PORQUE É NATAL...
Era fim de tarde de uma sexta-feira,
insuportavelmente quente. O calor dos últimos dias estava abrasivo, isso que o
verão nem tinha começado, ainda estavam em fim de outubro. Silvana chegou do
trabalho e ligou o ventilador e se atirou no sofá.
Ela adormeceu...
Acordou com o sinal de mensagem
no telefone. Era a Taise, a convidando para sair àquela noite. Mais uma vez ela
não aceitou o convite da sua melhor amiga.
Silvana sabia que a amiga tinha
boas intenções. Preocupava-se com a sua solidão. Mas uma saída, numa noite, com
esse calor, não iria resolver o seu problema.
Taise era a sua amiga desde os
tempos difíceis, elas trabalharam juntas em uma pequena loja de bairro, e por
conhecer a sua história, ela insistia em convencê-la de que um namorado a
motivaria e lhe traria mais alegria. No entanto, o que a Taise desconhecia, era
que o seu coração já estava ocupado, há muito tempo, e ela ficara desesperançada.
Silvana espreguiçou-se e foi tomar
um banho, vestiu um short e uma blusinha de malha velha, que era a mais
fresquinha, e foi para cozinha preparar um lanche para si.
Sentou à mesa com o telefone à
sua frente. Enquanto comia, ela olhava os seus e-mails. Um chamou a sua
atenção. Era da namorada do seu pai, a Rosana.
-- O que seria? – Pensou, já que
elas não costumavam trocar e-mails.
Uma tristeza se apossou dela.
Lembranças de dias felizes, que ficaram tão distantes... Época em que havia uma
família... Uma vida feliz, antes da separação dos seus pais.
Ela tinha catorze anos quando ela
foi levada de casa, por sua mãe Amanda, que decidiu afastá-la do pai, por achar
que ele não era um bom exemplo. A
separação litigiosa dos pais, foi muito dolorosa para Silvana. Afinal, ela
amava o pai muito mais, do que a mãe. Havia mais afinidade entre eles.
E ela foi obrigada a ficar com a
mãe e tomar partido por ela. Silvana sentiu-se usada, nesta briga. A mágoa que
carregava dentro de si, era ainda muito forte. E desde aquela época, ela nunca
mais voltou a pequena cidade em que nasceu.
Nem lembrava mais como era viver naquele lugar.
Seis anos depois, ela estava
sozinha no mundo. O pai tinha se afastado dela, por imposição da mãe, que o
detestava, e consequentemente ela não o viu mais.
Silvana sentia-se manipulada pela
própria mãe, para fazer maldade ao pai. Amanda, não permitia que a filha
atendesse as ligações do pai, não permitia que ela passasse as férias na casa
do pai. E depois de tanto insistir, ele desistiu.
Mais tarde, quando a mãe teve uma
morte súbita, ocasionada por um enfarte, Silvana se viu completamente só, porque
o pai tinha ficado distante de sua vida, e morando na Itália.
Naquele momento, Silvana
tornou-se uma pessoa marcada pelo sofrimento e a solidão. As consequências, da
morte de Amanda, foram desastrosas. Além de dividas a pagar, Silvana teve que
deixar a faculdade de jornalismo, que tanto amava.
Atualmente, ela trabalhava numa
editora, fazendo resenhas de livros. Como gostava muito de escrever, ela se
contentava com o emprego e o salário que tinha. Conseguia se manter, mas o
apartamento da mãe foi vendido, para acertar a conta. E o que sobrou foi muito
pouco. Mas, ela sabia que o seu atual emprego, não seria duradouro. A editora
estava com problemas financeiros e a qualquer momento ela podia ser despedida.
---
Ronaldo, o seu pai, era um homem
elegante e não demorou muito para ele refazer a sua vida, ao lado de uma mulher
amável e confiável. Silvana conheceu a namorada do pai casualmente, pois em um
passeio pelo shopping eles se encontraram.
Desde então a ligação entre ela e
o pai foi restabelecida. Ela sabia que era amada pelo pai, e que tudo o que
aconteceu, no passado, foi consequência dos atos de desforra de sua mãe. Entretanto,
o relacionamento não voltou a ser como antes.
O
seu pai voltou a viver na sua pequenina cidade, situada na encosta de
serra gaúcha. Ele era enólogo e investiu em tecnologia, na pequena vinícola de
sua propriedade, e passou a ter uma produção limitada de vinhos de alta
qualidade.
---
Curiosa, Silvana abriu o e-mail da
Rosana, que apenas dizia: “Tem casamento à vista. Te organiza para passar o dezembro
conosco.”
Ela sorriu. A felicidade do pai
era o que importava, e ele tinha escolhido uma boa mulher, talvez até um
irmãozinho ela viria a ter. Realmente, era preciso se organizar para poder
tirar uns dias de descanso.
O mês de dezembro era um mês de
muita agitação, e ela tinha pelo menos dez livros para resenhar. Teria que
fazer um mutirão de leitura. Mas, não importava, ela iria ao casamento do pai.
No entanto, inesperadamente, ela
foi dispensada pela editora. Livre do trabalho, ela poderia passar
tranquilamente o dezembro em casa.
Depois... era depois.
---
Silvana estava embarcando no
ônibus rumo a sua cidade natal. Ela recostou-se no assento e observou as
pessoas que entravam no veículo, e não reconheceu ninguém.
Já estavam na estrada, seus olhos
ficaram pesados e ela cochilou. Acordou e começou a prestar atenção a paisagem,
e aos poucos ela foi reconhecendo alguns pontos.
Mas a cidade estava
irreconhecível. O ônibus estacionou na rodoviária e ela ficou sem saber para
onde ir. Olhou em volta, e reconheceu o prédio da esquina, onde funcionava a
farmácia do seu João.
