segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

EU PRECISO DE TI


              
                   
                   
                                                   EU PRECISO DE TI



Lara entrou em seu prédio, pegou em sua caixa a correspondência e subiu para seu apartamento. Estava curiosa com um envelope especial que estava entre os demais. O papel era na cor azul hortênsia e muito distinto.
Ela abriu e viu que era um convite de casamento de sua amiga Simone. Em um anexo havia, um pequeno bilhete, com o convite especial, para ela ser sua madrinha. Isso a fez chorar... Tanta coisa tinha acontecido...   E a fez lembrar o passado e voltar ao tempo feliz...

Lara estava feliz! Tinha passado no vestibular e logo estaria saindo de sua cidade para cursar Engenharia Biomédica, na UNIFRA em Santa Maria, RS, uma cidade universitária, situada no coração do estado de onde vinham jovens estudantes de todos os quadrantes do estado e até do exterior.
Ela já estava praticamente de malas prontas, pois estava ansiosa demais. Ela iria uns dias antes, pois precisava encontrar um lugar para morar. Sua mãe, que era viúva, não poderia acompanhá-la por ter compromissos de trabalho.
Foi na imobiliária, que Lara conheceu Simone, que era também calouro. Com entusiasmo, as duas, conseguiram alugar duas unidades vizinhas num prédio de pequenos apartamentos próprios para estudantes. Elas estavam cheias de expectativas para seus cursos, e dos novos amigos que fariam. Conversavam muito e estavam se dando muito bem. Poderia se pensar que já eram as melhores amigas.
As férias estavam terminando, e Lara logo providenciou sua mudança. Ela gostava de tudo bem arrumado, e mesmo gastando pouco dinheiro, ela conseguiu deixar o lugar acolhedor. E o seu ninho como costumava dizer.
Os móveis era apenas o essencial, fogão, geladeira, uma mesa e quatro mochinhos, e um pequeno armário para guardar os mantimentos e louça, que também era pouca. O apartamento era tipo quitinete, e ela colocou sua cama num canto e encheu de almofadas coloridas, para servir também de sofá. Um pequeno armário completava seus pertences. Ela estava orgulhosa de seu trabalho. Tinha ficado uma graça o seu AP.

Mesmo ainda faltando uns dias para o início do semestre, naquele fim de semana, já havia muitos jovens circulando pelos corredores.  Lara já tinha conversado com alguns. Ela sempre foi muito comunicativa, logo fazia novas amizades, o que não acontecia com Simone, que era um pouco preconceituosa, para não dizer esnobe.
Simone vinha de uma família (perfeita) e de muitas posses, e ela demonstrava ter sido sempre muito mimada, e suas vontades eram uma ordem. Lara, porém, vinha uma família cheia de problemas, ela era filha única e tinha crescido sem o pai, pois ele morrera de acidente de moto, quando ela era ainda muito pequena, de forma que ela mal se lembrava dele. Sua mãe era advogada e trabalhava muito, e sempre tinha um novo namorado que consumia todo seu tempo livre. Portanto, Lara desde muito cedo apreendeu a cuidar de si mesma. Era decidida e independente.
As aulas começaram.
Era impossível não fazer novas amizades, todos os dias, num prédio onde todos os moradores eram jovens estudantes universitários. Nem todos cursavam a mesma universidade, e tão pouco o mesmo curso. Mas em alguns dias Lara já tinha conhecido um rapaz que deixou seu coração abalado.
Augusto era seu colega de aula em algumas matérias, já que ele cursava Engenharia Civil. Ele era incrível, alto, forte e muito lindo. Dono dos olhos mais lindos que ela já tinha visto. Uma tonalidade de verde quase esmeralda que contrastava com os cabelos escuros e a pele morena. E o sorriso? Era o sorriso mais cativante que ela conhecia...
E demonstrava estar interessado nela. No entanto ele não morava no mesmo prédio que ela. Mas isso não impedia de ele aparecer sempre por lá e ficar junto dela. 
Augusto era alegre e atencioso, a esperava na entrada do campus para irem juntos para a sala de aula, e quando estavam em salas diferentes, ele a aguardava próximo a saída. Ele estava, de fato, gostando dela.
 Era um sábado de tarde e ele a convidou para tomar um sorvete, e ali enquanto saboreavam o gelado, Augusto falou:
-- Tu és uma criatura incrível!
-- Eu?
-- A guria mais bonita que eu já vi.
-- Obrigada. – Lara olhou para ele um pouco envergonhada. Não estava acostumada com elogios.
-- Tu queres namorar comigo?
-- Sim, eu quero.
E daquele momento em diante eles formaram o para perfeito. Eles eram alegres e divertidos, e se gostavam muito. O amor deles era notado por todos. 
O semestre passou rapidamente. E nas férias de inverno Lara não foi para casa. Não gostava do namorado mãe, pois ele a olhava com um olhar de cobiça e isso a incomodava muito.
Então Augusto a levou com ele para Cachoeira do Sul. Queria apresentá-la a sua família, porque ela era mulher de sua vida, a mulher de seus sonhos. Os pais dele acolheram Lara com muito carinho e ficaram surpreendidos quando os dois ocuparam o mesmo quarto.
Pela manhã, Lara ainda estava no quarto quando ouviu vozes alteradas, ficou quieta tentando entender o que diziam:
-- Pai, o que tem de mal. Nós estamos juntos, nós nos amamos, só isso...
-- Teu irmão nunca desrespeitou o ambiente familiar.
-- Mas Leandro desde cedo namorou a Fabi que morava a dois passos daqui. Quero ver se ela tivesse que ficar aqui onde ela dormiria? Claro que com ele. Em que mundo vocês vivem.
-- São conceitos que temos. Gostamos muito da Lara, ela é uma moça bonita, inteligente, alegre e realmente demonstra gostar muito de ti, mas esse comportamento eu não esperava.
-- Pai, tu e mãe estão por fora da realidade. Eu vou propor a ela para nós moráramos juntos agora no próximo semestre.
-- Bom, ficamos por aqui. Não quero constranger a moça.
-- Obrigado pai. Mas abre um pouco a tua mente.
Foi então que Lara resolveu sair do quarto e ir para a sala. Seu Luis a acolheu com um alegre bom dia, e a levou para tomar café na cozinha que dona Rute já tinha avisado que estava pronto.
E eles passaram umas férias maravilhosas, e Augusto apresentou Lara a sua turma. Foram a muitas festas e churrascos, e no último sábado retribuíram a todos os convites com um churrasco na garagem de seu Luiz. 
As duas semanas de férias passaram rápido e logo eles estavam de volta a Santa Maria para retomar os estudos.
De fato, naquele semestre Augusto se mudou para o apartamento de Lara, pois a localização era melhor e o aluguel mais barato, ainda mais compartilhado. Compraram uma cama de casal e se ajeitaram na quitinete.
A felicidade deles era contagiante.

Desde o início do curso eles estavam juntos e nunca tinham tido uma briga séria. As poucas vezes que discordaram, sempre foram por bobagem.
Eles formavam o par perfeito, era o que diziam seus amigos e acrescentavam que eles chegavam a ser chatos de tão apaixonados que eram.
O tempo passou rapidamente, e agora tinham chegado ao final do curso.
E eles estavam às portas da formatura, e Augusto decidiu que estava na hora de selarem o compromisso e a convidou para jantar. E ele pediu que ela colocasse uma roupa mais chique, pois o lugar que iam era de classe.
Lara se vestiu com requinte. Escolheu um vestido preto de seda e colocou sandálias também pretas, prendeu o cabelo num coque baixo e usou um par de brincos dourado combinado com a gargantilha. Ela estava linda.
Augusto elogiou:
-- Como tu estás linda!
-- Obrigada.
-- Mas tu também estás de tirar o fôlego... Com esse terno. Eu gosto de te ver arrumado assim.
-- É... Mas eu sempre te tiro o fôlego, não é verdade?
-- Sim. Mas hoje de uma forma especial.
-- Hum. Quer dizer que nos outros dias é corriqueiro...
-- É... Mais ou menos. – Ela deu uma risada debochando dele — Mas agora falando sério, aonde nós vamos?
-- A um lugar especial, para uma ocasião especial.
-- Eu ainda não estou conseguindo adivinhar...
-- Não seja tão curiosa. No momento certo saberás. Vamos...
Ele a levou ao melhor restaurante da cidade. Augusto tinha feito reserva, e quando chegaram ao restaurante, o casal foi levado para uma mesa mais no canto, em um espaço especial.
Era um ambiente acolhedor, bem decorado, com pequenos vasos de flores sobre as mesas vestidas com toalhas na tonalidade brancas. Era muito lindo e agradável.
Eles fizeram o pedido e escolheram o vinho. Ambos estavam alegres e conversaram sobre muitas coisas.
 Na hora da sobremesa que Augusto ficou sério, pegou a mão de Laura, acariciou e levantou os olhos para ela, que o olhava com um sorriso nos lábios.
Então ele falou:
-- Lara eu te amo muito. E tu me amas?
-- Sim, eu te amo muito. Tu bem sabes...
-- Se nós nos amamos tanto assim, precisamos pensar em nosso futuro juntos.
-- Sim...
-- Então acho que devemos confirmar o nosso amor em um compromisso.
-- Compromisso?
-- Lara, tu aceitas casar comigo?
E ao mesmo tempo em que falava Augusto tirou do seu bolso um anel com uma linda safira contornada de pequenos diamantes. E estava pronto para enfiar no dedo de Lara, quando ela puxou a mão. E perguntou:
-- Casar?
-- Sim meu anjo, eu estou falando em casamento, e para muito breve.
-- Não posso.
-- Como?
-- Eu te amo muito, mas não posso fazer isso. Eu sou muito nova e preciso conseguir um trabalho, que não sei onde será. Tu sabes que o mercado de trabalho para mim não é ainda tão aberto. Eu tenho que aceitar onde me ofereceram.
-- Mas...
-- Pensa. Seu eu tiver que ir para São Paulo eu irei. E tu vais comigo? Ou vai trabalhar com teu pai.
Augusto olhava para ela sem acreditar que ela o estava recusando. E ela continuou falando:
-- Vamos deixar do jeito que as coisas estão e mais adiante a gente se casa.
-- E nem noivar tu queres. Rejeitastes o anel.
-- Desculpe. Mas não posso aceitar.
Augusto pediu a conta e eles foram embora. Não se falaram durante todo o trajeto. O taxi parou e eles desceram rapidamente.
Lara chorava silenciosamente e Augusto estava furioso. Não falaram mais no assunto e ao entrar no apartamento, Augusto pegou uma valise arrumou algumas roupas e disse:
-- Acabou... Outra hora eu venho pegar o resto das minhas coisas.
Bateu a porta e foi embora.
Lara ficou parada no meio da quitinete aturdida e sem reação. Não conseguiu falar.  E grossas lágrimas rolavam por suas faces. Ficou ali, ainda um bom tempo parada sem saber o que fazer.
Só bem depois, depois que ela conseguiu tirar o vestido e se deitar. Dormir? Ela achava que nunca mais na vida iria dormir.
Augusto não saia de seu pensamento, ele não podia ter feito isso. Não podia...
A separação deles foi uma bomba no meio estudantil. Augusto não foi à formatura de Lara e Lara não foi à formatura de Augusto.

