A HERANÇA
Joana recebeu um telefonema do escritório do
Dr. Gilberto, advogado de sua família.
Faz muito tempo que ela não tem mais contato com ninguém da família. Depois de
uma discussão com sua meia irmã, mais
nova, Luana, sua madrasta pediu que ela saísse de casa. Joana na mesma hora arrumou suas coisas e
saiu. Foi para um hotel enquanto procurava um pequeno apartamento para alugar.
Seu pai ligou pediu que voltasse para casa, que Magda e Luana tinham
extrapolado. Mas ela disse ao pai que o amava muito, mas não iria voltar,
porque sempre tinha sido assim.
Ela era bioquímica e trabalhava havia algum
tempo. Tinha algum dinheiro guardado, que
neste momento era necessário para poder se estabelecer. Conseguiu um lindo
apartamento mobiliado, bem longe da casa de seus pais.
Joana, ao desligar o telefone, ficou pensando
que, alguma coisa séria tinha acontecido na família. Dr. Gilberto marcou, uma
reunião, para o fim da tarde, logo saberia.
Saiu mais cedo do trabalho e tomou o rumo do
endereço que tinham lhe dado. Estava preocupada, com certeza encontraria
alguém, talvez seu pai, tinha muita saudade dele. Ficou nervosa. Não sabia como
seria sua reação.
Quando chegou ao escritório, foi levada para
uma sala, e pediram que esperasse ali, ofereceram água e café, e ela aceitou.
Assim teria com o que se distrair. Escutou vozes no corredor, tentou
identificar, mas não eram conhecidas.
Levantou-se e foi até a janela, a vista para
o rio era magnífica, no fim da tarde o sol avermelhando o reflexo da água. Era
digno de uma foto. A porta se abriu e ela virou-se rapidamente para ver quem
era. Um rapaz alto, moreno de físico tipo forte, com olhos escuros, entrou e
disse:
-- Sou Diogo. Filho do Dr. Gilberto. Prazer
em ti ver.
Ele estendeu a mão e saudou. Ela timidamente
respondeu:
-- Prazer.
Ele a convidou para sentar, e sentou-se
diante dela. Explicou que seu pai logo viria. Ela perguntou a ele qual a razão
dela estar ali. Mais alguém de sua família também tinha sido chamado? Ele
responde que não. Apenas ela. Que o motivo da sua presença ali, o seu pai lhe
contaria. Conversaram sobre amenidades enquanto esperavam.
Quando Dr. Gilberto entrou na sala, ficou
surpreendido com a beleza da jovem. Fazia muitos anos que não a via, ela era
ainda uma menina. Ele era amigo do pai dela, cresceram juntos, e pensou que
havia muito tempo que não tinha uma boa prosa com Geraldo, bom amigo! Era
preciso marcar uma janta para se
reunirem, o tempo é breve, a vida passa correndo. Aconteceu
com Dionísio. Os três sempre juntos, agora não eram mais um trio.
Foi Diogo quem o despertou da lembrança.
Dr. Gilberto disse para Joana que ela havia
herdado uns bens, e um deles era uma propriedade, ou melhor, uma fazenda com 1.800
ha, de porteira fechada. Ela ficou boquiaberta. Não estava entendendo nada.
Como herdara? De quem? Sua família não possuía terras. Eram todos profissionais
liberais? Então Dr. Gilberto disse:
escute, vou contar toda a história. Apenas eu sabia. Ela arregalou os olhos,
olhou para Diogo que estava quieto a observando.
Dr. Gilberto perguntou:
-- Tu lembras de Dionísio?
-- Sim, eu lembro. Amigo de meu pai e do
senhor.
-- Pois é,
ele não tinha herdeiros e em seu testamento deixou tudo para ti, e eu
como seu procurador enquanto precisares.
-- Eu? Mas por quê?
-- Bem, isso foi resultado de uma aposta.
Quando sua mãe estava grávida de ti, nós ainda tínhamos tempo para passarmos
juntos, e seu pai dizia que era um menino e Dionísio que era uma menina, e que se ele estivesse
certo, faria dessa menina sua herdeira.
Eu testemunhei. Assinaram um papel.
Joana perguntou, e se fosse menino, meu pai
daria alguma coisa para ele? Dr. Gilberto riu e disse, faria um churrasco.
E ele segue relatando. Dionísio era solteiro
e sabia que não podia gerar filhos, tinha uma anomalia. Era rico e não deixaria
para sua irmã , que estava muito bem casada e nunca tinha sido sua amiga, uma irmã
de verdade. Então assim quando tu nasceste ele me procurou no escritório,
fizemos o testamento, que foi lavrado conforme a lei e tem pleno valor. A
Tereza, irmã de Dionísio não pode fazer nada. Então tu és a herdeira universal
dele. Além da fazenda, tem o apartamento que ele morava e tudo o que tem
dentro, mais o carro, jóias e o dinheiro que está no banco, mais aplicações bancarias
e algumas ações, e mais alguns imóveis de aluguel. Ainda tenho que ir ao
cartório e verificar para podermos fazer a transferência dos bens para o teu
nome.
Ela ficou assustada. Como administraria tudo
isso, não tinha experiência e capacidade para cuidar de uma fazenda, Ela era
bioquímica, nada parecido.
Então Diogo disse:
-- Nós vamos te ajudar. Alias o pai pediu
para que eu te levasse até o apartamento para tu conheceres e então depois decidir
como faremos.
-- Sim. Pode ser. Quando?
-- Poderia ser amanhã? Deves tomar posse do
que é teu logo. E depois vamos conhecer a fazenda, que fica aproximadamente 70
km daqui.
-- Está bem.
Diogo serviu um pouco de água e lhe estendeu
o copo, ela estava lívida, realmente assustada com os acontecimentos. O copo tremia em sua mão. A reunião tinha
chegado ao fim. Então ele perguntou se ela estava de carro. Ela disse que não.
