UM DIA,
TALVEZ...
Rosane e Bia
estavam em um barzinho, sentadas junto ao balcão, e como era uma noite fria, Bia resolveu tomar
vinho. Rosane interveio:
--
Vinho? Sabes que logo ficas bêbada com
vinho.
-- Não
importa, hoje estou com vontade de tomar um vinho.
E virou-se
para o barman e disse:
-- Um tinto
suave.
-- É hoje...
Resmungou Rosane. E pediu:
-- Para mim
uma vodca com laranja.
O ambiente
era agradável e sempre muito movimentado, e elas optaram por ficar no balcão
porque dali tinham uma boa visão de tudo. O BARUM era um lugar
divertido. Muitos se arriscavam a cantar... E estava sempre muito cheio.
Elas
localizaram alguns amigos que acenaram para que fossem sentar com eles, havia
lugar na mesa. E elas foram.
Bia pegou
sua garrafa de vinho em uma mão e na outra carregou a taça equilibrando o liquido. Rosane foi atrás
dela. Bia, como era carinhosamente chamada por todos, era uma pessoa de bom
coração, e muito querida por seus amigos, mas
acanhada e atrapalhada. Seus amigos já nem ligavam mais para os “fora”
que ela dava. Mas quando bebia...
Chegaram à
mesa e foi um alarido. Além de, Bruna, Maíra e Luíza estavam Vitor, Mauricio e
um amigo de Vitor, que se apresentou a elas como Pedro. Elas sentaram e Bia
ficou ao lado de Pedro.
Bia olhou
para ele e ficou analisando. Ele parecia ser um cara legal, simpático, tinha um
sorriso cativante, mas não era bonito. Era só um cara ...
E de repente
começaram a desafiar a Bia, que já estava na terceira taça de vinho, portanto
já bem descontraída, para que ela fosse cantar. E ela aceitou, mas levou Pedro
com ela.
Ele
protestou, não cantava nada... Mas ela o pegou pela mão e o arrastou. Todos na
mesa estavam as gargalhadas, sabiam que ela ia aprontar.
Pedro
resolveu entrar na brincadeira, senão seria pior. Subiram ao tablado e ele foi
para o canto para deixá-la como centro das atenções, e ela anunciou:
-- Eu vou
cantar... Esse cara está aqui comigo só para me dar coragem... Eu vou cantar Hoje...
Hoje, é hoje, é hoje, é hoje....
E todo mundo assoviou para ela que começou a cantar e dançar
fazendo os trejeitos da coreografia.
Pedro ficou ali parado olhando para ela admirando sua performance. E pensou:
que garota de coragem...
Quando ela
terminou foi uma algazarra geral no bar. Queriam que ela continuasse cantando.
E Bia bem empolgada cantou mais uma música,
e depois Pedro a tirou do tablado e a levou para mesa.
A diversão
continuou. E Bia tomou toda a garrafa de vinho. Pedro viu que ela estava
ficando muito bêbada, resolveu a levar para fora. O ar frio faria bem para ela.
Alguns já tinham ido embora. Rosane foi atrás para saber como Bia estava.
Pedro disse
a Rosane:
-- Ela está muito “alta”, vou levar ela para
casa. Onde ela mora?
-- É perto daqui...
Dois quarteirões. Queres que eu vá
junto?
-- Não
precisa... Ela mora sozinha?
-- Sim.
E Pedro a
abraçou e a levou para casa. E ela foi comentando com ele sobre a noite, que
tinha sido muito legal.
Ao chegarem
Pedro pediu a chave e ela não achou. Entregou a bolsa para ele. Depois de
vasculhar ele achou o molho de chaves. Abriu a porta do apartamento, e a sentou
no sofá. Foi para a cozinha fazer um café forte para ela tomar. Quando voltou
ela estava dormindo.
E ele se
sentou ao seu lado e a puxou para ficar com a cabeça apoiada, mas caia, então
ela passou o braço por cima dos ombros dela para que a cabeça ficasse firme.
