sábado, 8 de outubro de 2022

CAPTURADA

                     

                  CAPTURADA

    

 

  Marcela terminou a sua palestra, despediu-se de seu anfitrião, e foi passear pelo centro da cidade. Era a sua primeira vez em Curitiba. Estava encantada com beleza da cidade. Olhava as vitrines, quando, em uma livraria, viu um livro em especial. Entrou na loja e o comprou.   

  Ao sair da livraria ela esbarrou em um homem jovem e atraente. O olhou sorrindo e desculpou-se. Ele também sorriu e a olhou com um olhar penetrante. Marcela sentiu-se despida. Virou e seguiu adiante.

  Marcela procurou um lugar sossegado para tomar um café e apreciar o movimento. Uma pequena cafeteria, em frente a praça a atraiu. Sentou-se e enquanto esperava o seu prato ser servido, pegou o livro e começou a folhear.   

    Um burburinho chamou sua atenção. Era um homem de meia idade que estava passando mal. Ela foi até ele, o examinou e pediu uma ambulância com urgência. Pegou sua bolsa e estava pronta para acompanha-lo na ambulância, quando o homem que há pouco tinha visto, se colocou a sua frente.

    -- Eu o acompanho, ele é meu amigo. – Disse o homem.

    -- Eu sou médica, Marcela Gabay, por isso, eu pensei em ir também. – Falou Marcela.

    -- Vamos juntos. Eu sou Flavio Zink Franco.

    Marcela conversou com os paramédicos, pedindo informações sobre o hospital que homem seria levado. Flavio acenou para um taxi e eles seguiram a ambulância.

    Eles ficaram em silencio, durante o trajeto. Flavio estava preocupado com o amigo. Sabia que ultimamente ele não vinha se sentindo bem, contudo, não procurou consultar um médico. Ao entrarem no hospital, eles souberam que Silvio havia sido acometido por uma sincope, e estava passando por exames para determinar as causas.

   Silvio ficou em uma enfermaria, enquanto aguardava os resultados dos exames. Marcela conversou com o plantonista que o atendeu, e soube que a razão do desmaio foi por questões cardíacas.

   Um tanto apressada, por causa do horário, Marcela comunicou ao Flavio as preocupações de seu colega. E pediu que fizesse com que o seu amigo levasse mais sério a saúde.

     -- Eu não posso esperar, tenho que ir para o aeroporto. Faço votos que o teu amigo fique bem. – Disse Marcela.

     -- Sei que o Silvio vai querer te agradecer, e se puderes me dar o número do teu telefone... – Pediu Flavio a olhando de modo especial.

    Marcela passou o seu número, despediu-se e foi para o aeroporto. Ela não tinha nem bagagem. Tinha vindo naquela madrugada para dar uma palestra sobre mortalidade infantil. Ela estava cumprindo o programa de um projeto em prol das crianças em situação de risco. Por um período de cinco anos, ela trabalhou em postos de saúde nas regiões mais periféricas da cidade de Porto Alegre, e pode avaliar o quanto as crianças careciam de cuidados na primeira infância. Hoje, ela trabalhava num dos maiores e melhores hospitais da cidade, a convite do Diretor de Pediatria, Dr. Jaime Schwarz.

     Durante o voo, ela teve tempo para pensar e avaliar o seu dia. A palestra tinha sido um sucesso. O seu passeio pela cidade, ótimo, e conhecer o Flavio...

  A imagem dele a olhando estava fixa em sua mente. Ela tinha ficado impressionada com aquele olhar. Nunca tinha se sentido tão invadida. Só que o olhar dele tinha um toque especial. E mexeu com o seu coração.

    Nunca mais o veria!

    Marcela suspirou. Melhor assim. Não tinha mais idade para sonhar.

    A sua vida estava de pernas para o ar. Ainda não tinha conseguido superar os desenganos do coração, o infortúnio de seu casamento. A morte repentina de seu pai e a mudança de sua mãe para o interior, contribuíram para que a sua vida virasse uma bagunça.

    Afastar-se de Bruno tinha sido a melhor coisa que fizera nos últimos tempos. Mas ainda estava se adequando a sua nova vida. Mudar-se para um apartamento em um bairro distante, foi a forma de evitá-lo. Não queria mais cruzar com o seu ex-marido.

   Ela havia tentado manter o casamento, fizera de tudo, suportou os fracassos financeiros sem se queixar, mas aguentar violência e traição era demais. Ele por muito tempo ainda a perseguiu, tornando a sua vida um inferno.

    Na verdade, aquele casamento havia sido um erro. Eles eram jovens demais, e foram obrigados a casar. Eles se conheciam desde a adolescência, moravam próximos. Uma gravidez mudou o rumo de suas vidas.