Não tinha carro.
Ele se ofereceu para deixá-la em casa. Ela
aceitou.
No trajeto Diogo comentou que se lembrava
dela vagamente, mas que lembrava muito bem do pai dela, da sua gargalhada forte
e engraçada. Ela sorriu, e disse eu também me lembro de ti, acho que temos a
mesma idade. Ele respondeu que é um pouco mais velho que ela, ele é do mês de maio. E ela completou, eu sou de
outubro.
Despediram-se e combinaram o horário para o
outro dia. Ela pediu que a pegasse no laboratório em que trabalhava, teria que
pedir dispensa para ter a tarde livre.
Não conseguiu dormir. Estava agitada, não
tinha com quem falar. Pensou em ligar para seu pai, mas... Sentiu saudades de
sua mãe, sempre alegre e feliz, acolhendo os amigos em sua casa. Um dia saiu e não voltou. Foi
atropelada por um carro. Ela morreu tão cedo, ela tinha apenas 8 anos. Depois
seu pai apareceu com Magda e então nasceu Luana e sua vida nunca mais teve paz.
Agora entendia porque os amigos de seu pai tinham se afastado, por causa da
nova mulher dele que era sem graça, chata e mal humorada. Não gostava de
receber visitas.
Na hora combinada Diogo chegou. Ela
despediu-se de sua colega e saíram. O apartamento ficava em um bairro nobre da
cidade, num prédio antigo, porém muito bonito, num estilo clássico. Quando
entraram no apartamento e abriram as cortinas, puderam ver a linda vista lá de
cima. Uma parte da cidade, a praça mais a esquerda e por cima dos prédios uma
nesga do rio. Ela ficou maravilhada e comentou com Diogo que também apreciava a
paisagem.
Era um apartamento de três quartos, sendo que
um foi transformado em biblioteca, com dois banheiros, sendo um privativo, uma
bela com sacada para e esplêndida vista e mais cozinha e dependências de
serviço. Muito bem mobiliado. Dionísio tinha bom gosto. Os móveis eram de
qualidade e muito bem conservados.
Estava tudo muito organizado e limpo. Ela
perguntou para Diogo quanto tempo fazia que ele tinha falecido. Ele não sabia
ao certo, devia ser há uns dois meses. Mas tinha uma senhora que vinha
semanalmente limpar e arejar tudo.
Ela gostou do apartamento e comentou com
Diogo, que quando fosse morar ali, não mudaria nada. Realmente ela ficou
encantada com o que viu. Diogo disse que também achava legal, sobretudo pela
vista da sacada. E além do mais era muito bem situado e tinha duas vagas na
garagem e mais um deposito. O condomínio tinha salão de festas e piscina adulto
e infantil. Que agora eles iriam ver.
Diogo até se atreveu a dizer a ela:
-- Dá para notar que tu gostastes muito do
apartamento, estas morando de aluguel, não é? Então porque não vens morar logo
aqui? É só entrar.
--Pois é, isso eu já pensei. Tenho que tomar
posse ainda, não é bom precipitar as coisas. Não achas?
--Sim. Tens razão.
Diogo olhou o relógio e viu que já era fim da
tarde. Tinha gostado de estar com ela, era uma pessoa afável. Resolveu
convidá-la para irem um lugar para conversarem. Estava uma temperatura tão
agradável. Ela aceitou.
Foram a um lugar da moda. Ela não conhecia.
Comentou com Diogo que ela pouco saia, porque suas amigas todas já estavam
casadas, com filhos. Ele muito brincalhão disse, vamos resolveu isso. Riram e
seguiram conversando. Tomaram um vinho e comeram alguns petiscos. E seguiram
falando. O assunto brotava, falavam de tudo um pouco. Riam muito. Diogo contava
umas historias engraçadas. Resolveram jantar. Pediram um filé com fritas. E já
era mais de onze horas quando resolveram ir embora. Nem ela e tampouco ele
viram as horas passarem. Ele a deixou em casa e combinaram para sábado pela
manhã irem até a fazenda.
Joana chegou em casa e ria sozinha, Como ele
era legal! Dormiu pensando nele. Acordou cedo e ajeitou seu apartamento e foi
para banho para se arrumar. Que roupa ia vestir. Queria ficar bonita, mas ia
para uma fazenda. Na verdade nunca tinha estado em uma fazenda, não sabia como
se vestir. E pensava, calça de brim, lógico, com uma blusa branca básica e uma
camisa de brim ficaria bom. E o nos pés tênis, sapatilha ou bota. Colocaria seu
tênis e levaria a bota, talvez precisasse. Claro não podia esquecer de pegar um
casaco , o tempo estava esquisito, e colocaria um lenço no pescoço, achava
muito chique. Prendeu os cabelos feito um rabo de cavalo. Colocou uma muda de
roupa na bolsa e mais algumas coisas, entre elas escova e creme dental. Nunca
se sabe!
Estava pronta. Olhou-se no espelho e gostou.
Achou-se bonita. Pegou os óculos de sol, a bolsa e desceu. Diogo estava
esperando por ela. Deu um assovio quando a viu. Ela ficou encabulada. Mas
contente. Ele riu e deu um beijo em sua mão.
Tomaram a estrada que naquele horário, ainda
cedo, estava bem movimentada. Ligaram o radio e ouviram a previsão do tempo,
que prometia muita chuva na parte da tarde. Ela ainda disse:
--Será? Está um dia tão lindo, o céu limpo.
--Se for verdade, teremos dificuldades,
aquela estrada é muito baixa. Mas vamos, na pior das hipóteses teremos que
passar a noite lá.
-- Vamos, sim! Vamos arriscar. Disse ela.