Lara sempre foi muito estudiosa, e havia se destacado durante o curso.  Seu currículo escolar era perfeito, e foi divulgado pela universidade.
Naqueles dias Lara recebeu um convite de um empresário paulista para trabalhar. Ele oferecia um bom salário e mais algumas vantagens.
Lara aceitou, sem pensar, e na semana seguinte a sua formatura ela foi embora de muda para Campinas.
Com essa mudança, houve também um afastamento dos amigos, e desse modo, ela passou a ter uma vida solitária.
E Lara nunca mais teve notícias de Augusto. Nas raras vezes que ela conversou com um dos amigos da época de faculdade, ninguém falou sobre Augusto. Ele simplesmente sumiu de sua vida.
Mas ela vivia para trabalhar, nunca mis se interessou por ninguém. Era muito caseira, e o seu tempo livre ela aproveitava para ler ou assistir um filme.
E assim tinham se passado quatro anos.
                                                          
Mas aquele convite de casamento a tinha deixado chocada. Simone estava se casando com Augusto. Seu coração doía muito. Ela não tinha conseguido esquecê-lo. Ele continuava sendo o amor de sua vida.
Desde aquele famigerado jantar ela não tinha mais encontrado a paz. Sentia-se incompleta, em seu trabalho, embora ela gostasse do que fazia, ela sempre estava contrariada. Nada a satisfazia. Ela tinha um bom salário, tinha conseguido desenvolver algumas técnicas, mas isso não a deixava feliz. Tinha um vazio em sua vida, que só Augusto poderia preencher.
Mas Lara decidiu que iria ao casamento, seria madrinha, e que faria tudo isso para se curar da doença chamada Augusto.
Lara soube que a família de Simone havia se mudado para a região serrana, e atualmente moravam em uma imensa casa nos arredores de Canela.
As madrinhas e padrinhos ficariam hospedados em uma pousada próxima a casa da família. Ela sabia que iria encontrar os velhos amigos, aquela turma inseparável que eles tinham no tempo de estudantes. Seria legal revê-los.
Portanto Lara confirmou a presença e reorganizou sua agenda de trabalho para poder ficar uma semana na serra gaúcha.
 Também foi às compras. Ela estava precisando de roupas adequadas para a ocasião.
Por mais que pensasse Lara não conseguia entender como Augusto e Simone poderiam estar se casando.
Ele sempre se referiu a ela como uma garota muito desagradável e esnobe. E ela sempre se referiu a ele com desprezo. E em muitas ocasiões havia perguntado “ O que tu viste nele?”.
Simone nunca tinha sido uma amiga verdadeira. Aliás, ela deixou de confiar em Simone logo em seguida que se conheceram.
Foram várias vezes que elas saíram juntas para as lojas, e tudo que Lara gostava, e que estava fora de seu orçamento, Simone comprava e se exibia dizendo que dinheiro não lhe faltava.
Muitas vezes Lara tinha a sensação de que Simone a invejava. E que queria Augusto para ela. Aliás, bastava Lara gostar de uma coisa, para Simone querer para si.
Lara muitas vezes ficou chocada com as atitudes de Simone, que não tinha sensibilidade e sempre acabava agredindo e ofendendo os outros. Havia momentos em que Simone era insuportável.
E muitos amigos se afastaram do grupo.

Por mais que Lara tentasse entender, não conseguia! Pois as peças não se encaixavam. Simone e Augusto eram antagônicos. E ela ia pagar para ver. Por isso iria ao casamento.
Uns dias antes, Lara foi chamada pela direção da empresa. Eles tinham uma ótima proposta para ela.
Queriam investir em seu aprimoramento, e, portanto, iriam custear o doutorado dela na Alemanha, na FAU – Universidade de Erlange – Nuremberg. Uma universidade voltada à pesquisa. Seriam dois anos fora do Brasil. Eles deram um tempo para decidir.
Mas Lara não tinha nada que a impedia de aceitar a proposta de sua empresa. E ela aceitou na hora.
Mas alertou que tinha um importante compromisso entre os dias 2 e 7 de outubro. (Seria o casamento do grande amor de sua vida)
Ela foi questionada por seu chefe sobre o idioma, pois em seu currículo constava apenas o curso de inglês.
Mas ela era origem alemã, e crescera entre pessoas que falavam o alemão, de forma que ela falava, lia e escrevia corretamente o idioma.
O tempo passava rapidamente.
Eram muitas coisas para ajeitar antes de viajar. Pois ela embarcaria para Alemanha dois depois de retornar do sul.
Precisava deixar tudo pronto antes de viajar para Porto Alegre.


Chegou o dia de ir para o sul, enfrentar o seu passado. Pegou sua mala e saiu. Quando Lara chegou ao aeroporto Salgado Filho ela alugou um carro para subir a serra.
Enquanto dirigia ela não queria pensar em nada. Sabia que seria muito difícil ver Augusto com Simone, justo ela.
Então sintonizou o rádio em uma estação local que tocava músicas do gênero que ela curtia. E foi cantando enquanto dirigia e apreciava a paisagem. Precisa espantar a tristeza e mostrar uma falsa alegria.
Ela chegou à pousada, estacionou o carro, fechou os olhos e buscou coragem para enfrentar aquela semana, que com certeza seria a pior semana de sua vida.
Precisava colocar um sorriso nos lábios e não permitir que ninguém descobrisse a tristeza que morava em seu coração.
Lara respirou fundo, e abriu os olhos e olhou em volta. Não viu ninguém. Melhor... Ela estava muito nervosa. Suas mãos tremiam...
Mas desceu do carro e andou bem ereta de devagar, e se dirigiu a recepção e a levaram até o chalé que estava reservado para ela.
O local onde estava situada a pousada era muito lindo, havia um jardim muito bonito, com canteiros de amor-perfeito que davam um colorido especial ao lugar.
Muitas árvores, passeios e recantos românticos.
Ela notou que o chalé dela era diferente dos demais, então perguntou:
-- Os chalés não são todos iguais?
-- De certa forma sim, há uma variação na decoração, mas têm alguns mais luxuosos e o que está reservado para a senhora é um deles. Um chalé especial, foi muito recomendado...
-- Ah. E fica mais distante.
-- Sim, mas é mais privativo.
-- São muitos assim?
-- Não. Temos apenas dois desse padrão.
E o rapaz abriu a porta e ela entrou no chalé que era muito acolhedor. Disposto em três peças. Uma saleta com lareira, muito bem decorada, com um conjunto de sofá e poltrona na cor coral, tapete na cor bege e muitas almofadas com estampas florais. Havia uma mesa lateral com um lindo vaso de rosas naturais e no outro lado um abajur. As cortinas na linha romântica, era na cor palha. E uma pequena estante com alguns livros...
O quarto tinha uma imensa cama de dois metros de largura, coberta com uma colcha floral de fundo verde clara, uma poltrona na cor verde musgo e tapetes laterais na cor verde claro, cortinas branca e criado mudo e um toucador; e um imenso espelho na parede em frente a cama; e um lindo banheiro, todo branco, com uma esplendida banheira de hidromassagem.
Sobre o toucador havia flores, um cartão dos noivos agradecendo a presença e um espumante e alguns bombons.
E um calendário com todo o programa para o casamento. Eram jantares, ensaios, passeios... Enfim uma programação digna de Simone.
Lara agradeceu a gentileza do rapaz. Fechou a porta e inspecionou tudo. Estava desconfiada, era muita paparicação...
Procurou por câmeras, por microfones, mas não encontrou nada. E todo o objeto que ela desconfiou ela girou.
Desfez sua mala, pendurou suas roupas e escolheu uma para logo mais. Encheu a banheira, colocou sais e mergulhou na água morna para relaxar. Até cochilou...
Augusto sabia que Lara iria chegar e queria encontrar com ela sem a presença da noiva e tão pouco dos amigos. Ele estava instalado no hotel, em uma suíte similar à dela
Fora ele quem organizara com a recepção da pousada as acomodações para os amigos.
 Todos seriam recebidos com um mimo no quarto. Bombons, flores e o programa da comemoração.

Augusto tinha pedido para ser avisado quando Lara chegasse. Mas ele precisou sair e só agora tinha sido informado.
Então discretamente ele começou a andar pelo jardim da pousada. Sentou-se em um dos recantos de onde podia ver o chalé que Lara estava ocupando.
Lara saiu da banheira e enxugou-se, vestiu-se. Escolheu um jeans e uma camisa de seda rosa claro, arrumou o cabelo, passou um batom, e foi andar pelo jardim.
Sentou-se em um recanto para pensar. Fechou os olhos. Precisava se preparar para ver Augusto. E foi nesse momento que ela escutou a voz inesquecível.
-- Oi... Eu estava te procurando. A portaria me avisou que tinhas chegado.
Quando ele a viu ficou sem ar, seu coração disparou. Quanto tempo tinha se passado desde a última vez?
E ela estava linda, com o mesmo jeito de sempre... Ela estava um pouco mais magra, seus cabelos mais curtos e ainda era encantadora. E continuava muito bonita...
Lara abriu os olhos e Augusto estava a sua frente, mais lindo do que nunca. Ele não tinha mais aquele físico de rapaz, havia se tornado um homem, com ombros largos e peito e braços fortes.
Ela se recompôs rapidamente e colocou um sorriso no rosto, e respondeu:
-- Oi. Eu estava descansando um pouco.
E ele se sentou ao lado dela, e a cumprimentou com um beijo em cada face. Ela percebeu que ele estava tenso também, então resolveu seguir falando.
-- Eu saí muito cedo hoje de Campinas. Aluguei um carro em Porto Alegre e vim apreciando esse panorama deslumbrante. Aqui tudo é lindo... Olha esse jardim...
-- Sim. E tudo é cuidado com muito capricho. Foste bem recebida?
-- Sim. Obrigado pelos mimos, sobretudo pelo espumante...
Ele olhou para ela e não disse nada. O telefone dele tocou e era Simone avisando que estava chegando à pousada, queria ver Lara. Augusto levantou-se e foi esperar sua noiva.
Lara não se mexeu. Ficou ali esperando a “amiga” chegar.
Simone chegou fazendo um alvoroço e abraçou sua amiga inúmeras vezes, e repetiu que sentia muita falta dela. E que de agora em diante não iam mais ficar distantes.
Em seguida chegaram os demais. Eram oito pares de padrinhos. E naquela noite haveria um jantar de acolhida a todos, e cada um (padrinho e madrinha) teria que falar sobre os noivos. Relatar algum fato...
Lara estava nervosa, estava com receio de deixar transparecer seus sentimentos. Foi para o seu chalé. Precisava pensar o que falar? E se concentrar para não terminar fazendo um papelão.
Simone estava rodeada por seus convidados e Augusto se afastou. Foi para perto do pequeno lago e ficou parado olhando o horizonte, ficou assim um bom tempo, tanto que Simone notou.
Distante do burburinho, Augusto voltou seu pensamento ao passado. Ele tinha ficado tão infeliz com o rompimento do namoro com Lara, que se tornou vulnerável.
Naquela época, ele tinha esperanças de que Lara voltasse atrás e fosse a sua formatura. E então eles pudessem reconsiderar e retomar o namoro.
Mas ela não foi e Simone se aproveitou de sua tristeza e o cercou de atenção e carinho, e ainda ofereceu um emprego para ele.
O pai dela estava com um novo projeto de construção na serra gaúcha precisamente Canela e São Francisco de Paula. Inclusive ela também iria fazer parte da equipe como arquiteta, eles trabalhariam juntos.
E ele aceitou sem pestanejar.
Mas isso fez Simone aproximar-se muito dele.  E ele acabou namorando, noivando e agora estava na véspera de seu casamento.
 E ele não a amava... Tinha se deixado levar.  Simone estava tão irritante. Sempre querendo todas as atenções, sempre querendo ser o centro de tudo.
E rever Lara, fez o seu amor adormecido acordar. Ele continuava louco por ela, que estava mais bonita do que nunca. Ele precisava conversar a sós com ela. Teria que dar um jeito.
 A noite antes do jantar os pais de Augusto se aproximaram de Lara para conversar um pouco, pois eles sempre gostaram muito dela.
Simone não gostou de ver seus futuros sogros dando atenção a sua amiga.  E comentou com sua mãe:
-- Por que D. Rute conversa tanto com a Lara?
-- São velhas amigas...
-- Mas não devia ser afinal foi ela quem deixou o Augusto.
-- E por falar nele, teu noivo está muito estranho hoje. Acho que devias ficar de olho nele.
-- Não tem perigo mãe. Eu fiz tudo direitinho. Ele está amarrado a mim.
-- Bem, eu estou te avisando...