Então, ela caminhou em direção a
praça da igreja. Ali, a admiração foi grande, pois as árvores estavam frondosas,
e os canteiros floridos. Sorriu ao lembrar dos tombos de bicicleta que teve na
curva do canteiro central.
Silvana passou os olhos pela
linda decoração de Natal espalhada pela praça. Agora havia algumas lojas, e
todas bem enfeitadas com suas decorações natalinas, assim como as ruas adjacentes
a praça. Até a torre da igreja estava decorada.
-- Amei. – Murmurou. Depois de
admirar a sua cidade, ela tomou o rumo da Vinícola. Faria uma surpresa, pois
não tinha avisado de sua chegada.
Depois de caminhar cerca
oitocentos metros, ela chegou ao portão do lugar que amava, o lugar onde nasceu
e cresceu. Ali ela que tinha vivido uma vida feliz. Silvana parou e olhou, a
antiga casa de madeira, deu lugar a uma nova e bonita casa, que rodeada por um
bem cuidado jardim, dividia o terreno com o prédio da vinícola, também um
prédio novo, bem amplo em estilo italiano. Todo de pedra grés, o destaque
estava na porta principal, que era arredondada em madeira toda trabalhada, com
floreiras em ambos os lados.
Silvana adorou o que viu. Então
encaminhou-se para a casa.
---
Ali diante da porta ela ficou em
dúvida... Não sabia se entrava direto, ou se batia na porta. Decidiu que era
mais educado bater, afinal não era mais a sua casa. Ela estava com o punho
erguido para bater, quando a porta se abriu e um rapaz apareceu sorrindo. Que
parou e a encarou. Dizendo:
-- Tu és a Silvana? Com esses lindos
olhos, não há mais ninguém no mundo.
Como vais?
-- Sou... Eu estou bem, obrigada. –- Disse ela sem saber
quem era ele.
-- Não me reconheces? Eu sou o Lorenzo.
– Disse ele a abraçando.
-- Lorenzo! Estás muito diferente.
Como vais?
-- Eu estou muito bem.
-- Estás linda! – Observou ele a
olhando de um jeito especial.
-- Obrigada. – Agradeceu
envergonhada. Não estava acostumada a receber elogios, e suas faces ficaram
quentes.
-- Que bons ventos te trazem
aqui?
-- Um casamento...
-- Eu imaginei. Muito bom te
reencontrar. Temos muito o que conversar. Só que agora eu estou atrasado. Vamos
combinar um jantar e colocamos os assuntos em dia.
-- Está bem. – Murmurou sem
acreditar no que estava acontecendo.
-- Até mais... – Disse caminhando
apressado em direção ao prédio da vinícola.
Silvana entrou e fechou a porta,
deixou sua valise no chão e devagar caminhou pela sala, tentando encontrar
alguém. Na cozinha uma moça, muito bonita, comia uma taça de sorvete.
-- Olá! – Disse Silvana parada a
porta. – Eu sou a Silvana. Aonde eu encontro a Rosana ou o meu pai?
-- Oi! Eu sou a Bruna, a sobrinha
da Rosana. – Disse a moça bem animada. – Eles foram a Bento Gonçalves, falar
com a organizadora de festas. Queres um pouco de sorvete?
-- Sim, eu aceito. Onde tem um banheiro que eu possa usar.
-- Aquela porta.
Silvana e Bruna conversaram
enquanto saboreavam o sorvete. E Silvana ficou sabendo que a sobrinha, na
verdade não era sobrinha, e sim filha de uma amiga da Rosana, que estava
passando uns dias ali, enquanto a mãe estava em viagem de negócios.
Ela também descobriu a moça
estava “com as estruturas abaladas” por causa do Lorenzo. Que de fato, ele tinha
se tornado um homem muito atraente.
Uma senhora apareceu, e se
apresentou:
-- Eu sou a governanta da casa,
me chamo Matilde, e quero te mostrar o quarto, em que vais ficar. Se queres
descansar um pouco. O sr. Ronaldo vai chegar bem à tardinha.
Silvana aproveitou, pediu licença
e foi para o seu quarto, pois já não aguentava a conversa fútil da Bruna. Enquanto
acompanhava a senhora, ela viu que a casa era enorme. Tinha pelo menos cinco
quartos, segundo pode observar. As salas na parte de baixo, ela já tinha visto,
e eram grandes e bem decoradas.
Depois de ter tomado um banho,
ela vestiu um vestido estampado de verão e ficou na janela apreciando o vinhedo.
Então, viu o Lorenzo inspecionando as videiras.
-- Ele trabalha com o pai? –
Perguntou-se.
Lorenzo foi seu colega de aula. Ela
gostava dele, no entanto, o seu pai nunca permitiu que ela se aproximasse dele,
dizendo que ele não era de boa família. Agora, ela não entendia mais nada.
Mas, ao chegar o encontrou saindo
da casa, com tanta naturalidade... é
porque ele frequenta a casa de seu pai. Teria que descobrir. Não iria perguntar
a ninguém.
O céu escureceu, e sem saber o
que fazer, Silvana permaneceu em seu quarto. Ligou a TV e se distraiu vendo um
programa bobo. Uma batida em sua porta, a fez levantar-se rapidamente. Ela
abriu e diante de si, estava a pessoa que ela mais amava neste mundo. O seu
pai.
-- Pai! – Disse ela sorrindo e o
abraçando.
-- Minha querida! Faz tanto
tempo... – Reclamou ele a abraçando e a beijando carinhosamente. – Estou muito
feliz com a tua presença. Que bom que viestes uns dias antes do casamento.
Poderemos desfrutar de um tempo juntos. Agora sim, posso sorrir, pois a minha
amada filha está sob o meu teto.