Ficou
pensando em como ela tinha o impressionado. Ela era meio esquisita, não era
feia, mas... Pensou no jeito dela dançar... Sorriu ao lembrar...
Tinha
gostado dela. Não era o tipo sofisticado, que usava muitos penduricalhos e
maquiagem. Ela era bem natural. Era bem feita de corpo.
Rosane ligou
para o telefone de Bia e Pedro atendeu:
-- Oi
conseguiste chegar com ela em casa?
-- Sim
tranqüilo. Ela está dormindo no sofá.
-- Coloca-a
na cama, recosta a cabeça com travesseiros, que ela vai dormir até amanhã.
Tenho certeza.
-- Ok. Mas
vou ficar por aqui, caso ela passe mal...
-- Ta bem.
Já estou em casa. Se precisares de algo me liga. Beijos.
-- Ok.
Beijo.
Pedro a
levou para a cama e resolveu tirar as roupas dela, que não pareciam
confortáveis. Tirou o jeans com dificuldade, era muito ligado ao corpo. E
depois foi um sufoco tirar a blusa.
Procurou e achou um pijama, vestiu nela e acomodou ela na cama
e a cobriu estava frio. Ele também tirou seus jeans e seu pulôver e deitou-se
ao lado dela. Tinha esfriado muito... Chegou-se para perto dela para se
aquecer. E dormiu.
Cedo da
manhã e ele acordou, e ela ainda dormia agora abraçada a ele. Ele riu... E
pensou como será ela ao acordar? Ficou ali quieto olhando para Bia.
Ela acordou
e não entendeu porque ele estava em sua cama. Não brigou, apenas pediu
explicação. E Pedro contou como tinha sido a noite dela. Ela ficou
envergonhada, suas faces ficaram vermelhas. Ele achou engraçado.
Mas ela
estava com duvidas e perguntou:
-- E
aconteceu alguma coisa entre nós?
-- Não.
Apenas achei que não devias ficar sozinha. Deitei-me na tua cama porque eu estava
com frio. Fica tranquila... Apenas como bons amigos.
-- Obrigado
meu bom amigo.
E
levantou-se para ir ao banheiro. Tomou
um banho e vestiu algo confortável. E quando saiu do banheiro Pedro estava
vestido e havia feito café.
Bia pegou
pão, manteiga, queijo e geleia no refrigerado e sentaram para tomar o café da
manhã. Ela estava com um pouco de dor de cabeça... Mas conversaram bastante.
Cada um falou um pouco de si. Agora poderiam se consideram amigos.
Então, Pedro
se levantou e anunciou que ia embora. Bia pediu para ele ficar, tinha gostado
de conversar com ele. Mas ele insistiu que precisava alimentar seu velho
cachorro Pluto.
Então sugeriu:
-- Vamos
almoçar juntos?
-- Aonde?
-- Aqui, eu
trago o almoço.
-- Eu faço
negrinho de sobremesa...
-- Legal.
Até depois.
Ele
despediu-se dela com um beijo na face. Bia ficou surpresa. Foi arrumar a cama
abrir a janela para entrar o sol. Depois foi para cozinha fazer negrinho.
Enquanto
mexia o doce ela pensava como ele tinha sido legal com ela, mal tinham se
conhecido e ele cuidara dela. E seus amigos onde tinham ficado? Ela teria que
ligar para Rosane, mas essa hora ela ainda estava dormindo. Só mais tarde.
Bia ligou a
TV e ficou esperando Pedro voltar.
Pedro chegou
com um frango assado e uma salada.
Almoçaram. E ficaram juntos o resto do dia. Conversando, contando casos,
se divertiram muito. Havia afinidade entre eles.