  Quando casaram, eles eram apaixonados, e também, muito imaturos, e brigavam por qualquer coisa. Um dia, Bruno que estava zangado, a empurrou, ela caiu, e perdeu o bebê. Marcela não o perdoou, e Bruno também não se perdoou. A vida seguiu sem motivação. Eles apenas se toleravam.

    Marcela pediu ao pai que financiasse o seu estudo. Desde criança ela tinha o desejo de ser médica, para ajudar as pessoas a se curarem de seus males. O pai atendeu ao seu pedido. E ela estudou com afinco. Queria ser livre, e com independência financeira.

   Bruno também procurou ajuda para cursar a faculdade de Engenharia Mecânica, mas a morte prematura do pai, o impediu de concluir o curso. E ele tinha uma mãe e uma irmã menor para amparar.  E precisou trabalhar como mecânico, para dar o sustento a família.

     Seu pai, era um sonhador, e investiu todo o valor da venda da casa da família, num novo projeto. Mas faliu. Matou-se, deixando a esposa e filha menor desamparadas. Bruno as acolheu em sua casa, e as relações entre ele e a esposa, que já iam mal, acabou se deteriorando com a intromissão de dona Hermínia.

      A frustação de Bruno refletiu no casamento, que ia de mal a pior.

     A solução foi a separação. No entanto, depois do divórcio homologado, Bruno não se conformava, e a culpava por tudo. Marcela sabia que o seu ex-marido não tinha a capacidade de assumir os seus próprios erros, e sempre acusava alguém para justificar os seus fracassos.

     Marcela suspirou, estava cansada de tudo isso. Ela só queria seguir em frente, trabalhar e viver em paz. Não almejava mais nada. Havia desistido do amor, da busca da felicidade.

                                                      ---

    A rotina do hospital preenchia os dias de  Marcela. Sentia-se bem, era bem-quista no seu trabalho, e dedicava-se totalmente a sua profissão. Seguidamente virava a noite fazendo plantão.

    À noite, quando deitava em sua cama, estava cansada e não pensava em nada. Queria apenas dormir. No entanto, aquele olhar cativante a perseguia nos sonhos. E muitas vezes se pegava pensando naquele homem desconhecido.

   Certo dia de sábado, ela recebeu um telefonema de um numero desconhecido, não tinha o costume de atender, mas estava distraída e aceitou a ligação:

    -- Alô... É a doutora?

    -- Sim. Quem fala?

    -- O Bruno. Estou em dívida... queria agradecer o que fez por mim em Curitiba.

    -- Como está o senhor? Procurou averiguar com mais atenção o seu coração?

    -- Sim. Recebi o seu recado. E agora estou bem. Estou voltando a minha rotina de trabalho. Procurei um especialista e cumpri todas as ordens médicas.

    -- Fico feliz em saber.

    -- O meu amigo está lhe enviando um abraço.

    -- Agradeço e retribuo a atenção. Preciso ir, estou trabalhando.

    -- Até mais doutora.

    -- Cuide-se.

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    Marcela andava cansada, o trabalho era intenso na pediatria.

    Por isso, ela tinha recebido dois dias de folga. Iria ver a sua mãe.

    Claudia, a sua mãe, era formada em hotelaria, e depois que o marido morreu, ela foi trabalhar em Gramado. Um grupo internacional de hotelaria, havia inaugurado recentemente um luxuoso hotel, e Claudia foi contratada.

     Embora mãe e filha se falavam seguidamente, fazia muito tempo que elas não se encontravam, e ambas estavam cheias de saudades. Claudia se atreveu a pedir um dia de folga, para acolher a filhota com total atenção. E recebeu a permissão de seu chefe, além de uma suíte gratuita para elas usufruírem do lugar.

    O hotel ficava afastado da cidade, e era um prédio magnifico em meio a uma vegetação espetacular. Marcela se encantou com o lugar. Sorriu ao pensar que sua mãe era privilegiada em trabalhar num espaço desses.

    Claudia orgulhos da filha, a apresentava aos seus colegas, procurou pelo sr. Santis e soube que ele havia saído. Marcela conheceria o seu chefe no jantar. Elas passearam pelos jardins, e conversaram. Abraçadas para matar as saudades, mãe e filha, falavam sem parar.

    Marcela escutou a mãe, que demonstrava entusiasmo por seu novo emprego, mas principalmente pelo sr. Santis. Estava curiosa para conhecer o chefe de dona Claudia.

   A tarde se foi, e elas voltaram para a suíte para se prepararem para o importante jantar que aconteceria, naquela noite. Marcela sabia que o sr. Santis partilharia a mesa com elas.

    Claudia se arrumou com requinte, estava impecável. Usava um vestido de seda, na cor vermelho rubi, num modelo simples, porém, muito bem cortado, que caia perfeitamente, mostrando que a mulher que o usava ainda tinha curvas atraentes. Marcela escolheu usar um conjunto de malha azul marinho com uma blusa branca. Também estava elegante, no entanto, não atraia olhares como a mãe.