-- Eu também estou feliz de estar
aqui. Está tudo tão bonito...
-- Venha vamos jantar. Eu cheguei
faminto. A Rosana está preparando as pizzas que trouxemos.
Os dois desceram as escadas
abraçados. Rosana quando a viu, também demonstrou alegria. E a saudou
calorosamente.
A mesa estava arrumada para cinco
pessoas. Quem seria a outra pessoa? Inquiriu a si mesma, e nada falou. Então um
vozerio veio da sala, era a conversa animada de Bruna e Lorenzo, que pareciam
se dar muito bem, talvez fossem mais que amigos.
Lorenzo sentou-se ao lado de
Bruna, e de frente para Silvana. E ele a olhou com discrição, durante a refeição.
Aparentemente, ninguém notou a troca e olhares entre eles. Pois, todos bem
animados, falavam sobre a festa de casamento.
Após a refeição, ainda sentados a
mesa, Silvana percebeu que a Bruna estava monopolizando a conversa e a deixando
de fora. Então levantou-se, deu boa noite e foi para o seu quarto, com a
desculpa de que estava cansada.
Silvana estava emocionada, e de
coração aflito, pois o que tinha acontecido, era que todo o sentimento que
tinha por Lorenzo, desde a adolescência, despertou, e ressurgiu com força. Ela
pensava que o tinha esquecido, lutou ferozmente contra esse amor que existia em
seu peito, e acreditava que havia sumido. E agora ao vê-lo novamente, tudo voltou
e com mais intensidade. Tanto que não suportou vê-lo dar tanta atenção a chata
da Bruna.
Silvana atirou-se na cama e
chorou...
---
Na manhã seguinte, Ronaldo
convidou a filha para conhecer o novo parreiral. Eles caminhavam devagar, e ela
escutava atenta todas as explicações do pai. Quando, de repente, Lorenzo apareceu
sorrindo, os cumprimentando alegremente.
-- O Lorenzo é meu engenheiro
agrônomo. Ele tem cuidado destas plantas com carinho, não é mesmo?
-- Sim. Eu gosto do que faço. E
todo o trabalho dever ser bem feito. – Falou sorrindo para a Silvana e dando
uma piscadela.
-- Eu quero ver se desperto o
interesse da minha filha por esse vinhedo. Ela mora tão distante e sozinha,
enquanto que poderia viver e trabalhar aqui conosco. Não achas que eu tenho
razão, Lorenzo?
-- Sim, eu concordo com o senhor,
mas se ela tiver alguém por lá? -- Falou
ele a contemplando como um ponto de interrogação.
-- Tens alguém, minha filha?
-- Não! Nunca tive tempo para
diversões e muito menos para namorar. É só trabalho e casa. – Respondeu
Silvana, olhando nos olhos de Lorenzo.
-- Vamos ao escritório, preciso
conversar contigo em particular.
-- Até mais tarde. –
Despediram-se.
Pai e filha saíram de braços
dados, e caminharam entre as videiras para chegar ao prédio da vinícola pelos
fundos. Lorenzo os viu se afastarem, e ficou pensando nas palavras de Silvana:
nunca tive tempo para diversões. Isso significava que ela nunca teve outro
namorado... Bem, eles nem chegaram a namorar, mas se gostavam muito, e ele
ainda guardava esse sentimento em seu peito, fechado a sete chaves. Nenhuma
outra mulher o conquistou. Ele esperava que a Silvana, aceitasse a oferta do
pai.
Depois de levar a filha para
conhecer todas as dependências da empresa, e explicar todo o processo, eles
foram para o escritório. Ali, depois de tomar uma água, Ronaldo disse a filha:
-- Isso tudo é teu. Por isso
quero que venhas para cá, minha querida.
-- Como tudo meu? E o que dirá a Rosana?
– Indagou a Silvana, atônita com a declaração do pai.
-- Nosso casamento será com
separação total de bens. A Rosana tem uma pousada e bens de família. O seu
marido foi um homem de muitas posses, e como não tiveram filhos, tudo ficou
para ela. Ela sabe que eu estou passando tudo para ti. Claro que vou te ajudar
a gerir o negócio, no início.
Silvana ainda estava “digerindo”
as palavras do pai. Não sabia o que responder, então o pai acrescentou:
-- Minha querida, não precisa
assumir agora, aproveita esse período de férias aqui, e depois me responde. Sei
que te peguei de surpresa, me pareces um pouco assustada. Entendo perfeitamente
essa tua reação.
-- Obrigada. Realmente eu não
esperava por algo assim. Segundo o que a mãe dizia, eu jamais receberia algo de
ti.
-- A tua mãe é outra conversa. Tu
não conheces a história e fostes carregada por ela como um escudo. Ela te usou
para se defender. – Disse ele amargurado.
-- Desculpa, eu não sei mesmo. O
que aconteceu?
-- É, está na hora de saberes a
verdade. Lembras que o Lorenzo tinha um olho cumprido para ti, e eu te proibi
de dar conversa a ele. Vocês eram ainda tão jovens...
-- Sim, inclusive achei estranha
a presença dele aqui.
-- Ele é um bom rapaz. O pai dele
era meu amigo, mas morreu muito cedo, num acidente de moto. A mãe dele, era uma
moça bonita, e logo achou outro marido, e esse homem era um salafrário, que não
valia nada! A pobre da Anita sofreu muito nas mãos dele, que era o amante da
tua mãe. Foi um escândalo! Eles chegaram a um ponto, que não tinham mais
respeito, e se encontravam abertamente no hotel em Bento Gonçalves. Na verdade,
eu que fui traído. Tentei levar a vida adiante, por tua causa, mas a situação
ficou insustentável, e a Amanda fugiu de casa te levando como proteção. Ela
sabia que eu não iria fazer nada para te prejudicar, e te usou vergonhosamente.