Foram conversando todo o caminho. Saíram da
estrada principal e pegaram uma estrada de chão. Quando chegaram a uma elevação,
Diogo parou o carro e mostrou para ela a extensão de terra que era dela. Ele
conhecia muito bem. Sempre vinha passar fins de semana na fazenda do “tio”
Dionísio, quando era criança. Seu pai e o “tio” eram muito ligados. Sua mãe
também vinha, aliás, vinham todos, seu pai, mãe irmão e irmã. Enchiam a casa!
Dionísio gostava.
Chegaram foram recebidos pelo casal que
cuidava da casa e dois funcionários.. Dona Maria tinha preparado um café e eles
não puderam recusar. Após saíram, foram mostrar para ela a sede a fazenda. Tudo
muito limpo e organizado. Ela gostou do que viu. Deixaram o resto para depois
do almoço. Agora iam tomar um bom chimarrão. Sentaram todos os homens em uma
roda, ao redor do fogo que aquecia a água e a cuia rodando de mão em mão. Cada
um contando uma historia. Ela não tinha o costume do mate, tomou um e pediu
licença. Foi para casa conversar com D. Maria que preparava o almoço.
Não demorou muito e Diogo estava com ela. Ela
foi mais uma vez olhar a casa, que era bem grande, Cinco quartos, dois
banheiros e mais uma suíte. Duas salas e mais a sala de jantar, copa, cozinha e
lavanderia. Por que tão grande se ele era só? Diogo disse que aquela casa
estava sempre cheia, era assim todo fim de semana, sempre seus amigos traziam
suas famílias. Cada fim de semana era uma festa.
Almoçaram
e descansaram um pouco e saíram. Ela não sabia montar a cavalo, então
seu Maneco sugeriu que Diogo a levasse em seu cavalo. Ela era leve, o animal
agüentaria. Iriam devagar.
Percorreram os pontos principais e seu Maneco
fazia questão de apontar os detalhes. Na verdade ela dizia que sim, mas não
tinha muita noção do assunto. Estavam voltando quando as nuvens começaram a se
formar, numa pretura assustadora. Comentaram, logo vai cair muita água.
Mal deu tempo de chegarem a casa, e desabou
uma chuvarada. Levantou um vento frio. Teriam que ficar. Não se arriscar a sair
com aquele tempo.
Ela estava suada com toda aquela andança.
Tinha se prevenido, trouxera uma muda de roupa. Sempre fazia isso, era um
habito que tinha desde criança, achava que sua mãe tinha lhe ensinado. Pediu
para D. Maria para tomar um banho,
que logo providenciou toalhas, sabonete, shampoo. Ela foi levada para a suíte, segundo D. Maria, agora seu
quarto. Estava limpo e cheiroso. Ela tomou um bom banho de banheira, quente e
repousante, ficou um tempo até sentir a água esfriar. Saiu, vestiu-se e deixou
os cabelos soltos, ainda estavam molhados.
Foi para a sala e lá estava Diogo de banho
tomado, seus cabelos também ainda estavam molhados e ele estava de roupa limpa.
Ele estava lindo. Ela perturbou-se, tão pouco tempo e ela parecia que estava
apaixonada. Ela para disfarçar perguntou onde encontrou essa roupa, a minha eu
trouxe. Ele deu uma risada e disse eu sou da casa, tenho roupas aqui. Ela riu
com ele.
Ele por sua vez, também estava bem
impressionado com ela. Com seu jeito, sua espontaneidade, simplicidade e
beleza. Agora com os cabelos soltos e ainda
molhados estava muito sensual.
Diogo perguntou se ela queria beber alguma
coisa, tinha cerveja, vinho, uísque, vermute, o que queria? Ela queria saber
qual ela ia tomar, ela acompanharia. Escolheram o vinho.
Logo D. Maria apareceu trazendo um queijo picado,
azeitonas e pepino e salame. Ainda disse, para se distraírem enquanto faço o
jantar. Sentaram próximo a janela e Joana aproveitou e perguntou para Diogo
sobre o manejo da fazenda. Ela não tinha entendido. Ele então lhe explicou.
Falaram muito sobre a atividade pastoril e agrícola.
Jantaram. Depois sentaram novamente perto da
janela e seguiram conversando, agora num campo mais pessoal. Diogo falou dele e
perguntou muito dela. Ela levantou=se foi a cozinha tomar água e constatou que
estavam a sós.
Diogo sabia, e disse que isso não mudaria
nada. Ela poderia ficar segura. (Por mais que eu esteja atraído por ela).
Já era tarde e ainda chovia.
Foram dormir. Ele a deixou na porta de seu
quarto. Ele olhou para ela que sustentou o olhar. Ele estremeceu. Não podia.
Deu um beijo em sua face de foi para seu quarto. Ficou pensando. Ela até que
estava querendo, mas ele não era nenhum cafajeste.
Ela deitou-se ficou revendo aquele dia. Como
tinha sido bom. Ele era muito atencioso, gentil, e se ele tivesse tentado beijar
ela o beijaria, sim! Mas ela estava muito fora do seu normal, também com todos
os acontecimentos da semana e com esse homem maravilhoso diante dela... Por fim
dormiu.
No outro dia, ela estava envergonhada do seu
comportamento da noite anterior. Deu um bom dia tímido e Diogo percebeu. Puxou
assunto sobre coisas variadas, contou passagens pitorescas de suas pescarias na
fazenda. Até D. Maria entrou no assunto. Todos riam. E Joana relaxou.
Tinha amanhecido um lindo dia. Mas seu Maneco
recomendou que fossem só a tarde, a estrada estaria mais seca.
Diogo a convidou para uma caminhada até o
rio, onde tinha uma praia, que era perfeita para pescarias. Ali ele tinha
tomado muitos banhos. Quando estavam baixando para o rio ele pegou sua mão para
que não escorregasse, ainda estava molhado.