   Ao chegar no salão de jantar, Marcela notou que não havia muita gente, todavia, os que ali estavam olharam com admiração para sua mãe. Ela sorriu ao pensar: “pobre homem, se não está, ficará fascinado por minha mãe”.

      O maitre aproximou-se delas, a conduziu a mesa reservada.

   Elas sentaram e logo foi servido uma taça de espumante. Elas brindaram sorrindo e provaram a bebida. Não demorou muito e o sr. Santis chegou.

     -- Desculpem o meu atraso... – Falou ele olhando para Marcela

     -- Silvio! – Disse Marcela. – É mesmo o sr. Silvio? Como estás? Não lembra de mim? Também estavas tão mal...

     -- Doutora, que alegria te encontrar! – Disse ele alegremente a abraçando.

     -- Vocês se conhecem, de onde? – Perguntou Claudia muito surpresa.

     -- Em Curitiba, ele teve um mal estar e eu o socorri. Já faz algum tempo.

     -- Mundo pequeno... – Comentou Silvio sorrindo. – Vamos sentar. Hoje estou acompanhado de duas belas mulheres... Está faltando o meu amigo Flavio. Ele gostaria muito de revê-la, doutora.

     -- Como ele está? – Disse Marcela um tanto admirada com o que havia escutado. Ela também gostaria muito de reencontra-lo. Mas nada disse. Apenas sorriu.

     -- O Flavio está viajando. Deve retornar ao país na semana que vem. Ele andou enfrentando algumas adversidades, mas agora está bem. – Disse Silvio.

     Marcela não deu sequência ao assunto. No entanto, ficou curiosa, mas não perguntou, seria indiscrição.

     O jantar foi agradável, Silvio era um homem educado e charmoso, e conduziu a conversa com animação, e tinha muitas coisas engraçadas para contar. Com discrição ele soube elogiar a elegância de sua mãe. Marcela pode perceber que sua mãe estava fascinada por ele, e ele? Ela não ousava dar o seu parecer.

     -- Mãe, eu preciso dar um telefonema, estava quase esquecendo. Agradeço pela sua companhia, Silvio. Boa noite.

     Marcela saiu sem dar oportunidade para protestos. Era evidente que eles precisavam estar a sós, embora fossem colegas de trabalho, não era sempre que jantariam juntos.

      Ao chegar a suíte, Marcela tirou os sapatos, vestiu a camisola e sentou-se na poltrona com o pensamento em Flavio. Ela tivera um rápido contato com ele, mas aquele olhar misterioso, ficou em sua lembrança. Gostaria de encontrá-lo novamente? Essa era uma pergunta difícil de responder. Seu coração acenava que sim, mas sua razão afirmava que não.

     Bem, logo ela voltaria a sua rotina de trabalho, e suas esferas sociais não se cruzariam jamais. Ela havia procurado na internet sobre ele, e o que viu a deixou completamente desanimada. A família Zink Franco era milionária. Flavio vivia na crônica social internacional. Era considerado a revelação no mundo dos negócios de hotelaria.

     Flavio estava fora de seu alcance.

   Pensar nele era perda de tempo. Marcela se avaliava como uma pessoa centrada e pé no chão. Não ousava sonhar com o que estava muito acima dela.

     Quando Claudia entrou na suíte, encontrou sua filha dormindo. Olhou o relógio e só então percebeu que era muito tarde. Silvio a convidara para um passeio pelo jardim, a noite estava clara, iluminada pelo belo luar. Eles tinham caminhado até o lago, e lá aconteceu algo inesperado. Silvio a beijou!

    Como uma adolescente ela não sabia o que fazer. Não sabia se o beijo foi consequência da noite envolvente, ou da atração física que havia entre eles. E agora? Como lidaria com essa nova situação? Afinal, Silvio era o seu chefe e eles estavam no ambiente de trabalho. Que enrascada se metera...

    Na manhã seguinte, ao assumir seu posto, Claudia soube que Silvio fora chamado a São Paulo. Ele tinha deixado um pequeno bilhete sobre a sua mesa, explicando a sua ausência. Deveria ficar fora cerca de três dias. Ele lamentava não poder atender a doutora, mas deixou ordens para que ela tivesse acesso gratuito a qualquer serviço do hotel. Ele sugeria o spa.

    Marcela aproveitou bem os dias de descanso. Retornou a Porto Alegre renovada e pronta para enfrentar a realidade do hospital.

     Os dias passavam...

     Assim como o relacionamento de sua mãe com o Silvio, a cada dia tornava-se mais sólido. Marcela estava feliz por sua mãe. Sabia que a vida de Claudia tinha sido difícil, seu pai tinha um gênio forte.