É a tua mãe, eu sei, mas precisas saber a verdade. Se duvidas, pergunte aos
meus amigos mais antigos.
-- Ah pai... Foi tão difícil
viver longe de ti. – Chorosa ela abraçou o pai, como se tivesse culpa. – Ela
sempre quis me convencer de que tu não me amavas, e eu nunca acreditei. Sempre
senti o teu amor... Sofri com a distância entre nós.
-- Meu amor, eu também, e agora vamos
recuperar esse tempo perdido. – Completou ele a beijando na testa.
-- E como o Lorenzo acabou aqui?
-- Anita teve um câncer que a fez
sofrer muito. O tal marido a abandonou. O Lorenzo estava terminando o segundo
grau, e eu o convidei para vir para cá. Com a morte da mãe, ele ficou sozinho
no mundo. O Lorenzo é a cópia do pai, é um rapaz honesto e sincero, incapaz de
magoar alguém. Enquanto cursava a
faculdade, ele morou em Santa Maria e nas férias vinha para cá. Depois de
formado, eu o convidei para trabalhar na vinícola. E não me arrependi. Ele tem
recurso, as terras ao fundo são dele, e estão plantadas com videiras.
-- Agora entendi.
-- Essa conversa era necessária. Vamos
sair e passear na cidade. Vamos deixar o passado no passado.
-- Vamos... – Respondeu ela com
um sorriso.
Silvana sentia-se feliz, rever os
lugares ao lado do pai, era muito especial, e terminar o passeio na sorveteria
do seu Gaspar, foi demais.
No dia seguinte, Ronaldo levou a
filha nas melhores lojas, de região, para comprar roupas novas, inclusive o
vestido que usaria no casamento. Rosana a acompanhou e a ajudou nas escolhas.
Também foi ao salão de beleza
para um novo corte de cabelo. Fez as unhas, os pés e massagem facial. Coisa que
ela jamais imaginou, na sua vidinha de pobre.
Ela saiu renovada, e com a sua
beleza em evidência.
Ao vê-la, o pai comentou:
-- Bah, agora eu quero ver como serão
as reações de algumas pessoas... – Deu uma piscadela para a Rosana, que sorriu sacudindo
afirmativamente a cabeça.
---
Bruna não dava folga, estava
marcando o Lorenzo de perto. Embora se fingisse de boazinha, e sempre
convidasse a Silvana para os acompanhar, ela não abria espaço para que o Lorenzo
e a Silvana conversassem. Como sempre
ela precisava ser o centro das atenções.
Naquela noite, Silvana recusou o
convite, dizendo que iria sair com o Marcelo, seu antigo colega de aula, que
ela havia encontrado casualmente. Mais tarde, ela se apresentou na sala, usando
um vestido novo, e com um novo visual ela surpreendeu a todos. E estava
realmente muito bem, tanto que até a Rosana a elogiou. Estava bonita, mesmo!
Lorenzo a olhou e ficou encantado
com a sua transformação. Ela sempre foi bonita, porém, agora a sua beleza
estava realçada. E ele se encheu de ciúmes. Ainda mais que ele sabia que o
Marcelo era o seu rival nos tempos de escola. Então, ele perguntou:
-- Aonde vocês vão? Pensei que
poderíamos sair os quatro juntos.
-- Eu não sei. Ele apenas me
chamou para sair sem dizer o lugar.
É claro que ela não iria
mencionar que iriam jantar no clube. Ela queria que o Lorenzo se mordesse de
ciúmes, porque ela tinha certeza de que ele sentia ciúmes dela. Pelo seu jeito
de olhar e torcer a boca. Era como nos velhos tempos. Cada vez que o Marcelo se
aproximava dela, na hora do recreio na escola, ele fazia essa cara e permanecia
quieto. Ah... essa era noite da desforra. Ele que se decidisse!
-- Vamos. – Insistiu a Bruna o
puxando pela mão. Lorenzo saiu da sala com os olhos virados para a Silvana, que
permanecia na sua postura de princesa.
-- Tu vais sair com o Marcelo
Damin? O solteiro mais cobiçado da região? –Perguntou a Rosana.
-- Não sei se é o solteiro mais
cobiçado, mas é um antigo colega de aula, que eu encontrei por acaso. –
Explicou ela.
-- Ele chegou... -- Anunciou o
Ronaldo que estava próximo a janela da frente. – Tenha juízo, minha querida.
-- Sempre tenho, pai. – Afirmou
Silvana, sentindo-se nervosa. Afinal, ela nunca tivera um encontro.
Educadamente, o Marcelo
cumprimentou o Ronaldo e a Rosana, e só então foi até a Silvana, a tomou pela
mão, despediu-se, e ambos deixaram a sala. Ele, com cortesia abriu a porta do
carro para ela entrar.
Espiando pela janela, Rosana
disse:
-- Esse rapaz é um verdadeiro
cavalheiro. Ah, se todos fossem assim. – Disse querendo provocar o noivo.
-- Estás insinuando alguma coisa?
– Respondeu Ronaldo rindo.
O casal estava feliz, dali a dois
dias eles seriam marido e mulher, estariam regularizando a situação deles.
Ambos eram viúvos, e iriam casar também na Igreja.
De mãos dadas eles caminharam
pelo jardim, aproveitando a beleza da noite, quente e calma, iluminada pela luz
da lua quase cheia. Um beijo os envolveu, naquele ambiente romântico.
---
Bruna ficou pasmada com a
elegância da Silvana, e logo notou a reação do Lorenzo, que tinha ficado
perturbado ao saber que ela iria sair com outro cara. E como consequência, a
noite deles estava sendo “um porre”, já que ele se mantinha calado e distraído.