Joana ficou encantada com o lugar, mas mais
encantada estava porque Diogo não soltara sua mão. Caminhavam pela prainha de
mãos dadas como se fossem namorados. Foi tão natural para eles. Ficaram por lá
até quase meio dia. Então voltaram para o almoço.
No inicio da tarde, após o cafezinho,
despediram-se e foram embora.
Pegaram a estrada e ficaram um bom tempo
calados. Joana vinha olhando com atenção os pontos de referencia para aprender
o caminho. Quando entraram na via principal ela falou que teria que renovar sua
carteira de motorista, que fazia tempo que ela não dirigia, desde que saiu de
casa.
Diogo disse que enquanto ela estivesse sem a
carteira, ele a levaria aonde ela quisesse. Que ele estava gostando muito da
companhia dela, que até estava pensando em provocar alguns encontros a mais. E rindo, disse, verdade, até estou
pedindo para jantarmos juntos. Ela riu, mas não respondeu.
Ficou pensando em todos os acontecimentos dos
últimos dias. Como Diogo tinha sido atencioso e amigo. Ela também estava
gostando de estar com ele. Sobretudo, quando andaram juntos a cavalo. Sentir
seu cheiro, seu calor, e o som de sua voz junto ao seu ouvido foi perturbador.
Então ela respondeu que aceitava seu convite.
Quando estavam estacionando em frente ao
prédio que ela morava, o telefone do Diogo tocou. Era Dr. Gilberto convidando
os dois para jantarem em sua casa. Ela disse que precisava de um tempo para se
arrumar. Combinaram que ele a pegaria em uma hora.
Joana saiu do banho, enfiou-se num roupão e
foi escolher uma roupa para vestir. Queria estar bonita, e não tinha entre suas
roupas nada que agradava no momento. Pensou, preciso comprar umas peças novas.
Escolheu um vestido azul escuro, secou os cabelos, pintou os olhos e colocou um
batom vermelho. Deu uma risada quando se olhou no espelho, estava vestida para
matar...
Diogo chegou todo bonito. Cheiroso! E ficou a
contemplando. E disse:.
-- Joana, que bonita! É um prazer sair
contigo.
Ela sorriu e disse.
-- Obrigada.
Quando chegaram, ele a ajudou descer do carro
e a segurou pela mão e entraram no prédio. No elevador, ele deu um beijo em sua
mão e disse estou ficando louco por ti. Ela apenas olhou para ele. Chegaram ao
andar.
Dr. Gilberto fez muita festa na chegada
deles, logo dona Lia veio abraçá-la dizendo que tinha saudades do tempo que sua
mãe era viva. Como eram amigas! Logo passaram para a sala, ela sentou-se no
sofá e D. Lia ao seu lado. Diogo escolheu a poltrona que ficava em frente. Dr.
Gilberto servia as bebidas e os aperitivos.
Jantaram e a conversa lembrava os bons tempos. Até que Dr. Gilberto
contou que na véspera tinha encontrado casualmente com Geraldo, no super
mercado, Conversaram um pouco e descobriu que ele não sabia da morte do Dionísio,
por isso não tinha ido ao velório e ao enterro.
D. Lia disse:
-- Mas como que não, se nós telefonamos
avisando. A mulher dele ficou de dar o recado.
Então Joana falou:
-- Ela é assim. Sempre afastou todos os
amigos de meu pai. Ela simplesmente não dá os recados. Se eu sai de casa foi
por causa dela. Tem uma hora que não dá mais para agüentar. E ainda tem Luana
que é muito pior que ela, além de ser mimada demais.
Dr. Gilberto diz:
-- Eu não contei nada para ele. Não era local
adequado. Por isso o convidei para amanhã a tarde participar da nossa reunião.
Tudo bem, Joana?
-- Sim. Eu não o procurei porque queria
conversar com ele longe da Magda.
Depois do jantar Diogo a levou para casa.
Pediu se podia subir, ainda era cedo. Ela concordou. Mas disse:
-- Tudo bem vamos subir, mas eu não tenho
nada em casa para te oferecer.
Ele aproximou-se bem dela e disse baixinho ao
seu ouvido:
--Tem muito mais que imaginas.
Ela ficou enrubescida, baixou a cabeça e entrou
no elevador. Ele notou e a abraçou.
Quando chegaram ao apartamento ele observou o
capricho e a organização dela. E rindo disse:
-- Bah, quando conheceres o meu apartamento
tu vais ficar chocada com a “minha organização”.
-- Muito bagunçado?
-- Só no dia da faxineira que fica em
condições, depois fica inabitável.
Riram do exagero dele.
Sentaram-se no sofá e Diogo disse:
-- Quero falar contigo, assunto sério. Estou
preocupado contigo, essa semana foi agitada, tu estas fazendo o que tem que ser
feito, vejo que és responsável, mas o que falas de tua madrasta, me assusta.
Tenho receio que ela vá te incomodar por
causa desse tua herança. Vai querer que dividas com tua irmã. Estou errado?
-- Não. Sem duvida ela tentará, colocará meu
pai mais uma vez contra mim, mas não vou ceder. Não é justo! Porque se fosse ao
contrario, se fosse a Luana a receber ela nem me comunicaria.
E Joana segue falando.
-- Meu pai é uma ótima pessoa, um médico
dedicado aos seus pacientes. Trabalha muito, chega em casa sempre tarde e quer
descansar, não quer se incomodar. E ela se aproveita disso. Eu sempre fui a
garota desmiolada, nem minhas amigas ela deixava me visitarem, quanto mais os
rapazes que queriam me namorar. Meu pai não sabe de nada disso. E ele sempre me
pediu que não namorasse na rua, que eu tinha uma casa para receber as amigas,
amigos e namorado. Então quantos namorados agüentaram a Magda e a Luana os
correndo de casa? Literalmente os mandando embora.