O jantar foi servido. E chegou o momento dos padrinhos se manifestarem. Lara foi a primeira a ser chamada para falar. Suas mãos estavam geladas, mas levantou-se, pegou a taça e elevou um brinde aos amigos presentes e...
-- Eu tive o privilégio de ser convidada para ser madrinha deste querido casal. Sou amiga de ambos. Quando cheguei a universidade, a primeira pessoa que conheci foi Simone. E ficamos amigas e o somos até hoje. Logo formamos um grupo de amigos inseparáveis, e para minha alegria vejo todos aqui. Temos muitas histórias para contar. Mas hoje queremos brindar a felicidade do casal!  Um brinde!
-- Fala um pouco mais ... – gritou Juliano, que estava visivelmente embriagado”.
-- Sim, tem muitas histórias picantes para contar... – falou Marcela.
-- Isso eu deixo para vocês, meus amores. Obrigada.
Lara sentou-se. Sabia que não tinha dito nada. Não tinha como falar sem lembrar que ela era a namorada do noivo.
E isso era constrangedor. As histórias continuaram, e para tranquilidade do ambiente, ninguém se referiu ao namoro de Lara e Augusto.
O jantar terminou e Simone foi com seus pais para casa. Os que estavam hospedados ali resolveram curtir a noite, pegaram algumas garrafas de vinho e foram para o jardim, sentaram-se na grama próximo ao lago.  Augusto os acompanhou.
Ricardo seria o par de Lara. Ele tinha bebido muito e estava se tornando inconveniente e insistia em abraçar a Lara, que o afastava discretamente.
Eles estavam todos sentados no chão formando uma roda e Augusto estava bem de frente para Lara, e percebeu os avanços de Ricardo sobre ela.
E sem que ninguém esperasse Augusto se levantou e foi defendê-la.
Ele pegou Ricardo pelo colarinho e o mandou para dormir em seu chalé e deixar de ficar incomodando todo mundo. Um silêncio pairou no ar. Ricardo envergonhado se levantou com certa dificuldade e Gabriel o ajudou a ir para seu quarto.
Com esse incidente, o grupo se dispersou. Foi cada um para seu quarto.  Apenas Augusto ficou por ali.

Ele estava sóbrio, e não conseguiria dormir. Seu coração estava muito agitado. Seus pensamentos também.
Lara, em quarto, também estava agitada. Não tinha bebido, pois precisava estar senhora de seus pensamentos e atos. Tomou um banho de imersão, relaxou e vestiu seu conjunto de camisola e penhoar, de cetim preto.
Resolveu abrir o espumante. Serviu-se e deixou a garrafa no refrigerador. Gostava de beber bem gelado. Apreciava as borbulhas na taça, quando ouviu uma batida de leve em sua porta.
Ela abriu e era Augusto.
-- Posso entrar um pouco. Preciso conversar contigo...
-- Entra.
E quando Augusto a viu de camisola ficou rígido. Ele sonhava muito com ela e sonhava que estavam fazendo amor. Sonhava que estavam juntos e eram muito felizes. Mas conteve-se.
Lara pediu que sentasse e foi pegar uma taça e o serviu de espumante. Ela acomodou-se na poltrona e ambos brindaram a noite.
-- Precisamos conversar. Tem algumas coisas que não ficaram esclarecidas... – disse Augusto.
-- Sim. Muitas coisas—replicou Lara.
-- Então fale... – disse Augusto com a voz um pouco alterada.
-- Por que a Simone? Não entendo, tu que sempre falou mal dela...
-- Eu estava vulnerável, tu não quiseste casar comigo...
-- Mas eu não podia... Nem emprego tinha... E foste tu que me deixaste...
-- Me senti rejeitado por ti.
-- E como tu achas que eu fiquei depois que tu foste embora? Eu fiquei completamente só. E tu nem pensou em reconsiderar... E dizem que eu te deixei, não é verdade, tu sabes...
-- Eu sei...
-- Como foi que Simone te pegou?
E Augusto contou para ela, e ao final Lara comentou:
-- Ela sempre comprou os vestidos que eu gostava e não tinha grana para comprar, os sapatos, as bolsas, enfim, tudo o que eu gostava ela comprava, só para me humilhar e se exibir. Mostrar que ela tinha dinheiro e eu era uma pobretona. Mas até então, essas atitudes dela, não me afetavam... Só que agora ela conseguiu pegar para ela, a coisa mais importante da minha vida.
E Lara não reteve as lágrimas. Era preciso deixar sair toda tristeza que dominava seu íntimo.
 Augusto se aproximou dela, ele também sentia uma tristeza imensa, então ajoelhou-se e abraçou-se a Lara, e também chorou.
O que tinham feito de suas vidas?
Lara se acalmou, secou as lagrimas com as costas das mãos, e afastou-se dele. Augusto a olhou e confessou:

-- Eu sempre te amei, eu ainda te amo...
-- E por que vai se casar com ela?
-- Fui levado a isso por ela e sua família.
-- Então estás consciente do teu futuro...
-- De certa forma sim. Cheguei até aqui e agora não dá mais para recuar. Mas nós podíamos ter uma noite de amor.
-- O quê? Tu tens a coragem de me propor uma coisa dessas? Por favor, vai embora.
-- Desculpe. Mas eu preciso de ti.
-- Mas não desse jeito... Vai... Tu estás me faltando com o respeito e dizendo bobagem.
Augusto saiu e Lara trancou a porta e as janelas. Foi para cama, não chorou, não dormiu, apenas permaneceu deitada...
Ela também sentia muita saudade da vida a dois que tiveram, ainda ansiava e sonhava com ele, mas não podia descer tão baixo...

No outro dia às dez horas seria o ensaio na Catedral de Pedra de Canela. Uma construção imensa, toda feita de pedras. Era muito linda!
Lara levantou muito cedo, tomou o seu café da manhã e saiu. Estava abatida, cansada e nervosa, com medo de encontrar com Augusto. Pegou seu carro, deu uma volta por Gramado e um pouco antes da hora estacionou o carro na rua lateral da igreja.
Entrou no templo e rezou. Pediu a Jesus que conduzisse as coisas como deveria ser. Que produzisse força e coragem para ela. Pois doía muito ver o seu amor se casando com outra.
Ainda estava concentrada rezando, quando alguém tocou seu ombro. Era Ricardo. Ele estava encabulado e desculpou-se pelo seu comportamento na noite anterior. Lara sorriu e disse:
-- Não foi nada. Está desculpado.
E juntos foram para a porta da igreja. A coordenadora da cerimônia estava reunindo todos para as instruções. Mas ainda faltava chegar o noivo. Simone estava ansiosa e perguntou a todos por ele.
Augusto chegou apressado, foi até sua noiva e se desculpou, alegando que tinha perdido a hora. Lara não olhou para ele e não sabia se ele tinha dirigido o olhar para ela.
Quando terminou o ensaio, eles estavam livres. Só a noite teriam compromisso, que seria um jantar, uma espécie de despedida de solteiro. Os homens com o noivo e as mulheres com a noiva.
As madrinhas reunidas na casa da noiva e os padrinhos com o noivo. Onde? Ninguém sabia.
Então Ricardo muito gentil convidou a Lara para almoçar. Ela deixou o carro dela estacionado ali e foi com ele a um lugar encantador.
Era fora do circuito de turismo, mas era um restaurante pequeno, simples e muito acolhedor, com comida típica alemã deliciosa. Depois ele a levou para passear e foram visitar a cascata do Caracol, e entraram e muitas lojinhas. Foi uma tarde divertida.

Só no início da noite que eles voltaram à pousada. E apressados foram se arrumar para o jantar, que seria na casa da noiva.
Augusto tinha olhado para Lara quando chegou a igreja e ficou muito chateado com ela, que fez questão de ignorá-lo.
 E para sua decepção, depois, Lara saiu com Ricardo, e passaram a tarde toda juntos.  E chegaram só àquela hora... Ele estava com ciúmes.
Ele não estava animado nem para a despedida de solteiro que seus amigos haviam preparado. Seria em uma boate na cidade vizinha de São Francisco de Paula.
O problema é que Lara não saia do seu pensamento, ele estava perturbado, pois seus amigos comentavam que ela estava linda demais. Realmente os homens olhavam para ela com olhos de caçador. E isso o deixaria furioso. Precisava se esforçar para se controlar o tempo inteiro. Não podia dar “bandeira”, ainda mais que Simone estava de olho.
Até Simone já havia reclamado dele, que perecia estar distante e participando dos preparativos do casamento sem entusiasmo.  Mas o que ele podia fazer... Ele amava Lara com paixão. Sempre foi assim desde que se conheceram, e ele sabia que ela ainda o amava. O olhar dela denunciava. Era o mesmo olhar...


Lara tomou um banho rápido e se vestiu para o jantar de despedida de solteira de Simone. Escolheu para a ocasião, um terninho azul marinho, com uma camisa branca de seda, com detalhes em amarelo.
Ela já estava pronta, mas decidiu dar um tempo, não queria ir junto com ninguém. Iria sozinha em seu carro. Assim, não dependia de ninguém, e poderia voltar cedo.
Lara só queria que tudo terminasse. Estava arrependida de ter aceito participar dessa semana “pré-nupcial”.
Pegou o telefone e viu que tinha cinco mensagens de Augusto, e em todas elas, ele estava perguntando onde ela estava.
Lara logo apagou as mensagens. E disse pra si mesma: “Ele surtou. Vai casar amanhã... “Olhou a hora e achou que já podia ir.
Quando saiu de seu chalé, Lara se deu de cara com Augusto que estava esperando por ela.  Ela se assustou. Achou que ele já tivesse saído.
-- Lara, eu preciso conversar contigo...
-- Não. Já estou atrasada...
-- Eu preciso de ti...
-- Agora é muito tarde. Já estás comprometido. Eu preciso ir. Tchau
E Augusto a viu se afastar rapidamente. Ficou parado olhando e pensando que nunca mais eles poderiam ficar juntos. Ele havia estragado tudo.
Ricardo e Luciano se aproximaram de Augusto, que fingiu estar esperando pelos amigos, e os três saíram para a festa de despedida. Havia muita animação entre os rapazes, o único desanimado era o noivo. Até parecia que estava a caminho do calabouço.


Na casa de Simone estavam todas as luzes acesas em todas as salas. Algumas amigas de Simone que Lara não conhecia foram apresentadas a ela.
As bebidas foram servidas. E Lara decidida a não beber, pediu um suco de uva.
O jantar transcorreu com elegância. Foi servido à francesa. E mais uma vez a família de Simone arrasou.


Após as convidadas foram para uma sala privada. E ali começam as brincadeiras organizadas por Marcela, Carina, Débora e Miriam.
Mas antes Lara entregou a noiva uma liga azul, para ela ter uma coisa azul para usar na hora de seu casamento, Aline entregou um par de brincos antigos, para ela ter uma coisa velha. Letícia deu uma calcinha para ela usar uma coisa nova e Fabiane emprestou o seu colar, para ela ter uma coisa emprestada e isso daria sorte a noiva.
A brincadeira que Marcela escolheu foi “adivinha o que o noivo disse”. Marcela havia feito várias perguntas ao noivo e agora a noiva tinha que responde de acordo com a resposta do noivo, enfim acertar qual foi a resposta do noivo. Se errasse, teria que pagar uma prenda.
Foi muito divertida e Simone acertou apenas uma entre as dez perguntas. Estava muito mal, pensou Lara, que não se atreveu a dizer, mas Fabiane se arriscou a falar e a noiva não gostou.
Depois foi a brincadeira criada por Carina que consistia em completar a frase: “ eu nunca...”  Essa foi bem legal e todas participaram e deram muitas risadas.
Débora veio com o jogo de “lingerie” que nada mais era do adivinhar quem das amigas deu aquela peça. Foi legal. Alguns erros.
Elas já estavam bêbadas, inclusive a noiva, pois cada pergunta erguia o copo para um brinde. Apenas Lara se mantinha sóbria.
E por fim Miriam veio com a “uma caixa para minha história”, e essa brincadeira consistia em fazer a noiva contar a historieta de seu namoro e sempre acrescentando o objeto tirado de dentro da caixa. Foi muito engraçada e um pouco constrangedor, pois Simone enveredou para o caminho da intimidade do casal.
E foi nesse momento que ela decidiu sair de fininho. Mas Simone percebeu e a pegou pelo braço e com a fala enrolada, disse:
-- Fica, Lara, para me escutar. Eu consegui! E agora ele é meu. Eu sempre te detestei porque ele estava contigo. Mas tudo mudou... Não vai dizer nada? Não vai chorar?
-- Eu sempre soube da tua falsidade, nunca me enganaste...
-- Então por que aceitou ser minha madrinha?
-- Para não te dar a vitória. Eu estou bem... Melhor do que tu, que estás totalmente insegura... Continuo sendo amada enquanto que tu precisas comprar o amor dele. Ele veio atrás de mim, queria ficar comigo. Eu recusei. Portanto eu venci mais uma vez. Tu vais ficar com as migalhas.
-- Isso é mentira...
-- Tchau. Até amanhã.
E Laura se retirou como um raio. Pegou seu carro e foi andar pela cidade. Ela estava aborrecida consigo mesma, pois tinha se deixado levar pela provocação de Simone de acabou dizendo coisas que não eram para serem ditas.
Já estava a caminho da pousada quando avistou Lucas e Antônio caminhando em direção a Canela. Ela diminuiu a velocidade e parou junto deles e perguntou:
-- Oi, vocês querem carona?
Os dois se olharam e aceitaram a oferta. Entraram no carro e Lara percebeu que tinha alguma coisa errada e os questionou:
-- O que foi que deu de errado na despedida de solteiro? Vocês estão muito estranhos...
-- Bem, ainda não temos certeza. Só saberemos amanhã. – disse Lucas
-- A festa de vocês já terminou?  A Aline já está no hotel? Perguntou Antônio.
-- Não sei, eu sai mais cedo, discuti com a noiva. Imagina que situação a minha...
-- Bah... Esse casamento vai dá o que falar... – comentou Lucas.
-- Vocês não vão me contar o que aconteceu? –disse Laura.
-- O noivo sumiu...
-- Como assim? Cadê o resto da turma? E por que vocês estavam a pé?
-- Nos separamos para procurar por ele. Fomos de van para festa para poder beber. Mas deu tudo errado. – disse Antônio.
-- Estava tudo bem organizado, contratamos umas gatas para alegrar o ambiente, e, por favor, não conta para as nossas esposas, só nos dois somos casados.
-- Tudo bem continua....
-- Tudo rolando direitinho, até que Augusto abraçado em duas gatas avisou que ia ter um particular. – disse Lucas.
-- Até aí tudo certo, as gatas não eram para o noivo se esbaldar?  Ele deve estar curtindo... – disse Lara.
-- Aí é que está o problema. Ele foi com elas, mas não ficou com elas. Ele sumiu.  Foram elas que nos avisaram depois que ficaram um tempo esperando por ele, que tinha dito que voltava logo. – disse Antônio.
-- Ele deve estar na pousada. Vamos para lá. --- completou Lara.
-- Não está na pousada, já estivemos lá. O carro dele está estacionado, mas ele não está. Mas vamos, não quero brigar com Marcela. Já é muito tarde. – disse Lucas.
Quando eles chegaram os outros rapazes também estavam chegando. Foram direto na suíte do noivo, talvez ele estivesse dormindo. Estava destrancada, Rodrigo entrou e estava vazia. Realmente ninguém sabia do noivo. E decidiram ficar quietos. Não iriam contar para noiva. O negócio era todos irem para a catedral normalmente e esperar para ver o que aconteceria.