   Um novo médico, vindo da Espanha, foi integrado a pediatria do hospital. Gaspar Catellar era um homem simpático e de boa aparência. Não era bonito, mas era alegre e cativante. Seus olhos tinham um brilho especial. Ele foi muito bem aceito entre os membros da equipe. Gaspar era doutorado pela  universidade de Madrid, sua especialidade era câncer infantil.

     A interação entre Marcela e Gaspar foi rápida, e eles viraram companheiros de plantão. Logo tornaram-se bons amigos, constantemente eles saíram para jantar e se divertir juntos.

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     Natalia, uma velha amiga de Marcela, observou que Gaspar estava querendo mais do que simples amizade, e falou:

     -- Minha querida, tu não estás sendo ingênua demais? O Gaspar quer muito mais que amizade...

     -- Imagina! Ele sempre me tratou muito bem, é respeitoso e nunca insinuou nada. Estás completamente enganada. – Afirmou Marcela com segurança. – E tu bem sabes que depois de um casamento desastroso, não quero me prender novamente.

      -- E se eu estiver certa, qual será a tua reação? Eu te conheço há anos, e sei como és.... Logo verás que eu estou certa.

     -- Será? Sou tão alienada que não percebo quando um homem está afim?

     -- Eu penso que sim. Especialmente em relação ao Gaspar.

     -- Bem, vou começar a declinar alguns convites. Afinal ele é meu colega de trabalho, aliás, um bom colega.

     -- Justamente. A nossa equipe é tão unida. Não queremos mal entendidos.

     O telefone de Marcela tocou, ela viu o visor e disse a amiga:

     -- É minha mãe, dá licença. – Marcela afastou-se da amiga para conversar,

      Ela desligou o telefone e foi para a sua sala. Tinha ainda duas consultas agendadas, só depois poderia pensar em ir para casa. Normalmente ela nunca tinha pressa em deixar o hospital, mas hoje havia um motivo especial.

                                                            ---

       

    Marcela entrou no hotel e olhou em volta. Eles ainda não tinham chegado. Foi para o bar e pediu uma bebida sem álcool. Não costumava beber, só em ocasiões muito especiais, ela arriscava um brinde.

    O ambiente do bar era luxuoso, porém, sem exageros, A decoração moderna contrastava com detalhes antigos. Era muito lindo. Ela tinha decidido usar um vestido de seda verde mar, num modelo clássico. Pensou que tinha feito a escolha certa.

    Um copo bonito e colorido foi colocado a sua frente acompanhado de alguns petiscos. Marcela provou a bebida e achou deliciosa. Pegou uma castanha e distraída a mastigou.

     Um homem sentou-se próximo, sem se virar ela sentiu que ele olhava, porém manteve-se firme. Mas uma voz conhecida falou:

      -- Como vai doutora? Lembra-se de mim?

    Marcela virou-se e seu coração quase saiu pela boca. Diante dela estava o homem que ela insistia em afastar de seus pensamentos. E respondeu a ele:

      -- Olá! Como vai Flavio?

      -- Estás esperando alguém? Posso te acompanhar numa bebida?

     -- Sim... Estou esperando a minha mãe... Ai estão eles! – Disse Marcela vendo a mãe e o namorado se aproximar. – Sorriu e abraçou Claudia com carinho. – Saudades...

     Silvio fez as apresentações e Flavio declinou do convite de os acompanhar no jantar.

   -- Vou terminar minha bebida e encontro vocês na mesa. – Disse Marcela corajosamente, esperando que Flavio lhe fizesse companhia.

    -- Eu te acompanho... – Disse ele, a olhando com intensidade. —Silvio e a tua mãe, uma extraordinária coincidência.

     -- Sim... Obra do destino. – Observou Marcela.

     Silvio e Claudia se dirigiram para o restaurante, os deixando sozinhos.

     Flavio pediu uma bebida e se acomodou ao lado de Marcela.

     -- Um momento inesperado, te encontrar aqui no hotel. Fiquei muito contente em te rever. – Falou ele num tom de voz sensual, e com aquele olhar perturbador.

   -- Eu também. Pensei que nunca mais nos veríamos, já que vivemos em mundos diferentes....

    -- Mundos diferentes, no entanto, não intransponíveis. Vou ficar uns dias por aqui, temos chances de jantarmos juntos?

   -- A princípio sim. Só amanhã vou saber qual é a escala de plantão dos próximos dias.

      O telefone dele deu um toque de alerta. Ele levantou-se,

     -- Eu te ligo. Preciso ir... Peço que me desculpe, sair assim apressado... – Disse ele a beijando no rosto. – Até mais.

       -- Tchau.

      Marcela bebeu mais gole de sua bebida e foi para o restaurante encontrar sua mãe.

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    O jantar foi agradável, e Marcela constatou que sua mãe estava feliz e que Silvio a tratava como uma princesa. Isso era bom, pensou ela.

     O licor estava sendo servido, quando Claudia falou:

     -- Filha, preciso te comunicar a minha decisão.

