VERÔNICA
Ela estava
ansiosa, e teria que esperar ainda um bom tempo. Tinha três pessoas a sua
frente. Verônica nunca tinha feito uma entrevista para emprego. Queria,
precisava daquele trabalho. Sabia que era capacitada, mas não tinha experiência.
Enquanto
esperava deixou seu pensamento correr... Lembrou de como a sua vida tinha sido
boa, feliz e nada monótona. Conhecia vários países e residira em alguns. Seu
pai era diplomata.
Ela tinha se
formado em Administração enquanto moravam na França. E logo depois aconteceu o
acidente...
Ela foi
chamada... Sua vez de ser entrevistada. Entregou o currículo e esperou. E logo
começou uma chuva de perguntas e ela calmamente respondeu a todas, sempre com
detalhes, como era seu jeito.
Deixou a
sala sem ter idéia do que tinham achado dela. Iriam telefonar até o fim da
semana. E uma das perguntas que mais insistiram foi sobre a disponibilidade
para viagens. E também perguntaram sobre
sua vida particular, e o por que estava disputando aquela vaga.
Então
resolveu ir para o apart-hotel esperar o resultado. Estava quase noite quando
saiu do escritório, mas foi andando era perto. Começava cair uma chuva fina e
esfriara bastante. Ela pensou: as delicias de morar no sul, um frio para
curtir.
Ao chegar
tomou um banho, ligou para o serviço e pediu um chocolate quente e bolo de
chocolate. Acomodou-se no sofá e pegou seu livro para continuar sua leitura.
Na manhã
seguinte, às nove horas o telefone tocou, era do escritório pedindo que ela
voltasse, precisavam de mais algumas informações. Ela vestiu-se, pegou um
agasalho e foi, agora com a esperança de conseguir o emprego.
Ao chegar à
recepção foi levado por outra moça e por um corredor diferente daquele de
ontem. Mas... Disseram para ela entrar em um escritório suntuoso, e pediram que
esperasse. Ela sentou-se e ficou admirando a vista magnífica da cidade com o
logo ao fundo. Ela não resistiu, e caminhou até a vidraça para apreciar o
panorama. Estava tão distraída que não percebeu que alguém havia entrado na
sala. Era Diego. Ele ficou olhando para ela e por fim disse:
-- Bom dia
Verônica.
-- Bom dia!-
respondeu ela virando-se para ele. -- Desculpe, mas não resisti. Que vista
maravilhosa se tem daqui.
-- Sim muito
bonita. Eu sou Diego. Prazer.
-- Prazer.
-- Sente, por
favor, precisamos conversar. Teu currículo é muito interessante, mas tu nunca
trabalhaste, posso saber por quê?
-- Sim. Eu trabalhei
por um período como secretária particular de meu pai.
-- Sim. E
depois...
-- Depois
meu pai morreu. Ele era diplomata, e nós moramos em vários países, por isso eu
tenho facilidade com tantos idiomas, alguns falo e escrevo corretamente como o
senhor deve ter observado, e os demais
aprendi por contato.
-- E por que
escolheu Porto Alegre para morar?
-- Eu sou
brasileira, nasci em São Paulo, mas desde muito pequena morei fora daqui. E
escolhi o sul por causa do clima e por a cidade não ser tão cosmopolita.
-- E sua
família?
-- Sou
solteira, sem compromisso algum, e não tenho mais família. Meus pais e minha
irmã mais nova morreram em um acidente de carro, o carro não bateu, foi
atingido por uma explosão de um carro bomba.
-- Hum...
Sinto muito.
-- Então eu
quis sair da Europa. Aqui penso que seja mais seguro.
-- Não
conheces a cidade muito bem...
-- Não, mas
tenho facilidade em me localizar e aprender a me movimentar em lugares
diferentes. Estou acostumada.
-- Muito
bem. Tu freqüentavas festas nas embaixadas e outros lugares?
-- Sim,
muitas vezes fui representando meus pais.
-- Certo. Tu
vais trabalhar comigo. Quero que tu mores em minha casa, assim facilita, pois resido
fora da região urbana. Terás dias de folga, mas o horário muitas vezes pode ser puxado, e também viajaremos algumas vezes e
quero que me acompanhes em jantares, bailes e festas.
-- Não tem
problema.
-- Claro que
para as viagens terás um adicional e
creio que já sabes o valor do salário.
-- Sim, eu
sei.
-- Então
estás empregada. Parabéns!
-- Obrigada.
Quando começo.
-- Amanhã
pela manhã vens para assinar o contrato e depois meu motorista vai te
acompanhar para pegares tuas coisas e te levar para minha casa.
-- Certo.
Até amanhã, senhor.
-- Me chame
de Diego. Até amanhã.
Verônica
saiu radiante. O que havia conseguido era muito mais do que o esperado. E que
salário! E sem despesa de transporte, moradia e alimentação. As roupas que
talvez ele precisasse comprar algumas mais clássicas. Ainda teria que ver qual
seria a exigência. Mas estava feliz. Tinha vontade de pular de alegria. E Diego
era um cara bonito, simpático e devia ter cerca de quarenta e cinco anos. Ela
havia gostado dele. Parecia ser um cara legal.
Ia caminhado
pela rua e pensando. De repente se deu conta que ele deveria ter uma esposa e
filhos, mas então por que queria que o acompanhasse em festas? Será que era
sozinho?
Depois que
Verônica saiu, Diego foi para a janela e observou que estava começando a
chover. Ficou ali olhando a chuva e seu pensamento foi para a sua nova
secretária. Tinha ficado impressionado com ela, com sua educação, e seu jeito
de falar e pronunciar corretamente as palavras, seu modo de sentar e conversar,
o tom de voz. E demonstrava também ser muito culta. Realmente havia gostado
dela. Até que enfim tinha conseguido uma pessoa de alto padrão. Estava cansado
de tratar com pessoas de baixo nível.
E além de
todos esses predicados, ela era muito bonita. E veio a sua mente que não
poderia, como de costume, hospedá-la na ala dos empregados. Ela ficaria na
suíte maior, que tinha vista para o lago Guaíba.