Antes de se vestir para a cerimônia, Laura deixou todas as suas coisas arrumadas e sua bagagem na mala do carro. Não iria participar do almoço comemorativo, não tinha coragem... Logo após o casamento, ela iria visitar sua mãe que estava morando em Torres. Ela desceria a serra pela estrada do sol.
Lara vestiu-se com capricho. Tinha escolhido para a ocasião um vestido na tonalidade azul hortênsia, com estampa de pequenos ramos de flores.
Era em musselina num modelo drapeado no corpo e a saia solta, sendo mais curta na frente. Era um modelo original e próprio para uma cerimônia de casamento as 11horas, tinha assentado muito bem  nela, ressaltando suas curvas com elegância.
Quando ela entrou na igreja chamou atenção de todos. Ela tinha colocado um sorriso nos lábios, precisava disfarçar a angustia que tinha dentro de si. Procurou ficar mais quieta, sem conversar, apenas observando.
Estava na hora do casamento, a igreja estava cheia e a noiva estava dentro do carro esperando o sinal da organizadora, para entrar, sobre o tapete vermelho, pela nave principal, que estava toda enfeitada com flores brancas. Mas o caso era que o noivo ainda não tinha aparecido.
Já passava quinze minutos da hora e ninguém se atrevia a ir contar para Simone que o noivo não tinha chegado.
Até que a organizadora foi até o pai dela, que resolveu dizer à filha que não haveria casamento por causa da ausência do noivo.
Simone se desesperou. Houve um mal-estar geral. E Lara tratou de ir embora. E saiu sem se despedir. Pegou seu carro e se afastou dali. Só mais adiante foi que ela parou em um restaurante e usou a toalete para trocar de roupa.  Vestiu uma calça jeans, uma blusa de malha e calçou tênis. Almoçou e seguiu viagem com seu telefone desligado. Não queria nem saber o que estava acontecendo.
Lara sabia que depois, Carina que sempre tinha sido uma amiga sincera, lhe informaria de todos os detalhes, e ainda mais que ela também achava Simone insuportável e havia dito que não acreditava na realização daquele casamento.
Ela lembrava-se de suas palavras: “Lara, o Augusto sempre foi louco por ti. Eu vi o sofrimento dele quando vocês terminaram e tenho certeza que esse casamento não sai. Tu achas que ele vai casar com ela depois de te ver, ainda mais linda como tu estás, e sabendo que tu não tens namorado. Ele vai tentar de novo. Escuta bem o que estou te falando!”
Lara não conseguia parar de pensar em Augusto, foi com certa dificuldade que se concentrou na estrada, era uma descida muito perigosa e tinha movimento.
Ao chegar em Torres demorou para encontrar o endereço onde sua mãe estava morando. Estacionou o carro e desceu olhou ao redor e deveria ser ali.
Era uma casa enorme, em meio a um imenso jardim. Uma casa linda. E Lara pensou que o novo namorado de sua mãe deveria ter muita grana. 
Tocou no interfone e esperou. Identificou-se e o portão se abriu e a mandaram entrar de carro.
Sua mãe a esperava na porta da casa, acompanhada por um homem de cerca de sessenta anos. Um tipo simpático. E pensou que agora sua mãe tinha procurado “a sua turma”, isto é, gente de sua idade.
Foi muito bem acolhida, e Carlos a recebeu com alegria, quase como uma filha. Pela primeira vez ela sentiu-se em família. Soube que ele também tinha uma filha, que estava morando na Califórnia, em São Francisco.
 Lara permaneceu ali dois dias, tempo suficiente para colocar a conversa em dia. Voltou a Porto Alegre para retornar para Campinas.

 Uma semana depois Lara estava em Nuremberg no estado da Baviera, na Alemanha. A universidade que ela iria estudar era muito antiga, tinha sido fundada em 1743. Com cerca de 40 mil alunos era uma das mais importes em pesquisas em toda a Europa.
Ela estava radiante. Seu pequeno apartamento era muito confortável e bem próximo do campus. As aulas haviam começado há uma semana, mas ela se integrou rapidamente a sua equipe de pesquisa.
Além de seu chefe e sua mãe, apenas sua amiga Carina sabia o novo telefone dela e seu endereço na Alemanha.  E cerca de um tempo depois ela ligou:
-- Oi, como estás, minha querida?
-- Carina! Que surpresa. Eu estou maravilhosamente bem. Aqui é muito lindo, e muito frio e meus colegas são ótimos. Estou muito entusiasmada.  E aí como estão às coisas? O Augusto apareceu?
-- Bah... Foi um babado. Logo que tu saíste, um motoqueiro estacionou ao lado do carro onde estava a noiva e entregou a ela uma carta. Era mais um bilhete, que Augusto mandou para ela justificando sua fuga. E com essas palavras: “Eu amo outra mulher. Não posso me casar contigo. Desculpe.”
-- E daí?
-- Claro que Simone gritava; “aquela traidora da Lara”
-- Mas até os rapazes de te defenderam, dizendo que naquela noite da festa tu encontraste com eles e que estavam juntos procurando pelo noivo.
-- Mas ela estava completamente descontrolada. Foi um escândalo o tal não casamento. Diante daquele grande número de convidados, havia um burburinho na igreja e ninguém ia embora, todos esperando para ver o que ainda aconteceria. Foi divertido. Coitada!
-- Bem pelo que sei, ela forçou a barra através de coação, pois ele perderia o emprego. E isso não é legal. Augusto sempre foi estudioso e deve ser um ótimo engenheiro. E aonde ele se escondeu?
-- Naquela noite ele fugiu da tal boate e pegou a camionete dele e foi para Florianópolis. Ele ligou, dias depois, para o Juliano, que dividia o apartamento com ele, pedindo para mandar as suas roupas. Que colocasse em uma caixa e despachasse como frete.
-- Então ele está em Floripa?
-- Acho que não.
-- Não!
-- Ele queria saber de ti. Eu disse que tu estavas estudando na Alemanha. Ele pediu teu endereço. Acho que ele vai te visitar.
-- Estás de brincadeira...
-- Sério. Peço desculpas. Mas vocês precisam de mais uma chance. Vocês se amam. Vou ficar na torcida. Só para saber o Juliano também está deixando a construtora do pai da Simone, e vem morar comigo. Estamos nos acertando. Ele até já conseguiu um trabalho novo.
-- Que bom. Sejam felizes.
-- Obrigada. Um beijão.
Lara ficou pensando na atitude de Augusto e ficou muito decepcionada com ele. Jamais ele deveria ter procedido desta forma. Deveria ser homem o suficiente para terminar com Simone antes de todos aqueles festejos suntuosos do casamento.

Mas Augusto não foi visitar Lara. E não foi por falta de vontade, foi por falta de dinheiro. Ele tinha abandonado o emprego e tinha perdido seus direitos. E o que ele precisava urgentemente era de um emprego. E conseguiu em Curitiba.
Augusto sabia que não tinha agido corretamente em relação a Simone, e estava preocupado com o que Lara iria pensar dele quando soubesse de tudo.
Conhecia Lara perfeitamente e sabia que ela não aceitava esse comportamento covarde dele. Ele deveria ter tido coragem e terminado com Simone antes dos preparativos do casamento.
Mas ele estava envolvido em uma rede, o trabalho e a família dela o enredaram. E só naquela noite que conversou com Lara foi que ele percebeu que não poderia casar. Ele amava a Lara, e era um amor muito profundo. E ele apenas suportava a Simone.
E estando livre tinha chances de reconquistar sua amada.
Augusto foi trabalhar no Chile. Sua empresa estava construindo um shopping em Santiago e com previsão de no mínimo dois anos para terminar a obra. Então antes disso ele não voltaria ao Brasil.
Ele tentou ligar para a Lara, mas não conseguiu completara ligação. Faltava um algarismo no conjunto do número.
Então mandou um e-mail para ela, pois sabia que ela não se manifestava em redes sociais.  E agora era esperar o retorno...
E Lara, quando viu que ele havia entrado em contato com ela, ficou radiante, seu coração pulsava forte e suas mãos tremiam. Credo!
Ela respondeu ao e-mail depois de duas semanas, e sem dar muita abertura. Não queria criar ilusões. Estavam distantes e precisava se dedicar ao seu doutorado.
Desculpou-se dizendo que os estudos estavam tomando todo o tempo. Mas que tinha ficado feliz em ter noticia dele e desejou sucesso em seu trabalho no Chile.
E depois deste gelo, Augusto e Lara se comunicavam raramente, só de tempos em tempos.


Hugo era o monitor de Lara. Um homem simpático e muito alegre. Não era bonito. Ele tinha os cabelos, cílios e sobrancelhas numa tonalidade muito clara, sua pele com muitas sardas e os olhos de um azul profundo.  Mas ganhava em cordialidade e elegância.
Ele era inteligente e notadamente estava apaixonado por Lara. Ela ficava até encabulada com o modo que ele a olhava, mesmo quando estavam em aula. Ela o considerava um bom amigo e dessa forma o tratava. Mas Hugo arriscou e a convidou para sair e ela respondeu;
-- Eu aceito com uma condição.
-- Diga...
-- Apenas no campo da amizade. Meu coração já tem dono e não quero te dar esperanças. E se for assim, vamos ser ótimos companheiros.
-- Aceito.
E a partir daquele dia se tornaram inseparáveis. Eram parceiros na pesquisa e isso fazia com que passassem muitas horas juntos. Hugo respeitou o acordo que fizeram e nunca declarou seu amor por ela.


Os dias passavam... E Lara sentia muita saudade de sua terra, e sobretudo, de Augusto. 
Queria ter conversado mais com ele, naqueles dias que antecederam o “casamento”. Mas não foi possível. E depois daquela proposta indecente...
Mas o fato era que ela pensava tanto nele que ele estava sempre em seus sonhos. Não tivera mais notícias dele e nem sabia se ele ainda estava trabalhando no Chile.
Talvez ele estivesse até comprometido com outra mulher. E ela precisa saber, por que se ele estava sozinho ela ainda teria alguma chance. Era uma esperança que alimentava no fundo de seu coração.