Ela tentou investir, porém a
reação de Lorenzo foi inesperada, ao dizer:
-- Bruna pára! Eu não estou afim
de ti. Tu bem sabes e fica insistindo. Vamos embora. – Disse ele fazendo um
gesto para o garçom encerrar a conta. Ele pagou e levantou-se. Bruna não se
mexeu. – Eu estou pronto para te levar para casa, se não queres ir, eu não vou
te obrigar. Não vai te mexer? Tchau. – Completou ele saindo sem olhar para
trás.
Ele pegou o carro e deu uma volta
pelo lugar, queria descobrir aonde estava a Silvana. Mas não viu o carro do
Marcelo em nenhum dos locais.
-- Com certeza ele a levou no
clube, em Bento. – Resmungou para si mesmo. – Vou esperar ela chegar...
Furiosa Bruna entrou em casa, e
foi direto para o seu quarto, arrumou as suas coisas, com o propósito de no dia
seguinte ir embora.
---
A noite de Silvana foi agradável
e divertida. Um jantar delicioso, complementado com uma sobremesa divina. Marcelo
tinha uma boa conversa e falou sobre o seu tempo de estudante em Porto Alegre,
onde cursara a faculdade de Medicina. Ele tinha histórias hilárias, deram
muitas risadas.
Aquele adolescente chato tinha se
tornado um homem fascinante, além de bonito, Marcelo era educado e atencioso. Ele
era Neurocirurgião e atuava na região. Não era sem razão que ele era
considerado o solteiro mais cobiçado.
A conversa foi interrompida
inúmeras vezes por pessoas que queriam cumprimentá-lo, sobretudo, as mulheres.
Cada vez que isso acontecia ele se desculpava com ela, mas Silvana estava se
divertindo muito.
Em nenhum momento a conversa caiu
no âmbito pessoal. Conversaram sobre si mesmos, rindo do seu tempo de colégio.
Já quando estavam se despedindo,
ele perguntou:
-- Tens companhia para o
casamento do teu pai?
-- Eu não sei. A Rosana não me
disse nada, apenas disse que iria precisar de mim. Para quê? Não sei.
-- Se der eu gostaria de estar
contigo... pois és uma companhia muito agradável, considero que tivemos uma
noite bastante aprazível.
-- Eu concordo. Foi muito bom
estarmos juntos.
-- Até mais – Disse a beijando na
face. – Dorme com os anjos, porque um vou sonhar...
-- Boa noite! – Respondeu ela
sorrindo.
Silvana ficou na porta esperando
que ele desse a partida no carro, então acenou. Quando estava se voltando para
entrar em casa, surgiu das sombras o Lorenzo.
-- Uiu... Queres me matar de
susto? Que fazer aqui a essa hora?
-- Só queria ver se está tudo bem
contigo.
-- Sim está. Eu tive uma noite
muito divertida.
-- Eu sei, e o que mais?
-- Lorenzo tu andaste bebendo?
Como ousas falar assim comigo?
-- Desculpe. Eu só quero te dizer
que deu um basta na Bruna. Só isso.
-- Está bem. Amanhã falamos. Vai
dormir...
-- Boa noite, dorme bem.
-- Obrigada. Boa noite.
Ela rapidamente entrou e trancou
a porta. Subiu para seu quarto e foi a janela espiar, para ver se Lorenzo ainda
estava por ali. O avistou a caminho de sua casa.
Ela despiu-se, tomou uma
chuveirada e deitou-se a pensar. O sono chegou e Silvana dormiu serenamente.
Um pouco embriagado, Lorenzo
chegou em sua casa e refletiu sobre a noite que tivera, sobretudo, a sua
conversa com a Silvana. Relaxou e deitou-se mais tranquilo, depois de tanta
tensão ele dormiu. Sonhou com a mulher
de sua vida, e acordou de bom humor. Estava pronto para um novo dia, um novo
desafio. E esse desafio tinha nome, chamava-se Silvana.
Na manhã seguinte, Bruna acordou,
desceu para tomar o café e ao encontrar com a Rosana, ela logo disse:
-- Não suporto ficar aqui nem
mais um dia. – Afirmou ela indignada.
-- O que aconteceu? – Quis saber
a Rosana, que ainda estava na cozinha, tomando um café.
-- Ora, o Lorenzo está
insuportável, desde que a filhinha do papai chegou. E dessa vez, ele se
superou. Passou a noite distraído, não conversou, só ficou pensativo. Não vou
me sujeitar a essa situação. Quem termina a relação sou eu!
-- Não vais ficar para o
casamento?
-- Peço perdão! Mas, tu me
entendes, não é? Sei que a mãe vai ficar irritada comigo, no entanto não
aguento ser humilhada.
-- Não posso te obrigar a ficar.
És livre para ir embora a hora que quiseres. Só quero que saibas, que a Silvana
não tem culpa de nada. Ela é uma moça boa e muito discreta. Ela jamais faria
alguma coisa para te prejudicar. Só que esses dois, já se gostavam no tempo de
escola. Nunca tiveram um compromisso, no entanto, é óbvio que ainda existe um
sentimento forte. Basta ver o brilho no olhar deles, quando estão juntos.
---
Era o dia 15 de dezembro, o dia do
casamento de Ronaldo e Rosana.
Silvana soube que formaria par
com Lorenzo, como padrinhos do seu pai. Ela ligou para o Marcelo, pois havia
prometido informá-lo.
Desde cedo a agitação era grande,
na casa. A noiva, assim como a madrinha foram levadas para um spa, onde
receberiam cuidados especiais, seriam penteadas, arrumadas e levadas a igreja.
Rosana tinha escolhido usar um
vestido de corte reto, em seda italiana, na cor amarelo bem claro. Na cabeça um
pequeno detalhe na cor do vestido.