   -- Aceitou a transferência. Vamos ficar mais distantes uma da outra. – Reclamou Marcela com seriedade.

     -- Mais ou menos isso. Vamos nos casar e o Silvio aceitou ir para o novo resort nas termas uruguaias.

    -- Hum.. Mãe, tu sabes o que é melhor para ti. Se vocês querem arriscar um compromisso sério, como o casamento, vão em frente. Só quero a tua felicidade, a felicidade de vocês. Ainda estaremos ao sul da América do Sul.

     -- É um lugar maravilhoso, e terás férias gratuitas, isso eu te garanto. – Disse Silvio animado.

    -- É um alento. – Disse Marcela rindo. – Parabéns aos noivos. Quando será o casamento. Preciso me programar, e onde será?

   -- Casaremos em Canela e faremos uma pequena recepção no hotel. Coisa simples, apenas para os amigos mais íntimos. – Explicou Silvio com entusiasmo.

    -- Quero que sejas a minha madrinha, minha querida. – Completou Claudia.

    -- Mas é claro que serei... E quando será? – Insistiu Marcela.

    -- No dia 25. – Silvio respondeu.

    -- Dia 25 agora? Daqui a três  semanas?

    -- Exatamente. Tivemos pouco tempo para resolver tudo. Em um mês preciso assumir o cargo. E nós vamos passar a nossa lua-de-mel em Portugal. – Explanou Silvio.

    -- Maravilha! Bem está tarde. Amanhã as 6h eu tenho que estar no hospital. Teremos uma cirurgia delicada, em uma menina de apenas 4 anos. Obrigada pelo jantar e pelas belas novidades. – Disse Marcela despedindo-se do casal.

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   Após a deixar a sala de cirurgia, Marcela foi para seu consultório. Precisava descansar um pouco e tomar um Café para enfrentar o dia de trabalho. Foi ao seu banheiro individual e refrescou-se, trocou de roupa e refez a leve maquiagem que sempre usava. Ela gostava de estar sempre com boa aparência. Não importava a quão triste ou cansada ela estava, os seus pacientes mereciam.

   Sentou-se em sua mesa e abriu a sua agenda, quando sua secretaria entrou com um bonito buque de flores.

   -- Olha o que chegou para doutora, agora mesmo. Que lindos. São amores-perfeitos.

    -- Bonitos mesmo. – Disse Marcela pegando as flores. – Elas estão plantadas, veio um vaso. Aqui tem um cartão.

    -- Um admirador, doutora. – Disse Monica saindo da sala.

     Depois de admirar o colorido das flores, Marcela pegou o envelope e retirou o cartão.

     “Para a doutora, nada menos do que um amor-perfeito. Flavio”

    Marcela sorriu. Arrumou um lugar em sua mesa, mais perto da janela e ali colocou as belas flores. Avisou a Monica que mandasse entrar o primeiro paciente.

    Era quase fim da tarde quando Gaspar entrou no consultório de Marcela, muito sério, ele mal a cumprimentou e a indagou:

    -- São essas as flores que recebestes? A novidade correu por todo o setor.

    -- Sim, são essas! Uma pergunta, te devo satisfação de minha vida?

   -- Não entendi o que estas insinuando. Sim, somos comprometidos. Quantas vezes saímos juntos, e aqui no hospital todos sabem que somos mais que amigos. Ainda não estamos noivos, mas compromissados, sim.

    -- Não acredito! Isso não está acontecendo. Era só o que me faltava... – Disse Marcela furiosa. – Fique sabendo que não há nada entre mim e ti. Nenhum tipo de relação, a não ser a de colegas de trabalho. Entendido?

     Gaspar não respondeu, levantou-se saiu da sala.

    Marcela suspirou. Olhou para as flores e sorriu. Ela ousaria burlar a sua própria regra, apenas com o Flavio. Esse cara era demais!

   Lembrou-se do aviso de sua boa amiga, Natalia. Ela era uma observadora nata, não deixava escapar nada. Teria que contar para ela o que havia sucedido.

                                                       ---

     Marcela saia do banho, quando o telefone tocou. Olhou visor e sorriu.

     -- Alô!

     -- A doutora está no seu horário de folga?

     -- Sim... – Disse ela rindo. – Estou em casa, de pijama, pronta para repousar.

     -- Oh! Estou atrapalhando?

   -- Não! Obrigada pelas flores. São lindas! Adoro amor perfeito. Como descobriu?

     -- Como eu já citei, para a mulher perfeita, só um amor perfeito.

     -- Obrigada! Sinto-me lisonjeada.

     -- Podemos marcar o jantar para a próxima sexta feira?

     -- Sim. Meu plantão é na quarta-feira.

   -- Me manda o endereço por mensagem. Te pego as 21h. Bom descanso, doutora.

     -- Boa noite, Flavio.