Os feriados de fim de ano se aproximavam. Ela teria vinte dias de folga, e isso era tempo suficiente para visitar sua mãe e rever alguns amigos especiais. Ela precisava se decidir.
Conversou com sua mãe e ela viajaria. Iria passar o fim de ano em Dubai. Tentou falar com Carina e não conseguiu, então decidiu enviar um e-mail para Augusto, que retornou como endereço inválido.
Agora sim. Havia perdido totalmente o contato com Augusto. Seu coração se apertou e Lara chorou.
Todos tinham um rumo em suas vidas, todos tinham uma programação para o fim de ano, apenas ela que estava longe, e  não tinha ninguém, iria ficar sozinha. 
Então iria curtir a sua solidão no Natal. Pois até seu amigo Hugo, tinha programado, visitar seus parentes na Polônia.
Naquela noite havia uma nevasca muito forte e Lara com uma xícara de chá bem quente estava em pé junto à janela vendo a neve cair. As pessoas que ainda estavam na rua caminhavam apressadas.
Ela se assustou quando seu celular chamou. Foi ver e era número restrito. Ela não costumava dar importância, mas naquele momento ela atendeu a ligação.
E quando ela escutou a voz do outro lado, suas pernas tremeram. Ela ficou tão nervosa que até derrubou um pouco de chá no piso. Precisou sentar. Era uma surpresa tão boa... Era Augusto querendo saber dela.
-- Alô... Alô... Está me escutando? – perguntou ele.
-- Sim.  Como vais?
-- Tudo bem e contigo?
-- Tudo certo.
-- É muito cara essa ligação para não ir direto ao ponto. Então quero te ver nesses feriados. Poderíamos nos encontrar em Portugal.
-- Portugal?
-- Sim. Para mim fica bem mais barato. Não tenho grana...
-- Mas a diferença da passagem, tu vais economizar em hospedagem. Vem pra cá. Com o teu inglês tu chegas fácil até aqui. Te garanto.
-- Ok. Vou ver. Depois te confirmo. Beijos
-- Beijos.
Laura não sabia se aquilo tinha acontecido realmente. Foi um telefonema meio louco, falaram só o essencial, mas o fato é que ele queria estar com ela no Natal. Com o coração aos pulos ela ria sozinha. Parecia meio enlouquecida. Augusto tinha ligado para ela...

Fazia muito tempo..., mas entre eles sempre houve uma sintonia tão grande, que parecia que estavam sempre conectados. Desde que se conheceram era assim.
Eles não precisavam de muitas palavras, eles precisavam era de proximidade. E a distância estava machucando.
Ela tinha ficado furiosa com ele por causa do casamento. Ela sabia que ele não gostava de Simone, só não entendia por que ele tinha seguido adiante. Conhecia Simone muito bem e sabia que ela devia ter investido muito forte para ele se deixar levar.
Embora não concordasse com o modo como aquele “casamento” terminou, estava feliz porque Augusto ainda poderia ser dela. E dessa vez ela não ia vacilar, dessa vez eles iam ser felizes para sempre.


Dois dias depois ela recebeu uma mensagem de texto dele, onde confirmava sua ida e mandava o número do voo e o horário de chegada. E então Laura foi às compras.
Precisava comprar roupas adequadas para ele; um casaco, meias, luvas, cachecol e calças próprias para aquele frio intenso.
Também comprou doces, chocolates, biscoitos, e ingredientes para uma ceia de Natal. Escolheu um vinho e levou também licor de cereja. Foi a uma lojinha perto de seu apartamento e comprou uma pequena árvore e enfeites para deixar o ambiente de sua sala, totalmente voltado para o Natal.
E chegou o dia!
Lara foi esperá-lo no aeroporto. O horário previsto de chegada era as 17.40h. Ela ao chegar ao aeroporto viu que o voo dele estava com previsão de chegada dentro do horário marcado.
Augusto já tinha se comunicado com ela, de Amsterdã, onde ele fez escala e precisou esperar um bom tempo, aproximadamente 6 horas. Mas agora ele estava chegando. Ele estava fazendo o mesmo itinerário que ela havia feito.
O avião posou e ela estava ansiosa. A saudade era muito grande. Enfim ele apareceu. Augusto parou e a procurou pelo saguão. Ela já tinha o avistado, mas precisava chegar até ele.
Eles ficaram frente a frente. E com lágrimas nos olhos Augusto a abraçou com força, tanto que ela quase ficou sem ar. Beijava seus cabelos e suas faces. Ele a manteve em seus braços e só então se afastou e olhou para ela com os olhos marejados de lágrimas.
Pegaram a mala dele e saíram em direção à estação do metrô. Estava muito frio e estava começando a nevar. Em pouco tempo estavam chegando ao prédio onde ela morava que ficava muito próxima a saída do metrô.
Entraram no apartamento e Augusto gostou de ver como ela tinha se preocupado em enfeitar a casa para o Natal. Ele sabia que ela gostava muito do Natal, que para ela era a festa mais importante do ano.
Ali estava quente e o ambiente era aconchegante. Ele pousou a mala e se atirou no sofá. Estava muito cansado. A viagem sobre o Atlântico tinha sido um pouco tensa, havia uma tempestade e ele não relaxou em momento algum.
Laura foi à cozinha aquecer o chocolate que ela já tinha deixado pronto. E veio para junto dele com duas canecas fumegantes. Ela sentou a seu lado e entregou uma caneca para ele. Concentrados em sorver a bebida quente eles não falaram, apenas se olhavam. Até que:
-- O que houve com teu endereço de e-mail? -- Perguntou Lara.
-- Eu cancelei. Meu PC foi roubado.
-- Hum. Foi recentemente?
-- Já faz um tempo. E eu ainda não comprei outra máquina. Mas me conta como tu estas aqui?
-- Eu estou bem. Às vezes é muito solitário, mas normalmente eu estou sempre bem ativa. A minha turma é muito boa e estou bem integrada, mas fim de semana e feriado é difícil. Bate uma saudade...
-- Sei como é. Comigo aconteceu o mesmo enquanto estava no Chile.
-- Onde estás trabalhando? Voltou para o Brasil?
-- Não. Ainda tenho mais uma temporada por lá.
-- É faz parte do nosso trabalho.
Augusto descansou a caneca em uma mesinha, pegou a caneca da mãe dela e colocou junto da sua e a passou seu braço por sobre os ombros de Lara e a puxou para perto dele. Queria sentir as batidas de seu coração. Acarinhou seu rosto e a beijou com carinho, com amor...
Então disse:
-- Não acho justo nós termos que ficar tão distante um do outro. Eu não aguento mais. Tenho vontade mandar tudo as favas...
-- Eu também...  Mas e depois? Precisamos trabalhar para viver... Disse Lara.
-- Eu te quero em minha vida. Já faz tempo demais...  Não tem jeito, eu preciso de ti. Tu és o meu Norte... Primeiro tu te recusaste a casar comigo. Fiquei muito magoado contigo. Jamais imaginei que me dirias um não. Depois entrei naquela furada de me casar com Simone... E agora estamos um em cada lado do mundo...  Longe de ti eu me perco e só faço bobagem.
-- Não vamos falar sobre isso. Vamos aproveitar que estamos juntos, que vamos passar o Natal assim, bem abraçadinho. Eu também te quero. Tu és a única pessoa no mundo que me interessa.
Ele a abraçou e a manteve junto de si, sua vontade era se fundir nela e por isso a mantinha tão apertada, que ela estava com dificuldade para respirar.
Ela se aconchegou em seu peito, estava com saudade de seu cheiro, de seu gosto... Fazia muito tempo...
A nevasca ficou mais intensa e Lara o levou a janela para poderem apreciar juntos. Ela gostava de ver a neve. E bem juntinhos eles ficaram olhando pela vidraça as pessoas caminhando depressa em direção as suas casas. Alguns cheios de pacotes. Era quase Natal, e esse período deixava as pessoas felizes, todos eram mais solidários e fraternos.

Mais tarde, depois de saborearem uma sopa de batata eles foram se preparar para deitar. Augusto estava visivelmente cansado. Ela preparou para ele um banho de imersão em água tépida e ele relaxou.
Ela o fez deitar antes dela.  E depois chegou pé por pé não queria acordá-lo, pois ele estava tão quieto que devia estar em um sono ferrado. E quando ela deitou bem devagarzinho ele pulou em cima dela.
Lara levou um susto enorme. E Augusto ria dela. E se amaram com loucura. Seus corações estavam inquietos há muito tempo. Eles se queriam muito. E depois do amor eles dormiram abraçados.
Foram dias especiais.
O sol brilhou e eles passearam pela cidade, descobriram lugares encantadores. Juntos prepararam a ceia de Natal. Foram a Missa do Galo e trocaram presentes e juras de amor.
Ambos sabiam que estavam vivendo um interlúdio de amor. Que logo a rotina de suas vidas iria afastá-los outra vez. Mas não queriam pensar sobre isso. Desejavam curtir o momento.
A despedida no aeroporto foi difícil. Não queriam se largar. E Augusto foi o último passageiro e entrar no avião.
Ele estava com o coração despedaçado. Colocou óculos escuros para ninguém notar que ele não conseguia conter as lágrimas. Foi a viagem mais difícil de sua vida. Deixar sua amada do outro lado do planeta.
Augusto decidiu que não iria mais voltar para o Chile. Então pediu demissão. Foi para Campinas, pois era para lá de que Lara iria voltar e  ele queria se estabelecer, para que quando ela retornasse ele tivesse algo para oferecer a ela.
Ele conseguiu um emprego. A cidade crescia e havia muitas construções. E agora Augusto estava mais sossegado. Tinha alugado um apartamento bom, mobiliado e pronto receber sua amada.
Depois de eles terem reatado o compromisso, Augusto e Lara se comunicavam diariamente. E apesar da distância, estavam felizes e cheios de esperança.
Lara havia sido convidada para ser membro permanente da equipe de pesquisa da universidade, porém ela não aceitou.
 Tinha compromisso com sua empresa, que tinha financiado seus estudos para o doutorado.
Agora faltava pouco para ela voltar ao Brasil. Mas não seria antes de março e aquele Natal eles estariam distantes. Eles tentaram dar um jeito, mas não conseguiram.
Ela precisava terminar sua monografia e preparar a apresentação de sua tese. E ele não teria férias de fim de ano. A obra estava atrasada, pois tinha chovido muito e só agora eles poderiam fazer a concretagem e ele precisava supervisionar.
Foi um Natal solitário, mas recheado de esperanças...

Enfim Lara voltou!
Ela adorou o apartamento que ele havia escolhido para eles morarem. Era bem próximo ao local de trabalho dela. Ela teve apenas uma semana de folga, antes de entrar na rotina.
Eles estavam felizes. Estavam com a data do casamento marcada. Não haveria festa.
Seria somente um almoço para os mais próximos. Carina e Juliano os padrinhos dela e Antônio e Aline os pradinhos de Augusto.
Os pais e o irmão de Augusto e a mãe de Laura, já tinha avisado que não poderia estar presente.
Foi uma cerimônia simples, pela manhã em uma pequena capela próximo ao local onde moravam.
 Ela usava um vestido curto na tonalidade branco pérola e um arranjo de flores nos cabelos, quando entrou na capela, sozinha pelo corredor central. Ela estava muito linda!
Augusto estava emocionado. Ele a esperava no presbitério, mesmo sendo uma cerimônia simples, foi emocionante.
Quanto tempo ele esperou por esse momento, para ouvir a sua amada dizer sim diante de Deus. Eles selaram diante do altar o amor que os unia, e nada no mundo iria separá-los.
Isso foi um pacto que eles fizeram. Nada iria separá-los. Já tinham vivido essa experiência e não foi nada boa. De agora em diante seriam um só e para sempre.
Escolheram para passar a lua de mel, uma pousada na serra em Campos do Jordão. Eles queriam curtir o seu amor e uma bela paisagem.
Os dias corriam tranquilos...
Aquele dia Lara não foi trabalhar. Ela estava de laudo, pois estava de repouso por causa da gravidez.
Eles estavam cerca de três meses casados, quando uma moça chilena, com uma filha nos braços, bateu a porta dizendo que a criança era filha de Augusto.
Lara ficou calma. Precisava ter sangue frio. Não ia maltratar a moça. Mas fez muitas perguntas. E repetiu as perguntas e a moça se atrapalhou. E ela viu que tudo era uma grande mentira.
Por fim a moça confessou que ela tivera sim, um envolvimento com Augusto há dois anos, nada mais do que uma noite, e que tinha sido paga para se meter com ele.
E, que mais uma vez foi paga para dizer que daquela noite tinha nascido uma filha. Ela inclusive estava munida de fotos da relação intima deles. E que o exame de DNA iria dar positivo. Estava tudo pronto para criar a separação do casal. E que Augusto estava sendo seguido há muito tempo.
Lara ficou furiosa. Queria matar Simone. Era óbvio que algo assim só podia ser de quem tem muito dinheiro para jogar fora.
Mas se conteve. Telefonou para Augusto e chamou a polícia e um advogado. E não deixou a moça sair. Ofereceu a ela um café com biscoitos para distraí-la.
A moça saiu detida, a criança foi para o juizado e o homem contratado para seguir Augusto foi localizado e preso.
E Augusto e Laura moveram uma ação contra Simone.
Agora os dias passavam tranquilos. A gravidez de Laura vingou e ela estava indo para o hospital para ter o seu primeiro bebê. Augusto estava junto dela e estava muito nervoso.
Já era perto do meio dia quando o pequeno Felipe nasceu. Veio ao mundo para trazer muita alegria a seus pais, que estavam radiantes de felicidade.
Um tempo depois eles souberam que eles haviam ganhado, a ação na justiça, e Simone teria que pagar ao casal por perdas e danos um valor considerável.
Augusto e Laura viam com orgulho o pequeno Felipe crescer saudável. “O amor é lindo quando verdadeiro.”     
                                          Fim

