogando fora o amor que os unia por serem muito
birrentos.
Mas esse não
era seu caso.
Talvez se
ele pedisse a mãe para procurar Daniela...
Não agora!
Talvez mais adiante...
Quando seu
Luis foi ao departamento de trânsito
receber o carro destruído de Daniela, procurou por seu telefone e não achou.
Perguntou aos guardas se havia bolsa e outros pertences dela, eles lhe
entregaram um saco lacrado com todas as coisas que localizaram ali perto do
carro.
E ao chegar
em casa entregou tudo para Helena conferir as coisas da filha, e o telefone não
foi encontrado. E o pensamento foi que tinha sido roubado. E agora como fariam
para falar com Lorenzo. Teriam que esperar ele ligar.
O caso era
que Daniela ainda estava desacordada, ela estava em coma induzida por causa das
dores na quebradura da perna. Ainda não tinham
feito todas as cirurgias necessárias. Também eles não tinham a certeza
dos médicos que ela voltaria a andar normalmente, sem auxilio, porque o a
cabeça do fêmur estava estraçalhada.
O momento
era de espera...
O tempo
passou... E seis meses depois Daniela continuava na mesma situação. Ela havia
acordado, mas não reconhecia ninguém. Mostravam fotos dela mesma e ela não se
reconhecia. Então Helena resolveu mostrar uma foto de Lorenzo que ela havia
encontrado na bolsa da filha. E os olhos de Daniela brilharam. Ela disse que
conhecia aquele rosto, mas não sabia quem era. Mas que ela gostava daquele
rosto.
Os pais de
Daniele estavam esperançosos, o médico havia sinalizado para melhora dela. Mais
uma cirurgia e estaria resolvido o problema do quadril, mas salientou que se
eles pudessem buscar um hospital que tivesse a tecnologia de ponta, seria muito
melhor. Eles teriam que decidir. Sairia caro, mas ela ficaria com mais
qualidade de vida.
Lorenzo não
se conformara. Ele sabia que Daniela o amava, sempre sentiu uma afinidade muito
significativa entre eles. Alguma coisa estava errada. Já se passara esse tempo
todo...
Ele teria um
período de férias entre os semestres, e conseguiu no hospital uma licença pelo
período de vinte dias. Então resolveu que iria tirar tudo a limpo. Ele
precisava saber a verdade dos fatos. Já estava magoado com tudo e ele não
sossegaria até desvendar esse mistério.
Não avisou
ninguém que viria. Iria ser uma surpresa para todos. Ele chegou e foi direto a
casa de Daniela. Estava tudo fechado, mas não abandonado. Então foi a casa ao
lado pedir informações sobre eles. E para seu espanto a senhora disse:
-- Eles não
param mais em casa desde o acidente da filha. Eles estão no hospital.
-- Daniela
se acidentou?
-- Sim, há
muito tempo. A menina estava pronta para viajar e dois dias antes sofreu um
acidente grave. Ela não se lembra de mais nada...
Lorenzo
sentiu o seu sangue gelar. Tudo o que ele tinha imaginado e sua amada sofrendo
no hospital.
-- A senhora
pode me informar qual hospital ela está?
-- Sim, no
Hospital Geral.
-- Obrigada.
Lorenzo
pegou um taxi e foi para lá. Quando chegou na recepção ainda estava tremendo, e
com a informação foi direto ao quarto dela. Chegou em frente a porta e não
tinha coragem de entrar. Respirou fundo, bateu levemente e dona Helena veio
abrir.
Quando ela
viu Lorenzo, não se conteve, o abraçou e chorou muito. E dizia:
-- Nós
tentamos te avisar, mas se perdeu o telefone dela. Não tínhamos o numero de
ninguém... Mas agora tu estas aqui... Talvez tua presença ajude ela lembrar...
-- Posso
entrar? Ela está acordada?
-- Sim,
entre meu filho...
E quando
Lorenzo a viu seu coração disparou, lá
estava ela em uma cama de hospital abatida pelo sofrimento... Ele se aproximou
devagar, tomou sua mão e a beijou.