     Marcela desligou o telefone, e como uma adolescente atirou-se na cama rindo. Estava feliz... muito feliz!

     Foram dois longos dias. Enfim era sexta-feira.  

    Marcela tinha comprado um vestido naquela manhã, pois suas roupas eram tão ultrapassadas. Escolheu um vestido na cor rosa cha.. Um modelo simples, mas de corte perfeito. A cor tinha assentado muito bem, segundo a vendedora. Iria acreditar!

    As nove horas em ponto, o telefone tocou, anunciando que Flavio a esperava no saguão do prédio. Ela deu um tempinho, embora já estivesse pronta. Não queria demonstrar o quanto estava feliz...

     Quando ela saiu do elevador, ele a olhou de cima a baixo, nada disse, mas deu uma piscadela, que ela entendeu como aprovação. O porteiro correu para abrir a porta, e sorriu para ela de modo animador. Confiante ela entrou no carro.

    Enquanto se dirigiam para o restaurante, Flavio nada disse, no entanto a olhava com intensidade. Marcela ficava abalada com aquele olhar. O homem falava pelos olhos! Naqueles olhos ela via admiração, simpatia e encantamento. Ao menos era assim que ela interpretava.

    O jantar foi delicioso, eles conversaram sobre as viagens dele, seu trabalho e a vontade de voltar a uma rotina mais caseira.

    -- Sei que deves estar achando que o meu trabalho é fascinante... Me leva para diferentes lugares e oportuniza conhecer muitas pessoas. Sim, isso é bom. Mas estou cansado. Eu não tenho uma casa para voltar. Entende. Eu moro nos hotéis.

    -- Eu te entendo perfeitamente. Eu sou muito rotineira e caseira. Eu gosto do meu cantinho, como eu digo. Gosto do meu trabalho, do ambiente do hospital, até das agitações num momento de emergência. Faz parte do trabalho.

   -- Nossas vidas são completamente diferentes. Consegui ajeitar para ficar até o casamento do Silvio. Depois retorno a minha vida de nômade.

    -- Então vens pouco ao sul...

  -- Sim... Estou programando um novo roteiro. Espero que seja aprovado. Trabalhar com a família não é fácil.

    -- Acredito...

    -- Esse tom de rosa te assentou muito bom. Estás muito bonita, posso até dizer, fascinante.

      -- Obrigada. – Disse Marcela sentindo as faces quentes.

    Flavio percebeu e sorriu. Esticou o braço e pegou por cima da mesa a mão dela e afagou com carinho. Seu olhar, agora era puro desejo.

    Eles passaram a sair com frequência, assim, como as flores se tornaram diárias. No hospital todos sabiam que as flores espalhadas pelo saguão principal, eram de Marcela.

      Apenas Gaspar não se divertia com o namoro da doutora Marcela. Ele estava tão contrariado que solicitou a sua transferência para outro setor. Mas, é claro que não foi concedida.

    Marcela estava temerosa. Não conhecia o homem e não imaginava qual poderia a ser a sua loucura, ou a paixão que tinha por ela. Natalia também estava preocupada, porque Gaspar não estava de brincadeira, ele falava com muita seriedade. O bom foi que elas conseguiram alterar as escalas de plantão, e agora as duas ficavam juntas. Isso foi um alivio.

    Era a semana do casamento de Claudia, e Marcela estava agitada. As horas corriam e ela tinha tantas coisas para organizar. Flavio a tinha convidado para ficarem juntos até o fim de semana, antes de ele ir viajar. Ela havia aceitado. Seria quase uma lua de mel. Eles ainda não tinham se envolvido sexualmente. Alguns beijos, apenas.

     Marcela estava empolgada.

    Não era do seu jeito ser tão espontânea, normalmente ela decidia o rumo de sua vida, após muito pensar. Mas desta vez era tudo diferente. Na verdade, ela estava fascinada por Flavio, e o desejara desde o primeiro momento.

    Ela tinha conseguido uns dias de folga, queria estar com a mãe, um tempo antes do casamento. Sentia necessidade do afeto materno, embora sua vida amorosa estivesse bem.

     Flavio só poderia vir para o casamento. Alguns telefonemas fizeram com que ele ficasse retido na capital gaúcha. Coisas do trabalho, explicou ele, para a sua namorada, Marcela.

    O dia casamento amanheceu com um sol esplendido. O cerimonia seria ao ar livre, para poucos amigos. Eram 11h quando Claudia, acompanhada da filha, caminhou vagorosamente até a pérgula onde se realizaria o oficio.

    Claudia vestia um vestido rosa hortênsia e levava na mão um buque de violetas. A noiva exalava felicidade.

    Ao lado da mãe, caminhava Marcela, usando um vestido plissado na tonalidade azul bebê. Ela sorria e seus olhos brilhavam, enquanto miravam o homem que o seu lado seria também padrinho dos noivos. Flavio, retribuía o olhar, e a admirava. Em seu íntimo, reconheceu que estava apaixonado. Essa mulher o havia capturado.