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

UMA PAIXÃO ANTIGA


                                                          UMA PAIXÃO ANTIGA

Alicia estava se arrumando para sair. Hoje era o aniversário de sua amiga Tanise. Todo o grupo de amigos iriam se encontrar em um Pub. Henrique ficou de passar em seu apartamento para apanhá-la e irem juntos. Estava rolando uma paquera entre eles.
Alicia estava bem entusiasmada com a perspectiva de um romance entre eles. Já fazia muito tempo que tivera uma desilusão. Viera para Porto Alegre para mudar de vida, trabalhar e estudar. Queria ser senhora de si. Não aturava ninguém mandando nela. Henrique tinha esse diferencial. Deixava-a completamente livre.
Henrique era uma boa pessoa, alegre, divertido, inteligente e atencioso, além de muito bonito. Ele era alto, com ombros largos, pernas longas e mãos absolutamente lindas. Seus cabelos eram escuros assim como os seus olhos.
Quando ele tocou o interfone ainda era muito cedo para irem, então ela pediu para ele subir. Ela abriu a porta para recebê-lo e ele simplesmente parou e contemplou a beleza dela.
Ela estava com um vestido preto que se ajustava perfeitamente a seu corpo, sapatos de saltos altos e com os cabelos presos num coque baixo. Estava com brincos e colar dourados. E um sorriso lindo no rosto ao vê-lo. Ele disse sorrindo:
-- Que visão! Tu estas linda!
-- Obrigada. Vamos entrar, ainda é cedo. Ou já queres ir?
-- Vou te confessar uma coisa, se eu entrar com certeza não vou querer ir ao aniversário. Tu estás muito provocante.
-- Então vamos, vou pegar minha bolsa.
Saíram de mãos dadas. Henrique deu umas voltas de carro antes de irem para o local. Aproveitou para estar com ela a sós. Ele estava bem interessado nela. Via ali uma relação com futuro. Ele também estava cansado de moças frívolas!
Henrique a admirava muito. Ela era linda, tinha os olhos da cor do céu, seu cabelo aloirado e sua pele num tom dourado. Era alta, elegante e tinha muita personalidade, independente, culta, divertida e adorável.
Seus amigos diziam que formavam um belo par. Todos os amigos estavam querendo que eles ficassem juntos. Mas ninguém dava opinião.
O aniversário de Tanise estava bem animado. Foi uma noite divertida. Todos beberam além da conta. Mas Henrique que estava dirigindo não bebeu. Ficou rindo das bobagens que diziam e faziam. Inclusive Alicia estava muito engraçada, queria disfarçar e piorava a situação. Ficaram até muito tarde.
Já estava clareando o dia quando foram para casa. Ele levou Alicia para casa e achou que era bom acompanhá-la  até a porta do apartamento. E lá ela pediu para ele entrar e ficar com ela. Ele atendeu ao pedido dela.
Ajudou ela a deitar, tirou seus sapatos e a cobriu para que dormisse. Ele recostou-se no sofá da sala e dormiu. Acordou com o sol em seu rosto. Levantou foi dar uma espiadela no quarto, e ela ainda dormia. Foi à cozinha e preparou um café. Ligou a TV e ficou saboreando o café.
Alicia acordou com e cheiro de café. Levantou e viu que ainda estava com o vestido preto. Não lembrava o que tinha acontecido. Foi até a cozinha, estava envergonhada, tinha bebido demais. Parou timidamente na porta, ele a viu a disse:
-- Bom dia! Como está minha princesa? Quer café?
-- Oi, estou bem, quer dizer mais ou menos, com um mal estar.
-- Também, bebeu todas ontem...
-- Pois é... E o pior que não me lembro de nada....
-- Até onde tu lembras?
-- Que tu me trouxeste para casa...
Ele serviu um café para ela. Sorriu e entregou a ela.
-- Toma o café. Não tem nada para lembrar.
-- Não?!
-- Não. Embora tu estivesses tentadora. Tu não sabes como és graciosa, quando estás bêbada.
E riu. Ela ficou olhando para ele, com um meio sorriso. Ele a conduziu para o sofá. Sentou-se a seu lado e ficou fazendo um carinho em seu braço. Ela virou-se para ele e perguntou?
-- Por quê?
-- O quê?
-- Não aconteceu nada.
-- Porque eu quero que em nossa primeira vez tu estejas sóbria, sabendo o que faz, sabendo o que sentes. Tu és muito importante para mim. Quero que seja um momento marcante em nossa vida, do qual sempre lembraremos.
-- Obrigada.
Ela se achegou a ele. E ficaram abraçados, se curtindo. Passou um tempo e ele disse:
-- Hoje é sábado. O que vamos fazer? Queres sair? Ou queres ficar em casa?
-- Eu acho que eu quero ficar. Preciso tomar um banho, me ajeitar...
-- Eu também preciso de um banho. Vou até em casa, tenho que alimentar o Duque, meu cãozinho de estimação. Depois eu volto. Pode ser?
-- Sim. E o almoço?
-- Eu cozinho. Vou passar no mercado e comprar os ingredientes. O que queres comer, um peixe ou uma massa?
-- Tu escolhes.
-- Ok, então eu já vou. Tchau...
-- Tchau.


Ele chegou cheio de pacotes. Estava vestindo um abrigo azul marinho com tênis da mesma cor. Como sempre ele estava lindo. Ela também tinha colocado uma roupa caseira. Estava de jeans e camiseta azul da cor de seus olhos. Ele deu um beijo nela e disse;
-- Sempre linda a minha princesa.
Ele foi para cozinha e começou a guardar as compras. Ela perguntou?
-- Fez um rancho completo?
Ele rindo respondeu:
-- Essa era a intenção, não tem nada nesta casa. Vives de ar?
-- Eu não gosto de cozinhar, então sempre peço alguma coisa.
-- Mas agora isso pode mudar... Que achas?
Ela não respondeu, ficou pensativa. Ele cantarolava enquanto preparava o almoço. Seria um salmão guarnecido de vegetais.
Ela o observava cozinhando e comparava com Pedro, o cara que ela ainda amava, e a tinha feito sofrer. Eram completamente os opostos no modo de ser.
Ela era muito jovem quando conheceu Pedro, que era bonito, simpático, e canalha. Havia namorado com ele por dois anos e depois descobriu que ele era noivo de outra moça que morava em outra cidade.
Ela ficou desconfiada que em certos dias ele nunca podia vê-la, sempre precisava viajar, geralmente nos fins de semana. Ela conseguiu que um amigo viajasse com ele para descobrir o que ele fazia. E descobriu.
A desilusão foi grande, mas o amor permaneceu. Nunca mais tinha visto Pedro, e si quer falado com ele, e tinha receio de encontrar com ele, porque poderia ter uma recaída.
Agora esse homem maravilhoso, Henrique, estava em seu caminho e ela iria fazer de tudo para ficar com ele. Ele a tratava como uma princesa...
-- Oi, por onde andas???... Foi a pergunta de Henrique vendo-a perdida em pensamentos.
-- Oi, desculpe, eu estava um pouco longe.
-- Vamos tomar um vinho branco geladinho, que achas?
-- Vamos. Eu já estou bem.
Ele abriu a garrafa e serviu. Brindaram e ele ficou falando sobre as bobagens que seus amigos fizeram na noite anterior. Riam com vontade.
Estava uma delicia o prato que ele preparou. Limparam a cozinha juntos e depois foram “sestear”. Estava começando a chover quando deitaram.
O vinho e o cansaço da noite anterior os fez dormir logo. Mas Henrique acordou antes de Alicia e ficou velando seu sono. Depois se levantou e foi para a sala, estava à janela olhando a chuva que agora estava mais forte.


Ele conhecia Alicia a cerca de três meses, foram apresentados por Tanise que era sua colega de trabalho. Eram advogados. Ele havia saído de um relacionamento complicado com uma mulher mimada. E ao conhecer Alicia ficou impressionado, com seu jeito alegre, e com sua beleza. Ela demonstrava ser uma pessoa de fundamento. Ainda estavam se conhecendo, mas estava gostando muito dela. Só não sabia se ela também gostava dele.
Era a primeira vez que ficavam assim conectados, no mesmo apartamento, com esperança de passarem a noite juntos. Ele até já tinha arranjado tudo, pediu ao zelador que alimentasse seu cão e passeasse com ele. Deu uma boa gorjeta para isso.
Alicia acordou e foi em busca dele, se aproximou dele e ficou olhando a chuva. Sugeriu um café. E foram para a cozinha. Ela buscou uns biscoitos e ficaram conversando e bebericando o café.
Ela também não sabia como agir, não queria se insinuar pensava que tudo deveria partir dele. Então resolveram ver um filme. Sentaram juntos no sofá e ele passou o braço por sobre seus ombros e a puxou para perto dele e ela se aninhou. Era um filme romântico que foi despertando neles a vontade de se acariciarem. E logo estavam se beijando, primeiro suavemente, mas logo se intensificou, e ambos demonstrando uma vontade de se darem. Foram para a cama e lá se deixaram envolver por um fascínio abrasador.
Depois deste momento o fim de semana foi intenso. Firmaram um compromisso entre eles, mas não iriam morar juntos. Ela precisava de tempo para isso. Ele a entendia e queria que fosse assim. Henrique não queria mais apurar os acontecimentos. Eles moravam tão perto...


Alicia estava formada em Jornalismo a menos de um ano e já estava trabalhando em um site de notícias, e o melhor de tudo, era trabalhava em casa. Ela havia ajeitado o segundo quarto do seu apartamento, como um pequeno escritório. Ali passava muitas horas.


O tempo estava correndo tranqüilo, eles iam aos poucos se amoldando um ao outro. Henrique queria mudar-se para mais perto dela. Não no mesmo prédio, mas conseguiu um bom apartamento no prédio ao lado, por um preço muito bom. Ele comprou. Podiam se olhar pela janela. Até se falarem. Ele gostou muito de estar mais próximo dela, mas ela se assustou um pouco. Não tiraria a liberdade dela?
Alicia foi convocada para fazer uma entrevista com um empresário que ultimamente era noticia constante, Sr Julio Amido. Telefonou marcando hora. Quando chegou ao local da empresa foi bem recebida pela secretaria e conduzida a uma sala onde deveria esperar um pouco. Logo o assessor, o Sr João Pedro iria ter com ela. Alicia estava um pouco nervosa, não era esse o seu trabalho. Mas... Sentou em uma poltrona e logo entrou uma moça oferecendo água e café. Ela aceitou a água. Procurou se concentrar nos assuntos que deveria questionar.
Alguém bate de leve a porta e abre. Ela levanta os olhos e seu coração disparou. Era tudo o que ela não queria. Encontrar-se com Pedro.
Ele a cumprimentou como se tivessem visto no dia anterior. Ela respondeu de forma inaudível. Apenas balbuciou. O nervosismo tomou conta dela. Precisava se controlar, necessitava fazer bem o seu trabalho e não deixaria que ele mais uma vez atrapalhasse sua vida.
Para salvação de Alicia logo entrou na sala o Sr Julio. Homem de meia idade e simpático. Ela tratou de iniciar a entrevista para poder logo sair dali.
Quando chegou a casa se sentia aliviada. Pedro não tentara falar com ela. Mas ao mesmo tempo ela ficou preocupada com a sua reação. A perturbação que ficou mostrava que ela ainda estava vulnerável a pessoa dele. Não podia mais vê-lo.