Daniela
estava de olhos fechados e quando ela o viu seu rosto se iluminou e ela disse:
-- Lorenzo
meu querido, não pude ir..
-- Sim amor
eu sei... Mas agora não te agita, eu estou aqui contigo, vou ficar ao teu lado.
-- Que
bom... Eu tive muito medo de te perder...
-- Shhshh...
Helena ficou
sem entender, ela não se lembrava de nada... E agora... Louvado Nosso Senhor
Jesus Cristo!
Lorenzo
puxou uma cadeira para junto da cama, sentou-se e ficou fazendo carinho em seu
rosto. Ela sorria para ele e seus olhos brilhavam de felicidade.
Helena saiu
deixou os dois a sós e foi procurar o médico para lhe contar que a memória dela
havia voltado pelo menos uma parte.
O doutor
chegou e pediu para examiná-la. Lorenzo se identificou como médico
traumatologista e pediu as informações sobre o acidente e da evolução do
tratamento. Gostaria de acompanhar os exames dela.
Depois de
estar reunido com os médicos e com os pais dela, Lorenzo disse que poderia
levá-la para o Canadá. O hospital que ele trabalhava era um dos melhores nesta
área em nível de mundo.
Ele entraria
em contato com o professor dele para ver qual a melhor data para removê-la. Os
pais dela se pudessem deveriam ir também para acompanhá-la.
Lorenzo
ligou para seus pais e pediu que fossem ter com ele. Ele ficaria apenas uns
dias e não iria até Santinha. E justificou contando a situação de Daniela.
Antonio e
Cássia vieram ver o filho e hospedaram-se na casa de Luis e Helena. Eles
ficaram chocados com tudo que havia acontecido com Daniela. E eles tão perto
poderiam ter vindo ajudar...
Ficou tudo
acertado com o hospital e o transporte poderia ser em avião de carreira, mas em
assento de primeira classe, para ela ir deitada. Dentro de uma semana eles
poderiam ir.
Antonio
disse a Lorenzo que eles tinham vendido
o prédio do depósito antigo e esse dinheiro era para os filhos. Então assim que
ele chegasse em casa iria providenciar para ser depositado na conta dele.
Lorenzo agradeceu ao pai, e disse:
-- Obrigado
pai. Esse dinheiro vem em boa hora, porque doença sempre tem um alto custo.
Acho que seu Luis está gastando uma fortuna, embora ele tenha plano de saúde,
mas muita coisa o plano de saúde não paga.
-- Sim. Mas
agora terás um bom saldo bancário.
Apenas
Lorenzo e Daniele iriam, nem dona Helena e nem seu Luis tinham passaporte.
Helena iria providenciar para ir o mais
breve possível. Mas Luis
ficaria porque precisava
gerir os negócios,
que estava há muito tempo por conta dos funcionários.
Chegou o dia
do embarque. Todos foram despedir-se dos jovens. Cássia ao abraçar o filho
disse:
-- Te cuida
meu querido que tu estás muito magro e abatido.
-- Ok mãe.
Não te preocupa comigo. Fica com Deus. Te amo mãe...
-- Deus te
abençoe meu filho. Também te amo.
-- Tchau
pai. Cria coragem e vem me visitar... Vou te esperar... Te amo.
-- Vai em
paz meu filho. Te amo...
Por fim
embarcaram. Ele acomodou Daniela com todo o cuidado. Pediu que fechassem a
cortina em torno deles. Assim ela não seria alvo de olhares dos ouros
passageiros.
A viagem foi
tranqüila, Daniela dormiu a maior parte tempo, ele havia dado um calmante para
ela. Eles teriam que esperar cerca de
uma hora para a conexão com outro vôo. E Daniela foi levada para a sala vip. A troca de aviões foi feita com cuidado pelos
funcionários, que os acomodaram e os isolaram com uma cortina. Ele tratou de
toas as necessidades dela durante o vôo. Sempre com muito amor e cuidado.
Quando eles
chegaram ela foi levada diretamente para
o hospital. Lorenzo a deixou aos cuidados de um colega e foi em casa. Precisava
tomar um banho, descansar um pouco, já que não dormiu no avião. Depois de três
horas estava de volta pronto para assumir os cuidados dela.