Diogo faz um carinho em sua face e diz:
-- Por isso mesmo, tens que estar preparada.
Vamos enfrentar juntos!
Joana levanta os olhos e olha para ele, com
uma expressão que diz: não estou entendo... Diogo continua:
-- Minha linda não entendeu que eu quero
estar contigo, que quero um compromisso contigo?
-- Mas assim tão rápido? Não será melhor
irmos com calma?
-- Tu não queres ?
-- Não é isso. Apenas acho que faz pouco
tempo que nos reencontramos... Eu gosto de estar contigo...me sinto atraída por
ti.
-- Então, o mesmo acontece comigo. Joana!
Somos adultos, independentes, não precisamos pedir licença para ninguém. Confia em mim. Não vou te fazer sofrer.
Ele coloca o braço sobre o ombro dela, trás
ela para perto dele e acaricia seu rosto. Depois levanta seu queixo e a beija
delicadamente. Um beijo suave que ela retribui. Afasta-se um pouco e olha nos
seus olhos. Ficam assim por um tempo e então a beija com paixão.
Ela fica sem saber o que fazer, nunca tinha
sido beijada dessa forma, num beijo tão quente, tão profundo. Mas aos poucos
vai se soltando e o beija também com toda a sua paixão. Ficam abraçados. E
Diogo pergunta a ela?
-- Nunca foste beijada?
-- Não dessa maneira.
-- Tu és virgem?
-- Por incrível que pareça, sim.
Então ele a apertou em seu abraço. E disse:
-- Não tem importância, no momento certo
daremos um jeito nisso.
Levantou-se para ir embora. Estava tarde.
Dirigiram-se a porta. Ele disse que via pegá-la as 14 h. Deu um beijo rápido e
foi embora.
Joana foi preparar-se para dormir. Mas mais
uma vez não consegue. Em sua mente aparece
Diogo a beijando, percebendo que ela não sabe beijar. O que ele deve ter
pensado dela? Que horror! Uma moça de 28 anos, boba desse jeito.
Diogo também está lembrando o beijo, como ela
era ingênua ainda. Estava encantado com a ingenuidade e timidez de Joana. Ficou
contente. Sua experiência com mulher
vivida não foi feliz. Sofreu muito por causa da Fabiana. Foi um amor
arrebatador, ele ainda jovem foi praticamente seduzido por ela. Mas depois ela
se cansou dele e o traiu, o deixou. Foi dolorido, foi difícil superar a
vergonha de ser menosprezado por aquela vadia. Desde então não tinha se
prendido a mais ninguém. Não queria mais esse tipo de mulher em sua vida.
Queria alguém como Joana. Não! Queria Joana!
Agora ele percebeu a razão de Joana dizer que
estavam sendo precipitados. Ela precisava de tempo. E ele daria o tempo que ela
necessitava, seria devagar.
Na segunda feira, Joana foi falar com Amanda,
sua gerente, no laboratório. Precisava de alguns dias de folga, tinha muitas
coisas para resolver, aliás, sua vida tinha virado de cabeça pra baixo.
Literalmente!
Amanda, disse, mas tu tens férias vencidas.
Vou conversar com o escritório. Te dou dois dias de folga. Até lá já deve estar
pronta a papelada de tuas férias.
Joana pensou: isso resolvido, vou comprar umas roupas novas, porque as
minhas eu não agüento mais. Hoje preciso estar bem arrumada, não sou uma herdeira
qualquer. E além do mais, tenho que ficar bonita para o Diogo.
A tarde quando ele foi buscar Joana ela
estava linda, elegantemente vestida para a ocasião. Um conjunto de calça e
casaco branco com uma blusa preta de bolinhas brancas. Muito chique. Ele a
elogiou e ela agradeceu sorrindo. Ele sabia que ela precisava se sentir
“poderosa” para enfrentar sua família.
Diogo não sabia qual seria a reação de seu
Geraldo em relação a tudo isso. E se ele estaria só, ou sua mulher o
acompanharia. Tomara que viesse só.
Chegaram ao escritório e Dr. Gilberto e o tabelião,
os esperavam. Dr. Gilberto disse que seu pai tinha ligado dizendo que tinha
surgido uma emergência e poderia só mais
tarde.
Depois de todos os documentos terem sido
lidos e assinados, Dr. Gilberto disse que precisavam comemorar. Mandou buscar
um espumante e brindaram. Já era noite. Diogo a convidou para jantar, a
comemoração ia continuar.
Ele escolheu um bom restaurante, porém mais
seleto. E tiveram um belo jantar. Conversaram e riram. Diogo a levou em casa,
mas não subiu. Deus um beijo rápido ao se despedir.
Ela ficou desapontada. Ela tinha demonstrado
que era uma tola, e ele não a queria mais. Entrou em casa com lágrimas nos
olhos. Tomou banho e deitou-se. Não queria pensar, queria dormir, para ao menos
sonhar com ele. Seu telefone toca. Ela atende e é Diogo dizendo coisas lindas
para ela, e ficam falando mais de hora. Por fim ela dorme com um sorriso nos
lábios.
Diogo e Joana passam a semana praticamente
juntos. Havia muitas coisas que precisavam ser vistas, decididas e ele a ajudou
em tudo. Tanto que ela perguntou:
-- Me
diz, tu ainda estás trabalhando no
escritório? Não vai mais lá.
-- Vou te contar um segredo, diz ele. Eu
fiquei designado, pelo escritório, a ser teu “tutor” . Portanto estou até
fazendo hora extra.
E deu uma gargalhada. Joana riu também.
Já era sexta feira. Sábado iriam para
fazenda. Tudo planejado. Mas seu pai liga. Quer falar com ela. Pede que vá a
sua casa. Promete ao pai que irá na parte da manhã, porque depois tem compromisso.