Era fim da tarde, ela já tinha tomado um chá de camomila para relaxar, quando seu telefone tocou, um número desconhecido. Ela atendeu, era Pedro.
Pedro ao telefone desculpou-se pela forma impessoal que a tinha tratado, e alegou que estava em seu ambiente de trabalho. Queria encontrar com ela, precisavam conversar. Ela recusou, dizendo que tinha compromisso naquele dia. Mas ele persistiu muito, tanto que ela aceitou jantar no outro dia.
E agora? Não queria de forma alguma magoar Henrique, teria que falar com ele sobre isso. Talvez precisassem dar um tempo. Ela estava muito confusa. Mas de uma coisa tinha certeza, ainda amava Pedro.

Mais tarde quando Henrique foi vê-la, Alicia pediu para não saírem. Pediriam uma pizza. Precisavam conversar e ela preferia que estivessem em casa. Henrique arregalou os olhos, que seria? Concordou. Ficariam em casa. Ela sugeriu que tomasse um vinho, precisava relaxar.
Então ela contou a ele toda história com toda a sinceridade, sem omitir nada. Inclusive a conclusão que chegou depois de tê-lo visto a tarde. A percepção que ainda o amava.
Henrique escutou tudo em silêncio, ele sabia que ela apenas gostava dele, ela nunca lhe falou em amor. Agora ele sabia a razão. Teria que jogar esse jogo. Ele estava apaixonado por ela, e a queria por inteiro. Seria tudo ou nada. Iria arriscar.
Então Henrique aceitou que ela fosse ter uma conversa com o tal Pedro, ele daria um tempo para ela decidir o seu futuro. Henrique perdeu a fome. Levantou-se, deu um beijo nela e foi embora.
Alicia começou a chorar, estava novamente só. Ela confiava em Henrique e sabia que ele a amava sinceramente. Será que tinha feito uma besteira? Ela era de fato muito burra!
Ela não conseguiu dormir, nem tampouco trabalhar no outro dia. No fim da tarde arrumou-se sem muito cuidado. Vestiu uma calça preta com uma blusa a mesma cor e usou no pescoço, um lenço em tons preto e branco. Estava pronta para encontrar Pedro. Pegou um taxi e foi.
Quando ela chegou ao restaurante ele já esperava por ela. Ele estava elegantemente vestido, roupas bonitas e caras. Ela sentiu-se mal vestida para o ambiente luxuoso do restaurante.
Fizeram o pedido e propôs tomarem um vinho, mas ela recusou, tomaria apenas água. Conversaram sobre o trabalho dela, e ele falou um pouco sobre a sua função na empresa. Ele mesmo elogiou o seu próprio trabalho. Disse que estava ganhando muito bem e que era o homem de confiança do maioral da empresa. Ela só escutou, não comentou nada. Alicia sentia seu coração aos pulos, mas sua razão não estava na mesma sintonia. Pedro a dominava, ela se anulava diante dele, sempre fora assim. Ele fazia “gato e sapato dela”.
De repente Pedro disse:
-- Eu fui um tolo, preciso de uma nova chance. Eu sempre te amei.
-- Não sei...
-- Minha querida, vamos esquecer o que passou, eu era jovem demais, queria contar vantagens aos amigos, por isso criei aquela situação toda. E quero te dizer que o Jorge, aquele teu amigo que tu encarregastes de me vigiar, estava afim de ti. Ele distorceu os fatos. E tu não me deste a oportunidade de me defender. Simplesmente ignorou-me.
-- Preciso pensar. Doeu muito em mim. Ainda dói.
-- Se ainda dói é porque ainda gostas de mim.
-- Talvez...
-- Tu tens outra pessoa?
-- Sim, estamos dando um tempo.
-- Ora, isso de dar um tempo não existe.
-- Com certeza ele está a fim de outra, te traindo!
-- Não! Eu sei que não. Ele é um homem com H maiúsculo. Não é como tu.
-- Então me deixe mostrar quem sou eu.
Ela na respondeu. Pediu para ir embora. Ele pagou a conta e deixaram o restaurante. Ele queria levá-la em casa. Mas ela preferiu ir de taxi. Não queria que ele soubesse onde ela morava. Ele ficou de ligar no outro dia.


Henrique também estava fora do esquadro, não dormia, não comia e não conseguia trabalhar direito. Já fazia uma semana que ele e Alicia não se viam e nem se falavam. Ele tinha fechado a janela de seu quarto para não olhar para o apartamento dela.
Ela estava sentindo-se angustiada, ainda não sabia o quê fazer? Sentia atração por Pedro, que era muito bonito e charmoso, mas continuava com receio em confiar nele. Comparava os dois, enquanto Pedro era um sentimento forte e abrasador, Henrique era tranqüilidade e segurança. Precisava resolver isso. Não agüentava mais a situação. Decidiu-se.


Procurou Henrique e disse a ele que ela daria uma nova chance a Pedro, mas que jamais o esqueceria, pois ele tinha sido para ela um Oasis de paz.  Ele não gostou da decisão dela e nem do modo como ela referiu-se a ele. Teria que partir para outra. Simplesmente disse tchau e foi embora.
Ele que a tratara com tanto carinho e amor. Teria dado tudo por ela, e agora tinha sido colocado de canto e trocado por um cafajeste. Iria aceitar a oferta do escritório para Curitiba. Mudaria sua vida.
Quando Tanise soube no escritório da transferência de Henrique foi logo contar para Alicia. E como amiga disse a verdade para ela:
-- Minha amiga, tu não vai gostar do que eu vou te dizer, mas tu fizeste a maior tolice da tua vida. Trocar um cara como Henrique por aquela “peça” do Pedro. Rodolfo o conhece, e o definiu como um pilantra. Acha que ele está te enrolando. Depois não adianta chorar.
-- Eu é que sei da minha vida. Não me interessa a opinião do Rodolfo.
-- Está bem. Se não queres dar ouvidos aos amigos, as pessoas que se interessam por ti, vai em frente sozinha. Fui...
Alicia viu a amiga sair e não se mexeu. Estava enfeitiçada por Pedro. Estava apaixonada por ele. Estava feliz. O resto que se dane! Foi arrumar para sair com Pedro. Em breve morariam juntos. Ela já estava levando algumas coisas para o apartamento dele. Era um belo apartamento, amplo, moderno e bem mobiliado. Ele tinha uma senhora que cuidava de tudo, ela teria uma vida de princesa.
Ela tinha falado em casamento, mas Pedro não queria casar.

Henrique logo se adaptou a Curitiba. Tinha conseguido alugar um apartamento mobiliado próximo ao escritório. E seus colegas do escritório eram bastante acolhedores, tanto que logo ele estava bem enturmado.
No fim do dia sempre passeava com Duque na praça em frente seu prédio. E acabou fazendo amizade com Lidia que também passeava com sua Diana. Lidia era bióloga, e morava ali perto.

Alicia alugou seu apartamento mobiliado e viu que o de Henrique também tinha novo morador. Sinal que não voltaria tão logo.
Ela estava feliz, Pedro fazia todas as suas vontades. Ele precisava viajar seguidamente a trabalho, acompanhar o chefe. Mas quando voltava vinha cheio de presentes para ela e recompensava a sua ausência com muito “amor”.
Ela também fazia tudo o que ele queria. Até seu apartamento, herança de sua avó, ela o permitiu vender, por um valor irrisório. Ela não trabalhava mais, ele não queria, e preenchia seus dias lendo, e conversando com suas novas amigas. Todas eram mulheres ricas, fúteis e levianas.
Ela não se adaptou a nova roda de amizade que Pedro a inseriu. Por isso em seu pensamento entrou a vontade de ter filho. Pedro não queria. Dizia que filho atrapalhava a relação. Que vários amigos tinham se divorciados porque as mulheres haviam mudado depois de terem filhos, não só no corpo, como também no jeito de agir. E os deixavam sem atenção, e até para transar precisavam marcar hora.
Ela ria e dizia que ela não seria assim.

Agora passados dois anos, Pedro já não era mais o mesmo. Chegava sempre tarde em casa e viajava muito mais. Ele muitas vezes era estúpido e violento. Ela começou a ter dúvidas da fidelidade de Pedro. Resolveu prestar mais atenção nas coisas que ele falava, os lugares que ele freqüentava e, sobretudo em seus horários.
Agora tinha certeza que Pedro tinha outra. E em meio a esse “clima” descobriu que estava grávida. Ela contou para ele sobre a novidade e ele apenas ouviu, não fez comentário algum e saiu, disse que voltaria tarde. Ela chorou....
Não foi uma gravidez tranqüila, o casal ultimamente estava brigando muito, cada vez mais. Ele chegava a passar mais de semana sem vir em casa. Ele estava dedicando mais tempo a outra do que a ela. Ela sabia, mas com um filho por nascer, sem trabalho, o que ela faria? Não tinha mais ninguém para conversar. Estava muito só.
Nestes últimos dias ela lembrava muito de Henrique, como sua vida teria sido diferente se tivesse escolhido a ele. Seus amigos também faziam falta, sempre tão leais e disponíveis. Tinha vontade de ligar para Tanise, mas não tinha coragem.
Ela entrou em trabalho de parto e não tinha ninguém para acompanhá-la ao hospital. Foi só.


Henrique estava em Porto Alegre naqueles dias, sua irmã estava hospitalizada, agora já em recuperação de uma cirurgia complicada e ele fazia companhia a ela.
Ele estava saindo do elevador quando viu Alicia com uma imensa barriga chegar desacompanhada ao hospital. Henrique teve um momento de indecisão, mas achou que não era cristão deixá-la só naquela situação. Ele aproximou-se dela devagar e suavemente chamou seu nome:
-- Alicia?
Ela virou-se e ficou espantada com a presença dele ali. Mas disse:
-- Oi... tu por aqui?
-- Sim, Helena foi operada, tirou um tumor.
-- Oh, sinto muito. Como ela está?
-- Bem, está se recuperando, mas vai ter que fazer um longo tratamento ainda. Estamos cheios de esperança... Está na hora de nascer? E porque estás sozinha?
-- Eu comecei com dores e eu resolvi vir para cá, estão ficando fortes e mais seguidas.
-- E tu estás só mesmo?
-- Sim...
-- Então vou ficar contigo até teu marido chegar.
-- Eu não tenho marido, Pedro não quis casar. Apenas estamos juntos, ainda.
-- Ainda?
-- Ai...ai...ai...
-- É muita dor?
-- Sim, mas passou.... Ainda porque estamos vivendo muito mal. E essa criança vai piorar a situação.
-- Que pena!
-- É eu errei na escolha...
Henrique não disse nada, apenas escutou e sentiu um aperto no peito. Ele ainda pensava muito nela. Alicia foi encaminhada para a sala de parto e ele a acompanhou, não iria deixá-la. A criança nasceu sem muita demora. Era uma menina linda, parecida com a mãe.
Alicia foi encaminhada para o quarto e ele disse que precisava avisar ao pai da criança, queria o telefone dele. Era tarde, quase meia noite quando Henrique ligou para Pedro que atendeu demonstrando um estado de embriaguês. Assim mesmo deu o recado. E Pedro teve o desplante de dizer:
-- Já que tu estás ai, pega ela para ti, eu não a quero mais... estou em outra... muito melhor.
Henrique ficou indignado com o comportamento dele. Passou a noite cuidando de Alicia. No outro dia telefonou para Tanise, pediu para que viesse ficar com a amiga. Ele teria que acompanhar sua irmã.
Tanise não se recusou a ir. Eram amigas há muito tempo, desde que Alicia viera para Porto Alegre. Sabia que Alicia era muito só. Seus pais eram divorciados, seu pai foi embora para Recife   e sua mãe foi para Portugal. Ela tinha quinze anos e sua avó materna ficou com ela, mas não por muito tempo, a avó morreu do coração três anos depois. Por isso Alicia tinha ficado tão vulnerável a Pedro.