No dia
seguinte uma equipe iria analisar a situação dela, para programarem a cirurgia.
Decidiram realizar a operação no outro dia, era preciso fazer alguns exames
apenas. Lorenzo pediu para assistir a cirurgia, mas seu professor recomendou
que não. Ele poderia ver do visor para estudantes.
A cirurgia
foi um sucesso!
Quando
Daniela acordou, Lorenzo estava
preocupado em saber se seu cérebro estava
ligado na realidade, ou estava novamente desmemoriada, mas quando ela o
viu deu um sorriso e perguntou:
-- Como foi tudo?
-- Tudo bem
meu amor. Agora é só se recuperar. Mas
descansa. Já avisei todo mundo.
Ela ficou
ainda um tempo no hospital.
Uns dias antes de Daniela ter alta, sua mãe
Helena chegou. Lorenzo ficou aliviado, pois o trabalho dele absorve muitas
horas semanais, com plantões aos fins de semanas, pelo menos dois ao mês, mesmo
que contratasse uma cuidadora, Daniela com certeza se sentiria muito só.
Enquanto ela estava no hospital ele
sempre passava rapidamente para dar uma olhadinha nela.
Ele arrumou
uma cama de hospital, para Daniela no escritório, porque ela ainda não podia
caminhar e facilitaria para todos os cuidado com ela.
Ela chegou e
se encantou com o jardim da casa, que ainda estava florido. Era outono. Ela
adorou a casa, pois Lorenzo a levou para um passeio antes de acomodá-la na
cama.
Helena
também gostou do lugar, era perto do hospital e sua filha moraria em uma casa
linda, confortável e aconchegante. Sob
os cuidados da mãe a recuperação de Daniela foi rápida, já estava com aspecto
saudável, mas ainda precisava completar as seções de fisioterapia.
Estavam
todos muito animados com a recuperação de Daniela, ela própria queria andar,
esforçava-se para fazer todos os exercícios para mover e firmar sua perna.
Lorenzo
sabia que ela não voltaria a ter os movimentos como antes, mas só pelo fato de
ela não precisar de auxilio para andar era uma maravilha. Mas ele não se
importava, apenas queria que ela se livrasse de tudo aquilo para eles tomarem
de volta as suas vidas e agora em parceria no amor.
Logo seria
Natal e Helena resolveu voltar, não queria ficar longe de seu marido e Daniela
estava muito bem. Andava com auxilio que
era temporário. Talvez até o fim do ano ela já estivesse andando sozinha. Ainda
tinha dificuldade para sentar e levantar, mas Lorenzo teria um período de
férias e cuidaria dela.
E o Natal
foi lindo.
Eles
enfeitaram toda a casa.
Daniela
estava emocionada, juntos eles cozinharam a ceia e desfrutaram de uma
intimidade que os enchei de alegria. Estavam começando a vida a dois. Riram,
brincaram e por fim se amaram. Eles estavam realizados.
Depois das
festas a vida deles entrou numa rotina que agradava muito a Daniela. Ela não
podia ainda sair para estudar. Mas ela aproveitou para ler e aprofundar
conhecimentos. E se inspirou e começou a escrever um livro sobre nutrição.
Os dias
passaram rápidos e agora ela estava firme, não precisava mais de auxilio para
andar e até a escada ela subia. Lorenzo sempre que estava em casa a ajudava com
a limpeza, pois certos movimentos ela ainda não fazia. Estavam felizes...
E vida
começou a fluir...
Daniela
publicou seu livro... Foi muito bem vendido
O tempo
correu e Lorenzo estava terminando sua residência. Havia prestado exame e fora
aprovado, e começou a fazer parte do quadro medico do hospital.
Tudo
melhorou seus horários e seu salário. Aproveitaram as férias e viajaram pelo
país e agora estavam bem ambientados com o idioma e com o modo de viver do
povo.
Eles queriam
um filho, mas isso teria que esperar um pouco mais, pois a curtição deles
continuava muito intensa, e eles cada dia mais apaixonados. Eles estavam enfeitiçados
pelo amor que os unia.
Maria
Ronety Canibal
Imagens via internet
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