Telefonou
para casa e pediu a sua governanta que preparasse tudo para o conforto da nova
secretaria.
No outro
dia, Verônica já estava com suas coisas todas arrumada. Avisou a portaria que
estava deixando o hotel. Foi ao escritório, assinou o contrato, não antes de
ler e ficar bem informada sobre alguns itens. Foi com o motorista pegar suas
coisas no hotel, fechou a conta e foi viver aquela aventura. Esperava que desse
certo.
Diego morava
longe do centro, na região sul da cidade, num lugar lindíssimo, a beira do lago
Guaíba, num terreno imenso, segundo João, o motorista, eram cerca de cinqüenta e
cinco hectares, onde ele criava cavalos
crioulos. A casa era rodeada por um lindo jardim, com árvores centenárias, e
alamedas que serpenteavam o gramado. Na beira do lago havia um ancoradouro,
pois Diego gostava de passear de lancha. E a piscina era térmica!
Verônica
estava deslumbrada. Mas quando viu a casa... Era linda demais. Aliás, era um
casarão! Dois pisos e com uma arquitetura de linhas retas e simples, com muito
vidros, sacadas, e terraços. E por dentro muito bem mobiliada, com móveis
finíssimos.
Ela foi
levada a uma porta lateral e foi recebida por Rosa, a governanta, que era
esposa do motorista. Muito gentil, a senhora a levou para a suíte a ela
designada. Verônica ficaria muito bem instalada. Mas percebeu o comentário
feito por Rosa:
-- As outras
secretárias ficavam sempre na casa dos empregados...
-- E onde
fica a casa dos empregados, longe daqui?
-- Um pouco.
-- Não fica
ninguém aqui a noite?
-- Ficam a
Vera e a Miriam, cozinheira e copeira.
-- Bem,
menos mal.
E Verônica
encerrou o assunto. Ela havia adorado a suíte, que tinha vista para o lago e
era muito confortável. Era espaçosa, tinha um closed bem grande, banheiro com
banheira de hidromassagem, e uma ante sala com um sofá e uma poltrona e uma
mesa tipo secretaria. Se Diego achou que ela deveria ficar bem confortável, não
era ela que iria reclamar.
Ela arrumou
suas roupas no closed e distribuiu alguns objetos pessoais pelo quarto. Ocupou
a escrivaninha com seus pertences e colocou alguns livros no suporte acima.
Tomou um
banho e ficou pronta. Não sabia o que fazer. Esperou no quarto. Alguém a
chamaria... Estava frio e ela acomodou-se na poltrona com seu livro para
continuar a leitura. Bateram a porta. Ela disse:
-- Entre...
Era Diego.
Ela levantou rápida e disse:
-- Olá. Eu
estava aqui esperando alguma ordem.
-- Eu vim
saber se gostou do teu quarto?
-- Sim!
Muito confortável. E que lugar aprazível que tu moras.
-- É eu
gosto muito daqui... Fico mais aqui, vou pouco ao escritório. Por isso preciso
que minha secretária more aqui.
-- Está
certo. E num lugar assim quem não gosta de morar...
-- Já perdi
muitos empregados por morar “neste fim de mundo”. Mas venha vou te mostrar o
escritório e tuas tarefas.
-- Vamos...
Diego muito
entusiasmado foi mostrando a casa para ela, e ela fazendo perguntas e
observações sobre algumas obras de arte que ele tinha. Por fim ele perguntou:
-- Entendes
de artes?
-- Muito
pouco. Mas sempre gostei de ir a exposições e a leilões. Só como espectadora, é claro.
Ambos riram.
Foram para o
escritório, ele deu todas as informações iniciais para ela e depois ofereceu a ela uma bebida. Ele iria beber, se
quisesse acompanhá-lo... Ela aceitou um Martini Bianco e ele tomou um Uísque.
Logo Rosa
veia avisar que o jantar dele estava servido. E ele prontamente disse, já
estamos indo, coloque mais um prato a mesa, pois Verônica fará as refeições
comigo. E ele automaticamente pensou, “está feita a fofoca”.
Mas após a
primeira semana todos perceberam o encanto de pessoa que era Verônica, e como
era educada e tratava todos com gentileza. Não se intrometia nos assuntos de
ninguém, e após seu horário de trabalho se recolhia a seu quarto. Realmente o
patrão tinha razão em dar um lugar especial a ela na casa. Ela não era uma
secretária como as outras. Ela “era vinho de outra pipa”.
Diego
anunciou que na próxima semana teriam uma reunião na Argentina. Ela assentiu e
logo pensou que roupas levar, mas não queria perguntar. Na sexta feira seria a
folga dela, então iria a cidade comprar alguma coisa.
Mas parecia
que Diego havia lido seu pensamento. Ele levantou e saiu do escritório. Falava
ao telefone. Verônica continuou fazendo seu trabalho, nem prestou atenção ao
assunto dele ao telefone.
Era meio da
tarde quando ela viu uma movimentação na casa, mas não deu importância, ainda
não conhecia todos os costumes da casa. E Rosa veio dizer que fosse ao seu
quarto.
Ela foi.
Quando
chegou viu que havia uma arara cheia de roupas bem no meio da suíte. Ela ficou parada
olhando... Não sabia o que dizer. Mas a vendedora foi logo dizendo:
-- Olá, seu
Diego pediu que trouxéssemos aqui para que possas escolher o que precisas.
-- Mas eu..
E Diego
chegou à porta e afirmou:
-- Apenas
escolhe o que te agrada, experimenta, elas ajustam se precisar... Depois
acertamos. Vais precisar.
E Verônica
não discutiu, ainda mais ali na frente de outras pessoas. Ela era muito
discreta. E ela escolheu um vestido de baile, um modelo de noite e dois
terninhos de lã com duas camisas de seda. Mais uma capa para o vestido de
baile. Sapato e bolsa.
Mas para
surpresa dela ele escolheu para ela mais algumas peças, e de muito bom gosto.
Ele riu e disse:
-- Esse
closed é muito grande... Ainda podemos comprar muitas outras peças.