Ela disse para Diogo que teria que ir a casa
de seu pai, então teriam que sair mais tarde para fazenda. Se ele podia avisar
seu Maneco. Sem problemas, disse Diogo e acrescentou, eu vou contigo a casa de
teu pai. Ela protestou, disse que não era preciso, mas ele insistiu e falou com
firmeza, tenho que te defender das garras de tua madrasta.
No caminho para casa de seu Geraldo, Joana
perguntou a Diogo:
-- Tu achas que meu pai já sabe? Como? Teu
pai contou a ele?
-- Não, meu pai não falou mais com ele. Eu
perguntei para o pai. Mas desconfio que ele já saiba. Como? Não sei.
Ao chegar Diogo segurou a mão de Joana, ela
estava nervosa. Foram bem recebidos por seu Geraldo, que disse:
-- Eu soube que vocês estão de namoro. Que
bom!
Joana pergunta;
-- Como soube?
-- Ora, minha filha, as noticias andam.
Neste momento entraram na sala Magda e Luana,
que mal olharam para Joana e se desmancharam em sorrisos para Diogo. Joana
ficou braba, tentou soltar sua mão da dele, mas ele segura firme. Caiu um
silencio na sala.
Quem quebrou o silencio foi seu Geraldo, que
disse a Joana que estava muito sentido com ela, que ela não foi capaz de ligar
para ele e contar que tinha recebido uma herança. Ela levantou os olhos e olhou
para seu pai. Diogo se adiantou e respondeu por ela. Que tudo foi supetão, que tiveram
muita coisa para ver, resolver e que os dias tinham passado rapidamente, mas
que Joana esperou que ele estivesse presente na primeira reunião que fizeram.
Ela completou o que Diogo falou, dizendo que
ligou para o hospital mais de uma vez e não conseguiu falar com ele. E que para
casa dele ela não adiantava ligar, porque ele não receberia o recado.
Nesse momento Magda falou de modo agressivo,
dizendo que Joana não queria que soubessem, porque não queria dividir a herança
com sua irmã Luana. E seu Geraldo acrescentou dizendo que Magda tinha razão.
Ela já tinha recebido a herança de sua mãe, agora essa devia ser dividida com
Luana.
Joana ficou chocada com o que seu pai falou.
Lágrimas brotaram em seus olhos. Diogo então falou:
-- Com todo respeito, seu Geraldo, isso que o
senhor falou não tem cabimento. A herança da mãe é um direito dela, ao fazer a
maior idade tomar posse do que é seu. E tio Dionísio, deixou em testamento, que
Joana era sua herdeira universal. Portanto, é dela. Somente dela. E ela faz o
que ela quer com o que recebeu. Não vou permitir que tentem coagi-la.
Então Luana se mostrou aborrecida, dizendo
que Joana sempre levava a melhor. Que isso era injusto.
Diogo achou que era hora de se retirarem.
Convidou Joana, alegando que tinham compromisso. Levantaram-se e saíram.
Despediram-se friamente de todos. Seu Geraldo estava com jeito que não tinha
gostado da conversa. Magda ficou protestando e Luana se aproximou de Diogo,
pegou seu rosto entre as mãos e deu um beijo na boca de Diogo, convidando ele
para vir visitá-la.
Ele ficou pasmo. Que atrevida! Que família!
Quando entraram no carro, Joana começou a
chorar por todas as razões. Diogo deixou que ela desabafasse. Era bom chorar.
Com aquela família ele também choraria. Ele a levou a uma cafeteria. Ela
precisava se acalmar. Ele não ia pegar a estrada com ela desse jeito.
Sentaram, ela pediu um chocolate quente e ele
um café. Ela se acalmou, relaxou e deu até um sorriso torto para ele,
dizendo:
-- Que tal a minha irmã? Ela sempre foi
assim, pegando tudo o que é meu, por isso brigávamos toda hora. Mas agora ela
quer te pegar.
-- Mas comigo ela não tem vez. Não é o tipo
que me agrada, ainda mais com esse comportamento. Não mesmo!
Ela não responde, e ele pergunta:
-- Queres ir mesmo para fazenda?
-- Sim vamos. Lá estamos a salvo.
Quando chegaram a fazenda era meio de tarde.
D. Maria estava esperando com um verdadeiro café colonial. Uma mesa cheia de
quitutes. Eles sem perda de tempo sentaram e deliciaram-se com tudo. Estava
ficando frio, e aquele café foi reconfortante, ainda mais que não tinham
almoçado.
Então Diogo a convidou para uma cavalgada
pelo campo, ainda levaria um tempo para escurecer. Seu Maneco disse que o
cavalo já estava encilhado, esperando por eles. Ela então disse a seu Maneco,
quero aprender a montar, separe um cavalo bem manso. Ele disse, tenho uma égua,
pode ser? Então Diogo disse, sim e prepare para amanhã de manhã, vamos iniciar
as aulas. E deu um sorriso largo para ela.
Mais uma vez montaram juntos no cavalo. Ela a
frente dele e ela a abraçando. A cavalgada tirou de seu pensamento todos os
acontecimentos do dia. Eles observaram o gado, ele ensinando a ela as questões
da criação de gado. Ela ouviu atentamente e fez muitas perguntas, e recebeu
muitos beijinhos na face.
Chegaram com frio. Havia levantado um vento
sul bem frio. Ela foi tomar banho e vestir uma roupa quente. Ele foi acender a
lareira, a lenha já estava arrumada, era só acender, e viu que tinha mais lenha
para alimentar o fogo. E foi também para o banho.
Quando Joana chegou na sala se encantou com o
fogo e pegou um almofadão e sentou-se bem perto da lareira. Ele quando a viu
ficou parado olhando sem ela se dar conta.
Foi D. Maria que tirou o encantamento quando
perguntou se eles queriam jantar ali,
ela tinha feito pizza. Claro que foi a proposta ideal. Diogo abriu um
vinho, pegou os copos e puxou a mesinha para mais perto deles. A pizza chegou e
ficaram ali comendo, bebendo e conversando.