Rosana tinha a pele bronzeada, os
cabelos escuros e os olhos num tom de verde bem claro. Ela ficou deslumbrante.
Ao ver a madrasta vestida, Silvana pensou no coração de seu pai, sorriu ao
imaginar a emoção dele, ao vê-la surgir na porta da igreja.
Mas, ela também estava muito bem.
Ao se olhar no espelho, Silvana não se reconheceu. Como ela tinha a pele clara,
os cabelos e olhos cor de mel, o tom de azul do vestido a deixou fascinante,
segundo falou a moça que a ajudou a vestir-se.
Confiante ela entrou no carro,
que a levaria a igreja, que ficava cerca de 500 metros dali. Ao desembarcar do
carro, um cavalheiro gentilmente a ajudou. Era Lorenzo.
-- Estás magnifica! Com certeza
vais tirar o brilho da noiva. Eu serei o teu par, não só no cortejo, também na
festa. Me aceitas?
-- Se eu não tenho escolha... –
Respondeu ela sorrindo. – A noiva já vai chegar. Vamos tomar o nosso lugar.
Ronaldo já estava em seu lugar, no
altar.
A noiva estava a porta da igreja,
quando os pares formados por: Lorenzo e Silvana, Marli e João, entraram pela
nave principal como padrinhos dos noivos.
Posicionados no altar, eles
observaram a noiva entrar lentamente ao som da Ave Maria de Schubert. Rosana
trazia um sorriso nos lábios e seus olhos tinham um brilho especial. Ela estava
confiante e linda demais.
De onde estava, Silvana não
conseguia ver expressão do pai, mas por seu gesto, ela percebeu que lágrimas de
emoção escorriam em sua face. Que ele fosse muito feliz, dessa vez, pois ele
merecia um casamento repleto de felicidade.
A cerimônia foi simples e envolvente,
pois o padre celebrante era amigo da família e ele proferiu algumas palavras
especiais para os noivos. Palavras que produziram fortes emoções, não só aos
noivos, mas também aos convidados.
Os noivos deixaram a igreja sob
uma chuva de arroz.
---
A festa era para um grupo de
convidados seletos. Aqueles que eram mais ligados ao casal. Contudo, havia
cerca de 80 pessoas. Uma mesa especial para os noivos e padrinhos. Os demais em
pequenas mesas para quatro pessoas.
Por isso, Silvana sentou-se entre
o pai e o Lorenzo. Marcelo estava sentado muito próximo e a olhava com
insistência, embora estivesse acompanhado por uma moça muito elegante.
Discursos e brindes aos noivos foram
muitos.
Uma seleção de músicas,
incentivou os pares irem para pista de dança. Lorenzo não perdeu a oportunidade
de dançar com a sua princesa. Um intervalo fez com que voltassem a mesa.
Porém, Marcelo foi até a mesa
principal, cumprimentar os noivos e quando a música retornou, ele olhou para a
Silvana, e a convidou para dançar. Ela, gentilmente aceitou, e foi para pista
dançar.
Lorenzo nada pode fazer. Silvana
era livre... contudo, ele não gostou de vê-la nos braços de Marcelo, que a
fazia sorrir com satisfação. Ele tomado de ciúme. Foi dançar com a Adriana, uma
garota bonita e simpática, filha de um comerciante local. Essa moça era
desconhecida de Silvana, pois a família mudou-se para ali, pouco tempo atrás.
Silvana percebeu o encantamento
da outra por Lorenzo, e não gostou.
---
No dia seguinte, Lorenzo e
Silvana, voltaram juntos para a vinícola. Eles comentaram sobre a festa, sem
fazer referência ao Marcelo e tão pouco a Adriana.
Faltavam dez dias para o Natal, e
os recém casados, só chegariam no dia 23 de dezembro. A família passaria o
Natal junto. E neste plano estava incluído o Lorenzo, é claro.
Aqueles dias, Silvana passou na
vinícola, tentando aprender como tudo funcionava. Ela estava inclinada a
aceitar o convite do pai. Voltar a conviver com o pai era tudo o que mais
almejava, ainda mais que estava sem emprego.
O grande problema seria conviver
com o Lorenzo, sabendo que ele estava de namorico com aquela garota bonitinha. E
todos os fins de tarde, após ele encerrar as suas atividades, ele ia para casa
da Adriana.
Silvana sentia-se rejeitada, e de
coração partido. Ela ainda o amava, no entanto, para ele era coisa do passado, um
amor de adolescente. Pela primeira vez em sua vida, Silvana ficou sem saber
como proceder.
Marcelo tinha ido para a Suíça
participar de um Seminário de Neurologia, e estenderia a sua estadia em uma
estação de esqui, até início do novo ano.
Sem companhia para sair, e
sozinha em casa, Silvana assaltou a biblioteca do pai. Ali encontrou diferentes
livros sobre vinhos, e os leu, com bastante interesse. Para atuar neste setor era
necessário ter conhecimento.
Dona Matilde, também não estava,
tinha aproveitado a ausência dos patrões para visitar a filha, que morava em
Bom Jesus. Então, naquela manhã de sábado, Silvana resolveu testar as suas
aptidões culinárias. Ela estava concentrada batendo um bolo, quando escuta:
-- Bom dia! – Saudou alegremente
o Lorenzo. – Vim te convidar para um passeio até a cascata. Está um dia
esplendido, vamos aproveitar e fazer uma trilha.
-- Oiii... – Respondeu– Eu não te
esperava. Estou colocando o bolo no forno, e estou pensando em fazer um café,
aceitas?
-- É claro que aceito. Um café é
sempre bem-vindo. – Afirmou ele. – Não respondestes ao meu convite.