Ela sorriu e
concordou com a cabeça. E pensou que homem é esse? Tão lindo, tão gentil, tão
generoso, tão rico e sozinho. Qual era o mistério? Teria que descobrir...
No sábado ele
a chamou para ir ver sua criação de cavalos crioulos. Seu haras tinha matrizes
importadas da Argentina e seu garanhão era considerado um dos melhores da raça.
E ele
explicou a ela, que iria a Argentina para participar de uma reunião da
Confraria do Crioulo, a qual ele era membro. Que se reuniam duas vezes por ano,
e havia troca de informações, visita a alguns haras e confraternização, com
jantares e sempre encerravam com um baile de gala. E isso tudo durava sete
dias.
Verônica
gostava de cavalos, era acostumada a cavalgar e admirou muito os animais dele e
deu opiniões (leigas, é claro) que o entusiasmou muito e o fez perguntar:
-- Tu sabes
montar?
-- Sim, na
minha adolescência moramos na Inglaterra, e nos fins de semana meu
pai sempre nos levava, a família toda,
ao campo de um amigo, e lá saímos todos cavalgando. Era muito bom, um
lugar belíssimo.
-- Então
está combinado. Amanhã de manhã vamos sair... Vou mandar preparar uma égua para
ti.
--
Obrigada... Vai ser ótimo... Mas estou fora de forma.
-- Terei
paciência...
E voltaram
para casa rindo e conversando sobre os animais. E ela percebeu que os cavalos
eram a paixão dele.
Depois do
almoço ela foi para seu quarto, abriu o computador e foi procurar informações
sobre a criação de cavalos crioulos na America do Sul. Pois envolvia os países
do sul: Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, sobretudo o Rio Grande do Sul. Leu,
pesquisou e teria muitas perguntas a fazer ao Diego para poder conversar e
acompanhar os assuntos, neste encontro que iriam participar na próxima semana.
Conforme o
combinado, no domingo cedo foram cavalgar. Ela aproveitou e tirou todas as sua duvidas
sobre a criação. Ele ficou admirado com o interesse dela no haras. E encantado
com a sua companhia,e sobretudo por ela gostar de cavalo, ela de fato era uma
pessoa extraordinária. Que postura e que leveza ela tinha ao cavalgar!
A cada dia
ela se surpreendia com Diego. Fizeram a viagem no “jatinho” dele. Foi uma
viagem tranqüila. Quando chegaram a Buenos Aires eles foram para um hotel onde
estavam reservadas duas suítes contínuas com comunicação interna. Ela estava
desarrumando sua mala quando ele bateu a porta de comunicação e disse:
-- Daqui a
uma hora teremos compromisso. Vamos nos encontrar para jantar. Coloque um
terninho e estará bem. O ambiente é simples.
-- Certo.
Vou me arrumar.
Verônica
separou o que queria vestir e foi tomar banho. Usou um sabonete especial que
ela havia comprado e o perfume do sabonete se difundiu pelo ambiente. Vestiu um
terninho de lã na cor caramelo escuro, com uma blusa de seda branca e uma
echarpe em tons de caramelo. Prendeu o cabelo num coque na nuca e estava parecendo
uma espanhola. Ela olhou-se no espelho e riu.
Ela bateu a
porta e ele veio abrir e a olhou com admiração e disse:
-- Muito
elegante. Linda mesmo. Vou muito bem acompanhado... E esse perfume que vem de
ti é inebriante. Um perigo!
Ela apenas
sorriu, e viu que ele também estava muito bem vestido, em tons de marrom e
casaco de couro sobre a camisa de lã. E pensou um perigo mesmo. Acho que estou
me apaixonando por esse homem, e é tudo o que eu não quero. Não posso misturar
trabalho com romance, não dá certo.
Ele a
conduziu ao elevador, e fizeram a descida em silêncio. Ficaram no saguão do
hotel aguardando o carro que viria buscá-los. Quando ele viu o carro, a tomou
pela mão e saíram. Sentaram juntos no banco de trás do carro.
Verônica ia
olhando tudo fazia muitos anos que vinha a Buenos Aires e estava notando que muita coisa mudara. Chegaram ao bairro La
Boca. Desceram e entraram em uma Cantina. E alguns confrades já estavam ali, e
Diego muito orgulhoso apresentava Verônica, como se fosse sua namorada.
Ela olhou
para ele com um olhar inquiridor e ele sorriu e disse ao seu ouvido:
-- Se não
disser assim, eles não vão te dar sossego. Eu conheço bem.
--
Entendo...
A noite foi
divertida, havia gente de todo o lugar, e a conversa girou sobre cavalos é
lógico, e até as senhoras participavam do assunto com interesse. Todos tomaram
vinho, e o riso era fácil. Mas ela cuidou para não se empolgar com o delicioso
vinho. Não queria fazer feio.
Quando
voltaram para o hotel, era bem tarde. Diego estava ligeiramente embriagado, e
dizia muita bobagem. Ela ria muito dele. Ao chegarem na suíte ele abriu a porta
do quarto dele, sentou-se no sofá e pediu que ela ficasse ainda ali com ele.
Pois se deitasse o mundo iria girar em sua volta.
Verônica
muito atenciosa, ajudou ele a tirar o casaco, os sapatos e pediu que trouxessem
um café bem forte. Quando chegou ela o fez beber, e ele bebeu.
Ela
sentou-se na poltrona a sua frente. E ele olhando para ela dizia:
-- Disse que
és minha namorada de ciúme dos outros. Eu quero que sejas minha... Só minha.
Ela sorriu e
não disse nada. Apenas ficou escutando o que ele continuava a dizer:
-- Não é
porque eu bebi, mas eu gosto de ti, gosto muito, te quero sempre a meu lado...
Depois ele
calou e só olhava para ela. Então ela o ajudou ir para cama, o ajudou a tirar a
roupa e vestir o pijama. E nesta tarefa teve algumas surpresas... Por fim ele
dormiu e ela foi para seu quarto. Mas seu pensamento estava dando muitas
voltas.
No outro
dia, no café da manhã, Diego desculpou-se por ter passado da conta. Não era o
seu costume fazer isso. Há muito tempo deixara os hábitos da juventude. Não
sabia dizer o que houve com ele.