O tempo passou, D. Maria recolheu os pratos e
disse que ia dormir, e se precisavam de mais alguma coisa? Joana agradeceu e
disse que estava tudo bem.
Tomaram todo o vinho. Diogo propôs outra
garrafa, mas ela disse que seria demais. Não tem nem um licor para nós encerrar
a noite? E acharam um licor caseiro de pitanga.
Diogo serviu o licor se sentou ao lado dela,
a abraçou e ficaram em silêncio olhando o fogo. O calor do fogo, a proximidade
deles, provocou muitos beijos e troca de carinho. Os carinhos foram ficando
mais ousados e Diogo perguntou a ela se estava tudo bem, se podiam seguir o
curso do desejo que estava queimando em cada um deles. Ela consentiu. Então ele
levou-a para o quarto e lá ela se entregou totalmente a ele. E ele ficou mais
apaixonado por ela. Dormiram juntos. Ele não foi para o seu quarto. Ela havia
pedido para ele ficar com ela.
Ela acordou e viu que ele ainda dormia. Ficou
quieta pensando com tinha sido bom ,ela não se arrependia, não tinha certeza se
iam ficar juntos mesmo, mas ele tinha sido tão carinhoso, gentil, cuidadoso...
Ela não conhecia o amor, mas o que ela sentia devia de ser amor. E ele? Será
que a amava? Ele nunca tinha dito a ela essas três palavras “eu te amo”. Disse
que estava apaixonado, e era a mesma coisa? Ela achava que não. Amor era mais
profundo, mais forte, mais... Então, como seria a partir de agora? Iriam morar
juntos? Ela não tocaria no assunto. Deveria partir dele.
Ele acordou e deu um sorriso lindo para ela.
E disse:
-- Minha linda! Está tudo bem contigo?
-- Sim, estou bem.
-- Então vem cá e me dá um beijo de bom dia.
Chegaram para tomar café e D. Maria percebeu
pelo brilho do olhar que algo de bom tinha acontecido. Mas ficou quieta.
Perguntou que horas eles pretendiam sair, se queriam o almoço mais cedo. Diogo
disse que não, ficariam o dia todo, voltariam na segunda pela manhã.
Joana olhou para ele, mas não contestou.
Tomaram o café e foram para o pátio, onde as montarias estavam encilhadas, esperando.
Diogo ajudou Joana a montar, deu as
explicações necessárias e primeiro fez a égua andar segurando pelo buçal, deram
algumas volta pelo pátio, então ele montou em seu cavalo e saíram passo a passo
e ele sempre perto dela. Mas Joana logo
pegou o jeito, e não tinha medo, e quando voltaram ela já estava comandando bem
sua montaria. Estava feliz!
O resto do dia foi tranqüilo, almoçaram,
descansaram vendo TV, deram um caminhada e prepararam-se para jantar. Quando
chegaram a sala , o fogo da lareira já estava aceso, e na mesa uma garrafa de
vinho e dois copos. Alguns salgadinhos.
Sentaram lado a lado no sofá, em frente a
lareira. Joana adorava pasteis. Pediu para D. Maria fazer só pastel para a
noite. Ela estava sentindo o cheiro que vinha da cozinha. Delicia! E D. Maria
deixou sobre a mesa uma travessa cheia de pastel e um prato cheio de rapadura
de leite. Diogo agradeceu e disse que ela poderia ir descansar. Teriam mais uma
noite a beira do fogo, mais uma noite de amor.
Os dias correram tranqüilos. Joana ainda
tinha uma semana de férias. Então resolveu que iria entregar o apartamento que
morava e para mudar para o apartamento que herdou.
Diogo iria passar uns dias fora. Viajaria
para o exterior, participaria de um Congresso em Londres. Ele ficou preocupado,
logo na semana que Joana iria mudar. Mas sua mãe disse ajudaria Joana com a
mudança. Seria bom, assim elas poderiam conversar bastante. Ela gostava de
Joana queria que a considerasse como uma mãe.
Já instalada no apartamento, Joana queria
voltar ao trabalho. Gostava de sua profissão. Queria aprender a conciliar a
administração da fazendo com seu trabalho.
Diogo ainda estava fora.
Joana abriu seu e-mail e encontrou uma
mensagem de Luana. Abriu. Ficou revoltada. Na tela estava uma foto de Diogo
abraçado em uma moça bonita. Uma mensagem que dizia “bom esse congresso”. Ela
salvou, Desligou o computador. E andou a noite toda, pensando. No outro dia
Diogo estaria chegando. Ela não queria mais saber dele. Não aturava ser traída.
Estava tão indignada que não conseguiu nem chorar.
Diogo vinha feliz, tinha uma surpresa para
Joana. Estava ansioso para chegar. Ela havia prometido ir esperá-lo no
aeroporto. Ele chegou e não a viu. Esperou ainda um pouco e resolveu tomar um
taxi. Estava preocupado, que teria acontecido. Foi direto para casa dela. Ela
não estava. Tentou ligar, ela não atendeu.
Foi então para seu apartamento e ligou para
sua mãe para dizer que já tinha chegado e queria também noticias de Joana, não
tinha conseguido falar com ela. D. Lia disse que ela devia estar no
laboratório, pois tinha voltado a trabalhar. Ele resolveu tomar uma ducha para
tirar o cansaço da viagem, e depois iria até o laboratório.
Já era fim da manhã. Deixou o csrro no
estacionamento do laboratório e ficou esperando por ela. Logo ela saiu. Não viu
ele. Ele foi atrás. Chamou seu nome, e ela parou e voltou-se para ele. Ela
estava séria com um olhar triste. Ele a abraçou e queria saber o que tinha
acontecido. Ela não disse nada, pediu que a deixasse. Não queria mais vê-lo.