O tempo
passou e eles se tornaram os melhores amigos. A turma havia se dissipado, cada
qual com seus compromissos e se espalharam pelo mundo e pouco se viam. Mas
Pedro e Bia estavam sempre juntos. Pedro adorava e jeito moleque dela. Restaram apenas eles na mesma cidade. E eles
sempre saiam juntos.
Estava um
dia frio e Pedro ligou para convidá-la para sair:
-- Meu amor,
hoje está um frio gostoso, vamos nos divertir. Faz tempo que tu não tomas
vinho... Vamos?
-- Ah tu
queres se divertir as minhas custas... Mas estou com muita vontade de cantar,
vamos ao BARUM?
-- Com
certeza. O vinho de lá faz um bom efeito... Passo para te pegar. Beijão.
-- Outro.
Naquela
noite não foi diferente, e ela cantou e dançou e arrasou... Ele amava muito
aquela garota. Ele a carregou para casa. a despiu e a acomodou na cama, depois
ele tirou sua roupa e deitou-se ao lado dela, se achegou e dormiram abraçados.
No outro dia
de manhã, quando acordou, Pedro ficou
cheio de desejos por ela, não resistiu e a acarinhou com suavidade. Ela
acordou e correu para o banheiro.
Em seu
pensamento correu a ideia que ela devia estar horrível, lavou o rosto, escovou
os dentes e voltou para cama. Ele a esperava. Ela se aninhou junto dele e Pedro
a puxou para mais junto dele e a beijou. E fizeram amor. Pela primeira vez ele
não tinha feito apenas sexo. E isso mexeu com ele, e se deu conta, que era
muito maior do que imaginava, o seu amor
por ela.
Bia não
tinha muita experiência, mas sentiu algo
especial em estar ali com ele, desconfiava que era amor de verdade. Mas não
disse nada. Ficou curtindo ainda a proximidade dele. Seu cheiro, sua pele, seu
calor faziam seu corpo ansiar por ele.
Depois
levantaram, e eles foram para cozinha fazer café e planejar o que eles fariam
durante o dia. Tinha começado a chover e a opção era ficar em casa, de
preferência na cama que era lugar quente.
E cumpriram
a meta. Curtiram-se muito, riram conversaram, brincaram e se amaram mais uma
vez...
O sonho de
Bia era ser escritora. Ela era formada em Letras e Literatura. Mas ela
precisava trabalhar e não tinha tempo para escrever. Ela estava trabalhando de
secretária particular de uma ricaça. Tinha um bom salário, mas pouco tempo
livre.
Pedro havia
se formado em Administração de Empresa e tinha aberto uma cafeteria, que também
consumia com seu tempo. E eles pouco se viam.
Bia estava
com saudades do amigo, ligava para ele, mas sempre tinha que falar rápido.
Quando a nostalgia a dominava ela se lembrava da intimidade que tiveram por
algumas vezes. Tinham sidos momentos bons. Mas preferiram serem amigos a ser
amantes, pois a amizade perdura enquanto que
o amor muitas vezes não. Mas ela amava Pedro.
Ela conheceu
um professor e estavam namorando. Ela ligou para Pedro para contar a novidade,
a qual ele respondeu:
-- Eu
preciso conhecer para saber se ele é bom o suficiente para ti. Só assim posso
dar a minha permissão.
--
Permissão? E as tuas namoradas, que devem passar de cem, nunca pedistes
permissão para mim... Não é justo.
-- Mas isso
é diferente. Eu tenho que cuidar de ti... Sempre! Não sei por que não entendes?
Tu és a minha jóia mais rara.
-- Quando
vamos nos encontrar?
-- No
domingo pela manhã no parque.
-- Certo.
Era o lugar
preferido deles, sempre que podiam passeavam juntos no parque. Ela não ia levar
seu namorado. Queria ficar só com o
Pedro, para matar a saudade que apertava seu coração.
Domingo os
dois se encontraram, não precisavam hora marcar nem local, eles sabiam... Pedro
a abraçou e a beijou com carinho. Ficaram um tempo assim abraçados, cada qual
curtindo o momento. Então de mãos dadas caminharam e depois sentaram a sombra.