Verônica
sorriu e o desculpou. E trocou de assunto, perguntando sobre a programação do
dia. Visitariam um haras e a noite teria um jantar no clube.
E no
decorrer do dias eles pouco se falaram. Ela juntou-se ao grupo de senhoras. E
nessa noite seria o baile de gala, que
era sempre o momento de encerramento do encontro. Era realizado na
mansão de um confrade, que morava aos
arredores da cidade.
Ela escolheu
usar o vestido que ele havia escolhido, e que era muito bonito e se ajustava
perfeitamente ao seu corpo. Era um modelo especial, mangas longas, e com um
decote quadrado bem acentuado, que valorizava os seios, sem ser indecente. Era em
veludo, na tonalidade de verde esmeralda e tinha pedras bordadas por todo ele
em intervalos de dez centímetros. E quando ela se movia o vestido todo
brilhava. Era lindo demais.
Diego bateu
a porta para saber se ela já estava pronta, e ela abriu e se mostrou a ele, que
ficou literalmente de boca aberta, sem fala, apenas olhando aquela mulher que
estava deslumbrante naquele vestido. Ele sabia que seria esse o resultado, por
isso o comprou. Ele ficou sem palavras. Depois de algum tempo conseguiu dizer:
-- Estás muito
linda... Um belo vestido numa bela mulher, e eis o resultado, estou sem
adjetivos.
Ela achou
engraçado e riu. Mas pensou que ele em
seu smoking também estava lindo.
Entraram no
carro, e ele pegou sua mão e disse bem baixinho:
-- Vê se
essa noite não me deixa sozinho.
-- Sim...
E ele deu um
beijo em sua mão e a soltou.
Enquanto o
carro seguia pelas avenidas da cidade, ela ia pensando em como faria para
resistir a ele. Ela estava totalmente apaixonada por ele. Não sabia o que ele
sentia por ela, mas sabia que ele a olhava com intensidade, sempre cuidando
onde ela estava. Deu para sentir, e quando algum homem se aproximava dela, logo
ele estava a seu lado. Talvez ele também estivesse apaixonado por ela. Não
sabia...
Ele também
estava pensando na situação que estavam criando. Ele estava louco por ela, não
podia dizer que era amor, mas essa mulher mexia com ele. Perto dela ele ficava
perturbado. Como seria... Ela era linda,
cativante, divertida, inteligente, culta, do seu nível. Ela poderia ser sua
esposa. Sua mulher...
Ele tivera
uma desilusão tão grande, anos atrás, não quisera mais compromisso com ninguém.
Quando precisava de uma mulher, ele pagava. Pronto. Resolvido. Mas agora ele
não queria outra mulher, ele queria apenas ela. Ela era a mulher que sempre
desejara para si. Mas tudo teria que
acontecer na hora exata, senão corria o risco de perde-la.
Enfim
chegaram ao baile.
Antes das
danças seria servido o jantar a francesa. Tudo muito chique. A mansão era um
prédio antigo, com estilo inglês e a decoração no mesmo estilo. Muito bonito!
Foram
recebidos pelos anfitriões no hall de entrada. E logo foram para a sala onde os
demais convidados estavam. Quando ela entrou todos os olhares se voltaram para
ela, e Diego percebeu cobiça nos olhares masculinos. E nos femininos certa
inveja. Ele tomou sua mão e a segurou e a apertou. Ela olhou para ele e sorriu.
O jantar foi
alegre, todos falando amenidades, contando histórias engraçadas. Por fim todos
passaram para o salão de baile onde seria servido champanha. O grupo musical já estava
tocando e os donos da casa começaram a dançar convidando os demais.
Diego logo a
levou para o meio do salão para dançar, com receio que alguém viesse
convidá-la. Eram musicas suaves e românticas. Ele a enlaçou em seus braços e rodaram
pelo salão.
Enquanto
dançavam Diego murmurava palavras doces ao ouvido de Verônica, que se deixava
levar pelo clima que estava surgindo entre eles. Dançaram um bom tempo, e Diego
a convidou para irem tomar uma bebida. Ela aceitou. Enquanto bebiam eles não se
misturaram aos outros convidados, ficaram mais isolados conversando. Diego
estava perguntando a ela se podiam ir embora. E ela concordou.
Despediram-se
de todos com a promessa de se encontrarem em breve. No caminho de volta, ele a
envolveu com um abraço. Fazia muito frio, e ela não estava muito agasalhada.
Ela aconchegou-se a ele, e decidiu que esta noite seria única. Eles estavam
realmente bem envolvidos, a cidade, a festa tudo contribuía para essa
aproximação. Depois quando eles retornassem a rotina, tudo voltaria a ser como
antes. Era o que ela esperava.
Quando
entraram na suíte do hotel, Diego voltou-se para ela e a beijou com muito
ardor. Ele estava segurando aquela vontade de beijá-la a muito tempo. Ela
retribuiu o beijo com o mesmo ardor. Ele a afastou e disse:
-- Vamos
abrir um champanhe, essa noite é nossa, só nossa...
E brindaram,
se beijaram, beberam e se amaram...
Dormiram
abraçados. Ao acordar Diego a observou dormindo por um longo tempo, deu um
beijo em sua testa e disse ao seu ouvido, ”És muito gostosa.”. Ela abriu os
olhos e ele sorriu:
-- Pensei que
estavas dormindo...
-- Eu
estava. Mas acordei...
Ele se
levantou da cama, foi ao banheiro e voltou com um pacote para ela. Entregou
para ela dizendo:
-- Comprei
para ti, vê se gosta.
Verônica
abriu e ficou encantada com o presente. Era uma pequena tela retratando o
teatro Collon.
-- Lindo,
adorei. Obrigada.
Ele disse:
--
Precisamos conversar...
-- Sim, mas
deixa-me tomar um banho e me vestir, que horas vamos sair?
-- Não
precisamos ir hoje. Já falei com o meu piloto. Vamos amanhã. Vamos curtir a
cidade. Foram tantos compromissos que não passeamos pelo mercado das pulgas. É
muito bom.
-- Eu sei,
em Paris eu costumava ir.