Henrique contou para Tanise o que Pedro falara, mas ele estava bêbado, então tinham que esperar. Se fosse o caso Alicia poderia ir para o apartamento dele, que estava desocupado.
Tanise entrou no quarto e encontrou Alicia com a filha em seus braços, porém em vez de alegria havia tristeza em seu rosto. Devia animá-la:
-- Oi... Que menina linda! Já tem nome?
-- Estou pensando em homenagear minha avó, que se chamava Cristina.
-- Eu acho legal esse nome.
-- Oi, onde está o Henrique?
-- Está com a irmã.
-- Eu preciso agradecer a ele tudo o fez por mim. Ele me acompanhou todo o tempo. Foi um amigão.
-- Eu sei. Talvez ele apareça.
-- Tomara que venha. Fiquei feliz em encontrar com ele, e agora contigo. Me perdoa por tudo!
-- Esquece! Nós te amamos.
-- Foi Henrique te mandou?
-- Foi. Ele está preocupado que Pedro não te acompanhou.
-- Nossa relação vai de mal a pior. Não sei como vai ser.
-- Crises acontecem e passam. Agora com a filha ele muda. Tu vai ver.
-- Será?
-- Mas é claro...
-- Eu acho que a minha gravidez só piorou a situação. Ele tinha me dito que não queria filhos...
-- E mesmo assim tu insististe?
-- Sim, eu queria muito...
-- E agora como vai ser?
-- Boa pergunta....
Alicia começou a chorar. Tanise resolveu ligar para Pedro para avisar que sua filha tinha nascido. Ele custou a atender e quando soube o que era Tanise, disse:
-- Não quero nem ver, ontem eu já disse para aquele cara que pegue ela para ele.
Tanise ficou indignada e respondeu asperamente:
-- Ela não é uma qualquer, não é um sapato velho para estar sendo jogada desse jeito. Respeite pelo menos sua filha.
-- Não sei se é minha.
-- Mas como ousa?
-- Ora, ela estava numa roda de vadias, o que posso esperar.
Ele desligou.
Tanise ficou pálida com o que ouviu. Teria que contar para Alicia. E contou. Alicia não disse nada, apenas deixou as lágrimas rolarem.


Alicia recebeu alta e resolveu que iria para o apartamento que morava com ele. Ele teria que as engolir. Iria fazer o teste de DNA para provar que a filha era dele.
Quando entrou em casa encontrou malas na sala. Perguntou a empregada, o que era aquilo. Ela disse que eram as coisas da patroa e que foi ordem do Sr Pedro.
Tanise estava com ela e percebeu como Alicia ficou transtornada quando viu as malas na sala, então tomou conta da situação. Pediu que providenciasse um transporte para levar todas as coisas de Alicia e da pequena para o tal endereço. Que fosse o mais breve possível.
A empregada se assustou com o tom de Tanise e telefonou para Pedro, que disse que ele ia mandar tudo. Que a tarde estaria entregue.
Tanise avisou Henrique estava indo para o apartamento dele.
Quando chegaram ao apartamento de Henrique, Alicia não se conteve e começou a chorar copiosamente. Muitas lembranças vieram a sua mente. Tanise sabia que era difícil para ela voltar ali, onde com certeza teve momentos felizes. Mas teria que superar, ela tinha uma filha para amamentar.
Só dois dias depois foi que Henrique foi até lá. Queria se despedir estava voltando para Curitiba, sua irmã já estava em casa. Tinha uma senhora para cuidar dela. Disse para Tanise que tinha conseguido dispensa dela no escritório até segunda feira.
Alicia estava sem saber como levar sua vida, não tinha dinheiro, nem trabalho e nem onde morar e com uma filha para criar. Precisava pensar. Reagir.
Telefonou para Pedro dizendo que precisava de dinheiro, ele tinha obrigação com ela e com a filha. Queria um apartamento confortável para morar, simular ao que era dela e ele vendeu, e uma pensão para filha que já estava registrada como filha dele. E precisava de uma empregada, pois não colocaria sua filha em creche. Ele tinha um prazo que 15 dias. Se não fizesse o que ela estava pedindo ela iria publicar na internet quem era ele. Ela sabia muito sobre as atividades dele.
Pedro ficou assustado com o modo dela falar com ele, parecia outra pessoa, e tratou de providenciar tudo o que ela pediu. Inclusive fez mais, colocou o apartamento no nome dela. Pronto! Estava indenizada pelos serviços prestados.


Ela mudou-se para o novo apartamento. Era bem localizado, com três quartos e bem mobiliado. Telefonou para Henrique agradecendo por tudo o que ele tinha feito para ajudá-la. Perguntou por Helena e disse que quando estivesse na cidade fosse visitar Cristina.
Alicia conseguiu organizar sua vida, agora estava trabalhando novamente como jornalista independente, para um site de notícias. Trabalhava em casa e assim estava sempre junto da filha.
Pedro não se deu ao trabalho de ir conhecer sua filha.
Ela queria batizar Cristina e escolheu Tanise e Henrique para padrinhos. Seus amigos mais queridos. Henrique veio para o batizado acompanhado de sua namorada. Uma moça muito simpática e era bem bonitinha. Ela não gostou de ver Henrique acompanhado.
Tanise observou que Henrique ainda gostava muito de Alicia, seus olhos denunciavam, pois se iluminavam quando olhava para ela. E ficou com dó de toda aquela situação. Lidia, sua namorada, com certeza iria sobrar.
Henrique estava vindo regularmente a Porto Alegre por causa de Helena, e sempre aproveitava para ver sua afilhada. Alicia esperava ansiosa a visita dele. Nessas oportunidades eles conversavam a respeito de Cristina, de Helena, mas nunca falaram sobre eles e do passado. Ele continuava namorando Lidia, que algumas vezes o acompanhava.
Alicia sabia que havia cometido um erro grave em sua vida, não soubera fazer uma avaliação precisa dos fatos, e agora tinha que arcar com as conseqüências. Para não se atormentar, e dedicava-se inteiramente a filha.
Cristina já estava completando um ano de vida, Alicia fez uma festinha, convidou os padrinhos e seus antigos amigos. Foi um dia alegre. O tempo corria e vida continuava...
Uma noite Henrique ligou para Alicia. Dizendo que estava no hospital com Helena, que ela estava muito mal. Ela perguntou se ele estava com Lidia. Ele disse que estava só. Ela então decidiu que iria para o hospital, iria fazer companhia a ele.
Alicia avisou a Marli, sua empregada, que era esposa do zelador do prédio, que teria que sair. Cristina já estava dormindo, que ela fosse ficar com a menina.
Quando viu Henrique sentiu um nó na garganta. Ele estava muito abatido. Ele era muito ligado a irmã, que era bem mais velha que ele e praticamente o havia criado, depois que perderam os pais.
Ela não resistiu, chegou e o abraçou. Ele passou o braço por seus ombros e a  puxou para ele. Passaram a noite assim, esperando noticias de Helena que estava na UTI.
Quase não falaram, simplesmente ficaram juntinhos.
Cedo da manhã Helena faleceu. Ela não teve coragem de se afastar dele. Telefonou para casa avisando que demoraria a chegar. Que Marli não fizesse nada, só cuidasse de Cristina. Tinha almoço pronto, era só descongelar.
O sepultamento seria no inicio da noite. Henrique decidiu assim. Não tinham muitos parentes, Helena era viúva e não tivera filhos. Tinha duas cunhadas e algumas amigas. Ele avisou a todos. Então Henrique e Alicia saíram, queriam tomar um banho para retornar logo, enquanto preparavam o corpo.
Ele a deixou em casa e disse que voltaria para irem juntos.
Alicia que estava todo o tempo junto dele, não o  viu  falar com Lidia. Também não perguntou. Mas ficou pensando se eles ainda estavam juntos. Mas Tanise perguntou por que Lidia não estava? Ele respondeu que ela estava com a mãe que tinha sofrido uma queda.
Depois do sepultamento Alicia convidou Henrique e Tanise para irem fazer um lanche em sua casa. Eles aceitaram. Tanise, não demorou muito e saiu, disse que ainda precisava ler um processo.
Henrique ficou. Estava cansado e triste. Alicia disse para ele dormir ali. Ela dormiria no sofá do quarto de Cristina e ele ficaria no quarto dela. Ele protestou, mas ela acrescentou, está decidido.
Henrique tomou um banho e deitou-se na cama dela. Sentiu seu cheiro e ficou pensando no tempo que eram felizes, foi tão breve, mas tão intenso. Dormiu de cansado, mas sonhou com Alicia. Sonhos ardentes.

Ele ficou ainda uma semana. Estava desocupando o apartamento da irmã. Era da família do marido dela. Ele logo queria liberar para as cunhadas dela. Após a missa de sétimo dia e foi embora. Agora não tinha motivos para voltar.
Alicia ficou muito triste com a partida dele. Com certeza ele iria casar com Lidia, fazia algum tempo que estavam juntos. Ele merecia ser feliz, que fosse com Lídia.

Henrique retomou sua rotina, continuava triste e abatido. Lidia estava admirada com a reação dele diante da perda da irmã. Sabia que eram muito ligados, mas já faziam seis meses...
O que Lidia não sabia era da paixão dele por Alicia.

Algum tempo atrás Henrique e Lidia haviam falado em casamento, mas com a doença de Helena, Lidia não provocou mais o assunto. Pensava que estava na hora de reavivar o tema.
Um dia ela se animou e disse:
-- Henrique estive pensando...
-- Hum...no quê?
-- No nosso casamento.
-- Nosso casamento?
-- Sim, lembra que estávamos pensando nisso...
-- Em termos...
-- Como assim, em termos?
-- Tu falaste em casamento, mas eu não confirmei.
-- Sim, sim. Com a doença de tua irmã...
-- Então?
-- Podíamos casar...
-- Não sei, preciso pensar...
-- Ok.


Naquele momento Lidia percebeu que realmente Henrique estava mudado. Ele tinha perdido a alegria, apenas vivia. Tinha acontecido alguma coisa com ele, que ela não sabia. Não entendia... Porque ele continuava fazendo a mesma rotina, e agora nem precisava mais viajar. Antes tinha Helena!
Lidia decidiu esperar, não iria pressionar.

Henrique por sua vez tinha seu pensamento voltado para Alicia, mas não podia simplesmente abandonar Lidia. Mas quanto ao casamento, tinha que ter cautela. E também não sabia se Alicia o queria. Se ela voltaria para Pedro.
Nunca mais ligara para ela, nem ela para ele. Ele sentia saudades de pequena Cristina. Recebia fotos pelo internet.
Que situação!
Lidia estava cansada da tristeza de Henrique. Resolveu que iria cuidar da própria vida. Queria um marido, filhos, queria uma família. Quantos anos ela estava com Henrique? Quase cinco anos, Ela não iria mais esperar.
Lidia conversou com Henrique e colocou “as cartas na mesa”. A hora de decisão era agora. Se ele estava inseguro, ela iria partir. E partiu!

Henrique decidiu voltar para o escritório de Porto Alegre. Estava na hora de reconquistar Alicia. Instalou-se em seu apartamento e foi à luta.
Foi visitar sua afilhada e encontrou Alicia mais linda do que nunca. Ela havia superado a amargura e era outra pessoa. Era novamente senhora de si. Alegre, divertida e provocante.
Cristina era uma menina linda, que adorava seu padrinho. Todos os domingos ele levava Cristina na praça, passeavam, comiam pipoca, e Alicia sempre os acompanhava. Enquanto Cristina brincava, Henrique e Alicia ficavam sentados no banco conversando... flertando...namorando...retomando o passado.
Henrique comprou um lindo anel e se aventurou a fazer o pedido a Alicia. Estavam na casa dela e Cristina recém tinha dormido, ele ficara contando histórias a ela. Alicia o esperava na sala, sentada no sofá.
Ele ajoelhou diante dela e pediu:
--Alicia, minha princesa, aceitas casar comigo?
Ela arregalou os olhos surpresa e olhou para o anel que ele apresentava a ela. Depois voltou os olhos para ele, e muito emocionada, disse:
-- Sim, eu aceito!
 Ele irradiava felicidade depois de ter resgatado sua paixão antiga.

Cristina estava toda vestida de azul claro e muito concentrada entrava na igreja a frente de sua mãe levando as alianças. Alicia entrou acompanhada por seu pai, que viera conhecer a neta e conduzir a filha ao altar.
Henrique estava deslumbrado com a beleza da noiva que se aproximava num vestido na cor pérola, muito discreto, para ser sua esposa e companheira para a vida toda.

                                                                          Maria Ronety Canibal
                                                                                      Maio 2017