    O almoço comemorativo foi alegre. Muitos brindes e alguns discursos foram dirigidos ao casal de noivos. Era cedo, quando os noivos fugiram da festa. Os convidados começaram a retirar-se. Marcela e Flavio estavam se despedindo dos últimos convidados, quando o telefone dele tocou.

   Flavio pediu licença e foi atender a ligação, que foi longa. Ele retornou contrariado e disse a Marcela:

     -- Nossos planos ruíram. Um sério problema de família surgiu. Terei que ir a São Paulo. Mas tu ficas, a suíte está reservada, aproveita esses dias e descansa.

     -- O que aconteceu? Alguém morreu?

     -- Seria mais fácil se fosse caso de morte. Preciso ir. – Disse ele a beijando na face e afastando-se apressadamente.

    Muito triste, Marcela foi para a suíte luxuosa. Olhou em volta e sentiu-se abandonada; completamente só. Deitou-se e chorou.

   Dias depois, uma linda caixa de bombons suíços foi entregue em seu apartamento. No cartão um pedido de desculpas, mas nenhuma explicação. Marcela decidiu esquecer esse estranho romance. Já tinha sofrido muito por amor. E justamente, pelo mau comportamento masculino, que ela escolheu seguir  sozinha.

       Porém, Flavio a tinha capturado com aquele olhar...

   As flores cessaram de aparecer no hospital. Marcela tentava agir com normalidade, mas seu coração estava partido e seus olhos tristes. Ninguém se atrevia a perguntar a razão dessa tristeza. Nem mesmo, Natalia, a sua boa amiga, falava a respeito.

    Gaspar era o único que vibrava com o desengano de Marcela. Ele tornou a se aproximar dela, usando de artimanhas para virar o plantão ao lado dela. Natalia estava de férias, o que facilitou para Gaspar.

                                                  ---

    Flavio sabia que estava devendo uma explicação para Marcela. No entanto não era assunto para ser falado por telefone. Ele realmente estava interessado em seguir em frente ao lado de Marcela. Ela era uma mulher excepcional, e sinceridade era primordial para uma relação ser duradoura. Ele iria revelar o segredo que havia em sua vida.

   Depois de ficar uns dias em São Paulo, ele precisou seguir a sua rotina de trabalho, um substituto estava sendo treinado. Ainda ficaria um tempo distante de Marcela. Ele continuava ligando, insistentemente, mas ela não retornava as suas ligações.

    Flavio reconhecia que ela deveria estar furiosa. Já conhecendo o temperamento explosivo dela, sabia que seria uma tarefa árdua, reconquistá-la. Ele não iria desistir, Marcela valia ouro.

    Após cumprir seu itinerário, Flavio voltou para São Paulo. Antes de ir para o sul, era preciso acomodar a situação que se criara. Janaina era uma pessoa inconsequente...

                                                     ---

     Era sexta-feira, fim de tarde quando Flavio chegou em Porto Alegre. Ele tomou um taxi e foi direto para o apartamento de Marcela. Ele tinha urgência em vê-la, só esperava que ela não estivesse de plantão.

     Flavio saiu do elevador e caminhou pelo corredor e parou diante da porta do apartamento 502. Sentia-se nervoso como um adolescente, estava apaixonado por ela, ou melhor, ele a amava!

     Tocou a campainha e esperou. A porta se abriu e diante dele estava a imagem sedutora dela, vestida com simplicidade e cabelos ainda molhados.

     -- Olá. Precisamos conversar. – Disse ele sorrindo.

     -- Oi. Entre... – Disse ela, afastando-se para ele passar. Ela fechou a porta e o seguiu até a pequena sala. – Sente-se. Quer beber alguma coisa?

     -- Aceito uma água. Estou chegando agora. Vim do aeroporto para cá. – Disse Flavio. – Obrigado. Sei que estás magoada comigo, mas estou aqui para te explicar o que aconteceu. Aliás, a minha vida foi virada do avesso. — Continuou ele.

     -- Não estás sendo dramático demais? – Indagou Marcela com sarcasmo.

     -- Vou te contar e então tu decides se estou exagerando, ou não. – Ponderou ele a olhando.

     -- Desculpe-me. – Falou Marcela encabulada.

    -- Tudo bem. Aquele telefonema que recebi, naquele dia, me abalou.  Uma reviravolta em minha vida, que era tão organizada e rotineira. Uma filha que eu não sabia que tinha. Uma criança, doente, precisando de mim.

     --   Uma filha? E doente?

  -- Sim, e doença grave. Algo neuro degenerativo: Distrofia Muscular de Duchenne. E numa menina de apenas cinco anos. Isso me comoveu e eu mudei a minha vida, para acolher a Marina com amor e carinho. Afinal ela é minha filha...