Ela foi para
seu quarto se arrumar, enquanto ele fazia o mesmo. Ele pediu café para dois no quarto. Poderiam conversar
sossegados enquanto tomavam café.
Sentou
esperando por ela. E lembrou a noite deles. Tinha sido maravilhosa, ela era
tudo o que ele queria. Estava disposto a casar, mas se ela não quisesse casar,
ele não abriria mão dela de jeito nenhum, não sabia como fariam, mas teriam que
continuar o que recém havia começado.
Ela surgiu
na porta, mais uma vez linda demais. Estava com um conjunto azul marinho com
detalhes em vermelho e branco, elegantíssima.
O café
chegou e eles serviram-se, em silencio. Então Diego falou:
-- A nossa
noite foi demais, e não vai ficar por aqui, vai?
-- Deveria.
Ele sorriu e
continuou:
-- Não foi
nada avulso, nós nos envolvemos e acho que realmente fizemos amor. Essa semana
nós nos conhecemos melhor, tivemos oportunidade de expressar nossos
sentimentos, que, a meu ver, vem crescendo. Acredito que tu também sentes algo
por mim, porque te entregastes com paixão.
Ela sentiu
seu rosto aquecer, mas era verdade o que ele dizia, ficou calada e deixou ele
continuar:
-- Eu
gostaria de poder anunciar a todos que estamos namorando.
-- Mas eu
trabalho para ti. Será meio estranho, não achas? E em tão pouco tempo. Teus
empregados não vão me respeitar, vão falar mal de mim. Isso eu não quero.
-- Então,
queres casar?
-- Casar?
Para me chamarem de oportunista. Eu preciso desse emprego, estou feliz com o
que faço, não quero perder tudo isso.
-- Seremos
amantes? É isso que queres?
-- Não sei.
Essa noite era para ser única. Ficar na recordação...
-- Na
recordação? De que jeito? Estando contigo todo o dia, não agüento.
-- Precisamos
decidir agora? Não podemos deixar para mais adiante?
-- Sim,
podemos. Mas lembra de que eu coloquei a possibilidade de nos casarmos, pois
percebo que te preocupas com tua
reputação.
-- Me dá um
tempo...
-- Te dou o
tempo que precisares, mas vamos continuar dormindo juntos.
-- Não!
Todos vão saber...
-- Não! Há
uma porta de comunicação entre os nossos quartos. O espelho do closed é uma
porta. Ninguém sabe, é só termos o cuidado de não deixá-la nunca destrancada.
Está resolvido, agora vamos passear que a cidade nos espera, está um sol lindo
lá fora, mas frio, pega um agasalho.
Passearam pela cidade, foram ao mercado de
pulgas e passaram o dia ali olhando e comprando coisas interessantes. A noite
jantaram no hotel e logo subiram para a suíte, e foi mais uma noite de amor.
Amor no sentido mais profundo da palavra.
Ao chegaram
em casa, Verônica percebeu que nascera uma intimidade entre eles que era
difícil disfarçar. Mas mesmo assim ela tentava. E porta do espelho todas as
noites era aberta,
O tempo
passou e Verônica ainda não dera a resposta a ele, que seguidamente a
questionava. Na verdade ele queria casar com ela. Ele era um homem responsável,
integro e não gostava de se aproveitar de situações delicadas, sobretudo
envolvendo uma mulher. Ela era só no mundo, e precisava de proteção, e ele
queria ser seu porto seguro. E além do mais ela era a mulher de seus sonhos em
todos os sentidos. Nunca vira alguém com as qualidades dela, e já se conheciam
bastante, tinham afinidade na cama, por que ela não aceitava sua proposta?
Era outubro,
e fazia calor. Diego a convidou para sair de lancha, tinha uma pequena ilha
logo adiante que era dele, e era um lugar bonito e agradável. Levaram bebida
gelada e sanduíches.
Ao chegarem,
acomodaram as cadeiras e a caixa de bebidas e lanche a sombra, embaixo de uma
figueira centenária. Verônica não resistiu e entrou na água, que era rasa até
certo ponto, depois tinha um desnível grande, e era um lugar muito perigoso
para quem não conhecia.
Diego pediu
que ela saísse da água, já tinha se refrescado. Ela atendeu o seu pedido e
sentou perto dele. De repente ela disse:
-- Estou
pensando em deixar o emprego...
-- O quê?
-- Vou
embora...
--
Enlouquecestes? Tu não tens ninguém e nem para onde ir, e tu gostas ...
Diego parou
de falar, algo muito dolorido veio em seu pensamento e sem rodeios perguntou a
ela:
-- Preciso
esclarecer uma coisa.
-- Fale.
Disse
Verônica agora olhando para ele com os olhos arregalados.
-- Tu
transas comigo só porque sou teu patrão?
Havia uma
expectativa na voz e no olhar de Diego. A resposta dela era muito importante
para ele, que agora estava se dando conta que a amava de verdade, e a menção de
ela ir embora o apavorou.
-- Não!
Desde a primeira vez foi porque eu quis também. Eu gosto...
-- Gosta?
Complete a frase.
-- Eu gosto
do teu jeito de fazer amor. Acho que nos entendemos bem.
-- Eu também
acho, e desde a primeira vez tu foste ótima, tu és incrível.
Os dois se
olharam, mas Verônica desviou o olhar. E Diego continuou:
-- Eu não te
entendo, não quero ser chato, mas nós não precisamos fazer nada escondido, não
devemos explicação a ninguém, gostamos de estarmos juntos e por que todo esse segredo.
Mais uns dias meus amigos uruguaios estarão aqui e eles sabem que estamos
juntos, já viajaram conosco, e aqui esse teatro. Por quê?
-- Eu tenho
medo.
-- Medo!
-- De
sofrer... Outra vez.
-- Eu também
já sofri, fui traído. Mas agora é diferente. Pelo menos para mim. Eu te conheço
bem, te acho fora de série, e tu és uma boa companheira, no trabalho, nas
viagens e, sobretudo na cama. Se não queres casar, tudo bem. Mas vamos pelo
menos abrir o jogo, porque corremos o risco de sermos ridículos.