Ficaram se olhando como se fossem namorados e só depois conversaram. Eles se
amavam, mas tinham medo de perder esse amor.
No sábado
seguinte Pedro apareceu ano apartamento de Bia, queria conhecer o tal namorado.
Bia apresentou Lúcio a Pedro, e foi uma situação estranha, os dois se encararam
com se fossem inimigos. Pedro ficou um pouco e foi embora, com o coração apertado,
por que viu que Lúcio era um cara legal, ele não tinha como interferir...
Estava na iminência de perder espaço na vida de Bia.
Passado uns
meses Bia ligou dizendo que estava com saudades, precisavam se encontrar e
marcaram jantarem juntos. Ao se encontrarem
Pedro não resistiu e logo perguntou:
-- E o
Lúcio?
-- Não deu
certo. Ele é um cara bom, me ama, mas eu não o amo. E uma relação unilateral
não vai para frente.
-- Sim, tens
razão. Mas vai aparecer alguém...
-- Já
existe! E não vou falar sobre isso. O meu assunto é outro. Eu vim te dizer que
vou deixar meu emprego. Não aguento mais a chatice daquela mulher. Ganhei um
bom dinheiro, e vou me dedicar ao livro.
-- Que ótima
noticia. Se precisares de inspiração me chama.
Ambos riram.
Ela disse:
-- Tenho uma
saudade dos tempos em que éramos bagunceiros... De repente a vida se tornou tão
séria.
-- É mesmo, estamos ficando velhos...
-- Velhos e
sozinhos...
-- Sozinhos
não, nós temos um ao outro e nos amamos...
-- Será?
Bia deixou o
seu emprego. Tinha conseguido guardar
algum dinheiro e então queria logo começar a escrever seu livro. Mudou-se para
um apartamento minúsculo, que era bem mais barato. Assim o seu dinheiro duraria
mais tempo. Só que ficava muito longe de onde sempre morou e muito distante de
Pedro.
Fazia tempo
que não se falavam, ela estava concentrada escrevendo seu livro. E ele
envolvido em suas aventuras amorosas.
Era fim de
ano e Pedro convidou Bia para passarem os feriados na praia. Ele reservou um
quarto de hotel. Queria ficar com ela, necessitava disso, só ela lhe dava
forças para enfrentar as dificuldades do dia a dia. E fazia muito tempo que não
ficavam juntos, que não dormiam juntos.
Ela tinha
imposto algumas condições, uma delas era quartos separados, e nada de tomarem
vinho. Mas ele burlou as regras... E desculpou-se dizendo que o hotel estava
lotado, aliás, o que não era mentira.
E mais uma
vez amaram-se com paixão, estavam sempre abraçados e com olhares apaixonados um
para o outro, e quem os via pensava que estavam em lua de mel.
Foram dias
magníficos. Voltaram felizes, com os corações abastecidos de amor... Prontos
para os desafios da vida.
Pedro era
filho único e tinha problema de relacionamento com seu pai, que fora sempre
muito exigente. Sua família tinha posses, mas Pedro sempre quis ser
independente e desde cedo saiu de casa
e trabalhou para se sustentar. Sua mãe seguidamente enviava algum presente para
ele, e quase sempre roupas.
Mas agora
sua mãe estava doente, com câncer e seu estado era muito critico. Ele estava
indo vê-la todas as semanas e a cada visita a encontrava mais fraca. Ela muitas
vezes estava dopada pelos remédios para amenizar as dores que a afligiam.
Até que uma
manhã recebeu a noticia de seu falecimento. A
primeira atitude de Pedro foi ligar para Bia, precisava dela para poder
chorar a sua dor. Mas não a encontrou, deixou recado... Bia não retornou as
suas ligações. Então ele foi vê-la. Bia estava ausente!