-- Um passeio até a cascata é bem
atrativo, porém não quero magoar ninguém. Já basta a grande amargura que eu
carrego.
-- O que foi agora? Estás falando
de algo que eu não sei o que é. Por favor me explica. – Falou com os olhos
cravados nela.
-- Vocês homens, são assim,
ingênuos demais. Nunca sabem nada! Mas vou te desenhar, assim ficará mais fácil
para entenderes. – Disse Silvana bastante contrariada. Ela não estava de bom
humor, tinha ido para a cozinha para melhorar, e a presença de Lorenzo, só
piorou. Ela estava servindo o café, com a cafeteira erguida, ela o olhou e pronunciou
um nome: -- Adriana.
-- O que tem a Adriana com a
nossa conversa?
-- Ah... não! Agora não sabe!
-- O que eu não sei? Assim vais
me deixar louco. Eu só quero passear contigo.
-- Aonde está a Adriana, por que
não a chama para te acompanhar? – Disse Silvana com voz alterada. Ela colocou a
caneca sobre o balcão, recusando-se a entregá-la em suas mãos. – O café...
-- Obrigado. – Agradeceu pegando
a caneca e provando o café fumegante. – Hum, agora entendi. Pensas que eu estou
com a Adriana. Não há nada, entre mim e ela. Somos bons amigos, e eu estou a
ajudando a elaborar um projeto de pomar, que ela quer implantar na propriedade
da família. Por isso tenho ido todas as noites, na casa dela.
-- Ah... Pensei que estavam
namorando. – Falou Silvana com um novo brilho no olhar, que ele percebeu.
-- O teu bolo está cheirando,
será que já está bom? –Disse ele tentando mudar o assunto, para não a deixar
constrangida.
Silvana virou-se para o forno e
espiou.
-- Está quase. Vou fazer a
cobertura de chocolate.
-- Tu sabes que eu sou fã de
chocolate.
-- Eu também amo chocolate.
Um silencio tomou conta do
ambiente. Ele ficou olhando-a cobrir o bolo com chocolate derretido e depois
colocar alguns confeitos granulados para enfeitar. O bolo ficou bonito e apetitoso.
-- Uma prova? – Pediu o Lorenzo.
-- Na volta do passeio. –
Respondeu ela sorrindo e bem animada.
---
A caminhada foi a desculpa que
eles precisavam para sentirem-se bem. As coisas não andavam boas entre eles
desde o dia em que o Marcelo a convidou para sair, pela primeira vez.
Lorenzo tinha ficado cheio de
ciúmes, por isso deu atenção ao projeto da Adriana. Ao perceber, mais cedo, que
ela tinha ficado com ciúme, ele se animou a aproveitar aquela manhã para
definir ou estabelecer um compromisso entre eles. Já fazia muito tempo que se
gostavam, se conheciam desde criança, e não precisavam esperar por mais nada.
Ele a queria, e estava com muito medo de que ela fosse mais uma vez embora, e
dessa vez, por conta própria. Era hora de agir.
O ambiente da cascata era repleto
de recantos e trilhas. Ele conhecia muito bem e escolheu a trilha que levava ao
pé da queda-d'água, onde havia uma piscina natural, que poderiam banhar-se.
Ali naquele lugar romântico, ele
a testou, a tomou nos braços e a beijou. E a reação dela foi de aceitação e
resposta positiva. Era tudo o que ele queria.
Ainda abraçados, ele murmurou:
-- Eu esperei por esse momento,
desde o nosso tempo de escola. Nós nunca havíamos trocado um beijinho sequer.
-- Eu também esperei... – Admitiu
a Silvana um pouco envergonhada.
-- Vamos seguir em frente, vamos
assumir que nós nos gostamos, vamos planejar juntos o nosso futuro... Que
achas?
-- Eu concordo.
-- Então vais aceitar o convite
do teu pai?
-- Sim, eu vou ficar. – Confirmou
ela sorrindo e o beijando suavemente.
Lorenzo a beijou com intensidade.
De mãos dadas e felizes eles retornaram a casa para provar do bolo de
chocolate.
---
Taise foi a primeira a saber dos
novos planos de Silvana. Muito feliz, ela gritava no outro lado da linha.
-- Maravilha... Eu não sabia que
tinhas um amor escondido no teu coração. Adorei. Se eu fosse escritora iria
escrever uma história contando esse amor de vocês.
-- Vem passar o Natal aqui. Quero
que conheças o meu lugar, a terra que eu tanto amo, o meu pai, e o Lorenzo. Dá
um jeito e vem.
-- Está bem. Depois te confirmo.
Um beijo, minha querida amiga.
-- Vou te esperar, te cuida.
Beijos
---
Ronaldo e Rosana retornaram da
lua de mel. A felicidade era visível, e ao saber da novidade, ele abraçou a
filha e falou:
-- Eu tinha certeza que vocês iam
se acertar. Esse rapaz sempre gostou de ti. Vocês vão ser felizes. E o melhor
de tudo, é que ficarás aqui. Ah, minha querida, eu preciso da tua presença. A
Rosana é o amor da minha vida, ela me faz muito bem, somos felizes, mas preciso
de ti, muito mais do que podes imaginar.
-- Eu também preciso de ti, desse
lugar... Senti muita falta de tudo isso. Mas agora vou trabalhar contigo e
vamos recuperar o tempo perdido.
Ela nem tinha terminado de falar
quando Lorenzo entrou na sala. Ronaldo o recebeu com um afetuoso abraço.
-- Até que enfim! – Disse rindo.
-- Até que enfim. – Repetiu o
Lorenzo rindo.
Enquanto jantavam Silvana
anunciou que convidara a sua amiga para passar o Natal na vinícola.