Verônica não
disse nada. Ficou quieta olhando o horizonte. Diego levantou e foi dar uma
caminhada pela ilha. Ele estava inconformado com a teimosia dela. E decidiu que
não transaria maiss com ela, a não ser que ela sinalizasse que queria.
Quinze dias
se passaram e a porta do espelho não foi aberta por ele, embora Verônica a
destrancava todas as noites. Neste período algumas noites ele não viera dormir
em casa. Simplesmente no meio da tarde pegava o carro e saia sem dizer nada. E
ela estava angustiada, pois achava que
ele estava com outra. Diego a tratava bem, mas conversava com ela apenas
assuntos de trabalho. Ele passava muito tempo cavalgando, ou simplesmente
olhando o trabalho no haras.
A casa de hóspedes
tinha sido preparada por ela, que deixou pequenos mimos para cada um dos amigos.
Enfeitou com flores e abasteceu o frigobar de cada suíte.
Os amigos
chegaram, Verônica organizou um churrasco para receber o grupo. Tudo correu
bem, mas em nem um momento Diego chegou perto dela.
Ela foi
muito elogiada por ser uma ótima anfitriã. Diego apenas sorriu de longe para
ela.
No outro dia
iriam para serra gaúcha. As reservas já estavam feitas há bastante tempo, e ela
sabia que ficariam juntos. Mas deixou para se preocupar quando chegasse a hora.
Foram em
dois carros, e eles foram sós. Não conversaram muito na viagem, apenas algumas
observações. Diego a olhava de rabo de olho, ela estava inquieta, olhava muito
para ele e não falava nada. Chegaram ao hotel e logo os amigos estavam com
eles. Foram cada um para seus quartos e combinaram de sair em uma hora.
Era um hotel
romântico, cada suíte tinha o nome de uma flor. A o nome da flor deles era amor-perfeito. Diego
quando viu o nome da flor teve que rir, pois era uma ironia. Ela olhou para ele
e não disse nada. A essas alturas ele já estava se divertindo.
Verônica
dependurou algumas peças de roupa deles, foi ao banheiro e estava pronta para
sair. Ele estava sentado lendo o cardápio. Ela se aproximou e disse:
-- Vamos...
-- Se
queres...
Desceram as
escadas e foram esperar os amigos no jardim, que estava lindo, todo florido.
Ela tirou fotos, self, e pediu para ele ficar junto dela, para terem uma
lembrança do lugar. E ele foi, mas comentou baixinho:
-- Lembrança
se leva no coração, de que adianta foto se não há calor humano.
-- Existe
calor sim. E muito calor...
Ele riu e
descobriu que ela estava a mil. Seria muito fácil, era só dar umas cutucadas.
No decorrer do dia ela foi aos poucos se aproximando dele, que por sua vez,
estava de braços abertos para recebê-la de volta.
Caminhavam pela
rua central olhando as vitrines e entrando em quase todas as lojinhas, as
mulheres comprando tudo que viam. Ela não havia comprado nada.
Então ele
tomou pela mão e levou a uma loja do outro lado da rua, que tinha objetos
antigos, bem conservados e por preços absurdos. Entraram e ela ficou encantada
com a delicadeza das peças que ali estavam expostas. Ele disse:
-- Vamos escolher. Qual te agrada mais? É um
presente para ti.
-- Não sei,
são tão lindas... Mas essa aqui é muito delicada, acho que é um conjunto... Tu
gostas?
-- Sim.
Queres essa?
-- Sim.
E Diego
comprou para ela um conjunto de toucador bem antigo, em porcelana todo pintado
com pequenas rosas cor de rosa e todo patinado com dourado.
Estavam
perto do hotel e Diego foi levar no hotel com medo que pudesse quebrar. Era
muito delicado. E Verônica disse que o esperava ali, e aproveitou e escolheu
para ele um entalhe de cavalo. Muito bonito e não muito grande. Colocou na
bolsa e ficou na frente da loja o esperando, e nisso os amigos chegaram.
Estavam
cansados de caminhar, queriam sentar em um bar e tomar cerveja ou chopp gelado.
Acharam um lugar ali perto, bem pitoresco, com ambiente alegre e festivo. Todos
pediram chopp. Diego e Verônica sentaram no banco junto a parede e os outros ao
redor da mesa.
Descobriram
que tinha deliciosos petiscos da cozinha alemã e experimentaram todos. Logo o
lugar esta lotado, e uma bandinha
começou a tocar musicas alemãs. Quem sabia cantava e todos se divertiam muito,
agora já com o chopp fazendo efeito. Eles resolveram ficar ali, pediram a repetição dos petiscos.
Diego aproveitou e descontração do ambiente e se aproximou de Verônica, pegou
sua mão e deu um beijo em sua face.
No fim da
noite quando voltaram para o hotel já estavam abraçados. E tiveram uma noite de
amor. Mas Diego não sabia como seria o dia seguinte, pois eles estavam
embalados pelo chopp.
Mas no outro
dia assim que acordou, Verônica foi para o chuveiro, e Diego que não estava
dormindo como ela pensara foi atrás, e entrou no banho com ela. Ele estava a
testando. A beijou e acarinhou, e ela retribui sem contestar. Ele se
tranqüilizou.
Foram dias
especiais, os amigos também eram especiais, e todos gostaram do passeio. O
grupo separou-se, pois os uruguaios iam seguir para Santa Catarina pelo caminho
da serra.
Eles
retornaram e retomaram a rotina. Passaram os dias, era inicio de dezembro e
Verônica deixou sobre a mesa dele o presente que tinha comprado em Gramado. Ela
havia pensado e decidiu que teria que ir embora. Ele a queria, mas não falava
em amor. E ela o amava demais para depois ser colocada de lado, como já tinha
acontecido uma vez. Deixou junto com o presente uma carta. Era seu dia de
folga, Diego tinha ido para fazenda, só voltaria dali a dois dias.
Arrumou suas
coisas e, no outro dia cedo, ela pediria ao motorista para levá-la ao ponto de
taxi na vila. Mas deu tudo errado.