Depois do
enterro os dois, pai e filho, conversaram, como há muito tempo não faziam, e
ele prometeu ao pai que o visitaria mais seguido. Abraçaram-se e Pedro saiu.
Ambos sentiam a mesma dor e o mesmo sentimento de perda e isso os uniu.
Bia havia
ido visitar sua família no interior e quando chegou foi ver Pedro. Ela o encontrou diferente, com
uma tristeza no olhar que a deixou com o coração partido.
Ela
confortou seu bom amigo.
Passou mais
um tempo e Pedro a procurou em seu “apertamento” como ele brincava, para contar
uma novidade:
-- Meu anjo
eu vim te contar algo que mudará nossas vidas...
-- Eu não
quero saber... Se vai te afastar de mim não me conta... –disse Bia, bem baixinho, e a ponto de chorar.
-- Eu vou
ter que me casar...
-- Casar?
Por quê?
-- Ela está
grávida. Será daqui um mês.
-- Um mês?
-- Sim,
mas tu continuas sendo o meu tesouro, o
meu amor maior... Eu vacilei, e agora vou ter que casar.
-- Tu a
amas?
-- Eu gosto
dela...
-- Espero
que sejas feliz.
Pedro se
aproximou dela, a abraçou, deu um beijo em sua testa e foi embora. Ela ficou
ali parada olhando fixamente para porta por onde ele tinha saído. E agora...
Sua vida estava vazia.
Ela não foi
ao casamento dele. Ele ligou algumas vezes e ela não retornou. Não se
conformava, não aceitava o casamento dele.
Bia resolveu
dedicar-se mais ao livro, já estava quase no fim Faltava revisar e enviar para
o editor. Se tivesse sorte antes do Natal seu livro estaria lançado.
E na
Livraria Central, no dia do lançamento, havia muitas pessoas querendo que ela
autografasse o exemplar. Bia estava tão empolgada que nem percebeu que Pedro
estava a observando encostado a parede lateral.
Depois de
atender a uma fila enorme, Bia levantou-se para se esticar. Mas não saiu dali,
e alguém lhe estendeu um copo com água. Ela pegou automaticamente e agradeceu sem
olhar, mas seu coração balançou e ao virar deu com Pedro junto dela. Ela sorriu
e o abraçou. Ele disse:
-- Eu também
quero um autografo...
-- O teu
será especial... Estás só? E tua esposa?
-- Estou
separado em processo de divórcio.
-- O que aconteceu?
-- Ela
perdeu a criança logo que casamos, e não havia mais razão para estarmos juntos.
-- Oh... Eu não esperava por isso...
-- Pois é...
A vida é assim... Muito difícil.
-- Tu podes
me esperar, depois saímos e vamos conversar.
-- Sim, te espero
sempre.
Bia sentou e
voltou a autografar seus livros. E Pedro foi ler o livro que Bia tinha escrito.
Era uma historia leve divertida e deu muitas risadas.
Mais tarde
eles foram jantar. Escolheram um lugar tranqüilo, queriam conversar, se curtir.
E Pedro perguntou a ela:
-- Eu vou
vender a cafeteria e vou me aventurar pelo mundo, quero conhecer a Austrália,
minha vida está muito chata, sem objetivo, não queres vir junto comigo. Teu
livro já está publicado...
-- Mas tu
estas com tua vida estruturada, a cafeteria é um bom negocio, tu sabes, dá um
bom lucro. Não sei por que estas insatisfeito...
-- Tu não me
respondeste...
-- Não,
claro que não. Vou escrever o segundo livro da minha trilogia. Vou começar
logo. E além do mais, meu pai esta adoentado, devo tirar uma temporada em casa.
Vou entregar o apartamento.
-- Até que
enfim vais sair daquele cubículo. Fica no meu apartamento, assim quando eu
voltar sei onde te encontrar.
-- Bobagem,
tu tens o faro bom, sempre me acha...