Ele afastou-se dela, virou as costas e foi
embora.
Foi para casa de sua mãe, queria conversar,
queria entender o que estava acontecendo. Dona Lia não sabia. Ontem tinha
estado com ela, tinham terminado de arrumar o apartamento. Ela estava feliz.
Hoje ia retomar o trabalho. Não tinha idéia do que poderia ter acontecido.
Ele foi para o escritório. Não conseguiu se
concentrar no trabalho. Então resolveu rever os pontos do congresso, e ver as
fotos e eram muitas, algumas ele aparecia.
De repente aparece uma foto dele abraçado com
uma mulher, Mas como! Aquilo era montagem. Ai estava a razão da atitude de
Joana, e com razão. Mas ele tinha sido ultrajado. Iria averiguar, telefonou
para um escritório especialista em fraude na internet.
Não procurou Joana. Ainda não era hora. Ia
esperar o resultado da pericia. Passados alguns dias, ele foi chamado e recebeu
o laudo pericial, onde apontava o numero do computador e o nome de quem havia
postado a foto adulterada. Quando viu o nome que ali estava ele não se
surpreendeu. Pegou o laudo e foi até Joana.
Era fim de tarde, foi esperá-la na saída do
trabalho. Ela quando o viu estampou tristeza em seu rosto. Ele pediu para
conversar com ela. Era necessário. Foram para o apartamento dela. Ele a ajudou
a entrar no carro e seguiram todo o percurso calados. Subiram. Entraram. Ele
sentou. Ela foi buscar uma água para beberem. Então ela sentou em frente a ele.
Diogo entregou a ela o envelope que trazia em
sua pasta. Pediu que ela lesse. Ela abriu com cuidado o envelope e ele estava a
observando. A medida que ela lia, sua expressão se alterava. Estava furiosa,
indignada quando terminou. Olhou para ele e disse:
-- Magda e Luana! Me desculpa...
-- Me desculpa? E a confiança? Por que não me
disse o que era, eu precisei descobrir sozinho, mandar fazer um laudo para
acreditares em mim. Pelo visto o
que vivemos essas ultimas semanas não tem importância para ti.
-- Me perdoa...
Ele levantou, andou pela sala e disse:
--Teu pai precisa saber disso. Da víbora que
ele criou em casa.
Diogo abriu a porta e foi embora. Joana ficou
chorando. Mais uma vez Luana atrapalhou sua vida. Guardou o envelope com as
provas da montagem fotográfica.
Joana nunca tinha se sentido tão só, como
agora. Ela arrependeu-se, reconheceu que devia ter confiado nele, ter mostrado
a razão de sua fúria. E agora ele havia deixado ela. Tentou falar com várias
vezes, deixou recado e não veio resposta.
Seria um fim de semana longo, pois segunda
feira era feriado, ela não podia ir para a fazenda, ainda estava sem a carteira
de habilitação. Teria que ficar em casa, sozinha. A saudade dele cada vez
maior. Resolveu falar com Dona Lia. Mas Dona Lia também não sabia dele. Ele
saiu na quinta feira dizendo que precisava espairecer, ia sair sem destino.
O sábado amanheceu com tempo chuvoso., caiu
uma chuvarada que alagou vários pontos da cidade, tinha noticias ventos fortes
em várias regiões, muitas cidades sem luz, telefone e isoladas, por quedas de
barreiras. Um caos instalado. Os noticiários da TV mostravam situações de
desespero de famílias que perderam tudo.
Joana desligou a TV e ficou olhando o
trânsito lá embaixo. No momento a chuva estava fraca, mas ao longe se via
muitos relâmpagos.
Diogo não saia do seu pensamento. Ela
precisava dele, tinha sido intransigente demais. Ela tinha que achar um jeito
de falar com ele. Mas qual?
Tocou o telefone, ela atendeu. Era seu Maneco
dizendo que estava tudo bem na fazenda, que o temporal tinha sido feio, e ainda
bem que o Diogo estava por lá. Ajudou a recolher os animais. Ela agradeceu seu
Maneco.
Então ele estava lá! Iria para lá agora.
Telefonou e alugou um carro com chofer.
Joana chegou na fazenda por volta de 16h,
estava tudo quieto, e estava recomeçando a chover. Seu Maneco veio ver quem
era, e ficou alegre com a presença dela. Disse baixinho enquanto a cumprimentava,
ele está precisando muito de ti. Ela fez um movimento com a cabeça, que
concordava.
Ela entra na sala e não o encontrou, foi pé
por pé pelo corredor e ele estava deitado no quarto dela, na cama “deles”. Ele
dormia por cima da colcha. Ela tirou seus sapatos e se deitou ao lado dele, bem
juntinho, e ficou olhando para ele que continuava dormindo.
Ela acarinhou seu rosto, ele abriu os olhos,
não disse nada, e estendeu a mão para puxá-la para mais perto. Assim ficaram
sem falar por um bom tempo. O olhar que eles trocaram é intenso, vem d’alma, demonstra
o amor que os une. Não era preciso palavras, pois não elas descreveriam tudo o
que olhos transmitiam.
Seus lábios se tocaram num beijo terno, que
aos poucos foi se aprofundando e acendendo um fogo em seus corpos, que querem
se dar um ao outro. Se amaram com paixão. Numa entrega total.
Depois do amor ficaram abraçados. Diogo pegou
algo na mesinha de cabeceira, e com uma voz rouca no seu ouvido perguntou:
-- Eu te amo. Quer casar comigo?
E estende um par de alianças.
Lágrimas rolaram nas faces de Joana, que se
atirou sobre Diogo e entre beijos foi dizendo:
-- Sim... Sim... Sim...
Maria Ronety Canibal
Abril
2017.
IMAGEM VIA INTERNET
Nenhum comentário:
Postar um comentário