    -- A mãe dela era tua namorada? – Perguntou Marcela.

    -- Não. Foi um encontro fortuito. E eu devia estar muito bêbado, já que não me lembro e não me precavi, coisa que sempre fiz, justamente para evitar esse tipo de situação. Tanto que inicialmente me recusei a aceitar, e fiz testes em diferentes lugares e ambos confirmaram, que realmente eu sou o pai da menina. Janaina, a mãe, é uma pessoa sem caráter e irresponsável. Marina estava entregue a mulher, a qual ela pagava para criar a criança. Mas quando os sinais da doença começaram aparecer, a mulher não quis mais cuidar. Então a Janaina assumiu o seu papel de mãe, mas por pouco tempo, já que ela não pode mais participar das orgias. Sim, porque a mãe da minha filha, é uma prostituta de luxo.

     -- E a Marina aonde está?

  -- Agora está sob a minha guarda. A primeira providência foi buscar judicialmente a guarda de menina. Contratei uma enfermeira para cuidá-la. E provisoriamente, elas estão morando num dos nossos hotéis em São Paulo. No entanto, eu resolvi vir morar  no sul. Quero me estabelecer aqui em Porto Alegre. E conto contigo para me indicar um especialista para acompanhar o tratamento da Marina. Sei que a perspectiva de vida dela é limitada, e por isso mesmo quero que tenha todo o conforto, atenção e amor.

   -- Conta comigo para o que precisar. Estas pensando em casa ou apartamento?

    -- Quero uma casa, com um pequeno jardim para que Marina possa estar em meio a natureza, que sempre é mais agradável do que estar entre quatro paredes. Não precisa ser grande, quero apenas que seja confortável e que preencha os requisitos indispensáveis para o conforto da menina.

      -- Vamos encontrar... Estás com fome? Que tal uma massa?

      -- Que tal uma pizza?

      -- Acompanhada de um vinho...

      -- Sim, um vinho. Agora já estou aliviado do peso que estava carregando. Um pouco de vinho vai ajudar eu relaxar. Eu estava ansioso para falar contigo. Me desentendi com a minha família, mas isso não é novidade. Eu não me enquadro com eles... Eles não aceitaram a Marinha como membro da família. Imagina se dona Paula e seu Davi vão aceitar uma criança doente e filha de uma prostituta na família?

       -- Verdade? Mas a criança não tem culpa.

       -- Justamente. Estou saindo da empresa. Tivemos um acerto inicial, e vou ficar com os hotéis daqui do sul, incluindo as termas uruguaias. A diferença vou receber em dinheiro. Então poderei investir e expandir os hotéis, ou aplicar em outra atividade. Ainda não pensei sobre essa questão. Teremos tempo para decidir.

         A noite seguiu. Eles conversaram, comeram e beberam o vinho...

         E se amaram com paixão...

                                                        ---

        Um mês depois, Marina acompanhada por sua enfermeira Veronica, chegava à casa do pai, onde um ambiente alegre, confortável e acolhedor a esperava. Marcela ajudou a estabelecer uma rotina saudável a menina, que estava cercada de cuidados, atenção e amor, não só do pai, como também de Marcela.

      Marcela providenciou para Marina fosse logo levada ao dr. Alfeu Zângano, para iniciar o tratamento.

        Os dias passavam...

    A relação entre Flavio e Marcela firmou. Os cuidados com a menina os aproximou, e Marcela estava feliz por poder dar a Marina todo o amor maternal que sempre reprimiu. O aborto que sofreu a traumatizou, e nunca mais pensou em gerar um filho. Mas agora tinha Marina e ela colocou nessa relação todo sentimento maternal que guardava no coração.

        Era uma manhã de sábado, e Marcela levou Marina para um banho de sol no jardim. Acomodou confortavelmente a menina e sentou-se bem próximo. Nas mãos ela tinha livro de história infantil, que lia. Em voz alta, e Marina por sua vez, prestava atenção em tudo o que Marcela dizia.

       Flavio estava parado próximo e apreciava a linda cena que se desenrolava a sua frente. Ali parado, olhando as duas interagirem, Flavio tomou uma decisão, talvez a mais importante de sua vida.

     Manteve-se quieto até o fim da história, e aproximou-se quando filha feliz batia palmas. Cansada a menina logo dormiu. Ele sentou-se no banco junto de Marcela, a abraçou e sussurrou ao seu ouvido:

      -- Aceitas casar comigo?

      -- Casar? Precisamos mesmo casar? Assim não estamos bem?

      -- Sim! Somos felizes... O que acontece que eu sempre sonhei em casar com a mulher amada, com a mulher mais importante da minha vida. Aceitas?

      -- Eu já fui capturada...

      -- Isso é um sim?

      -- Claro que é um sim...

                                                                  Maria Ronety Canibal

                                                                       Outubro 2022

Imagens via internet

 

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