Diego chegou
de surpresa e a encontrou gemendo de dor na perna. Então ele a levou ao pronto
atendimento. O médico a deixou em observação. Deveria ficar em repouso por três
dias.
Diego
resolveu chamar seu amigo Denis que era Clinico. Ele a examinou e não achou nada.
Realmente deveria ficar de repouso e em observação. Se viesse febre ou dor
intensa que procurasse um atendimento, pois poderia ser algo grave.
Diego falou
para a cozinheira fazer canja para ela, bem leve. E levou a poltrona para junto
da cama e ali ficou o tempo inteiro ao lado dela. E ela só pensava na carta que
tinha deixado para ele. Será que ele não tinha visto? Como saber...
Entre dormir
e acordar ela percebeu que Diego estava com sua carta na mão. Ela fingiu
dormir, estava com medo da reação dele. E se arrependeu. Ela estava louca, onde
iria encontrar um homem como ele, que se importava com ela, que cuidava dela
com carinho. Tinha que tomar a carta dele. Mas como?
Então
acordou e disse que estava com sede. Ele foi servir água para ela, mas tinha acabado.
Então foi buscar. E ela passou a mão na carta. Colocou debaixo do travesseiro.
Ela tomou a
água, agradeceu e se recostou na cama. Perguntou se poderia levantar e sentar no sofá. Ele disse que sim que a
ajudaria. Então a levou até o sofá e foi buscar o travesseiro para apoiar a
cabeça e ao retornar ele vem com a carta
abanado na mão e olhando para ela. Ele estava furioso. Ele deixou o
quarto e mandou que Rosa cuidasse dela. Diego foi para o haras.
Passou todo
o dia e ele não apareceu. Agora ela sentia uma dor no peito, sentia a ausência
dele, e percebia que era uma tola. A noite a
febre veio muito alta. Rosa se assustou e chamou por Diego, que
providenciou para que ela fosse para Clinica que Denis havia recomendado.
Telefonou para o amigo dizendo que ela tinha febre muito alta e dores no
abdômen, muitas dores. E o médico recomendara que fosse logo para a clinica,
não devia perder tempo.
Ele a levou
no carro, com todo o cuidado, reclinou o banco e a acomodou com travesseiros
para que não sentisse dor pelo sacolejo do carro. Ela estava desfigurada, com
os olhos fundos. Antes de ele ligar o carro, ela segurou a mão dele e disse:
-- Me
perdoa, eu sou muito tola.
Ele apenas
olhou para ela e deu partida no carro.
Antes de ela
entrar para a sala de cirurgia ele beijou sua face e disse bem baixinho, “eu te
perdôo porque te amo”. Ela
sorriu para ele e foi levada.
A cirurgia foi demorada, ele estava nervoso,
pois não sabia o que ela tinha, nos exames de imagem os médicos não conseguiram
identificar o motivo da dor e da febre tão alta. Resolveram abrir para ver o
que era.
Duas horas
depois o cirurgião foi até ele e explicou que ela estava na sala de recuperação
e que ela estava com uma das trompas de Falópio rompida por uma inflamação, e
que a situação era delicada porque precisavam esperar para saber como o organismo dela se recuperaria. Tinham lavado
todo o abdômen para limpar o pus que se espalhara pela cavidade.
Diego
agradeceu a atenção do médico e sentou pensando em tudo o que ele havia dito.
Verônica ainda corria perigo de vida, segundo ele tinha entendido. Ele não era
muito religioso, mas voltou-se para Deus e pediu por ela.
Na tarde
seguinte Verônica foi para o quarto. Ele se assustou ao vê-la tão abatida, tão
frágil e sentiu um aperto no peito. Aproximou-se da cama, pegou sua mão e ficou
ali fazendo um carinho. Ela dormia, pois
a medicação a deixava muito sonolenta.
Ele esperou
que ela acordasse, queria falar com ela, testar para saber se ela realmente
estava bem. E então foi embora, dizendo que Rosaa ficaria com ela. Diego ia
todos os dias vê-la, ficava um pouco, perguntava como ela estava se sentindo e
procurava falar com e médico e ia embora.
Ela ficou
uma semana hospitalizada, e quando chegou a casa ele fez com ela permanecesse
em repouso por mais uns dias. E eles pouco se falaram. Rosa continuava cuidando
dela, e ele apenas chegava a porta do quarto para saber noticias.
Ela estava
com saudades dele, gostava de estar com ele, de conversar e estava sentindo muita
falta disso. Mas entendia o procedimento dele, que estava interessado na saúde
dela sem exageros. Assim não dava margem para fofocas dos empregados, E com
Rosa cuidando dela evitava qualquer proximidade dele.
Mas na
verdade ele estava magoado. Aquela carta de demissão tinha chocado ele. Jamais
esperava essa atitude dela. Precisariam conversar sobre isso.
Então ele
decidiu ficar afastado dela. Estava inseguro em relação a ela. Não entendia o
que ela queria. Talvez estivesse se sentindo oprimida... Ela nunca dissera a
ele que o amava. Seus olhos tinham um olhar fervoroso, mas...
Quando ela
se restabelecesse iria colocar “as cartas na mesa”. Se ela quisesse ir embora,
que fosse... Não ia mais impedir.
Ele estava
entristecido, ele a amava, queria casar com ela... Preocupava-se com a vida
dela. E chegou ficar sobressaltado ao pensar que se ela tivesse conseguido sair
como planejara, ela podia ter morrido com essa inflamação que se rompeu dentro
dela. Não gostava nem de imaginar...
Enquanto
estava com Verônica, Rosa conversava bastante com ela, sempre perguntando sobre
a vida dela, e dizia com todas as letras que todos os empregados tinham muita
curiosidade , porque a achavam muito zelosa com todos. Gostavam dela.
Mas Verônica
não queria de falar de si, e respondia
as perguntas sem revelar nada. E quando Rosa se referiu a Diego, ela respondeu
com monossílabos e mudou de assunto.
Verônica
sabia, que estavam todos intrigados com o comportamento deles, estavam sempre
juntos, mas nunca deixaram ninguém perceber nada sobre a relação que havia
entre eles. Demonstravam ser o que na verdade eram, o senhor e a secretária.