E Bia riu,
mas Pedro ficou olhando para ela, pegou sua mão e falou;
-- Eu acho
que nós estamos fazendo tudo errado. Por isso somos tão inquietos...
-- Talvez...
– foi o que Bia respondeu, olhando nos olhos dele. E continuou. –- Vais demorar
nesta tua fuga?
-- Não
sei... Meu coração é quem vai decidir. Se fico ou se volto.
-- Mas tu
não ousas ficar... E eu como vou suportar?
Pedro pagou
a conta e a levou para seu apartamento. Queria estar com ela, precisava dela.
Já fazia
oito meses que Pedro tinha viajado, e Bia tinha se dedicado totalmente a
escrever seu livro, mas sentia muitas saudades dele. Ela agora estava
procurando um apartamento para comprar, seu livro havia rendido um bom dinheiro
e o segundo livro já estava na revisão final. Logo seria lançado.
E ela
encontrou um lindo apartamento, mobiliado e muito acolhedor. E no mesmo bairro
em que Pedro morava. Bia estava providenciando sua mudança.
Agora ela
estava namorando Ricardo, dono de um pequeno restaurante no centro da cidade.
Conheceram-se por acaso. Ela fora almoçar lá, porque era próximo a editora e ao
entrar foi reconhecida e muitos pediram autografo a ela. Inclusive o dono do
lugar. Conversaram e começaram a se encontrar seguidamente, até que um dia ele
expôs seus sentimentos e pediu para ficarem juntos. Bia hesitou, mas decidiu
aceitar, mas sem morar junto.
Antes de
deixar o apartamento de Pedro, ela deixou um bilhete para ele com o seu novo
endereço. Desde que Pedro viajara, eles nunca mais se comunicaram. Pedro
precisava desse tempo, precisava colocar suas idéias em ordem, ele sempre fora
assim. E Bia respeitava esse jeito dele.
Passou uns
dias e Bia estava novamente na Livraria
Central autografando seu novo livro. Agora muito mais pessoas a cercavam e até
jornalistas a entrevistavam.
Era fim de
tarde, ela estava cansada, pois estava desde as quinze horas, sentada
autografando, ficara cerca de quatro horas ali. No outro dia, ela estaria outra
vez na livraria.
Dessa vez
era Ricardo quem a observava. Ele estava encantado com o carinho que ela
tratava cada um dos seus leitores. Olhou para o lado e mais adiante tinha um
homem barbudo e cabeludo, com a pele queimada do sol olhando para ela de um
modo que não o agradou.
Então
Ricardo foi para junto dela. A fila tinha se desfeito e aquele homem chegou a
mesa e pediu:
-- Eu
gostaria de um autografo...
Lia estava
de pé, conversando com Ricardo, mas seu coração disparou, ela virou-se e deu
com Pedro ali, tão magro e abatido, com um aspecto terrível, completamente
desleixado, que a deixou horrorizada, ele que sempre fora tão cuidadoso no seu
modo de vestir. O que havia acontecido?
Ela foi até
ele e o abraçou, e Pedro a envolveu num abraço demorado. E sussurrando ao seu
ouvido:
-- Minha
linda, quanta saudade... Eu te amo, amo demais... Não sei viver sem ti...
-- Eu sei,
eu também te amo, e foi difícil... Muito difícil ficar sem noticias tuas...
Ricardo
estava sem graça, pois aquele abraço estava chamando atenção das pessoas. E ele
ali com cara de idiota, olhando sua namorada abraçada a um vagabundo. Isso era
demais.
Ricardo foi
até eles e tocou no ombro de Bia e pediu para irem embora. Ela se afastou de
Pedro e olhou para ele e disse:
-- Esse é
Pedro meu bom amigo que não vejo há quase um ano. Não. Eu vou ficar com ele.
Amanhã nós conversamos.
Ricardo
fechou a cara e se retirou rapidamente da livraria. Bia pegou suas coisas e saiu
dali de mão com Pedro. Foram para o apartamento dela. Ela pediu uma pizza e
eles ficaram sentados no chão conversando, Pedro contando suas aventuras.