-- Ela é a minha melhor amiga,
desde que a mãe a morreu, sempre foi ela que me deu apoio nas horas difíceis.
Achei por bem chamá-la, já que também é sozinha, e nós sempre ficamos juntas em
datas especiais, como o Natal.
-- Fizestes muito bem. Essa casa
também é tua. Ficaremos felizes em recebê-la. – Afirmou Rosana. – Sempre
comemoramos o Natal em família, apenas com os amigos mais íntimos.
-- Mas esse ano, temos outros motivos
para comemorar. – Falou Ronaldo rindo.
-- Então vamos chamar mais
alguém? Só faltam dois dias, não é educado convidar em cima da hora. – Falou a
Rosana.
-- Quem sabe o Leonardo, ele não
tem família, e ficará muito agradecido se o chamarmos. – Sugeriu o Ronaldo.
-- Eu falo com ele, se me
permitirem. – Disse o Lorenzo.
-- Faça isso. – Pediu a Rosana
mudando de assunto, e contando sobre os lugares que estivera.
A preparação da festa envolveu as
duas mulheres da casa na confecção dos pratos. Rosana era uma boa cozinheira,
gostava de fazer experiencias e criar novas combinações. E como Silvana sabia
fazer doces, elas dividiram as tarefas. Claro que os homens ajudaram provando
as iguarias.
---
Taise chegou na manhã do dia 24
de dezembro. Ao descer do ônibus foi atropelada pelo abraço de sua amiga
Silvana. O encontro das duas demonstrava o quanto elas eram amigas.
Depois das apresentações Lorenzo as
levou para um passeio pela pequena cidade, que apesar de ser minúscula, estava
lotada de turistas. As pousadas decoradas com motivos natalinos, chamava a
atenção. Taise adorou o lugar. E quando tomaram o rumo da vinícola, ela se
encantou com a paisagem, que a vista alcançava ao longe os parreirais.
Rosana os esperava na porta.
Sorriu ao ver a alegria dos jovens. Logo, o marido se juntou a ela e o casal
recebeu a visitante com carinho. O almoço foi agitado, pois as duas conversavam
e riam, e depois explicavam aos demais a situação narrada. Então Taise disse:
-- Tu lembras do Giovani Rosa? Pois é, ele me pediu para te dizer que ele
tem um bom emprego pra ti na gráfica que ele está montando. Não vão se ater a
pequenos objetos, ele tem pretensão de editar livros de bolso, e está contando
contigo para ser a corretora de textos. E acrescentou: ela é muito boa no que
faz. Que tal? É um bom emprego.
-- Vais ter que dizer a ele que
eu agradeço muito a oferta, e que até posso indicar a Milene. Transmite a ele
que eu aceitei trabalhar com o meu pai.
-- Que legal. É tudo o que tu
sempre quiseste.
---
Silvana escolheu usar naquela
noite especial de Natal, o seu vestido novo. Ela olhou-se no espelho e viu
refletida a sua nova imagem, a de uma pessoa feliz. Por isso ela estava bonita
usando o tom de verde claro.
Quando chegou na sala encontrou a
Taise conversando animadamente como seu pai e o Leonardo, que era um rapaz alto
e bem apessoado. Ele era químico e
também trabalhava na vinícola.
Rosana estava na cozinha dando os
últimos retoques. Silvana foi até lá e perguntou:
-- Tem algo que eu possa te
ajudar?
Rosana virou-se para vê-la e
parou com o que estava fazendo.
-- Como estás bonita! Hoje o
pobre do Lorenzo vai enlouquecer. – disse ela rindo.
-- A intenção é essa... –
Respondeu Silvana feliz.
-- Não, minha querida. Eu não
preciso de ajuda, já estou terminando. Vai para a sala receber o teu namorado
que já deve estar chegando.
Ela foi para a frente da casa.
Queria cumprimentar o seu amor em particular. Silvana o avistou, ele caminha
devagar assobiando. Também estava feliz.
Quando ele a viu, parou e a
admirou. Seu coração disparou como se ainda fosse um adolescente. Sorriu e se
aproximou dela.
-- Estás fabulosa. Essa noite vai
ser uma tortura para mim. – Falou o Lorenzo a beijando carinhosamente. De mãos
dadas ele adentraram a sala.
A noite estava agradável, e
conversa rolava divertida e de repente, o clima de Natal envolvente mexeu com o
Lorenzo. Ele levantou-se, tomou a Silvana pela mão e levou para o centro da
sala. Ali diante dela e dos demais, ele ajoelhou-se de disse:
-- Desde a adolescência nós
vivemos um amor esperançoso, depois ficamos afastados um longo tempo, mas nos
reencontramos e os nossos corações se encheram de alegria. Nos entendemos, e
por isso eu te pergunto: aceitas casar comigo?
Silvana ficou surpresa, não
imaginou que seria pedida em casamento naquele dia. E olhando para ele, ela
sorriu, e sacudiu afirmativamente a cabeça, e só então disse:
-- Sim, eu aceito.
Ele enfiou o lindo anel em seu
dedo e a beijou.
-- Só quero saber uma coisa, por
que fizestes o pedido hoje?
-- Ora, porque é Natal.
---
Um tempo depois...
A amizade entre Taise e Leonardo
estava prosperando. Ela havia decidido mudar-se para Bento Gonçalves, onde
havia uma proposta de trabalho.
Ronaldo e Rosana estavam felizes
e a sua alegria contaminava o ambiente.
Silvana sentia-se a mulher mais feliz do mundo. Sentada na poltrona, ela olhava amorosamente para a criança que estava amamentado, o
pequeno Rafael, que parecia um anjo. Lorenzo olhava aquele quadro de felicidade,
a sua família.
Era outra vez Natal.
Maria Ronety Canibal
Dezembro de 2023.
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