Diego a
levou para tirar os pontos, e para mais uma consulta ao médico. Ela tinha um
corte na barriga e não devia fazer esforço, foi a recomendação médica. Podia
trabalhar em coisas leves.
E depois de
muitos dias eles jantaram juntos. Conversaram, riram, mas Verônica o sentiu
diferente, atencioso, mas distante. Logo após o jantar, ela fez alusão de ir
para o quarto, e ele a ajudou a subir a escada. Despediu-se com o desejo de uma
boa noite, e só. Nem um carinho ou beijo. Nada!
Era sexta
feira e ela viu que ele tinha saído de carro, escutou quando ele falou para o
guarda que só voltaria no domingo a tarde. E Verônica percebeu que ele de fato
a estava evitando... Naquela noite ela não conseguiu dormir, estava arrasada.
Diego foi
para um hotel na praia. Não podia ficar perto dela, ela o perturbava muito,
precisa pensar. Na segunda feira iria conversar com ela sobre a carta de
demissão. Ela pedira perdão, mas aquilo não era o suficiente, e precisava saber
mais, precisava saber o que ela sentia por ele. E o que ela queria de verdade,
ir embora ou ficar com ele.
Era domingo
fim de tarde e Verônica sentou em sua sacada, com um livro na mão. Estava um
dia agradável, ela queria ver quando ele chegasse. Fingiu ler, fingiu estar
absorvida pela leitura, mas na verdade ela estava atenta a tudo e viu quando
ele estacionou o carro longe da casa,
Vinha caminhando pelo jardim de cabeça baixa. E Verônica não soube se era para
não a enxergar, ou estava distraído mesmo.
Verônica
deixou a sacada e foi tomar um banho quente, havia esfriado um pouco e ela tinha
ficado gelada. Não podia se resfriar. Colocou a banheira para encher e olhou-se
no espelho. Sentiu-se feia, seu corpo ainda estava inchado e aquele corte era
terrivelmente feio. Como poderia querer que Diego a desejasse se estava daquele
jeito. Entrou na banheira infeliz e desolada.
Vera foi
chamá-la para jantar e a encontrou já deitada... Ficou preocupada e perguntou
se ela estava sentindo alguma coisa, mas ela a sossegou dizendo que estava
apenas cansada.
Vera saiu do
quarto dela e encontrou com Diego no corredor, então contou que ela estava
deitada se sentindo cansada. Ele se preocupou mas não foi vê-la. Disse a Vera
que levasse o jantar para ela no quarto.
Diego jantou
e foi para o escritório onde ficou até muito tarde.
Segunda
feira, Diego levantou-se muito cedo, tomou um café e foi para o haras olhar o
trabalho com os cavalos. Ali sorveu um mate. Já era meio da manhã quando voltou
para casa e foi direto para o escritório. E Verônica lá estava trabalhando na
correspondência.
Ele parou a
porta e disse:
-- Bom dia!
Como estás? Melhorastes?
-- Bom dia!
Sim obrigada.
-- O que
estás fazendo?
-- Colocando
em dia a correspondência, achei que era o mais urgente.
-- Sim, mas
algumas eu já respondi.
-- Bem,
então, por favor, me diga quais.
-- Depois...
Antes temos um assunto para resolver.
Ela parou imediatamente
e arregalou os olhos para ele. O quê seria? Foi o seu pensamento. Diego pediu
que ela sentasse na poltrona a frente dele. Tirou do bolso a carta de demissão
que ela deixara sobre a mesa dele, algumas semanas atrás.
-- Vamos
esclarecer os fatos. Queres mesmo ir embora? E por quê?
Ela olhou
para ele com um olhar de suplica, pedindo para não responder aquela pergunta,
mas ele foi firme:
-- Por quê?
-- Porque eu
tenho muito medo de sofrer. Eu gosto do meu trabalho, sou muito bem tratada por
todos e em especial por ti, mas...
-- Não
confias em mim? Por quem me tomas? Ainda não me conheceso suficiente para me
comparar a um infame?
-- Não é
isso, eu confio em ti, tu és bom, mas
quando esse nosso enlevo passar, eu vou sofrer.
-- Qual
parte tu não entendeste?... Eu te pedi em casamento e tu nem me respondestes...
Se nosso caso terminar será porque tu desististe de mim. E então quem vai
sofrer serei eu. Mas eu quero arriscar, quem sabe... Pode até dar certo e
sermos felizes.
-- Mas agora
eu estou feia, com um corte horrível na barriga...
-- Meu Deus!
Onde está a mulher inteligente que eu conheci e admirei, onde está? Deixa de
bobagem. Parece que tu não sabes que o amor é muito mais do que um corte na
barriga. Até porque se não tivesse sido cortada, estarias morta. E eu te quero
viva e saudável. Ainda não percebeste que eu te amo...
-- Me amas?
-- Sim te
amo muito, demais. Tu que não dá mostras de amor por mim.
-- Mas eu te
amo, por isso eu escrevi a carta.
Ele se
levantou e foi até ela, ajoelhou-se diante dela e pediu:
-- Vamos
casar. Diga sim e nossos problemas terminarão.
-- Sim,
vamos ser felizes.
Diego
suspirou e murmurou:
-- Até que
enfim...
Ele a beijou
com carinho. Não podia ainda da vazão a sua paixão, pois ela ainda estava convalescente. E combinaram
casar o mais breve possível e seria um casamento sem festa. Apenas com os bons
amigos uruguaios que seriam seus padrinhos.
E alguns do grupo dos cavalos crioulos.
Depois de
dois meses estavam casados, felizes voltando da lua de mel.
Estavam
caminhado pelo jardim de mãos dadas quando Diego falou:
-- Eu quero
um filho...
-- Um filho?
Será que posso depois de perder uma trompa?
-- Tens a
outra. Vamos tentar.
-- Vamos
tentar sim meu amor.
E depois de
um tempo ela estava grávida de um casal de gêmeos. Diego era só felicidade. E
sempre pensava que Verônica era uma mulher esplêndida!
Maria Ronety Canibal
Agosto de 2017.
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