Mas de
repente Pedro silenciou e ficou olhando para Bia e a puxou para perto dele e
murmurou:
-- Eu quero
ter um filho contigo.
-- Ãhh. Eu entendi direito, um filho?
-- Sim. Tem
que ser agora, depois não teremos mais chance. Bia casa comigo...
-- O sol da
Austrália te fez mal? Queimou teus miolos?
-- Eu tive
tempo, muito tempo para pensar. E descobri o que eu já sabia há muito tempo. Eu
descobri que a pessoa mais importante em minha vida és tu. Sempre te amei,
desde aquela noite que me carregastes para o palco para cantar... Lembra?
-- Sim, foi
onde tudo começou...
-- Eu sei
que tu também me amas. Nós nos amamos e só seremos felizes quando decidirmos
ficar juntos. Não tem outra alternativa para nós, só assim encontraremos a felicidade. O caminho é um
só...
-- Eu sei. A
tua ausência quase me enlouqueceu, me
senti muito só e abandonada.
-- Mas foi
preciso, a solidão nos fez refletir, colocar os pés no chão. Vou retomar minha
vida.
-- E teu
pai? Já falastes com ele?
-- Sim por
telefone. Ele está casado com Dirce, uma amiga de minha mãe, tu acreditas?
-- Capaz?
-- Sim. O me
fez sonhar ser pai, é querer ser um bom pai, amigo, carinhoso e amado. Eu quero
dar a meu filho, ou filha a atenção que não tive de meu pai.
--
Entendo...
-- Tu ainda
não me respondeste...
-- O quê?
-- Se casa
comigo...
-- Caso meu
amor...
E o
vislumbre de felicidade os fez sorrir.
Pedro montou
outra cafeteria com serviço de bistrô ao meio dia, agora num espaço
maior e bem localizado. Resolveram morar
no apartamento de Bia, e alugaram o de Pedro. Bia estava escrevendo seu
terceiro livro enquanto recebia os lucros da venda dos dois primeiros.
Casaram em
uma cerimônia simples, seus amigos vieram prestigiar o casamento deles. E todos
disseram a mesma coisa: “demorou”.
Após a
pequena comemoração de casamento Pedro e Bia, pegaram o carro e saíram sem
rumo. Queriam descobrir um lugar sossegado em que eles pudessem curtir a sua
lua de mel.
Tudo corria
bem entre eles, estavam felizes, se conheciam profundamente e se completavam.
Respeitavam as suas diferenças. Mas Bia
não engravidava. Tinha recém completado trinta e oito anos e como ela mesma
dizia:
-- O tempo
de validade está se esgotando.
Pedro achou
que deveriam procurar um médico, pois ele poderia ter algum problema. Fizeram
todos os exames e estava tudo bem com os dois. O médico pediu que não se
preocupassem que vivessem a vida com normalidade e logo ela estaria grávida. E
assim aconteceu.
E o tempo
correu e agora, já no oitavo mês de gravidez, Bia estava decorando o quarto de Laura, que
nasceria em semanas. Estava tudo pronto. Era só esperar.
Pedro estava
nervoso, ansioso nos últimos dias. Havia contratado um gerente para a cafeteria
para poder estar mais junto de Bia. Os pais dela também estavam vindos.
Chegou o
dia.
Pedro
acompanhou Bia em todos os momentos, segurou sua mão e acarinhou seu braço. E
quando as dores mais fortes vieram, ele se desesperou, o sofrimento dela o
atingia fortemente. E Laura nasceu.
Ela era
linda, uma perfeita mistura dos dois. Agora ele estava realizado na vida. Bia
que sempre foi sua melhor amiga, e seu grande amor estava com ele, e agora
chegara Laura para completar sua felicidade.
Tinha a sua
família para amar e cuidar.
Maria Ronety Canibal